Autor Jorge P. N. Costa - Eng.º Agrónomo Divisão de Protecção das Culturas Propriedade: D.R.A.E.D.M. Edição e distribuição: Div. Doc. Inf. e Relações Públicas Segunda edição: Janeiro de 2005 Tiragem: 10 000 exemplares f i c h a técnica 36 Vírus do Urticado, ou Nó-Curto da Videira Figura 1 - Fasciação e bifurcação das varas e nós duplos(foto Sandoz). Entre as viroses que afectam a cultura da Vinha destaca-se o Urticado, ou Nó-Curto (“Grapevine fanleaf virus”), que está espalhado por todas as regiões vitícolas do Mundo. Sintomas Este vírus tem várias estirpes, as quais dão origem a diferentes sintomas, também influenciáveis pelas próprias variedades de Videira infectadas e pelas condições de clima e solo. Assim, podem verificar-se Figura 2 - Entre-nós de tamanho irregular, desenvolvimento de varas secundárias, dando à cepa o aspecto emangericado (foto Sandoz). formas anormais (urticado ou nó-curto) e/ou alterações de cor (clorose infecciosa), cuja descrição passamos a fazer: ! Sarmentos com entre-nós curtos e de comprimento desigual, por vezes dispostos em zig-zag. Nós duplos frequentes, bem como fasciações e bifurcações dos entre-nós (figuras 1, 2 e 3). Figura 3 - Entre-nó curto (esquerda), nó duplo (meio) e fasciação e bifurcação anormal (direita) (foto de Bovey et al., 1980). ! Folhas mais pequenas do que o normal e com deformações diversas, tais como o seio peciolar muito aberto, recortes mais profundos e dentes mais longos do que o normal (figuras 4, 5 e 6). ! Amarelecimento total ou parcial (clorose) das partes verdes da planta. Nas folhas, onde os sintomas são mais visíveis, aparecem cloroses do tipo mosaico, com aspectos muito variáveis (figuras 7, 8 e 9). ! Cachos mais pequenos e menos numerosos do que o normal, sujeitos a desavinho e bagoinha. ! Raízes mais espessas e menos numerosas do que o normal. Todos estes sintomas podem ser confundidos com outros problemas da Vinha: fitossanitários, nutricionais, ou genéticos. Assim, um diagnóstico seguro exige a realização de testes laboratoriais ao material suspeito de infecção. Figura 4, 5 e 6 - Cloroses e diferentes deformações foliares (foto 4 e 6: Bovey et al., 1980; foto 5: Sandoz). Danos Quanto aos danos provocados por este vírus, eles incidem sobre os seguintes aspectos: ! Quebra no rendimento das cepas, com perdas médias de colheita da ordem dos 50%. ! ! Diminuição da longevidade das cepas. ! Na uva de mesa verifica-se também uma perda de qualidade, resultante do desavinho e da bagoinha. Dificuldade no enraizamento de estacas e no vingamento de enxertias. Transmissão e disseminação O vírus do Urticado da Videira é transmitido por nemátodos do género Xiphinema, nomeadamente X. index e X. italiae. Estes nemátodos vivem no solo e alimentam-se nas raízes das videiras, que picam com o seu estilete bucal. Contudo, a sua pouca mobilidade faz com que eles sejam mais importantes como reservatório de infecção no solo, do que como agentes de disseminação do vírus. A principal causa de difusão desta virose é a utilização de garfos e porta-enxertos infectados, pois à semelhança de outros vírus, também este é transmissível pelos processos de propagação vegetativa, normalmente utilizados nas plantas lenhosas. Quer isto dizer que qualquer planta obtida por enxertia, a partir dum garfo e/ou dum porta-enxerto infectado, será também uma planta doente, sendo pois o próprio Homem, ao usar material de propagação vegetativa já contaminado, o principal agente disseminador da doença. Figuras 7, 8 e 9 - Cloroses do tipo mosaico foliar (fotos 7 e 8: do autor; foto 9: Bovey et al., 1980). Meios de luta A não existência de meios de luta curativos aplicáveis com eficácia no campo, nomeadamente de produtos químicos anti-virais, faz com que a luta contra as viroses deva ser sobretudo preventiva. A base dessa luta é o uso de material de propagação vegetativa isento de vírus, bem como a instalação de vinhas em solos limpos de nemátodos vectores de viroses. A primeira daquelas condições exige a utilização de porta-enxertos certificados, que devem ser adquiridos em viveiristas autorizados pelos serviços oficiais. Quanto aos garfos, deverão ser provenientes de videiras presumivelmente sãs, de preferência resultantes de uma selecção massal ou clonal. A segunda das condições atrás referida aconselha a que se faça uma análise nematológica do terreno destinado à plantação, no sentido de se detectar a presença de nemátodos vectores de viroses da Videira. No caso da análise ser positiva, poder-se-á fazer uma desinfecção do solo com um nematodicida apropriado, com acção fumigante, antes da plantação. Este tratamento deve ser prescrito por um técnico competente e executado por uma equipa especializada. plantação. Este tratamento deve ser prescrito por um téc- Bibliografia nico competente e executado por uma equipa especializada. O repouso dos terrenos contaminados por nemátodos, principalmente daqueles onde se faz o arranque de vinhas viróticas, constitui uma boa alternativa à desinfecção do solo, pois esta nem sempre dá os melhores resultados. Aquela opção obriga a que não sejam implantadas videiras ou figueiras (que também são hospedeiras de Xiphinema spp.) na parcela contaminada durante, pelo menos, 5 ou 8 a 10 anos, consoante se tratem de terrenos ligeiros ou pesados. Um repouso de 2 a 3 anos, não sendo inteiramente eficaz, já permite reduzir de forma apreciável ACTA (1980): Guide pratique de la défense des cultures. Ed. Carroussel e ACTA Paris. BOVEY, R. et al: (1979): La défense des plantes cultivées. Ed. Payot Lausanne. La Maison Rustique Paris. BOVEY, R., GÄRTEL, W., HEWITT, W. B. et VUITTENEZ, A. (1980): Maladies à virus et affections similaires de la Vigne. Ed. Payot Lausanne. La Maison Rustique Paris. Verlag Eugen Ulmer Stuttgart. PADILLA, V. (1979): Trascendencia de los virus de la vid en la viticultura mundial: importancia y seleccion sanitaria. Anales del INIA Ser. Prot. Veg., n.º 12: 33-41. o nível da infestação. Durante o período de repouso o terreno pode ficar em pousio ou ser cultivado com espécies não hospedeiras de Xiphinema spp. Outra alternativa consiste na conjugação do repouso do solo com a sua desinfecção, sendo assim menor o tempo de repouso necessário. Independentemente das opções atrás referidas, as vides viróticas devem ser arrancadas e queimadas. mais informações Divisão de Protecção das Culturas Rua da Restauração, 336 4 0 5 0 - 5 0 1 P o r t o Tel: 226 062 448/045 Fax: 226 063 759 e-mail: [email protected]