Crise de preços e violência política atingem setor

Propaganda
Veículo: Sapo Notícias
Jornalista: Redacção
Assunto: Factos Relevantes
Secção: Economia
Pág:
Online
Data: 02/08/2016
Crise de preços e violência política atingem setor mineiro no centro
do país
A violência política e a queda do preço internacional do carvão estão a atingir
o setor mineiro em Tete, centro do país, arrastando em cadeia os
investimentos das pequenas empresas, disseram à Lusa empresários e
sindicatos.
De província adormecida, Tete registou um desenvolvimento "extremamente notório
e rápido" em pouco tempo, com "a explosão do carvão", segundo Carlos Cardoso,
presidente do Conselho Empresarial de Tete, mas o atual contexto político e
económico provocou "um recuo económico degradante".
Carlos Cardoso assinalou que agora "a província é drasticamente afetada" pelo
arrefecimento da indústria extrativa, associada à queda do preço internacional do
carvão e à instabilidade militar entre o Governo e o braço armado da Resistência
Nacional Moçambicana (Renamo), o maior partido da oposição.
"O 'boom' do carvão alicerçou a economia local e nacional, criando bases de
nascimento de centenas de pequenas e médias empresas, mas a queda de preço e
a guerra vieram criar retrocessos e muitos embaraços", destacou o dirigente
empresarial, apelando para um rápido entendimento entre o Governo e a Renamo.
Dados do Centro de Emprego de Moatize, centro da indústria extrativa em Tete,
indicam que das 34 licenças mineiras concedidas pelo Governo desde 2009, todas
estão a "meio gás" ou paralisadas, devido à combinação dos fatores económicos e
da guerra.
As empresas indianas Jindal, ICVL e Minas de Moatize paralisaram a produção do
carvão mineral em Tete, após as multinacionais Riversdale e Rio Tinto terem
desistido do negócio e vendido as suas concessões.
A brasileira Vale continua a explorar o carvão em Tete, mas interrompeu pela
segunda vez num mês o transporte da sua produção para o porto da Beira, na
sequência de três ataques armados aos comboios da mineira no distrito de
Cheringoma, Sofala, atribuídos pelas autoridades aos homens armados da oposição.
Carlos Cardoso, empresário nas áreas de consultoria e advocacia, avançou que
outros projetos em carteira na província de Tete estão a ser retardados e que nos
contactos mantidos com investidores estrangeiros a pergunta é sempre a mesma:
"Qual é a situação atual de Moçambique?"
02/08/2016 1
Veículo: Sapo Notícias
Jornalista: Redacção
Assunto: Factos Relevantes
Secção: Economia
Pág:
Online
Data: 02/08/2016
O abrandamento da indústria extrativa e o conflito estão a afetar em cadeia as
pequenas e médias empresas que surgiram por arrasto da presença das
multinacionais do carvão nas áreas de prestação de serviços e logística.
Os hotéis e condomínios, além de restaurantes e lojas abertos para atender ao
aumento da procura em Tete, enfrentam agora a sua pior crise.
As ocupações nos hotéis andam em média entre os 20% e os 30% e cartas de
pedido de rescisão de contratos de arrendamento chegam quase que diariamente
aos proprietários.
Face à desproporção entre a oferta e a procura, a maioria dos hotéis proporciona
descontos para tentar atrair clientes.
Uma consulta aleatória a um dos hotéis da zona nobre da cidade de Tete dá conta
de que um quarto que antes custava 3.500 meticais (45 euros) é agora
disponibilizado a 800 (dez euros).
"O milagre de Tete está acabar", declarou Fernando Raice, secretário provincial do
Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Indústria, Construção Civil, Madeiras e
Minas (Sinticim).
O sindicalista acredita que, se não fosse a situação da guerra, a queda do preço do
carvão não colocaria em "derrapagem" as operadoras, porque a atual quota do
mercado internacional ainda não está abaixo dos preços de estudo das
multinacionais.
"O carvão não baixou ontem o preço. A Vale, por exemplo, ainda não estava a sofrer
perdas, o que está agora em causa é a guerra, que impede as atividades de colocar
o carvão no mercado" explicou Raice.
A cessação das atividades de algumas empresas e a suspensão de projetos de
investimento também afetaram a capacidade de arrecadação de receitas fiscais.
O setor mineiro contribuiu com 59,3% da receita global no exercício de 2015 em
Tete, e a perspetiva é para uma contínua queda, na sequência da paralisação das
atividades económicas e despedimentos de operários.
02/08/2016 2
Download