Nuvens, nevoeiros e neblina - Marcelo de Paula Corrêa

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Nuvens, nevoeiros e neblina:
condensação e precipitação
Fundamentos de Meteorologia – EAM 10
IRN/UNIFEI
Prof. Dr. Marcelo de Paula Corrêa
NUVEM: “Conjunto visível de partículas minúsculas de água líquida ou de
gelo, ou ambas ao mesmo tempo, em suspensão na atmosfera. Este
conjunto também pode conter estas partículas em maiores dimensões,
assim como outros tipos de partículas, como as procedentes, por exemplo,
de vapores industriais, fumaça e poeiras”
(Atlas Internacional de nuvens, OMM)
Deste modo, podemos dizer que as nuvens são manifestações visíveis da
condensação e deposição de vapor d’água na atmosfera !
Formação de nuvens
Tar < Td
CONDENSAÇÃO
DO VAPOR D’ÁGUA
+ H2Ov é
adicionado ao ar
Solo
orvalho
nevoeiro
Núcleos de
condensação
nuvens
SUPERFÍCIE SOBRE A
QUAL O VAPOR D’ÁGUA
SE CONDENSA
Classificação de nuvens
Classificação de nuvens
 Nuvens altas
– Cirrus (Ci)
– Cirrostratus (Cs)
– Cirrocumulus (Cc)
 Nuvens médias
– Altostratus (As)
– Altocumulus (Ac)
 Nuvens baixas
– Stratus (St)
– Stratocumulus (Sc)
– Nimbostratus (Ns)
 Nuvens com desenvolvimento vertical
– Cumulus (Cu)
– Cumulonimbus (Cb)
Sites interessantes
para ver fotos de nuvens





http://www.chitambo.com/clouds/
http://www.cloudappreciationsociety.org/
http://www.wetter-foto.de/galerie.php
http://www.weatheroutreach.org/4.html
http://www.uen.org/utahlink/weather/clouds/cloud_id.html
Classificação das nuvens
(Atlas Internacional de Nuvens – OMM, 1972)
Fonte: Vianello e Alves, 1991
Mas, as nuvens são formadas
apenas pela condensação do vapor
de água ?
Núcleos de condensação
 O que são ?
– Partículas em torno das quais o vapor de água se condensa.
Geralmente são substâncias higroscópicas como o sal marinho
(cloreto de sódio, NaCl), os produtos de combustão que contêm ácido
nítrico (HNO3) e ácido sulfúrico (H2SO4) ou pequenas partículas de
poeiras e pólen.
– Sigla: CCN. Do inglês, cloud condensation nuclei
– São ditos ativos quando promovem condensação
 Por que são necessários ?
– No ar limpo, a condensação do vapor de água só é possível em
situações de supersaturação → UR > 100%.
– Além disso, o grau de saturação necessário para desenvolvimento de
nuvens aumenta rapidamente (supersaturação) a medida que o raio
das gotículas diminui.
• Se o raio da gotícula R ≈ 0,1 μm – saturação com UR ≈ 350%
• Se o raio da gotícula R ≈ 1,0 μm – saturação com UR ≈ 101%
Núcleos de condensação
 Classificação
– Núcleos de condensação de nuvens
• Ativos em temperaturas tanto acima como abaixo da temperatura de
congelamento.
• Gotículas de água podem se condensar e permanecer líquidas mesmo
quando a Tnuvem < 0°C (gotículas de água superesfriadas)
– Núcleos de formação de gelo
• menos abundantes e tornam-se ativos apenas em temperaturas bem
abaixo do congelamento.
• Há dois tipos de núcleos de formação de gelo:
– (1) núcleos de congelamento: causam o congelamento de gotículas e
tornam-se ativos, na maioria das vezes, para T < –10° C.
– (2) núcleos de deposição (ou de sublimação): sobre os quais o vapor d’água
deposita diretamente como gelo. Tornam ativos, na maioria das vezes, para
T < –20° C.
Núcleos de condensação
 Observação importante: O EFEITO DE CURVATURA
– Ar saturado ↔ UR = 100%: Se refere ao caso das moléculas de vapor
de água na atmosfera estarem em equilíbrio termodinâmico com as
moléculas de uma superfície plana de água pura, cuja temperatura é a
mesma do ar.
– Portanto, se a água NÃO é pura e/ou a superfície NÃO é plana a UR
pode ser > ou < 100%.
• Em temperaturas equivalentes, a pressão de vapor de saturação necessária
em torno de uma gota esférica de água é maior que no ar sobre uma
superfície plana de água.
• Quando a curvatura da superfície de água aumenta, torna-se mais fácil para
moléculas de água escapar do líquido e tornar-se vapor. Essa curvatura
também tende a dificultar a incorporação de novas moléculas. Neste caso,
as moléculas estão mais distanciadas e as forças de ligação são mais
fracas que sobre uma superfície plana.
• Pelo efeito de curvatura a pressão de equilíbrio entre as moléculas de
vapor de água no ar e as água líquida que constituem a gotícula é
inversamenteo proporcional ao raio da gotícula.
Núcleos de condensação
 Observação importante: O EFEITO DO SOLUTO
– A presença de substâncias solúveis na gotícula reduz a pressão de
equilíbrio entre a gotícula e o vapor de água do ar.
– Depende do tipo e da concentração de soluto na gotícula
– O sal marinho é o soluto mais comum encontrado na atmosfera.
 Na atmosfera ambos os efeitos ocorrem concomitantemente. Desse
modo, o tamanho de uma gota depende dos efeitos da curvatura e
do soluto.
Exemplos dos efeitos de soluto e curvatura
Tomemos como base uma gotícula de água pura de raio 0,5μm
Vamos avaliar a UR de equilíbrio (UReq) entre o vapor de água e a gotícula
EFEITO DE SOLUTO
(curva A)
UReq = 98%
EFEITO DE CURVATURA
(curva B)
UReq = 101,4%.
A medida que a gotícula cresce,
a proporção de soluto diminui.
Ou seja, o soluto é primordial
para a formação da gotícula,
porém não exerce influência
quando a gota é maior.
Isto é, 1,4% acima da UReq
entre o vapor saturado e uma
superfície plana de água
pura.
Curva LMOPQ → ambos
os efeitos ocorrendo
(atmosfera)
Observe que para uma
gotícula de 3,0μm ambos os
efeitos são desprezíveis
Exemplos dos efeitos de soluto e curvatura
Curva LMOPQ → ambos os efeitos ocorrendo (atmosfera)
Suposição:
Insere-se um CCN no ar não-saturado
L – O CCN absorve água até ocorrer equilíbrio com o
ar ao redor
M – Resfriamento (ascenção adiabática) → UR
aumenta → crescimento → novo equilíbrio
N – Novo resfriamento → UR (N) → crescimento
LMOP sem equilíbrio com o ar vizinho
O – CCN é um “núcleo ativado” → crescimento da
gotícula é instável
Após O – crescimento indefinido se a quantidade de
vapor permanecesse no nível N. No entanto, com a
condensação a UR diminui e outros núcleos são
ativados dando origem a um espectro de gotículas de
diferentes raios.
GH – se refere a núcleos menores que os da curva
LMOPQ
Características dos CCN
 Processo de condensação
– Ar se resfria → UR aumenta
– Antes de atingir UR = 100% (p/água pura, spf plana), há
condensação dos núcleos maiores (ativos)
– Quando UR = 100%, a gotícula cresce até atingir valores
máximos dentro da nuvem
– CCN pequenos não são aproveitados → n° gotículas < n° CCN
 Escala de tamanho e de tempo de formação
– Considerando um CCN ativo de 1,0 μm passando pelo processo
de condensação
•
•
•
•
Para atingir 10 μm: alguns segundos
Para atingir 100 μm: alguns minutos
Para atingir 1000 μm (1 mm): ~ 3h
Para atingir 3000 μm (3 mm): um dia
Como as
chuvas são
observadas de
1 a 2 h após
a formação
da nuvem ?
Formação de precipitação
 Processo de captura (colisão-coalescência) → ocorrem em nuvens
quentes. Cujas temperatura estão acima do ponto de congelamento
(0°C) (Apesar dos topos geralmente se encontrar com T > –15°C)
 Necessidades:
–
–
–
–
1) Deve haver uma grande quantidade de água líquida dentro da nuvem.
2) Devem existir fluxos ascendentes suficientemente fortes na nuvem.
3) Um grande espectro de tamanhos de gotículas é muito útil.
4) A nuvem deve ser espessa o suficiente para que as gotículas tenham tempo
suficiente para atingir gotículas menores
– 5) O campo elétrico das gotículas e o campo elétrico das nuvens também
influenciam, mas ainda são objetos de estudo.
(Thomson, 2000)
O processo de colisão não é 100%
eficiente! Portanto, a colisão nem
sempre resulta em coalescência.
Gotículas maiores implicam em
velocidades maiores e mais colisões.
Em média, são necessárias 1.000.000
de gotículas para formar uma gota de
chuva.
Rgotíc ~ 20μm << fio de cabelo (75μm)
captura direta
captura de retaguarda
(Deve-se à região de menor
resistência formada pela divergência
das linhas de corrente formadas por
onde a gota passa)
(Lutgens 1992)
Eficiência de colisão
y2
E
(R1  R2 )2
Velocidade de queda da gota
2R2g
v
9
  p   a
η – coeficiente de viscosidade
(Wallace & Hobbs, 1977)
Formação de precipitação

Processo de Bergeron → ocorrem em nuvens frias (T < 0°C)
–
Deve-se às seguintes propriedades da água:
1. gotículas de nuvem não congelam a 0°C como se esperaria. De fato, água
pura suspensa no ar não congela até atingir uma temperatura em torno de –
40°C. Assim, nuvens com T entre 0 e -10° C são tipicamente compostas de
gotículas de água superesfriada. Entre -10° C e -20° C gotículas líquidas
coexistem com cristais de gelo. Abaixo de -20° C, a temperatura de ativação
de muitos núcleos de deposição, as nuvens usualmente consistem
inteiramente de cristais de gelo.
2. A pressão de vapor de saturação sobre cristais de gelo (sólidos) é muito
menor que sobre gotículas de água superesfriada. Nos sólidos as moléculas
são mantidas juntas mais firmemente e, portanto, é mais fácil para as
moléculas de água escapar de gotículas líquidas superesfriadas. Por isso, as
pressões de vapor de saturação são maiores sobre as gotículas líquidas
superesfriadas que sobre os cristais de gelo.
acreação: Durante a
descida os cristais de gelo
aumentam à medida que
interceptam gotículas
superesfriadas de nuvem
que congelam sobre eles.
É a formação do granizo.
agregação: Crescimento
por colisão no qual um
cristal se adere aos outros,
formando cristais maiores,
que são os flocos de neve.
Dados interessantes
sobre precipitação
 Chuva quente: quando a água aparece apenas na fase líquida no processo de
formação da precipitação. Chuva fria: quando cristais de gelo estão envolvidos no
processo de formação. Independe da temperatura que a chuva atinge o solo
 Gotas de chuva podem crescer até 6 mm de diâmetro, quando sua velocidade
terminal é de 30km/h. Neste tamanho e velocidade, a tensão superficial da água, que
a mantém inteira, é superada pela resistência imposta pelo ar, que acaba
"quebrando" a gota. As pequenas gotas resultantes recomeçam a tarefa de anexar
gotículas de nuvem. Gotas menores que 0,5 mm ao atingir o solo, são denominadas
chuvisco e requerem em torno de dez minutos para cair de uma nuvem com base
em 1000 m.
 Gotas de chuva produzidas em nuvens quentes são usualmente menores que
aquelas de nuvens frias. De fato, raramente as gotas de chuva de nuvens quentes
excedem 2 mm de diâmetro. O crescimento das gotas através de uma combinação
do processo de Bergeron mais colisão-coalescência (em nuvens frias) produz gotas
maiores que o processo de colisão-coalescência sozinho (em nuvens quentes).
 1 mm de chuva é igual a 1 litro de água sobre 1 m2 de área horizontal
(Fonte: Apostila de Meteorologia, Alice Grimm)
Medida de precipitação
 A medida da chuva é feita pontualmente em estações
meteorológicas, tanto automáticas como convencionais. O
equipamento básico para a medida da chuva é o pluviômetro, o qual
tem diversos tipos (formato, tamanho, sistema de medida/registro).
 A unidade de medida da chuva é a altura pluviométrica (h), que
normalmente é expressa em milímetros (mm). A altura pluviométrica
(h) é dada pela seguinte relação:
h = Volume precipitado / Área de captação
 Se 1 litro de água for captado por uma área de 1 m2, a lâmina de
água coletada terá a altura de 1mm.
Em outras palavras, 1mm = 1L / 1m2. Portanto, se um pluviômetro
coletar 30 mm, isso corresponderá a 30 litros por 1m2.
h = 1L / 1m2 = 1.000 cm3 / 10.000 cm2 = 0,1 cm = 1mm
E o que ocorre se a condensação se
dá em níveis próximos à superfície ?
Orvalho e geada
 Próximo à superfície o vapor d’água pode condensar-se sobre o
solo e os objetos:
– Se Tar > 0°C → pode ocorrer formação de orvalho
– Se Tar < 0°C → pode ocorrer formação de geada.
– ATENÇÃO: Orvalho e geada não são formas de precipitação !
– Ponto de orvalho: Temperatura até a qual o ar deve ser
resfriado, com pressão constante, para atingir a saturação (em
relação à água líquida). O ponto de orvalho dá uma medida do
conteúdo de vapor d’água no ar. Quanto mais alto, maior a
concentração de vapor d’água no ar.
– Ponto de geada: Temperatura na qual o resfriamento produz
saturação na temperatura de 0° C ou menores. O vapor d’água
se deposita como geada sobre uma superfície cuja temperatura
esteja abaixo do ponto de geada.
Orvalho
Geada
Tipos de geada
 Quanto à formação:
– Geada de advecção: provocadas por injeção de ar com temperaturas muito
baixas, que ressecam a folhagem causando a sua morte. Em algumas
situações, esse tipo de geada fica caracterizado por haver dano apenas no lado
da planta voltado para o vento.
– Geada de radiação: resfriamento intenso da superfície, que perde energia
durante as noites de céu limpo, sob o domínio de sistemas de alta pressão e
baixa concentração de vapor d’água.
 Quanto ao tipo
– Geada branca: congela a parte superficial da cultura. Ocorre em condições de
maior umidade do ar, quando efetivamente existe o congelamento de água
sobre as plantas e outras superfícies. (mais comum e menos severa)
– Geada negra: Ocorre em condições de pouca umidade e perda radiativa
intensa, causando resfriamento acentuado da vegetação, chegando à
temperatura letal. Em função da baixa umidade, não há deposição de gelo. Este
tipo de geada é mais severo, pois a baixa umidade do ar permite ocorrência de
temperaturas bem menores (congela a parte interna da cultura).
Nevoeiro e Neblina
 Definição: suspensão de minúsculas gotículas de água ou cristais de
gelo numa camada de ar próxima à superfície da Terra. Ou seja, tratase de uma nuvem cuja base está em contato com o solo.
– Nevoeiro: quando a visibilidade horizontal no solo é inferior a 1 km;
– Neblina: quando a visibilidade horizontal no solo é superior a 1 km.
nevoeiro
neblina
Tipos de nevoeiro
 Nevoeiro de radiação
– Motivo: resfriamento radiativo da superfície e do ar adjacente.
– Ocorrência: noites de céu limpo, ventos fracos e umidade relativa
razoavelmente alta.
– Características: Se o ar está calmo o nevoeiro pode ser raso (menos de
1 m de profundidade) e descontínuo. Para um nevoeiro com maior
extensão vertical, é necessária uma brisa leve de 3 a 4 km/h. O vento
fraco produz mistura fraca que transfere calor para a superfície fria,
fazendo com que uma camada maior se resfrie até abaixo do ponto de
orvalho e levando o nevoeiro para cima (10 ou 30 m) sem dispersá-lo.
– Localização: O ar resfriado por radiação tende a escoar para áreas mais
baixas. Portanto, é mais espesso em vales, enquanto as elevações em
volta estão claras.
– Duração: Normalmente estes nevoeiros se dissipam em 1 a 3 horas após
o nascer do sol. No inverno pode ser mais persistente.
Tipos de nevoeiro
 Nevoeiro de advecção
– Motivo: Quando ar quente e úmido passa sobre uma superfície fria,
resfriando-se por contato e também por mistura com o ar frio que
estava sobre a superfície fria, até atingir a saturação.
– Ocorrência: Ventos entre 10 e 30 km/h são usualmente associados
com nevoeiro de advecção. A turbulência não só facilita o resfriamento
de uma camada mais profunda de ar, mas também leva o nevoeiro
para alturas maiores.
– Características e duração: São freqüentemente profundos (300-600
m) e persistentes.
 Nevoeiro orográfico
– Motivo: Devido ao movimento ascendente, o ar se expande e resfria
adiabaticamente. Se o ponto de orvalho é atingido, pode-se formar uma
extensa camada de nevoeiro
– Ocorrência: Quando ar úmido sobe terreno inclinado.
– Localização: Encostas de colinas ou montanhas
Tipos de nevoeiro
 Nevoeiro de vapor
– Motivo: Quando ar frio se move sobre água mais quente, a água
evapora, aumentando a razão de mistura do ar que, com suficiente
evaporação, pode atingir a UR = 100%. O aumento na umidade
relativa, causada pela rápida evaporação, compensa a diminuição da
umidade relativa causada pelo aquecimento do ar pela água. Como o
ar é aquecido por baixo, ele é instabilizado, sobe, e o vapor d’água
encontra o ar mais frio, condensando-se e subindo com o ar que está
sendo aquecido por baixo.
– Características: Aparece como correntes ascendentes que lembram
fumaça ou "vapor". É freqüentemente muito raso, pois quando sobe
reevapora no ar não saturado acima.
– Localização: Ocorre freqüentemente sobre lagos e rios no outono e
início do inverno, quando a água pode ainda estar relativamente
quente. O mesmo fenômeno também ocorre em dias frios sobre uma
piscina externa aquecida. A saturação por adição de vapor pode ocorrer
também por evaporação de chuva em ar frio próximo ao ponto de
orvalho (nevoeiro frontal ou de precipitação).
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