Uma trajetória brasileira da clínica para a bancada em câncer de mama José Bines, MD PhD Instituto Nacional de Câncer Declaração de conflito de interesses Sem conflito de interesses Opinião pessoal que pode não refletir necessariamente a orientação do Instituto Nacional de Câncer Roteiro Números de câncer de mama no Brasil Pesquisa (clínica) em câncer de mama Da clínica para a bancada Câncer de mama: epidemiologia O câncer de mama é o mais incidente entre as mulheres INCA 2016 Spatial distribution of breast cancer incidence through Brazil Wide difference in breast cancer incidence Source: INCA 2016 Câncer de mama em estágios avançados à apresentação Variação de acordo com a situação sócio-econômica Estudo Amazona: Brasil 2001-2006 n=1,800 37% 16% Lee BL. Lancet Oncol 2012 Câncer de mama: epidemiologia O câncer de mama é principal causa de morte por câncer entre as mulheres A mortalidade continua a aumentar no Brasil INCA 2013 Mortalidade por câncer de mama A situação é distinta nos países desenvolvidos onde há diminuição da mortalidade por câncer de mama Science 2014 Summary of publications in the past 5 years “breast neoplasm” in different countries (PubMed) 16,737 4,250 894 10 19 15 2 1 31 57 574 0 130 Grande disparidade Geography of clinical cancer research: abstracts @ ASCO 49% 41% Analysis of abstracts presented between 2001-2008: most abstracts come from the US and Europe Saad ED. Ann Oncol 2009 Brazilian abstracts @ ASCO Brazilian abstracts have been stable over the years Saad ED. Rev Brasil Cancerol 2009 Breast cancer www.clinicaltrials.gov 17 May 2015 (n=6,633) “Main negative change that has occurred related to clinical research in Brazil?” “Main negative change that has occurred related to clinical research in Brazil?” Long regulatory process ALLTO trial South America (Brazil) had a significantly longer time to regulatory authorities approval (236 days) than Europe (52 days), North America (26 days), and Asia-Pacific (62 days) Metzger-Filho O. Oncologist 2013 The APHINITY Study Adjuvant Pertuzumab and Herceptin in Initial Therapy BIG 4-11 / BO25126 / TOC4939g APHINITY Global Principal Investigators Gunter von Minckwitz José Baselga José Bines APHINITY: Enrollment Status (30-Apr-2013) 4223 Randomized Patients 42 countries North America Canada (90) USA (524) Latin America Argentina (1) Brazil Chile (13) Colombia (12) El Salvador (7) Guatemala (12) Mexico (35) Panama (14) Peru (25) Western Europe Austria (47) Belgium (112) Denmark (77) France (498) Germany (425) Ireland (40) Israel (35) Italy (230) Netherlands (23) Spain (297) Sweden (67) Switzerland (45) UK (200) APHINITY SC meeting – 3 June 2013 CEMAI Region Bulgaria (17) Croatia (13) Czech Republic (21) Hungary (53) Poland (100) Romania (19) Russia (54) Slovenia (9) South Africa (20) Ukraine (68) Asia Pacific Region Australia (95) China (254) Hong Kong (15) Japan (256) New Zealand (16) Philippines (36) Rep. Korea (125) Taiwan (156) Thailand (67) APHINITY: Enrollment Status (30-Apr-2013) 4223 Randomized Patients 42 countries North America Canada (90) USA (524) Latin America Argentina (1) Brazil Chile (13) Colombia (12) El Salvador (7) Guatemala (12) Mexico (35) Panama (14) Peru (25) Western Europe Austria (47) Belgium (112) Denmark (77) France (498) Germany (425) Ireland (40) Israel (35) Italy (230) Netherlands (23) Spain (297) Sweden (67) Switzerland (45) UK (200) CEMAI Region Bulgaria (17) Croatia (13) Czech Republic (21) Hungary (53) Poland (100) Romania (19) Russia (54) Slovenia (9) South Africa (20) Ukraine (68) Asia Pacific Region Australia (95) China (254) Hong Kong (15) Japan (256) New Zealand (16) Philippines (36) Rep. Korea (125) Taiwan (156) Thailand (67) tempos muito longos de aprovação pelas agências regulatórias dificuldade no envio de espécimes biológicos para o exterior Câncer de mama no Brasil Principal câncer e morte por câncer entre as mulheres Estadio avançado e elevada mortalidade Pesquisa nacional tem contribuição limitada com importantes barreiras a serem ultrapassadas Atividade de acetato de megestrol em mulheres na pós-menopausa com câncer de mama avançado após progressão de inibidor de aromatase: estudo de fase II Racional Objetivos Materiais e métodos Resultados Discussão Conclusões Perspectivas Abordagem do câncer de mama: Brasil • Câncer de mama é um problema de saúde pública • Detecção precoce e tratamento adjuvante podem diminuir a mortalidade por câncer de mama • Pacientes continuam a se apresentar com doença avançada ou recorrência • Necessidade de estratégias para a doença avançada: – aumentar a sobrevida – melhorar a qualidade-de-vida Subtipos câncer de mama: molecular Luminal A Luminal B HER-2 Basal http://peroulab.med.unc.edu Perou C. Nature 2000 Caracterização molecular: marco importante do câncer de mama Câncer de mama: conjunto de doenças com características distintas Subtipos câncer de mama: clínico A tradução dos subtipos na prática através da imuno-histoquímica Burstein HJ. ASCO 2006 Subtipos câncer de mama: clínico A tradução dos subtipos na prática através da imuno-histoquímica Burstein HJ. ASCO 2006 Abordagem do câncer de mama: Brasil • Câncer de mama é um problema de saúde pública • Detecção precoce e tratamento adjuvante podem diminuir a mortalidade por câncer de mama • Pacientes continuam a se apresentar com doença avançada ou recorrência • Necessidade de estratégias para a doença avançada: – aumentar a sobrevida – melhorar a qualidade-de-vida Cenário câncer de mama com receptor hormonal positivo o Terapia endócrina é útil na doença inicial e avançada o Desenvolvimento de terapias que sejam aplicáveis em situação de limitação de recursos é fundamental Redirecionamento ou reposicionamento de drogas Li YY. Genome Med 2012 Estratégia com grande potencial e de custo mais baixo Tratamento endócrino do câncer de mama 1896 Ooforectomia 1960 Receptor de estrogênio 1970 Tamoxifeno 1980 Acetato de megestrol 1990 Inibidores de aromatase 2000 Fulvestranto 2012 Everolimus + 2016 Palbociclib + Reposicionamento do acetato de megestrol no tratamento do câncer de mama avançado atual Custo aproximado de terapias hormonais usadas no tratamento de câncer de mama avançado Droga Acetato de megestrol (160mg) Exemestano (25 mg) Fulvestranto (250 mg) Custo mensal ($) 200,00 600,00 2.500,00 Fonte: HERA medicamentos. Out 2014 Acetato de megestrol: mecanismos de ação Progesterona Acetato de megestrol Acetato de megestrol - Interação com receptores esteroidais: progesterona, glicocorticóide, androgênio - Supressão hipófise-adrenal: diminuição de estradiol plasmático - Diminuição da captação celular de estrogênio Atividade de acetato de megestrol em mulheres na pós-menopausa com câncer de mama avançado após progressão de inibidor de aromatase: estudo de fase II Racional • Tratamento endócrino de câncer de mama avançado: uso sequencial de drogas • Acetato de megestrol (AM) – eficácia próxima ao tamoxifeno, inibidores de aromatase (IA) – não há comparação com fulvestranto – toxicidades específicas: ganho de peso, trombose venosa • Situação atual AM: utilizado em momentos mais tardios da sequência terapêutica do câncer de mama • Perda de patente menor custo possibilidade de ampla utilização • Estudo retrospectivo com atividade após IA com resultados encorajadores Branco LG. ASCO 2006 Atividade de acetato de megestrol em mulheres na pós-menopausa com câncer de mama avançado após progressão de inibidor de aromatase: estudo de fase II Racional Objetivos Materiais e métodos Resultados Discussão Conclusões Perspectivas Atividade de acetato de megestrol em mulheres na pós-menopausa com câncer de mama avançado após progressão de inibidor de aromatase: estudo de fase II Objetivos Objetivo principal – Benefício clínico = resposta objetiva + doença estável 6 meses Objetivos secundários – Sobrevida-livre-de-progressão (SLP) – Análise exploratória SLP de acordo com extensão visceral – Análise exploratória SLP de acordo com expressão de receptor de androgênio – Duração de benefício clínico – Sobrevida global – Toxicidade – Avaliação prospectiva de trombose venosa profunda Atividade de acetato de megestrol em mulheres na pós-menopausa com câncer de mama avançado após progressão de inibidor de aromatase: estudo de fase II Racional Objetivos Materiais e métodos Resultados Discussão Conclusões Perspectivas Atividade de acetato de megestrol em mulheres na pós-menopausa com câncer de mama avançado após progressão de inibidor de aromatase: estudo de fase II Desenho do estudo Pós-menopausa Carcinoma de mama avançado/ metastático TCLE* Acetato de megestrol 160 mg/dia via oral diário Uso prévio de IA# não-esteroidal Avaliação clínica e laboratorial Avaliação de imagem e Doppler Uso até progressão ou toxicidade inaceitável IA= Inibidor de aromatase * TCLE= Termo de consentimento livre e esclarecido # Atividade de acetato de megestrol em mulheres na pós-menopausa com câncer de mama avançado após progressão de inibidor de aromatase: estudo de fase II Critérios de inclusão • • • • • • Sexo feminino na pósmenopausa Performance status (ECOG) menor ou igual a 2 Doença hormônio sensível: IA por período ≥ 12 meses terapia adjuvante, ou ≥ 6 meses quando doença avançada Inibidor de aromatase (IA) não esteroidal como último tratamento Função hematológica, hepática e renal adequadas Termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) Critérios de exclusão • • • • • • Metástases cerebrais ou leptomeníngeas Acometimento extenso hepático e/ou pulmonar com necessidade de resposta clínica rápida História prévia de doença tromboembólica venosa Doença cardíaca ou pulmonar sem controle adequado Insuficiência cardíaca congestiva Diabetes mellitus sem controle adequado Atividade de acetato de megestrol em mulheres na pós-menopausa com câncer de mama avançado após progressão de inibidor de aromatase: estudo de fase II Estatística • Estudo de fase II em dois estágios de Simon: benefício clínico antecipado entre 30-50% Com erro tipo I de 0,10 e tipo II de 0,10, na primeira fase; se rejeita a droga em estudo se ocorrerem menos de 7 respostas em 22 pacientes avaliados. Na segunda fase, são esperadas no mínimo 17 respostas em 46 pacientes • Análise de SLP e SG através do método de Kaplan-Meyer com o teste de log-rank para comparação de subgrupos • Análise de eficácia realizada por intenção de tratamento • Todos os pacientes que iniciaram o tratamento serão analisados quanto à toxicidade Atividade de acetato de megestrol em mulheres na pós-menopausa com câncer de mama avançado após progressão de inibidor de aromatase: estudo de fase II Racional Objetivos Materiais e métodos Resultados Discussão Conclusões Perspectivas Atividade de acetato de megestrol em mulheres na pós-menopausa com câncer de mama avançado após progressão de inibidor de aromatase: estudo de fase II Características basais das pacientes e do tumor 2007-2010: 48 pacientes incluídas Idade mediana 67 RE positivo 83% Doença visceral 25% IA doença inicial 15% IA doença avançada 85% Atividade de acetato de megestrol em mulheres na pós-menopausa com câncer de mama avançado após progressão de inibidor de aromatase: estudo de fase II Objetivo principal Benefício clínico 39,6% (IC 95%, 25,23 - 54,93) Duração do benefício clínico 10,05 meses (IC 95%, 6,0 - 17,8 meses) Atividade de acetato de megestrol em mulheres na pós-menopausa com câncer de mama avançado após progressão de inibidor de aromatase: estudo de fase II Sobrevida-livre-de-progressão e sobrevida global Sobrevida-livre-de-progressão 3,91 meses (IC 95% 3,03-4,79) Sobrevida global 19,35 meses (IC 95% 15,11-23,59) Atividade de acetato de megestrol em mulheres na pós-menopausa com câncer de mama avançado após progressão de inibidor de aromatase: estudo de fase II SLP de acordo com acometimento visceral Não visceral 3,91 meses (IC 95% 2,06-5,76) Visceral 2,76 meses (IC 95% 0,86-4,65) Teste log-rank, p=0,987 Sem diferença de SLP de acordo com acometimento visceral Atividade de acetato de megestrol em mulheres na pós-menopausa com câncer de mama avançado após progressão de inibidor de aromatase: estudo de fase II SLP de acordo com receptor de androgênio RA negativo 7,29 meses (IC 95% 3,17-11,42) RA positivo 3,66 meses (IC 95% 2,13-5,23) Teste log-rank, p=0,553 Sem diferença de SLP de acordo com receptor de androgênio Atividade de acetato de megestrol em mulheres na pós-menopausa com câncer de mama avançado após progressão de inibidor de aromatase: estudo de fase II Toxicidade geral Toxicidade moderada Somente 2% suspensão tratamento por toxicidade Atividade de acetato de megestrol em mulheres na pós-menopausa com câncer de mama avançado após progressão de inibidor de aromatase: estudo de fase II Toxicidade: ganho de peso acima de 10% 4 8 Aumento de peso ao longo do tratamento 40% com ganho acima de 10% (grau 2) 2% aumento acima de 20% (grau 3) Atividade de acetato de megestrol em mulheres na pós-menopausa com câncer de mama avançado após progressão de inibidor de aromatase: estudo de fase II Toxicidade: trombose venosa profunda (TVP) 10% TVP Todas abaixo do joelho (< risco de embolia pulmonar) 80% assintomáticas Atividade de acetato de megestrol em mulheres na pós-menopausa com câncer de mama avançado após progressão de inibidor de aromatase: estudo de fase II Racional Objetivos Materiais e métodos Resultados Discussão Conclusões Perspectivas Atividade de acetato de megestrol em mulheres na pós-menopausa com câncer de mama avançado após progressão de inibidor de aromatase: estudo de fase II Discussão I Primeiro estudo prospectivo que avalia AM após falha de IA Acetato de megestrol é ativo nesse cenário – – – – – benefício clínico de 40% a duração mediana do benefício clínico foi de 10 meses sobrevida-livre-de-progressão de 4 meses a sobrevida global de 19 meses análises exploratórias (SLP de acordo com acometimento visceral e receptor de androgênio) sem diferença significante Moderada toxicidade – não houve eventos adversos grau 4 ou óbitos relacionados – poucas pacientes apresentaram toxicidade grau 3 – efeitos colaterais mais relevantes foram ganho de peso e eventos tromboembólicos (10%) Atividade de acetato de megestrol em mulheres na pós-menopausa com câncer de mama avançado após progressão de inibidor de aromatase: estudo de fase II Discussão II: correlação com resultados na literatura Drogas após falha de IA Droga RO (%) BC(%) SLP/TPP (m) SG (m) Tamoxifeno 9 42 4,5 33 Exemestano 0-9 24-44 3-5 20-27 Fulvestranto 7-14 29-35 3-5 19-20 Estradiol 9 29 - - Acetato de megestrol 0 40 4 19 n= número; RO= Resposta objetiva; BC= Benefício clínico; SLP= Sobrevida-livre-de-progressão; TPP= Tempo para progressão; SG= Sobrevida global Resultados semelhantes a outras drogas únicas Atividade de acetato de megestrol em mulheres na pós-menopausa com câncer de mama avançado após progressão de inibidor de aromatase: estudo de fase II Discussão III Acetato de megestrol Outros estudos Nosso estudo Ganho de peso Tromboembolismo 9-17% 5-8% 10% 10% Toxicidade próxima à encontrada na literatura Trombose venosa um pouco acima possivelmente relacionada à avaliação prospectiva com Doppler Atividade de acetato de megestrol em mulheres na pós-menopausa com câncer de mama avançado após progressão de inibidor de aromatase: estudo de fase II Discussão IV: limitações • receptor hormonal é o alvo da terapia endócrina. 17% de pacientes sem receptor hormonal avaliado assim como mensuração no momento do diagnóstico critério de hormônio-sensibilidade utilizado possivelmente transpôs essa limitação • análises exploratórias com números reduzidos que limitam o poder das avaliações • estudo de fase II com limitação quanto à validade externa dos resultados Atividade de acetato de megestrol em mulheres na pós-menopausa com câncer de mama avançado após progressão de inibidor de aromatase: estudo de fase II Racional Objetivos Materiais e métodos Resultados Discussão Conclusões Perspectivas Atividade de acetato de megestrol em mulheres na pós-menopausa com câncer de mama avançado após progressão de inibidor de aromatase: estudo de fase II Conclusões Acetato de megestrol é uma droga ativa que possui toxicidade moderada após falha de inibidores de aromatase Opção de baixo custo na sequência atual do tratamento do câncer de mama avançado hormôniosensível Estimula a pesquisa de progestágenos e da modulação do receptor de progesterona nesse cenário Atividade de acetato de megestrol em mulheres na pós-menopausa com câncer de mama avançado após progressão de inibidor de aromatase: estudo de fase II Racional Objetivos Materiais e métodos Resultados Discussão Conclusões Perspectivas Atividade de acetato de megestrol em mulheres na pós-menopausa com câncer de mama avançado após progressão de inibidor de aromatase: estudo de fase II Progesterona tem ações distintas na célula normal e na célula tumoral Carroll JS. SABCS 2013 Atividade de acetato de megestrol em mulheres na pós-menopausa com câncer de mama avançado após progressão de inibidor de aromatase: estudo de fase II Uma mudança conceitual: o receptor de progesterona passa a modular o receptor de estrogênio (e não o inverso) Carroll JS. SABCS 2013 Atividade de acetato de megestrol em mulheres na pós-menopausa com câncer de mama avançado após progressão de inibidor de aromatase: estudo de fase II Carroll JS. SABCS 2013 Atividade de acetato de megestrol em mulheres na pós-menopausa com câncer de mama avançado após progressão de inibidor de aromatase: estudo de fase II Carroll JS. SABCS 2013 Considerações Finais Podemos navegar do paciente para a bancada e viceversa Mais iniciativa, disponibilidade e colaboração podem trazer mais benefícios para os pacientes com câncer de mama Obrigado! [email protected] “Main positive change that has occurred related to clinical research in Brazil?” “Main positive change that has occurred related to clinical research in Brazil?” Research units Probabilidade de sobrevida após câncer de mama no Brasil de acordo com o tipo de seguro: público x privado Liedke PER. Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 2014