Zika vírus: imunização deve chegar a postos e hospitais em três anos

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INSTITUTO EVANDRO CHAGAS
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VEÍCULO: CORREIO BRAZILIENSE
DATA: 11/04/2017
ASSUNTO: ZIKA VÍRUS E VACINA
PÁG. A14
TIPO: NOTÍCIA
ENDEREÇO WEB:
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/ciencia-esaude/2017/04/11/interna_ciencia_saude,587520/vacina-contra-zika-deve-chegar-a-postos-e-hospitais-em-tresanos.shtml
ACESSADO EM: 11/04/2017
Zika vírus: imunização deve chegar a postos e hospitais em três anos
Pedro Vasconcelos, diretor do Instituto Evandro Chagas (IEC) e autor principal do estudo.
Pesquisadores brasileiros anunciaram o sucesso no desenvolvimento de uma vacina contra o zika,
em parceria com colegas norte-americanos. A imunização, testada por enquanto em ratos, se
mostrou eficaz e segura. Até o fim deste mês, devem ser publicados os resultados dos estudos
com primatas não humanos, que estão sendo feitos em Ananindeua (PA), no Rio de Janeiro e nos
Estados Unidos. De acordo com o principal autor do trabalho, o virologista Pedro Vasconcelos,
diretor do Instituto Evandro Chagas (IEC), os testes preliminares com esses animais são
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animadores. Ele acredita que, se os experimentos em humanos forem bem-sucedidos, daqui a dois
ou três anos, os postos de saúde do país já oferecerão a vacina contra a doença.
A demanda por uma imunização tornou-se urgente no fim de 2015, quando ficou evidente que a
epidemia de microcefalia registrada no Brasil estava associada à infecção pelo zika, um vírus
contra o qual, até então, a população não tinha defesas naturais. Embora a doença causada pelo
micro-organismo e transmitida pelo mosquito Aedes Aegypti seja muito mais branda que a
dengue, em fetos de gestantes infectadas, o resultado é devastador. Além do perímetro encefálico
reduzido, as crianças nascem com malformações nos membros superiores e inferiores, entre
diversas outras complicações.
Em 1º de dezembro daquele ano, Vasconcelos estava em Manaus quando recebeu um telefonema
do então secretário executivo do Ministério da Saúde, o bioquímico Agenor Álvares. Ele perguntou
se o IEC, vinculado à pasta e uma referência mundial em medicina tropical, poderia liderar um
estudo para o desenvolvimento da vacina contra o zika. "Falei que o ideal seria uma ação conjunta
entre o instituto e uma instituição estrangeira para que tivéssemos mais celeridade. Sozinhos,
demoraria muito", contou o virologista. Como ele fez doutorado e pós-doutorado na Universidade
do Texas, parceira do IEC, ficou acertada a cooperação. Em abril do ano passado, Vasconcelos
viajou com os pesquisadores Daniele Medeiros e Bruno Tardeli para os Estados Unidos, onde o
ministério assinou o contrato de parceria.
Um ano e R$ 10 milhões investidos pelo Ministério da Saúde depois, saiu a primeira publicação
sobre o estudo, divulgada ontem na revista Nature Medicine. Esse foi o prazo que Vasconcelos
combinou com Álvares para obter os primeiros resultados, que se mostraram bastante
promissores. "Vacinas bem-sucedidas requerem um balanço exato entre eficácia e segurança",
observa Pei-Yong Shi, autor sênior do artigo e pesquisador do Departamento de Bioquímica e
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Biologia Molecular da Universidade do Texas em Galveston. Na fase pré-clínica, feita com animais,
foi exatamente isso que os cientistas conseguiram.
Dose única
Embora existam outras vacinas contra zika em desenvolvimento e em fases mais avançadas de
pesquisa, essa é a primeira que usa vírus vivo atenuado. Essa abordagem -- a mesma da vacina de
febre amarela, um flavovírus como o zika e o da poliomelite, por exemplo -- consiste em modificar
o vírus, apagando algumas partes dele, de forma que não represente riscos, mas, ao mesmo
tempo, esteja vivo para simular a reação do organismo diante da ameaça externa. "A vantagem
desse tipo de vacina sobre as outras é que, com uma única dose, conseguimos desenvolver
proteção, induzindo a formação de anticorpos no organismo, ao contrário das outras", explica
Pedro Vasconcelos.
Enquanto isso, as substâncias feitas com fragmentos de DNA ou com o vírus inativo necessitam de
até três doses, exigindo, às vezes, mais reforços. "Todo mundo sabe que, quando precisa vacinar
uma pessoa mais de uma vez, é complicado, principalmente quando envolve adultos, adolescentes
e crianças maiores, como é nossa proposta para essa vacina do zika. Seriam (imunizados) mulheres
e jovens em idade fértil e crianças antes da puberdade, para proteger contra microcefalia", diz. No
laboratório, os cientistas utilizaram um modelo de camundongo chamado nocaute, no qual falta o
interferon, uma proteína que impede as infecções virais. Portanto, o animal com essa mutação é
bem mais suscetível à ação do vírus. "Mesmo pequenas doses são capazes de matá-los", conta o
virologista brasileiro. Depois de retirar 10 nucleotídeos do vírus e, assim, garantir que ele estava
com ação reduzida, os cientistas o injetaram no cérebro dos camundongos. Todos sobreviveram.
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Para comparação, a equipe inoculou outro grupo de nocautes com o vírus selvagem (não
modificado) e, nesse caso, todos morreram. "A segurança é um importante obstáculo quando
desenvolvemos vacinas de vírus vivo atenuado. A nossa vacina do zika mostrou um perfil
promissor nos ratos quando comparada a vacinas do tipo clinicamente aprovadas, como a da
febre amarela", destaca Pei-Yong Shi.
Com a segurança da vacina assegurada, foi hora de testar a eficácia. Trinta dias depois de terem
vacinado os camundongos nocautes, os cientistas expuseram os animais ao vírus selvagem.
"Nenhum morreu, e o vírus não conseguiu se replicar nos tecidos e no sangue desses animais,
mostrando que eles tinham uma proteção bastante efetiva", diz Vasconcelos.
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