EDUCAÇÃO CIDADÃ EM SAÚDE: UFRJ COMO OS RECURSOS DE INTERNET SÃO USADOS PARA FACILITAR O ACESSO À INFORMAÇÃO E PROMOVER MUDANÇAS SOCIAIS E COMPORTAMENTAIS EM PACIENTES DE UMA DOENÇA CRÔNICA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE MATEMÁTICA – NÚCLEO DE COMPUTAÇÃO ELETRÔNICA GRUPO DE INFORMÁTICA APLICADA NA EDUCAÇÃO 1. Introdução Em 1990 a Carta de Barcelona já antevia a necessidade de democratização da informação. O último Simpósio de Informática na Educação, realizado em 2003, teve como tema “Inclusão Digital como instrumento de Inclusão Social”. Com o trabalho de instituições governamentais e não governamentais e interesse crescente, cada vez mais o cidadão tem acesso à Internet e percebe que ferramentas de comunicação na Internet podem auxiliar a educação continuada, por meio de participação, colaboração e cooperação, sem a limitação de espaço ou tempo. A inclusão digital proporciona ao cidadão o acesso às informações disponíveis sobre sintomas, diagnósticos e tratamentos de doenças. O paciente de doença crônica pode pesquisar e, posteriormente, esclarecer as dúvidas com o seu médico. Hoje, pesquisadores e médicos também assumem o papel de educadores e tornam disponíveis informações sobre doenças de sua especialidade e vínculos(links) que apontam para outros sítios relacionados. Porém, em 1998 a Internet não estava tão difundida quanto hoje, e nem sempre era tão simples a recuperação de informações sobre determinada doença. A quantidade de sítios era menor, o acesso era mais difícil e a facilidade de uso dos computadores era questionada por muitos usuários. Os indicadores para o diagnóstico de uma doença eram obtidos, geralmente, após a consulta médica. Poderíamos estabelecer um marco de mudanças no contexto sócio-educacional, no Brasil, com a divulgação da Declaração de Porto Alegre em 2003, resultante da valorização da reflexão e da crítica, com a participação do cidadão, cada vez mais próximo das novas Tecnologias de Informação. Algumas doenças são de difícil diagnóstico e os seus sintomas se confundem com os de outras. Por exemplo, alguém que está com dores nos joelhos pode procurar a ortopedia. Porém, os sintomas apresentados também são decorrentes de disfunção da glândula para-tireóide: caso para a endocrinologia. Quanto tempo passará chegar-se a um diagnóstico se o ortopedista não souber desta possibilidade? Uma pesquisa na Internet fornece a médicos e pacientes a oportunidade de obtenção de informações importantes. E isto pode poupar muito tempo. Tempo de angústia. Tempo de sofrimento. Tempo que pacientes com doenças evolutivas não dispõem. Ilan CHAMOVITZ [email protected] 2. A Endometriose 4. Ferramentas utilizadas e seus Benefícios: hipertexto, formulários, fórum A endometriose é uma doença principalmente ginecológica. Geralmente localiza-se no revestimento do útero, o endométrio, mas pode estar, também, fora dele. No início são focos não aparentes, evoluem progressivamente pelos efeitos dos hormônios dos ciclos desde as primeiras regras, principalmente devido aos estrogênios, aumentando os focos, formando saliências e micro-bolhas vermelhas, rubis, negras e brancas de 2 a 5 mm. Começam como focos isolados e se organizam em placas que ficam endurecidas. Promovem micro menstruações a cada mês, como se fossem mini-úteros. Criam-se cicatrizes e membranas que deformam as superfícies lisas dos órgãos no pequeno espaço que ocupam no baixo abdômen (pélvis). Estas superfícies ficam irregulares, os órgãos começam a ter dificuldades para deslizarem entre si. A bexiga, trompas e ovários apresentam dificuldades nas suas funções. 4.1 Hipertexto 3. Justificativa para a criação do sítio para apoio a pacientes Em 1999, a Endometriose era bem pouco difundida, e ainda continua sendo enigmática: não tem causa totalmente definida; não possui tratamento genérico definido, isto é, cada paciente deve ser tratado de uma forma; ocorre com uma variedade de sintomas muito grande; é uma das poucas doenças que possui um Simpósio Mundial exclusivo, que ocorre anualmente. O diagnóstico tardio para uma doença evolutiva (que pode piorar a cada mês) e a falta de informação por parte dos pacientes e dos médicos especializados em ginecologia, ou mesmo em outras áreas nas quais os sintomas causados pela doença podem aparecer, levou à criação de uma página concentradora de informação (a página ligava diversos sítios que exibiam a informação). A preocupação em registrar a página em locais de busca foi conseqüência da necessidade existente de se poder filtrar a informação, dado o problema de excesso de informação existente na rede. De que adianta criar um documento - um nó da rede em hipertexto, se as vias de acesso estão bloqueadas, ou se são inexistentes? Em março de 2000, o sítio do Núcleo de Endometriose do Rio de Janeiro foi criado usando hipertexto e uma interface simples. Em 2002 foram incluídos elos para sítios em alemão, italiano e espanhol; alguns indicados de forma colaborativa, pela lista de discussão (fórum), por brasileiras residindo no exterior. 4.2 Formulário para cadastro O benefício do cadastro pela Web foi sentido na IV Jornada Paulista de Endometriose, em agosto de 2002, realizada na cidade de São Paulo, onde cerca de 300 pessoas compareceram, e grande parte havia se cadastrado pela Internet. A presença neste encontro, ocorrido após a criação do cadastro e do fórum, aumentou em mais de 40 % com relação ao ano de 2001, quando estas ferramentas ainda estavam em fase de desenvolvimento e testes. 4.3 Fórum de discussão Em 2001 foi incluído um fórum de discussão no sítio Núcleo-Endo RJ (2004), um local onde os visitantes, geralmente pacientes, familiares ou médicos, pudessem trocar idéias e experiências. As pacientes que usam o fórum trocam informações, compartilham emoções e percebem que não estão sozinhas. Isto pode ser observado com uma simples consulta ao fórum [Abend, 2004]. O benefício psicológico é sentido pelas pacientes que passam por situações semelhantes em registros como: “fiquei mais de 1 ano indo a médicos, com dores e somente agora descobri que tenho a doença” ou “meus familiares não acreditam quando estou sempre reclamando de dores”. A Endometriose pode causar dores e infertilidade. Porém, segundo análise das mensagens deixadas no fórum, a superação a adversidades conseguida por algumas pacientes incentiva às demais. Esta forma de comunicação permitiu, entre outros benefícios, a divulgação de locais onde a medicação – de alto custo - é distribuída pelo Sistema Único de Saúde SUS, gratuitamente. Abaixo, algumas mensagens registradas: “Este site tem me ajudado a entender mais da endo, gosto tbm de receber o boletim... alem de tudo quero parabenizar pela força que vc dá para todas nos”. (depoimento de paciente enviado por formulário em 11/06/2003) “Mesmo não tendo ainda o problema que todas vcs têm e já passaram, eu quero dizer que foi muito importante todo o apoio que recebi aqui... Encontrei aqui carinho, respeito, consideração..” . (mensagem deixada no fórum, em 30/06/2003) Outra mudança quando um especialista orientava, pelo fórum, as pacientes, tranqüilizando-as (a falta de informação gera insegurança quando se está doente, e as pacientes ficam muito agradecidas com as informações do especialista). 5. Conseqüências: mudanças de hábito e valorização do cidadão Como conseqüência ao amplo acesso à informação e a possibilidade de se trocar experiências, as pacientes mudaram hábitos conforme sugestão de médicos e de outras pacientes: reeducação alimentar, buscar uma segunda opinião médica, conhecer também tratamentos complementares tais como acupuntura e hidroginástica. O sítio passou a divulgar palestras gratuitas sobre a doença. O sítio da ABEND - Associação Brasileira de Endometriose - foi criado em 2002, a partir da experiência positiva apresentada pelo sítio Núcleo-Endo RJ. Sendo a ABEND um órgão representativo oficial, seu sítio tornou-se referência nacional e internacional para assuntos ligados à doença. A Associação tem hoje mais de 6.000 cadastradas e luta pelo direito ao tratamento da doença, de forma gratuita, junto ao governo. Estão sendo criadas regionais por todo o Brasil para que atividades locais sejam realizadas com mais eficácia e para que as pacientes obtenham esclarecimentos de forma mais efetiva. 6. Referências Bibliográficas Abend (2004) – Associação Brasileira de Endometriose: http://abend.org.br Núcleo Endo / RJ (2004) http://www.api.adm.br/endometrio se.