VITÓRIA, ES, TERÇA-FEIRA, 29 DE DEZEMBRO DE 2015 ATRIBUNA 3 Reportagem Especial LEONE IGLESIAS - 04/12/2015 IMUNIZAÇÃO Desafio agora é o zika vírus vacina aprovada ontem pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é voltada apenas para prevenir casos de dengue. Mesmo assim, o laboratório francês responsável pelo desenvolvimento da imunização afirmou que há interesse em começar a desenvolver uma vacina também contra o zika vírus, responsável pelo aumento de casos de microcefalia (má-formação) em bebês. A diretora médica da SanofiAventis, Sheila Homsani, afirmou que o laboratório já iniciou discussões sobre a viabilidade de começarem os estudos para uma vacina contra o zika vírus. “Ainda estamos iniciando as conversas, já que os casos ainda são muito recentes”, disse. Mas as pesquisas de vacinas geralmente levam anos. Segundo Sheila Homsani, foram quase 20 anos para que a vacina contra a dengue fosse liberada. “O prazo foi longo. Um dos motivos é o desafio de serem quatro sorotipos que deveriam estar em uma vacina”, explicou a diretora médica da Sanofi-Aventis. DESAFIO O diretor do Núcleo de Doenças Infecciosas da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Reynaldo Dietze, disse que a vacina contra o zika vírus é o próximo desafio. “No passado não se pensou em uma vacina, pois era uma doença autolimitada, benigna, que em uma semana, em média, a pessoa apresentava melhora dos sintomas”, comparou. Porém, ele disse que agora, com os casos de microcefalia em bebês, é preciso estudar a doença e qual o percentual está causando essa anomalia. “Precisamos ver o que está acontecendo com esse zika no Brasil. Existem duas linhagens do vírus zika: uma da África, local onde ele foi descoberto pela primeira vez, e depois tem também a do sudeste asiático”, destacou Dietze. E completou: “Nesses dois locais não teve nenhuma coisa chamando a atenção para uma epidemia de microcefalia. Então esse zika nosso é diferente: vamos chamá-lo de zika 3, o zika das Américas, ou tem alguma coisa errada na forma de estar avaliando a epidemia.” A Combate ao mosquito deve ser mantido Mesmo com a aprovação de uma nova forma de prevenção de casos de dengue, o governo do Estado e médicos alertaram que a guerra contra o mosquito deve continuar. A gerente de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), Gilsa Rodrigues, afir- Números da dengue e zika Mais de 1.700 casos no País CASOS DE ZIKA VÍRUS NO ESTADO Casos de zika 25 BEBÊS COM MICROCEFALIA FUNCIONÁRIOS com equipamentos usados contra focos do )A@AI =ACOFJE CASOS SUSPEITOS 825 DIVULGADOS PELA SESA > ENTRE OS casos, há 4 BEBÊS grávidas que estão com microcefalia gerando bebês com microcefalia por ano. Essa era e também crianças a média de casos no Estado até que já nasceram 2014. neste ano com a máformação. A relação com o zika vírus está sendo investigada. 752 notificados pelas investigados prefeituras de Vitória, Vila pela Sesa Velha, Serra e Cariacica * Os números são próximos porque a Sesa os atualiza semanalmente. Já as prefeituras fazem isso diariamente. 9 casos confirmados por exames laboratoriais 8 em Vitória, 1 em Vila Velha GILSA RODRIGUES: orientação CASOS NO BRASIL NESTE ANO mou que a vacina traz boas expectativas para a redução dos casos de dengue, mas a população não pode relaxar, já que ela não protege contra outras doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, como a zika e chikungunya. “A orientação é que todos tirem 10 minutos por semana para fazer uma vistoria e limpeza em sua casa e quintal em possíveis focos do mosquito”, frisou a gerente. Sobre a vacina, segundo ela, ainda será preciso saber se será disponibilizada pela rede pública e qual o grupo prioritário a ser vacinado. “A exemplo da vacina da influenza (gripe), ela começou a ser disponibilizada para um grupo, como idosos, depois foram incluindo outros”, lembrou. Gilsa Rodrigues disse ainda que há boas perspectivas para a população com a nova vacina. “Mesmo que não garanta total proteção, ainda previne mais de 60% dos casos, o que já é uma redução significativa. Além disso, há a redução de casos graves.” Hoje, representantes da Sesa e de municípios se reúnem para avaliar as medidas adotadas e pensar em novas estratégias para eliminar focos do mosquito. Os números atualizados do zika vírus também serão divulgados. Na última semana, a Sesa anunciou a compra de57 mil litros de inseticida para serem utilizados pelos veículos fumacês. O governo do Estado também adquiriu 75 mil repelentes que serão distribuídos pelos municípios, com prioridade para as grávidas. 2.789 CASOS SUSPEITOS de microcefalia com relação ao zika foram registrados ESTADO Pernambuco Paraíba Bahia Rio Grande do Norte Sergipe Ceará Alagoas Maranhão Rio de Janeiro Mato Grosso Tocantins Minas Gerais Piauí ESTADO Goiás Pará Espírito Santo Distrito Federal São Paulo Mato Grosso do Sul Rio Grande do Sul CASOS 1.031 429 271 154 136 127 114 88 82 78 58 52 51 CASOS 40 32 25 11 06 03 01 147 CASOS DE MICROCEFALIA FORAM REGISTRADOS NO BRASIL EM 2014. Fonte: Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) e Ministério da Saúde. CASOS DE DENGUE NO ESTADO Notificações Suspeitas da forma grave Óbitos confirmados 19 MORTES neste ano ainda estão em investigação 2015 39.751 947 28 2014 24.944 524 20 MUNICÍPIOS COM MAIORES INCIDÊNCIA NAS ÚLTIMAS QUATRO SEMANAS* > PRESIDENTE KENNEDY, APIACÁ E MUQUI. Fonte: Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). Médico capixaba identifica predador O médico capixaba Antonio Wilson Fiorot afirmou ter identificado um predador para o mosquito Aedes aegypti, responsável pela transmissão da dengue, do zika vírus e da chikungunya. Durante uma pesquisa em Pedro Canário, no Norte do Estado — município onde ele também é prefeito — foi identificada a existência de outro mosquito, o Notonectidae, que, segundo ele, se alimenta de larvas do Aedes aegypti. “Passei a ir com os agentes de controle de endemia às casas e examinar os focos do mosquito. Num clube fechado, encontramos uma piscina com muitas vidas, mas não encontramos nenhuma que fosse do Aedes aegypti. Constatamos que não colocaram larvicida.” O próximo passo foi separar os seres vivos encontrados na água. “Separei em vidros e os deixei 24 THIAGO COUTINHO/AT FIOROTI analisou focos do mosquito horas com fome e depois os alimentamos com a larva. A família Notonectidae foi voraz predador”, assegurou o médico. Ele disse que procurou o Centro de Pesquisa da Emescam e a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) para apresentar sua descoberta. “Ainda não se sabe o ciclo biológico do mosquito. A pesquisa deve ser complementada com exames laboratoriais feitos pela Emescam para demonstrar a existência das larvas no estômago do predador”, disse o médico, destacando que isso deve ser concluído no início do mês que vem. As informações também já foram apresentadas à Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa, na última semana. “Também pretendo apresentar a pesquisa ao governador do Estado, Paulo Hartung”, finalizou.