Naturalismo no teatro Baseia-se na filosofia de que só as leis da natureza são válidas para explicar o mundo e de que o homem está sujeito a um inevitável condicionamento biológico e social. As obras retratam a realidade de forma ainda mais objetiva e fiel do que no realismo. Por isso, o naturalismo é considerado uma radicalização desse movimento. Nas artes plásticas não tem o engajamento ideológico do realismo, mas na literatura e no teatro mantém a preocupação com os problemas sociais. Influenciados pelo positivismo e pela Teoria de Evolução das Espécies, os naturalistas apresentam a realidade com rigor quase científico. Objetividade, imparcialidade, materialismo e determinismo são as bases de sua visão de mundo. Características do naturalismo existem na França desde 1840, mas é em 1880 que o escritor Émile Zola (1840-1902) reúne os princípios da tendência em seu livro de ensaios O Romance Experimenta. Realismo • Movimento artístico que se manifesta na segunda metade do século XIX. Caracteriza-se pela intenção de uma abordagem objetiva da realidade e pelo interesse por temas sociais. O engajamento ideológico faz com que muitas vezes a forma e as situações descritas sejam exageradas para reforçar a denúncia social. O realismo representa uma reação ao subjetivismo do romantismo. Sua radicalização rumo à objetividade sem conteúdo ideológico leva ao naturalismo. Muitas vezes realismo e naturalismo se confundem. A figura principal do Naturalismo • Émile Zola (Émile-ÉdouardCharles-Antoine Zola) (Paris, 2 de abril de 1840 — Paris, 29 de setembro de 1902) foi um consagrado escritor francês, considerado criador e representante mais expressivo da escola literária naturalista além uma importante figura libertária da França. Foi presumivelmente assassinado por desconhecidos em 1902, quatro anos depois de ter publicado o famoso artigo J'accuse, em que acusa os responsáveis pelo processo fraudulento de que Alfred Dreyfus foi vítima A obra principal • Germinal (1885) elevou a estética e a descrição naturalistas a um novo patamar de realismo e crueza. O romance é minucioso ao descrever as condições de vida subumanas de uma comunidade de trabalhadores de uma mina de carvão na França. Após ter contato com idéias socialistas que circulavam pela classe operária européia, os mineradores retratados na obra revoltam-se contra a opressão e organizam uma greve geral, exigindo condições de vida e trabalho mais favoráveis. A manifestação é reprimida e neutralizada, entretanto permanece viva a esperança de luta e conquista. • Para compor Germinal, o autor passou dois meses trabalhando como mineiro na extração de carvão. Viveu com os mineiros, comeu e bebeu nas mesmas tavernas para se familiarizar com o meio. Sentiu na carne o trabalho sacrificado, a dificuldade em empurrar um vagonete cheio de carvão, o problema do calor e a humidade dentro da mina, o trabalho insano que era necessário para escavar o carvão, a promiscuidade das moradias, o baixo salário e a fome. Além do mais, acompanhou de perto a greve dos mineiros. A figura principal do realismo No teatro realista o herói romântico é trocado por pessoas comuns do cotidiano. Os problemas sociais transformam-se em temas para os dramaturgos realistas. A linguagem sofisticada do romantismo é deixada de lado e entra em cena as palavras comuns do povo. O primeiro representante desta fase é o dramaturgo francês Alexandre Dumas, autor de A Dama das Camélias. Também podemos destacar outras importantes peças de teatro do realismo como, por exemplo, Ralé e Os Pequenos Burgueses de Gorki, Os Tecelões de Gerhart Hauptmann e Casa de Bonecas do norueguês Henrik Ibsen. • O Naturalismo considera a vida do homem resultado de fatores externos (raça, ambiente familiar, classe social etc.). Influenciado pelas ciências experimentais, o escritor naturalista tenta demonstrar que o comportamento humano está sujeito a leis semelhantes às que regem os fenômenos físicos. Se o Realismo pretende ser objetivo e imitar a realidade, o Naturalismo deseja fazer uma análise histórica, social e psicológica dela – um estudo profundo a partir de uma ampla documentação prévia. No teatro, o Naturalismo tem os mesmos objetivos que na ficção. A montagem, a ação e os enredos são simples e verossímeis. Tudo se concentra na luta desesperada, mas admirável, dos personagens contra o próprio destino. Também no teatro foi Zola que liderou o movimento, adaptando seu próprio romance Teresa Raquin para o palco, em 1873. August Strindberg e Gerhardt Hauptmann, na Alemanha, estão entre os maiores dramaturgos europeus da escola naturalista. Do primeiro, destacam-se O Pai (1887) e Senhorita Júlia (1888) e, do segundo, Os Tecelões (1892), peça que retrata uma revolta de operários André Antoine: encenador • Antoine influenciou demasiadamente, com seu empirismo, o teatro mundial, inclusive no Brasil, onde vê-se muito o conceito da chamada “quarta parede”. A “quarta parede” foi uma forma que Antoine encontrou para mostrar aos atores que esses deveriam ignorar o público, como se, entre o palco e a platéia houvesse uma parede que impedisse o ator de trocar olhares com o público, dando a sensação de que tudo o que acontece no palco é a pura verdade, sem espectadores, nem elementos artificiais. Segundo André Antoine, ao esquecer que está sendo assistido, o ator não se distrai e pode trabalhar em cima do texto com a carga dramática ideal, tornando a peça ainda mais realista. O método da quarta parede, assim como diversos outros mecanismos de André Antoine para constituir seu Realismo, foi muito contestado por simbolistas e expressionistas, que lhe propuseram mais imaginação e criatividade. Antoine também foi severamente contestado pelo genial Bertold Bretch, que em seu livro Estudos sobre Teatro propôs o distanciamento do público para com as emoções dos atores, em prol da objetividade da mensagem. Antoine, apesar das duras críticas, obteve êxito e consagração como um dos primeiros teatrólogos, que, após Aristóteles tiveram a audácia de criar teorias a respeito da arte, impondo-as e provando-as na prática. Antoine obteve aceitação mundial e inspirou diversos teatrólogos, cujos nomes ficaram marcados na história da humanidade, dentre eles, o russo Konstantin Stanislavski. • Antoine era um trabalhador pobre que queria encenar peças interessadas nos assuntos postos na ordem do dia pelas lutas dos trabalhadores e por isso inaugurou o seu Teatro Livre com uma peça que contava a história proibidíssima de um veterano da Comuna de Paris. Por serem pobres, todos os envolvidos no Teatro Livre se organizaram como um grupo à margem do sistema de teatro comercial vigente em Paris à época. Para além do que já se sabe e das afinidades políticas, o grupo aderiu ao naturalismo, corrente literária liderada por Émile Zola, por afinidades estéticas (e formais) da maior relevância para os interessados em romper com as convenções estabelecidas pelo romance e pelo drama burgueses, tal como didaticamente criticadas por Zola em seus ensaios sobre o assunto. Por último, e sem esgotar o tópico, o teatro naturalista foi o responsável pela viabilização de todos os dramaturgos relevantes na história do teatro a partir de fins do século XIX, a começar por Ibsen, Strindberg, Hauptmann, Tchekhov e Gorki, bem como pelo surgimento do mais importante diretor teatral do período, Stanislavski. • Influenciado pelo Realismo, que deu origem a inúmeros filósofos teatrais, o francês naturalista André Antoine (1859 – 1943) foi um dos primeiros diretores que procuraram adequar encenação à filosofia. Para Antoine, a vida deve ser expressada no palco de maneira contundente, quase real, levando em consideração os mínimos detalhes que transportam a platéia para dentro do palco. Com os recursos inovadores da iluminação artificial Ibsen: dramaturgos • A renovação do teatro veio da Noruega com a obra de Ibsen. Ele começa muito jovem, com um drama romântico de pouco valor, Catilina (1850), e, depois de abordar temas históricos escandinavos, afirma seu talento dramático com uma obra em versos, de gênero simbólico: Peer Gynt (1867). A partir de 1870, desenvolve conflitos do tipo realista em obras teatrais em prosa. Alguns de seus dramas mais importantes são: Os Pilares da Sociedade (1877), Casa de Bonecas (1879), Os Espectros (1881), Um Inimigo do Povo (1882) e A Dama do Mar (1898). Essas obras marcam a etapa de esplendor ibseniano, com violentos debates sobre a situação da mulher, a família, a hipocrisia e a sinceridade, a composição da sociedade etc. Ibsen revoluciona o teatro de dentro para fora, combinando uma técnica inovadora com elementos imaginativos. Seu objetivo era sempre fazer um teatro acessível ao público. Strindberg Realismo no Brasil • Literatura Na literatura brasileira o realismo manifestou-se principalmente na prosa.Os romances realistas tornaram-se instrumentos de crítica ao comportamento burguês e às instituições sociais. Muitos escritores românticos começaram a entrar para a literatura realista. Os especialistas em literatura dizem que o marco inicial do movimento no Brasil é a publicação do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis. Nesta obra, o escritor fluminense faz duras críticas à sociedade da época. • Teatro As peças retratam a realidade do povo brasileiro, dando destaque para os principais problemas sociais. Os personagens românticos dão espaço para trabalhadores e pessoas simples. Machado de Assis escreve Quase Ministro e José de Alencar destaca-se com O Demônio Familiar. Luxo e Vaidade de Joaquim Manuel de Macedo também merece destaque. Outros escritores e dramaturgos que podemos destacar: Artur de Azevedo, Quintino Bocaiúva e França Júnior. No Brasil? • Em vista disso, é possível dizer que, com o Teatro de Arena de São Paulo, o capítulo naturalismo daquilo que se chamou teatro moderno no Brasil teve a chance histórica de encontrar o seu lugar social. Dizendo o mesmo de outra forma: o Teatro de Arena é um dos raros casos de nossa experiência cultural em que as idéias estavam no lugar. (O que não significa que seus criadores tivessem consciência do que faziam, assim como Antoine não tinha, ou só a tinha em parte.) Iná Camargo • Passo a enumerar algumas das implicações dessa tese: • Primeiro: não foi o Arena que introduziu o naturalismo no teatro brasileiro. Mas até o seu aparecimento entre nós o naturalismo foi uma idéia fora do lugar. Nossos palcos tiveram contato com essa vertente do teatro moderno ainda no fim do século XIX, inclusive com a presença de Antoine em pessoa, que foi devidamente rechaçado pelos críticos de plantão, entre os quais ninguém menos que Artur Azevedo. Desde então, e até hoje, nosso mundo teatral cultiva uma antipatia explícita pelo naturalismo, que continua sendo “explicado” exclusivamente pelo inimigo, em operação ideológica que começa por assimilá-lo ao teatro realista burguês. • Segundo: desde que Antoine apresentou Ibsen pela primeira vez ao público de teatro brasileiro, inúmeras peças naturalistas vêm sendo encenadas entre nós, mas elas são sistematicamente incompreendidas por nossa crítica teatral que, na mesma linha de Artur Azevedo, continua tratando-as com instrumental crítico totalmente inadequado e incapaz de perceber as suas qualidades. • BIBLIOGRAFIA BRECHT, BERTOLD, Estudos Sobre Teatro. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1978 CIVITA, VICTOR, Teatro Vivo, Introdução e História. – São Paulo: Abril Cultural, 1976 MIRALLES, ALBERTO, Novos Rumos de Teatro. – Rio de Janeiro: Salvat Editora, 1979 SCHMIDT, MARIO, Nova História Crítica, Moderna e Contemporânea. – São Paulo: Editora Nova Geração, 1996 BOAL, AUGUSTO, Teatro Para Atores e Não Atores. – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998 LAFFITTE, SOPHIE, Tchekhov. – Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1993 ROBERTO FARIA, JOÃO, O Teatro na Estante. – São Paulo: Ateliê Editorial, 1998 JANVIER, LUDOVIC, Beckett