Laboratórios põem Brasil na elite da biossegurança Investimentos somam R$ 50 milhões e vão permitir a independência tecnológica do País no setor O Brasil está próximo de entrar no seleto grupo de países com capacidade técnica para estudar o diagnóstico e para a detecção de agentes de alto risco de contaminação para seres humanos. Em 2006, a Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde começará, em Brasília, a construção da primeira área de Nível de Biossegurança Quatro (NB4) para laboratórios brasileiros. A classificação é a maior do setor e significa o quanto seguro é o laboratório para manipulação de agentes biológicos de alta letalidade. A obra deve ficar pronta até o final de 2007. O projeto custará R$ 20 milhões, com recursos financiados pela União e pelo Banco Mundial. Com o investimento, o Brasil passará a ser o terceiro país das Américas a possuir esse tipo de tecnologia. Hoje, apenas os Estados Unidos e o Canadá têm instalações tão seguras. Na área NB4 do laboratório, técnicos e pesquisadores terão condições adequadas para produção e manipulação de vírus utilizados em estudos com agentes que não pertencem à ecologia brasileira, como o vírus Ebola, de transmissão aérea e de alta letalidade. Com isso, o país aumentará a capacidade tecnológica do Sistema Único de Saúde (SUS) no diagnóstico de doenças perigosas. “Vamos avançar muito no que diz respeito à prevenção e ao controle de doenças transmissíveis”, explica o diretor de Vigilância Epidemiológica do ministério, Expedito Luna. Outra vantagem que o NB4 vai oferecer é a autonomia para o Brasil na realização de atividades que antes exigiam o envio de amostras para laboratórios no exterior. “Estamos declarando nossa independência tecnológica no setor”, comemora Expedito. Na prática, o alto nível de segurança permite que técnicos e pesquisadores se protejam dos agentes que serão estudados e evitem a contaminação externa. Tudo que entra e sai do laboratório é descontaminado. Os profissionais contarão com sistema de ar independente, cabines de segurança biológica, equipamentos especiais de esterilização, equipamento de proteção individual para cada pesquisador e sistema de energia independente. Rede – Desde 2004 o Brasil começou a implantar a primeira rede de áreas de Nível de Biosseguraça Três (NB3). A tecnologia foi destinada à Rede Nacional de Laboratórios de Saúde Pública, vinculada ao SUS. Ela tem limitações, mas já permite ao país a execução de estudos relacionados ao diagnóstico e à detecção de agentes como a bactéria do Antraz, utilizada por terroristas; o vírus que provoca a hantavirose e a Síndrome Respiratória Aguda (SARS). Em 2004, o Ministério da Saúde inaugurou as quatro primeiras áreas, uma no Recife, uma em Fortaleza e duas em São Paulo. Outras cinco áreas serão inauguradas até o final deste ano e mais quatro em 2006. Ao todo serão instaladas 13 áreas NB3. A instalação de doze áreas será feita com recursos da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde. Mais uma unidade será construída no Instituto Hélio Fraga, no Rio de Janeiro, com recursos da própria instituição. O investimento total da SVS nas doze unidades será de aproximadamente R$ 30 milhões. Além de importantes para o país, essas áreas serão referências para a Organização Mundial da Saúde (OMS) e para a América Latina, pois representarão o fortalecimento da vigilância epidemiológica em toda a região, principalmente no caso de doenças de transmissão respiratória provocadas por vírus, bactérias e fungos. Os laboratórios de alta tecnologia e segurança são responsáveis pela produção de reagentes que podem diagnosticar as causas de alguma doença. Esses reagentes são enviados para os hospitais e utilizados gratuitamente no atendimento à população. Outra função desses laboratórios é pesquisar os tipos de medicamentos que são efetivos ou não no tratamento de doenças. Por serem mutáveis, existem vírus que criam resistência aos tratamentos convencionais. Nos laboratórios, os pesquisadores submetem esses agentes a testes para descobrirem a melhor forma de eliminá-los. “Todos os dias surgem novas formas de vida, como vírus e bactérias, que podem ser nocivas ao ser humano e nós precisamos estar preparados” alerta Expedito Luna. De acordo com o especialista, até o surgimento do vírus da aids, na década de 80, a comunidade científica acreditava que o mundo tinha controlado as doenças infecciosas. “O HIV acabou com essa crença. Com a tecnologia que estamos implantando poderemos combater com mais rapidez as novas doenças”, garante. Confira abaixo as instituições selecionadas para a instalação das áreas NB3: Bacteriologia/Tuberculose 1. Instituto Adolfo Lutz/SES (SP) 2. Laboratório Central de Saúde Pública do Estado do Ceará/SES (CE) 3. Laboratório Central do Distrito Federal/SES (DF) Virologia 1. Instituto Evandro Chagas/SVS/MS (PA) 2. Instituto Octávio Magalhães/FUNED/SES (MG) 3. Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães/FIOCRUZ (PE) 4. Laboratório Central do Estado do Rio Grande do Sul/SES (RS) 5. Instituto Pasteur/SES (SP) 6. Departamento de Viorologia do IOC/FIOCRUZ (RJ) 7. Instituto de Medicina Tropical/IMTM/SES (AM) 8. Centro de Pesquisa Gonçalo Muniz/FIOCRUZ (BA) 9. Centro de Pesquisa em Medicina Tropical/CEPEM/SES (RO) 10. Centro de Referência Prof. Hélio Fraga (RJ)