Alterações da sensopercepção Prof.Octavio Domont de Serpa Jr. IPUB/UFRJ ALTERAÇÕES QUANTITATIVAS abolição das percepções diminuição da intensidade perceptiva – Hipoestesias: estados depressivos aumento global da capacidade perceptiva – Hiperestesias: intoxicações por alucinógenos; epilepsias; enxaqueca; estados psicóticos agudos ALTERAÇÕES QUALITATIVAS a) ilusão : imagem deformada de um objeto real e presente ilusão por relaxamento da atenção (fadiga) ilusão afetiva ou catatímica (desejo ou temor) ilusão onírica (turvação da consciência) b) pareidolia * imagem de percepção : nitidez; corporeidade; estabilidade; extrojeção; ininfluenciabilidade pela vontade * imagem de representação : imprecisão e falta de claridade; incorporeidade; instabilidade; introjeção; influenciabilidade voluntária c) alucinação : percepção sem objeto alucinação verdadeira : todas as características da imagem de percepção; clareza de consciência; integrada pelo juízo de realidade. pseudo-alucinação : algumas características da imagem de representação; pode ocorrer com clareza de consciência ou com rebaixamento de consciência; integrada pelo juízo de realidade. alucinose : características da imagem de percepção; não integrada pelo juízo de realidade. SEMIOLOGIA DAS ALUCINAÇÕES i) alucinações hipnagógicas e hipnopômpicas ii) alucinações visuais : - elementares (fotopsias) ou diferenciadas - tamanho natural, minúsculas (micropsias ou liliputianas) ou gigantescas (macropsias ou gulliverianas) - zoopsias Mais frequentes no Delirium e nas intoxicações por alucinógenos; histeria; podem ocorrer em qualquer psicose iii) alucinações olfativas e gustativas - epilepsia parcial complexa - esquizofrenia iv) alucinações táteis - síndrome de Ekbom - psicose cocaínica - Delirium Tremens v) alucinações cinestésicas - esquizofrenia vi) alucinações cenestésicas - esquizofrenia Alucinações funcionais Alucinações combinadas (sinestesias) Alucinações extra-campinas alucinações auditivas : - elementares ou diferenciadas - alucinações funcionais - eco do pensamento/sonorização do pensamento Este fenômeno tem sido entendido não como um alteração da sensopercepção, mas sim como uma alteração da consciência de si. Neste entendimento algumas perspectivas disputam a hegemonia explicativa, tais como a teoria do controle central da ação, a teoria da atribuição da ação e a perspectiva fenomenológica. Teoria do Controle Central da Ação (Frith et cols.) Alucinações auditivas (e delírios de controle): problema para experienciar o self em ação → anormalidade no sentimento de estar no controle das próprias ações Estes pacientes estão anormalmente conscientes (aware) das conseqüências sensoriais dos seus movimentos e não conseguem predizer com exatidão as suas conseqüências objetivo falsa discrepância estado desejado affordances especificação do movimento estado previsto Delírios de controle Alucinações auditivas movimento estado real anormalidade s/discrepância Teoria da atribuição da ação (Jeannerod et cols.) Shared representations : superposição de estruturas ativadas quando da simulação, observação e execução da ação → superposição parcial; as zonas não superpostas geram o sinal específico para cada forma de representação Existência de redes neurais subjacentes à varias formas de representação de ação, com superposição parcial entre elas (áreas parietais posteriores e pré-motoras) Em condições normais, as partes não superpostas, assim como diferenças de grau de ativação nas áreas ativadas, permitem a atribuição da agentividade e o autoreconhecimento Alterações de conectividade cortical pode alterar a forma das redes correspondentes à diferentes representações ou a relativa intensidade de ativação nas áreas compondo estas redes Who? Estimation of social consequences Beliefs and desires of agent A Agent A Representation of observed action Representation of selfgenerated action Social signals from Agent B Execution of action Execution of action Social signals from Agent A Agent B Representation of selfgenerated action Representation of observed action Beliefs and desires of agent B Estimation of social consequences Who? Jeannerod, 2003 Abordagem Fenomenológica 2 aspectos estreitamente relacionados da minimal self-awareness: - self-ownership → é o meu corpo que está movendo - self-agency → eu sou a origem da ação Na experiência normal da ação voluntária ou desejada os sense of ownership e of agency coincidem e são indistinguíveis Esta coincidência nos faz pensar em ownership da ação em termos de agency Esquizofrenia como transtorno da ipseidade Ipseidade: sentido crucial de self-sameness, de existir como um sujeito da experiência que é único em um dado momento O transtorno da ipseidade tem dois aspectos principais, aparentementemente contraditórios porém complementares: hiper-reflexividade - tipo de consciência de si exagerada; focalização e objetificação da atenção voltada para processos que são normalmente habitados ou experienciados como partes de si - e diminuição da auto-afecção – declínio na experiência (passiva ou automática) do sentido de existir como um sujeito de consciência (awareness) vivo e unificado alucinações auditivo-verbais como transtornos da consciência de si → colapso no processo de conversação interior: o sentimento de unidade na dualidade é perdido se a consciência de si pré-reflexiva está faltando, o sentido de unidade se enfraquece e o de dualidade cresce a crise da consciência de si pré-reflexiva é acompanhada de uma hiper-reflexividade → objetificação do sentido de dualidade e perda do sentido de myness do discurso interior. Diferentes níveis de explicação envolvidos e diferentes abordagens explicativas 1) experiência fenomênica de primeira ordem 2) cognição de ordem superior (julgamentos atributivos sobre a própria experiência) 3) processos sub-pessoais, não conscientes Experiência: não é só cognitiva, mas também emocional e corporificada