Visualização do documento astrologiareal_doc.doc (66 KB) Baixar Astrologia Real Oscar Quiroga Editora Rocco Fonte Digital: Sodiler Online CAPÍTULO 1 De história sabemos pouco A aplicação do estudo da Astrologia como forma de desvendar o destino dos indivíduos é chamada de Astrologia Natal ou Genetlíaca. Este estudo aparentemente proveio dos egípcios e dos caldeus, mas vale ressaltar que os métodos usados por estes povos diferem muito de como a Astrologia é praticada atualmente. Há relatos de que a Astrologia teria surgido na cidade egípcia de Tebas, mas esta é uma informação duvidosa pois conhecemos o legado dos egípcios apenas por intermédio de referências indiretas. O Mito relata que Bel, o mais antigo e poderoso dos deusesrei da Babilônia,1 se desgarrou do Egito e viajou para estabelecer uma colônia nas margens do rio Eufrates, onde ergueu um templo e fundou uma comunidade de sacerdotes que cultuavam os “Senhores dos Astros”, adotando o nome de caldeus. 1 Por Babilônia se entende a cultura desenvolvida na área entre os rios Eufrates e Tigre dos primeiros assentamentos, aproximadamente no ano de 4000 a.C. Antes da constituição da Babilônia como império proeminente, aproximadamente no ano de 1850 a.C, a área era dividida em dois países em constante guerra, Suméria no sudeste e Akkádia no noroeste. Mediante referências históricas, pode-se concluir que os egípcios inventaram a Astrologia e os caldeus a transmitiram aos demais povos. A palavra Astrologia é de origem grega. Os caldeus praticavam leitura de augúrios no céu, e constituíram um império astrocrata, onde a interpretação dos movimentos celestes se convertia em leis práticas na Terra. Essas práticas estão registradas em textos originalmente escritos em linguagem cuneiforme, que datariam dos séculos XVIII ou XVII a.C. A coleção desses textos é o Enuma Anu Enlil, o registro mais antigo de práticas relativas aos astros. Não é propriamente um livro, mas uma série de tabuletas de barro consagradas ao registro da leitura de augúrios celestes. Uma compilação mais completa destes textos só viria a ser feita por volta do ano 1000 a.C., informação conhecida apenas por referência, porque na verdade as tabuletas que chegaram aos nossos dias fazem parte da biblioteca do rei Assurbanipal (VII a.C.), levando a crer que nunca tenha havido uma versão padrão do Enuma Anu Enlil. Assim sendo nem mesmo podemos considerá-lo como livro. Alguns textos são obscuros e difíceis de interpretar e outros são claras referências a acontecimentos celestes, principalmente eclipses. Quase sempre os augúrios são nefastos e assustadores, indícios de que a espera do cataclisma final é uma ansiedade que persegue a humanidade desde seus primórdios. A tabuleta número 20 do Enuma Anu Enlil traz a seguinte inscrição: Se na época de Simanu (o terceiro mês lunar do calendário caldeu) um eclipse ocorrer no dia 14, e Belat (a deusa Lua) obscurecer ao leste acima e ficar clara no lado oeste embaixo, o vento norte soprar e o eclipse começar na primeira observação da noite e chegar até o meio da observação da noite... desta forma Belat dará uma decisão a Ur e ao rei de Ur. O rei de Ur contemplará a fome, haverá muitas mortes, o rei de Ur será traído pelo seu filho e ao filho que tiver traído o pai o Sol armará uma cilada e morrerá nos funerais do pai. O filho de um rei que não tenha sido nomeado para reinado ocupará então o trono. (Enciclopedia Britannica) Em outra tabuleta pode ler-se o seguinte: Quando Júpiter estiver em frente de Marte chegará trigo e homens vão ser sacrificados, ou um grande exército será sacrificado. Quando Marte se aproximar de Júpiter haverá grande devastação no país. Quando Marte se aproximar de Júpiter o rei de Akkad há de morrer e as colheitas prosperarão. Quando a Lua aparecer em sua carruagem peregrinos baterão na porta do palácio. Quando a Lua estiver em seu ponto mais baixo um povo estrangeiro será submetido ao rei. Quando Mercúrio culminar em Tammuz virão as colheitas. Quando Leão estiver obscuro o coração da Terra não será generoso. Quando Júpiter se unir a Vênus os oráculos do país chegarão aos deuses, Merodach e Sarapanitum ouvirão as preces do povo e terão pena dele. Mandem um jumento a mim para que possa descansar meus pés. (Astrologia – História e julgamento. West e Toonde) O que se depreende da leitura das tabuletas é fruto de uma prática periódica de relatar os augúrios astrológicos ao rei, a quem interessava que houvesse boas colheitas, que os inimigos fossem vencidos e, de alguma forma, precaver-se contra as fatalidades do destino escritas no céu com a mão de ferro dos deuses. Naquela época, a humanidade era bem mais selvagem – matar ou morrer era algo natural. Também a Babilônia não possui boa reputação na história moderna, bastante preconceituosa com tudo que se relacione a essa civilização. Na leitura das tabuletas também fica claro que o ofício de astrólogo nunca foi suficientemente bem pago. Muitas vezes o rei não lhes oferecia sequer um jumento para as suas andanças. O Enuma Anu Enlil é produto de uma rede de observadores do céu e escribas que tiveram sua época de ouro durante o reinado de Assurbanipal (VII a.C). Segundo a história oficial, a Astrologia deriva, principalmente, do Enuma Anu Enlil e também de fragmentos escritos em grego, que datam do século II a.C, endereçados ao rei Nechepso pelo sacerdote Petosiris. A Apotetelemastika ou Trabalho de Astrologia é considerada a obra astrológica mais importante, pois foi a primeira a chegar completa aos nossos dias. Este livro também é conhecido como Tetrabiblos, os quatro livros de Ptolomeu, astrônomo grego do século II d.C. A palavra astrônomo é aqui utilizada propositadamente, pois nos tempos antigos astronomia era sinônimo de astrologia. No Glossário teosófico, de Helena Blavatsky, o termo astrônomo aparece como sendo o título outorgado a quem iniciasse estudos no sétimo grau de recepção dos mistérios da escola de Tebas. Os estudantes, depois de passarem pelos graus de Pastophoros, Neocoros, Melanophoros, Kistophoros e Balahala (o estudo da química dos astros), iniciavam-se nos signos místicos do Zodíaco numa dança circular que, por imitar o curso dos planetas, os fazia entrar em êxtase e por isso também em sintonia com aquilo que estudavam. Estudar sempre foi um assunto sério e para pessoas dedicadas. Uma vez finalizada a iniciação, recebiam o título de astrônomo ou “medicante” junto com o tau, a cruz egípcia. As referências teosóficas, apesar de documentadas, não são consideradas pela história oficial. O movimento teosófico é a denominação de um grupo de pessoas que se tornou mais coeso na Europa e na Índia no fim do século XIX e começo do XX, fortemente incentivado por uma notável mulher, Helena Petrovna Blavatsky, que dedicou sua vida a viajar e compilar textos sagrados, onde quer que eles porventura estivessem. Para a história oficial, que depende de documentos pertencentes a diversos museus, se tornou consenso que a Astrologia começou na Babilônia, o que é um erro de proporções enormes. Seria talvez correto afirmar que os caldeus associaram a aplicação da Astrologia ao momento do nascimento dos indivíduos. No entanto, eles se ocupavam também de assuntos do Estado e a leitura de augúrios deveria, portanto, auxiliar na organização de leis para criar uma sociedade com ordens rigorosas, vindas diretamente do céu. Essas leis eram interpretadas pelos então astrólogos caldeus, que julgavam que, em muitos casos, era mais prudente manter a política da Terra do que submeter-se ao contínuo mandato estelar. Evidencia-se assim que eles eram astrólogos corruptos e inventaram calendários que privilegiavam seu próprio bem-estar em detrimento da sincronia do céu com a Terra. O IMPULSO DA ASTROLOGIA É CÉU E TERRA DANÇAREM EM SINCRONIA. Quando a Astrologia chegou à já decadente Babilônia, tornou-se um instrumento de poder corrupto, pois a todo momento se interpretavam augúrios da forma que fosse mais conveniente aos assuntos do Estado. Magos e astrólogos eram os dois grupos que dominavam o Estado babilônico. Os magos e os astrólogos evoluíram muito e a prática moderna em nada se parece com o que acontecia naquela época. Mas todos os textos que servem de referência ao estudo da Astrologia se originam numa literatura burocrática, que devia buscar na sucessão de acontecimentos celestes uma ordem que organizasse o império. O ano na Babilônia era contado lunarmente, diferente de nosso ano tropical moderno, que é solar. A contagem solar do ano é uma evolução, pois deixa para trás as constantes defasagens lunares e instaura um padrão fixo. O calendário babilônico ia ficando defasado e, por pura imperícia, em vez de os astrólogos o ajustarem, começaram a vaticinar a época negra da Babilônia, sua decadência, sobre a qual, de alguma forma, estavam certos. Ela seria conquistada por um império maior, o persa, que media o ano solarmente e não de acordo com a Lua. Em determinado momento, astrólogos e magos, que exerciam um poder absoluto na Babilônia, conspiraram e fizeram com que o povo esperasse por um iminente fim de mundo. Os magos se especializaram na interpretação dos sonhos, no uso de cores e cheiros, para realizar seus sortilégios imaginários. Naquela época, astrólogos e magos eram pessoas de caráter duvidoso, e grande parte do preconceito nutrido por mentes iluminadas em relação a esses conhecimentos deriva do preconceito babilônico. Abusos como a prática babilônica da Astrologia Jurídica deixaram terríveis marcas na reputação do conhecimento astrológico. Nas questões babilônicas, em vez de haver argumentos a favor ou contra determinada situação, tudo era resolvido no cálculo do mapa astral e no julgamento que os aspectos dos planetas nas respectivas casas lunares emitissem. Não havia possibilidade alguma de argumentar com os juízes astrólogos. A mistura de magia e astrologia que caracteriza os escritos tidos como originais em Astrologia aponta para a arte dos talismãs, evocada popularmente na cor dos signos, pedras e tantas outras associações. É difícil encontrar nos dias de hoje uma tradição que tenha se mantido sagrada o suficiente para transmitir a correta associação de cores, signos e pedras a todas as coisas do mundo. Todos os compêndios são enganosos, nada além de adaptações temporais aos costumes da época. Tudo deve ser lido com muito cuidado porque há indícios de que a chave das associações mágicas e astrológicas tenha se perdido para sempre. Entretanto, são os magos os que medicam contra as agressões astrais e naturais, e a eles é dada a função de interpretar os sonhos e os sinais, prescrevendo talismãs para favorecer ou anular as forças da natureza vividamente presentes na imaginação, da qual até hoje o homem moderno sabe muito pouco. Usamos a imaginação mas não sabemos o que ela é. A prática que caracteriza a Astrologia como o estudo e acompanhamento da relação entre os movimentos do céu e os acontecimentos na Terra definitivamente não começou com os caldeus, tampouco com os egípcios. O que começou, e também acabou, com esses povos foi a intervenção cotidiana dos deuses nos assuntos do Estado. Uma “astrocracia” insofrível. A tradição bíblica prega um discurso furioso contra a Babilônia, e gera um grande e profundo preconceito contra tudo que provenha dessa civilização. A Babilônia era um império formado por diversos povos: sumérios, akkádios e caldeus. Estes últimos eram os astrólogos. Dizer caldeu era o mesmo que dizer astrólogo. De qualquer forma, é aceitável dizer que a raiz da palavra Astrologia (que é grega) deriva dos caldeus influentes no tempo da Babilônia, mas não o conhecimento da Astrologia, que é muito mais antigo. Há uma astrologia que vem sendo transmitida oralmente com o uso de edifícios-monumentos de tempos muito anteriores ao das culturas egípcia e babilônica. Essa é a astrologia real, a expressão mais antiga de ciência de nossa humanidade. A astrologia é o pleno e magnífico resultado da observação dos movimentos cíclicos do céu. A criatividade da humanidade, capaz de inventar calendários que registrassem, atualizassem e previssem o que o céu manifestasse, poderia organizar as atividades na Terra da melhor maneira, e contornar as fatalidades naturais. Com o calendário seria possível que as tribos nômades há 15.000 anos experimentassem o assentamento e prosperassem. Os seres humanos já observavam algo maravilhoso no céu, uma harmonia cíclica infalível que, se organizada em um calendário, tornaria a existência menos calamitosa e menos sujeita às fatalidades, pois haveria um mínimo de previsibilidade. É um paradoxo que a Astrologia, tendo nascido como forma de superar o império das fatalidades, ao revelar a previsibilidade tenha adquirido a reputação de ser fatalista. Vale ressaltar que o céu da época era também muito mais forte e claro, pois não havia perspectiva de luz alguma a não ser a de fogueiras isoladas. A maneira pela qual nos chega o esforço de transcrever os calendários, no entanto, não é textual, mas na forma dos edifícios e monumentos, para que em comparação a eles os movimentos do céu pudessem ser claramente medidos e previstos. Para o homem moderno, um calendário é uma coisa sem importância, um folheto na parede. Para os povos antigos, contudo, o conhecimento transmitido por um bom calendário estabelecia a diferença entre uma existência um pouco mais previsível, com habitação fixa, e a necessidade de fugir constantemente das mudanças climáticas à procura de comida e abrigo. A Astrologia começa a ser praticada, associada à necessidade dos povos de se assentarem e cultivarem o próprio alimento, o que só poderia ser feito com calendários eficientes que determinassem o momento em que deveriam semear e colher. Sem um calendário, algo tão simples e banal para nós, os povos antigos não teriam tido condições de subsistir, e muito menos de prosperar. Uma tribo sem calendário não teria como identificar o início da primavera ou do inverno, e, portanto, não possuiria um método de cultivo com base no tempo. E isso se tratando apenas do mínimo que nossa humanidade precisa: o alimento. Mas como não só de pão vive o ser humano, o calendário teria também de encontrar formas eficientes de regular e organizar todas as outras atividades cotidianas que fazem parte da existência, instituindo a ordem das tribos assentadas em torno da disposição claramente percebida no movimento cíclico celeste e da construção de monumentos que permitissem arquitetar rituais envolvendo os astros. Emolduravam o céu em janelas megalíticas, como, por exemplo, em Stonhenge, ou em pirâmides e cavernas com janelas específicas. Bons edifícios seriam instrumentos eficientes, calendários de pedra a denunciar uma relação harmônica entre céu e Terra a despeito de todas as contrariedades que afetam a existência humana ontem, hoje e sempre. Até os dias de hoje, por exemplo, se pode ver claramente a serpente que nasce do jogo de luz e sombra que o Sol faz com o templo de Kukulcan, no México, na época do equinócio. Vê-se claramente a serpente surgir do céu na silhueta do templo e dirigir-se para dentro da terra. Os povos antigos marcaram a importância do conhecimento astrológico através de edifícios e monumentos. Na concepção moderna, o calendário é uma série de 12 fotografias de mulheres exuberantes numa parede suja. Para os antigos, o calendário era um edifício e uma instituição, o lugar onde se poderia comprovar a infalibilidade dos ciclos escritos nos movimentos celestes. Uma arquitetura que fizesse com que em determinada época do ano o sol e a lua aparecessem por certas janelas, enquanto que em outra época o fariam por outras, oferecendo aos olhos extasiados dos sacerdotes um espetáculo de rara beleza que, ao revelar a concordância entre o mundo e o céu, provia ordem e organização, e conseqüentemente, prosperidade. Os dois povos antigos que mais prosperaram foram os egípcios e os babilônicos, duas culturas que aplicavam à ordem do Estado o conhecimento do céu. Portanto, os astrólogos estavam sempre presentes nestas sociedades. De certa forma, a grande dificuldade de se compreender a Astrologia com sensatez, sem que ela seja contrariada por crenças religiosas ou científicas, deriva do fato de, historicamente, ter começado na Babilônia. A aliança dos astrólogos com os magos resultou na decadência do conhecimento porque em muitos momentos, para satisfazer monarcas caprichosos, eles criavam relatórios que eram oferecidos como augúrios provindos do céu, causando terror, aproveitando-se de desejos que só em sonhos poderiam materializar-se. Usavam a imaginação e cometiam sortilégios. Adquiriram a capacidade de prosperar não mais pelos conhecimentos dos astros, mas pela política desumana. Para perpetuar o domínio sobre o povo e os reis, os 2 A palavra des-astre, de origem provençal, significa “algo que não funciona bem nos astros”. sacerdotes caldeus instituíam rituais assustadores nos quais fingiam ter controle sobre o Sol, obscurecendo-o diante de olhos ignorantes. Como sabiam calcular quando aconteceriam os eclipses, enganar o povo era uma tarefa fácil. O povo e os reis os consideravam extremamente poderosos ao verem que o próprio Sol ou a Lua obscureciam sob seu comando. Tudo provavelmente encenado com cânticos religiosos, gritos, danças e utilizando o próprio céu como espetáculo. Quanta charlatanice associada a um conhecimento natural! Lastimavelmente, a grande maioria dos livros de astrologia considerados originais deriva do conhecimento dos caldeus, muito pouco interessados no esclarecimento e na libertação do povo, e muito esforçados em manter o controle do Estado. Surpreendentemente, o mundo ocidental parece ter preferido absorver tudo que veio da Babilônia apenas porque os vestígios deixados pelos egípcios são muito indiretos. Aos caldeus e aos mágicos com certeza se dirigem as ameaças bíblicas, exortando o povo escolhido a não ouvir as palavras enganosas dos astrólogos. Pessoalmente, apóio em gênero, número e grau as críticas, mas não as ameaças. Por mais decadentes que fossem, os babilônios também merecem ser tratados sem preconceito. Para entender a astrologia real, é necessário, em primeiro lugar, esquecer o mito de que ela nasceu na Babilônia e se despir do preconceito que o mundo ocidental nutre a respeito desta civilização. Astrologia é um conhecimento sagrado, não porque deva ser considerado sob o aspecto religioso, mas porque atualiza em nossa humanidade a consciência de uma ordem maior na qual as pequenas atribulações pessoais adquirem sentido. Sem preferências religiosas, toda alma se extasia ao contemplar o céu, imaginar suas dimensões e perceber sua harmonia, sincronia, ciclos e coreografias de proporções divinas. Saber contar o tempo é outra conquista da humanidade. Saber que horas são pode parecer algo banal, porém este é o produto de longos milênios de observação, registro e esforço de sincronizar os acontecimentos terrenos com os ciclos celestes. A história da Astrologia é também a história da construção definitiva do calendário pelos astrólogos, que na época eram mais comumente denominados astrônomos. O primeiro calendário composto de forma correta foi o do papa Gregório, em 1582, 15 séculos depois da primeira tentativa de Júlio César, que não foi bem-sucedida. A história do calendário representa uma tentativa de que ele fosse composto da maneira mais precisa possível, de forma que as defasagens decorrentes da inevitável passagem dos séculos não resultassem em um desastre2 na organização da vida na Terra. Hoje sabemos que um ano dura exatamente 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 54 segundos. Porém, ao longo de milênios, diversos estudos foram realizados para estabelecer com precisão estes dados e, com isso, finalmente, instituir um calendário que relacionasse de forma verdadeira os acontecimentos terrestres aos celestes, e as festas religiosas pudessem ser celebradas nos dias certos. Os calendários regulam todos os ciclos com que se organizam e prosperam as nossas precárias, porém criativas, existências. Ano é o tempo exato que a Terra leva para dar uma volta completa ao redor do Sol. Os equinócios são os pontos de referência da contagem desse ano. A Terra, por estar inclinada em relação à sua órbita, geralmente expõe ao Sol um de seus hemisférios de forma mais intensa. Uma parte do planeta se encontra no verão, ficando mais tempo ao sol, enquanto que a outra se encontra no inverno, com menos sol. E essa condição vai se transferindo através de todas as regiões da Terra, conforme ela vai orbitando. No equinócio, todos os pedaços da Terra ficam expostos ao Sol durante o mesmo tempo. É o momento de equilíbrio. Nem sempre o equinócio foi a referência para se contar o ano. Para os povos antigos, o ano começava no solstício de junho, na época da plenitude. 365 5 48 54 dias horas minutos segundos Trezentos e sessenta e cinco dias, 5 horas, 48 minutos e 54 segundos é uma precisão difícil, que tem como base de referência o Sol. A maioria dos povos antigos media o tempo de acordo com a Lua, prática muito pouco confiável devido à complexidade de sua periodicidade. A civilização egípcia parece ter sido a primeira a se aproximar de um calendário correto, resolvendo problemas de falta de exatidão muito antes da cultura moderna, que só conseguiu fazê-lo no ano de 1582, quando se fez a reforma do calendário gregoriano. E isso como seqüência às reformas dos romanos, que muito se esforçaram para superar a defasagem. Até 700 a.C., o ano romano durava 304 dias, divididos em dez meses. Com base no último mês deste calendário, nosso dezembro remete à idéia do número dez. Começando novamente nas calendas marciais (mês de março), janeiro e fevereiro simplesmente não existiam. Em 700 a.C., a duração do ano romano foi alterada para 355 dias, ainda bem distante da realidade. Quando Júlio César promoveu, em 45 a.C., a reforma que deu origem ao calendário juliano, o ano romano havia ficado defasado 80 dias em relação à observação real dos acontecimentos celestes, causando uma grande dificuldade na coordenação do processo de agricultura e também na coleta de impostos. Ao ano 45 a.C. foram agregados 80 dias, totalizando 445. Até hoje é conhecido como o “Ano da Confusão”. É do calendário juliano que provém a tradição de considerar-se o início do calendário no dia 1º de janeiro, fato que não corresponde a nenhum movimento celeste. Esta foi apenas uma decisão política, associada, de alguma forma, com o fato de próximo ao final de dezembro ainda se realizarem festas de fim de ano, cultos a Mitra, ao deus Sol, e também as saturnais – uma espécie de carnaval da época. Como havia uma lacuna no calendário romano que ia de dezembro aos idos de março, Júlio César criou dois novos meses. Mas os astrônomos de Júlio César tampouco mediram bem o ano. Fizeram-no com mestria e se aproximaram da realidade, mas erraram por 11 minutos e 14 segundos. Quinze séculos depois, em 1582, os astrólogos do papa Gregório teriam de cortar 10 dias do calendário para eliminar a defasagem, acumulada por causa do erro de medição romano. É interessante notar que enquanto os romanos só se aproximaram da exatidão perto do início da Era Cristã, os egípcios, 4000 anos antes, já conheciam o calendário de forma quase correta. Não é de se admirar o poderio e a exaltação que maravilhou os romanos quando tentaram conquistar o Egito, pois na mesma época em que seus ancestrais viviam em cavernas, os egípcios já tinham um Império que organizava as diversas atividades da cultura de acordo com os ciclos solares, lunares e em torno da estrela Sirius, da constelação do Cão Maior. Há 6.000 anos os egípcios outorgavam 360 dias ao ano, mas sabiam que o deus Thot tinha feito uma correção no céu agregando mais 5 dias, que atribuiu a 5 deuses: Osíris, Ísis, Horus, Nephtys e Set. Vale lembrar que, aos olhos do homem ocidental, parece evidente e banal que o ano dure 365 dias, mas naquela época esta conclusão demonstrava um talento aperfeiçoado pela observação e experimentação ao longo de séculos. Aquela época, considerada hoje em dia como antiga, também possuía suas referências ancestrais. Há 10.000 anos, período hoje conhecido como Era Neolítica, nem mesmo o Saara era um deserto, pois fazia muito pouco tempo que os glaciares tinham se retraído. A região era uma enorme savana com vida animal e vegetal, um lugar onde a sobrevivência era bem mais fácil. Demorou de 2.000 a 3.000 anos para que a savana se transformasse em deserto. Os humanos, até então acostumados a viver da caça e da coleta, se viram obrigados a retirar-se para o vale do Nilo, onde passaram a depender dos ciclos de cheias e vazantes desse rio (ao qual chamavam de mar) para que o cultivo e a colheita pudessem ser feitos na hora certa. Nada poderia ter crescido ou se desenvolvido a longo prazo no Egito sem o conhecimento dos ciclos e dos bons calendários. Os primeiros egípcios a se assentar e depender do cultivo datam de 9.000 anos atrás. Esses egípcios, aparentemente primitivos, demoraram apenas 2.500 anos para se converterem numa nação poderosa, cuja realeza ostentava um profundo conhecimento dos acontecimentos celestes. As pirâmides foram construídas por volta de 4230 a.C. Três mil anos é realmente muito pouco tempo para se evoluir de tribo rupestre a império poderoso. Isso só pode, sem misticismo algum, ser atribuído ao conhecimento dos ciclos celestes, cuja boa leitura permitiria sincronizar as atividades na Terra com seus movimentos. O ano 4241 a.C. é a primeira data da qual se tem noção histórica por meio de inscrições hieroglíficas nas pirâmides. Esses hieroglifos servem inclusive para analisar com maior cuidado todas as outras datas das quais se tem conhecimento. Como os egípcios fizeram para elaborar calendário tão acurado, e como descobriram a importância de fazê-lo? Vale ressaltar a imensa criatividade deste povo, que inventava deuses novos toda vez que precisava ajustar o cálculo do ano. Os egípcios, contrariando todas as outras civilizações, em vez de contar o ano pela Lua, que era muito pouco confiável, o fizeram por intermédio do Sol. Instauraram o Império do Sol e, a partir dele, ergueram a religião-estado, possuidora do conhecimento dos ciclos. O ano lunar, que se divide em 13 meses, é muito menos acurado que o solar, dividido em 12. De qualquer forma, até a palavra mês parece ter raízes na palavra Lua, demonstrando ser a lunar a maneira mais antiga de se medir o ano. Suspeita-se de que a superstição do 13 ser um número maligno derive da sua associação aos cultos lunares, considerados imperfeitos pelo culto solar. Para superar o erro da pouco prática medição lunar, que continuamente precisava de ajustes, os egípcios instituíram o culto a Osíris, o deus Sol, medida bem sensata e condizente com a realidade. O Sol tornou-se a medida real. Porém, o ano solar não mede exatos 365 dias; há aproximadamente 6 horas a mais que, se não forem levadas em conta, farão com que, ao longo dos séculos, a contagem do tempo fique defasada, trazendo conseqüências bastante sérias. Há registros de egípcios esclarecidos que conseguiram entender a necessidade de aprimorar a medição do calendário. Aproximadamente 2.000 anos após a construção das pirâmides, há vestígios do esforço de um grupo de sacerdotes para agregar um dia a cada quatro anos, de modo a equilibrar o calendário. Porém, as instituições religiosas egípcias nessa época eram muito conservadoras, e essas correções nunca foram feitas, pois ameaçariam não só uma ordem universal como também a política, que, desvinculada da perfeita correlação entre os acontecimentos terrestres e os celestes, teria apenas a tradição e a palavra defendida dogmaticamente para sustentar sua veracidade. A rejeição da reforma contribuiu para a decadência do império. O mesmo aconteceu com o apelo do estudioso Roger Bacon ao papa Clemente para que a Igreja Católica consertasse o calendário. Na época, ele foi perseguido pela Santa Inquisição. O dogma substituiu a realidade cósmica e tanto os sacerdotes egípcios quanto os católicos consideraram seu conhecimento ancestral sagrado demais para ser tocado ou modificado. A civilização egípcia se guiou por um calendário que, apesar de muito mais acurado que os das demais civilizações, era ainda falho. Falha que só foi corrigida, e mesmo assim, de forma não muito exata, na época de seu declínio, por decreto de Júlio César, que determinou que deveria ser agregado um dia a cada quatro anos. No entanto, e apesar de todas as suas fabulosas invenções, nem mesmo aos egípcios pode ser atribuída a origem do conhecimento astrológico. Recentemente os jornais noticiaram que uma antropóloga francesa descobriu nas inscrições rupestres das cavernas de Lascaux e Monte Bego, na França, retratos fiéis do céu daquela época. O fato de há 15 mil anos os seres humanos se importarem com o céu representa um avanço razoável. Compreender ciclos e recorrências, e intuir um significado, associar as necessidades terrestres com os movimentos celestes, tudo isso significa um impulso muito grande de raciocínio que, mesmo primitivo, se constitui como um claro sinal de avanço na medição de tempo, assim como marca os primórdios do que futuramente seria chamado de Astrologia, Astronomia e de ciências dedicadas à cura e à construção de edifícios. As construções megalíticas de Stonhenge, na Inglaterra, oferecem provas mais recentes. A Europa evoluiu mais lentamente. As pedras alinhadas marcam a época dos solstícios e equinócios, assim como também dos eclipses. Um povo teoricamente pouco desenvolvido, que sabe como calcular com precisão quando o ano começa e quando será a época propícia ao cultivo ou à colheita, revela uma complexidade que contrasta com a imagem primitiva. As tribos que desenvolveram tal conhecimento obtiveram grande vantagem sobre todas as outras porque souberam antecipar os problemas e aproveitar as facilidades. O primórdio da Astrologia é exatamente esse: conseguir, de alguma forma, estabelecer, com a maior exatidão possív... Arquivo da conta: Daniel.Moura2015 Outros arquivos desta pasta: astrologiareal_doc.doc (66 KB) resumo.doc (94 KB) Breve Guia de História da Astrologia no Ocidente.doc (87 KB) ORIGEM DOS SIGNOS.doc (60 KB) Outros arquivos desta conta: Dispositivos de Memória Kit Mágicas OneNote Relatar se os regulamentos foram violados Página inicial Contacta-nos Ajuda Opções Termos e condições Política de privacidade Reportar abuso Copyright © 2012 Minhateca.com.br