PÓS-OPERATÓRIO DE CIRURGIA CARDÍACA, SUAS COMPLICAÇÕES E CONTRIBUIÇÕES DA FISIOTERAPIA: RELATO DE CASO Daniela De Ré¹; Daniela Martins Cunha²; David Lam²; Ilírian Buosi Sena²; Cláudia Rejane Lima De Macedo Costa³; Érica Fernanda Osaku4 Introdução: Nas últimas décadas a prevalência de doenças cardiovasculares tem aumentado expressivamente, sendo causa de grande morbimortalidade entre a população mundial¹.De acordo com a complexidade da doença apresentada pelo paciente pode-se realizar um tratamento com enfoque clínico ou, se necessário, cirúrgico². As cirurgias cardíacas podem ser de três tipos: substitutivas, que englobam as trocas valvares e os transplantes; corretoras, como fechamento de canal arterial, de defeito de septo atrial e/ou ventricular; e reconstrutoras, dentre as quais pode-se citar a revascularização do miocárdio e as plastias valvares². Com relação à troca valvar, quando a valva comprometida é a mitral, há um refluxo de sangue do ventrículo esquerdo e diminuição de sua contratilidade, o que leva ao aumento do gasto energético cardíaco e presença de sintomas como dispnéia e cansaço. O tratamento cirúrgico para este caso consiste na colocação de próteses valvares mecânicas (de material produzido pelo homem) ou biológicas (formadas a partir de pericárdio bovino, porcino ou humano)³. Associada ao infarto e integrando o grupo dos procedimentos reconstrutores, a revascularização do miocárdio também é prática médica comum. Caracteriza-se como método de reperfusão de vasos ocluídos que pode ser preventiva ou corretiva. Na fase preventiva seu objetivo é aliviar a angina e preservar a função do miocárdio. Já na corretiva, a cirurgia busca corrigir defeitos pós-infarto agudo. Os vasos obstruídos geralmente são substituídos por partes da veia safena ou da artéria mamária interna4,2. Por serem complexas e invasivas, tais cirurgias estão relacionadas a um expressivo número de complicações, sobretudo na função respiratória. Nesse sentido, o acompanhamento fisioterapêutico é importante para auxiliar a equipe de saúde na redução das complicações pulmonares decorrentes de cirurgias cardíacas5. Objetivo: O presente trabalho tem como objetivo relatar o caso de uma paciente internada no Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP) para realização de cirurgia de troca valvar mitral e revascularização do miocárdio e associar as complicações pós-cirúrgicas com o tratamento fisioterapêutico mais adequado. Metodologia: Realizou-se um estudo retrospectivo, descritivo, a partir da análise de dados do prontuário da paciente na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e na ala de clinica médica e cirúrgica do HUOP, entre os dias 07 e 31 de agosto de 2010. Relato de caso: Paciente feminina, 59 anos, com diagnóstico de insuficiência mitral e coronária (ramo descendente anterior), ex-tabagista há 10 anos (10 anos/maço), deu entrada no HUOP dia 07 de agosto de 2010 para realização de cirurgia cardíaca eletiva. Apresentava como patologias associadas gastrite, hérnia esofágica, colelitíase, depressão, hipertensão arterial sistêmica e pulmonar. Os procedimentos cirúrgicos foram realizados dia 09 de agosto de 2010, consistindo em troca valvar mitral por prótese biológica (bovina) e revascularização do miocárdio (com substituição da artéria descendente anterior por parte da mamária interna e da coronária direita por uma porção da veia safena). ______________________ ¹ Acadêmica do 5º ano de Fisioterapia. Universidade Estadual do Oeste do Paraná. [email protected]. Fone: (45)9936-4004. ² Acadêmico do 5º ano de Fisioterapia. Universidade Estadual do Oeste do Paraná. ³ Docente. Mestre em Engenharia Biomédica. Universidade Estadual do Oeste do Paraná. 4 Docente. Especialista em Fisioterapia Respiratória, Mestre em Ciências. Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Segundo relatos da equipe médica, o tempo cirúrgico e de CEC foram prolongados (T CEC: 110 min). Após a cirurgia a paciente foi encaminhada para a UTI, onde iniciou o processo de recuperação. A paciente foi recebida às 14h30min na UTI, com drenos torácico esquerdo e mediastinal, estável hemodinamicamente, porém hipotensa, hipotérmica e taquicárdica. Ao exame físico apresentava estado geral regular, com Ramsay 6 e Glasgow 3, sob efeito de sedação, com analgesia e drogas vasoativas, em ventilação mecânica invasiva (VMI). O modo de ventilação utilizado foi assisto-controlado (AC) com pressão positiva no final da expiração (PEEP) de 5 cmH2O e fração inspirada de oxigênio (FiO2) de 50%. Durante a ausculta pulmonar foi verificada a presença de roncos pulmonares bilaterais. Às 17h do mesmo dia, o modo ventilatório foi alterado para ventilação mandatória intermitente sincronizada (SIMV), com PEEP de 6 cmH2O e FiO2 de 30%. Às 20h iniciou-se a extubação da paciente utilizandose PEEP de 5 cmH2O e FiO2 de 50%. Uma hora depois realizou-se colocação do tubo T (10 litros de oxigênio) com término da extubação às 22h25min, permanecendo a mesma em máscara de Venturi (FiO2=40%). Nos dias que se seguiram na UTI a paciente apresentou quadro de plaquetopenia, picos febris, dispnéia, taquicardia paroxística supraventricular (TPSV) e instabilidade cardiovascular associada a períodos de estabilidade. Dia 11 de agosto foram retirados os drenos de tórax, dia 12 de agosto a radiografia torácica apresentou alterações características de congestão pulmonar esquerda e dia 13 de agosto a paciente apresentou suspeita de fibrilação atrial (FA). Durante a internação hospitalar realizou-se acompanhamento fisioterapêutico diário, com uso de técnicas de reexpansão, higiene brônquica e cinesioterapia, e os parâmetros da máscara de Venturi foram sendo alterados conforme a necessidade da paciente. Nos dias 12 e 13 de agosto, ainda, a paciente manteve algumas horas de respiração espontânea em ar ambiente, permanecendo, porém, a maior parte do tempo com máscara de Venturi (FiO2=30%). Às 10h do dia 13 de agosto, com cateter nasal de oxigênio, a paciente foi transferida para a ala de clínica médica e cirúrgica (F1) do HUOP. Na ala, referiu episódios de dispnéia aos pequenos esforços, apresentou taquicardia, taquipnéia e piora do quadro respiratório, associada à saturação de oxigênio em ar ambiente com valores menores que 90%. Fez uso de cateter de oxigênio, máscara de Ayre e, quando necessário, ventilação mecânica não invasiva (VMNI). As radiografias de tórax apresentaram possível derrame pleural e pneumonia. No dia 24 de agosto foi encaminhada ao prontosocorro devido à piora do quadro taquipnéico e baixa saturação de oxigênio mesmo com uso de suporte ventilatório (SpO2=75%). No dia seguinte apresentou acidose respiratória segundo gasometria e foi reencaminhada para a UTI por quadro de broncoespasmo severo com sinais de insuficiência respiratória e bacteremia, fibrilação atrial, TPSV e pneumonia associada à ventilação por estafilococos. Na UTI apresentou suspeita de atelectasia à esquerda e hepatização pulmonar, com piora radiológica, porém recebeu alta para a ala no dia 29 de agosto. Na ala apresentou episódios de hiposaturação mesmo fazendo uso de cateter nasal de oxigênio, dispnéia e taquicardia. Em 31 de agosto, às 2h10min, a paciente sofreu parada cardiorrespiratória e foi a óbito, com diagnóstico de edema agudo de pulmão, sepse com foco pulmonar e pneumonia hospitalar. Conclusão: A fisioterapia dispõe de diversas técnicas que são de grande importância na recuperação de pacientes em pós-operatório de cirurgias cardíacas. Porém, cabe ressaltar que esses pacientes estão sujeitos a inúmeras complicações inerentes à complexidade do procedimento cirúrgico e, por isso, necessitam de minuciosos cuidados pelos profissionais de saúde que o acompanham, já que essas complicações estão associadas a altos índices de mortalidade. Palavras-chave: cirurgia cardíaca, complicações e fisioterapia Referências 1. Matos SS. Diagnósticos de Enfermagem em Pacientes no Pós-Operatório Mediato de Transplante Cardíaco e Validação do Diagnóstico Considerado Mais Característico: Angústia Espiritual. Tese de doutorado da UFMG , Escola de Enfermagem. Belo Horizonte (MG), 2009. 2. Galdeano LE, Rossi LA, Nobre LF, Ignácio DS. Diagnósticos de enfermagem de pacientes no período transoperatório de cirurgia cardíaca. Rev. Latino-am. Enfermagem 2003 Mar/Abr; 11(2):199-206. 3. Kassab KK, Kassab AK. Insuficiência mitral: comparação entre o tratamento clínico e cirúrgico a médio prazo de acordo com a classe funcional. Rev. Bras. Cir. Cardiov. 2002; 17(2):20-3. 4. Timerman A, Sousa JEMR, Piegas LS. Urgências Cardiovasculares. 2ª Ed. São Paulo: Sarvier, 1996. 5. Arcêncio L, Souza MD, Bortolin BS, Fernandes ACM, Rodrigues AJ, Évora PRB. Cuidados pré e pós-operatórios em cirurgia casdiotorácica: uma abordagem fisioterapêutica. Rev. Bras. Cir. Cardiov. 2008 Jul/Set; 23(3).