UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO
BETINA CANESTRARO MILANI
PIODERMITES BACTERIANAS EM CÃES – REVISÃO DE
LITERATURA
CURITIBA – PR
2009
BETINA CANESTRARO MILANI
PIODERMITES BACTERANAS EM CÃES – REVISÃO DE
LITERATURA
Monografia apresentada à Universidade
Federal Rural do Semi-Árido –
UFERSA, Departamento de Ciências
Animais como requisito parcial para
obtenção do título de Especialista em
Clínica Médica de Pequenos Animais
Orientador: Prof. M.Sc. Olicies da
Cunha - UFPR
CURITIBA – PR
2009
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus pelo dom da vida, pela família que tenho e por todas a pessoas
que ele colocou em meu caminho, pois de alguma forma me modificaram e me tornaram
mais forte.
Agradeço a minha família que sempre estiveram ao meu lado me apoiando e me
dando forças.
Ao meu orientador, que além de mestre e amigo, é para mim uma pessoa muito
especial e admirável, o meu muito obrigado!
Agradeço também aos professores da Equalis que nos abriram novas portas para o
conhecimento e dissiparam nossas dúvidas.
RESUMO
A piodermite canina é uma infecção bacteriana da pele, comum em cães na clínica
veterinária. Não é uma doença primária por isso, é importante a identificação das causas
de base desencadeantes. Comumente estão associadas aos processos alérgicos,
seborréicos, endocrinopatias, imunodeficiências, infestação por ectoparasitas. O
Staphylococcus intermedius é considerado habitante normal da pele dos cães, mas tornase patógeno oportunista, sendo o microorganismo de maior incidência nos piodermas
superficiais e profundos. A etiologia das piodermites é complexa e as recidivas são
constantes configurando o quadro de pioderma recidivante idiopático. O objetivo do
trabalho foi rever os fatores desencadeantes, o diagnóstico e o controle terapêutico.
Palavras chaves: Cão. Piodermite bacteriana. Staphylococcus.
ABSTRACT
The canine pyoderma is a skin infection, common in dogs taken to the veterinary clinic. It
is not a primary disease, thus it is always very important to identify underlying factors.
Commonly these are allergies but endocrinopathy, immunodeficiency, ectoparasiti
infestation and breed predisposition may be envolved. The Staphylococcus intermedius
regognized as a normal to skin of the dogs inhabitant and an opportunist pathogen. The
etiology of canine pyoderma is complex and the recurrente are constant. The objective of
this work is to review diagnostic and the choice of adequate therapeutical conduct to the
treatament.
Keywords: Dog. Bacterial pyoderma. Staphylococcus.
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 - Efetividade dos antibióticos em infecções pelo Staphylococcus
intermedius................................................................................................................................ 17
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 – Classificação das piodermites quanto à profundidade da
lesão...............................................................................................................................
QUADRO
2
–
Principais
antimicrobianos
usados
em
14
piodermites
caninas............................................................................................................................... 18
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
BID
Bis in die (duas vezes ao dia)
mL
militro
SID
Semel in die (uma vez ao dia)
SC
subcutâneo
TID
Ter in die (três vezes ao dia)
VO
Via oral
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................................
8
2. REVISÃO DE LITERATURA........................................................................................
9
2.1. ESTRUTURA E FUNÇÕES DA PELE
9
2.2. MICROBIOTA DA PELE
10
2.3. FISIOPATOLOGIA
10
2.4. DIAGNÓSTICO
12
2.5. CLASSIFICAÇÃO
13
2.6. TRATAMENTO
15
2.6.1 Tratamento tópico
15
2.6.2 Tratamento sistêmico
16
2.7. PIODERMITES RECIDIVANTES
2.7.1. Manutenção terapêutica das piodermites recidivantes
3. CONCLUSÕES.................................................................................................................
19
20
23
REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 24
1. INTRODUÇÃO
A pele é o maior órgão de um organismo, é uma barreira anatômica e fisiológica
entre o organismo e o meio ambiente, portanto é um órgão muito exposto a injúria, pois é
ele quem protege o organismo de agressões físicas e químicas. É um órgão sensível ao
frio, ao calor, à dor, à pressão e ao prurido (LUCAS, 2004).
Justamente por isso a causuítica dermatológica é grande na clínica médica de
pequenos animais, e as piodermites estão entre os principais atendimentos.
A pele possui uma microbiota natural, porém quando há um desequilíbrio esta
pode se multiplicar e causar danos ao hospedeiro.
O diagnóstico não é difícil, mas sim trabalhoso, deve-se excluir algumas doenças
ou ainda considerar doenças primárias.
O tratamento é importante para o bem estar e para a saúde do paciente, além de
ser imprescindível a compreensão do proprietário. Em alguns casos o animal requer um
acompanhamento e tratamento por toda a vida.
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. ESTRUTURA E FUNÇÕES DA PELE
A pele se insere ou ainda da continuidade às mucosas em todos os orifícios:
digestivo, respiratório, ocular e urogenital (LUCAS, 2004).
Geralmente, a espessura da pele que decresce ventralmente, é mais espessa nas
regiões cervical dorsal, torácica dorsal, cefálica e base da cauda, sendo mais delgada nas
regiões axilar, inguinal, perianal e das orelhas. Os pêlos de maneira geral acompanham
este comportamento da pele (LUCAS, 2004).
O pH cutâneo do cão e do gatos varia entre 5,5 a 7,5. Porém em uma mesmo
animal o pH pode variar em diferentes dias, e sabe-se também que o pH varia conforme a
região anatômica, o tipo de manto piloso, a identificação sexual, o status sexual e a raça
(LUCAS, 2004).
A pele compõe-se em basicamente três camadas: a epiderme (camada superior), a
derme (camada intermediária) e a hipoderme, também chamada de tecido celular
subcutâneo. Pode-se relacionar várias funções do tegumento, entre elas (LUCAS, 2004):
proteção contra perda de eletrólitos, água e macromoléculas, possibilitando assim
meio adequado para outros órgãos;
proteção contra injúrias externas, como agressões físicas, químicas e ainda
microbiológicas, pois existe uma microbiota natural na pele;
produção de estruturas queratinizadas, como pêlos, unhas e a camada córnea,
efetivos também na proteção da pele;
flexibilidade;
termorregulação;
imunorregulação, pois apresenta imunidade celular e humoral;
pigmentação devido a melanina que é responsável pela pigmentação dos pêlos,
ajudando na proteção contra raios solares e difusão da radiação ultravioleta;
secreção: glândulas sudoríparas e sebáceas responsáveis pela manutenção,
lubrificação, termorregulação e odorores;
produção de vitamina D, pois esta sofre ativação cutânea;
percepção, pois há uma grande rede nervosa cutânea.
2.2. MICROBIOTA DA PELE
Na pele dos cães podemos encontrar bactérias residentes, transitórias e
patogênicas, assim como fungos (CODNER; RHODES, 2003; ROSSER, 1998;
ROSSER, 2004).
As bactérias residentes vivem em simbiose com o hospedeiro, e podem ser
isoladas nos cultivos rotineiros de pele ou pelame dos animais. Dentre elas estão os
estafilococos coagulase- negativos (S. epidermidis, S. cohnii, S. saprophyticus, S.
hominis, S. haemolyticus, S. capitis, S. warneri, S. xylosus, S. simulans, S. sciuri);
estafilococos coagulase-positivos (S. intermedius), Micrococcus sp.; estreptococos alfahemolíticos e Acinetobacter sp. As bactérias transitórias (Escherichia coli, Proteus
mirabilis, Pseudomonas aeruginosa, Corynebacterium sp. e Bacillus sp., Streptococcus,
Alcaligenes sp. e Staphylococcus sp. ) não são cultivadas rotineiramente e não se
multiplicam em condições normais, mas podem provocar infecções secundárias. As
bactérias patogênicas têm a capacidade de invadir tecido e provocar doenças, em geral
são estafilococos coagulase- positivos (S. intermedius, S. aureus, S. hyicus) (CODNER;
RHODES, 2003; LARSSON JR., 2008; ROSSER, 1998; ROSSER, 2004).
Malassezia pachydermatis (Pityrosporum canis) faz parte da microbiota, quando
ocorrem alterações no microambiente local como aumento da umidade, da temperatura e
do substrato, determinando uma elevação do número de células, ocorre a transição da
forma comensal para o parasitismo (NOBRE, 1998).
2.3. FISIOPATOLOGIA
O principal patógeno cutâneo isolado a partir de lesões piogênicas das dermatites
na espécie canina, no início dos anos 80, era o Staphylococcus aureus, porém estudos
taxonômicos revelaram uma nova espécie de estafilococos coagulase positivo, o
Staphylococcus intermedius (CONCEIÇÃO; FABRIS, 2000).
O Staphylococcus intermedius além de ser uma bactéria residente, é também o
responsável pela maioria das piodermites superficiais e profundas em cães. Uma
colonização excessiva somada a uma série de alterações na superfície da pele inicia uma
infecção bacteriana (CODNER; RHODES, 2003; ROSSER, 2004).
As infecções da pele ocorrem quando a integridade da superfície da pele é
rompida, ou seja, quando a pele torna-se macerada pela exposição crônica à umidade,
quando a microbiota normal é alterada, quando a circulação foi comprometida ou ainda
quando a imunidade do animal estiver comprometida (CODNER; RHODES, 2003;
LUCAS, 2004; ROSSER, 2004).
Segundo Rosser (2004), as piodermites recidivantes resultam de um processo
mórbido subjacente que permite que o Staphylococcus intermedius se torne um
oportunista e invada o estrato córneo e o folículo piloso.
A invasão do estrato córneo, que ocorre no impetigo, resulta na formação de
pústulas não foliculares, ou seja, pústulas que não têm haste pilosa em seu centro. O
rompimento de uma pústula da origem a crostas e colaretes epidérmicos (ROSSER,
2004).
Quando ocorre a invasão do folículo piloso, como na foliculite, encontram-se
pústulas foliculares e pápulas, que também se rompem e formam crostas e colaretes
epidérmicos (ROSSER, 2004; SCOTT et al., 1995).
A presença de pústulas e pápulas, decorrentes de infecção bacteriana
freqüentemente está associada a prurido, devido a enzimas proteolíticas produzidas pelas
bactérias presentes. As lesões mais antigas evoluem para áreas anulares de alopecia e
hiperpigmentação (ROSSER, 2004; SCOTT et al., 1995).
As piodermites profundas são uma evolução das piodermites superficiais, a
infecção segue para as camadas mais profundas do folículo piloso, este se rompe,
causando a furunculose. Esta infecção pode ainda invadir a derme mais profunda e os
tecidos subcutâneos, causando a celulite (ROSSER, 2004; SCOTT et al., 1995).
2.4. DIAGNÓSTICO DAS PIODERMITES
Muitas doenças podem imitar ou ainda predispor ao quadro de piodermite.
Portanto são indispensáveis alguns exames laboratoriais para o diagnóstico e também
para conhecer alguns fatores predisponentes (CODNER; RHODES, 2003; CONCEIÇÃO
et al., 2004).
Raspado de pele
Todo animal que apresente dermatose deve fazer este exame para investigar
ácaros, pois a sarna demodécica pode apresentar lesões pápulo-pustulares, como nas
piodermites além de se complicar com graves infecções bacterianas. Os ácaros Demodex
canis em geral são vistos com facilidade, exceto em pododermatites, pois pode ser difícil
colher amostra representativa nessa região devido à fibrose e friabillidade tecidual.
Raspados secos podem ser corados como esfregaços para procurar por Malassezia
pachydermatis, que pode ser a causa primária de uma piodermite (CONCEIÇÃO;
FABRIS, 2000; NOBRE, 1998).
Cultura fúngica
Os dermatófitos são por principais causadores de foliculites na espécie canina,
assim o descarte de infecção dermatofítica é fundamental quando se investiga a etiologia
de qualquer foliculopatia. A dermatofitose pode ser clinicamente variável, imitando
muitas condições de acometimento cutâneo. O exame tricográfico também é útil,
podendo revelar estruturas fúngicas em pêlos bem selecionados (CONCEIÇÃO;
FABRIS, 2000).
Exame citológico
O material pode ser obtido de pústulas íntegras ou de trajetos drenantes. Corantes
tipo Romanowsky e de coloração rápida (panótico) podem ser usados, no entanto outros
métodos como Leishman ou Giemsa são também apropriados. Essas colorações oferecem
a vantagem do exame de celularidade, bem como de microorganismos. A presença de
bactérias livres, não fagocitadas e de neutrófilos íntegros favorecem o diagnóstico de
colonização ao invés de infecção, onde se observam bactérias fagocitadas e neutrófilos
degenerados (NOBRE, 1998; ROCHA, 2008).
Biopsia de pele
O auxílio da biopsia não se limita apenas ao diagnóstico da condição infecciosa,
mais importante talvez, é o reconhecimento do processo de base que predispõe à
infecção. Por essa razão e também pelo fato de que com alguma experiência, é
relativamente fácil chegar ao diagnóstico clínico de uma piodermite, aconselha-se
primeiro tratar o quadro infeccioso para depois proceder a biopsia do animal. Essa
conduta facilita a identificação do problema de base, uma vez que as alterações
histopatológicas da infecção piodérmica usualmente ofuscam as mudanças das condições
predisponentes (CONCEIÇÃO et al., 2004).
Cultura bacteriana, antibiograma e patologia clínica
Indicados para infecções mistas e profundas, em casos recorrentes ou ainda
quando a antibioticoterapia falhar. Os bastonetes Gram negativos são imprevisíveis no
tocante à sensibilidade antibiótica e devem ser testados sempre que observados no exame
citológico. Os resultados do teste são mais confiáveis quando se utilizam pápulas,
pústulas ou nódulos íntegros para obtenção do material. Entretanto, nas piodermites
profundas, quando não existirem lesões íntegras, o material pode ser coletado de trajetos
drenantes, desde que as crostas sejam removidas e a superfície higienizada, diminuindo
assim a população de bactérias contaminantes (CONCEIÇÃO; FABRIS, 2000;
LARSSON JR, 2008).
2.5. CLASSIFICAÇÃO
As piodermites podem ser classificadas de várias maneiras, a classificação que
leva em consideração a profundidade da lesão, é bastante útil na clínica médica, pois
esclarece a abordagem terapêutica e prognóstica (Quadro 1). Lesões superficiais podem
ser tratadas apenas com terapia tópica, enquanto que nas lesões profundas devemos
associar terapia sistêmica e a terapia tópica (CONCEIÇÃO; FABRIS, 2000).
Nas piodermites externas há colonização de bactérias apenas na superfície
epidérmica, nas piodermites superficiais há envolvimento da epiderme e do epitélio
folicular, por sua vez, na piodermite profunda há envolvimento da derme e algumas vezes
do tecido subcutâneo (CONCEIÇÃO; FABRIS, 2000; LARSSON JR, 2008; ROSSER,
1998).
QUADRO 1 – Classificação das piodermites quanto à profundidade da lesão.
Piodermite externa
Piodermite superficial
Piodermite profunda
Dermatite aguda úmida
Impetigo
Foliculite
e
furunculose
e
furunculose
e
furunculose
profunda
Piodermite
das
dobras Piodermite mucocutânea
cutâneas
Foliculite
Foliculite superficial
Nasal
Intertrigo
Foliculite
Podal
Foliculite piotraumática
Piodermite dos calos de
apoio
Piodermite
Alemão
Celulite
Fonte: adaptada de CONCEIÇÃO; FABRIS (2000)
do
Pastor
As infecções cutâneas podem também ser classificadas como primárias ou
secundárias para refletir a ausência ou a presença de uma causa básica (LARSSON JR.,
2008).
As infecções primárias quando tratadas de maneira adequada não recidivam, já as
infecções cutâneas secundárias são as mais comuns, e podem envolver outros agentes
além dos estafilococos, elas respondem de maneira mais lenta ou insatisfatória ao
tratamento, portanto a base do problema deve ser descoberta (ROSSER, 2004; SCOTT et
al, 1995).
2.6. TRATAMENTO
O sucesso da terapia depende do reconhecimento e eliminação do processo de
base. A permanência da causa subjacente resultará em resposta terapêutica inadequada ou
recorrência após o término do tratamento (CONCEIÇÃO; FABRIS, 2000).
O tratamento das piodermites pode ser tópico, sistêmico, cirúrgico ou ainda uma
combinação de duas ou mais modalidades (CODNER; RHODES, 2003; CONCEIÇÃO;
FABRIS, 2000; LARSSON JR., 2008; ROSSER, 1998; ROSSER, 2004; SCOTT et al,
1995).
2.6.1 Tratamento tópico
Com muita freqüência se utiliza o tratamento tópico em associação com a terapia
sistêmica, uma vez que a terapia tópica atua como adjuvante à terapia sistêmica,
acelerando a resposta terapêutica ou mesmo impedindo as recorrências. Sabe-se que
quanto mais eventos de terapia tópica realizadas, menor o tempo de tratamento sistêmico
(CONCEIÇÃO; FABRIS, 2000; ROSSER, 2004; SCOTT et al, 1995).
A eficácia da medicação tópica guarda relação com a absorção percutânea. O
veículo deve ser escolhido, tendo-se em mente a solubilidade do medicamento, a
velocidade com que este se libera e o quanto de hidratação da camada córnea é
propiciada pelo veículo e as interações entre veículo princípio ativo camada córnea
(CONCEIÇÃO; FABRIS, 2000; ROSSER, 2004; SCOTT et al, 1995).
Dentre os fatores biológicos que podem interferir na absorção dos medicamentos,
podemos citar: faixa etária (os indivíduos mais jovens absorvem melhor os medicamentos
de uso tópico), a higidez do tegumento (pele erosada e ou inflamada absorve melhor os
princípios ativos), a região corpórea (escroto, fronte, membros torácicos) e regiões palmo
plantares absorvem melhor os medicamentos empregados em pacientes humanos
(ROSSER, 2004; SCOTT et al, 1995).
Existem várias formas de se utilizar a terapia tópica, como rinses, géis, soluções,
emulsões, pós, loções, ungüentos, xampus, cremes, pomadas, porém os xampus são as
formulações mais empregadas, pois são de fácil aplicação e têm melhor aceitação dos
proprietários (CONCEIÇÃO; FABRIS, 2000; LARSSON JR., 2008).
Os princípios ativos utilizados na terapia tópica são: a clorexidina em
concentrações de 0,5 a 4% e o peróxido de benzoíla 2,5 a 3,5%, na formulação xampu,
sendo este o tratamento de escolha em piodermites mais profundas, devendo ser evitado
em peles muito irritadas. O irgasan ou triclorfon, iodo povidona, clindamicina,
cetoconazol, metronidazol, eritromicina, aloe vera, calêndula, solução de Burrow e
permanganato de potássio (soluções adstringentes) e a mupirocina e rifampicina (pomada
e cremes) também podem ser utilizados (CONCEIÇÃO; FABRIS, 2000; ROSSER,
2004).
A freqüência e a duração da terapia tópica dependem da gravidade e da evolução
do quadro clínico, além da escolha do princípio ativo. Geralmente os banhos são dados a
cada quatro dias, com um tempo de contato do xampu com a pele do animal de 10 a 15
minutos e com água não muito quente (CONCEIÇÃO; FABRIS, 2000; LARSSON JR.,
2008).
2.6.2 Tratamento sistêmico
É fundamental que o tratamento dure o suficiente para liquidar completamente a
infecção e não apenas levar à cura aparente, portanto o animal deve ser monitorado para
isso. As lesões de pele cicatrizam mais rápido na superfície, mas os focos infecciosos
podem continuar ativos na profundidade. A interrupção prematura da antibioticoterapia
sistêmica tem sido apontada como a principal causa de recorrência das infecções cutâneas
(CONCEIÇÃO; FABRIS, 2000; ROSSER, 2004; SCOTT et al, 1995).
A escolha do antibiótico
De acordo com Rosser (2004), o agente etiológico deve ser identificado sempre
que possível. Quando isto não for possível, deve-se presumi-lo com base em dados como
quadro clínico, localização do processo infeccioso, faixa etária, achados epidemiológicos
e laboratoriais. O Gráfico 1 exibe os principais antibióticos e sua eficácia.
GRÁFICO 1 - Efetividade dos antibióticos em infecções pelo Staphylococcus
intermedius
Fonte: Lucas, 2008 b.
Sabe-se que somente cerca de 4% do volume sangüíneo bombeado pelo coração
atingem a pele. Dos níveis séricos de antibiótico, 60% atingem a hipoderme e 40%
chegam às junções dermoepidérmicas, portanto, deve-se proceder a administração do
antibiótico em doses adequadas, respeitando o intervalo entre doses de maneira que as
bactérias sejam mortas ou suprimidas (FOSSUM, 2005; SCOTT et al, 1995).
Nas piodermites superficiais o uso de antibióticos de espectro restrito e ação
bacteriana são preferíveis, por este motivo os fármacos das famílias das cefalosporinas e
das quinolonas são os mais recomendados, embora inúmeros possam ser utilizados
(Quadro 2) (LARSSON JR., 2008).
Os antibióticos como amoxicilina, ampicilina e penicilina, são inativados pela βlactamase, produzida pelo S. intermedius e a tetraciclina por sua vez possui pouca
atividade contra o S. intermedius, possuindo então pouca indicação para o tratamento das
piodermites na espécie canina. Entretanto, a ampicilina e a amoxicilina são indicadas
quando o agente etiológico for a Pasteurela sp. A penicilina é a droga de escolha para o
Actinomyces e a tetraciclina é a droga de escolha para micoplasma, microrganismos estes
que podem eventualmente causar infecções cutâneas (CONCEIÇÃO; FABRIS, 2000;
LARSSON JR., 2008).
QUADRO 2 – Principais antimicrobianos usados em piodermites caninas.
ANTIBIÓTICO
MODO DE AÇÃO
VIA
DOSE
(mg/kg)/
FREQÜÊNCIA
Amicacina
Bactericida
SC
5 TID
Amoxicilina + Clavulanato
Bactericida
VO
20 BID
Cefadroxil
Bactericida
VO
10-20 BID
Cefalexina
Bactericida
VO
22-30 BID
Clindamicia
Bactericida
VO
5-10 BID
Cloranfenicol
Bacteriostático
VO, SC
50 TID
Enrofloxacina
Bactericida
VO,SC
5-22 SID
Eritromicina
Bacteriostático
VO
10-15 TID
Gentamicina
Bactericida
SC
2-4 TID
Lincomicina
Bacteriostático
VO
15-20 TID
Oxacilina
Bactericida
VO,SC
10-20 QID
Tobramicina
Bactericida
SC
1 TID
Trimetropin + Sulfadiazina
Bactericida
VO
15-30 BID
Trimetropin + Sulfametoxazol
Bactericida
VO
15-30 BID
Fonte: Lucas, 2008 a.
Para evitar as recidivas, já que muitas vezes há uma cura aparente das lesões,
recomenda-se que o tratamento seja estendido por mais sete a 21 dias após a cicatrização
superficial, dependendo da severidade do quadro inicial. Nas infecções profundas, o
antibiótico deve ser administrado após cessar completamente a inflamação dérmica.
Durante as primeiras duas semanas, a lesão melhora e então aparentemente não responde
aos antibióticos devido a resolução do componente piogênico da infecção, mas o
componente granulomatoso permanece mais lentamente. O ideal e a continuação do
tratamento por 12 semanas. (LARSSON JR., 2008; SCOTT et al, 1995).
2.7. PIODERMITES RECIDIVANTES
As piodermites recidivantes podem ocorrer em alguns casos apesar do diagnóstico
diligente e de medidas terapêuticas adequadas. Alguns animais apresentam infecções
recidivantes ou quadros constantes de piodermites, que podem estar relacionados a um
tratamento inadequado ou a uma doença primária, não identificada, que rompe a barreira
natural da pele (CONCEIÇÃO; FABRIS, 2000; LARSSON JR., 2008).
É importante avaliar o tempo de aparecimento da recidiva, quando surgem lesões
dentro de sete dias após o fim do tratamento provavelmente a infecção não estivesse
resolvida ainda e fosse necessário um período maior de tratamento. Caso as lesões
reapareçam semanas ou meses após o último tratamento é provável que a causa seja uma
doença de base, não tratada, que está danificando a pele, como por exemplo, seborréia
(CONCEIÇÃO; FABRIS, 2000; LARSSON JR., 2008).
Nestes pacientes deve-se revisar o tratamento anterior quanto ao principio ativo, a
dosagem, a freqüência de administração, bem como a cooperação do proprietário. Os
exames complementares também devem ser realizados para procurar uma possível causa
primária ou ainda a sensibilidade do agente frente a outros princípios ativos em caso de
resistência ao antibiótico utilizado anteriormente (CONCEIÇÃO; FABRIS, 2000;
LARSSON JR., 2008; NOBRE, 1998).
É imperativo avaliar a presença de prurido ou não, e se o prurido desaparece com
o tratamento. Se o prurido desaparecer é preciso buscar uma causa de base não
pruriginosa como o hipotireoidismo, demodiciose ou ainda seborréia. Caso o prurido
persista, então a doença de base a ser pesquisada deve ser pruriginosa como: doenças
alérgicas ou parasitárias como no caso da Malasseziose (CONCEIÇÃO; FABRIS, 2000;
LARSSON JR., 2008; NOBRE, 1998).
2.7.1. Manutenção terapêutica das piodermites recidivantes
Nas piodermites recidivantes, nas quais os agentes etiológicos e as neoplasias
foram descartados, e nenhuma causa básica foi encontrada, pode ser feita uma
manutenção deste paciente. Se o animal necessita de antibióticos apenas de maneira
intermitentemente, como cada dois ou três meses, ou seja, menos de 100 dias ao ano,
devem-se tratar somente as crises, mas, caso contrário, pode-se controlar as recidivas
através de imunoestimulação e pulsoprofilaxia (LARSSON JR., 2008).
Imunoestimulação ou Imunomodulação
O termo imunomodulação implica em regular, adaptar ou ajustar o sistema imune
dentro de um estado da doença onde o sistema imune seja interpretado para ser
suprimido. A imunomodulação em geral consiste em estimular o sistema imune ao longo
de um caminho alternativo que seja benéfico para o paciente (FOSTER, 2004).
Os imunomoduladores utilizados são produzidos a partir de agentes bacterianos
comumente causadores de piodermites caninas, como por exemplo, o Staphage Lysate®1
e o Estafilin®2, sintetizados, respectivamente, a partir de cepas de Staphylococcus aureus
e de Staphylococcus aureus conjuntamente com Staphylococcus intermedius (CODNER;
RHODES, 2003; FOSTER, 2004; LARSSON JR., 2008; ROSSER, 1998).
Quando se utiliza o Staphage Lysate®, deve-se iniciar antibioticoterapia prévia e
concomitante, por período mínimo de 21 dias, sendo que após a suspensão do antibiótico
a aplicação do imunoterápico deve ser mantida. Protocolos estabelecidos pelo fabricante
para uso do Staphage Lysate®:
1) Protocolo bi semanal:
6
1 Delmont Laboratories ®, EUA; frasco de 10 ml (contendo 120 a 180 X 10 UFC de S. aureus e 100 X
6
10 de bacteriófagos de estafilocócicos.
2
Instituto Dermatológico Veterinário®, Buenos Aires, Argentina; frasco ampola 5ml; (composto por cepas
6
de S.aureus e S. intermedius, 1 X 10 bactérias/ ml).
Aplicação de 0,5ml por via subcutânea (SC), duas vezes por semana, durante 16
semanas.
2) Protocolo Semanal:
Semana 1
0,2ml por via subcutânea
Semana 2
0,4ml por via subcutânea
Semana 3
0,6ml por via subcutânea
Semana 4
0,8ml por via subcutânea
Semana 5
1,0ml por via subcutânea
Depois de atingir 1,0 ml, continuar com injeções semanais de 1,0 ml por
aproximadamente 10 a 12 semanas.
Antes do uso do produto o fabricante recomenda fazer o teste intradérmico com
0,05 a 0,1 ml do produto. Após o emprego de qualquer um dos protocolos, é
frequentemente necessário administrar injeções mensais de reforço de 1,0 ml para
prevenir a recorrência.
No caso do Estafilin® também é necessária a antibioticoterapia prévia, com
duração de aproximadamente 21 dias, após inicia-se a aplicação do produto, de acordo
com o protocolo estabelecido pelo fabricante:
Dias 1,2 e 3
0,2ml por via subcutânea
Dias 5 a 19
0,2ml por via subcutânea
Dias 21, 25, 29 e 33 0,4ml por via subcutânea
Após os 33 dias recomenda-se manter aplicações de 0,5ml a cada 10 dias.
As vacinas estafilocócicas autógenas, que são preparadas a partir de culturas da
pele do próprio paciente, contêm a cepa específica de Staphylococcus intermedius
causadora da infecção, também são uma opção. O protocolo recomendado é 1,0 ml
semanal durante quatro semanas, após 1,0 ml a cada 15 dias durante outras quatro
semanas, e ainda 1,0 ml a cada 30 dias. Este protocolo também pode ser associado com
antibioticoterapia e ainda o tratamento tópico com xampus já citados (LARSSON JR.,
2008).
Pulsoterapia
Uma alternativa terapêutica para o controle da piodermite recidivante é um
protocolo duradouro de antibioticoterapia, este pode ser em subdosagem ou em dosagem
inteira, empregada de forma descontínua, caracterizando a chamada pulsoterapia. Esta
alternativa deve ser empregada apenas em casos em que os tratamentos usuais
fracassaram e o paciente tem recidivas constantes (LARSSON JR., 2008).
Alguns pontos devem ser ponderados quando se opta por este tratamento, entre
eles: os efeitos adversos dos antibióticos empregados, a indução da resistência do
patógeno ao antibiótico empregado, a disseminação de cepas resistentes no ambiente e
deve-se levar em conta o custo relativamente caro do tratamento além do
acompanhamento do paciente por um longo período (LARSSON JR., 2008).
Os antibióticos mais indicados para este tratamento são: a cefalexina, a
enrofloxacina, a morbofloxacina, a amoxicilina com clavulanato de potássio e a oxacilina
(LARSSON JR., 2008).
A pulsoterapia deve ser utilizada após a antibioticoterapia, ou seja, após 21 dias
seguidos de antibióticos. Existem dois protocolos em pulsoterapia, a pulsoterapia
antibiótica em “semanas alternadas” que consiste na administração do antibiótico por sete
dias consecutivos, e fica na semana seguinte sem antibiótico, no período seguinte recebe
mais sete dias me medicação, e fica sem medicação por 14 dias seguidos. Gradativamente
ocorre um aumento do intervalo de dias em que o paciente não recebe antibiótico, com o
objetivo de manter o paciente por uma semana sob terapia e interrupção desta por até 21
dias Outra opção de protocolo é a pulsoterapia antibiótica de “finais de semana”, neste
protocolo o paciente recebe a medicação durante dois dias da semana, não havendo
administração do antibiótico por cinco dias seguidos, de forma intercalada. Os
proprietários optam pelos fins de semana para administração do antibiótico, por isso o
nome do protocolo (LARSSON JR., 2008; LUCAS, 2008a).
No Brasil, como em outros países, têm se utilizado cada vez mais a pulsoterapia,
como uma alternativa terapêutica em casos de piodermites recidivantes (LARSSON JR.,
2008; LUCAS, 2008a).
3. CONCLUSÕES
Dentre os casos dermatológicos na clínica médica de pequenos animais as
piodermites são os mais comuns, visto que qualquer alteração na superfície da pele abre
“portas” para os patógenos. O Staphylococcus intermedius é um patógeno comumente
isolado, pois está presente na microbiota normal da pele, ou seja, é uma bactéria
oportunista.
É extremamente importante que a causa primária seja identificada, e que o
paciente receba o tratamento correto, de acordo com a dose e a freqüência de
administração. Pois o tratamento incorreto leva o animal a recidivas, além de resistência
bacteriana a alguns antibióticos.
Alguns animais apresentam piodermite recidivante idiopática, onde todas as
causas primárias foram descartadas. Nestes casos os animais necessitam de tratamento de
manutenção como imunomodulação ou pulsoterapia antibiótica.
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