SOCIALISMO PETISTA: UM DEBATE URGENTE Ela esta no horizonte/ mas eu não a alcanço/ Caminho dois passos e ela se afasta também dois/ Avanço mais dez passos e o horizonte se afasta ainda mais dez./ Por mais que eu caminhe eu não consigo alcançá-la/ Então eu me pergunto para que serve essa tal de utopia?/ Para caminhar responde o horizonte/ para caminhar é que ela serve.../ Eduardo Galeano Pedro Wilson Guimarães Vivemos um momento especial e de desafios na história do PT e devemos atualizar nossos objetivos e redefinir nossos caminhos. Com a reeleição do Presidente Lula e a aproximação de nosso III Congresso, o Partido dos Trabalhadores deve reafirmar seu compromisso com os ideais de liberdade, com o combate à desigualdade econômica e regional no Brasil e no mundo; com o desenvolvimento sustentável do planeta e proteção da biodiversidade, com a democracia; a ética pública; o combate à corrupção; o fortalecimento e autonomia dos movimentos sociais; a inclusão social, a proteção e fomento da diversidade cultural, a superação do racismo, do machismo, da homofobia e de outras formas de preconceito e discriminação. Esses compromissos emancipatórios e libertários, traduzidos na nossa atuação política e na prática de nossos governos, criam as condições imprescindíveis na construção do socialismo democrático. Queremos um país livre, justo, soberano, com igualdade social, fundado na solidariedade, onde os direitos individuais e coletivos sejam o centro da agenda política. O Estado brasileiro deve ter seu caráter distributivo fortalecido, seus espaços de participação ampliados e deve promover o desenvolvimento econômico e social de maneira democrática, sendo um instrumento de regulação da economia de mercado, com controle social. 1. Liberdade, democracia e justiça! O socialismo petista, definido no III Congresso, deve estar alicerçado sobre esse tripé. Se assim não for, não será socialismo e nem será petista. 2. O PT nasceu congregando diferentes concepções, gerações e experiências sociais, sendo fruto do reencontro do pensamento de esquerda com a realidade concreta das lutas dos trabalhadores. Nesse processo nasceram convicções anti-capitalistas e a opção pelo socialismo democrático ao mesmo tempo em que o PT realizava uma profunda crítica à social-democracia e ao socialismo burocrático. 3. O documento O Socialismo Petista é ainda muito atual. Ele afirma um compromisso democrático que tem dupla dimensão: nós queremos um país e um partido democrático; e, para nós, socialismo é um processo de construção, não de dedução. 4. O projeto do modo petista de governar nasceu sob essa inspiração, promovendo a transformação da vida das pessoas, a diminuição das desigualdades e um reforço às referências do PT na luta por hegemonia política e superação do capitalismo. Nosso partido busca essa superação pela combinação da luta institucional com a luta social, sobretudo pela acentuação de mecanismos de participação popular na condução da política e do Estado. 5. Somos anticapitalistas por entendermos que o capitalismo, por sua natureza, gera miséria, fome, violência, guerra e destruição do meio ambiente. É um sistema que trata o cidadão como consumidor e converte direitos em privilégios. 6. Socialismo, para o PT, não deve ser confundido com estatização, mas entendido como socialização da política que recupera a idéia de uma cidadania ativa, reconhece a democracia como espaço de explicitação de dissensos e propõe a ampliação da participação popular e controle social do Estado. 7. O III Congresso do PT deve subsidiar o partido para se posicionar como herdeiro das melhores tradições socialistas diante de temas contemporâneos. Há pontos fundamentais para a definição daquilo que poderia ser a agenda para um socialismo no século XXI. Citamos alguns exemplos: a. A articulação de países e movimentos sociais é fundamental para manter uma agenda de transformação que derrube a atual ordem econômica mundial e permita a reforma dos organismos internacionais. b. Temos de combinar formas de propriedade privada, de propriedade estatal, de cooperativas e criar mecanismos de regulação que direcionem o crescimento da economia em benefício da maioria. c. O confronto entre as tradicionais concepções de desenvolvimento e questões ambientais como aquecimento global, novas formas de geração de energia, proteção da biodiversidade e patrimônio genético deve ser encarado como estratégico para o desenvolvimento do mundo. d. O mundo do trabalho tem passado por transformações visíveis. A agenda fabril e sindical não pode ser encarada pelos socialistas com o mesmo olhar dos anos 80. e. O socialismo tem de colocar na pauta política o tema dos direitos e da política como reinvenção coletiva da qual todos podem participar e não apenas consumir e comercializar. f. É preciso buscar novas formas de organização da economia, estimulando organizações solidárias e de cooperativismo que se constituam como “implantes de socialismo”. g. A superação do racismo, do machismo, da homofobia e outras formas de preconceito e discriminação depende do comprometimento de governantes e legisladores, além do engajamento dos movimentos sociais. h. O direito à comunicação constitui um bem público devemos combinar a garantia da liberdade de imprensa com mecanismos de comunicação pública, privada e comunitária. 8. A militância petista no século XXI não deve se restringir à noção de luta de classes – ainda viva e estruturante para o socialismo -, mas deve estar preparada para enfrentar os problemas contemporâneos à luz dos valores socialistas que inspiraram a formação de nosso partido e tem norteado a atuação do governo Lula. 9. O PT, como partido socialista, deve discutir o caráter social da propriedade, o controle dos fundos públicos e a apropriação da riqueza. Temos de debater a democratização da cultura, do conhecimento e da comunicação como mecanismos de construção do socialismo que almejamos. O PT deve encarar os grandes problemas mundiais a partir de sua cultura socialista, reconhecendo suas tradições e atualizando seu discurso e prática. Por isso, reafirmamos aqui os eixos pontuados na tese Construindo um Novo Brasil em relação ao socialismo, palavra esperança, carregada de valores, sentimentos e paradigmas. Uma fonte cristalina que abastece os sonhos de milhares de lutadores sociais, militantes de esquerda e intelectuais. Socialismo de várias leituras e que, acima de tudo, deve ser a construção de uma sociedade justa e fraterna. Pedro Wilson – Deputado Federal – PT/GO, Ex-Prefeito de Goiânia. Professor da UFG e UCG. Vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos, membro das comissões de Legislação Participativa e de Educação e Cultura. Militante do MNDHumanos.