Pós Operatório de Cirurgia Cardiovascular Matheus Ferber R3 Cirurgia Cardiovascular Biocor Instituto – Belo Horizonte Introdução O suporte cardiovascular Sangramento, trombose e estratégias para transfusão O suporte respiratório O suporte metabólico e renal As complicações relevantes Introdução Sucesso Cirúrgico: Multidisciplinar Evolução - Ótima: cuidados de rotina - Subótima: situação controlada (aminas, antiarrítmicos) - Ruim: intervenção urgente (oligúria, acidose, reop) Alterações Decorrentes do Ato Cirúrgico • Diagnóstico (alterações hemodinâmicas) • Procedimento realizado (parâmetros esperados) • Tempo de cirurgia (alterações metabólicas e hormonais) • Anestésicos utilizados (depressão miocárdica) • CEC (hipotermia, hemodiluição, coagulopatia, SIRS, retenção hídrica) • Tempo de oclusão aórtica • Volume recebido de sangue e hemoderivados • Volume de diurese transoperatória • Intercorrências transoperatórias (achados cirúrgicos, complicações) • Drogas vasoativas utilizadas na cirurgia • Dificuldade de intubação • Presença de secreções na árvore brônquica • Infecções no paciente antes de ir para a cirurgia • Outros diagnósticos ou malformações associadas Monitorização • Ritmo cardíaco • Pressão arterial • Pressão venosa central (PVC) • Débito urinário • Sonda nasogástrica • Drenos de mediastino e/ou pleurais • Temperatura • Parâmetros respiratórios (gasometria, MVO2) • Pressão de átrio esquerdo (função VE) • Pressão de artéria pulmonar (HP) • Débito cardíaco, resistência vascular sistêmica e pulmonar (Swan-Ganz) • Ecocardiografia bidimensional ou doppler • Marcapasso O Suporte Cardiovascular Avaliação Hemodinâmica - estabilidade hemodinâmica - função cardíaca e eventos per operatórios - objetivo: oxigenação adequada dos tecidos Avaliação Inicial - medicamentos, FC, ritmo cardíaco, PAM, PVC, ECG - PAP, PAE, débito cardíaco O Suporte Cardiovascular Débito cardíaco e oxigenação dos tecidos: - Pré Carga: PVC, PAP, PACP (vasoplegia, liquido no 3º espaço e espaço pleural, diurese, sangramento) - Pós Carga: RVP (temperatura, anestésicos, IECA, SIRS, dor, agitação) - Contratilidade miocárdica: inotrópicos, isquemia, infarto, função valvar, acidose, distúrbio hidroeletrolítico, hipóxia, tamponamento. - Freqüência cardíaca: bradicardia, arritmias, bloqueios - Disfunção diastólica Hipertrofia Fibrose Edema miocárdico - Hematócrito > 21% , SatO2 > 92% O Suporte Cardiovascular Índice Cardíaco O Suporte Cardiovascular Tempo de isquemia miocárdica O Suporte Cardiovascular O manejo hemodinâmico: - Fluidos: monitorização cuidadosa do BH estratégias diferentes uso de inotrópicos, vasodilatadores, diuréticos - Suporte farmacológico: vasoconstrição, vasodilatação, suporte inotrópico e tratar arritmias O Suporte Cardiovascular O manejo do ritmo e da freqüência cardíaca: - uso de fio de marcapasso, marcapasso transvenoso - avaliar distúrbio eletrolítico - β-bloqueadores, amiodarona, lidocaína - Cardioversão elétrica - Profilaxia FA e Flutter (25 a 50%): β-bloqueador - FA: antiarrítmicos, cardioversão, anticoagulação O Suporte Cardiovascular A isquemia e o infarto no pós operatório: - proteção miocárdica inadequada - enxerto com trombose, espasmo, “kink” - vasos endarterectomizados trombosados - embolização por ar ou debris aterosclerótico - suspeitado quando: bomba cardíaca deprimida, alterações ST, novo bloqueio, arritmias ventriculares, elevação de enzimas - estudo hemodinâmico ou retorno ao bloco cirúrgico - considerar anticoagulação, β-bloqueador, nitroglicerina, balão intra aórtico O Suporte Cardiovascular IVD e hipertensão pulmonar: - IVD: isquemia, infarto ou ↑ resistência vascular pulmonar - HP: IVE, EA, EM, IM, embolismo pulmonar, etc - ↑VD - ↑PVC - ↑regurgitação tricúspide, ↑HP - administrar volume, uso criterioso do PEEP, vasodilatadores O Suporte Cardiovascular Doenças Valvares: - Estenose Aórtica: controle da PA, otimizar volume, β-bloqueador, ↑ pós carga - Insuficiência Aórtica: otimizar o volume, ↓ pós carga, suporte inotrópico - Insuficiência Mitral: ↓ pós carga, suporte inotrópico - Estenose Mitral: melhorar a função ventricular direita, ↓ resistência vascular pulmonar Sangramento, Trombose e Transfusão Evolução Pré Operatória: - história de sangramentos ou trombose - coagulograma, eritrograma, plaquetas - medicamentos (AAS, I GPIIbIIIa, Clopidogrel, etc) Estratégias Per Operatórias: - antitrombolíticos (ácido aminocapróico e tranexâmico; aprotinina) - prime reduzido e circuito de CEC heparinizado Sangramento Pós Operatório: - evitar hipotermia ≤ 35°C - atenção em sangramentos > 50 a 100 mL/h - cirúrgico ou coagulopatia: aquecer o doente, controlar PA, ácido aminocaproico, gluconato de calcio, hemoderivados, fator VIIa recombinante, protamina, Protromplex Sangramento, Trombose e Transfusão Reexploração mediastinal: - drenagem > 400 mL/h na 1ª hora, > 300 mL/h nas 2ª e 3ª horas e 200 mL/h na 4ª hora - sinais de tamponamento ou instabilidade hemodinâmica Autotransfusão: controverso, fatores de coagulação reduzidos, SIRS Transfusão de sangue: ↑ infecção,mortalidade, SIRS, insuf. renal e pulmonar - infundir <7.0 g/dL O Suporte Respiratório Fisiologia Pulmonar - CEC – resposta inflamatória (shunt, edema, complacência ↓, lesão endotelial) O Suporte Respiratório Avaliação na Admissão: - ausculta (certificar ventilação e broncoespasmos) - ventilação, gasometrias seriadas - radiografia de tórax (posição do tubo, sonda nasogástrica, cateter central, pneumotórax, hemotórax, alargamento mediastino) Hipóxia: - verificar drogas (nitroglicerina, milrinona, nitroprussiato) - ↑ PEEP (recrutamento alveolar) - tratar broncoespasmo - repetir RX (pneumotórax, hemotórax, atelectasia, hemicúpula ↑ ) O Suporte Respiratório Sedação: drogas de ação curta (propofol, fentanil, midazolam) evitar excesso de sedação e hipotensão Extubação - pacientes estáveis, conscientes com boa gasometria - A/C → VMI → PSV → Y → extubação - considerar instabilidade hemodinâmica, insuf. resp. pré operatória, ICC, EA, HP, hipotermia profunda, hipóxia e acidose persistentes, sangramentos, AVC - reentubação: 5% (↑morbi-mortalidade e dias de hospital) Ventilação Prolongada e Traqueostomia : - estenose de traquéia e infecção - traqueostomia precoce: > 3 dias (menor sedação, desmame seguro, toilet pulmonar) O Suporte Respiratório Derrame Pleural - mais comum à esquerda (tempo e diurese) - BH+, hipoalbuminemia, síndrome pós pericardiotomia, atelectasia, pneumonia e embolismo pulmonar - avaliar toracocentese – pacientes sintomáticos - antinflamatórios – sind. pós pericardiotomia Pneumonia: - altamente associada à mortalidade - infiltrado progressivo no Rx, modificação da secreção, leucocitose, febre - fisioterapia respiratória: mobilização e expectoração de secreção O Suporte Respiratório Embolia Pulmonar - incidência 0,5 – 3,5 % - suspeitar quando: índice de oxigenação ↓, fôlego curto, intolerância ao exercício - enfaixamento ou meias elásticas nos mmii (TVP) - D-dimero, Rx tórax, cintilografia, TC helicoidal O Suporte Renal e Metabólico Insuficiência Renal Peri operatória: - IRA 3,1% pós RVM, 0,87% diálise > morbi-mortalidade - IR pré operatória (cr>1,5 → IRA 15 a 20%) ↑ incidência de sangramento, diálise, ventilação prolongada, dias de hospital, mortalidade - IRC: 11,4% mortalidade, 73% complicações - Cateterismo e insuf. renal após 3 a 5 dias O Suporte Renal e Metabólico Efeitos da CEC na Função Renal: tempo de CEC fluxo CEC >1,6 L/min Hipotermia ↓ IRA Hemodiluição PAM>60mmHg diurese > 0,5mL/kg - uso de manitol e furosemida - trauma nos constituintes do sangue - 3° espaço → hipotermia (reaquecimento); hemodiluição (↓ pressão oncótica) - ↑ catecolaminas e citocinas inflamatórias (↓TFG, ↑RVR) O Suporte Renal e Metabólico Distúrbios Eletrolíticos: - Cálcio: performance cardíaca, lesão de reperfusão Hipocalcemia: ↑ intervalo QT e comum após a CEC, hemodiluição, sepse e politransfusões - Potássio: altera o automatismo e o sistema de condução Hipercalemia: cardioplegia, ↓ diurese, hemólise Hipocalemia: ↑ arritmias - Magnésio: altera a excitabilidade cardíaca, contração muscular, regulação do potássio intracelular Hipomagnesemia: comum após CEC e hemodiluição, ↑ fibrilação atrial e torsades de pointes O Suporte Renal e Metabólico Alteração Endócrina: - Diabetes Mellitus: > 30% nos pacientes cardiopatas Após a CEC: resposta hormonal ↑ glicemia, ↓ insulina Insulina continua: < infecção na ferida operatória manter < 150 mg/dL - Disfunção Adrenal: stress cirúrgico ↑ ACTH e cortisol Insuf. Adrenal sub clínica > 20% Suspeitar na vasoplegia prolongada e inexplicada Dosar cortisol, teste de resposta glandular - T3 ↓ no 1° DPO Complicações Relevantes Neurológicas centrais: - AVC (1 a 4%), mortalidade 25%; ↑ estenose carótidas, reop., cirurgia valvar - Fatores: aorta calcificada, AVC prévio, idade, doença carotídea, duração da CEC, tabagismo, diabetes, macroembolização de ar, debris ou trombos; microembolizações de leucócitos, plaquetas, hipoperfusão cerebral devido a fluxo não pulsátil, hipotermia profunda - >50% delírio e/ou alucinações (distúrbio mental prévio, alcoólatras) Neurológicas periféricas: - lesão de plexo braquial (abertura excessiva do esterno, posicionamento dos mmss) - lesão de n. fibular (plegia da dorsoflexão do pé) - lesão de n. safeno (hipoestesia ou parestesia na perna) Complicações Relevantes Gastrointestinais: - isquemia mesentérica (tempo CEC, vasopressor, BIA, FA, dç vascular periférica) → 48% a 99% mortalidade - sangramento gastrointestinal → inibidores da bomba de prótons - pancreatite (hipoamilasemia 35 a 65%) ↑ doses de gluconato de cálcio elevam lesão pancreática - colecistite (estase biliar) mortalidade 75% - diagnóstico tardio - íleo paralitico - insuf. hepática (hiperbilirrubinemia transitória) Complicações Relevantes Infecções: - 10 a 20% → infecções hospitalares (pneumonia, ITU) - infecções por cateteres - febre (bacteremia 3,2%) - sepse (SIRS, coagulopatia, choque, falha de múltiplos órgãos) mortalidade (20 a 50%) - fechamento secundário do esterno (sangramento e instabilidade hemodinâmica) → mortalidade 24% (infecção, choque cardiogênico, insuf. renal) - mediastinite (1 a 2%) mortalidade 6 a 70% (obesidade, diabetes, DPOC, disfunção renal, ↓albumina) (tempo CEC, reop, aa. mamárias bilateral, hiperglicemia) → reexploração cirúrgica (retirada do esterno, fechamento com músculo ou epíplon) Complicações Relevantes Nutrição: - desnutrido (albumina ↓3,5g/dL) = infecção - IMC < 17 ↑ morbidade - catabolismo acelerado (25 a 40 kcal/kg/dia) - considerar dieta enteral / parenteral