TÍTULO DA PALESTRA (Org. por Sérgio Biagi Gregório) 14/7/2011 Fé e Razão 1 Fé e Razão Introdução Da antiguidade, passando pela Idade Média e alcançando a Idade Contemporânea, fé e razão é um tema bastante controverso. Por quê? Mas o que é a fé? E a razão? Podemos conciliar fé e razão? Como? 14/7/2011 Fé e Razão 2 Fé e Razão Conceito Do latim fides. O termo é empregado em muitas acepções que poderiam ser divididas em profanas e religiosas. No sentido profano, significa dar crédito na existência do fato, fazer bom juízo sobre alguém, expressar sinceridade no modo de agir etc. Quando o testemunho no qual se baseia a confiança absoluta é a revelação divina, fala-se de Fé no seu sentido religioso. A Fé, neste sentido, não é um ato irracional. Com efeito, o espírito humano só pode aderir incondicionalmente a um objeto quando possui a certeza de que é verdadeiro. (Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo) Significa a faculdade de "bem julgar". Tem relação com o raciocínio discursivo. É conhecimento natural enquanto oposto ao conhecimento revelado, objeto da fé. 14/7/2011 Fé e Razão 3 Fé e Razão Histórico Há duas correntes de pensamento que se cruzam: cristianismo e filosofia grega. Na antiguidade clássica grega prevalecia a filosofia e o pensamento, calcado na razão. Na Idade Média prevaleceu a teologia, que é a fé na revelação. A filosofia era considerada a ancilla theologiae (“serva da teologia”). Embora os medievais fossem mais teólogos do que filósofos, eles se esforçaram muito para encontrar uma síntese entre a fé e a razão. 14/7/2011 No final da Idade Média, este equilíbrio se rompe e a filosofia torna-se independente da fé e da revelação. É o aparecimento do iluminismo, em que tudo deveria ser explicado à luz da razão. É nessa época que surgem as ciências e o método teóricoexperimental. Fé e Razão Pascal, mesmo sendo homem de ciência, se rebelara contra a suprema autonomia da ciência. Para ele, embora a ciência tenha um poder extraordinário, ela não é capaz de explicar a origem do Espírito e do Universo. 4 Fé e Razão Fé Religiosa Fé religiosa é a crença nos dogmas das diversas religiões. A fé católica é a crença nos dogmas estabelecidos pela Igreja católica. Nesse caso, a fé pode ser cega ou raciocinada. Há um dogma, por exemplo, o da “Santíssima Trindade”. Podemos crer cegamente, ou raciocinar em cima dele. A fé cega, não examinando nada, aceita tanto o falso quanto o verdadeiro. Como a maioria das religiões pretende estar de posse da verdade, convém verificar se os seus dogmas tendem para a verdade ou para o erro. Paulo resumiu as características fundamentais da fé religiosa nos seguintes termos: “Fé é a garantia das coisas esperadas e a prova das que não se veem” (Hebr., II, 1) 14/7/2011 Fé e Razão 5 Fé e Razão Fé Humana De acordo com a teologia, a fé é um assentimento da inteligência, motivado na autoridade alheia: se essa autoridade é humana, a fé chama-se humana. Um exemplo: o homem de gênio que persegue a realização de alguma grande empresa triunfa se tem fé, porque sente em si que pode e deve alcançar, e essa certeza lhe dá uma força imensa. De acordo com o Espiritismo, a fé humana é caracterizada pela aplicação de nossas faculdades às necessidades terrestres. 14/7/2011 Fé e Razão 6 Fé e Razão Fé Divina A fé é divina quando aplicamos as nossas faculdades às aspirações celestes e futuras. Ela diz respeito à crença, à adoração de um ente superior. Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, explicanos que embora queiramos separar didaticamente a fé humana da fé divina, ela é ao mesmo tempo humana e divina, pois a nossa confiança em algo não está separada da confiança em Deus. Isto simplesmente porque a fé, em primeiro lugar, é inata. Somente depois é que se torna humana, cega, raciocinada, religiosa. (1984, cap. XIX, item 12) 14/7/2011 Fé e Razão 7 Fé e Razão Razão: Inversão de Valores Na antiguidade, a razão estava aliada ao raciocínio, à dialética, no sentido de se buscar a verdade das coisas. Se ela tivesse seguido o seu curso normal, teríamos o ser humano voltado para Deus e não para matéria, como vemos hoje. Endeusamos a razão e não o raciocínio, a inteligência, a consciência, o autoconhecimento. 14/7/2011 Fé e Razão A razão humana deveria ser aplicada para formar o homem integral, o homem cósmico e não o homem-máquina, o homem-técnica, desprovido de valores morais superiores. 8 Fé e Razão Iluminismo O iluminismo francês está centrado em Voltaire, Montesquieu e Rousseau, entre outros. Apesar das diferenças de abordagem de cada pensador, há pelo menos dois pontos em comum: confiança na razão e repúdio à religião. 14/7/2011 Immanuel Kant (1724-1804) é o representante máximo do iluminismo alemão. O iluminismo kantiano é a saída dos homens do estado de minoridade devido a eles mesmos. A minoridade é a incapacidade de utilizar o próprio intelecto sem a orientação de outro. O sapere aude! kantiano tornou-se o lema do iluminismo. Fé e Razão 9 Fé e Razão Razão e Ciência A razão suspeitava de tudo. Para a comprovação dos fatos, precisava de provas, de fórmulas matemáticas. Daí, o aparecimento das diversas ciências, cujo conhecimento, que se tornava específico, ia cada vez mais se desmembrando do tronco comum da filosofia. 14/7/2011 O método teóricoexperimental, em todos os campos do saber, prepara a revolução industrial. É de se notar que a revolução científica, que nasce com o renascimento, foi uma revolução do saber; a que nasce com a revolução industrial, é uma revolução da energia. Fé e Razão 10 Fé e Razão Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino Fé, Razão e Revelação são os pontos fundamentais de suas teorias. Santo Agostinho Santo Tomás consegue, por seu demonstra claramente sua vocação filosófica na medida em que, ao lado da fé na revelação, deseja ardentemente penetrar e compreender com a razão o conteúdo da mesma. turno, estabelecer o perfeito equilíbrio nas relações entre a Fé e a Razão, a teologia e a filosofia, distinguindo-as mas não as separando necessariamente. Ambas, com efeito, podem tratar do mesmo objeto: Deus, por exemplo. Contudo, a filosofia utiliza as luzes da razão natural, ao passo que a teologia se vale das luzes da razão divina manifestada na revelação. 14/7/2011 Fé e Razão 11 Fé e Razão Fides et Ratio Para o papa João Paulo II, em sua décima segunda Encíclica, Fides et Ratio, de 14 de setembro de 1998, fé e razão constituem as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Segundo o seu ponto de vista, foi Deus quem colocou no coração do ser humano o desejo de conhecer a verdade. Para provar a sua tese, faz uma síntese das interrelações entre filosofia, ciência e religião. Conclui que nem a ciência e nem a razão (filosofia) podem prescindir da fé, sob pena de se desviarem da própria verdade. 14/7/2011 Fé e Razão 12 Fé e Razão Razão, Fé e Espiritismo Para o Espiritismo, Razão e Fé pertencem à essência da natureza humana. São potências que se atualizam no decurso das existências. Parte do geral indiferenciado (reino mineral) para a diferenciação progressiva (reino vegetal, animal e hominal), buscando, sempre, a perfeição. A Razão e a Fé estão centradas no eixo, que é a Vontade. Esta, por sua vez, assenta-se no Livre-Arbítrio, princípio de liberdade, sem o qual a Razão de nada serviria e a Fé não teria sentido. (Pires, 1983, p. 47) 14/7/2011 Fé e Razão 13 Fé e Razão Conclusão A fé, direcionada pela razão, encaminha-nos para a atualização do nosso ser. Para a realização de nossas tarefas, creiamos em nossas próprias forças. Não nos esqueçamos, contudo, de pedir humildemente o beneplácito do divino amigo. 14/7/2011 Fé e Razão 14 Fé e Razão Bibliografia Consultada ÁVILA, F. B. de S.J. Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo. Rio de Janeiro: M.E.C., 1967. KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984. PIRES, J. H.. Introdução à Filosofia Espírita. 1.ed., São Paulo, Paideia, 1983. 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