trauma mecânico como fator facilitador para o

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FABÍOLA CRISTIANE CALDERAN
TRAUMA MECÂNICO COMO FATOR FACILITADOR PARA
O DESENVOLVIMENTO DO CÂNCER BUCAL – RELATO DE
CASOS CLÍNICOS.
LONDRINA
2014
5
FABÍOLA CRISTIANE CALDERAN
TRAUMA MECÂNICO COMO FATOR FACILITADOR PARA
O DESENVOLVIMENTO DO CÂNCER BUCAL – RELATO DE
CASOS CLÍNICOS.
Trabalho
de
Conclusão
de
Curso
apresentado ao Curso de Odontologia da
Universidade Estadual de Londrina.
Orientador: Prof. Lauro T. Mizuno
LONDRINA
2014
5
FABÍOLA CRISTIANE CALDERAN
TRAUMA MECÂNICO COMO FATOR FACILITADOR PARA
O DESENVOLVIMENTO DO CÂNCER BUCAL – RELATO DE
CASOS CLÍNICOS.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao Curso de Odontologia da Universidade
Estadual de Londrina.
COMISSÃO EXAMINADORA
________________________________
Prof. Lauro T. Mizuno
Universidade Estadual de Londrina
_______________________________
Prof. Édna H.F.Mizuno
Universidade Estadual de Londrina
Londrina, 09 de outubro de 2014.
0
AGRADECIMENTOS
Primeiramente gostaria de agradecer ao meu pai e a minha mãe,
Sebastião e Joana, por serem exemplos de integridade, amor, solidariedade e
alegria. Agradecer também por me incentivarem e apoiarem incondicionalmente em
minhas decisões.
Aos meus irmãos Rafael e Nicole, agradeço o amor e a amizade.
Agradeço também a minha cunhada Amanda pela amizade e por nos felicitar com a
chegada de Lorenzo. Amo vocês!
Quero agradecer as minhas amigas Camila, Daiana, Erika, Letícia,
Neiva e Polyane pela amizade, pelo apoio, pelo companheirismo, pelo amor e por
todo o carinho.
Agradeço ao meu orientador, Prof. Lauro Mizuno, exemplo de
profissional, ético e comprometido. Obrigada não só pela orientação neste trabalho,
mas, sobretudo, pela amizade.
Um agradecimento especial a Prof (a). Nezinha por todo o apoio
nesses cinco anos de graduação, pelo convívio, pelo carinho, pela educação e
amizade. Muito obrigada.
Agradeço a todos os estudantes do movimento estudantil pelas
diferentes experiências vividas em conjunto e pelo aprendizado.
Agradeço a esta Universidade, seu corpo docente, direção,
administração, servidores, estudantes e pacientes que contribuiram para a minha
formação em Odontologia. Muito obrigada.
0
Eu creio na alma
Nau feita para as grandes travessias
Que vaga em qualquer mar e habita em qualquer porto
Eu creio na alma imensa
A alma dos grandes mistérios
A grande alma que em vão busquei sufocar
Eu creio na alma eterna
A alma boa, a alma pura, a alma singela
A alma que possui o espaço
A alma que não possui o tempo
A grande alma sozinha
Capaz de conter toda a humanidade
Senhor! Eu creio nela
Eu creio na minha alma extraordinária
Ela era como o templo
Onde os vendilhões mercadejavam
Ela expulsou os vendilhões, Senhor!
E os pássaros cantaram.
Eu creio na alma grande
Em busca dum élan que a lance sempre
Para o eterno movimento
A alma espelho das águas
Onde o céu reflete os pássaros que voam
Eu creio em ti, Senhor
Porque és a alma que é o céu onde os pássaros voam
E que se reflete no espelho das águas
Porque és a grande alma que paira
Eu creio em mim, Senhor
Porque sou alma feita à tua semelhante
Grande alma onipotente
Que no começo era o nada
O nada - vazio das almas
O nada cheio de treva e maldição
Mas o espírito erguia-se do caos
E a treva fez-se luz
A luz cheia de átomos de vida
A luz - a grande luz que sobe sempre.
Vinicius de Moraes
1
CALDERAN, Fabíola. Trauma mecânico como fator facilitador para o
desenvolvimento do câncer bucal – relato de casos clínicos. 2014. 23 folhas.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Odontologia) – Universidade
Estadual de Londrina, Londrina, 2014.
RESUMO
O câncer bucal representa um problema de saúde pública no Brasil e no mundo.
Entre os tumores malignos da cavidade oral, o Carcinoma Espinocelular (CEC) é o
tumor mais frequente, correspondendo a mais de 90% dos casos de câncer na
cavidade oral. A etiologia do câncer bucal é multifatorial e o fumo e o álcool são os
principais fatores de risco para o desenvolvimento dessa condição patológica.
Atualmente,
lesões
traumáticas
crônicas
em
mucosa
oral
têm
instigado
pesquisadores e clínicos a suspeitarem do fator irritante crônico como promotor e/ou
facilitador no desenvolvimento da carcinogênese. O objetivo desse trabalho é relatar
dois casos de pacientes que apresentaram áreas submetidas a trauma constante e
desenvolveram câncer bucal. Paciente de 58 anos, gênero feminino, foi fumante por
20 anos e fazendo uso de prótese dentária desde os 14 anos. Paciente de 52 anos,
gênero masculino, sem histórico de uso de tabaco ou bebidas alcoólicas e
apresentava o elemento 46 com fratura coronária e bordos cortantes, causando
trauma constante em bordo de língua. Nos dois casos, na região de trauma
constante, os pacientes apresentavam, lesão ulcerada e dolorida. Na análise
histopatológica concluiu-se carcinoma espinocelular, em ambos os casos. O
traumatismo
crônico
tecidual
causado
na
mucosa
bucal
pode
ser
fator
desencadeador e/ou facilitador para o desenvolvimento do câncer bucal, sendo
necessária a remoção do trauma e avaliação minuciosa da relação trauma constante
e alterações na mucosa bucal.
Palavras-chave: Câncer Oral, trauma crônico, fatores de risco
5
CALDERAN, Fabíola. Mechanical trauma as a facilitator fator for the
development of oral câncer – case reports. 2014. 23 folhas. Trabalho de
Conclusão de Curso (Graduação em Odontologia) – Universidade Estadual de
Londrina, Londrina, 2014.
ABSTRACT
The oral cancer represents a public health problem in Brazil and worldwide. Among
malignant tumors of the oral cavity, the Squamous Cell Carcinoma (SCC) is the most
frequent tumor, accounting for over 90% of cancers in the oral cavity. The etiology of
THIS oral cancer is multifactorial and tobacco and alcohol are the main risk factors
for the development of this pathological condition. Currently, the chronic traumatic
lesions of the oral mucosa have instigated researchers and clinicians to suspect
chronic irritant as a promoter and / or facilitator in the development of carcinogenesis.
The aim of this study is to report two cases of patients who had areas subjected to
constant trauma and developed oral cancer. A 58 years old female was smoker for
20 years and uses dental PROSTHESIS since 14 years. A 52-year-old male with no
history of tobacco or alcohol USE had the element 46 with coronary cutting AND
edge fracture, causing constant trauma on THE board OF THE TONGUE. In both
cases, the region of constant trauma, THE patients had ulcerated and painful injury.
Histopathology indicate squamous cell carcinoma in both cases. The chronic tissue
injury caused in the oral mucosa may be a triggering factor and / or facilitator for the
development of oral cancer, the removal of trauma requiring thorough evaluation of
the constant trauma and changes in the oral mucosa
Key words: Oral Cancer, Chronic trauma, risk factors
6
SUMÁRIO
1.
INTRODUÇÃO ............................................................................................... 9
2.
RELATOS DE CASOS CLÍNICOS ................................................................ 10
2.1.
Caso 1 ............................................................................................................ 10
2.2.
Caso 2 ............................................................................................................ 12
3.
DISCUSSÃO...15
4.
CONCLUSÃO ............................................................................................... 19
REFERÊNCIAS ............................................................................................. 21
9
1. INTRODUÇÃO
O câncer de boca ou bucal é a denominação dos cânceres de lábio
e de cavidade oral incluindo mucosa jugal, gengivas, palato duro, língua, assoalho
da boca e região de trígono retromolar. Esse tipo de câncer representa cerca de 4%
de todas as neoplasias malignas (ROBBINS, Stanley L et al., 2001), (TOMMASI et
al.,1980), (NEVILLE. Brad W et al., 2009), (BORAKS, Silvio, 2001), (CASTRO, Acyr
Lima et al.,2000), (MATEUS, Fernanda Oliveira, 2008).
Entre os tumores malignos da cavidade oral, o carcinoma
espinocelular (CEC) também denominado epidermóide ou de células escamosas é o
tumor mais frequente, corresponde a 90 – 95% dos casos (TOMMASI et al.,1980),
(SHAFER, Willian G. et al., 1987), (AGUIAR, Luciana Tibiriça. et al., 2006).
Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) o número de
mortes por câncer de boca em 2010 foi de 4.891, sendo 3.882 homens e 1.009
mulheres. A estimativa do número de casos novos para o ano de 2014 é de 15.290,
sendo 11.280 casos novos em homens e 4.010 casos novos em mulheres.
O câncer é uma doença multifatorial e diversos agentes estão
relacionados no seu desenvolvimento. Esses agentes são:
Físicos: radiação solar, higiene bucal deficiente, próteses mal adaptadas e irritação
por dentes dilacerados em contato com língua e bochechas.
Químicos:
tabagismo,
alcoolismo,
medicações,
dieta
alimentar
e
fatores
ocupacionais relacionados ao trabalho, por exemplo: mineração, marcenaria,
mecânica, entre outros onde os trabalhadores são expostos a substâncias
carcinogênicas como arsênio, cianeto, poeira de madeira, derivados do petróleo, etc.
Biológicos: hereditariedade, imunossupressão, infecção pelo HPV (papiloma vírus
humano), gênero masculino, alterações no genoma e idade superior a 40 anos.
10
Devido ao seu aspecto multifatorial, o objetivo desse trabalho é dar
ênfase nas alterações teciduais causadas por traumatismo na mucosa bucal que
pode evoluir e se transformar em uma neoplasia maligna e estimular práticas de
medidas preventivas no diagnóstico precoce do câncer bucal.
2. RELATOS DE CASOS CLÍNICOS
2.1. Caso 1
Paciente A.E.B, 58 anos, gênero feminino, cozinheira, caucasiana,
compareceu ao Pronto Socorro Odontológico da Universidade Estadual de Londrina
(PSO/UEL) no dia 24 de julho de 2013 com quadro de dor na região posterior de
mandíbula esquerda.
Na anamnese relatou ser usuária de prótese total superior e inferior
desde os 14 anos de idade e que há um mês não fazia o uso da prótese inferior
“joguei a prótese no lixo, a prótese machucava”. Também informou ser tabagista
durante 20 anos sendo que nos últimos 2 anos o consumo diário do fumo era de 1
ou 2 cigarros por dia após o café da manhã. A paciente apresentava bom estado de
saúde geral.
Ao exame clínico foi encontrada uma lesão ulcerada, com bordos
elevados, centro avermelhado e placa branca com aproximadamente 5 cm em
região posterior de mandíbula esquerda. Amolecida a palpação com história de
trauma por prótese na região, correspondente ao bordo da dentadura.
11
A conduta clínica foi a realização da biopsia incisional da lesão e
posterior exame histopatológico.
Ao exame macroscópico o espécime constava de dois fragmentos
medindo 04x03x02mm
e
07x04x03mm de
coloração
cinza-acastanhada e
consistência friável. Diagnóstico: de carcinoma espinocelular bem diferenciado e
com presença de invasão perineural.
12
2.2. Caso 2
Paciente M.S., 52 anos, gênero masculino, pedreiro, negro,
compareceu a Clínica Odontológica Universitária (COU/UEL) na disciplina de
Estomatologia no dia 12 de novembro de 2003.
Na anamnese relatou que a 2 anos apareceu uma lesão pequena no
“tamanho de grão de arroz” dolorida e de “aspecto de coração” localizada em
assoalho bucal direito e a lesão foi crescendo em direção à garganta e a dor
aumentou. Dois meses antes de procurar o setor de Estomatologia, procurou um
médico que prescreveu benzetacil via intramuscular. Não observando melhora, o
13
paciente foi encaminhado para a COU/UEL na disciplina de Estomatologia. Paciente
com bom estado de saúde geral.
Ao
exame
clínico
a
lesão
apresentava
uma
úlcera
de
aproximadamente 3 cm, localizada no assoalho bucal, próxima a carúncula direita e
ventre de língua, avermelhada com fissuras sangrantes, mesclada com áreas
amareladas, consistente a palpação e dolorida. Na região da lesão também foi
observado que havia contato da ferida com o bordo cortante do dente 46 (primeiro
molar inferior lado direito). Enfartamento ganglionar estava ausente.
A conduta clínica foi a realização da biópsia incisional da lesão e
posterior exame histopatológico.
Ao exame macroscópico o espécime apresentava fragmento único,
irregular medindo 09x05x03 mm, de coloração parda acastanhada, fibroelástico.
Diagnóstico de carcinoma epidermóide invasivo/carcinoma espinocelular.
14
15
3. DISCUSSÃO
O câncer bucal apresenta-se clinicamente como úlceras com bordos
elevados e endurecidos, esbranquiçadas ou avermelhadas. O diagnóstico clínico
baseia-se no relato de uma lesão (geralmente única) de crescimento progressivo e
indolor podendo ser ulcerada, eritoplásica, ou mistas, sendo sempre confirmado pelo
resultado histopatológico. A sintomatologia é mais comum em casos mais
avançados (NEVILLE. Brad W et al., 2009), (BORAKS, Silvio. 2001), (CASTRO, Acyr
Lima de et al., 2000), (MATEUS, Fernanda Oliveira. 2008).
Os principais sinais e sintomas do câncer de boca são: úlceras na
boca que não cicatrizam em no prazo de uma semana; dor e aparecimento de
nódulos no pescoço; área avermelhada ou esbranquiçada nas gengivas, língua,
amígdala ou revestimento da boca; sensação de corpo estranho na garganta e
dificuldade para mastigar, engolir e falar; emagrecimento acentuado (NEVILLE. Brad
W et al., 2009), (SHAFER, Wilian G et al., 1987).
O tabaco é a principal causa do câncer bucal, quer fumado (cigarro,
cachimbo, charuto, cigarro de palha), mascado (fumo de rolo) ou aspirado (rapé). O
risco de desencadear carcinoma nas partes moles da cavidade oral é cerca de 8
vezes maior para fumantes do que para não fumantes. Além disso, o tempo (anos)
de duração do vício e a quantidade de fumo consumida aumenta o risco de
desenvolver a doença (FRANCO, E. L et al., 1998), (GABRIEL, João G. et. al.,
2004), (TOMMASI, Antônio Fernando. et al. 1980).
O cigarro apresenta mais de 4.700 substâncias químicas, das quais
43 são carcinogênicas. Além da ação das substâncias cancerígenas, a exposição
contínua ao calor desprendido pela combustão do fumo potencializa as agressões
sobre a mucosa da cavidade bucal (REIS, Silvia Regina de Almeida. et al. 1997).
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que 75%
a 90 % de todos os cânceres que acometem a região de cabeça e pescoço sejam
16
consequência do tabagismo (NEVILLE. Brad W et al., 2009), (BORAKS, Silvio.
2001).
A associação do fumo e o consumo de bebidas A associação do
fumo e o consumo de bebidas alcoólicas têm efeito maior do que cada um destes
fatores isoladamente. Dos pacientes com câncer bucal, estima-se que 95% são
fumantes e 76% fumam e consomem bebidas alcoólicas regularmente (TOMMASI,
Antônio Fernando et al. 1980), (NEVILLE. Brad W et al., 2009), (AGUIAR, Luciana
Tibiriça et al., 2006), (REIS, Silvia Regina de Almeida et al. 1997).
O consumo de álcool e seu efeito isolado no desenvolvimento do
câncer de boca, não estão claro na literatura. O acetaldeído primeiro metabólito do
álcool parece ser um facilitador da passagem de substâncias carcinogênicas através
das membranas celulares uma vez que modifica a permeabilidade da mucosa oral,
além de ter a capacidade de causar mutações no DNA das células (GABRIEL, João
G. et al., 2004), (REIS, Silvia Regina de Almeida et al. 1997).
Os estudos do efeito do álcool na cavidade oral encontram
dificuldades uma vez que os indivíduos são imprecisos ao informar a quantidade de
doses e o tempo de duração do hábito e pelas características individuais que
determinam a velocidade de transformação do álcool em acetaldeído e de algumas
pessoas desenvolverem câncer e outras não.
A partir de fatores de risco do câncer bucal descritos na literatura,
como o tabaco e o consumo de álcool, outros fatores de risco emergentes têm sido
mencionados, como a irritação crônica da mucosa oral (MATEUS, Fernanda Oliveira.
2008), (PIEMONTE, Eduardo David et al., 2010).
O trauma crônico da mucosa oral é o resultado da ação irritativa
mecânica constante de um agente de lesão intra-oral sobre as células epiteliais.
Esses agentes podem ser representados por mordida da mucosa, irritação por
prótese removível, lesão por escova dental, exposição da mucosa a uma borda
aguda de cárie dentária ou ação de qualquer outro irritante externo, podendo evoluir
17
para malignidade (REIS, Silvia Regina de Almeida et al. 1997), (PIEMONTE,
Eduardo David et al., 2010), (MATEUS, Fernanda Oliveira. 2008).
As úlceras traumáticas acometem principalmente a mucosa jugal,
lábios, gengiva, palato, fundo de sulco e língua. São lesões de fácil diagnóstico e
etiologia multifatorial (GOIATO, Marcelo Coelho et al. 2005).
Clinicamente as lesões são únicas com uma área eritematosa que
circunda uma membrana removível, central, amarelo-brilhante, fibrinopurulenta. A
lesão pode desenvolver um alo esbranquiçado hiperceratótico, adjacente à área de
ulceração (NEVILLE. Brad W et al., 2009).
Assim como a mucosa bucal cumpre importante função como órgão
protetor dos tecidos adjacentes e subjacentes, porém a experiência clínica tem
mostrado que a mucosa é muito mais susceptível ao trauma e à inflamação do que a
pele. A resultante de procedimentos profissionais de natureza iatrogênica é a causa
mais comum em pacientes portadores de prótese total mucossuportada (NEVILLE.
Brad W et al., 2009).
As úlceras traumáticas, ou de outra origem, mas que venham a ser
traumatizadas constantemente tem possibilidade de evoluir para um tumor maligno,
o carcinoma espinocelular (BORAKS, Silvio. 2001).
O papel causal da irritação crônica da mucosa na carcinogênese oral
é controvérsia (NEVILLE. Brad W. et al., 2009), (SHAFER, Wilian G et al., 1987),
(AGUILAR, Luciana Tibiriça et. Al., 2006). O fator irritante pode agir em sinergismo
com outro ou atuar como um fator independente carcinogênico (BORAKS, Silvio.
2001), (SHAFER, Wilian G et al., 1987).
Tem sido proposto que as úlceras bucais, mesmo que transitórias,
permitem o contato mais direto das substâncias cancerígenas do tabaco,
favorecendo agressões mais profundas e extensas sobre toda a mucosa. Este fato
sugere existir um risco ainda maior de câncer da boca entre tabagistas que usam
próteses mal ajustadas ou que apresentem outras condições que os levam a ter
18
úlcera na mucosa bucal (SHAFER, Wilian G et al., 1987), (VELLY, A. M et.al., 1998),
(BORAKS, Silvio. 2001).
Estudos experimentais sugerem que o trauma crônico em mucosa
aumenta a produção de mitose na tentativa de reparar a lesão tecidual, o que coloca
em risco as células do DNA por outros agentes carcinogênicos. Um outro
mecanismo possivelmente envolvido poderia ser por causa da inflamação crônica na
mucosa oral lesionada que através de mediadores químicos poderia induzir a
alterações genéticas, danos no DNA, inibindo sua reparação, alterando fatores de
transcrição, a fim de prevenir a apoptose e estimular a angiogênese contribuindo em
todos os estágios da carcinogênese. (GABRIEL, João G et. al., 2004), (PIEMONTE,
Eduardo David et. al., 2010).
Teste genético de rastreamento de agentes com potencial
mutagênico tem sido adotado como alternativa para identificar e avaliar os diversos
fatores que podem trazer algum dano ao DNA de diferentes tecidos. Dentre elas, o
Teste de Frequência de Micronúcleos que mede o dano citogenético.
O micronúcleo é um núcleo acessório, originado a partir de
fragmentos cromossômicos ou de cromossomos inteiros que não são incluídos ao
núcleo da célula-filha. O teste de micronúcleos tornou-se uma ferramenta
amplamente utilizada nos mais diversos campos da pesquisa para aferir a segurança
de inúmeras substâncias, classificando-as ou não como carcinogênicos.
Em
estudo
realizado
com
estudantes
de
odontologia
da
Universidade Estadual de Ponta Grossa-PR, verificou a prevalência de micronúcleos
em células epiteliais da mucosa oral comparando grupos de alunos abstêmios,
usuários de aparelho ortodôntico, fumantes assim como em fumantes alcoolistas. Os
resultados apontaram uma correlação positiva entre presença de micronúcleos e
alterações cromossômicas predisponentes a neoplasias no grupo dos usuários de
aparelho ortodôntico, fumantes, fumantes alcoolistas, quando comparados ao grupo
controle.
19
A análise de células micronucleadas também verificou uma maior
prevalência de MN em usuários de aparelho ortodôntico constatando que a ação
física de trauma permite uma similaridade de situações bucais em que também
temos a presença constante de trauma como, por exemplo, próteses mal adaptadas,
próteses quebradas, borda aguda de cárie dentária entre outros irritantes externos e
consequentemente alterações cromossômicas predisponentes a neoplasias. É
evidente que o teste de micronúcleo pode ser um importante instrumento no
diagnóstico e na prevenção de carcinogênese oral.
É
difícil imaginar como uma
célula normal passa
ter as
características do tumor. De fato, pode existir uma interação dos agentes
traumáticos com alterações imunológicas, anormalidades metabólicas, alteração no
comportamento de reprodução celular, presença de vírus entre outras causas.
4. CONCLUSÃO
A formação do câncer é multifatorial. Apesar de ainda não haver
uma clara compreensão da etiologia do câncer, vários fatores determinantes têm
sido detectados e investigados. O conhecimento dos fatores de risco constitui a base
para uma prevenção efetiva da doença.
O tabaco e o álcool são os dois fatores de risco mais importantes
não só para o desenvolvimento da neoplasia, como para seu prognóstico.
O mecanismo pelo qual se pensa que o trauma crônico de mucosa
possa contribuir para a carcinogênese não está claramente identificado. A influência
do trauma crônico da mucosa oral juntamente com outros fatores é um importante
fator de risco, no entanto é necessária a realização de estudos epidemiológicos,
20
moleculares, de tipo de caso-controle, para de fato estabelecer a relação causal
entre trauma crônico de mucosa oral e câncer.
Sendo assim, a remoção do trauma crônico causado por prótese mal
adaptadas ou qualquer outro agente irritativo na mucosa oral deve ser considerada
como boa conduta pelo cirurgião-dentista.
21
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