Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) Minicurso – Cristalografia e Difração de Raios-X Primeira aula: Fundamentos Laudo Barbosa (06 de Novembro, 2006) 1 Plano de apresentação • Luz (Radiação eletromagnética) • Radiação emitida por partículas eletricamente carregadas • Raios-X: espectro contínuo, espectro discreto • Geradores de Raios-X (alvo fixo, anodo rotatório, síncrotron) 2 O que é um “campo” ? Por exemplo: o campo gravitacional m M F G mr. M rˆ 2 Campo é o “veículo” ou “meio” que transmite a força 3 Outros Campos Campo Magnético Campo Elétrico 4 Descrição Matemática Força Elétrica: q .Q F k r rˆ 2 Campo Elétrico: E Fq k Q 2 r rˆ (A intensidade de campo elétrico é a força por unidade de carga) Campo Magnético (é gerado por carga elétrica em movimento): v rˆ B kq r 2 Força Magnética: F qv B 5 Descrição Matemática Estão portanto definidos, por expressões matemáticas, os campos elétrico e magnético Os campos não são tão “palpáveis” quanto as respectivas forças, mas parecem ser tão “reais” quanto elas O campo elétrico, em particular, é tão mais intenso quanto maior for a carga que o gera Podemos calcular a “quantidade” ou “intensidade” de campo elétrico através de uma superfície dΩ 2 Fluxo através de dA E.ndA kQ 2 r dd kQd r dA Fluxo total E.ndA kQdΩ 4 (r )dV o A V onde k 4 , Q (r )dV o V 6 Descrição Matemática Esta descrição matemática nos conduz ao Teorema da Divergência: E.ndA .EdV A V .EdV (r )dV .E 4 o V V O mesmo raciocínio nos conduz a: .B 0 (pois não existem monopolos magnéticos ) 7 Descrição Matemática As expressões fundamentais obtidas para os campos elétrico e magnético se aplicam a fenômenos eletrostáticos [não envolvem a variável “tempo”] .E 4 .B 0 o Necessitamos algo mais genérico para abordar fenômenos eletrodinâmicos Para isto, consideremos o conceito de força eletromotriz: = (Trabalho realizado pela força elétrica)/(unidade de carga elétrica) B B W q F . dl A q B q E . dl A q E.dl C q E A (*) A força eletromotriz, assim definida, é responsável pelas correntes e variações de tensão em circuitos elétricos 8 Descrição Matemática Observação Experimental: variações de fluxo magnético geram força eletromotriz A força eletromotriz induzida por variações do campo magnético é dada por: k dF dt , onde F B.ndA [Lei de Faraday] A corrente d E.dl k dt B.ndA C B A Área A, comprimento C 9 Descrição Matemática Outro teorema matemático: E.dl E.nda C A [Teorema de Stokes] E.dl E.n dA k C A B E k t .n dA 0 A E k Bt 0 d dt B .ndA A Obtemos mais uma equação fundamental: E 1 o o B , t 1 o o k 10 Descrição Matemática Podemos obter outra equação, semelhante à anterior, relacionando os campos elétrico e magnético Comecemos, para isto, explicitando a relação entre campo magnético e corrente elétrica: v r B kq r r l 3 q dl v dt dB kI dlr [pois I dqdt ] r 3 Para generalizar, definimos a densidade de corrente sobre um elementro de trajetória e computamos: ( x l ) B k J (l ) dl l x l 3 ' .J (l ) B (...) kJ k dl |x l | 11 Descrição Matemática Para regimes estacionários, a expressão anterior se reduz a: B kJ [pois .J 0] Para regimes dinâmicos, temos que levar em conta a conservação de carga elétrica .J t 0 .E 4 . J 4 o E t 0 { o [" Equação de Continuidade" ] (J dinâmico) B 4 o o J 1 o o E t 12 Descrição Matemática Finalmente, as 4 equações de Maxwell: .E 4 .B 0 o E B 1 o o 1 o o B 0 t E 4 o o t J 1 o o c Consequências básicas: E c1 2 2 2E t 2 0; B c1 2 2 2B t 2 0; S 4c E B Energia • Os campos elétrico e magnético se comportam como ondas • São ortogonais entre si • Transportam energia expressa pelo vetor de Poyinting (S) • Expressam os fenômenos de propagação da luz 13 Radiação emitida por cargas elétricas em movimento Podemos resolver as equações de Maxwell para situações como: ( x, t ) q ( x v t ) J ( x, t ) v ( x, t ) O meio onde se propaga a carga q emite luz (E,B), tal que que: dE dx q2 c2 1 d; 2 1 ( ) v c [Radiação Cerenkov ] o No vácuo, para o caso em que a distribuição de carga é oscilante: ( x, t ) ( x)eit J ( x, t ) J ( x)eit Campos E e B (Luz) são emitidos no espaço: ikr e | B | r , E B xˆ [para r | x |] 1 | B | r , | E | r1 [para r | x |] 2 3 14 Emissão por cargas aceleradas Caso geral: partícula com carga elétrica q, movendo-se ao longo de uma trajetória dada por r(t), gerando campos E e B sobre uma posição data por x(t). E v q ^ R n B Configuração no instante t x r q (n ) E ( x , t ) 4 3 2 2 (1 n . ) R o B ( x, t ) 1c ( n E ) onde : v c 1 c dx dt , 1 c n 3 (1 n . ) R 1 1| |2 d ( n ) dt RET . Zero E 41 o d dt q ˆ n E o R2 Zero E Eo 15 Raios-X É Luz ? Vo No final do século 19 (1895), estudando descargas elétricas produzidas em tubos de raios catódicos, W. C. Rontgen observou que uma tela de platinocianeto de bário disposta a uma certa distância do tubo fluorescia quando era ativada a tensão. A descoberta foi comunicada à Wurzburg Physico-Medical Society. Em 1896 já se produziam tubos geradores de raios-x. Mesmo antes disto, já havia relatos de que placas fotográficas eram impressionadas quando colocadas perto de tubos de raios catódicos. 16 Raios-X: Espectro Contínuo O processo de Análise de Fourier permite decompor uma função em suas componentes espectrais Caso uni-dimensional: f (t ) 1 2 i t F ( ) e d F ( ) f (t )e it dt t e são variáveis “recíprocas” : t tempo 1/t frequência Caso do “espaço-tempo” i ( k . x t ) 1 E ( x , t ) 2 dk F (k , )e d i ( k . x t ) F (k , ) dx E ( x , t )e dt k e x são variáveis “recíprocas” : x espaço k 1/λ, λ comprimento de onda F(k,) fornece a decomposição de E(x,t) em termos das componentes espectrais 17 Espectro Contínuo 18 Raios-X É partícula? No início do século 20: • Planck mostrou que a energia (radiação de corpo negro) é veiculada em “pacotes”, ou seja, distribuída em valores discretos e não continuamente; • Para explicar o efeito foto-elétrico, Einstein propôs uma teoria segundo a qual a luz é composta por partículas (corpúsculos de luz, fótons); • A teoria corpuscular (quântica) é mais abrangente que a teoria eletromagnética, mas guarda relações com ela: • Energia do fóton = E = h, onde é a frequência da onda • Momentum do fóton = P = h/λ, onde λ é o comprimento de onda 19 Espectro Discreto Na mecânica quântica, a ferramenta básica para se calcular a evolução física (dinâmica) de uma partícula é a equação de Schroedinger: 2 2m V i t 2 ( x, y , z , t ) ( x , t ) vetor de estado (complexo) V V ( x ) operador associado à energia potencial Um sistema de duas partículas (m,M) pode ser reduzido a um sistema de uma só partícula, com massa reduzida µ=M.m/(M+m) . Para o átomo de hidrogênio, supondo potencial Coulombiano, a equação de Schroedinger leva a uma solução em que a energia associada a cada estado físico é discreta: En Z 2e 4 ( 4 o ) 2 2 2 n 2 13.n6 eV 2 ( n 1, 2, ... ) Sistemas mais complexos são tratados por métodos numéricos e/ou aproximativos, e também levam à quantização da energia 20 Espectro Discreto E2 E > E1 E3 E1 Ef = E 1 - E2 Ef Hidrogênio Excitado Linhas características E = E1 + E3 Hidrogênio puro é contido em um recipiente, que é submetido a descargas elétricas (5KV). Os choques atômicos levam a excitações das partículas, que ao se des-excitarem emitem radiação característica, relacionada com as transições energéticas. 21 Fontes de Raios-X Gerador baseado em tubo, alvo fixo: Elétrons são emitidos sob alta energia contra um alvo fixo. No momento do choque, a desaceleração dos elétrons gera emissão de raios-x, desde que a energia de colisão seja suficiente [radiação de Brehmstrahlung] A desaceleração gera o espectro contínuo, o material do alvo gera radiação característica A maior parte da energia de colisão é dissipada sob forma de calor é necessário um circuito de refrigeração 22 Geradores de Raios-X Gerador baseado em tubo, anodo rotatório: Mesmo princípio do caso “alvo fixo”, com a diferença que o alvo é mantido sob rotação, de modo que o aquecimento por unidade de área, devido às colisões, é reduzido. Em consequência, pode-se operar sob alta potência (KVxmA), o que proporciona um ganho na intensidade do feixe de raio-x obtido. Radiação síncrotron: Partículas carregadas (elétrons, pósitrons) são mantidas em trajetória fechada, através de lentes elétricas e magnéticas. Nas regiões em que a trajetória é curvada (aceleração) há emissão de radiação, denominada “síncrotron.” 23