MEMÓRIA E PROSPECTIVA RELAÇÕES ENTRE PORTUGAL E O BRASIL N O D O M Í N I O DA F I L O S O F I A Em 1992 foi fundado o Instituto de Filosofia Luso-Brasileira por iniciativa de doze intelectuais portugueses e doze brasileiros, sob a presidência do Professor Doutor Francisco da Gama Caeiro, catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, sendo presidente honorário o Professor Doutor Miguel Reale, catedrático da Universidade de São Paulo e seu antigo Reitor. O objectivo do Instituto é o de aprofundar o conhecimento mútuo da filosofia portuguesa e brasileira, perspectivando as suas convergências e divergências, promovendo um colóquio anual, alternadamente em cada um dos países, estudando-se nos colóquios realizados no Brasil, sob a égide de Antero de Quental, um autor português, e nos realizados em Portugal, sob a égide de Tobias Barreto, um autor brasileiro. O primeiro colóquio, realizado em 1990, no Instituto Pluridisciplinar de História das Ideas da Universidade Nova de Lisboa, então presidido pelo Prof. Doutor José Esteves Pereira, reuniu um vasto grupo de pensadores e investigadores dos dois países, sendo integralmente dedicado ao estudo da obra do filósofo brasileiro Tobias Barreto, fundador da Escola do Recife e do designado culturalismo brasileiro, de que foram entretanto já publicadas as actas (O Pensamento de Tobias Barreto, Universidade Nova de Lisboa, FCSH, Lisboa, 1992, 165 pp.). Seguiu-se-lhc em 1991 o segundo colóquio, realizado na Universidade Federal do Recife e na Academia de Letras de São Salvador da Bahia, dedicado ao estudo do pensamento de Antero de Quental, assinalando o centenário da sua morte, tendo-se já verificado igualmente a publicação das respectivas actas, no Brasil {Colóquio Antero de Quental - Anais, Fundação Augusto Franco, Aracaju-Sergipe, 1993, 348 pp). De novo em Portugal, o ano de 1992 viu realizar-se, na Universidade Nova de Lisboa e na Universidade de Évora, o // Colóquio Tobias Barreto - 194 Memória e Prospectiva Dedicado a Domingos Gonçalves de Magalhães, justamente considerado o introdutor do romantismo no Brasil, com as respectivas actas publicadas em 1994 (O Pensamento de Domingos Gonçalves de Magalhães, Instituto de Filosofia Luso-Brasileira, Lisboa, 1994, 287 pp.). Este volume reúne uma série de estudos onde foi possível aprofundar e discutir o eciectismo e espiritualismo de Magalhães, bem como o seu vincado indianismo, no quadro do projecto romântico de inquirição da identidade brasileira e suas relações com a civilização universal. Em 1993 realiza-se o / / Colóquio Antero de Quental - Dedicado a Sampaio Bruno, na Universidade Federal de Sergipe e na sede da Academia Brasileira de Filosofia no Rio de Janeiro (Colóquio Antero de Quental - Dedicado a Sampaio Bruno, Secretaria de Estado da Cultura de Sergipe, Aracaju, 1995, 430 pp.). Seguiu-se-lhe o / / / Colóquio Tobias Barreto - Dedicado a Sílvio Romero e a Teófilo Braga, realizado em 1994 na Universidade dos Açores, devendo as respectivas actas ser publicadas durante o Verão de 1996, pelo Instituto de Filosofia Luso-Brasileira. O colóquio procurou desenvolver uma perspectiva comparativa entre os dois autores, sobretudo no que concerne às repercussões do positivismo nos dois países, seus pontos de convergência c de divergência, bem como no domínio da história da literatura a que ambos se dedicaram proficuamente. No ano seguinte, 1995, estudou-se no Brasil, igualmente sob uma perspectiva comparativa, o pensamento de Cunha Seixas e de Raimundo Farias Brito, tendo as várias sessões decorrido em Fortaleza, capital do Estado do Ceará, e na Universidade de São Paulo, decorrendo, neste último caso, integradas no V Congresso Brasileiro de Filosofia, devendo as actas ser publicadas no Verão de 1997, no Brasil. Vai finalmente realizar-se de 7 a 12 de Outubro de 1996, no Porto e cm Viana do Castelo, o IV Colóquio Tobias Barreto - Dedicado a Miguel Reale, com sessões a decorrer na sede da Fundação Eng. António de Almeida, no Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa e no Auditório da Câmara Municipal de Viana do Castelo. Este encontro contará com a participação de uma vasta plêiade de estudiosos dos dois países, destacando-se entre outros e pela parte brasileira, António Paim (Instituto Brasileiro de Filosofia), Luiz António Barreto (Secretário de Estado da Cultura e da Educação do Estado de Sergipe) Aquiles Guimarães (Univ. Federal do Rio de Janeiro), Ricardo Velez Rodrigues (Univ. Gama Filho), Ana Maria Moog Rodrigues (Univ. Gama Filho), Nelson Saldanha (Univ. do Recite), Paulo Mercadante (Instituto Brasileiro de Filosofia), Vamireh Chacon (Univ. de Brasília), Constança Marcondes César (Univ. de Campinas) e Miguel Reale (Univ. de S. Paulo). A delegação portuguesa, conta com a participação, entre outros, de Afonso Botelho (Presidente do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira), António Braz Teixeira (Universidade Autónoma de Lisboa e ex¬ -Secretário de Estado da Cultura); José Esteves Pereira (Vice-Reilor da Memória e Prospectiva 195 Universidade Nova de Lisboa), Joaquim Cerqueira Gonçalves, Leonel Ribeiro dos Santos, Paulo Borges e Pedro Calafate (Faculdade de Letras da Univ. de Lisboa), Norberto Cunha (Universidade do Minho), Eduardo Soveral, António José de Brito e Jose Augusto Seabra (Universidade do Porto), Manuel Cândido Pimentel e Carlos Silva (Univ. Católica Portuguesa) e Joaquim Domingues (Professor da Escola Secundária de Sá de Miranda-Braga). Será objectivo deste colóquio aprofundar o estudo da vasta obra do filósofo brasileiro Miguel Reale que é sem dúvida uma das mais eminentes expressões da filosofia de expressão portuguesa contemporânea, abarcando um amplo domínio do pensamento que passa pela filosofia política e do direito, pela filosofia da história, pela hermenêutica, pela filosofia do conhecimento, pela ética, pela antropologia, pela estética, e pela filosofia da natureza e da cultura, devendo este último tema ser particularmente aprofundado no módulo de Viana do Castelo, no qual se pretende também alargar o âmbito de análise para alem da obra de Miguel Reale, abrindo deste modo uma possibilidade de diálogo e confronto entre diferentes perspectivas sobre o tema da natureza e da cultura. Com quatro volumes de actas já publicados e dois no prelo, o Instituto de Filosofia Luso-Brasileira prosseguirá com o projecto de chegar ao final do milénio com um conjunto de dez volumes dedicados ao pensamento filosófico dos dois países, de autoria de uma pluralidade de especialistas, a fim de dai" corpo, modo consistente, ao desejo de aprofundamento real das relações culturais entre o Brasil c Portugal, na base da consciencialização das nossas raízes e heranças filosóficas, aprofundando as respectivas identidades nacionais, como suporte de um pensamento especulativo, inquirindo quanto nos aproxima e quanto nos diferencia. Como testemunho da receptividade deste projecto em terras brasileiras, importa referir o patrocínio activo, na realização dos colóquios no Brasil, das Fundações Augusto Franco (SE), Joaquim Nabuco (PE) e Gilberto Freire (PE), do Instituto Brasileiro de Filosofia, da Academia Brasileira de Filosofia, do Serviço Social da Indústria, da Confederação Brasileira da Indústria, bem como do Secretário de Estado da Cultura e da Educação do Governo de Sergipe, Dr. Luiz António Barreto, que tem centralizado, com inegável êxito, a organização dos encontros no Brasil. Citando palavras do seu primeiro Presidente e também seu primeiro animador, Francisco da Gama Caeiro, «este projecto, nado e criado sem chancelas oficiais, brotou de uma exigência especulativa, da consciência comum de que, no último quartel deste milénio, foram enfim reunidas as condições para cimentar uma nova comunidade apostada em ampliar a base e estreitar os cios de pensamento entre brasileiros c portugueses». Pedro Calafate