Mônica Malta Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro E-mail

Propaganda
Usuários de drogas HIV+
Propondo respostas mais eficazes
Mônica Malta
Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro
E-mail: [email protected]
Introdução
Na cena de drogas brasileira, a substância ilícita
mais utilizada é a cocaína. Devido aos padrões
específicos de uso desta droga – uso repetitivo e
continuado – usuários de cocaína freqüentemente
se envolvem em comportamentos de maior risco:
sexo desprotegido, múltiplos parceiros e
envolvimento em sexo comercial.
Estes comportamentos colocam usuários de
cocaína sob risco acrescido frente ao HIV/AIDS e
demais ISTs.
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As principais rotas de tráfico e áreas produtoras de
cocaína estão localizadas na América Latina.
Segundo o UNODC (2006), a vasta maioria da
cocaína disponível mundialmente é produzida na
Colômbia (54%), Peru (30%) e Bolívia (16%) –
Mapa 1.
Conseqüentemente, as principais rotas de tráfico da
droga iniciam-se nestes países e passam, muitas
vezes, pelo continente brasileiro – Mapa 2.
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Mapa 1: Principais áreas de cultivo de
coca mundiais. Colômbia, Peru e Bolívia. 2003-2005
Fonte: UNODC, 2005
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Mapa 2: Apreensão de cocaína entre 2002-2004 e rotas de tráfico de
cocaína, entre países que relataram apreensão de 10kg do produto
Fonte: UNODC, 2006
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Mapa 3: Uso de cocaína 2003 – 2005 (ou último ano disponível)
0.5-1% da população:
900.000 – 1.800.000
Fonte: UNODC, 2006
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Mapa 4: Visão Global da Epidemia de HIV/AIDS
38 milhões de pessoas [33.4 – 46 milhões] vivendo com HIV, 2005
Fonte: UNAIDS, 2006
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A epidemia de HIV/AIDS associada aos UDIs no
Brasil seguiu, no seu início, basicamente as rotas
de tráfico da cocaína que interligam a fronteira
oeste (Bolívia/Colômbia) aos principais portos
localizados no SE.
Mais recentemente, o tráfico e o consumo de
cocaína e a difusão do HIV e de outras infecções
transmitidas pelo sangue têm sido observados na
costa sul do Brasil.
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Em alguns municípios desta faixa litorânea, mais
de 50% de todos os casos de AIDS notificados
foram reportados entre UDIs.
Itajaí, Camboriú e Balneário de Camboriú, no
estado de Santa Catarina, estão entre os
municípios com as mais elevadas taxas de
incidência de AIDS do Brasil, sendo a maioria
destes casos de AIDS registrada entre UDIs e seus
parceiros sexuais
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Mapa 5: Incidência acumulada de AIDS (por 100.000 habitantes) entre
UDIs. Brasil, 1984-2000.
Fonte: Hacker et al., Cad Saude Publica. 2006 Apr;22(4):751-60.
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O papel central dos UDIs na dinâmica da epidemia
de HIV/AIDS no do sul do Brasil explica, em parte,
a rápida e continuada expansão do HIV na região,
a qual afeta também um grande número de
mulheres (a maioria parceiras de UDIs) e prole
(Figura 1), contribuindo para um declínio menos
acentuado da mortalidade por AIDS no sul do país,
se comparado às taxas observadas no Brasil como
um todo (Figura 2).
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Figura 1: Taxas de incidência (por 100 mil habitantes) de AIDS em mulheres
(com parceiro UDI) em idade fértil (15 a 49 anos). Brasil, 1984-2000
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S ude st e
S ul
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Incidência de HIV/AIDS entre UDIs
S incidência continua
SE começa a
Figura 2: Incidência de AIDS (por 100.000 habitantes) para categoria de exposição UDI
aumentando até fim 90s
decrescer
início
entre
15 - 54 anos. Brasil,
1984-2000 90s
10
9
96/97 – S > SE desde
então
8
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Sudeste
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Sul
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Principais questões
 Usuários de cocaína têm um padrão de uso
contínuo e repetitivo
 O compartilhamento
e/ou reutilização de
seringas/canudos/cachimbos é freqüente
 Muitos usuários de cocaína estão envolvidos
no sexo comercial
 O uso de drogas influencia a adoção de sexo
desprotegido
 Risco para parceiras/os e prole
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A questão em si
 Na maioria dos países, uma grande parcela dos
UDs HIV+ não tem acesso a uma assistência
integral e adequada
 Novas formas de abordagem precisam ser
elaboradas para localizar e engajar UDs HIV+
que não costumam procurar tratamentos de
saúde
 O HIV é um dentre uma enorme gama de
problemas que estes indivíduos enfrentam
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 A redução das diversas barreiras de acesso que
UDs HIV+ enfrentam requer:
Um atendimento multidisciplinar voltado às
necessidades de cada paciente;
Abordar e responder a prioridades
aparentemente “não médicas” do paciente;
Um contínuo suporte psico-social;
Abordar as necessidades específicas de UDs
(acesso a materiais estéreis, a tratamento para
DQ, manejo de recaídas…)
Cuidar da pessoa como um todo e não apenas
da infecção pelo HIV
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Questões que deveriam guiar
as ações voltadas para UDs HIV+
Aonde podem ser encontrados UDs HIV+ ou UDs
vulneráveis ao HIV, que ainda não estejam
engajados em serviços de saúde?
Quem são eles? Quais suas necessidades?
Quais as ações de RD que podem ser oferecidas
àqueles que não querem ou não se sentem
prontos a se engajar no tratamento ARV?
Como podemos mensurar a eficácia e avaliar a
replicabilidade das ações?
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Dificuldades
Localizar indivíduos sob vulnerabilidade
acrescida,
Acessá-los através de um modelo eficaz de
redução de danos
Engajá-los e apoiar sua retenção nos níveis
apropriados
de
assistência
primária,
secundária e terciária, serviços voltados para
a prevenção, serviços de saúde mental, de
apoio social e/ou tratamento de DQ.
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Uma ação em RD para
estimular a aderência à terapia ARV



Para assegurar que UDs HIV+ tenham acesso a
serviços voltados para a aderência nos diversos
momentos de seu tratamento com HAART
Para envolver clientes no desenho de intervenções
voltadas à aderência que estejam de acordo com suas
necessidades específicas, tendo como base os
conhecimentos atuais sobre aderência e as vivências
específica do grupo acessado
Para responder às necessidades específicas de UDs
HIV+ (DQ, recaídas, moradias instáveis, co-infecções
mais freqüentes– HCV/HBV…)
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Prevenção-AssistênciaPrevenção

Manejo abrangente do processo de adoecimento

Manejo abrangente da sensação de “bem estar” e possíveis
recaídas ligadas ao fato de ‘sentir-se com saúde’ e otimismo

Manejo abrangente da dependência química

Manejo de riscos adicionais através de uma ampla gama de ações
(aconselhamento, trabalho de campo…)

Oferecer permanente acesso a insumos de prevenção
(camisinhas, materiais estéreis…)

Disponibilizar ações educativas voltadas para a prevenção e
assistência que sejam culturalmente adequadas

Estabelecer links eficazes entre diferentes serviços – CTAs, PRDs,
tratamento de DQ, Centros de HIV/AIDS...
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Objetivos de um modelo
de serviço mais aberto e acessível
Disponibilizar serviços de prevenção aonde estão
os indivíduos mais vulneráveis
Estimular o acesso a medidas preventivas e
diagnóstico precoce
Trazer indivíduos para serviços de assistência
Manter os clientes em tratamento
Reduzir riscos adicionais
Estabelecer links entre ações de prevenção e
tratamento
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Trabalho
de campo
Tratamento
e apoio
Prevenção &
Assistência
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Um programa de suporte ideal
deveria responder às multiplas
necessidades da população atendida
Acesso a estratégias de prevenção
Suporte psico-social
Reinserção social
Cidadania
Tratamento...
Para isso é necessário construir uma
rede de serviços e profissionais
trabalhando em conjunto
Aderência requer um
contínuo trabalho de equipe
Através de uma rede eficiente de profissionais
trabalhando no campo e no serviço de saúde, é
possível identificar as diversas necessidades dos
indivíduos acessados e/ou de sua comunidade.
Esta rede possibilita uma melhor interlocução
entre serviço e comunidade, facilitando a testagem, o
engajamento de indivíduos em HAART, o
acompanhamento mais eficaz destes indivíduos e
um melhor manejo de recaídas.
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Reduzindo a separação
entre clientes e profissionais de saúde.
Ter uma equipe que conte com:
Profissionais na linha de frente (no serviço e em
campo)
Profissionais de saúde e atendimento Psico-social
Elaborar melhores links entre prevenção e assistência
Estabelecer constantes reuniões de equipe, facilitando o
manejo de casos específicos e o controle de qualidade
Estabelecer melhores links entre CTAs, serviços de
HIV/AIDS, serviços para DQ e ONGs comunitárias
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Uma metodologia de RD
voltada para Aderência
Os pacientes podem estar prontos para:
 Ir ao serviço de triagem, mas não ao atendimento individual
 Participar de um grupo de terapia ocupacional, mas não de
um acompanhamento psicológico individual
 Fazer um exame de sangue, mas não um exame médico
completo
 Ir ao dentista, mas não ao infectologista
 Engajar-se em um tratamento de detox, mas não começar
uma profilaxia para Pneumonia/TB
 Tomar AZT para reduzir o risco de transmissão perinatal,
mas não começar seu próprio tratamento ARV
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Lições Aprendidas
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O Brasil representa um paradigma
entre países em desenvolvimento, por possuir uma ampla
rede de programas de prevenção voltados para diversas
populações mais vulneráveis (UDs, profissionais do sexo,
MSM) a grande maioria financiado ou co-financiado pelo
MS.
O país também foi o primeiro a oferecer acesso
universal e gratuito à terapia ARV, sendo possivelmente o
único a oferecer uma gama tão ampla de serviços para
assistência de PLWHAs.
Tendo isto em mente, a experiência brasileira apresenta
diversas lições a serem aprendidas por outros países,
alguns dos quais mais ricos, com mais infra-estrutura, mais
profissionais, mais serviços disponíveis...
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Porém, principalmente
nas áreas metropolitanas do sul e sudeste do
país, UDIs e seus parceiros sexuais têm
desempenhado um papel central na
dinâmica da epidemia de HIV/AIDS.
Esta incidência elevada de HIV/AIDS
entre UDIs e usuários de drogas em geral
representa um importante desafio para a
saúde pública.
O manejo de usuários de drogas HIVpositivos é complexo, requer uma equipe
bem treinada e intervenções mais complexas
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Muito já foi alcançado através do
trabalho
conjunto
de
profissionais,
ativistas,
formuladores de políticas, representantes da sociedade
civil e redes de agências nacionais/internacionais.
Porém ainda existe muito a ser feito em um país com
dimensões continentais, no qual as desigualdades
sociais e econômicas, o estigma e o preconceito voltado
a comunidades mais vulneráveis e a minorias diversas
ainda chega a níveis inaceitáveis.
Tais problemas muitas vezes acabam influenciando
o acesso de populações mais vulneráveis a ações
preventivas e assistenciais, como UDs/UDIs, seus
parceiros/as e descendentes.
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Etapas futuras: Treinamento
Elaboração de normas para manejo de
UDs
Elaboração de manual para manejo de
UDs HIV+
 Manual
a ser adotado pela OPAS e pelo
PN DST/AIDS
Treinamentos nacionais e na América
Latina, para Profissionais de Saúde
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“Há uma coisa dentro de mim, contagiosa e
mortal, perigosíssima, chamada VIDA, que
lateja como desafio...”
Herbert Daniel
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