Mário de Andrade Questões Gramaticais Descomplicando a Língua Na língua oral, ou seja, na fala a tendência é fazer a fusão: [do ou da]. Com efeito, é impossível resistir à tentação de fundir de + a/o. Muitos estudiosos e ótimos autores consideram "do, da" um fato mais que consagrado, sobretudo na fala. O que nos leva a concluir ser um caso facultativo, isto é, tanto faz um ou o outro. Mas isso não é verdade! Se você quiser ser, absolutamente, lógico, a gramática diz que a preposição [de] não se funde com o sujeito do infinitivo (forma nominal do verbo). Observe a seguinte frase: • Está na hora de o candidato falar. Qual é o sujeito do infinitivo [falar]? Só pode ser quem irá falar, isto é, o candidato. Se o sujeito é "o candidato" a preposição [de] não faz parte do sujeito e, portanto, não pode fundir-se com o artigo [o]. Do mesmo modo: • No caso de o programa se alterar... • É hora de a festa acabar. • Chegaram antes de a agência abrir. O mesmo caso se aplica aos pronomes pessoais: • Eu cheguei na hora de ele sair. • É hora de ele fechar. • Eu cheguei antes de ela sair. Quem vai sair? Só pode ser [ele]. Se o sujeito é "ele" a preposição [de] não faz parte do sujeito e, portanto, não pode fundir-se com o pronome [ele]. Cabe lembrar que, esse caso, não tem nada a ver com os outros casos de fusão da preposição com os artigos [o, a, os, as], ou com os pronomes [ele, ela, eles, elas]. Por exemplo: • A casa dele foi invadida pelos ladrões. • O computador da escola está na oficina. Ninguém irá dizer ou escrever: A casa de ele foi invadida..., ou: O computador de a escola está na oficina. A colocação pronominal é a posição que os pronomes pessoais oblíquos átonos ocupam na frase em relação ao verbo a que se referem. São pronomes oblíquos átonos: me, te, se, o, os, a, as, lhe, lhes, nos e vos. O pronome oblíquo átono pode assumir três posições na oração em relação ao verbo: 1. Próclise: pronome antes do verbo 2. Ênclise: pronome depois do verbo 3. Mesóclise: pronome no meio do verbo A próclise é aplicada antes do verbo quando temos uma forma atrativa, como: • Palavras com sentido negativo: Nada me faz querer sair dessa cama. Não se trata de nenhuma novidade. • Advérbios: Nesta casa se fala alemão. Naquele dia me falaram que a professora não veio. • Pronomes relativos: A aluna que me mostrou a tarefa não veio hoje. Não vou deixar de estudar os conteúdos que me falaram. • Pronomes indefinidos: Quem me disse isso? Todos se comoveram durante o discurso de despedida. • Pronomes demonstrativos: Isso me deixa muito feliz! Aquilo me incentivou a mudar de atitude! • Preposição seguida de gerúndio: Em se tratando de qualidade, o Brasil Escola é o site mais indicado à pesquisa escolar. • Conjunção subordinativa: Vamos estabelecer critérios, conforme lhe avisaram. A mesóclise acontece quando o verbo está flexionado no futuro (futuro do presente ou no futuro do pretérito) e não há atração: A prova realizar-se-á neste domingo pela manhã. Far-lhe-ei uma proposta irrecusável. A ênclise é empregada depois do verbo. A norma culta não aceita orações iniciadas com pronomes oblíquos átonos. A ênclise vai acontecer quando não há atração e quando o verbo não estiver no futuro: • Aceitaremos que a ênclise é a melhor posição para evitar o início da frase ou da oração (depois de uma vírgula): Amem-se uns aos outros. Sigam-me e não terão derrotas. Senhores, digam-lhe que está tudo bem. Criaram uma nova empresa, chamaram-me para ser sócio, então. Auxiliar + infinitivo (podem os pronomes, conforme as circunstâncias, estar em próclise ou ênclise, ora ao verbo auxiliar, ora à forma nominal.) Devo calar-me / devo-me calar / devo me calar Não devo calar-me / não me devo calar / não devo me calar. Obs.: Mesmo com fator de próclise, a ênclise no infinitivo é correta. Auxiliar + preposição + infinitivo (Há de acostumar-se / há de se acostumar - Não se há de acostumar / não há de acostumar-se.) Auxiliar + gerúndio (podem os pronomes, conforme as circunstâncias, estar em próclise ou ênclise, ora ao verbo auxiliar, ora à forma nominal.): Vou-me arrastando / vou me arrastando / vou arrastando-me Não me vou arrastando / não vou arrastandome. Com fator de próclise, o pronome não pode aparecer entre os verbos. Auxiliar + particípio (os pronomes se juntam ao auxiliar e jamais ao particípio, de acordo com as circunstâncias. a) Os amigos o tinham prevenido. b) Os amigos tinham-no prevenido. É o termo que indica com quem se está falando. A vírgula com vocativo Oi Fernando? Essa frase está certa? Não! Esse Fernando que você usou é, segundo a Gramática, um vocativo, termo que serve para invocar, chamar, pedir a presença de qualquer ente, real ou imaginário. E, por ser um vocativo, deve ser isolado por vírgula(s). Sempre! Logo, Oi, Fernando? Com vírgula! Um detalhe: se o vocativo estiver acompanhado da interjeição ó, os dois serão isolados. Exemplos: - Vejam só, caros amigos, o que foi feito; - Ó Maria, será que não me vês?; - Venha logo aqui, rapaz.