Programa Sucinto (1) 1. História e cultura; civilização e civilizações; a dinâmica das civilizações. 2. A civilização ocidental e oriental: da construção do ocidente e do oriente. 3. A Europa; história de uma civilização; das origens grecoromanas ao surgimento e criação da União Europeia. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 1 Programa Sucinto (2) 4. A América e a civilização europeia no novo mundo 5. O mundo muçulmano: características e perspectivas. 6. O mundo africano e o mundo asiático: características e dinâmicas 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 2 O mundo islâmico (Módulo 5) BIBLIOGRAFIA CONSULTADA: Braudel, Fernand (1989). Gramática das Civilizações. Lisboa: Editorial Teorema. Lewis, Bernard (1983). Os Árabes na História. Lisboa: Editorial Estampa. Best, Antony et al. (2008 [2004]). International history of the twentieth century and beyond. New York: Routledge. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 3 Pré-História do Islão (1) • O Próximo-Oriente foi unificado pelos Assírios e, posteriormente, pelas conquistas dos Aqueménides Ciro, Cambises e Dário (546-486 a. C.). Dois séculos volvidos, o império sofre as incursões dos Gregos e Macedónios de Alexandre (334-331 a. C.). • Até à aparição do Islamismo, os Gregos colonizaram esta região durante dez séculos, aí fundando cidades, grandes portos (Antioquia, Alexandria), amplos Estados (dos Selêucidas e dos Lágidas). 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 4 O Império Selêucida (200 a. C.) Fonte: wikipédia 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 5 Pré-História do Islão (2) • «O pequeno povo grego-macedónio colonizou esta vasta parcela impondo-lhe a sua língua, a sua administração, comunicando-lhe uma parte do seu dinamismo.» [Braudel] • Sem cessar esse período colonial, igualmente o Império romano se estende até à Ásia Menor, à Síria e ao Egipto. Quando este império sucumbe, sucedelhe o Império Bizantino, no séc. V d. C., instaurando de novo o predomínio da civilização grega. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 6 Pré-História do Islão (3) • O Próximo-Oriente rebela-se inúmeras vezes contra os seus colonizadores: a partir de 256 com os Partos Arsácidas e, a partir de 224 a. C., os Persas Sassânidas, a partir do actual Irão, obedientes ao Zoroastrianismo (religião precursora do monoteísmo). • As primeiras conquistas árabes encontraram «cumplicidades imediatas» [Braudel] neste PróximoOriente descontente com a presença grega e abalado por incessantes confrontos religiosos. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 7 Pré-História do Islão (4) • Num ápice a Síria (634), o Egipto (639) e a Pérsia (642) do Império Sassânida admite os árabes oferecendo escassa resistência - exausto das lutas seculares contra Roma e Bizâncio. • Assim, o Próximo-Oriente rendeu-se mais prontamente aos recém-chegados do que a África do Norte, entre os meados do séc. VII e inícios do séc. VIII, o fez. Todavia, «a Espanha caiu de uma assentada nas suas mãos» (711). [Braudel] 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 8 Pré-História do Islão (5) • Os conquistadores tomaram todo o Próximo-Oriente; excepção feita às montanhas da Ásia Menor; salvas por Bizâncio. • Tal como o cristianismo foi herdeiro do império romano que expande, o Islão nasce no Próximo Oriente outrora palco de «uma das mais antigas, se não a mais antiga encruzilhada de homens e povos do mundo.» [Braudel] 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 9 Pré-História do Islão (6) • É indiscutível que tanto cristianismo como islamismo seriam inconcebíveis sem Cristo e Maomé, respectivamente, porém estas religiões novas beneficiam de um substrato civilizacional (instituições, rituais, crenças, mentalidade) que as precede. • O Islão, como o Judaísmo e o Cristianismo é uma religião monoteísta (adora um só Deus). Jerusalém é para o Islão uma cidade santa. Profetas do Islão: Adão, Abraão, Moisés e Jesus - maior profeta anterior a Maomé e só por este último suplantado. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 10 Maomé e as origens do Islão (1) • Entre 610 e 612 (provavelmente) e 632, data do seu falecimento, inscreve-se a obra fundamental de Maomé. • Ele será responsável pela unificação da Arábia até aí «dividida em tribos e confederações rivais» [Braudel], atreita às veleidades coloniais dos Persas, da Etiópia cristã, da Síria, do Egipto bizantino. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 11 Primeiras conquistas árabes Fonte: wikipédia 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 12 Maomé e as origens do Islão (2) • Nascido em 570, aproximadamente, o profeta permaneceu na obscuridade durante 40 anos. Só cerca de 610-12: «Numa noite da última década do Ramadão, numa gruta do monte Hira, não longe de Meca, enquanto dormia, produziu-se a infusão da Palavra Incriada no mundo relativo, a descida do Livro no coração do Profeta.» 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 13 Maomé e as origens do Islão (3) «O ser misterioso mostrou-lhe em sonhos um rolo de tecido coberto de sinais e deu-lhe ordem de ler… - Não sei ler, diz Maomé – Lê, repetiu por duas vezes o Anjo, atando o tecido ao pescoço do dormente. – Leio o quê? – Lê em nome do teu Senhor que criou o homem.» «O eleito recolhe-se na consciência de que um livro desceu sobre o seu coração.» [Dermenghem apud Braudel] • No seguimento das palavras do arcanjo Gabriel, Maomé considera-se o derradeiro enviado de Deus, o maior dos seus profetas da tradição bíblica. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 14 Maomé e as origens do Islão (4) • Testemunhos dos ditos do Profeta: Hadith (prática e pregação do Profeta preservada sob a forma de Tradições) e a Sira (biografia tradicional do Profeta) permitem-nos conhecer o teor da vida de Maomé. • Nos seus primeiros anos como Profeta, Maomé prega para um grupo restrito de fiéis, entre parentes e indigentes de Meca. • Em Meca, os ricos, a princípio indiferentes à mensagem do profeta, em breve se tornam seus opositores. Assim molestados, os maometanos são compelidos à fuga. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 15 Maomé e as origens do Islão (5) • Uns fogem para a Etiópia cristã, outros, cerca de 60, entre os quais Maomé, encontram refúgio no oásis de Iatreb, a norte de Meca. Iatreb, agora Medina, será a cidade do Profeta. Esta fuga – Hegira – marca o início da era muçulmana (20 de Setembro de 622). • A cidade era habitada na sua maioria por camponeses, com duas tribos árabes rivais e ainda um relevante número de judeus ligados ao comércio. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 16 Maomé e as origens do Islão (6) • Relativamente aos judeus, Maomé «irá passar da simpatia à desconfiança e, depois, à hostilidade. A oração, até ali orientada para Jerusalém, passa a fazer-se em direcção a Meca.» [Braudel] • A pilhagem é o meio de sobrevivência utilizado pelos fiéis de Maomé: assediam os seus vizinhos e as longas caravanas oriundas de Meca. Estabelece-se uma guerra contínua de 10 anos que permitirá ao profeta regressar vitorioso a Meca. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 17 Maomé e as origens do Islão (7) • O Islão assenta sobre 5 pilares: 1. A afirmação de um só Deus – Alá – de quem Maomé é o enviado (a Chahada); 2. A oração (Salat), que se repete 5 vezes ao dia; no sentido da Caaba (centro das peregrinações), construção que alberga uma das relíquias sagradas do Islão. 3. O jejum dos 29 ou 30 dias do Ramadão (Saum); 4. A esmola dos pobres (Zakat); 5. A peregrinação a Meca (Hajj). 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 18 Maomé e as origens do Islão (8) • Abraão, de acordo com Maomé, teria com o seu filho Ismael, o antepassado dos Árabes, «organizado o culto da Santa Caaba e as cerimónias da peregrinação.» «Assim se fundamentava a prioridade do Islão em relação ao Judaísmo, criado por Moisés, e ao Cristianismo, ligado a Jesus.» [Braudel] • O Islão saúda em Abraão o primeiro dos Muçulmanos. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 19 Maomé e as origens do Islão (9) • As práticas e as crenças são determinantes na vida do muçulmano, para ele tudo (incluindo o direito) decorre do Corão. • Maomé triunfou numa cidade, Meca, alheia a uma Arábia ainda primitiva. Esta cidade acorda para a prosperidade com as caravanas que a ligam a outras cidades estrangeiras distantes experimentadas no «grande comércio e ao capitalismo mercantil.» [Braudel] 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 20 Maomé e as origens do Islão (10) • Para Braudel, as prescrições do Islão: a chamada do muezim (encarregado de anunciar, do alto dos minaretes, a hora das preces obrigatórias para os muçulmanos), a oração comum das sextas-feiras, o véu das mulheres, a dignidade do imã (chefe de oração), pressupõe o bulício urbano. • Os centros de fé no Islão primitivo são, assim, as cidades. Contudo, a maioria dos árabes eram nómadas «formando grupos sociais muito pequenos: famílias patriarcais, subfracções, fracções, tribos, confederações de tribos.» [Braudel]. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 21 A península arábica Fonte:http://www.zum.de/whkmla/histatlas/arabworld/sarhistreg.gif 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 22 Maomé e as origens do Islão (11) • A tribo congrega irmãos, primos e clientes. «É a grande unidade de combate.» [Braudel] No sul e centro da Arábia, estas tribos estão constantemente a guerrear: as mais fortes rechaçam as mais fracas. • A actividade dos Beduínos pelos desertos e semidesertos inóspitos só é permitida graças à criação de camelos. • Este animal, muito tolerante à sede, é capaz de fazer grandes viagens de uma pastagem para outra. Garante igualmente o transporte das forragens, da água e do cereal. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 23 Maomé e as origens do Islão (12) • Os árabes não logram a vitória na Ásia Menor, no século VII, porque os seus camelos não conseguem enfrentar o rigor do frio nos grandes planaltos da Anatólia (Turquia). • O Saara «é um prolongamento do deserto da Arábia, para além do fosso do Mar Vermelho» [Braudel], ao passo que os desertos do norte, da Ásia Central, têm os seus próprios nómadas, os seus próprios camelos e cavalos, i.e. são menos permeáveis à fixação. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 24 Maomé e as origens do Islão (13) • Só com dificuldade estes nómadas aderiram à nova religião e utilizaram o seu furor guerreiro em proveito do Islão. Quando o Profeta Maomé morreu, em 632, os nómadas aparentemente subjugados rebelaram-se. • Com a morte do Profeta Maomé, sobreveio uma luta pela sua sucessão. Os que apoiavam o direito de Ali, genro do Profeta, ao califado formaram o partido de Ali (Shiat Ali), são conhecidos como Xiitas e representam hoje 15% dos muçulmanos (a maioria, porém, é Sunita). 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 25 Xiitas na Ásia (a verde escuro) Fonte: a colocar 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 26 Maomé e as origens do Islão (14) • Estão concentrados principalmente no Irão, no Iraque, no sul do Líbano e ainda dispõem de comunidades em várias partes do mundo. • O Califa Omar (634-644) superou estas querelas entre tribos «lançando cavaleiros e camelos no jihad, uma maneira de manter os afastados da Arábia e, simultaneamente evitar as querelas entre tribos» 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 27 Maomé e as origens do Islão (15) • Os beduínos iniciaram, então, as primeiras conquistas do Islão. Aonde quer que cheguassem levaram a sua língua e o seu modo de vida. • Em séculos posteriores, «os rudes montanheses da África do Norte» [Braudel], os Berberes conquistarão a Espanha e o Egipto Fatimida para o Islão. Finalmente, serão os Turco-Mongóis, nómadas da Ásia Central, que engrossarão o exército dos califa de Bagdade. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 28 Maomé e as origens do Islão (16) • Para gerir o governo, a guerra e o comércio, o Islão carente de gente, teve de ser muito mais tolerante do que o Ocidente, mais populoso, procurando todos os braços que pudesse arranjar. • Foi isto o que sucedeu com os quatro primeiros califas (i.e. lugar tenente) - que se seguiram a Maomé –, conhecidos como os bem guiados e, posteriormente, com os califas omíadas (660-750), que estabelecem a capital em Damasco, actual Síria. • Contudo, devido a esta escassez de braços, o Islão Clássico é uma civilização esclavagista por excelência. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 29 Maomé e as origens do Islão (17) • Nesses anos belicosos, a religião não é primordial. Nos países submetidos, a administração continua dependente dos nativos. A língua, a arte, a construção das mesquitas imitam o modelo bizantino. • Com a unidade linguística que se vai afirmando entre estes povos (conta-nos Braudel que, em 700, o califa omíada Abd-el-Malik decide suprimir a língua grega de todos os actos de administração pública), terminará uma era de tolerância entre cristãos e muçulmanos. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 30 Maomé e as origens do Islão (18) • No final do primeiro quartel do séc. IX, «graças a um capitalismo mercantil precoce», «os rendimentos do califa elevam-se a cinco vezes o rendimento anual do Império Bizantino seu contemporâneo.» [Braudel] • A intensidade das trocas engendra cidades colossais: Bagdade, de 762 até à sua destruição em 1258 é a mais próspera cidade do Velho Mundo, diz-nos Braudel. • Ainda no que hoje é o Iraque, encontramos, neste tempo, a pujante Samarra (fundada em 836) e o grande porto de Bassorá, Cairo, Damasco, Túnis, Córdova,… 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 31 Maomé e as origens do Islão (19) • É o Islão que, até à expansão marítima europeia, serve de intermediário às grandes áreas culturais do mundo até então conhecido: Extremo-Oriente, Europa, e África Negra. • O Islão tem a chave das passagens obrigatórias. Durante séculos, o Islão distribui «o ouro do Sudão e os escravos negros em trânsito para o Mediterrâneo; a seda, a pimenta, as especiarias, as pérolas do ExtremoOriente, em trânsito para a Europa.» [Braudel]. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 32 Maomé e as origens do Islão (20) • O comércio do Levante, na Ásia e na África também lhe está sujeito. Os comerciantes italianos só a ele têm acesso a partir de cidades como a Alexandria, Alepo, Beirute ou Tripoli. • O Islão no entender de Braudel é uma civilização de movimento - de caravanas de camelos, sobretudo. • Tal compreende uma navegação de longa distância e um sem número de caravanas que se expandem, de sobremodo, entre o Oceano Índico e o Mediterrâneo, e, igualmente, do Mar Negro à China e à Índia, bem como da África Negra ao Norte deste continente. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 33 Maomé e as origens do Islão (21) • Os mercadores do Islão (muçulmanos ou não) revelam um conhecimento de todos os instrumentos de crédito e pagamento e de todas as formas de associação comercial (não foi a Itália a inventá-las). • Os mercadores são intermediários de um comércio de longo alcance: «coral que vai da África do Norte para a Índia; escravos comprados na Etiópia; ferro trazido da Índia, ao mesmo tempo que pimenta e especiarias. Tudo isto implica um enorme movimento de dinheiro» [Braudel]. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 34 Maomé e as origens do Islão (22) • Com a dinastia abássida, de meados do séc. VIII, a capital do Islão deixa de ser Damasco e passa a ser Bagdade. Esta civilização deixa de conceder o mesmo relevo ao Mediterrâneo. • Ainda que os governos independentes do Egipto e do Norte de África (Ifriqiya) «mantivessem frotas que dominavam o Mediterrâneo de uma ponta a outra» [Lewis]. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 35 Maomé e as origens do Islão (23) • As cidades muçulmanas prosperam e alimentam este trânsito comercial. Braudel caracteriza-as: a rua estreita e inclinada é um lugar de reunião. Às mulheres está reservada «a comodidade da circulação pelos terraços.» • No centro da cidade está localizada a Grande Mesquita, onde acorre a peregrinação semanal, local para onde tudo conflui e de onde tudo reflui. Na sua vizinhança encontram-se as madraças, escolas islâmicas. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 36 Maomé e as origens do Islão (24) • Nas imediações estão localizados os bazares, i.e. bairros de comerciantes com os seus suqs (mercados). • «Os artesãos dispõem-se concentricamente a partir da Grande Mesquita» [Braudel]. O bairro do Príncipe (makhzen), por seu turno, está situado no arredor da cidade resguardado das escaramuças populares. • Adjacente ao makhzen e sob sua protecção do Princípe está localizado o bairro judeu (mellah). Alhures situam-se os bairros residenciais, divididos segundo as etnias e as religiões. Muitas vezes estas cidades estão cingidas por uma muralha. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 37 A Era dos Califas Fonte: wikipédia 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 38 A presença árabe na Europa (1) • Ainda em tempos pré-islâmicos, os povos do Sul da Arábia haviam construído barcos e desenvolvido um importante tráfego marítimo no Mar Vermelho e no Oceano Índico. • Contudo, os árabes do Norte, designadamente do Hijaz e das terras que fazem fronteira com a Síria e o Iraque eram inicialmente um povo continental com pouca experiência na lida marítima ou na navegação. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 39 A presença árabe na Europa (2) • No entanto, os árabes prontamente se adaptam a este meio de transporte. Pouco tempo após a ocupação da costa Síria e Egípcia: «os povos dos desertos da Arábia construíram e equiparam grandes frotas de guerra capazes de fazer face e vencer as potentes e experimentadas esquadras bizantinas e dar ao Califado esse pré-requisito vital para a sua segurança expansão – o controlo naval do Mediterrâneo.» [Lewis] 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 40 A presença árabe na Europa (3) • A partir de Alexandria e dos portos do litoral da Síria, os Muçulmanos equiparam e tripularam frotas de guerra que a breve trecho seriam tão bem sucedidas militarmente quanto os exércitos muçulmanos. • No séc. IX, a florescente marinha mercante muçulmana punha em contacto os portos das costas muçulmanas do Mediterrâneo (entre si) e com os portos cristãos do Norte. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 41 A presença árabe na Europa (4) • Em 649, o Califa Otman autorizou Muawiya (governador da Síria e posterior fundador da dinastia Omíada) a levar a cabo um ataque contra o Chipre, seguidamente Rodes e Creta foram provisoriamente ocupadas. A ocupação destas ilhas orientais «foi breve e transitória» [Lewis]. • O ataque à Sicília, contudo, revelou-se mais importante. Em 740, Ubaida sitiou Siracusa e exigiu o pagamento de tributos. Contudo, uma rebelião berbere em África forçouo a regressar à sua pátria. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 42 A presença árabe na Europa (5) • Em 831, os muçulmanos ocuparam Palermo, que se tornou a capital da ilha. A guerra que opõe bizantinos e muçulmanos tanto em terra – na ilha e na Itália continental - como no mar terminará somente em 895896 com a capitulação de Bizâncio. • No continente, os muçulmanos também fazem estragos: estabelecem praças fortes em Tarento e Bari. «Guerrilheiros muçulmanos ameaçam Nápoles, Roma e, inclusivamente, o Norte de Itália, tendo compelido um dos Papas ao pagamento de tributo durante dois anos.» 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 43 A presença árabe na Europa (6) • A Sicília muçulmana estava, de início, sob a alçada da Tunísia e encontrava-se adstrita a esta província politica e administrativamente. • Os Normandos, que já haviam ocupado o Sul de Itália, por volta de 1091 ocupam toda a Sicília, exceptuando uns pequenos postos avançados muçulmanos. • Os árabes introduzem na ilha laranjas, amoras, canade-açúcar, tamareiras e algodão. «Ampliaram as culturas através de uma irrigação cuidadosa.» [Lewis] 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 44 A presença árabe na Europa (7) • Os reis normandos continuaram a cunhar moedas com inscrições árabes e datas da Hégira. Numerosos documentos foram escritos em língua árabe. Só no séc. XIV a língua árabe e o Islão estaria extinto na ilha. • O legado mais importante da Sicília para transmissão da cultura muçulmana à Europa data do reinado de Frederico II: «quando alguns tradutores, Cristãos e Judeus, traduziram para o latim uma série de obras árabes, tanto originais como baseadas em textos gregos» [Lewis] • e.g. obra sobre medicina de Razi. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 45 A presença árabe na Europa (8) • Não obstante, foi em Espanha que os Árabes lograram as mais relevantes e mais duradouras conquistas na Europa. • Em 711, um antigo escravo berbere liberto, Tariq, desembarcou em Gibraltar com 7000 homens. Daí fez uma incursão para Norte, derrotando os visigodos e ocupando Córdova e Toledo. Em 712, juntaram-se árabes aos berberes e tomaram as cidades de Sevilha e Mérida. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 46 A presença árabe na Europa (9) • Em seguida a expansão foi célere e, aproximadamente em 718, a maior parte da península encontrava-se em mãos árabes. Estes atravessam os Pirenéus e vão até ao Sul de França, onde são rechaçados pelos Francos de Carlos Martel em 732, na Batalha de Poitiers. • As primeiras vitórias dos árabes provocaram um rombo na estrutura anquilosada do Estado visigótico: «os servos paralisaram; os judeus revoltaram-se e juntaram-se aos invasores, entregando-lhes a cidade de Toledo.» [Lewis] 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 47 A presença árabe na Europa (10) • O novo regime era liberal e tolerante, superior ao dos Francos no Norte da Península, segundo os próprios cronistas espanhóis. • Um dos principais benefícios que advieram da ocupação árabe foi: «a supressão da antiga classe dominante da nobreza e do clero e a distribuição das suas terras, criando uma nova classe de pequenos proprietários, grandemente responsáveis pela prosperidade agrícola da Espanha muçulmana.» [Lewis] 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 48 A presença árabe na Europa (11) • No século VIII, multiplicaram-se as vagas de imigração oriundas do Norte de África e da Síria conduzindo muitos africanos e árabes para a península. • A consolidação dos sírios em Espanha levou a que os omíadas (com capital em Damasco e derrotados em 750 pelos Abássidas) pudessem derrotar estes últimos (cujo califado tinha capital em Bagdade) na península Ibérica. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 49 A presença árabe na Europa (12) • Ao tomar Córdova, em 756, fundam a dinastia omíada independente em Espanha, que só é destronada em 1031. • A conversão ao Islão foi rápida e vasta (ainda que não forçada). Os Espanhóis, que não se converteram rapidamente, adoptaram a língua árabe. Designam-se de Moçárabes os cristãos e judeus de língua árabe. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 50 A presença árabe na Europa (13) • O rei Abd ar-Rahman II (822-852), revelou-se um grande «protector das letras tendo trazido muitos livros e estudiosos do Oriente, reforçando grandemente os laços culturais entre o Islão espanhol e os centros da civilização islâmica no Oriente.» • Durante o reinado dos sucessores de Abd ar-Rahman, os árabes, berberes e hispano-muçulmanos foram-se integrando paulatinamente numa população muçulmana homogénea. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 51 A presença árabe na Europa (14) • Esta população estava ciente da sua independência cultural e política «e com uma concepção de vida crescentemente ibérica» [Lewis] • A ascensão dos Fatimidas (que reinaram na África do Norte e no Egipto entre 969 e 1171) e a sua criação de um anticalifado cismático, revolucionário, motivou Abd ar-Rahman III (921-961) a atribuir-se a dignidade de califa (chefe supremo do islamismo) em Espanha. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 52 A presença árabe na Europa (15) • Assim «cortando os últimos vínculos de submissão ao Oriente» [Lewis]. Consequentemente, as influências do Oriente começaram a estiolar e começou a emergir uma civilização hispano-árabe singular. • A morte de Almansor, em 1002 – governador do país que havia prosseguido a tarefa de centralização e unificação da população – levou a um recrudescer das rivalidades entre a população. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 53 A presença árabe na Europa (16) Três partidos: 1. Os Andaluzes (população muçulmana de Espanha); 2. Os Berberes recém-imigrados de África; 3. Os denominados Eslavos (inicialmente escravos da europeia oriental e depois todos os escravos de origem europeia ao serviço do rei), muitos deles alforriados e detentores de grande riqueza e posição social. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 54 A presença árabe na Europa (17) • A primeira metade do séc. XI, achou uma Espanha muçulmana dividida por uma série de reis e príncipes menores de origem berbere, eslava ou andaluza. • Esta dissensão política conduziu a uma dupla invasão da península: pelos cristãos do Norte, coadjuvados pelos Francos e, por outro lado, os Berberes do sul. Em 1085 cai a cidade de Toledo às mãos dos cristãos «desastre irreparável para o Islão espanhol.» [Lewis] 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 55 A presença árabe na Europa (18) • Não obstante, esta era dos reis partidários foi uma época de florescimento cultural. • «As diversas cortes foram centros de erudição, filosofia, ciência e literatura, enquanto que a queda do califado permitia o reatamento de relações activas, tanto económicas como culturais, com o Oriente.» [Lewis] 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 56 A presença árabe na Europa (19) • 1086: os cristãos são derrotados por uma nova invasão árabe proveniente de África, que põe fim ao reinado dos reis partidários. Yusuf ibn Tashfin funda a dinastia almorávida, após entrar em Espanha respondendo ao pedido de apoio dos Andaluzes que visavam contrariar a ameaça cristã. • Em 1195, os árabes ainda obtêm um derradeiro triunfo em Alarcos. Em 1212, cai em mãos dos cristãos Las Navas de Tolosa, posteriormente as conquistas cristãs sucedem-se: Córdova em 1236 e Sevilha em 1248. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 57 A península em 1085 e 1157 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 58 A presença árabe na Europa (20) • No final do séc. XIII, os cristãos eram donos de toda a Península, à excepção da cidade e província de Granada onde reinou uma dinastia muçulmana, no magnífico Alhambra, durante dois séculos. • Em 1492, os exércitos aliados de Castela e de Aragão conquistaram a cidade de Granada e logo após «um édito real decretou a expulsão de todos os nãocatólicos da Península.» [Lewis] 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 59 A presença árabe na Europa (21) • A língua árabe perdurou entre os conversos forçados ao cristianismo, porém, até estes serem deportados para África no início do séc. XVII. • O contributo dos árabes para a Península é substancial: «introduziram a irrigação científica e muitas novas culturas, incluindo citrinos, algodão, cana-de-açúcar e arroz (…) desenvolveram inúmeras indústrias – têxteis, faiança, papel, seda e refinação do açúcar, e exploraram importantes minas de ouro, prata e outros metais» [Lewis] 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 60 A presença árabe na Europa (22) • A Espanha muçulmana comerciou produtos espanhóis com o Oriente: as frotas mercantes dos andaluzes vogavam por todo o Mediterrâneo. Os seus principais mercados estavam localizados no Norte de África, mormente no Egipto e em Constantinopla. • Nesta última cidade, os seus produtos eram comprados pelos mercadores bizantinos para os venderem na Índia e na Ásia Central. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 61 A presença árabe na Europa (23) • Os inúmeros vocábulos que ainda persistem na língua espanhola (e portuguesa) comprovam a influência árabe na administração local, militar e política, bem como nas áreas da agricultura, artes e ofícios. • Por outro lado, «as moedas da reconquista conservaram o padrão árabe durante muito tempo.» [Lewis] • O legado grego chegou até aos Árabes espanhóis a partir do Oriente, através de livros traduzidos nos centros de tradução orientais. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 62 A presença árabe na Europa (24) • A poesia lírica foi um contributo original dos árabes espanhóis, onde estes criaram formas desconhecidas pelos muçulmanos do Oriente e que influenciou a primeira poesia cristã espanhola (e eventualmente a literatura europeia ocidental). • Segundo Lewis, a sua criação mais relevante foi no âmbito da arte e da arquitectura. Primeiramente influenciada pelos cânones árabes e bizantinos do Próximo Oriente e depois cristalizando formas particulares e originais da península. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 63 O Alhambra Fonte: http://www.ucalgary.ca/applied_history/tutor/imageislam/Alhambra.jpg 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 64 A presença árabe na Europa (25) • Esta arte hispano-mourisca surge com o reinado de Abd ar-Rahman I na admirável mesquita de Córdova e noutras obras de arte como a Torre da Giralda e o Alcácer de Sevilha e o Alhambra de Granada. • A herança cultural dos muçulmanos peninsulares foi fundamental não só para a Iberia, mas também para a Europa. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 65 A presença árabe na Europa (26) • «cristãos oriundos de diversos países vieram para a Espanha estudar, juntamente com os nativos espanhóis, com professores judeus e muçulmanos de língua árabe, e traduziram muitas obras do árabe para o latim.» [Lewis] • A cidade de Toledo, como já vimos anteriormente, foi o principal centro irradiador de cultura do Islão para a Cristandade. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 66 A presença árabe na Europa (27) • Reconquistada em 1085, continuou a ser habitada por muitos eruditos muçulmanos, aos quais se juntaram refugiados judeus vindos do sul almóada (agora intolerante) e aí traduziram diversas obras do árabe para o latim. • Durante o séc. XII e XIII, essencialmente durante o reinado de Afonso o Sábio, de Castela e Leão (12521284) «as escolas de tradutores de Toledo produziram um grande volume de obras.» 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 67 A presença árabe na Europa (28) • «Incluindo o Organon de Aristóteles e muitos dos escritos de Euclides, Ptolomeu, Galeno e Hipócrates, enriquecido pelos comentadores e sucessores árabes.» [Lewis] Estas traduções, como já vimos, irão desenvolver a ciência e a filosofia do Ocidente Medieval. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 68 A Reconquista 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 69 A Civilização Islâmica (1) • A época de esplendor da civilização islâmica situase entre o séc. VIII e o séc. XII. • Esta civilização não foi levada pelos invasores árabes do deserto, mas constituída pelo contributo de muitos povos conquistados: entre os quais Persas, Egípcios e, ainda, claro, os Árabes. • Entre quem a edificou encontravam-se Cristãos, Judeus e Zoroastrianos. Contudo, o seu veículo de transmissão foi a língua árabe, «e foi dominada pelo Islão e pela sua mundividência» [Lewis]. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 70 A Civilização Islâmica (2) • A língua e a religião foram os grandes contributos dos invasores árabes para esta civilização original. O árabe é uma língua semítica, em épocas pré-islâmicas, era falado por um povo primitivo, de rude cultura e que só raramente utilizava a escrita. • Contudo, haviam desenvolvido uma linguagem poética que constituía «a expressão autêntica da vida dos Beduínos, que cantaram o vinho, o amor, a guerra, a caça, as terríveis paisagens de montanha e do deserto, o valor marcial dos homens das tribos, a torpeza dos seus inimigos.» [Lewis] 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 71 A Civilização Islâmica (3) • No século XI, a língua árabe tornar-se-ia o principal idioma utilizado pelos muçulmanos dos Pirenéus à Pérsia, mas também o principal veículo transmissor de cultura destronando línguas de culturas de antanho como a copta, o aramaico, o grego e o latim. • Acresce que a língua árabe influenciou línguas árabes subsequentes: a língua persa e turca e, posteriormente, o malaio, o urdu, o swahili (um pouco como o latim está para as línguas românicas). 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 72 A Civilização Islâmica (4) • O Islão não se limitou a ser uma religião unificadora, mas igualmente «um sistema de estado, de sociedade, de lei, de pensamento e de arte.» [Lewis] • O código do islão era a Sharia, a lei sagrada extraída pelos juristas do Alcorão e das tradições do profeta. A sharia não se limitava a ser um código legal, mas, igualmente, um paradigma de comportamento, um ideal que a sociedade devia observar. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 73 A Civilização Islâmica (5) • Não existe um poder legislativo para a civilização do Islão a lei vem de Deus através da revelação. Porém o direito consuetudinário, a legislação civil e a vontade do soberano persistem de forma não oficial, «ocasionalmente com o conhecimento restrito dos juristas.» [Lewis] • A Sharia, de inspiração divina, disciplinava todos os aspectos da vida, não só a fé e o culto, mas também o direito público, constitucional e internacional, o direito privado criminal e civil. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 74 A Civilização Islâmica (6) • A Sharia prescrevia que o chefe da comunidade era o Califa, representante eleito de Deus e possuidor do poder supremo a nível militar, civil e religioso. Este devia ainda zelar pelo legado espiritual e material do Profeta. • Contudo, o Califa não podia alterar a doutrina, não tinha poder espiritual. Ele era apoiado pelos Ulama classe semi-clerical, que eram os doutores da lei divina e a quem competia somente a sua interpretação. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 75 A Civilização Islâmica (7) • No século XI, aproximadamente, secundando o Califa aparece o Sultão – chefe secular supremo. A administração da lei sagrada está a cargo do Qadi. • A ciência e o saber árabes tiveram uma origem religiosa. A gramática e a lexicografia surgiram da necessidade de interpretar e explicar o Alcorão. A codificação do material legal e biográfico da tradição deu origem às escolas islâmicas de jurisprudência e de história. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 76 A Civilização Islâmica (8) • «Os Árabes não tardaram a produzir volumosas obras de história de diversos tipos: histórias universais, histórias locais, histórias de famílias, de tribos e instituições.» [Lewis] • Ibn Khaldun (1332-1406) é o maior historiador dos Árabes e, eventualmente, segundo Lewis, o maior pensador histórico da Idade Média. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 77 A Civilização Islâmica (9) • A influência grega – verificável pelo enorme esforço de tradução das obras gregas do original e do siríaco - foi fundamental e está patente na filosofia e nas ciências em geral: matemática, astronomia, geografia, química, física, história natural e medicina. • Em Alexandria, Antioquia, na Pérsia outrora Sassânida, tinham sobrevivido escolas gregas, legado de Bizâncio. • Durante o reinado de Mamun (813-833) foi criada uma escola de tradutores em Bagdade, com uma biblioteca pessoal regular. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 78 A Civilização Islâmica (10) • Porém, também surgiram autores muçulmanos, sobretudo persas, originais. Evidenciaram-se o médico Razi (865-925), o médico e filósofo Avicena (980-1037) e Al-Biruni (9731048), médico, astrónomo, matemático, físico, químico e historiador «um estudioso profundo e original.» [Lewis] • Na medicina, os árabes não atingiram o mesmo apuro teórico dos Gregos, mas contribuíram essencialmente através da sua observação prática e experiência clínica. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 79 A Civilização Islâmica (11) • Nas matemáticas, na física e na química, o seu contributo foi bem muito mais substancial e original: «O uso do zero, e dos algarismos ditos árabes (…) foram por eles integrados pela primeira vez no corpo principal da teoria matemática e transmitidos a partir da Índia para a Europa. A álgebra e a geometria, e particularmente a trigonometria, foram em grande parte descobertas árabes.» [Lewis] 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 80 Arte Islâmica Fonte:http://images-1.redbubble.net/img/art/size:large/view:main/2341699-3-islamic-art.jpg 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 81 A Civilização Islâmica (13) • Na filosofia, verificou-se a introdução de conceitos gregos. As traduções de Aristóteles vieram influenciar toda a filosofia e teologia do Islão, bem como um conjunto de pensadores muçulmanos originais: Kindi (m.-ca. 850), Farabi (m. 950), Avicena (m. 1037) e Averróis (m.1198). • Os árabes são continuadores da tradição da arte e arquitectura greco-romana, que metamorfosearam em algo original. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 82 A Civilização Islâmica (14) • «A tendência da arte bizantina para o abstracto e o formal foi acentuada no Islão, onde o preconceito contra a representação pictórica da forma humana conduziu, em última análise, a uma expressão artística estilizada e geométrica.» [Lewis] • As artes islâmicas também sofreram em grande medida a influência dos Persas e dos Chineses. A singularidade e ecletismo da civilização islâmica está patente nas artes decorativas (na sua bela faiança envidraçada). 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 83 A Civilização Islâmica (15) • Também os artesãos se distinguiram nas artes do metal, da madeira, da pedra, do marfim, do vidro, e de sobremaneira na dos têxteis e dos tapetes, desde o mero decalque até à criação de estilos inteiramente originais genuinamente islâmicos. • No séc. VIII, a transmissão da obra literária pode deixar de ser feita de maneira oral para ser feita de uma forma barata, generalizada e acessível através do papel que chega da China, via Ásia Central. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 84 A Civilização Islâmica (16) • A integração da herança grega pelo Islão desencadeou um confronto entre tendências racionalistas e a revelação corânica. Do confronto saiu vitoriosa a concepção islâmica mais pura. «O Islão, uma sociedade condicionada religiosamente, rejeitava os valores que punham em causa os seus postulados fundamentais. A aceitação dos valores helenísticos teria conduzido a um «renascimento humanista do tipo ocidental.» [Lewis] 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 85 A Civilização Islâmica (17) • A literatura árabe estava restringida a uma pequena minoria de privilegiados, que beneficiava da arte da escrita e do exercício de mecenato. O povo permanecia na obscuridade. • Os árabes distinguem-se pelo seu poder assimilativo: «uniram numa única sociedade duas culturas inicialmente colidentes – a tradição mediterrânica milenar e diversificada, da Grécia, Roma, Israel e do Próximo Oriente antigo e a rica civilização da Pérsia» [Lewis]. Da integração destes contributos surgiria uma civilização nova. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 86 A Civilização Islâmica (18) • O que surpreende nesta civilização, ainda mais se a compararmos com o Ocidente coevo é a sua tolerância: o muçulmano raramente se sentiu instado a impor a sua religião pela força. • A distinção limitava-se a algumas discriminações sociais e legais concedendo liberdade religiosa, económica e intelectual e dando possibilidade a pessoas de outras fés de contribuírem de forma muito relevante para a edificação da civilização árabe. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 87 A Civilização Islâmica (19) • As populações dominadas mantinham o seu modo de vida sem serem violentadas. De início, o conquistador árabe não estava interessado em converter as civilizações submetidas (Pérsia, Síria, Egipto, Magrebe, Espanha). • Porém, cominava uma série de tributos reservados aos não-muçulmanos. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 88 A Civilização Islâmica (20) • A expressão utilizada para caracterizar a visão do mundo árabe é atomismo: «concebe a sua sociedade não como um todo orgânico, composto por partes interligadas e agindo conjuntamente, mas como uma associação de grupos distintos – religiões, nações, classes – mantidos coesos apenas pelo solo, em baixo, e pelo governo, em cima.» [Lewis] 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 89 A Civilização Islâmica (21) • A teologia dogmática que prevaleceu sobre a concepção racionalista aceita incondicionalmente a Lei e Revelação Divina (sem questionar – bila kaif). Nega todas as causas secundárias. Deus é a causa primeira, tudo advém da vontade de Deus. «Esta rejeição definitiva e deliberada de toda a causalidade (…) marcou o fim da livre especulação e investigação tanto na filosofia como nas ciências naturais, e veio frustrar o promissor desenvolvimento da historiografia árabe.» [Lewis] 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 90 Estagnação e decadência islâmica (1) • Assim, nota-se uma mutação na sociedade islâmica que de uma vida social e económica assaz livre e independente «da grande era comercial» [Lewis] faz uma transição para uma sociedade feudalista estática, que perdurou. • «Esta nova versão do Islão não foi contestada seriamente durante um período de cerca de mil anos, até que o impacto do Ocidente, nos sécs. XIX e XX, veio ameaçar a estrutura tradicional da sociedade islâmica e as formas de pensamento (…)» [Lewis] 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 91 Estagnação e decadência islâmica (2) • O Islão terá um ressurgimento através das conquistas dos Turcos Osmânidas, que terão como corolário a Tomada de Constantinopla em 1453. Vitórias subsequentes farão da Turquia uma das grandes potências mediterrânicas do séc. XVI. • «Depois de 1517, o sultão osmânida, (…) torna-se califa dos crentes.» Por outro lado, mercenários turcos e mongóis – muçulmanos, portanto – ocupam o Império de Deli e criam em 1526 o Império do Grão Mongol, que irá subjugar a maioria da Índia. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 92 Estagnação e decadência islâmica (3) • Os otomanos prosseguem o seu avanço, em 1526, submetem a Hungria cristã. Paralelamente, os otomanos evidenciam um progresso material e demográfico notório. • Em 1687 Viena é sitiada: o Império otomano «haveria de maltratar as grandes potências, no século XIX (…) O Islão turco fez figura durante muito tempo, uma figura grande, brilhante, temível.» [Braudel] 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 93 Estagnação e decadência islâmica (4) • Como vimos, o Islão concentra-se em todos os aspectos das relações entre indivíduos e entre estes e Deus, mas não prescreve uma forma de governo particular. • O Islamismo e os movimentos islâmicos modernos estão arraigados, segundo Best et al.: 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 94 Estagnação e decadência islâmica (5) 1. Na abolição do Califado, que sobreveio à queda do Império Otomano (fim da 1ª GM). 2. No impacto da modernidade no mundo islâmico; 3. Nos traumas do colonialismo Ocidental; 4. No fracasso do estado secular, na prevalência da corrupção e do autoritarismo, 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 95 Estagnação e decadência islâmica (6) 5. Na incapacidade das políticas de desenvolvimento conseguirem atenuar o atraso económico em relação ao Ocidente; 6. Na impossibilidade de uma Palestina Livre; 7. Na percepção de que a política externa americana, provocou injustiças; 8. Na incerteza quanto à globalização. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 96 Estagnação e decadência islâmica (7) • A atracção da alternativa Islamista reside na ênfase dada à justiça social e à crença de que a introdução da religião e da moralidade irá conduzir à extirpação da corrupção, nepotismo, prostituição, discriminação e pobreza. • O Islamismo, em muitos estados, tornou-se assim a única forma viável de protesto, quando as oposições são violentadas fazendo da mesquita o único local onde se pode exprimir o descontentamento. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 97 Estagnação e decadência islâmica (8) • A grande maioria dos movimentos islamitas são nacionalistas na sua essência, já que existem somente dentro das fronteiras de um dado estado ou região. Contudo, os movimentos variam nos seus objectivos, estratégias e filosofias. 31/05/2017 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 98