Amostragem do índice SPAD em plantas de feijão guandu Giovani Facco1 Alberto Cargnelutti Filho 2 Gustavo Oliveira dos Santos1 Réges Bellé Stefanello 3 1 - Introdução O feijão guandu (Cajanus cajan (L.) Millsp.) pertence à família Leguminoseae. É uma planta arbustiva, anual ou mais comumente semiperene, normalmente com 1 a 2 m de altura, podendo atingir até 4 m em manejo plurianual. Tem grande importância como fonte de alimento humano, forragem e também como cultura para adubação verde [6] e [7]. O método padrão para a determinação de clorofila em plantas é realizado em laboratório e apresenta desvantagens, já que é necessário destruir o material vegetal, demandando maior tempo [2]. Os medidores de clorofila portáteis, como Falker ClorofiLOG/CFL 1030 [3], podem ser utilizados para medir o teor de clorofila nas pantas, sem a necessidade de destruir as folhas. Esse método usa fotodiodos emissores em três comprimentos de onda [3] que utilizam princípios ópticos não destrutivos, baseados na absorbância e refletância da luz pelas folhas, tornando a determinação de clorofilas facilitada, rápida e eficiente, podendo ser realizada diretamente no campo, obtendo os dados em tempo real [8]. Esse método é amplamente usado nas culturas de milho, batata e trigo [1]. O equipamento calcula um número ou índice SPAD (Soil Plant Analysis Development) que, normalmente, é altamente correlacionado com o teor de clorofila da folha [5]. O índice SPAD pode variar entre plantas de uma cultura e entre os diferentes terços do dossel de uma mesma planta. Dessa forma, é fundamental o conhecimento do local da planta a ser amostrado, para a determinação do índice SPAD, a fim de contemplar ao máximo a variabilidade do teor de clorofila dentro e entre plantas, de forma que a amostragem seja representativa. No entanto, não foram encontrados trabalhos na literatura indicando o local adequado a ser amostrado na planta, para a determinação do índice SPAD na cultura de feijão 1 Mestrando do Programa de Pós-graduação em Agronomia, UFSM, Santa Maria, RS, Brasil. Departamento de Fitotecnia, Centro de Ciências Rurais (CCR), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), 97105-900, Santa Maria, RS, Brasil. E-mail: [email protected] 3 Curso de Agronomia, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil. Agradecimentos ao CNPq e a CAPES pelas bolsas concedidas e a FAPERGS pelo auxílio financeiro 2 1 guandu. Assim, o objetivo desse trabalho foi determinar o índice SPAD nos terços inferior, médio e superior do dossel de plantas de feijão guandu e determinar o local adequado para a amostragem. 2 - Material e Métodos Foi conduzido um experimento em branco (sem tratamentos) com a cultura de feijão guandu (Cajanus cajan (L.) Millsp.) cultivar ‘BRS Mandarim’, em uma área experimental de 1.848m2, localizada a 29º42'S, 53º49'W e a 95m de altitude. A semeadura foi realizada no dia 20/11/2012, em linha, com espaçamento entre fileiras de 50 cm e com densidade de 20 sementes por metro linear. A emergência das plantas ocorreu no dia 01/12/2012 e a adubação de base utilizada foi de 800 kg ha-1 da fórmula NPK (05-20-20). No dia 16/01/2013, aos 57 dias após a semeadura, a partir das nove horas e trinta minutos, foram selecionadas, aleatoriamente, 30 plantas dentro da área útil do experimento. Depois, em cada uma das folhas, das 30 plantas, foi mensurado os teores de clorofila A, clorofila B e clorofila total nos três folíolos (central, direito e esquerdo). Após foi determinada a média dos teores de clorofila A, clorofila B e clorofila total nos terços inferior, médio e superior do dossel de plantas de feijão guandu. Os terços do dossel da planta foram divididos de forma que cada terço representasse 33,33% das folhas de cada planta. Para a análise de variância foi considerado o modelo matemático de um delineamento experimental de blocos, onde a planta e os terços foram considerados, bloco e tratamento, respectivamente. Os dados foram submetidos à análise de variância, para verificar se os teores de clorofila (A, B e total) diferem entre as plantas e entre os terços do dossel da planta. As médias dos teores de clorofila (A, B e total) entre os terços, foram comparadas por meio do teste de Tukey, a 5% de probabilidade, com auxílio dos aplicativos SISVAR [4] e do Microsoft Office Excel. 3 - Resultados e Discussão Os teores médios de clorofila (índice SPAD) variaram de 15,5 a 36,4 para o teor de clorofila A, de 3,3 a 15,7 para clorofila B, e de 19,1 a 52,1 para o teor de clorofila total (Tabela 1). O menor desvio padrão foi para o teor de clorofila B (2,12) e o maior para o teor de clorofila total (5,57). Os valores do coeficiente de variação oscilaram entre 43,52% para o teor de clorofila A e 82,28% para o teor de clorofila B. Essa variabilidade pode ser explicada pela diferença dos teores de clorofila entre as plantas e entre as folhas da planta. A variabilidade dos teores de clorofila é, particularmente, importante, pois quantifica o teor de 2 células fotossinteticamente ativas no dossel da planta, e a amostragem dos teores de clorofila devem contemplar esta variabilidade. Essa variabilidade sugere que é importante investigar se os teores de clorofila diferem entre os terços da planta. Havendo variabilidade entre os terços da planta seria adequado estratificar a amostra de forma aleatória dentro dos terços da planta, para não subestimar ou superestimar os teores reais de clorofila. Tabela 1. Média, desvio padrão, variância, curtose, assimetria, mínimo, máximo, e coeficiente de variação (CV) dos teores de clorofila (ICF) (A, B e total) nas 30 plantas amostradas. Estatística Média Desvio padrão Variância Curtose Assimetria Mínimo Máximo Coeficiente de variação (%) Clorofila A 28,62 3,53 12,46 0,82 -0,76 15,50 36,40 43,53 Clorofila B 9,09 2,12 4,50 0,01 -0,05 3,30 15,70 49,47 Clorofila total 37,70 5,57 31,02 0,39 -0,50 19,10 52,10 82,28 A análise de variância demonstrou efeito significativo para os efeitos de planta e de terços do dossel da mesma, o que indica existência de variabilidade dos teores de clorofila A, B e total nos diferentes terços da planta e entre plantas (Tabela 2). Tabela 2. Resumo da análise de variância, coeficiente de variação (CV) e média dos teores de clorofila A, B e total em plantas de feijão guandu. Fonte de variação Graus de Liberdade Soma de Quadrados Clorofila A Planta 29 473,91 Terço 2 182,30 Erro 58 93,47 CV (%) 4,48 Média 28,34 Clorofila B Planta 29 178,01 Terço 2 52,15 Erro 58 27,39 CV (%) 7,70 Média 8,93 Clorofila Total Planta 29 1201,96 Terço 2 429,09 Erro 58 212,92 Cv (%) 5,14 Média 37,27 Quadrado Médio Fc Pr>Fc 16,34 91,15 1,61 10,14 56,56 0,00 0,00 6,14 26,08 0,47 13,00 55,21 0,00 0,00 41,45 214,54 3,67 11,29 58,44 0,00 0,00 Maiores valores de clorofilas A, B e total podem ser visualizados no terço médio da planta (Figura 1), confirmando a variabilidade nos teores de células fotossinteticamente 3 ativas, dependendo da localização em que a folha se encontra no dossel da planta. Maiores índices de clorofila proporcionaram maiores taxas fotossintéticas, e, consequentemente, maior acúmulo de matéria seca na planta [10]. 45 Terço inferior Terço médio Terço superior 39,4 a 40 34,3 c Teor de clorofila 35 30 38,1 b 29,7 a 28,9 b 26,4 c 25 20 15 10 7,9 c 9,7 a 9,2 b 5 0 Clorofila A Clorofila B Clorofila total Figura 1. Média de clorofila A, B e total nos terços inferior, médio e superior do dossel de plantas de feijão guandu. Para cada clorofila, médias não seguidas de mesma letra, diferem pelo teste Tukey a 5% de probabilidade. De maneira geral, o teor de clorofila A é maior que o teor de clorofila B, sendo estes teores dispostos em maior quantidade no terço médio, seguido do terço superior e do terço inferior (Figura 1). Essa diferença é atribuída ao posicionamento da folha em relação ao solo, e a quantidade de radiação incidente sobre o mesmo. Como o índice SPAD relaciona-se com teor de clorofila na planta ou com a intensidade do verde da folha, ele expressa o estado nutricional nitrogenado em uma fase específica do ciclo da cultura [9]. Como há diferença do teor de clorofila entre os terços da planta e entre plantas, para a amostragem é necessário mensurar esses teores em todos os terços de um determinado número de plantas. Assim, sugere-se estudos posteriores para a definição do número de plantas e de folhas em cada terço da planta que devem ser amostrados para a estimação da média dos teores de clorofila A, B e total. 4 - Conclusões 4 Há diferenças entre teores de clorofila (A, B e total) nos terços inferior, médio e superior do dossel de plantas de feijão guandu. Para amostragem dos teores de clorofila é recomendado fazer amostragem em cada terço da planta (amostragem estratificada). 5 - Referências [1] ARGENTA, G. et. al. Clorofila na folha como indicador do nível de nitrogênio em cereais. Ciência Rural, v.31, p.715-722, 2001. [2] ARNON, D.I. Copper enzymes in isolated chloroplasts: polyphenoloxydase in Beta vulgaris. Plant Physiology, v.24, p.1-15, 1949. [3] FALKER Automação agrícola. Manual do medidor eletrônico de teor clorofila (ClorofiLOG/CFL 1030). Porto Alegre, 33p, 2008. [4] FERREIRA, D.F. SISVAR: Um programa para análises e ensino de estatística. Revista Symposium, v.6, p.36-41, 2008. [5] MARKWELL, J. et. al. Calibration of the Minolta SPAD-502 leaf chlorophyll meter. Photosynthesis Research, v.46, p.467-472, 1995. [6] MORTON, J. et al. A valuable crop of the tropics. Univ. Puerto Rico - Dep. of Agronomy and Soils, 122p, 1982. [7] OTERO, J.R. Vamos plantar guandu. O zebu das leguminosas. São Paulo. Chácaras e Quintais. 1952. 16p. [8] RICHARDSON, AD. et. al. An evaluation of noninvasive methods to estimate foliar chlorophyll content. New Phytologist, p.185-194. 2002. [9] SILVA, M.C.C. et. al. SPAD index in function of different times of measurement and positions in leaflets of potato fertilized with nitrogen. Revista Ciência Agronômica, v.42, p.971-977, 2011. [10] SOUZA, R. A. et. al. Avaliação qualitativa e quantitativa da microbiota do solo e da fixação biológica do nitrogênio pela soja. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 43, p. 7182, 2008. 5