PLANEJAMENTO DA PULVERIZAÇÃO DE FUNGICIDAS EM FUNÇÃO DAS VARIÁVEIS METEOROLÓGICAS NA REGIÃO DE SINOP - MT Rafael Barros Santos1, Adilson Pacheco de Souza1*, Andréa Carvalho Silva1, Frederico Terra de Almeida1, Kelte Resende Arantes1, José Luiz de Siqueira2 RESUMO: Este trabalho objetivou avaliar as influências da evolução diurna da temperatura do ar (Tar), umidade relativa do ar (UR), radiação global (Qg), velocidade e direção do vento (Vv e Dv) na definição dos momentos ideais para a aplicação de fungicidas (defensivos agrícolas), na região de Sinop-MT. Os dados meteorológicos foram coletados pela estação automática A917 do INMET (11,98°S e 55,56°W) no período de dezembro de 2006 a dezembro de 2011. Aplicou-se a análise de consistência na base de dados, com posterior subdivisão em agrupamentos mensais horários e diários, para obtenção de valores médios, desvios e frequências. Foram adotados como restrições para a realização de pulverizações de fungicidas os seguintes parâmetros: Tar ≥ 30,0°C; 50% < UR < 90%; e 3,0 < Vv < 10 km h-1. Verificou-se que a temperatura do ar permite períodos satisfatórios para pulverização entre 18h e 9h no inverno e não limita no verão. A umidade relativa do ar é o principal limitante para pulverizações entre março e outubro, visto que, os períodos desfavoráveis são variáveis ao longo dos meses, em função do molhamento foliar e da evaporação. A influência da velocidade do vento é maior nos momentos de maior saldo de radiação, indicando como períodos críticos o intervalo de 10h a 15h em função da grande predominância de rajadas de ventos, sendo limitante apenas no inverno. As direções predominantes do vento são Norte e Nordeste para primavera/verão e Nordeste e Sudeste para outono/inverno. Palavras-chave: séries temporais, tecnologia de aplicação, pulverização agrícola. PLANNING THE SPRAYING OF FUNGICIDE BASED OF METEOROLOGICAL VARIABLES IN THE REGION OF SINOP - MT ABSTRACT: This study evaluated the influence of diurnal serie of the air temperature (Tar), relative humidity (RH), global radiation (Qg), speed and wind direction (Vv and Dv) in the definition of the ideal moments for the application of fungicides in the region of Sinop-MT. Meteorological data were collected at station A917 automatic INMET (11.98° S and 55.56° W) from December 2006 to December 2011. Applied the consistency analysis of the database, with subsequent division into groups and monthly times daily, for obtaining average values and deviations frequencies. Were used as constraints to the achievement of fungicide sprays the following parameters: Tar ≤ 30.0° C, 50% < RH < 90%, and 3.0 < Vv <10 km h-1. It was found that the air temperature allows for satisfactory spraying periods of between 18:00 to 09:00 in winter and in summer is not limited. The relative humidity is the main limiting factor for spraying between March and October, since the bad times vary over the months, depending on leaf wetness and evaporation. The influence of wind speed is greater at times of high net radiation, indicating how critical periods the interval 10:00 to 15:00 h due to the great predominance of wind gusts, and limiting only in winter. The predominant wind directions are north and northeast for spring/summer and northeast and southeast in autumn/winter. Keywords: time series, application technology, agricultural spraying. ___________________________________________________________________________ 1 Universidade Federal de Mato Grosso – Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais, Campus de Sinop, Distrito Industrial, Sinop (MT). CEP: 78557-267. *E-mail: [email protected]. Autor para correspondência. 2 Instituto Federal do Mato Grosso – Campus São Vicente, Br 364, km 329, São Vicente da Serra, Cuiabá, (MT). CEP: 78106-000. Recebido em: 30/08/2012. Aprovado em: 10/04/2013. Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 06, n. 01, p.72 – 88, jan/abr. 2013. Planejamento da pulverização... INTRODUÇÃO A utilização de agroquímicos é um fator importante na obtenção de altas produtividades, todavia, requerem adequações as leis ambientais para minimização dos riscos potenciais de contaminação ao meio ambiente, aos operadores e consumidores, considerando os efeitos da produção, formulação, transporte, manuseio, armazenamento e aplicação dos defensivos (MOREIRA, 2010). Apesar de cada vez mais se exigir do produtor rural a utilização correta e criteriosa de agrotóxicos, o que se observa no campo é a falta de informação a respeito da tecnologia de aplicação. As aplicações podem, muitas vezes, produzir o efeito desejado, porém de forma ineficiente, porque não se utilizou a técnica ou equipamento mais adequado, o que poderia implicar no emprego de menor quantidade de ingrediente ativo (CUNHA et al., 2004; CUNHA et al., 2005). Estima-se que cerca de 50% dos agrotóxicos são desperdiçados, devido às más condições de aplicação (FRIEDRICH, 2004). Para Prado et al. (2010), em muitos casos, os problemas podem ser minimizados com a tecnologia adequada de aplicação, visto que, no controle químico de pragas, doenças e plantas daninhas, dar-se-á muita importância ao produto e pouca atenção a técnica de aplicação, permitindo diminuição da eficácia, quando não o fracasso total do tratamento, com superdosagens que podem acarretar prejuízos econômicos, devido ao desperdício de agroquímicos, danos ao ambiente e subdosagens que podem levar a perda de rentabilidade dos cultivos por falhas no controle. Em condições de campo, torna-se difícil controlar todas as circunstâncias ideais para a realização de uma pulverização, assim como também é complicado somente realizála quando todas as restrições estiverem sob controle. As condições ambientais, muitas vezes, mudam rapidamente dificultando o sucesso da aplicação (RUEDELL, 2002; PEREIRA; ANGELOCCI; SENTELHAS, 73 2006). Além dessas variáveis, especificamente, para garantir o êxito do controle químico com a aplicação de defensivos agrícolas é indispensável à definição do momento apropriado (time) para se fazer a aplicação. Para Sentelhas e Monteiro (2009) as condições meteorológicas influenciam na definição do momento ideal para aplicação de defensivos e torna-se imprescindível o uso das informações agrometeorológicas para o seu planejamento. Primeiramente, essas informações podem ser utilizadas para o planejamento dos cultivos (componente estratégico), tanto na escala macroclimática como topoclimática. Além disso, essas informações podem ser empregadas no processo de tomada de decisão quanto ao melhor momento/condição para a execução de diferentes práticas agrícolas (componente tático). Também podem permitir aos sistemas agrícolas adquirir maior capacidade para enfrentar condições meteorológicas adversas, tornando-os mais resilientes. Nesse contexto, os principais elementos meteorológicos que afetam os resultados de uma pulverização são a temperatura do ar, umidade relativa do ar, umidade do solo, velocidade do vento e a presença do orvalho. No Estado de Mato Grosso, normalmente a umidade relativa do ar é baixa entre os meses de maio e setembro, ficando abaixo de 60% que é considerado o valor mínimo necessário para pulverização (RUEDELL, 1995). Segundo Bonini (2003), pulverizações com fungicidas, principalmente, quando a temperatura for superior a 30° C, podem causar efeitos prejudiciais à cultura. Segundo Antuniassi (2005) as gotas podem ser classificadas em três grupos considerando as variações de temperatura e umidade relativa do ar, como segue: i) muito finas ou finas: recomendadas para aplicações em temperaturas abaixo 25° C e umidade relativa acima de 70%; ii) finas ou médias: para condições de temperatura entre 25 a 28° C e umidade relativa entre 60 a 70% ; iii) média ou grossa: para momentos com Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 06, n. 01, p.72 – 87, jan/abr. 2013. R. B. Santos et al. temperaturas acima de 28° C e umidade relativa abaixo de 60% (ANTUNIASSI; BOLLER, 2011). Para a maioria dos casos, devem ser evitadas aplicações com umidade relativa inferior a 50% e temperatura ambiente maior que 30º C, e ainda, com velocidades do vento, oscilando entre 3 e 10 km h-1 (ANDEF, 2004). O conhecimento sobre as condições ambientais adversas são de suma importância na hora da aplicação de fungicida, para que ocorra uma adequação da tecnologia de aplicação às condições climáticas. A maior parte das aplicações de defensivos agrícolas é restrita a uma janela de aplicação, onde há uma maior chance de restrições operacionais ao trabalho no campo, este período normalmente coincide com grande incidência de chuva e também com maior necessidade da utilização dos equipamentos de pulverização (SANTOS, 2007). Alguns fatores climáticos requerem atenção no momento do planejamento das aplicações, pois interferem no comportamento de deposição das gotas e na sua duração efetiva. De acordo com o diâmetro das gotas e as condições de temperatura e umidade relativa do ar no momento da aplicação, o líquido poderá sofrer evaporação direta antes de atingir o alvo. Portanto, faz-se necessário ajustar o volume de aplicação e o diâmetro das gotas, conforme as condições climáticas de cada região ou estações do ano (SANTOS, 2007). Tendo em vista essas características, têm-se a necessidade de desenvolver estratégias diferenciadas para cada tipo de aplicação, transporte e deposição das gotas, a fim de conseguir a colocação correta do produto no alvo e aumentando significativamente a eficiência com minimização dos riscos ambientais (RODRIGUES; ABI SAAB; GANDOLFO, 2011). Por conseguinte, este trabalho objetivou caracterizar a evolução diurna da temperatura do ar, umidade relativa do ar, radiação global e velocidade do vento ao longo do ano e avaliar as freqüências de 74 ocorrências de horários de temperatura do ar, umidade relativa do ar e velocidade do vento satisfatórias para a realização de aplicações de fungicidas, permitindo assim, propiciar subsídios para o planejamento das pulverizações na região de Sinop, MT. MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi desenvolvido em uma base composta pelos dados meteorológicos da estação (A917) do município de Sinop, Estado de Mato Grosso, no período de dezembro de 2006 a dezembro de 2011. A estação meteorológica automática está localizada nas coordenadas 11,98°S e 55,56°W, com altitude 371m. O clima da região é do tipo tropical quente e úmido (Aw, segundo classificação de Köppen), que é o tipo climático predominante do Centro-Norte do Estado de Mato Grosso e caracterizado pela presença de duas estações bem definidas: uma chuvosa (entre outubro a abril) e outra seca (de maio a setembro), e pela pequena amplitude térmica anual, com médias mensais oscilando entre 24º C e 27º C, sendo os meses de setembro e outubro os mais quentes com temperaturas máximas ao redor de 36 ºC (SOUZA; CASAVECCHIA; STANGERLIN, 2012). A precipitação média anual é de 2000 mm, sendo acima de 50% entre os meses dezembro e fevereiro e cerca de 1% ocorrem historicamente, entre junho e agosto (MIRANDA et al., 2004; PRIANTE FILHO et al., 2004). A estação meteorológica está equipada com os seguintes sensores: radiação solar global (piranômetro CM23 da Kipp & Zonnen) a 2,0m de altura, velocidade e direção do vento (anemômetro, 03002-L RM Young) a 10 metros de altura, psicrômetro com abrigo termométrico (Vaisala, mod. CS 215) a 2,0m de altura e pluviógrafo (TE 525) a 1,50m de altura, dentre outros. Todos esses sensores foram conectados a um sistema de aquisição de dados CR 1000 da Campbell Scientific. A base de dados na partição horária foi disponibilizada pela rede de estações automática do INMET (disponível em: Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 06, n. 01, p.72 – 87, jan/abr. 2013. Planejamento da pulverização... http://www.inmet.gov.br/sonabra/maps/pg_au tomaticas.php). Os dados foram empregados para obtenção dos valores médios, máximos e mínimos diários das variáveis e, posteriormente, a evolução média mensal e média anual diurna com base nos valores médios, máximos e mínimos horários. Analisou-se a consistência da base de dados horária e os valores discrepantes e/ou falhas existentes foram eliminados, com auxílio de planilhas eletrônicas do Microsoft Excel®. Posteriormente, foram separados em meses de cada ano, horas em cada mês e valores médios diários das horárias. Para determinação das frequências relativas horárias de cada variável fizeram-se a distribuição de frequência percentual discretizada em diferentes classes (de acordo com a variável) e que corresponde ao valor da frequência absoluta dividida pelo número total de observações (Equação 1). Optou-se pela distribuição de frequência percentual, pois a base de dados possuía descontinuidades decorrentes do processo de eliminação de valores inconsistentes, quando foram removidos dados discrepantes decorrentes de erros de coleta. F= Fa × 100 N em que: F representa a frequência relativa (%); Fa é a frequência absoluta, correspondente ao número de observações para uma determinada variável e classe de variação; N é o número total de observações. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Figura 1, são apresentadas as evoluções médias mensais diurnas (considerando a hora solar) da temperatura máxima e mínima horária, e, por conseguinte, as tendências das amplitudes térmicas diárias. Nota-se que normalmente as temperaturas máximas ocorrem entre 14 e 15 horas, e as mínimas de 05 a 07 horas, independentemente do mês. Esse comportamento decorre do aquecimento da atmosfera próxima à superfície terrestre 75 ocorrer principalmente por transporte de calor sensível, a partir do aquecimento da superfície pelos raios solares, o que retarda o pico máximo de temperatura do ar quando comparado com pico máximo de radiação global ou saldo de radiação (PEREIRA; ANGELOCCI; SENTELHAS, 2002). Nos meses de inverno (junho, julho e agosto) ocorreram às maiores amplitudes térmicas. Como o vapor d’água apresenta um grande potencial de atenuação da radiação na atmosfera, durante os meses de verão ou período chuvoso, as diferenças entre temperaturas noturnas e diurnas são menores, com amenização principalmente da temperatura máxima em decorrência das alterações nos totais das componentes direta e difusa com a nebulosidade. Observou-se também que a temperatura média ao longo do dia apresenta valores próximos a temperatura máxima e a mínima no início e final do período de exposição de brilho solar, respectivamente. Os menores desvios são observados durante o inverno em função da maior estabilidade da cobertura de céu. Segundo Garcia et al. (2010) quando ocorre a maior exposição na ausência de raios solares sobre o plano de horizonte, evidenciam-se os maiores desaquecimentos da superfície (decorrentes da emissão de radiação de ondas longas terrestres) e consequentemente as menores temperaturas solo. Todavia, para o comportamento da temperatura do ar esse efeito é retardado, visto que os sensores de medida são instalados a 2 metros de altura. As maiores temperaturas médias foram registradas às 12h e às 15h em agosto e setembro (34,41° C) e as menores às 3h e às 7h em junho, julho e agosto (13,42° C). Já as temperaturas máximas médias foram registradas às 11h e às 17h em agosto e setembro (36,38° C) e os menores valores médios ocorreram às 05h e às 07h do mês de julho (18,31° C). Por sua vez, as menores temperaturas registradas na região durante o período estudado ocorreram em julho às 07h (11,1° C) e os extremos máximos foram registrados no dia 09/09/2008 às 13h (38,8° C). Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 06, n. 01, p.72 – 87, jan/abr. 2013. R. B. Santos et al. 40 Tmax Tmin 32 28 24 20 16 Fevereiro 32 28 24 20 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 0 2 4 6 8 10 Hora 14 16 18 20 22 28 24 20 0 6 8 10 12 14 16 18 20 22 28 24 20 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 20 16 10 12 14 16 18 20 22 28 24 20 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 20 16 8 10 12 10 14 16 18 20 22 24 12 14 16 18 20 22 24 Setembro 28 24 20 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 40 Novembro Tmax Tmin 36 32 28 24 20 16 6 8 Tmax Tmin 0 Temperatura do ar (°C) Temperatura do ar (°C) 24 4 6 Hora Tmax Tmin 36 28 2 4 32 24 40 0 2 16 0 Outubro 32 24 Junho Hora Tmax Tmin 36 22 20 36 Hora 40 20 24 Agosto 32 24 18 28 0 16 8 16 32 24 Temperatura do ar (°C) Temperatura do ar (°C) 28 14 40 36 32 12 Hora Tmax Tmin Julho 6 10 16 0 40 4 8 Hora Tmax Tmin 2 6 Tmax Tmin 36 32 24 40 0 4 40 Hora 36 2 Maio 16 4 20 24 Temperatura do ar (°C) 32 2 24 Hora Tmax Tmin 36 Temperatura do ar (°C) Temperatura do ar (°C) Abril 16 Temperatura do ar (°C) 12 40 Tmax Tmin 0 28 Hora 40 36 32 16 16 0 Março Tmax Tmin 36 Temperatura do ar (°C) 36 Temperatura do ar (°C) Temperatura do ar (°C) 40 40 Janeiro Tmax Tmin 36 Temperatura do ar (°C) 76 Dezembro 32 28 24 20 16 0 2 4 6 8 10 Hora 12 Hora 14 16 18 20 22 24 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 Hora Figura 1 – Evolução média mensal horária das temperaturas máximas e mínimas do ar, em Sinop-MT (período de medidas:12/2006 a 12/2011). Ao longo dos meses de verão (safra principal), os desvios indicaram que as 10h e a partir das 17h, as temperaturas máximas observadas são inferiores aos limitantes máximos para pulverização (30° C). Em janeiro, fevereiro, março, outubro, novembro e dezembro, o tempo disponível para aplicação ao longo do dia é maior, devido às menores amplitudes térmicas e as temperaturas serem mais amenas quando comparadas com os meses da estação seca. Contudo, vale ressaltar que para plantios de safrinha (normalmente as pulverizações de defensivos agrícolas serão concentradas nos meses de março, abril, maio e junho), os períodos sem restrição pela temperatura do ar tendem a diminuir principalmente no período da tarde. Nos plantios irrigados (estação seca) devem-se aumentar os cuidados, visto que, entre às 10h e 18h dos meses de junho, julho, agosto e setembro, ocorrem restrições pelas altas temperaturas e baixa umidade do ar, que possibilitam a evaporação do produto antes que este chegue ao alvo. Para a agricultura, a umidade do ar para determinadas condições ambientais apresentam efeitos significativos nas relações entre plantas, pragas e/ou doenças, e consequentemente, sobre a qualidade das intervenções realizadas sobre essas relações. Em geral, quando se menciona a palavra umidade no contexto de massa de ar, faz-se referência à umidade relativa, que é dada pela relação entre a quantidade de vapor d’água existente no ar e o total necessário para a sua saturação, em condições constantes de Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 06, n. 01, p.72 – 87, jan/abr. 2013. Planejamento da pulverização... temperatura e pressão. Para um mesmo conteúdo de vapor d’água no ar, a umidade relativa do ar é inversamente proporcional à temperatura, sendo também um indicador da condição de saturação (PEREIRA; ANGELOCCI; SENTELHAS, 2002; VAREJÃO-SILVA, 2005). Na análise da umidade relativa do ar considera-se a dependência exponencial em relação à temperatura dada pela equação de Tétens, perfazendo que o aumento ou redução da umidade relativa do ar não significa ter havido uma mudança na concentração de vapor d'água do ar, ou ainda, com o aumento da temperatura, ocorre à expansão da massa de ar e aumenta a capacidade de conter vapor d’água (pressão de saturação – es), contudo, a umidade relativa do ar diminui em função da pequena variação da pressão parcial de vapor d’água (ea) e vice-versa. Como consequência desse efeito, deve-se esperar que a umidade relativa diminuísse, a partir do nascimento do Sol, atingindo o valor mínimo nas horas mais quentes do dia, voltando a aumentar em seguida, apenas por efeito térmico (Figura 2). Segundo Lado et al. (2007), a hora do dia tem uma influência importante nos níveis de umidade relativa. Nas primeiras horas da manhã, as temperaturas estão mais baixas e os níveis de umidade relativa mais alta. À medida que as horas do dia evolui, a temperatura começa a aumentar e a umidade relativa começa a diminuir. No meio da tarde, as temperaturas estão em seu valor máximo e a umidade relativa atinge seu valor mínimo. Na Figura 2, são apresentadas as curvas mensais horárias da umidade relativa (UR) máxima e mínima do ar para o município de Sinop. No inverno (junho, julho, agosto e setembro) e verão (dezembro, janeiro, fevereiro e março) os níveis da UR ao longo do dia são inferiores e superiores a 50% (considerando os desvios), respectivamente. Essas diferenças observadas entre as duas estações são justificadas pelo fato de que UR é o principal indicador da formação e/ou presença de vapor d’água na atmosfera, nuvens e, consequentemente, das precipitações pluviais. 77 Entre 24h e 06h dos meses de verão, os valores máximos e mínimos de UR são semelhantes, sendo que, não ocorreu simetria com o período entre 18h e 24h em função do aquecimento do ar proveniente do fluxo de calor do solo. Nos meses de inverno, altera-se esse comportamento, com proximidades dos valores de URmax e URmin entre 10h e 18h, que por sua vez, decorrem do aquecimento do ar em função da maior incidência de radiação solar direta. Nesse caso, a massa de ar aquece, expande e tende a aumentar a sua capacidade em conter vapor d’água, todavia, as pressões parciais de vapor d’água para o período são baixas em função das menores taxas de perda de água do sistema soloplanta-atmosfera. Ao meio dia local, as diferenças entre os valores máximos e mínimos de UR média foram de 6,7%; 6%; 10,8% e 10,3% para novembro, dezembro, janeiro e fevereiro, respectivamente, contudo, os valores mínimos foram superiores a 30, 43, 49 e 44%. Em geral, na estação seca, a UR foi igual no ciclo noturno quando comparados com os meses da primavera e outono. Quanto a UR, os períodos de restrição para aplicações de defensivos agrícolas são concentrados entre os meses de abril e outubro, indicando que na safra principal da região, normalmente essa variável não é a limitante para pulverizações quando enfocase o potencial de evaporação das gotas. Contudo, UR elevadas propiciam a deposição do vapor d’água na superfície vegetal através do orvalho, possibilitando a germinação dos esporos dos fungos e a penetração do tubo germinativo através dos estômatos das folhas (PEREIRA; ANGELOCCI; SENTELHAS, 2002; SENTELHAS; MONTEIRO, 2009). Nesse processo, a duração com que o orvalho permanece sobre a cultura é mais importante do que sua quantidade e é definida com base na Duração do Período de Molhamento (DPM), sendo classificada da seguinte forma: i) curta duração: DPM < 6 horas; ii) média duração: 6 ≤ DPM ≤ 10 horas; e iii) longa duração: DPM > 10 horas. Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 06, n. 01, p.72 – 87, jan/abr. 2013. R. B. Santos et al. Por conseguinte, entre junho e setembro, os níveis de UR não são favoráveis para pulverizações com volumes muito pequenos e/ou gotas muito finas, pois aumenta o risco de perdas, principalmente por evaporação direta. No entanto, de outubro a maio, volumes altos e/ou gotas grandes podem ocasionar saturação da calda sobre as folhas com diluição e posterior escorrimento. 100 100 90 90 90 80 70 60 50 40 30 URmax URmin 20 10 Janeiro 0 80 70 60 50 40 30 20 URmax URmin 10 Fevereiro 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 0 2 4 6 8 10 70 60 50 40 30 20 12 14 16 18 20 22 0 24 100 90 90 80 70 60 50 40 30 URmax URmin Abril 0 80 70 60 50 40 30 20 URmax URmin 10 Maio Umidade relativa do ar (%) 100 90 10 0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 70 60 50 40 30 URmax URmin Julho 0 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 20 60 50 40 30 20 URmax URmin 10 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 6 8 10 12 8 10 14 16 18 20 22 24 12 20 22 14 16 18 20 14 16 18 20 24 60 50 40 30 20 URmax URmin 10 0 2 4 Setembro 6 8 10 80 70 60 50 40 30 20 URmax URmin 10 12 22 24 Hora Novembro 0 4 18 Junho 6 70 24 Umidade relativa do ar (%) Outubro 0 2 4 0 0 Umidade relativa do ar (%) URmax URmin 0 2 80 90 10 16 24 90 100 30 14 URmax URmin 10 90 40 22 30 100 50 20 40 90 60 18 50 100 70 16 60 Hora 80 14 100 Agosto 70 24 12 Hora 80 Hora 20 10 70 0 0 2 8 80 24 Umidade relativa do ar (%) 90 80 Umidade relativa do ar (%) 100 90 0 Março 6 Hora 100 10 4 0 Hora 20 2 Hora 100 20 URmax URmin 10 Hora Umidade relativa do ar (%) Umidade relativa do ar (%) Hora Umidade relativa do ar (%) 80 0 0 0 Umidade relativa do ar (%) Umidade relativa do ar (%) 100 Umidade relativa do ar (%) Umidade relativa do ar (%) Segundo Pereira, Angelocci e Sentelhas (2002) uma forma indireta de se determinar a DPM em condições naturais (isto é, molhamento por orvalho) é através da relação direta com o Número de Horas de Umidade Relativa igual ou maior que 95% (NH UR ≥ 95%). A maioria das doenças de plantas exige uma seqüência de dias com DPM maior que 10 horas. 78 80 70 60 50 40 30 20 URmax URmin 10 Dezembro 0 0 2 4 6 8 Hora 10 12 Hora 14 16 18 20 22 24 0 2 4 6 8 10 12 22 24 Hora Figura 2 – Evolução média mensal horária da umidade relativa máxima e mínima do ar, em Sinop-MT (período de medidas: 12/2006 a 12/2011). A Figura 3 apresenta a evolução diurna da radiação global e da radiação no topo da atmosfera para a horizontal. A variabilidade entre as curvas médias diurnas nos meses indica como a cobertura do céu (nuvens, vapor de água e aerossóis) interfere na transmissão da radiação global ao longo do ano. Os níveis energéticos no topo da atmosfera local possuem valores máximos e mínimos ao meio dia solar de 5,01 e 3,95 MJ m-2 h-1 nos meses de janeiro e junho, decorrentes da variação astronômica dos movimentos terrestres ao longo do ano, perfazendo a média anual (nesse mesmo horário) de aproximadamente 2,62 ± 0,18 MJ m-2 h-1. A avaliação da radiação global incidente no planejamento de pulverizações agrícolas é fundamental, pois norteia a energia disponível no ambiente para Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 06, n. 01, p.72 – 87, jan/abr. 2013. Planejamento da pulverização... primavera, apresentam menores concentrações de nuvens e vapor d’ água, e conseqüentemente, a evolução diurna da radiação global apresenta-se simetricamente semelhante ao comportamento da radiação no topo da atmosfera. No meio dia solar, foram observados os seguintes valores de radiação global: 2,81; 2,71; 2,66; 2,56; 2,43; 2,33; 2,35; 2,62; 2,77; 288; 2,61 e 2,76 MJ m-2 h-1, entre janeiro e dezembro, respectivamente. Os desvios da radiação global foram menores em maio, junho, julho e agosto, indicando menores variações da cobertura de céu. vaporização das gotas. Em geral, o calor latente de vaporização depende de condições geográficas e atmosféricas locais (considerando a pressão exercida pelos constituintes atmosféricos). Sabe-se que em condições de referência de temperatura e pressão são necessárias aproximadamente 590 calorias para vaporizar 1,0g de água, perfazendo, portanto, na necessidade média de 0,246 MJ kg-1 de água (PEREIRA; ANGELOCCI; SENTELHAS, 2002). Os meses de maio, junho, julho e agosto (período seco) e/ou das estações transicionais outono-inverno e inverno5,5 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 -1 4,0 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 8 10 12 14 16 18 6 8 10 12 Hora 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 14 16 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 8 10 12 14 16 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 14 16 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 Hora 8 10 12 14 16 18 14 16 18 Global Topo 4,5 Setembro 4,0 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 Hora Global Topo 4,5 5,0 Novembro 4,0 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 12 0,5 5 Radiação solar (MJ m-2 hora-1) Radiação solar (MJ m-2 hora-1) 3,5 10 1,0 5,5 5,0 Outubro 4,0 8 1,5 Hora Global Topo 6 Junho 2,0 19 5,5 4,5 18 0,0 5 5,5 16 2,5 5,0 Agosto 3,5 18 14 Hora Global Topo 4,0 Hora 5,0 12 3,0 6 0,0 12 10 Global Topo 3,5 18 Radiação solar (MJ m-2 hora-1) Radiação solar (MJ m-2 hora-1) -2 -1 Radiação solar (MJ m hora ) 2,5 10 8 5,5 4,5 Julho 3,0 8 0,5 0,0 6 5,0 6 1,0 Hora Global Topo 3,5 1,5 4,0 3,5 18 4,5 4,0 2,0 4,5 0,0 12 2,5 Hora Radiação solar (MJ m-2 hora-1) -2 3,5 10 3,0 6 -1 4,0 8 3,5 18 Maio Hora -1 16 Global Topo 4,0 Radiação solar (MJ m hora ) Radiação solar (MJ m-2 hora-1) Abril 0,0 -2 14 4,5 Global Topo 6 Março 4,0 Hora 5,0 4,5 Global Topo 4,5 0,0 0,0 6 Radiação solar (MJ m hora ) 5,0 -2 4,0 Fevereiro Global Topo 4,5 Radiação solar (MJ m hora ) Radiação solar (MJ m-2 hora-1) -2 5,0 Janeiro Global Topo 4,5 -1 Radiação solar (MJ m hora ) 5,5 5,5 5,0 79 Global Topo 4,5 Dezembro 4,0 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 6 8 10 12 Hora 14 16 18 6 8 10 12 14 16 18 Hora Figura 3 – Evolução anual horária da radiação no topo da atmosfera e da radiação global, em Sinop-MT (período de medidas: 12/2006 a 12/2011). A Figura 4 apresenta os valores praticamente todos os meses, os valores horários médios para a velocidade do vento e médios atendem as recomendações indicadas para as rajadas de vento. Nota-se que em para pulverização (superiores a 3 e inferiores Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 06, n. 01, p.72 – 87, jan/abr. 2013. R. B. Santos et al. a 10 km h-1). Os maiores valores médios ocorreram em outubro (8,15m s-1) e fevereiro (6,80 m s-1). As maiores e menores médias noturnas foram registradas em agosto (1,59 m s-1) e abril (0,73 m s-1), sendo que, nesses 10 10 7 6 5 4 3 2 1 0 7 6 5 4 3 2 1 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 0 2 4 6 8 10 Hora 14 16 18 20 22 5 4 3 2 1 6 8 10 12 14 16 18 20 22 8 6 5 4 3 2 1 Julho 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 5 4 3 2 1 0 14 16 18 20 22 6 5 4 3 2 1 24 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 4 3 2 1 0 6 8 10 12 4 3 2 1 2 4 6 8 10 14 16 18 20 22 24 12 14 16 18 20 22 24 Setembro 8 7 6 5 4 3 2 1 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 10 Novembro 8 9 Dezembro 8 -1 7 6 5 4 3 2 1 0 4 24 5 0 Velocidade do vento (m s ) 5 22 6 24 -1 6 20 Hora 9 Velocidade do vento (m s ) -1 7 18 9 10 Outubro 8 16 Junho Hora 9 14 0 0 10 12 -1 7 Hora 2 10 10 0 0 8 7 0 Agosto 8 -1 6 12 8 24 Velocidade do vento (m s ) Velocidade do vento (m s ) -1 7 10 6 Hora 9 8 8 4 Hora 9 6 2 Rajada VVmed 9 10 4 1 0 0 Hora 2 2 -1 7 24 10 0 3 10 Maio 0 4 4 0 Velocidade do vento (m s ) 6 2 5 24 -1 7 0 6 Hora Rajada VVmed 9 Velocidade do vento (m s ) -1 Velocidade do vento (m s ) Abril 0 Velocidade do vento (m s ) 12 10 Rajada VVmed 8 7 Hora 10 9 Março 0 0 0 Rajada VVmed 8 -1 -1 8 9 Fevereiro Rajada VVmed Velocidade do vento (m s ) Velocidade do vento (m s ) 8 9 Janeiro -1 Velocidade do vento (m s ) dois meses, as médias diurnas foram de 2,12 e 1,27 m s-1. Ao longo do ano, os ventos diurnos foram superiores aos noturnos, com maiores intensidades nas horas mais quentes do dia (entre 12h e 17h). 10 Rajada VVmed 9 Velocidade do vento (m s ) 80 7 6 5 4 3 2 1 0 0 2 4 6 8 Hora 10 12 14 16 Hora 18 20 22 24 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 Hora Figura 4 - Valores horários médios para a velocidade do vento e para a rajada, em Sinop, MT (período de medidas: 12/2006 a 12/2011). A tendência da velocidade do vento diurno ser maior do que a velocidade do vento noturno se justifica porque o aquecimento do solo ao longo do dia aquece o ar, o ar quente como é menos denso sobe, e esse espaço é ocupado por um ar mais frio. Acarretando um gradiente térmico que, em seguida, origina um gradiente de pressão fazendo com que o deslocamento do ar a partir da zona de pressão mais elevada para a zona de pressão mais baixa. À noite, como esse gradiente é menor, as velocidades dos ventos também é menor (VAREJÃO-SILVA, 2005). Munhoz e Garcia (2008), estudando a velocidade média diurna e noturna em Ituverava-SP (20°20’31’’S, 47°46’07’’W, 619m), obtiveram velocidades médias anuais de 2,2 m s-1 (período diurno) e 1,3 m s-1 (período noturno) e concluíram que nos meses mais quentes (setembro a fevereiro) os ventos diurnos foram maiores do que os Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 06, n. 01, p.72 – 87, jan/abr. 2013. Planejamento da pulverização... noturnos entre 36% e 55%, enquanto que, nos meses mais frios (março a agosto), a diferença diminui, mas os ventos diurnos ainda foram maiores do que os noturnos (entre 31% e 53%). Em Tangará da Serra-MT (14°39’S, 57°25’W, 321,5m), Dallacort et al. (2010) verificaram valores médios anuais superiores aos observados em Ituverava-SP, com médias anuais diurnas e noturnas iguais a 3,4 e 2,5 m s-1. Em Sinop-MT, observaram-se valores médios anuais menores que as duas regiões, com velocidades médias anuais de 1,07 e 1,62 m s-1 para os períodos noturnos e diurnos. Essas diferenças ocorreram em função das características de relevo, visto que, Tangará da Serra (MT) apresenta topografia suavemente ondulada e montanhosa em função da disposição entre as serras de Tapirapuã e dos Parecis, enquanto que, Sinop-MT apresenta topografia plana em aproximadamente 95% da sua extensão territorial. As principais rajadas de ventos ocorrem em fevereiro, junho, julho e agosto, principalmente em horários próximos ao meio dia local. Os meses de julho e agosto apresentaram ventos com intensidades de 13,68 km h-1 e 6,35 m s-1. 81 As direções predominantes do vento ao longo do ano no município de Sinop são apresentadas na Figura 05. Nos meses de outubro, novembro, dezembro, abril, setembro e março ocorrem à predominância de ventos do Noroeste (NE). Em junho, julho e agosto, os ventos são oriundos do Sudeste (com frequências 38%, 40% e 35%) e do Nordeste (29%, 30% e 30%). Em janeiro e fevereiro observou-se uma homogeneização das direções de propagação, com 20% para o Norte (N) e Nordeste (NE) e 12% do Sudeste (SE). Em março e abril, a maioria dos ventos provém do Nordeste (32%) e do Sudeste (18%). Em Ponta Grossa, PR, Leite e Filho (2006) verificaram que nos meses do ano, a direção predominante de ventos foi no sentido Nordeste (NE) com percentuais de ocorrência variando entre 59,8% em agosto e 41,42% em fevereiro. A predominância de ventos Nordeste (NE) em escalas locais é observada em outras regiões, e estão relacionadas à formação de centros de pressão (baixa e alta) decorrentes das interações energéticas com a superfície (vegetação, recursos hídricos, solo, dentre outros). Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 06, n. 01, p.72 – 87, jan/abr. 2013. R. B. Santos et al. 0 0 Janeiro 315 45 20 10 270 90 10 20 30 40 225 45 10 270 90 10 20 30 225 180 180 0 0 Abril 45 Percentual de ocorrência (%) 10 270 90 10 20 30 40 225 315 50 10 270 90 10 20 30 225 Julho 10 270 90 315 10 20 30 10 270 90 10 20 30 225 10 270 90 315 10 20 30 135 20 10 270 90 10 20 30 40 45 20 10 0 270 90 10 20 30 225 135 Dezembro 225 135 50 180 45 315 40 30 0 Setembro 30 0 45 315 40 20 135 50 Percentual de ocorrência (%) 45 30 Percentual de ocorrência (%) Percentual de ocorrência (%) 225 Novembro 50 50 30 180 0 Outubro 50 225 20 180 0 40 90 50 180 0 270 40 135 50 315 0 10 40 20 40 135 50 40 10 0 45 30 0 45 20 Agosto Percentual de ocorrência (%) 20 225 315 30 50 40 Percentual de ocorrência (%) Percentual de ocorrência (%) 45 Junho 180 50 30 135 50 0 50 40 225 180 0 0 30 40 135 180 315 20 40 50 40 90 0 45 20 40 135 270 Maio 30 0 0 10 50 40 20 10 180 Percentual de ocorrência (%) 315 30 20 50 50 40 45 30 40 135 50 50 315 40 20 40 135 50 Percentual de ocorrência (%) 315 30 0 Março 50 40 30 Percentual de ocorrência (%) Percentual de ocorrência (%) 40 0 0 Fevereiro 50 Percentual de ocorrência (%) 50 0 82 30 20 10 0 270 90 10 20 30 40 225 135 50 180 180 Figura 6 – Distribuição percentual da direção do vento no município de Sinop-MT (período de medidas: 12/2006 a 12/2011). As frequências relativas de ocorrência de horários com valores de temperatura do ar, umidade relativa do ar e velocidade do vento em diferentes classes de distribuição para cada mês em condições ótimas para pulverização de defensivos agrícolas são apresentadas nas Tabelas 1, 2 e 3. Para a avaliação das distribuições de percentuais de ocorrências das diferentes variáveis meteorológicas, foram propostas quatro categorias de classificação para o planejamento da aplicação: i) ótima (80% a 100%); ii) boa (60% a 80%); iii) ruim (30% a 60%); iv) péssima (0% a 30 %). Observou-se que as freqüências relativas de horários ideais para pulverização Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 06, n. 01, p.72 – 87, jan/abr. 2013. Planejamento da pulverização... são semelhantes no período noturno, com exceção da estação seca local. Em geral, observaram-se os seguintes intervalos desfavoráveis para aplicações de defensivos agrícolas: janeiro – 14h a 16h; fevereiro – 13h a 16h; março – 11h a 17h; abril – 12h a 17h; maio – 11h a 17h; junho - 11h a 18h; julho – 10h a 18h; agosto – 10h a 19h; setembro – 10h a 19h; outubro – 11h a 18h; novembro – 12h a 17h; dezembro – na há 83 restrição por temperatura. Evidencia-se nesse caso, que na safra principal (período chuvoso) as restrições por temperatura do ar ocorrem entre 11h e 16h. Nesses horários, considerados desfavoráveis devem-se seguir as recomendações propostas por Antuniassi (2005) quanto ao Diâmetro Mediano Volumétrico (DMV) das gotas de pulverização. Tabela 1 – Frequência de horários com temperatura do ar em condições satisfatórias para aplicação de defensivos agrícolas em Sinop-MT (período de medidas: 12/2006 a 12/2011) Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Hora Jan 0 100 100 100 100 100 100 100 100 99,13 100 100 100 1 100 100 100 100 100 100 100 100 99,12 100 100 100 2 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 3 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 4 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 5 99,0 100 100 100 100 100 100 100 99,09 100 100 100 6 99,0 100 100 100 100 100 100 100 97,35 100 100 100 7 99,0 100 99,12 100 100 100 100 100 96,49 100 100 100 8 100,0 100 100 99,09 100 100 100 98,32 97,30 100 100 100 9 100,0 98,98 100 98,26 100 100 94,87 69,75 79,82 88,43 95,59 100 10 96,1 92,13 88,50 86,61 86,44 69,72 49,57 41,67 51,30 71,07 81,54 96,27 11 83,5 77,89 75,00 72,97 53,39 42,61 35,90 31,03 38,74 50,42 65,25 91,85 12 75,5 69,05 57,41 59,46 42,50 34,48 28,93 27,73 37,17 42,15 53,03 84,06 13 72,3 57,28 46,02 46,85 36,44 28,95 28,57 24,37 32,11 32,23 46,81 72,26 14 60,4 55,17 49,56 41,18 24,35 10,53 15,52 11,76 11,71 23,14 46,51 64,18 15 57,5 54,00 50,00 42,34 23,53 7,96 8,77 5,22 8,11 21,19 43,57 64,96 16 63,3 61,11 51,33 40,87 25,21 8,26 10,74 4,17 10,91 22,69 45,52 67,94 17 76,0 73,20 56,76 60,00 43,97 13,76 11,21 3,36 15,60 35,29 60,74 78,79 18 88,2 84,27 70,94 72,81 76,99 59,65 33,62 6,67 20,54 47,15 77,37 86,23 19 100 96,00 89,47 82,14 81,36 75,22 76,27 55,17 48,65 74,59 89,63 90,44 20 100 100 90,52 84,21 80,36 75,68 77,50 72,81 66,37 83,47 93,33 93,89 21 100 100 96,33 90,74 88,98 86,49 83,76 78,99 71,05 86,67 95,59 94,78 22 100 100 100 99,11 100 100 100 92,44 75,89 93,50 100 99,28 23 100 100 100 100 100 100 100 97,46 88,50 97,56 100 100 As restrições impostas pela umidade do ar são mais acentuadas quando comparadas com a temperatura, pois devem evidenciar tanto o potencial de evaporação quanto a perda por escorrimento na superfície da folha, diminuindo a eficiência de aplicação. Nesse sentido, momentos com UR superior a 95% também foram considerados como impróprios para a aplicação de fungicidas. Para tanto, observa-se uma inversão entre período chuvoso e seco. Entre novembro e março, as pulverizações são recomendadas entre 7h e 19h, enquanto que, em junho e julho os momentos favoráveis ocorrem entre 21h e 8h. Nos meses de agosto e setembro, os intervalos satisfatórios Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 06, n. 01, p.72 – 87, jan/abr. 2013. R. B. Santos et al. 84 diminuem para 4 e 8 horas no período baixos valores de UR, as aplicações devem noturno, respectivamente, impossibilitando ser planejadas para os períodos iniciais do assim o emprego de determinados dia. equipamentos. No inverno, período com Tabela 2 - Frequência de horários com umidade relativa do ar em condições satisfatórias para pulverizações de fungicidas em Sinop-MT (período de medidas: 12/2006 a 12/2011) Hora 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 Jan 5,15 11,11 5,26 4,95 3,67 1,98 0,00 10,78 67,65 88,35 93,14 93,20 95,10 91,09 84,16 81,13 84,69 85,58 86,27 65,05 50,52 45,54 36,08 21,78 Fev 19,35 16,13 11,70 1,10 2,15 3,19 4,26 12,50 48,86 78,57 88,76 91,58 88,10 82,52 81,61 71,00 75,56 81,44 79,78 74,00 55,17 44,21 37,63 24,47 Mar 34,78 25,89 15,93 9,73 6,67 6,14 6,31 14,91 57,66 71,05 72,57 68,52 62,96 69,03 68,14 67,54 66,37 71,17 82,91 84,21 73,28 68,81 4,00 48,18 Abr 50,00 32,46 21,05 20,54 7,89 6,96 8,77 16,67 50,91 65,22 67,86 61,26 72,07 77,48 71,43 73,87 73,04 76,36 80,70 74,11 65,79 65,74 59,82 54,39 Mai 77,24 72,03 59,35 52,46 43,80 34,75 27,05 43,80 68,91 76,27 62,71 47,46 49,17 51,69 44,35 37,82 37,82 50,00 71,68 77,12 75,89 77,97 85,25 84,17 Jun 87,72 84,68 80,87 78,70 73,21 63,16 55,86 62,07 80,91 52,25 34,86 23,48 30,17 30,70 10,53 9,73 7,34 9,17 21,05 45,13 57,66 68,47 76,99 89,57 Para a velocidade do vento, verificouse percentuais de ocorrência de condições satisfatórias (variações entre 3,0 e 10 km h-1) oscilando entre 15 e 71%. As maiores freqüências de velocidades satisfatórias foram obtidas no período da manhã. Contudo, Jul 80,00 87,39 88,14 92,50 89,83 91,45 87,50 91,53 71,79 41,03 26,09 24,79 26,45 21,01 10,34 4,39 4,13 5,17 5,17 13,56 28,33 42,74 57,26 70,69 Ago 26,96 42,15 52,07 60,34 72,73 76,86 78,51 84,30 57,14 38,66 30,00 26,96 25,21 15,13 6,72 1,74 2,50 1,68 2,50 7,76 11,40 12,61 14,29 17,80 Set 52,17 61,40 65,52 67,86 77,48 78,18 76,99 86,84 81,98 60,53 50,43 43,24 37,17 33,94 23,42 12,61 9,09 13,76 18,75 29,73 39,82 41,23 43,75 52,21 Out 73,98 72,27 63,87 57,38 54,92 52,10 45,38 68,55 79,51 79,34 70,25 56,30 52,89 47,93 39,67 34,75 34,45 45,38 57,72 72,13 75,21 75,00 78,86 77,24 Nov 55,47 43,57 33,81 37,31 33,82 32,35 31,06 48,18 60,61 64,71 63,08 63,83 64,39 69,50 78,29 75,71 72,39 82,22 87,59 81,48 74,81 74,26 62,32 60,58 Dez 25,36 23,94 14,93 16,20 21,48 25,37 26,24 36,30 59,56 70,59 70,90 74,81 84,06 84,67 86,57 86,13 82,44 78,79 76,09 65,44 51,91 42,54 36,23 31,34 para minimizar os efeitos adversos do vento, pode-se ainda empregar equipamentos para aumentar a estabilidade do ar e melhorar a uniformidade da pulverização com menores derivas (CHRISTOVAM, 2008). Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 06, n. 01, p.72 – 87, jan/abr. 2013. Planejamento da pulverização... 85 Tabela 3 – Frequência de horários com velocidade do vento em condições satisfatórias para pulverizações de defensivos agrícolas em Sinop-MT (período de medidas: 12/2006 a 12/2011) Hora 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 Jan 42,27 48,15 45,26 48,51 39,45 43,56 39,00 54,90 61,76 60,19 58,82 66,99 55,88 52,48 58,42 53,77 48,98 52,88 44,12 59,22 50,52 53,47 52,58 49,50 Fev 45,16 44,09 56,38 50,55 46,24 44,68 38,30 46,88 46,59 52,04 43,82 45,26 51,19 51,46 44,83 44,00 40,00 45,36 50,56 48,00 51,72 49,47 50,54 56,38 Mar 47,83 46,43 46,90 35,40 31,67 35,09 35,14 38,60 51,35 59,65 50,44 44,44 52,78 49,56 55,75 49,12 47,79 56,76 55,56 56,14 48,28 48,62 48,72 47,27 Abr 41,96 47,37 35,96 36,61 40,35 40,87 36,84 42,98 45,45 53,04 49,11 60,36 66,67 57,66 58,82 52,25 60,87 53,64 53,51 62,50 57,02 57,41 51,79 47,37 Mai 39,02 39,83 39,84 32,79 40,50 38,14 41,80 34,71 40,34 39,83 33,90 32,20 39,17 49,15 51,30 53,78 58,82 62,07 64,60 65,25 66,07 56,78 50,82 43,33 Jun 55,26 54,05 41,74 55,56 49,11 47,37 48,65 45,69 39,09 34,23 20,18 16,52 27,59 31,58 35,96 28,32 41,28 65,14 58,77 61,95 60,36 64,86 62,83 62,61 Jul 54,78 49,58 45,76 42,50 44,07 41,88 45,00 43,22 33,33 22,22 15,65 19,66 31,40 29,41 31,03 42,11 44,63 56,03 62,93 61,86 63,33 56,41 54,70 51,72 Ago 53,04 44,63 46,28 41,38 40,50 35,54 33,88 28,10 29,41 17,65 16,67 17,24 21,85 21,85 33,61 32,17 36,67 57,14 60,83 56,90 50,88 56,30 49,58 44,07 Set 65,22 50,00 49,14 43,75 42,34 45,45 53,98 44,74 41,44 35,96 34,78 40,54 37,17 41,28 41,44 40,54 43,64 54,13 56,25 52,25 55,75 64,04 63,39 62,83 Out 57,72 51,26 51,26 45,90 51,64 50,42 52,10 56,45 50,82 47,93 55,37 56,45 49,59 47,93 46,28 51,69 55,46 56,30 51,22 62,30 58,68 55,00 54,47 56,10 Nov 53,28 47,14 51,08 55,97 50,74 48,53 55,30 59,85 54,55 53,68 63,85 63,83 71,97 65,96 63,57 55,71 58,96 54,81 49,64 58,52 55,56 58,09 60,14 56,20 Dez 53,62 61,27 47,01 49,30 51,11 59,70 53,90 57,78 65,44 54,41 59,70 57,04 57,25 58,39 55,22 54,01 59,54 49,24 54,35 56,62 56,49 52,24 52,90 58,96 A velocidade média do vento é limitante apenas no inverno. As direções CONCLUSÕES predominantes do vento são Norte e Nordeste Na região de Sinop - MT, a para primavera/verão e Nordeste e Sudeste temperatura do ar permite períodos para outono/inverno, com alterações dos satisfatórios para aplicação de fungicidas percentuais ao longo dos meses. entre 18h a 9h no inverno e não limita no verão. A umidade relativa do ar é o principal AGRADECIMENTOS limitante para pulverizações em cultivos de segunda e/ou terceira safra, visto que, os A Coordenação Geral de períodos desfavoráveis são variáveis ao longo Agrometeorologia do Instituto Nacional de dos meses, em função do molhamento foliar e Meteorologia (INMET), pela da evaporação. disponibilização dos dados meteorológicos da A interferência da velocidade do rede de estações automáticas e convencionais vento é maior nos momentos com maior da região Norte e Noroeste do Estado de saldo de radiação, indicando como períodos Mato Grosso para o Grupo de Pesquisa críticos o intervalo entre 10h a 15h em função Interações Ambiente e Planta da da grande predominância de rajadas de Universidade Federal de Mato Grosso, ventos. Campus Sinop. Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 06, n. 01, p.72 – 87, jan/abr. 2013. R. B. Santos et al. 86 REFERÊNCIAS Meteorologia, São José dos Campos, v.25, n.3, p.359-364, 2010. 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