Introdução – Prof. Cristina Sena Homeostase

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Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I
Introdução
Introdução – Prof. Cristina Sena
- a fisiologia humana é o estudo de como o corpo humano funciona, com ênfase em
mecanismos específicos de causa-efeito; o conhecimento desses mecanismos foi obtido
experimentalmente através de aplicações do método científico
- os diferentes níveis de hierarquia da natureza são estudados por diversas disciplinas
(incluindo a fisiologia): os átomos dão origem às moléculas; as moléculas originam
células que, após divisão, crescimento e diferenciação celular dão origem a tecidos;
estes dão origem a órgãos, que se organizam em sistemas de órgãos que originam
organismos; estes dão origem a uma espécie de população; as várias espécies
originam ecossistemas de diferentes tipos de espécies e os ecossistemas organizam-se
na biosfera
- existem 10 sistemas de órgãos no nosso organismo, com diferentes funções, sendo que
todos eles estão inter-relacionados : sistema circulatório, respiratório, digestivo,
urinário, músculo-esquelético, imunitário, nervoso, endócrino, reprodutor,
intergumentar
- dos dez, há quatro sistemas em contacto directo com o exterior: urinário, reprodutor,
respiratório e digestivo Ö para sua protecção, estão revestidos pelo epitélio de
revestimento
- factores como a humidade e temperatura são muito importantes no funcionamento das
células
- para compreendermos a fisiologia humana, é necessário, primeiramente, conhecermos
alguns conceitos e mecanismos básicos
Homeostase
- as células individuais não são tolerantes a grandes variações Ö assim sendo, o
organismo mantém a composição do meio extracelular com pequenas variações, de
modo a manter o funcionamento celular apropriado Ö homeóstase
- assim sendo, a homeóstase é a manutenção do meio interno dentro de uma
determinada gama de valores Ö deste modo, existem mecanismos homeostáticos que
funcionam como uma resposta coordenada do organismo a variações, de modo a manter
a estabilidade interna
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Introdução
- postulados de Cannon :
ƒ
o sistema nervoso regula todas os mecanismos homeostáticos do organismo
ƒ
há necessidade de controlo tónico dos nossos parâmetros (que necessitam de ser
regulados)
ƒ
há necessidade de controlo antagónico
- existem dois métodos de regulação do meio interno:
ƒ
resposta a nível local – ocorre localmente, em resposta a estímulos das células
ƒ
arcos reflexos – resulta de respostas reflexas Ö passam para locais mais
longínquos
- o controlo dos parâmetros homeostáticos pode ser:
ƒ
controlo tónico – controlo muito rigoroso com um único sinal, em que a
frequência de um sinal tónico normalmente determina a magnitude da resposta
fisiológica; Exemplo: diâmetro dos vasos sanguíneas está sob controlo tónico –
aumentando a frequência do sinal neuronal, promove a vasoconstrição e à
medida que a frequência decresce, ocorre a vasodilatação (regulação do calibre)
ƒ
controlo antagónico – controlo através de moduladores positivos e
moduladores negativos; Exemplo: frequência cardíaca é controlada por
sistemas neuronais antagónicos – sinais simpáticos aumentam a frequência
cardíaca, sinais parassimpáticos diminuem a frequência cardíaca
consoante o o receptor ao qual se ligue o sinal químico, este pode induzir diferentes
efeitos, em diferentes tecidos do organismo
- feedback negativo – via onde a resposta celular contraria ou remove o estímulo inicial
Ö estabiliza o parâmetro a regular Ö homeostasia
Exemplo de um Mecanismo de Feedback Negativo
Estímulo
Resposta
Feedback Negativo
descida da
temperatura da água
o aquecedor liga
temperatura conduz ao
desligar do aquecedor
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Introdução
Exemplo de um Mecanismo de Feedback Negativo – Controlo da Secreção
Humoral
ingestão de alimentos
aumenta
glicose sanguínea
aumenta
secreção de insulina
aumenta
Feedback Negativo
entrada de glicose
no sangue
diminui
glicose sanguínea
- feedback positivo – destabiliza o sistema aumentando o estímulo em vez de o
diminuir ou remover Ö não é homeostático
Exemplo de um Mecanismo de Feedback Positivo – Trabalho de Parto
pressão do feto contra cervix
desencadeia
libertação de oxitocina
provoca
Feedback Positivo
fortes contracções uterinas
leva a que
feto exerce uma pressão superior
Sinalização Celular
- ligandos ligam-se a receptores membranares e induzem uma resposta intracelular
VER CADERNO BCMDH II (não me parece mto importante)
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Compartimentalização Celular
- diferentes processos ocorrem em diferentes locais, permitindo assim uma maior
eficiência nas diferentes actividades
Composição Química do Organismo
- o corpo humano é, basicamente, constituído pela combinação de quatro átomos
(elementos) : O (oxigénio), C (carbono), H (hidrogénio) e N (azoto)
- a combinação destes elementos resulta numa grande variedade de compostos
químicos; destes, os mais importantes para as células de mamífero são os hidratos de
carbono, as gorduras (lípidos), as proteínas e os ácidos nucléicos
Distribuição de Solutos nos Fluidos Corporais e Transporte de
Solutos
Composição dos Fluidos Corporais
- os fluidos corporais podem ser: intracelulares (67%) e extracelulares, podendo estes
últimos ser plasma (25%) ou fluido intersticial (8%)
- o fluido intracelular é constituído pelas biomoléculas e por outros iões (K+e Na+)
- o plasma é composto por proteínas, iões (Na+, K+, Cl- e Ca2+)
- o fluido intersticial é constituído pelos iões Na+, K+, Cl- e Ca2+
- estes iões e biomoléculas, bem como todas as outras substâncias que constituem os
fluidos, são solutos que passam através de membranas, sendo assim transportados de
uns fluidos para outros (p.e.: do fluido intracelular, para o fluido extracelular, como é o
caso do Na+)
Dinâmica Membranar
- a selectividade da membrana celular (dinâmica
membranar)
permite
aos
compartimentos
intracelular e extracelular possuir propriedades
químicas e eléctricas diferentes, para além de
regular as trocas
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- a bicamada lípidica, cuja parte polar está voltada para o exterior, é permeável a certas
substâncias (gases, água, moléculas polares pequenas e sem carga) e impermeável a
outras (moléculas polares grandes e sem carga, iões, moléculas polares carregadas)
assim, esta selectividade membranar e a existência de proteínas membranares
transportadoras permite às células manter uma composição interna que é muito
diferente da composição do fluido extracelular
Transporte de Solutos
- os solutos podem ser transportados através da membrana de diversas formas:
ƒ
difusão simples – processo simples em que as partículas de um soluto
atravessam a membrana, passando de regiões onde a concentração desse soluto é
maior, para regiões onde a concentração é menor, com tendência de as igualar
Ö diz-se, portanto, que esta difusão ocorre segundo gradiente de concentração,
não havendo gasto de energia; a taxa de difusão através da membrana depende
da solubilidade dessa substância na membrana e é directamente proporcional à
área de superfície da membrana e ao gradiente de concentração e inversamente
proporcional à espessura e resistência da membrana
ƒ
difusão facilitada – a superfície da membrana plasmática possui proteínas
especiais que reconhecem e transportam partículas (de maiores dimensões que
no caso na difusão simples) através da membrana, segundo gradiente de
concentração (de onde existem em maior concentração para onde existem em
menor concentração) Ö é um processo de facilitação em que não há gasto de
energia
ƒ
transporte activo – as
partículas movem-se contra o seu gradiente de
concentração Ö é portanto um mecanismo que necessita de energia
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- o transporte de um ião ou molécula carregada através da membrana plasmática é
condicionada pelo gradiente electroquímico:
ƒ
potencial de membrana
ƒ
carga da molécula ou ião
ƒ
gradiente de concentração
+
- o Na existe em maior concentração no fluido extracelular e o K+ no fluido intracelular
Ö assim sendo, segundo gradiente de concentração, o Na+ teria tendência a entrar na
célula e o K+ de sair
- para que tal não ocorra e as concentrações se mantenham (Na+intracelular < Na+extracelular e
K+intracelular > K+extracelular) é necessário que ocorra transporte activo, sendo tal
possibilitado pela bomba Na+/K+
- a bomba Na+/K+ é uma ATPase que
serve como transportador; esta ATPase
tem grande afinidade por Na+ e
também por K+, de modo que inicia o
processo unindo-se a três moléculas de
Na+ no interior da célula; na face
exterior da membrana, a molécula de
Na+ é libertada, ficando impossibilitada de regressar à célula, apesar do gradiente de
concentração
- simultaneamente, duas moléculas de K+ ocupam o lugar do sódio e são, por sua vez,
transportadas para o interior da célula, onde são libertadas, iniciando-se um novo ciclo
de transporte
Nota: passagem por difusão do sódio e do potássio nos sentidos dos gradientes
existem, porém, em quantidades muito menores que o processo ativo mencionado
- a bomba de Na+é importante em todas as células de mamíferos e desempenha um
papel fundamental na regulação do meio intracelular
- a bomba Na+/K+ é inibida, extracelularmente, pelo glicósido oubaína
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- em suma, o transporte de moléculas e iões pode ser:
ƒ
passivo
simples - transporte segundo gradiente de concentração, sem gasto
de energia, onde as partículas atravessam a membrana, sem
necessidade de transportadores
facilitada - transporte segundo gradiente de concentração, sem
gasto de energia, sendo o transporte mediado por proteínas ou
transportadores
ƒ
activo
primário – os transportadores ligam as partículas a transportar
numa face da membrana, onde ocorrem alterações conformacionais
e libertam a partícula transportada na outra face da membrana,
contra o gradiente de concentração, com gasto de energia (hidrólise
de ATP)
secundário – alguns transportadores utilizam o gradiente iónico da
bomba de Na+ para fornecer energia para o movimento da partícula
contra o seu gradiente de concentração
Osmose
- a osmose é um fenómeno em que um meio menos concentrado (menos soluto) cede
água rapidamente ao meio mais concentrado (mais soluto) através de membranas
semipermeáveis (permeáveis a água mas relativamente inpermeáveis ao soluto) Ö é um
tipo de transporte passivo, sem gastos de energia para a célula
- a água move-se livremente entre os compartimentos do nosso organismo Ö os
compartimentos estão em equílibrio osmótico
- por outras palavras, na osmose há passagem do solvente de onde em maior quantidade
(solução hipotónica) para onde está em menor quantidade (solução hipertónica)
- a pressão osmótica é a pressão que deve ser aplicada à solução para impedir a
passagem do solvente através da membrana semipermeável
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- quando duas soluções, com diferentes concentrações são separadas num mesmo
recipiente
por
uma
membrana
semipermeável,
ocorre,
espontaneamente, a passagem da água da solução de maior
concentração no sentido da solução menos diluída, até que ocorra o
equilíbrio Ö neste ponto de equilíbrio, a coluna de solução menos
concentrada estará relativamente, abaixo da coluna do lado da
solução mais diluída Ö para que não ocorresse movimento de água
através da membrana, era necessário aplicar uma força no lado para o qual a água
fluiria), correspondendo a pressão osmótica a essa pressão exercida
- a tonicidade é o efeito de uma solução (especialmente, uma com solutos nãopermeáveis) sobre o volume das células
(2)
(1)
(3)
ƒ
uma solução hipertónica faz a célula perder água, diminuindo seu volume Ö
plasmólise
ƒ
uma solução hipotónica faz a célula aumentar de volume Ö lise celular
ƒ
solução isotónica quando não causa mudança no volume da célula
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Movimento de Moléculas através do Epitélio
-
as
células
do
epitélio
são
polarizadas : de um lado têm a
membrana apical, que faz face ao
lúmen do órgão e do outro lado a
membrana
basolateral,
que
está
voltada para o fluido extracelular
- diferentes proteínas estão presentes
nas
duas
membranas,
com
propriedades distintas de transporte Ö
a polarização permite transporte
direccional
- exemplo:
ƒ
a glicose e os aminoácidos provenientes da dieta alimentar têm que ser
transportados do lúmen para o sangue, uma vez que são necessários para
produção de energia Ö esse transporte é efectuado pelos enterócitos, células
que revestem a superfície do intestino delgado
ƒ
por vezes, é necessário estas células promoverem o transporte dessas
susbstâncias, em condições em que a sua concentração é mais baixa no lúmen
do que no sangue
ƒ
entre duas células epiteliais existem junções fortes (zonas de oclusão), que são
locais impermeáveis a glicose e pequenos solutos Ö para serem absorvidas,
estas substâncias têm que passar através da célula Ö absorção transcelular
ƒ
existem diferentes sistemas de transporte na membrana apical e na membrana
basolateral:
Ö Membrana Apical : simporte (simultaneamente, glicose da dieta e
Na+ provenientes do lúmen, atravessam a membrana, entrando na célula)
Ö Membrana Basolateral : uniporte (glicose que vem da célula
atravessa a membrana em direcção ao sangue) e bomba Na+/K+
(restabelece o gradiente de Na+, em que sai Na+ para o sangue e entra K+)
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Endocitose
- a endocitose é um processo de transporte de moléculas grandes, que há a inclusão de
material por invaginação da membrana plasmática; existem dois processos de
endocitose: a pinocitose e a fagocitose
ƒ
Pinocitose - processo pelo qual a célula, graças às delgadas expansões do
citoplasma, engloba gotículas de líquido Ö formam-se, assim, vesículas
pinocíticas contendo líquido Ö o conteúdo das vesículas é transferido a pouco e
pouco para o hialoplasma, tornando-se as vesículas, sucessivamente, mais
pequenas até desaparecerem; muitas células exibem esse fenómeno, como, por
exemplo, os macrófagos e as células dos capilares sanguíneos
ƒ
Fagocitose - processo pelo qual a célula, graças à emissão de prolongamentos,
pseudópodes, engloba, no seu citoplasma, partículas sólidas Ö a partícula é
englobada gradualmente pelo pseudópode, formando-se uma vesícula fagocítica
(fagossoma), que se destaca e penetra no hialoplasma, onde se funde com
lisossomas, formando os fagolisossomas, que serão capazes de digerir o
material absorvido (os compostos úteis são transportados para o citoplasma; o
material não digerido permanece nas células como partículas ligadas à
membrana – corpos residuais); nos mamíferos, a fagocitose ocorre em células
especializadas, os fagócitos; no nosso organismo, a fagocitose ocorre nos
neutrófilos do sangue e nos macrófagos
- a endocitose é mediada por receptores, ocorrendo em depressões cobertas pela
proteína clatrina : os receptores reconhecem as substâncias e ligam-nas Ö o complexo
ligando-receptor migra para depressões cobertas por clatrina Ö membrana forma uma
vesícula Ö posteriormente, a clatrina e a membrana são recicladas
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Exocitose
- a exocitose é o processo inverso da endocitose, através do qual a célula pode expulsar
para o exterior substâncias/moléculas grandes
- o potencial de membrana de uma célula é uma importante variável fisiológica que
controla muitos processos celulares, nomeadamente, a secreção de moléculas
sintetizadas pelas células para o meio extracelular Ö essa secreção pode ocorrer de das
formas: por difusão simples (só é possível a moléculas que permeiem a membrana
celular) ou por exocitose ( as moléculas polares estão empacotadas em vesículas
secretoras que se fundem com a membrana plasmática, libertando, posteriormente, o seu
conteúdo para o espaço extracelular )
- a exocitose envolve vários passos:
formação de vesículas
(sintetizadas no Retículo
Endoplasmático Rugoso)
acoplamento com
a membrana
fusão com a
membrana plasmática
Secreção
Constitutiva
(contínua)
Secreção Regulada
(resposta a um sinal
específico – Ca2+)
recuperação da
vesícula vazia por
endocitose
Potencial de Repouso
- as células, em repouso, possuem uma concentração alta de potássio no seu interior,
devido à bomba de Na+/K+, sendo as suas membranas, essencialmente, permeáveis a K+
- como por cada três iões Na+ que passam para o exterior, entram dois iões para o
interior, o interior de célula é sempre negativo em relação ao exterior Ö a diferença de
potencial através da membrana, ou seja, o potencial da membrana, é gerada por difusão
dos iões K+ e por separação de carga Ö em repouso, os potenciais de membrana de um
neurónio são -70mV ( o potencial de membrana é medido em Volts ou milivolts)
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Introdução
- o potencial de membrana devido à difusão de um só ião é dada pela equação de Nerst;
assim sendo, para o K+:
EK =
[ ]
[ ]
RT K +
ln +
zF
K
0
= 26,7.ln
i
4
= −96,8mV
150
- contudo, as membranas celulares também são permeáveis a outros iões, sobretudo Na+
e Cl-; assim sendo, a equação de Goldman entra em consideração com esse facto:
Vm =
[ ]
[ ]
[
[
]
]
[ ]
[ ]
RT p ' K K + 0 + p ' Na Na + 0 + p ' Cl Cl −
ln '
F
p K K + i + p ' Na Na + i + p ' Cl Cl −
0
i
onde: p’ = permeabilidade
- a excitabilidade é a capacidade de gerar potenciais de acção
- a despolarização corresponde à fase em que o potencial da membrana aumenta (tornase positivo), por abertura dos canais de sódio e consequente entrada deste ião
- a hiperpolarização corresponde à fase em que o potencial da membrana se torna
ainda mais negativo do que o potencial em repouso
- a overshoot corresponde ao momento em que o potencial de membrana ultrapassou os
0mV
- a repolarização corresponde à fase em que o potencial da membrana diminui (tornase ainda mais negativo que inicialmente), por abertura dos canais de potássio e
inactivação dos canais de sódio
- o threshold é o valor de potencial necessário para gerar potenciais de acção
Potencial de Acção
- um pontencial de acção é uma breve despolarização de membrana, que se propaga, ou
seja, é conduzida sem decréscimo, ao longo de uma membrana excitável
- o potencial de acção apresenta as seguintes propriedades:
ƒ
é um processo de tudo ou nada - é independente do tipo de estímulo que o
provocou ou de qualquer outra situação simultânea; o estímulo precisa sim de
despolarizar para um limiar de voltagem (normalmente, 15 mV positivos
relativamente ao potenical de repouso) para que o potencial de acção seja activo
ƒ
têm amplitude constante - sempre da mesma intensidade uma vez que que os
potenciais de acção não se podem somar, sendo a informação codificada por
frequência e não por intensidade
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ƒ
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têm início por despolarização - quando alcançado o limiar de activação,
produz-se a abertura de "canais" de cálcio na membrana celular; esta entrada de
Ca2+ produz a abertura de canais de Na+, entrando este para o citoplasma Ö
potencial de membrana positivo
Nota : os potenciais de acção podem ser induzidos em músculos e nervos
por estimulação extrínseca
ƒ
envolvem alterações de permeabilidade – permitindo a passagem de iões (pela
abertura dos seus canais específicos)
ƒ
dependem de canais iónicos sensíveis à voltagem – para que os canais de
passagem dos iões abram, é necessário que esses canis sejam sejam sensíveis e
abram em resposta a esta
ƒ
têm velocidade de condução constante – em cada fibra a velocidade de
propagação é constante; a velocidade de propagação varia de fibra para fibra:
fibras com diâmetro grande conduzem mais rapidamente do que as fibras com
diâmetro menor; a presença de mielina (bainha que reveste o axónio) também é
importante na maior ou menor velocidade de propagação
Fluxo do Na+ durante potencial de acção e potencial de membrana
(1)
(3)
ƒ
(2)
(4)
(1) – o potencial de membrana em repouso faz com que uma porta de activação
mantenha os canais de Na+ fechados
ƒ
(2) – a despolarização estimula a abertura das portas de activação, que activam
os canais de Na+
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Introdução
ƒ
(3) – com a abertura das portas de activação, Na+ entra na célula
ƒ
(4) – portas de inactivação fecham e o Na+ pára de entrar
Fases dos Ciclos do Potencial de Acção
fluxo local de corrente Ö
despolarização
abertura dos canais
lentos de K+
portas de activação
dos canais de Na+
abrem rapidamente
mais despolarização
mecanismo de
feedback
positivo
K+ sai da célula
Na+ entra na célula
repolarização
para parar o ciclo, as portas de inactivação
fecham e o Na+ pára de entrar
mais canais de K+
abrem
repolarização
Inactivação e Período Refractário
- após inactivação, os canais de Na+ não voltam a abrir enquanto não tiver ocorrido a
repolarização da membrana
- próximo do potencial de respouso, os canais de Na+ passam do estado inactivo ao
estado desactivado (fechado) Ö imediatamente, a seguir de um potencial de acção, a
membrana não consegue gerar outro potencial de acção Ö período refractário
absoluto Ö assim sendo, à medida que os canais de Na+ transitam do estado inactivo
para o estado fechado, a membrana readquire a capacidade de gerar potenciais de acção
no entanto, o limiar de activação é mais elevado Ö período refractário relativo
- o período refractário impede a autoexcitação Ö doutro modo,um potencial de acção
ao atingir o terminal do axónio, poderia re-excitar o axónio no sentido oposto, ou seja,
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Introdução
geraria um potencial retrógado Ö assim sendo, os potenciais de acção são conduzidos
numa direcção apenas Ö condução unidireccional
Velocidade de Condução e Mielina
- os potenciais de acção, consoante a existência ou ausência de mielina na fibra,
deslocam-se ao longo do axónio de dois modos:
ƒ
(A) – condução saltatória nos axónios mielinizados
ƒ
(B) - propagação por fluxo de corrente local nos axónios não-mielinizados
(A) - Condução Saltatória nos Axónios Mielinizados
- nestes axónios, grande parte da membrana está coberta por mielina Ö a mielina é
uma substância lípidica segregada pelos
oligodendrócitos
no
Sistema
Nervoso
Central e pelas células de Schwann no
Sistema Nervoso Periférico, formando a
bainha de mielina
- esta bainha de mielina aumenta a
resistência
da
membrana
e
reduz
a
capacitância total da membrana Ö estes
factores aumentam a capacidade de propagação do fluxo de corrente local ao longo do
axónio
- em axónios mielinizados existem regiões de descontinuidade da bainha de mielina,
que acarretam a existência de uma constrição (estrangulamento) denominada nódulo de
Ranvier Ö os canais de Na+ que geram a fase ascendente do potencial de acção surgem
apenas nestes nódulos Ö condução saltatória Ö onda de despolarização "salta"
directamente de um nódulo para outro, não acontecendo em toda a extensão da região
mielinizada (a mielina é isolante)
considerável aumento da velocidade do impulso nervoso
(B) Propagação por Fluxo de Corrente Local nos Axónios Não-Mielinizados
- a carga positiva desloca-se para regiões com potencial de membrana mais negativo Ö
à medida que áreas do axónio são despolarizadas e atingem o limiar de activação e o
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Introdução
ciclo de feedback positivo de abertura de canais de Na+ começa Ö potencial de acção
desloca-se continuamente, ao longo do axónio
- fibras muito finas (maior resistência) não são mielinizadas, pelo que a propagação do
potencial de acção é contínua
menor velocidade do impulso nervoso
Sinapses
- um impulso é transmitido de uma célula a outra através das sinapses Ö a sinapse é
uma região de contacto muito próximo entre a extremidade do axónio de um neurónio e
a superfície de outras células
- a célula que envia o potencial de acção denomina-se célula pré-sináptica e a célula
que o recebe célula pós-sináptica
- existem dois tipos de sinapses:
ƒ
sinapses excitatórias - causam uma mudança elétrica excitatória no potencial
pós-sináptico (EPSP), que vai conduzir a despolarização da membrana, logo
dispara um potencial de acção; as sinapses excitatórias são desencadeadas por
neutransmissores como o glutamato e o nAChR que tornam a membrana
permeável a catiões (Na+, K+ e Ca2+), promovendo a despolarização da célula
pós-sináptica, o que aumenta a excitabilidade
ƒ
sinapses inibitórias - causam um potencial pós-sináptico inibitório (IPSP), que
vai conduzir à hiperpolarização da membrana e como a hiperpolarização reprime
a excitabilidade, torna assim mais difícil alcançar o potencial de limiar eléctrico;
as sinapses inibiórias são desencadeadas por neutransmissores como o GABA e
a glicina que tornam a membrana permeável a aniões (Cl-) promovendo a
hiperpolarização da célula pós-sináptica, o que inibe a excitabilidade
Nota: o somatório temporal é a soma dos epsp’s ou dos ipsp’s sucessivos da
mesma sinapse; já o somatório espacial é a soma de sinapses distantes cujos
epsp’s ou ipsp’s se sobrepõe
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Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I
Introdução
Exemplo de um IPSP e de um EPSP
- um IPSP torna a membrana pós-sináptica
ainda mais negativa do que o potencial em
repouso (hiperpolariza-a)
- posteriormente ou simultaneamente, um
EPSP que despolariza a membrana até se
atingir o threshold que desencadeia o
potencial de acção
Nota : só há potencial de acção se um EPSP ou um somatório de EPSP
ultrapassa o threshold
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