Kant e a Fundamentação da Metafísica dos Costumes – Prefácio

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Aula 19
Introdução à Filosofia: Ética
FIL028
http://www.introetica.ecaths.com
Immanuel Kant
(Königsberg, 1724 – 1804)
Versão do Texto de Kant:
• Kant, Immanuel (1986/1785)
Fundamentação da Metafísica dos
Costumes, trad. Paulo Quintela, Lisboa:
Edições 70.
Kant e a Fundamentação da Metafísica
dos Costumes – Prefácio
Propósito Geral do Projeto Moral de Kant:
“Não é verdade que é da mais extrema
necessidade elaborar um dia uma pura
Filosofia Moral que seja completamente
depurada de tudo o que possa ser
somente empírico e pertença à
Antropologia?” (Kant, Fundamentação,
p.15)
Kant e a Fundamentação da Metafísica
dos Costumes – Prefácio
Propósito Geral do Projeto Moral de Kant:
• Diferença entre a filosofia empírica e a pura:
“Pode-se chamar de empírica a toda a filosofia que se
baseie em princípios da experiência, àquela porém cujas
doutrinas se apoiam em princípios a priori chama-se
filosofia pura. Esta última, quando é simplesmente
formal, chama-se Lógica; mas quando se limita a
determinados objetos do entendimento chama-se
Metafísica.” (Ibid., p.14)
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dos Costumes – Prefácio
Propósito Geral do Projeto Moral de Kant:
• Distinção entre uma Metafísica da Natureza e
uma Metafísica dos Costumes:
“A física terá portanto a sua parte empírica, mas
também uma parte racional; igualmente a Ética,
se bem que nesta a parte empírica se poderia
chamar especialmente Antropologia prática,
enquanto a racional seria a Moral propriamente
dita.” (Ibid., p.14)
Kant e a Fundamentação da Metafísica
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Propósito Geral do Projeto Moral de Kant:
“(...) [L]imito-me a perguntar se a natureza da ciência
não exige que se distinga sempre cuidadosamente a
parte empírica da parte da parte racional e que se
anteponha à Física propriamente dita (empírica) uma
Metafísica da Natureza, e à Antropologia prática uma
Metafísica dos Costumes, que deveria ser
cuidadosamente depurada de todos os elementos
empíricos, para se chegar a saber de quanto é capaz
em ambos os casos a razão pura e de que fontes ela
própria tira o seu ensino a priori.” (Ibid., p.15)
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Propósito Geral do Projeto Moral de Kant:
• Divisão do conhecimento racional:
• Formal: ocupa-se da forma do entendimento e da razão,
ou regras do pensar em geral, sem distinção dos
objetos. Exemplo: Lógica.
• Material: ocupa-se de um objeto específico e das leis a
que ele está submetido. Exemplos: Física, Ética.
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Propósito Geral do Projeto Moral de Kant:
•
O conhecimento Formal, exemplificado pela Lógica, não tem parte empírica. Suas
leis são completamente a priori.
•
O conhecimento Material, por outro lado, pode ter uma parte empírica (além de uma
parte a priori):
Física ou Teoria da Natureza: leis da natureza.
Ética ou Teoria dos Costumes: leis da liberdade.
•
Cada uma destas últimas terá princípios a priori que valerão como condição de
possibilidade para, respectivamente, a experiência do mundo e a ação (moral) no
mundo.
•
Portanto, ‘formal’ e ‘material’ não equivalem a ‘a priori’ e ‘a posteriori’ (ou empírico).
‘A priori’ é, às vezes, identificado por Kant com ‘racional’.
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Propósito Geral do Projeto Moral de Kant:
Esclarecimento Conceitual:
•
Uma proposição é o correlato mental ou abstrato de uma sentença, frase ou enunciado. Por
exemplo, podemos dizer que ‘a neve é branca’ é a proposição em comum que há entre as
seguintes sentenças ‘a neve é branca’ (em português) e ‘der Schnee ist weiss’ (em alemão).
•
Filósofos costumam distinguir tipos de proposições nos seguintes termos:
Proposições analíticas: O conceito-predicado está contido no conceito-sujeito. Ex.: “A é A”;
“Todo solteiro é não casado”.
Proposições sintéticas: O conceito-predicado não está contido no conceito-sujeito. Ex.: “O céu é
azul”; “A grama é verde”; “João é solteiro”, “RJ e BH estão separadas por 453km”.
Proposições a priori: proposições que são conhecidas sem o uso da experiência. Portanto, as
proposições analíticas são a priori.
Proposições a posteriori: proposições que não são conhecidas sem o uso da experiência.
Portanto, as proposições sintéticas são a posteriori.
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Propósito Geral do Projeto Moral de Kant:
Esclarecimento Conceitual:
•
Proposições sintéticas a priori: seriam proposições que, embora
dispensem o uso da experiência, não são analíticas, isto é, proposições
nas quais o conceito-predicado não está contido no conceito-sujeito.
Ex.: “7 + 5 = 12”; “Toda mudança possui uma causa” (que une a categoria a
priori da causalidade aos fenômenos); o imperativo categórico: “Age
apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que
ela se torne lei universal” (que une a vontade humana à regra a priori da
universalização, da razão)
•
Existem proposições sintéticas a priori? Segundo Kant, sim. Mas esta
questão está longe de ser trivial e é uma das mais difíceis questões da
filosofia.
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Propósito Geral do Projeto Moral de Kant:
“(...) tanto a Filosofia Natural como a Filosofia
Moral podem cada uma ter a sua parte
empírica, porque aquela tem de determinar as
leis da natureza como objeto da experiência,
esta porém as da vontade do homem enquanto
ela é afetada pela natureza; quer dizer, as
primeiras como leis segundo as quais tudo
acontece, as segundas como leis segundo as
quais tudo deve acontecer (...).” (Ibid., ênfase
adicionada, p.14)
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Propósito Geral do Projeto Moral de Kant:
• Kant explica que parte do seu projeto é simplesmente fazer uma
análise dos conceitos ‘moral’ e ‘dever’:
“Que tenha de haver uma tal filosofia, ressalta com evidência da
ideia comum do dever e das leis morais. Toda a gente tem de
confessar que uma lei que tenha de valer moralmente, isto é como
fundamento duma obrigação, tem de ter em si uma necessidade
absoluta (...) que, por conseguinte, o princípio da obrigação não se
há de buscar aqui na natureza do homem ou nas circunstâncias do
mundo em que o homem está posto, mas sim a priori a
exclusivamente nos conceitos da razão pura, e que qualquer outro
preceito baseado em princípios da simples experiência, mesmo (...)
em certa medida universal (...) poderá chamar-se na verdade uma
regra prática, mas nunca uma lei moral.” (Kant, Fundamentação,
p.15-16)
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Propósito Geral do Projeto Moral de Kant:
•
Ainda que possamos simplesmente conceber tais leis da razão pura
completamente a priori, Kant explica que importa em questões éticas que tais
leis possam ser traduzidas em ações. Portanto, é importante que aquelas leis a
priori da razão pura sejam tornadas práticas. Mas, dada a natureza empírica do
homem, ele é afetado por inclinações de todos os tipos (impulsos, desejos,
paixões, sentimentos) e de conteúdos mais diversos, que podem desvirtuá-lo
da ação recomendada pela razão pura prática. É por isso que tais leis a priori
da razão pura devem ser tornadas práticas através de sua capacidade de
“influenciar” diretamente a vontade—já que esta é a faculdade responsável por
motivar ações:
“É verdade que [as leis a priori da racionalidade] exigem ainda uma faculdade
de julgar apurada pela experiência, para, por um lado, distinguir em que cada
caso elas têm aplicação, e, por outro, assegurar-lhes entrada na vontade do
homem e eficácia na sua prática. O homem, com efeito, afetado por tantas
inclinações, é na verdade capaz de conceber a ideia de uma razão pura prática,
mas não é tão facilmente dotado da força necessária para a tornar eficaz in
concreto no seu comportamento.” (Ibid., p.16)
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Propósito Geral do Projeto Moral de Kant:
• Kant enfatiza que sem os princípios práticos que
residem a priori na nossa razão,
“(...) os próprios costumes ficam sujeitos a toda a sorte
de perversão enquanto lhes faltar aquele fio condutor e
norma suprema do seu exacto julgamento.”
Mas em que sentido exatamente os costumes ficam
sujeitos a tal sorte?
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Propósito Geral do Projeto Moral de Kant:
“(...) aquilo que deve ser moralmente bom não
basta que seja conforme à lei moral, mas tem
também que cumprir-se por amor a essa
mesma lei [ou melhor, por reverência ou
respeito pela lei em si mesma]; caso contrário,
aquela conformidade será apenas muito
contingente e incerta, porque o princípio imoral
produzirá na verdade de vez em quando acções
conformes à lei moral, mas mais vezes ainda
acções contrárias a essa lei.” (Ibid., p.16-17)
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