Estudo de caso: a influência da iluminação para o epilético

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Estudo de caso: a influência da iluminação para o epilético fotossensível
julho de 2013
Estudo de caso: a influência da iluminação para o epilético fotossensível
Izabela Galletti de Azevedo - [email protected]
Iluminação e Design de interiores
Instituto de Pós Graduação e Graduação - IPOG
Belo Horizonte / 2012
Resumo
Este artigo tem como objetivo analisar situações de iluminação natural e artificial que são
favoráveis e desfavoráveis, confortáveis e desconfortáveis a um epilético fotossensível de modo a
evitar crises desencadeadas pela luz ajudando-o na adaptação e integração com a sociedade. Para
este estudo foram utilizados os poucos dados e artigos científicos disponíveis sobre a epilepsia
fotossensível e levado em consideração um caso prático de um epilético fotossensível, do sexo
masculino, de 33 anos. Devido a escassez de informações sobre o assunto em específico, tanto na
área de iluminação quanto da saúde, este artigo servirá como um estudo inicial e orientação
básica para profissionais especialistas em iluminação, para projetar residências, espaços
corporativos, iluminação pública e estabelecimentos de uso coletivo pensando no bem estar geral,
de portadores e não portadores de epilepsia fotossensível.
Palavras-chave: Epilepsia fotossensível; Projeto luminoténico.
1. Introdução
O artigo vem analisar e discutir a influência da luz natural e artificial em um portador de epilepsia
fotossensível, do sexo masculino, de 33 anos, que foi diagnosticado aos 10 meses de idade e desde
então é acompanhado e medicado por especialistas. Descobriu que sua epilepsia era fotossensível
através da observação, procurando fatores comuns às crises mais fortes. Sendo um pouco diferente
da maioria dos fotossensíveis, apresenta maior sensibilidade com oscilações em baixa freqüência.
Para efetuar esta análise, devemos levar em consideração conceituações, dados e estudos sobre a
doença e sua extensão na vida dos portadores de epilepsia.
Para que possamos entender melhor, “Epilepsia é uma condição neurológica crônica caracterizada
por crises epilépticas recorrentes, causadas pela atividade neuronal excessiva no cérebro,
usualmente autolimitada. As epilepsias têm diversas etiologias, apresentam-se com diferentes tipos
de crises e de evolução”. (FONSECA et al. 2008)
“As epilepsias são alguns dos distúrbios neurológicos mais comuns. Sua prevalência atinge 1–1,5%
da população geral e, portanto, a doença é considerada um sério problema de saúde pública.”
(CENDES)
A maioria dos casos de epilepsia são idiopáticos, que significam que não foi diagnosticada a causa
da sua existência, e neste caso, a causa pode ser genética. Existe também a epilepsia descrita como
sintomática, quando se diagnostica sua causa. “A epilepsia pode ser relacionada com qualquer lesão
que tenha afetado o cérebro. A causa pode ser uma meningite ou encefalite, um ferimento na
cabeça, má formação e desenvolvimento do cérebro, ou hipoxia cerebral (falta de oxigenação no
cérebro do bebê) na hora do parto.” (APLLETON et al.)
Existem vários tipos de epilepsia, e por tanto, vários tipos de ataques epiléticos, sendo que a
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epilepsia fotossensível, foco do nosso estudo, se enquadra dentro das epilepsias reflexas ou de
indução sensorial.
Dr. Paulo Roberto Silveira faz uma breve descrição do que é uma crise epilética:
Fisiologicamente, a crise epilética é uma alteração súbita de função do sistema nervoso
central, resultante de uma descarga elétrica paroxística de alta voltagem que pode ocorrer
em qualquer população neural do telencéfalo ou do tronco cerebral. A descarga paroxística
pode se iniciar espontaneamente, em neurônios patológicos ou em neurônios normais,
através de estímulos elétricos, farmacológicos ou fisiológicos. (PAULO, 2009)
Mas, no entendimento de Elisabete Abid Pedrosos de Souza, 2001, a crise epilética possui
consequências maiores do que as relatadas acima. “Crises epiléticas acontecem por breves períodos
de tempo, mas os sentimentos de ansiedade e desamparo, adaptação às restrições impostas aos
estilos de vida e uma variedade de outros problemas afetam mais a qualidade de vida dos portadores
de epilepsia.” (SOUZA, 2001)
Desta forma, o presente artigo se propõe a identificar os fatores desencadeantes da crise para que
seja possível reduzí-los, e evitar locais que possam gerar uma crise epilética, desconforto e
situações embaraçosas.
O portador de epilepsia fotossensível encontra-se adaptado e acostumado com as pequenas e
recorrentes crises que sofre, chegando a ter várias micro-crises ao longo do dia. Estas são brandas e
não chegam a ser crises convulsivas de fato, mas geram diminuição do senso de equilíbrio, pode
ocorrer diminuição de capacidades sensoriais, principalmente visão. O epilético fotossensível
apresenta sensibilidade à luz natural e principalmente à luz artificial e o nível de sensibilidade pode
variar de um dia para o outro.
Segundo seu relato, possui sensibilidade a cores e a luz e é capaz de captar informações visuais, e
principalmente luminosas que pessoas não portadoras de epilepsia não captam. Justamente por isso,
quando expostas ao excesso de informações visuais e luminosas, seu cérebro entra em colapso, e o
corpo reage à sua maneira, ocasionando crises epiléticas.
Este estudo irá analisar, questionar e reformular a iluminação residencial, corporativa, pública e de
estabelecimentos de uso coletivo, de forma dar soluções de projetos luminotécnicos, de modo a
deixá-lo mais confortável aos olhos do portador de epilepsia fotossensível, melhorando sua
adaptação com o meio e proporcionando uma rotina mais normal.
Em conformidade com o raciocínio do Dr. Silveira (2009), no qual, o tratamento médico das
epilepsias visa não somente ao controle das crises, mas também à criação de condições para que o
epilético fotossensível leve uma vida tão normal quanto possível, é que devemos somar esforços e
unir conhecimentos das diversas áreas para tentar minimizar os problemas enfrentados pelos
epiléticos fotossensíveis.
Devido à escassez e falta de aprofundamento da bibliografia encontrada sobre o assunto, a maioria
dos dados utilizados para a pesquisa foram passados pelo portador de epilepsia fotossensível de que
o artigo se baseia.
2. A visão e a epilepsia fotossensível
A visão, dos cinco sentidos, é a de maior importância para nos relacionarmos com o mundo, como
descrito por André Ramos (2006), a visão é responsável por cerca de 75% de nossa percepção; é o
resultado de três ações distintas: operações óticas, químicas e nervosas.
O órgão responsável pela captação da informação luminosa/visual e transformá-la em
impulsos a serem decodificados pelo sistema nervoso é o OLHO: é um instrumento
altamente especializado e delicadamente coordenado, e cada uma de suas estruturas
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desempenha um papel específico na transformação da luz, se transformando no sentido da
visão. Toda a entrada de luz do meio externo até chegar à retina, faz parte do sistema ótico,
propriamente dito. A sensibilização da retina se faz quimicamente, a luz convertida em
impulsos elétricos, é transportada através do nervo ótico até o córtex. (RAMOS, 2006:1)
É nesse caminho, entre os diversos neurotransmissores, que os epléticos fotossensíveis perdem o
equilíbrio e os sinais elétricos são enviados fora de ordem, ocasionando crise epilética.
A epilepsia fotossensível é um tipo de epilepsia reflexa ou de indução sensorial e
caracteriza-se pelo aparecimento de crises epilépticas induzidas por estímulos ambientais
visuais. Em outros tipos de epilepsia reflexa as crises podem ser desencadeadas por
estímulos auditivos, olfatórios, gustativos, somestésticos e viscerais.
A epilepsia
fotossensível tem prevalência estimada em 1 para 10.000 pessoas, sendo as mulheres duas
vezes mais acometidas que os Homens. (LAUDA et al. 1990)
Segundo o Dr. Paulo Roberto Silveira, ex médico da Secretaria Estadual da Saúde e Defesa Civil do
Estado do Rio de Janeiro, a fotossensibilidade reflete a capacidade de se produzir uma resposta
fotoparoxística no eletroencefalograma (EEG). Dentre a população epilética, 4 a 5% dos indivíduos
podem responder com crises à fotoestimulação.
3. Iluminação e causas da crise epilética fotossensível
Como visto anteriormente, sabemos que os portadores de epilepsia fotossensíveis veem, absorvem e
reagem à luz natural e artificial diferentemente dos não portadores de epilepsia.
Os objetivos dos projetos luminotécnicos variam de acordo com cada situação, buscando
primeiramente a visibilidade, segurança e orientação, e posteriormente decoração. Os projetos
luminotécnicos são desenvolvidos de modo a melhorar o desempenho; aumentar a capacidade de
aprendizagem; priorizar a cura de doenças (de pele, distúrbio do sono, desordem afetiva sazonal);
prevenir a miopia; sensibilizar e emocionar; salientar os pontos positivos e minimizar os negativos
de um espaço; criar cenas, atmosferas, para cada ocasião; sinalizar e direcionar; e causar impacto.
As sensações e emoções que a iluminação é capaz de produzir em um indivíduo estão diretamente
relacionadas com experiências anteriores (arquivo emocional), com a personalidade de cada um, do
estado de ânimo, da faixa etária, dos aspectos culturais e estéticos, e da saúde do indivíduo.
Pensando neste último aspecto, no epilético fotossensível a iluminação pode gerar o excesso da
estimulação luminosa e desencadear uma crise.
Segundo o livro “Tudo sobre epilepsia”, Dr. Richard E. Appleton, Brian Chappell e Margaret
Beirne, os ataques de epilepsia fotossensível podem ser desencadeados por luzes de flash
(freqüentemente 12-20 flashes por segundo); luz estroboscópica (luz neon pisca-pisca de
discotecas); luz do sol brilhando através das árvores, trilhos ou prédios por onde o portador passe
rapidamente; padrões com listras berrantes ou de geometria arrojada.
Em entrevista, o portador de epilepsia fotossensível relata apresentar sensibilidade tanto por luz
natural quanto por luz artificial, sendo estas últimas mais freqüentes. Acredita-se que a luz natural,
presenciada ao ar livre, é menos agressiva ao epilético fotossensível por apresentar apenas uma
fonte de luz, de fácil localização, e percepção e entendimento das sombras geradas pelo mesmo.
Porém, é queixa do epilético fotossensível, crises surgidas ao ar livre, sob luz solar, quando a
mesma incide sobre as copas de árvores e com o vento as folhas mexem e geram um efeito de luz e
sombra.
No dia 7 de Abril de 1968, numa prova de Fórmula-2 sem maior importância, o escocês Jim
Clarck morreu após perder o controle do seu Lotus e bater numa árvore. Ele tinha 32 anos e
estava no auge da carreira. Até hoje não se sabe a causa do acidente. Levantou-se a hipótese
de Clark sofrer um tipo raro de epilepsia, que provoca perda dos sentidos quando a visão é
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submetida a constantes interrupções de sombra e luz. Ao passar seguidas vezes na reta,
Clark tinha lapsos de sombra e luz, provocados pelas árvores que cercam a pista. (Jornal do
Brasil, Sábado, 20/07/91 esportes 1º caderno, página 13 – Um arriscado túnel na floresta)
Essa situação é facilmente encontrada em avenidas e ruas de canteiros, central e lateral, largos onde
dispõe-se de árvores de grande porte, ocasionando um túnel verde, de copas que se encontram no
eixo da rodovia, que com a incidência solar gera o efeito de luz e sombra relatado no caso acima.
Em contrapartida, nos ambientes fechados - como escritórios, salas de reuniões, auditórios, teatros,
escolas e faculdades –, devido ao aquecimento gerado pelas ondas infravermelhas, é freqüente que
se negue a iluminação natural, com o uso de cortinas e blackouts, e aumente a duração de exposição
à luz artificial. Acredita-se, que devido a este longo período de permanência sob a luz artificial,
aliado ao elevado número de fontes de luz e sua forma de aplicação, com temperaturas de cor,
níveis de iluminância e raios de abrangência diversos, seja a causa pelo qual o portador de epilepsia
se sinta mais desconfortável em um ambiente fechado e seja o gatilho para desencadear uma crise.
Projetamos a iluminação de um ambiente pensando no sistema principal, que tem o objetivo de
iluminar o ambiente de forma geral, resolvendo as necessidades funcionais e dando condições para
que se execute a tarefa, ali destinada, com segurança; e no sistema secundário, que confere
personalidade ao projeto.
Para o primeiro sistema, podemos utilizar a luz direta, semi-direta, luz indireta e semi-indireta. Ao
usarmos a iluminação direta, luz direcionada para baixo, iluminando o espaço diretamente,
conferimos ao espaço amplidão, alegria e impressão de limpeza. A iluminação indireta, o foco da
luz é jogada para cima, e ao contrário, reduz o espaço, mas garante elegância, sobriedade e
introspecção. A iluminação semi-direta possui maior concentração de luz jogado para baixo, mas
também joga a luz para cima. Enquanto que a iluminação semi-indireta concentra a maior parte da
luz para cima. Dentre os tipos de iluminação, a direta é a que mais afeta o portador de epilepsia
fotossensível. Sua luz é jogada diretamente no ambiente, de forma que fica visível a fonte de luz,
causando ofuscamento ao olharmos para a mesma. Pela iluminação indireta, a luz é jogada para
cima, permitindo que a luz rebata no teto e ilumine o ambiente sem que possamos visualizar a fonte
de luz, e sem causar o ofuscamento que a luz direta ocasiona. Por estas características, este tipo de
iluminação é a menos ofensiva ao portador de epilepsia fotossensível.
Para o sistema secundário, trabalhamos com a luz, podendo utilizá-la como luz de destaque, luz de
efeito, luz decorativa e luz arquitetônica. Usamos a luz de destaque para iluminar algum objeto que
seja importante para a composição do espaço, como obras de arte e esculturas. Na luz de efeito, o
objetivo de interesse é a própria luz. Este tipo de luz é muito utilizado gerando o efeito de luz e
sombra. Compomos várias fontes de luz, como por exemplo, dicróicas, próximas à parede,
separadas a uma certa distância entre elas, gerando um desenho formado por ogivas que varrem a
parede, conhecidos como scalloping lighting. Outra maneira de se ter a luz de efeito, de modo
semelhante ao anterior, seria utilizar o laser, que gerando traços finos, linhas nas paredes. Podemos
trabalhar também com a luz de efeito sendo projetada no chão. Podemos utilizar fontes de luz no
teto, que possuem um foco mais fechado, como a AR70 e a AR111, para desenhar no chão bolas de
luz. A luz decorativa dá importância à própria luminária. Ela deverá ser o centro das atrações,
deverá compor o ambiente, seja como pendente, arandela, abajur ou luminária de piso. Por fim,
podemos utilizar a luz arquitetônica para realçar, salientar detalhes construtivos da obra, que pode
ser usada em sancas, escadas, abóbadas, entre outros. Este sistema secundário de iluminação,
segundo relatado pelo portador de epilepsia fotossensível, é bem mais problemático, agressivo aos
seus olhos. Isto é ainda mais agravado pelo fato de agregarmos diferentes tipos de iluminação ao
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sistema secundário. O produto final é um ambiente bem iluminado, diversificado no que diz
respeito a temperatura de cor, facho de abertura, índice de reprodução de cor e possibilidades de
criação de cenas de acordo com a necessidade.
Buscamos uma relação dos dois sistemas, acima descritos, de modo que possamos utilizá-los em
conjunto ou separadamente. No entanto, alguns ambientes podem vir a apresentar altos níveis de
contraste quando utilizados em locais de uso coletivo que permitam uma iluminação mais
dramática. O contraste, conforme relatado, é mais um desencadeador de crises epiléticas
fotossensíveis.
A fadiga visual, cansaço resultante de um esforço visual intenso, na qual a retina abre e fecha, “gera
irritação, desconforto visual, duplicação ou perda de nitidez da imagem, depressão e irritabilidade
emocional, náuseas, dor de cabeça e sono.” (CASTRO et al. 2006) No portador de epilepsia
fotossensível também é causadora de crises epiléticas.
Uma boa distribuição de luz em um ambiente, proveniente da relação entre o mínimo e o médio, e o
médio e o máximo, garante níveis de contraste muito mais ameno e proporciona maior conforto
visual, exigindo o mínimo de esforço fisiológico em relação à luz para a realização de uma
determinada tarefa.
Ainda de acordo com o epilético fotossensível, o mesmo apresenta sensibilidade a tudo que seja
capaz de refletir. Na verdade, sua sensibilidade não tem a ver com o material, seja o espelho ou uma
película aplicada no vidro, mas sim, com a capacidade que estes materiais espelhados têm de
duplicar a iluminação existente. Se a iluminação existente em um ambiente já lhe é desconfortável,
o dobro desta iluminação é ainda pior.
Mais um relato foi apresentado em relação à lâmpadas tubulares fluorescentes. Estas, quando estão
no final da vida média e começam a apresentar lapsos de luz, falhas consecutivas que tornam a luz
intermitente são desencadeadoras de crises epiléticas fotossensíveis.
De acordo com a organização social do Reino Unido, Epilepsy Action, as lâmpadas tubulares
apresentam tremulação de mais de 5.000 vezes por segundo, não sendo detectadas pelo cérebro. A
organização indica que normalmente as lâmpadas fluorescentes não causam problemas ao epilético
fotossensível, exceto quando são usadas lâmpadas defeituosas, que podem apresentar frequencia de
tremulação mais baixa, visíveis ao olho humano. Além disso, a organização afirma que aparelhos de
televisão e vídeo-games apresentam riscos muito maior que as lâmpadas fluorescentes para o
epilético fotossensível.
4. Epilepsia Televisiva e Epilepsia Sensitiva Cromática
A epilepsia televisiva, como é chamada, originou-se em 1997, com a ocorrência de várias crises
epiléticas desencadeadas por um desenho em específico, Pokemon. Ocorrências de outras crises,
desencadeadas por vídeo-games e computadores, foram a este tipo de epilepsia associadas. A
epilepsia televisiva, assim como a fotossensível é desencadeada pelo excesso de estímulos visuais e
cromáticos.
A epidemia televisiva ocorrida no Japão, foi nomeada como “Pânico Pokemon”, e diz respeito ao
episódio de desenho animado, Pokemon, que teria sido televisionado em rede japonesa por uma
cadeia de 37 emissoras, no dia 16 de Dezembro de 1997, às 18 horas e trinta minutos, e que teria
causados mal estar e crises epiléticas aos que o assitiram.
Conforme Flávio Mário de Alcantara Calazans, foi publicado no Jornal “Japan Times” números de
ocorrências que o desenho causou,
651 telespectadores internados, e detalha as cidades da região metropolitana de Tóquio ,
quantificando as internações: 77 em Kanagawa, 76 em Osaka, 71 em Tóquio, 70 em
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Saitama e 61 em Aichi, sendo que a pesquisa escolar teria coberto 1.396 escolas públicas
elementares e 872 de segundo grau em Tóquio, segundo a qual 70% dos alunos das escolas
elementares e 35% dos de segundo grau assistiram ao desenho animado, sendo que 1.338
alunos sofreram sintomas , e destes, dois terços eram do sexo feminino ; este jornal registra
estes números apenas em Tóquio. (CALAZANS)
Segundo a mesma fonte,
o desenho foi televisionado às 18:30 h. , e os telefonemas chamando as ambulâncias em
emergência começaram às 18:50 h. prolongando-se até as 19:30 h., sobrecarregando as
capacidades de atendimento na crise, e quando os telejornais noticiaram o evento mais
tarde, na mesma noite, mostrando as cenas do desenho, houve nova onda de ataques e
pedidos de ambulâncias.Um grupo de Pediatras e Psiquiatras teria assistido ao video-tape
do desenho e confirmado oficialmente a relação de causa e efeito entre as luzes piscando e
os 1.338 alunos doentes em Tóquio. (CALAZANS)
Em conformidade ao relatado pelo jornal, a Unimed, sistema coorporativo de trabalho médico e
plano de saúde, publicou em seu site que,
Certos desenhos animados e videogames poderiam provocar o aumento dos casos de uma
forma de epilepsia associada à sensibilidade a estímulos luminosos. Pesquisadores que
analisaram o caso de crises epilépticas associadas a um episódio do desenho animado
Pokémon descobriram como certos desenhos podem, de fato, causar convulsões e
verificaram que o problema seria mais freqüente do que se acreditava. (UNIMED, 2000)
Relatos de indisposição e números concretos de vítimas que o desenho atingiu foram exposto por
Flávio Mário de Alcantara Calazans:
Diversos jornais reproduzem entrevistas com as “Vítimas Midiáticas” e seus pais, de
conformidade com a revista “IstoÉ” de 24 de dezembro, “Fiquei com dor de cabeça, as
luzes continuavam piscando nos meus olhos. Foi como sentir a náusea de estar em um carro
em movimento” seria o depoimento do estudante Hiroshi Kobari, 14 anos; (CALAZANS:5)
Conforme depoimento anterior, do estudante Hiroshi Kobari, de 14 anos, no qual relata que as luzes
continuavam piscando nos seus olhos, se diz respeito à característica do olho humano de
permanecer com a imagem durante um certo tempo na retina, chamado persistência visual.
A estimulação visual varia de acordo com os tipos de cores, intensidade luminosa e frequência, e
distância do telespectador à tv.
A superestimulação do cérebro causado pelo episódio Pokemon está diretamente relacionada com
as cores utilizadas no desenho e tempo de exposição e troca dos mesmos. “Durante 5 segundos,
Pikachu piscou (na frequência de 10,8 vezes por segundo) as 54 luzes intensas das cores :
Vermelha, Branca e Azul , intermitentemente em “looping” repetindo a sequência cromática.”
(CALAZANS:13)
Segundo Fabiana da Silveira Cavalcante, a radiação visível que conseguimos perceber corresponde
a uma estreita faixa do espectro eletromagnético compreendida entre comprimentos de onda de
380nm a 780nm. Para cada “cor” do espectro, está associado um comprimento de onda, conforme
figura 1. (CAVALCANTE, 2001:7)
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Figura 1 – Espectro eletromagnético e espectro visível
Fonte: Fabiana da Silveira Cavalcante
Ainda afirmado por Fabiana Cavalcante,
a sensibilidade visual para a luz varia não só de acordo com o comprimento de onda da
radiação, mas também com a luminosidade. Isto ocorre porque a retina do olho humano
está provida de duas espécies de células sensíveis à luz: bastonetes e cones. Os bastonetes
permitem a visão para intensidades luminosas muito pequenas (visão noturna ou
escotópica), porém recebem apenas impressão de luminosidade e nenhuma impressão
cromática por isso os objetos coloridos aparecem sem cor no escuro. Já os cones permitem
a impressão colorida em claridades média e grande (visão diurna ou fotópica). A curva de
sensibilidade do olho humano demonstra que radiações de menos comprimento de onda
(violeta e azul) geram maior intensidade de sensação luminosa quando há pouca luz,
enaunto as radiações de maior comprimento de onda (laranja e vermelho) se comportam ao
contrário. Este deslocamento da sensibilidade do olho com a intensidade da iluminação é
chamado Efeito Purkinje. (CAVALCANTE, 2001:7)
Figura 2 – Sensibilidade do olho humano em relação às cores e à luminosidade
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Fonte: Fabiana da Silveira Cavalcante
Dessa forma, o cérebro dos telespectadores foram expostos a intensa informação conforme
explicado por Flávio Mário de Alcantara Calazans:
Ora, o efeito “Paka-Paka” (“Pisca-Pisca”, um efeito “Flicker” , luzes de cores diferentes
piscando em alta velocidade, estroboscópica ou até mesmo taquicoscópica) de Pikachu
expõe os telespectadores de tenra idade a um ciclo -”looping” repetido esta sequência de
cores em ritmo taquicoscópico por 5 segundos, levando os jovens cérebros ainda em
formação a um esforço de percepção que salta de ondas longas vermelhas de 610
nanômetros a ondas curtas azuis de 450 nanômetros ( extremos opostos do espectro
luminoso) intermediadas pelo stress branco da sobreposição de todos os comprimentos de
onda , desencadeando neurotransmissores e iniciando reações bioquímicas e fisiológicas
opostas, uma agressão televisiva aos órgãos de percepção. (CALAZANS:15)
O episódio do Pokemon marcou historicamente a influência da mídia na saúde do telespectador.
Apesar do incidente ter causados danos a muitas pessoas, à crianças, adolescentes e adultos, serviu
para os programadores de televisão e vídeo-games, passassem a levar em consideração os aspéctos
desencadeantes de crises epiléticas na elaboração de desenhos animados e jogos.
5. A importância da luz em um ambiente
A luz é responsável por definir formas, planos e volumes; valorizar texturas; gerar movimentos;
definir contrastes; criar ilusões; e mudar geometrias. A luz tem a capacidade de influenciar no
humor e alterar a produção de hormônios.
Conforme relatado pelo portador de epilepsia fotossensível, ao mesmo tempo que a luz o incomoda
e o agride, a ausência da mesma o conforta. É normal a sua permanência em ambientes totalmente
escuros, desprovidos da iluminação artificial.
Este ambiente, porém, promove o que denominamos de clima cavernoso. Quantidades
insignificantes de iluminação alteram o ciclo cicardiano, também conhecido como ritmo cicardiano,
responsável por regular o ciclo biológico do corpo humano, ciclo de 1 dia, na produção dos
hormônios serotonina e melatonina. Essa alteração no ciclo cicardiano pode gerar depressão.
O relato proveniente do portador de epilepsia em conformidade com a alteração do ciclo cicardiano
é comprovado abaixo:
Os pacientes com epilepsia apresentam mais freqüentemente do que a população não
epiléptica, distúrbios psiquiátricos em geral. É sabido que a depressão é a comorbidade
mais freqüente. Estudos mostram que a prevalência de depressão interictal tem sido
observada entre 9 e 55% dos pacientes dependendo do tipo de população estudada e dos
métodos de estudo utilizados. Alguns estudos mostram que aproximadamente 30% dos
pacientes com epilepsia revelaram espontaneamente que a depressão é o seu maior
problema. (FONSECA et al. 2008:1)
Dessa forma, é necessário que o projeto luminotécnico seja projetado conforme as sensibilidades do
epilético fotossensível, para que o mesmo possa usufruir da iluminação e minimizar os efeitos do
clima cavernoso de ambientes desprovidos de luz.
6. Como trabalhar com a luz e o epilético fotossensível
Sendo o objetivo deste artigo o estudo dos fatores desencadeantes de crises epiléticas fotossensíveis,
análise dos mesmos e orientação de solução para projetos luminotécnicos, vamos, dessa forma,
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fragmentar os usos para conseguirmos penetrar e dar soluções mais adequadas a cada tipo de
ambiente.
6. 1. Iluminação residencial
A residência merece destaque, primeiramente por ser um dos locais de maior permanência e,
também, pois será o ambiente em que certamente poderá ser projetado para atender as necessidades
do epilético fotossensível levando em consideração suas limitações.
O projeto luminotécnico deverá continuar possuindo o sistema principal e o secundário. O primeiro
deverá contemplar a iluminação geral de cada ambiente. No entanto, devido à sensibilidade
apresentada pelo epilético fotossensível à luz direta, devemos trabalhar com uma iluminação
indireta, difusa. Uma boa alternativa para tal, é trabalhar com rebaixamento de gesso em toda a
residência e usufruir de sancas e rasgos, com lâmpadas fluorescentes tubulares, desde que estes não
sejam muito compridos. Caso isso ocorra, pode-se substituir as lâmpadas fluorescentes tubulares
por mangueira de led. É muito importante que se consiga uma iluminância homogênea, o mais
constante possível, para evitar que a pupila se contraia e dilata o tempo todo. O ambiente deverá ser
o mais confortável possível visualmente. Se não for utilizado o rebaixamento de gesso, deverão ser
usadas luminárias rebatedoras, para que a luz seja jogada para cima e rebatida no teto.
O sistema secundário deverá existir como apoio ao primário, para os dias em que o epilético
fotossensível apresentar muita sensibilidade. Este sistema, porém, deverá ser utilizado de forma
diferenciada, poderá até criar algumas cenas, desde que não use contrastes elevados e nenhum tipo
de luz direta. Neste sistema, a iluminação também deverá ser indireta, back lighting, usada atrás de
painéis, cabeceira da cama ou em rodapé iluminado. É sempre mais interessante que a fonte de luz
esteja atrás dos olhos do epilético. Dessa forma, o ambiente será iluminado, mas não irá agredí-lo.
O rodapé iluminado é um sistema ótimo para essa situação: utilize do rodapé invertido com
iluminação de fita de led presa na parede, de forma a jogar a luz para o chão. Nessa situação a
iluminação deverá ser bem amena, e poderá ser usada como a única fonte de luz nos dias mais
sensíveis, que ainda irá guiar o epilético por toda a casa. Para as escadas também se pode utilizar a
fita de led para iluminar os degraus. Não é aconselhável, de maneira nenhuma, a utilização de
lâmpadas diretas, como dicróicas, AR e PAR. Nas salas de TV não se deve deixar de contemplar
um sistema secundário para deixar aceso com a TV ligada. Isso irá permitir que o ambiente
permaneça ainda com uma iluminação mais intimista, mas sem que o nível de contraste se eleve a
ponto de desencadear uma crise epilética no morador. Na sala de jantar, pode ser usado um
pendente, desde que este seja rebatedor. A luz direta sobre a mesa de jantar é sempre complicado,
devido ao reflexo gerado pelo tampo de mesa de vidro (é melhor que seja de outro material) e pelos
talheres, copos e pratos dispostos sobra a mesma.
Independente de como desenvolvido o projeto luminotécnico, este sempre deverá contemplar uma
modulação de intensidade, capaz de dimerizar a luz conforme a necessidade e sensibilidade que o
epilético fotossensível apresente no dia.
Uma alternativa interessante para esta residência e que traria muitos benefícios ao epilético
fotossensível seria a automatização da iluminação. Através desta, podem-se criar cenas com
diferentes níveis de dimerização, de forma a deixar programado a iluminação mais adequada e
confortável para aquele ambiente e, em específica aquela atividade. Mais um benefício que a
automação traria, seria a possibilidade de programar o ambiente que o portador de epilepsia gostaria
de encontrar ao entrar em casa, ainda da garagem ou do caminho, antes mesmo de lá estar.
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Estudo de caso: a influência da iluminação para o epilético fotossensível
julho de 2013
Os materiais de acabamentos também requerem cuidado ao serem especificados e utilizados na
residência do epilético fotossensível. Materiais polidos, que possibilitam o reflexo da luz, como
porcelanatos, granitos, vidros, pastilhas de vidro, entre outros, devem ser evitados, pois podem
gerar ofuscamento e, em conseqüência, crise epilética. Textura é uma ótima alternativa para
minimizar o brilho da pintura. Espelho deve ser evitado, e quando for utilizado, dar preferência para
locais que não fiquem expostos, como portas internas de armários. Uma boa solução para utilização
do espelho é incliná-lo um pouco para que o raio de incidência da luz não ofusque o epilético
fotossensível.
Para residências que possuem piscinas, uma maneira interessante de minimizar o efeito de espelho
gerado pela lâmina de água é a possibilidade de se anular a iluminação interna da casa com cortinas
e blackouts, e iluminar a piscina com o sistema de iluminação de fibra ótica. Neste sistema, diversos
cabos são acoplados em um iluminador, que utiliza apenas uma fonte de luz, o que gera grande
economia de energia elétrica e, em piscinas que possuem material de revestimento na cor clara,
ilumina a água uniformemente, diminuindo o espelhamento. Aliado à iluminação da piscina é
interessante o uso de cascatas, de modo a movimentar a água e diminuir o espelhamento da lâmina
d’água. Outro fator positivo deste sistema é que os cabos são condutores de luz, e não de energia
elétrica, conferindo total segurança contra choques elétricos, muito comuns em iluminação
subaquáticas em piscinas. Não é recomendado a utilização da iluminação aquática com fibra ótica
tipo sidelight, sistema perimetral, na qual a camada externa da fibra permite uma perda de luz
controlada por sua lateral, criando um efeito de iluminação ao longo da mesma, delimitando a
piscina. Ela irá criar uma iluminação bem demarcada sob a borda da piscina, e por estar acima do
nível da água, o efeito do espalhamento irá duplicar a iluminação sidelight.
6.2. Iluminação corporativa
O projeto luminotécnico destinado a um local que exerça atividades laborativas de escritórios deve
atender ao nível mínimo de iluminação para cada função; deve possuir uma boa reprodução de cor;
utilizar lâmpadas com temperatura de cor mais fria, capaz de influenciar no ciclo cicardiano e
aumentar o desempenho; e utilizar de sistemas de iluminação que permitam uma maior economia de
energia elétrica.
Este projeto, no entanto, para atender também às necessidades de um epilético fotossensível, deve
pensar no sistema a ser utilizado para evitar o ofuscamento; apresentar uma boa distribuição de luz;
e possuir níveis de contraste entre a visão principal e a periférica baixa. O ofuscamento, sensação de
intensa claridade provocada no olho por uma fonte de luz em uma dada direção, é freqüentemente
encontrada nos ambientes corporativos. Esse excesso de iluminância pode desencadear uma crise no
epilético fotossensível. Para evitar o ofuscamento pode-se utilizar de sistemas de iluminação de luz
indireta, rebatida ou luminárias que possuem aletas.
Devido a sensibilidade do epilético fotossensível perante computadores e equipamentos eletrônicos
que funcionam como fonte de luz, estes devem estar programados para não emitir tanta luz,
diminuir o brilho proveniente da tela, e também o contraste da iluminação proveniente do
computador e da iluminação geral. Quando os computadores estiverem próximos a janelas e
receberem iluminação natural, estes deverão ser posicionados perpendicularmente em relação à
abertura, de forma que a incidência dos raios solares não atinja os olhos do epilético fotossensível.
É importante que os escritórios dêem manutenção nos sistemas de iluminação, principalmente
quando utilizadas lâmpadas fluorescentes tubulares. Com o passar dos anos e da vida útil da
lâmpada, esta começa a se desgastar e a iluminação passa a não ser mais constante, apresentando
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lapsos de luz. Essa iluminação intermitente causa fadiga visual e nos epiléticos fotossensíveis é
desencadeadora de crises epiléticas. Por isso, é sempre muito importante que a manutenção seja
feita e as lâmpadas substituídas.
Uma solução para prevenir o cansaço visual e ainda estimular e aumentar o desempenho dos
funcionários de um escritório seria a utilização de sistemas de iluminação que permitissem a
alteração da temperatura de cor da lâmpada de acordo com o passar do dia, imitando a luz natural.
6.3. Iluminação Pública
É dever da administração pública proporcionar uma iluminação que seja apropriada para que todos
os cidadãos transitem em vias públicas com segurança.
Porém, como relatado pelo portador de epilepsia fotossensível, a iluminação pública atende somente
a grande maioria dos cidadãos, deixando de cumprir com sua obrigação com uma minoria, de
epiléticos fotossensíveis.
Segundo o portador de epilepsia fotossensível, muitas de suas crises foram desencadeadas pela
iluminação de túneis. Nestes, a iluminação normalmente é feita com luminárias que possuem um
sistema óptico de alto nível de rendimento luminoso, dispostas no teto, separadas entre si à uma
certa distância. O resultado desse sistema de iluminação são faixas muito bem iluminadas e outras
pouco iluminadas, gerando um alto nível de contraste e um efeito de luz e sombra.
Em alguns túneis, como o túnel Ayrton Senna, localizada na cidade de São Paulo, por possuírem
uma longa extensão utilizaram de uma estratégia interessante para evitar a cegueira momentânea
causada no início do túnel e o ofuscamento que é causado ao sair do mesmo. A luz solar, muito
mais intensa que qualquer sistema de iluminação utilizada no interior do túnel, passa a ser
trabalhada tanto no início quanto no final do mesmo, através de grandes aberturas espaçadas entre
si, para que os olhos tenham tempo de se adaptar com a diferença do nível de iluminação do local
aberto para o fechado e vice-versa.
Aliado à estratégia acima descrita, a iluminação do túnel, ficaria mais confortável visualmente se
fosse utilizada uma iluminação indireta. Poderiam ser usadas luminárias rebatedoras, levando em
consideração a homogeneidade da luz adquirida, de forma a manter a iluminância o mais constante
possível, minimizando o contraste e o efeito de luz e sombra, e assim também, a fadiga visual.
A solução encontrada para os túneis também valem para a iluminação de praças e parques.
Atualmente, a iluminação presente nestas áreas são postes de luz de iluminação direta e visualmente
acessível, que causa ofuscamento. Se substituirmos estas luminárias por outras que trabalhem a luz
rebatida, a iluminação das praças e parques seria mais agradável e difusa.
Outro fator desencadeante de crises epiléticas em portadores de epilepsia fotossensível em praças e
parques são os espelhos d’água, que geram o efeito de espelhamento. Para minimizar este efeito
deve-se utilizar fontes de água para que a água se movimente e não cause o efeito que gera
desconforto visual.
Os excessos de informação luminosa que é gerado pelos outdoors e painéis luminosos provocam
tamanho estímulo visual no portador de epilepsia fotossensível, que pode gerar uma crise epilética.
Estes painéis são muito utilizados em vias públicas para efeito decorativo e publicitário em várias
cidades, como Las Vegas, Nova Iorque, Londres, Tóquio entre outras.
As modernas fachadas de vidro espelhadas, além de provocarem um aumento do aquecimento
interno do edifício, aumentar o consumo do ar condicionado e ser responsável pela morte de vários
pássaros, também gera, no epilético fotossensível, desconforto visual e crise epilética.
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6.4. Iluminação de estabelecimentos de uso coletivo
O projeto luminotécnico projetado para estabelecimentos de uso coletivo em geral, não contemplam
certos cuidados necessários para o bem estar do portador de epilepsia fotossensível.
Muitos deles possuem sensibilidade mais resistente e convivem bem com a doença e muitas vezes
nem sabem da existência da mesma. É comum a descoberta da epilepsia fotossensível na
adolescência, idade que começa a freqüentar discotecas, onde podem ter crises desencadeadas pela
luz estroboscópica.
Devido a luz estroboscópica ser um fator desencadeante para crises nos portadores de epilepsia
fotossensível, segundo o livro epilepsia, a polícia de Londres instiuiu regulamentações sobre a
frequência com que as luzes devem piscar. (GRAM e DAM, 1995)
Os projetos luminotécnicos de restaurantes, lojas, shoppings, etc., devem ser projetados dando
preferência a sistemas de iluminação que trabalhem com a luz indireta, difusa. Devem ser levados
em consideração os níveis de contraste visual, a uniformidade e homegeneidade da iluminação,
permitindo uma iluminância constante.
Nos hospitais, nos quartos de internação, e nas maternidades, as características acima especificadas
derão ser seguidas à risca, pois o paciente (adulto ou bebê) passa a maior parte do tempo deitado,
olhando diretamente para a iluminação. Estes devem possuir o sistema primário e o secundário
como forma de apoio e alternativa para uma iluminação mais confortável visualmente.
Conclusão:
O artigo, estudo de um caso de um portador de epilepsia fotossensível, do sexo masculino, de 33
anos de idade, vem descrever situações de sensibilidade e de fatores causadores de crises epiléticas
no mesmo, como forma de documentar e acrescentar informações para posteriores estudos na área
da medicina e da iluminação, acreditando em um avanço da pesquisa para que os profissionais das
diversas áreas possibilitem uma vida mais normal aos portadores de epilepsia fotossensível.
Para este epilético fotossensível, o desenvolvimento da tecnologia - da iluminação, da televisão, do
computador, de videogames, outdoors luminosos, entre outros - fazem com que o habitat em que
este se insere - residência, colégio, local de trabalho, ruas e praças públicas - se torne cada vez mais
agressivo pelo excesso de informações luminosas que são captadas e repassadas ao cérebro.
A compreensão dos fatores causadores de crises epiléticas irá permitir o desenvolvimento de
equipamentos tecnológicos, como TV, vídeo-game e desenhos animados mais seguros sem
mudanças bruscas na freqüência dos mesmos e sem estímulos visuais capazes de desencadear crises
epiléticas.
Acreditamos que o não cumprimento da obrigação da administração pública, bem como os projetos
luminotécnicos projetados para estabelecimentos de uso coletivo, não esteja ligada ao descaso com
os portadores de epilepsia fotossensível, mas sim, ao desconhecimento da própria doença, e dos
fatores desencadeantes de crises epiléticas fotossensíveis.
O projeto luminotécnico projetado para o bem estar do epilético fotossensível em nada atrapalha a
concepção e percepção do espaço para os não portadores de epilepsia fotossensível, pelo contrário,
trás benefícios também para estes últimos, que não sofrerão, ou sofrerão menos de fadiga visual,
prolongando a saúde do olho, e prolongando também o uso de paliativos para a correção do cansaço
visual.
Dessa forma, todos os projetos luminotécnicos de ambientes corporativos, de uso coletivo ou
público devem ser projetados de forma a respeitar os limites do epilético fotossensível, evitando
fatores desencadeantes de crises epiléticas fotossensíveis.
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Estudo de caso: a influência da iluminação para o epilético fotossensível
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Caso o projeto luminotécnico seja destinado à residência de um portador de epilepsia fotossensível,
o mesmo deve ser entrevistado e seus gatilhos devem ser considerados, para que o projeto seja
personalizado e atenda às suas necessidades e limitações, que podem ser diferentes das do epilético
fotossensível neste artigo descriminado.
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Pokémon multimidiático: da videosfera dos vídeo-games e desenhos animadosàs histórias
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