Entrevista com Jean-Pierre Berlan, diretor de pesquisa no Institut

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Entrevista com Jean-Pierre Berlan, diretor de pesquisa no Institut National de Recherche
Agronomique (INRA)
Formação intelectual
Sou engenheiro agrônomo, com doutorado em economia. Dediquei-me praticamente desde
o início da minha carreira ao problema da transformação da agricultura, quer dizer, à
liquidação do campesinato e à sua substituição por um sistema agro-industrial.
Faz 20 anos comecei a me interessar pela indústria das finanças, e desde esse momento
passei à história da genética e à história das práticas de seleção. Trabalhei um pouco com os
animais (um domínio que permanece por explorar) e sobretudo com a história da seleção
das plantas. E cheguei a conclusões que se opõem ao que se diz habitualmente. Em
particular, re-analisei completamente a técnica guia dos selecionadores no século XX, a das
espigas de milho, e mostrei que essa técnica, na realidade, respondia a uma única
necessidade, a uma só dinâmica, que é a da confiscação do ser vivo. O que constitui
evidentemente uma contradição entre o fato de que as plantas e os animais se reproduzem
no campo do agricultor e o fato de que o selecionador deve necessariamente ter lucro com a
sua atividade, o que não pode acontecer enquanto plantas e animais continuarem a se
reproduzir no campo do agricultor.
Passemos aos OGM. Há um argumento dos seus defensores que dizem que eles aumentam
a produtividade das culturas. Você concorda com isso?
Não, os números mostram que isso não é verdade. No caso da soja, o rendimento das
culturas é menor do que o da soja convencional, e o mesmo ocorre com o milho. A razão
para isso é muito simples: uma parte da energia da planta é usada para lutar contra os
herbicidas, não podemos esquecer que essas plantas são programadas, que foram
manipuladas para resistir a certos tipos de herbicidas. Por exemplo, a maioria das plantas
cultivadas hoje são construídas para resistir ao Roundup, o que permite a Monsanto,
proprietária da marca Roundup fazer duas coisas: aumentar o mercado do herbicida
Roundup (que até agora não podia ser usado na soja) fazendo soja resistente a esse
herbicida e, em segundo lugar, permite prolongar a vida da patente. É preciso saber que o
Roundup é uma molécula patenteada cuja patente está acabando ou acabou na maioria dos
países do mundo. A vida da patente é de uns 20 anos. Aliás, entre parênteses, Monsanto não
descobriu o Roundup, uma molécula descoberta no fim dos anos 40 por um químico suíço,
que ao ser testada mais tarde se mostrou um herbicida poderoso. Ou seja, Monsanto
adquiriu gratuitamente essa molécula e simplesmente desenvolveu a fórmula do herbicida.
Voltando ao que estava dizendo: quando a Monsanto percebeu que a patente ia cai no
domínio público fez todos os esforços para prolongar a vida do Roundup e ao mesmo
tempo fez pressões fortíssimas no mundo inteiro a favor dos transgênicos.
O que as plantas transgênicas resistentes ao Roundup trazem é um conforto para os
grandes agricultores, quer dizer, ela facilita o trabalho de limpeza dos campos pelo menos
de maneira provisória. O grande perigo, que foi previsto, é que a partir do momento em que
se generaliza a utilização do Roundup para todas as culturas – o que é o caso agora – as
plantas adventícias (infelizmente chamadas de ervas daninhas) vão se tornar resistentes so
Roundup, o que neste momento acontece um pouco por todo lado nos E.U. E também aí, o
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interesse de todo o negócio é que a partir desse momento é preciso utilizar misturas de
herbicidas para poder controlar as ervas daninhas. Monsanto teve o desplante de patentear
as técnicas de mistura de herbicidas, que não passam de técnicas que são praticadas pelos
agricultores nas suas terras. A patente permite proibir essa prática e reservá-la a Monsanto.
Os transgênicos representam também um problema para a saúde?
Um dos segredos mais bem guardados a respeito da transgenia dos OGM é o da
instabilidade das construções genéticas. Uma coisa que se percebeu é que as construções
genéticas têm a tendência a ser em seguida rearranjadas pelas plantas no decorrer das
sucessivas gerações. Pode-se mostrar num certo número de casos que essas construções
genéticas podem desencadear o funcionamento de genes que estavam adormecidos e que
podem produzir toxinas. Este é um primeiro ponto. Um segundo ponto que confirma este é
que estudos feitos na Inglaterra, por exemplo, mostram que as plantas transgênicas são
instáveis. No caso da cevada, por exemplo, percebe-se que há uma grande instabilidade no
decorrer das linhagens de transgênicos, o que confirma essa instabilidade geral. A
comparação é feita entre linhagens transgênicas e isolinas (isolines) que não são
transgênicas, mas que são exatamente as mesmas. As isolinas permanecem inteiramente
estáveis ao longo do tempo ao passo que as plantas transgênicas não. O terceiro ponto, é
que no caso das plantas tolerantes aos herbicidas, o herbicida, evidentemente, age entrando
no interior da planta. Aliás, é por isso que para forçá-lo a penetrar no interior da planta
utiliza-se não apenas a molécula ativa, mas também outras moléculas que vão facilitar a
penetração da herbicida no interior da planta. E num certo número de construções genéticas
o herbicida não é destruído, mas simplesmente neutralizado. O que se faz é manipular a
planta para que ela superexprima (surexprime) uma enzima que neutraliza a ação do
herbicida o que faz com que este, ao não ser degradado, entre na cadeia alimentar. É por
isso que eu digo: a Itália nos deu um prato maravilhoso, a pasta al pesto e graças às
multinacionais teremos em breve a pasta al pesticida (risos). Ainda uma última coisa. O
outro tipo de construção genética que está atualmente em circulação são as plantas
inseticidas, que são chamadas de plantas “resistentes a”, mas na realidade são plantas que
produzem um inseticida. É bom saber que esse inseticida produzido é muito diferente da
toxina inseticida produzida de maneira natural pelo famoso Bacillus thuringiensis que vive
no solo. Este é um primeiro ponto. O segundo ponto, é que também nesse caso, a toxina
entra na cadeia alimentar da mesma maneira, para comer os pesticidas. O terceiro ponto a
respeito das plantas inseticidas é que a quantidade de toxina produzida por um campo de
milho resistente ao piralídeo, o Bt por exemplo, é 10 mil a 100 mil vezes maior que a
quantidade de toxinas Bt que utilizaria um agricultor empregando de maneira intensiva os
tratamentos Bt.
Os defensores dos OGM vendem sua técnica dizendo que ela é extremamente moderna.
Sabemos que você não concorda com isso. Será que você poderia nos explicar seu ponto de
vista?
Voltemos a essa noção de planta inseticida. Quando eu era aluno na Escola de Agronomia
no início dos anos 60 era o começo dos pesticidas e todo mundo acreditava que eles iam
resolver todos os problemas. Nos ensinavam a nós engenheiros agrônomos (o que mostra o
absurdo do ensino técnico) que era preciso tratar o milho na região parisiense com tal
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produto em tal data, tal outro produto em tal outra data, etc. Depois de algum tempo parei
de assistir aos cursos porque me parecia absurdo não ir ao campo verificar se era preciso
tratar ou não. O mesmo ocorre com as plantas inseticidas tal como são construídas – elas
são tratadas previamente. Em 1998 estive no Meio-Oeste norte americano, no coração do
cinturão do milho e da soja, não havia sombra de piralídeo de milho no horizonte. Pois
bem, os agricultores que haviam semeado milho Bt resistente ao piralídeo – esse milho
totalmente poluente – o haviam feito em vão. Eles tinham tratado previamente, o que é a
coisa mais estúpida que se pode fazer do ponto de vista de uma visão um pouco mais larga,
uma visão um pouco evolucionista ou agronômica simplesmente, pois é um meio que está
sempre em interação. Este é um primeiro exemplo da estupidez dessas técnicas.
Passemos ao segundo ponto. No que se refere à modernidade dessas técnicas, se
olharmos a história das práticas da seleção – e aí acredito que meu trabalho traz coisas
novas em relação ao que é dito em geral sobre essas questões – vemos que desde o começo
do século XIX se utiliza uma única técnica de seleção. O que se faz em matéria de seleção é
totalmente independente da genética. Esta chegou um século mais tarde e creio que os
vínculos entre a seleção e a genética são no mínimo distantes, talvez até inexistentes. Penso
que a genética serve sobretudo como anteparo ideológico, como legitimação para práticas
que são simplesmente práticas que vêm da noite dos tempos. Em resumo, no começo do
século XIX, aplica-se uma única técnica, a do “isolamento”. Foram os nobres agricultores
ingleses que constataram que o trigo, a cevada, a aveia, ou seja, os cereais, que cada uma
dessas plantas conserva suas características individuais de uma geração para outra. Os
agricultores não sabem por que isso acontece e em 1836 chegaram à etapa final (estou
resumindo, pulo uma parte que vai do começo do século XIX a 1836). Em 1836, um dentre
eles, John Le Couteur, vai até o fim do raciocínio dizendo: “Já que cultivamos misturas de
plantas, que cada uma das plantas da mistura conserva suas características individuais, vou
isolar as plantas que me parecem mais interessantes, vou reproduzi-las e multiplicá-las
individualmente a partir de um único grão ou de uma única espiga, vou testar as plantas
correspondentes e substituir a mistura das plantas pelo melhor modelo (único, bem
entendido) que pude isolar no interior da mistura.” Daí nasceu a idéia da técnica do
isolamento. Um parênteses divertido: a clonagem de Dolly, considerada o cúmulo da
modernidade, consiste pura e simplesmente na aplicação em mamíferos da técnica do
isolamento. A condição necessária e suficiente para aplicar essa técnica é dispor de
organismos vivos reprodutíveis. O que nos é apresentado como o ponto mais avançado da
modernidade é essa técnica que se assenta nos princípios da Revolução Industrial, velhos de
dois séculos, e que consistem na busca da uniformidade, na padronização, na
especialização.
Faz uns 20 anos que sabemos que a característica central do mundo vivo é sua
diversidade, que tudo é construído para recriar constantemente a diversidade. E portanto
sabemos também que essa diversidade é produtiva em si, que sem diversidade o mundo
morre. Portanto há uma contradição entre o movimento dessa biologia aplicada aos
alimentos, esse movimento de padronização, de uniformização, de industrialização dos
alimentos e a sobrevivência do ser vivo. É preciso encontrar outras formas de técnica
agronômica, aprender a utilizar a diversidade e se afastar ao máximo dessa uniformidade.
Esse é um primeiro ponto.
O segundo ponto é a questão da confiscação do ser vivo. Esse desenvolvimento
começa na Inglaterra a partir da segunda metade do século XIX. Os primeiros
selecionadores profissionais que aparecem na Inglaterra nesse momento vão se aperceber,
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como homens de negócios, que não terão mercado enquanto o grão colhido pelos
camponeses for também a semente do ano seguinte. Então eles vão começar aquilo que
chamei de guerra contra o ser vivo, uma guerra contra essa faculdade infeliz que têm as
plantas e os animais de se reproduzir e de se multiplicar nos campos dos agricultores. E
essa guerra durou cerca de 150 anos, chegou em 1998 à técnica que se conhece com o nome
de “terminator”, uma técnica que permite fabricar sementes que dão plantas que crescem
normalmente, que dão flores normalmente, e que no momento em que o grão se forma na
flor a planta está programada para matar o germe do grão em ação, quer dizer, o agricultor
vai colher um grão que é estéril. Do ponto de vista histórico hoje, essa técnica representa o
maior triunfo da biologia aplicada faz 150 anos, uma vez que é o triunfo da lei do lucro
sobre a lei da vida. E penso que essa técnica permitiu às pessoas do mundo inteiro, e aos
agricultores em particular, se darem conta do caráter profundamente mortífero da nossa
sociedade em que o objetivo fundamental, imposto evidentemente pela economia política
do lucro, é fabricar plantas ou animais estéreis, de modo a separar a produção, que vai
permanecer nas mãos dos agricultores, da reprodução, que vai se tornar o monopólio do
capital.
O que evidentemente se esquece de dizer é que no século XX, a técnica guia dos
selecionadores é a técnica dita dos híbridos, que foi inventada para o milho, e que é
simplesmente a técnica do isolamento, mas desta vez aplicada a uma planta como o milho,
que não conserva suas características individuais de uma geração para a seguinte. No
começo do século XX, os biólogos americanos, com base nas descobertas das leis de
Mendel se dão conta que se podem fabricar plantas de milho reprodutíveis, é um processo
muito longo, muito complicado, muito caro, não funciona direito, mas pouco importa,
podem-se fabricar plantas de milho reprodutíveis e portanto, pode-se aplicar a técnica do
isolamento ao milho. O milho nessa forma não conserva as suas características individuais
de uma geração para a seguinte e, evidentemente, é compreensível o interesse de uma tal
técnica para o selecionador, uma vez que o agricultor vai comprar as sementes e essas
sementes não conservarão as características pelas quais o agricultor as comprou. Portanto o
agricultor será obrigado a renovar suas sementes a cada ano, o que faz com que essa técnica
seja a primeira técnica “terminator”.
Mas ao mesmo tempo é uma técnica que foi completamente mistificada pelos
biólogos, que colaboraram nessa expropriação do ser vivo justificando essa técnica com um
monte de mentiras, ou de auto-enganos, ao falar de “técnica do milho híbrido”, uma
variedade híbrida de milho. O que é uma estupidez, pois, como já disse, trata-se de aplicar a
técnica do isolamento. Ela é aplicada numa planta de fecundação cruzada, o milho assim
como os mamíferos é uma planta que tem um pai e uma mãe diferentes. O que faz que
quando você aplica a técnica do isolamento ao milho a planta que você semeia não é nem
mais nem menos híbrida que qualquer outra planta do campo de milho.
Em segundo lugar, fala-se de “variedade híbrida” de milho, ou seja, usa-se o termo
“variedade” para designar o contrário do que se faz: a substituição de uma mistura de
plantas diferentes por um modelo único de planta. Vemos então que a expressão “variedade
híbrida” é uma dupla mentira: primeiro, significa a substituição da variedade pela
uniformidade e, segundo, o termo “híbrido” não tem estritamente nenhum sentido, pois não
é a característica da planta que foi semeada, que, como disse, não é nem mais nem menos
híbrida que qualquer outra. Sua característica central é que ela é reprodutível pelo
selecionador e apenas por ele. Portanto, a coisa foi totalmente mistificada nos últimos 150
anos pelos geneticistas e pelos selecionadores. Eles criaram um direito de propriedade
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sobre o ser vivo. E aí de fato há coisas maravilhosas. Em França, atualmente, se o agricultor
pudesse semear o grão de milho colhido isso lhe custaria o preço do grão. Em França, no
que se refere ao milho, semeia-se por volta de 15kg por hectare; já as sementes de milho
híbrido, aquelas que o agricultor não pode reproduzir no seu campo, custam entre 15 e 16
quintais por hectare, o que permite multiplicar o preço das sementes por cem. Esse é o
verdadeiro milagre dos híbridos.
Nas suas intervenções você se refere cm freqüência ao peso ideológico das palavras. Você
poderia expor sua idéia?
Há sempre uma reflexão a fazer em matéria científica onde se supõe que os termos que
utilizamos designam a realidade. Na verdade, penso que os termos que são utilizados na
ciência assim como em outros domínios determinam certos tipos de realidade, e isso é tanto
mais verdadeiro que atualmente, com os meios de comunicação de massa, os conceitos vêm
do alto, são criados por esses meios de comunicação e são totalmente manipulados. No que
concerne o milho híbrido: os agricultores americanos, quando lhes ofereceram esse milho
“revolucionário” supostamente híbrido eles entenderam muito bem do que se tratava, tanto
que o qualificaram de “milho mula”, uma vez que a mula é estéril. O que aconteceu foi que
o governo americano tinha decidido que o único método de seleção que seria utilizado seria
o método do isolamento, o método dito dos “híbridos”. Essa decisão é de 1922 e,
evidentemente, cerca de 15 anos mais tarde, depois de um esforço maciço de seleção,
conseguiu-se (com o poder da ciência e da técnica moderna) fabricar plantas de milho
isoladas – reprodutíveis pelo selecionador e somente por ele – que eram superiores às
populações cultivadas pelos camponeses, as quais haviam sido deixadas no seu estado
genético dos anos 1910. Mas se essas populações tivessem sido selecionadas, o progresso
teria sido muito mais rápido e evidentemente o agricultor poderia semear o grão.
Há ainda uma outra coisa que vale a pena contar. As pessoas que tomam a decisão
de que o único método de seleção do sistema público de pesquisa nos E.U. será o método
dos híbridos são os Wallace, pai e filho. Wallace pai é o ministro da agricultura em 1922, é
ele que toma essa decisão sob a pressão do filho que foi produtor de sementes de milho e
que percebeu que enquanto houvesse variedades livres no campo do agricultor os negócios
não iam para a frente. Em 1926, o filho, Henry A. Wallace, que será ministro da agricultura
de Roosevelt, funda Pioneer, a maior empresa mundial de sementes, com um capital em
torno de 7 600 dólares. Pioneer foi vendida há dois anos por 10 bilhões de dólares à Du
Pont.
Portanto a noção de mistificação semântica se aplica perfeitamente ao termo
“variedade híbrida” de milho. Cria-se o fato milagroso, chama-se a atenção para o
hibridismo e o conjunto da pesquisa agronômica se preocupa em explicar esse “milagre”. E
com isso se desvia completamente a atenção do fato de que durante esse tempo o capital se
reproduz um milhão e quinhentas mil vezes por dólar investido. Esse é um primeiro
exemplo de manipulação semântica. Mas há outros. Todo o campo da biologia moderna é
um campo em que é preciso refletir em termos de propaganda porque nossa sociedade está
em guerra contra o ser vivo, porque é preciso proibir as plantas e os animais de se
reproduzirem para que o capital possa fazê-lo. Portanto, essa lei do lucro é antagônica com
a lei da vida. E é claro que quando você está em guerra precisa utilizar um aparelho de
propaganda extremamente sofisticado, e em particular, deformar completamente o sentido
das palavras.
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Um primeiro exemplo é o termo OGM – Organismos Geneticamente Modificados.
Isso não quer dizer estritamente nada. Todos os organismos são geneticamente modificados
a cada geração uma vez que são fruto de uma mistura única de genes. Consequentemente o
termo é absurdo mas ele serve para desenvolver todo um discurso das firmas
multinacionais, que consiste em dizer que essas técnicas permitem perseguir de modo
muito mais preciso, científico, eficaz, o que a humanidade sempre fez desde o começo da
domesticação das plantas e dos animais, há mais ou menos dois mil anos. Logo, nós
estaríamos numa estrita continuidade, vocês não precisam se preocupar, os especialistas
estão vigilantes. Esse é o discurso. A realidade não tem nada a ver com isso. Os próprios
cientistas chamaram sua primeira construção genética de quimera. É um termo preciso,
científico – as quimeras são o resultado de construções que tomam emprestado de
diferentes elementos – reino, ordem, gênero, espécies do mundo vivo – que tomam
emprestados elementos dessas diferentes categorias do mundo vivo para juntá-las num
novo organismo vivo do mundo. Portanto, trata-se de quimeras.
Entrevista feita por Marcos Barbosa de Oliveira e Isabel Loureiro durante o Fórum Social
Mundial de 2003
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