O Underground Virtual Metálico A reconfiguração da cena metal a

Propaganda
5º Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UFF | UFRJ | UERJ | PUC-RIO
Universidade Federal Fluminense, Niterói. 24 a 26 de outubro de 2012.
O Underground Virtual Metálico
A reconfiguração da cena metal a partir dos novos mediadores online
Natália Ribeiro da Silva1
Resumo
O presente artigo busca apresentar algumas mudanças sofridas na configuração da
cena underground de heavy metal a partir de novos mediadores online, dando luz a
questões que nos ajudam na compreensão de sua atual articulação, seja online ou offline. A intensão é investigar como o amplo uso de redes sociais e de plataformas
musicais tem interferido em sua composição, ampliando a noção de cena, tensionado
sua relação com espaço urbano e sua territorialidade, apresentando a ideia de
underground virtual com base em grupos específicos sobre heavy metal no Facebook
e o uso de widgets incorporados aos posts.
Palavras-chave
cena musical; heavy metal; plataformas musicais; redes sociais; widgets
Introdução
Como ferramenta interpretativa, a ideia de cena deve encorajar, portanto, o
exame da interconectividade entre os atores sociais e os espaços culturais
das cidades – suas indústrias, suas instituições e suas mídias (JANOTTI;
PIRES, 2011, p 17).
As redes sociais e as plataformas de música online, no contexto apontado por
Jeder Janotti e Victor Pires, podem ser entendidas como parte das articulações que
representam uma cena musical. Embora esteja ligada a uma ideia de território,
“espaços culturais da cidade”, a noção de cena se estende no ambiente virtual,
ampliando suas possibilidades de circulação, produção e consumo, partindo para
outros níveis de sociabilidade.
Este artigo irá trabalhar com as peculiaridades da cena underground de metal
analisando o uso que seus atores e agentes fazem das plataformas de música online,
1
Graduanda em Estudos de Mídia pela Universidade Federal Fluminense –UFF.
www.conecorio.org
1
5º Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UFF | UFRJ | UERJ | PUC-RIO
Universidade Federal Fluminense, Niterói. 24 a 26 de outubro de 2012.
em especial a plataforma ReverbNation2, combinado com o uso do Facebook3, rede
social com um grande número de usuários no país, que permite, entre outras
atividades, a criação de grupos para variadas finalidades. O presente artigo usará
como base de análise a atuação dos usuários nos grupos no Facebook voltados para a
cena metal do Rio de Janeiro como: “Metal RJ”, “Headbangers”, “Rio Metal Works”
e “M.U.C - Movimento Underground Carioca” entre outros.
Esses grupos, que lembram em vários aspectos as comunidades do Orkut, rede
que estava em voga antes do Facebook, reunem pessoas interessadas em divulgar
eventos, trocar informações e que de modo geral, estejam interessadas em sociabilizar
com outras pessoas integradas à cena metal do Rio de Janeiro. Nesses grupos estão
presentes um grande número de bandas, que veem esses espaços como locais
potenciais para a divulgação de seus trabalhos, uma vez que reune um público
segmentado, alvos poteciais4.
Um dos recursos usados pelas bandas para divulgarem seus trabalhos é a
incorporação de widgets nas postagens para o Facebook, facilitando o acesso à música
da banda, entre outras informações, para o usuário;
Widgets: De acordo com o Longman Dictionary of Contemporary
English é um termo informal utilizado para se referir: 1) a uma pequena
peça de equipamento que não sabemos o nome 2) a um produto imaginário
que uma companhia poderá vir a produzir. No campo da informática, ele
adquire um sentido diferente, existindo diversos tipos como de interface
gráfica, de mecanismo ou da web. (...)Atualmente outros termos são usados
para descrever os web widgets, incluindo: gadget, distintivo, módulo,
cápsula, snippet, mini e flake. Web widgets quase sempre usam as
linguagens de programação Adobe Flash ou JavaScript. Usuários finais
podem utilizar Web Widgets para aumentar o número de servidores
baseados na Web ou alvos. A serem atingidos. Categorias de alvos a serem
atingidos incluem redes sociais, blogs, wikis e páginas pessoais. (AMARAL,
2007, p 230-231)
E possível, a partir do post5, dar play no widget e ouvir a música sem ser preciso
abrir uma nova janela ou atrapalhar a navegação na página da rede social ou site
aonde foi publicado. A plataforma ReverbNation foi escolhida pois permite a
2
http://www.reverbnation.com/
http://www.facebook.com/
4
Ver: ANDERSON, Chris. 2006.
5
Termo em inglês para “postagem”, que equivale também a “publicar” em português.
3
www.conecorio.org
2
5º Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UFF | UFRJ | UERJ | PUC-RIO
Universidade Federal Fluminense, Niterói. 24 a 26 de outubro de 2012.
incoporação desses dispositivos e tem sido utilizada por um grande número de bandas
de rock e metal do Rio de Janeiro, entre outros Estados do Brasil6.
A partir dos usos desses dispositivos, dentro do ambiente coletivo e de
sociabilidade apresentadados pelas redes sociais, sejam nos grupos ou nos perfis
pessoais, é possível falarmos de um consumo coletivo da música, pois embora não
possamos mensurar quantas pessoas clicaram no play da widget naquele mesmo
momento, o consumo se faz de forma coletiva. Ao postar a música de uma
determinada banda por afinidade de gosto, ou para recomendá-la ao grupo, ao mesmo
tempo que o usuário marca sua presença, agindo nesse espaço, convidando outras
pessoas a ouvirem aquele som, ele se auto-afirma perante o grupo como pertencente a
cena underground de metal compatilhando seus valores e ideologias para outros que
estarão de certa forma, avaliando sua conduta.
O metal underground
Quando o Cannibal Corpse empesteou a Billboard, as vendas exorbitantes
de álbuns representavam não um público genérico consumidor de música
em geral, mas sim um formidável número de empenhados fãs de metal.
Esses eram consumidores cultivados, mais afeitos a irem em busca de fitas
demo e LPs underground do que comprar outro gênero (...) Por volta do fim
de 1990, a Earache Rocords7 anunciou que o Napalm Death e o Morbid
Angel haviam vendido mais de um milhão de álbuns cada. (CHRISTE,
2010, p.317)
O metal é um gênero musical que abarca uma enorme variedade de vertentes,
desde o heavy metal tradicional, de bandas como Black Sabbath, Dio, Iron Maiden,
até o death metal extremo de bandas como a brasileira Krisiun e a norte americana
Nile. É provável que muitas pessoas já tenham ouvido falar das bandas de metal
tradicional, ou metal clássico, como também é conhecido, pessoas que não
necessariamente sejam fãs dedicadas de metal, mas que apreciem uma coisa ou outra
sem compromisso. No entanto aqueles que não se encontram inseridos na cultura
6
1,586 no ranking global do Alexa. Alexa Internet, Inc. é uma empresa californiana subsidiária da
Amazon.com que fornece dados de tráfego, rankings globais e outras informações sobre milhares de
sites. Ver: http://en.wikipedia.org/wiki/ReverbNation.com
7
Gravadora de origem inglesa, fundado em 1985, responsável pelo lançamento pioneiro de bandas de
grindcore e death metal
www.conecorio.org
3
5º Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UFF | UFRJ | UERJ | PUC-RIO
Universidade Federal Fluminense, Niterói. 24 a 26 de outubro de 2012.
metal dificilmente já terão ouvido falar de bandas que pertencem a uma vertente mais
extrema ou mais restrita, como o grindcore e o death metal.
Cannibal Corpse, Napalm Death, Morbid Angel, Krisiun e Nile são bandas que
se encontram num lugar privilegiado dentro da cena metal, são bandas consagradas e
celebradas em todo mundo, porém, elas não podem ser consideradas mainstream no
nível de bandas como o Metallica ou o Iron Maiden, pois estas possuem “processos
de circulação em dimensão ampla e não segmentada” como apontam Jorge Cardoso
Filho e Jeder Janotti (2006, p.8) na distinção entre mainstream (fluxo principal) e
underground.
Como propõe os autores, o nível de proximidade entre as condições de produção
e de reconhecimento é o diferencia underground de mainstream, bem como a
dimensão de seus processos de circulação. Enquanto as músicas do Metallica tocam
nas rádios, em grandes produções cinematográficas, a banda aparece em entrevistas e
até em desenhos animados, as músicas das bandas com sonoridades mais extremas
estarão, de certa forma, restritas ao meio underground, que trabalha principalmente
com veículos voltados para um público segmentado, rádios, revistas, sites
especializados, entre outros. Com esse argumento podemos afirmar que boa parte da
produção de metal hoje pertence ao meio underground, uma vez que os veículos de
grande circulação dão pouca ou nenhuma atenção ao metal, o que inclui o interesse de
grandes gravadoras e empresas de mídia que alimentam esse circuito.
O underground não e apenas o lugar aonde vai parar o que não é apropriado, ou
o que não é conveniente, para a grande mídia; ele engloba além das bandas que
partilham de um reconhecimento a nível mundial, bandas que estão começando suas
carreiras e bandas que já existem há um longo tempo, mas que por diversos motivos
ainda não conseguiram alcançar esse “lugar privilegiado” dentro da cena. Vale
lembrar aqui que a ideia de underground gira em torno das bandas e das músicas
produzidas por elas, mas que não se restringe apenas a isso.
Pensar o underground como um meio é entender que fazem parte dele além das
bandas, tudo mais que envolve a produção, circulação e o consumo de música.
Músicos, casas de show, produtores de eventos, técnicos de som, público, mídia,
redes sociais, lojas e bares, todos esses elementos fazem parte de um circuito que
funciona ao redor do consumo de música, neste caso o metal.
www.conecorio.org
4
5º Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UFF | UFRJ | UERJ | PUC-RIO
Universidade Federal Fluminense, Niterói. 24 a 26 de outubro de 2012.
Cena virtual metálica
A ideia de “cena” foi pensada para tentar da conta de uma série de práticas
sociais, econômicas, tecnológicas e estéticas ligadas aos modos como a
música se faz presente nos espaços urbanos. Isso inclui processos de
criação, distribuição e circulação, além das relações sociais, afetivas e
econômicas decorrentes desses fenômenos. (JANOTTI; PIRES, 2011, p.11)
A cena underground de metal não escapa a conceituação elabora por Jeder
Janotti e Victor Pires apresentada acima. A cena acontece nos espaços urbanos, aonde
se reúnem boa parte de seus elementos, sejam os encontros casuais de grupos de
amigo para discutirem música em locais públicos, sejam eles bares e praças ou nos
eventos com bandas e/ou música ambiente de metal. Nesses locais as conversas e
interações giram em torno das disputas e das negociações referentes ao gênero.
Os gêneros instauram um ambiente afetivo, estético e social no qual as redes
de comunicação e compartilhamento de símbolos irão operar. (...) a
construção de sentido da música opera a partir dos gêneros musicais e do
potencial reconhecimento de suas categorizações e classificações. Portanto,
para que gostos e identidades musicais sejam formados é necessário que
haja este reconhecimento dos gêneros que habitam um mesmo universo
sonoro compartilhado pelo corpo social envolvido. (TROTTA, 2008, p.1-2)
Discute-se o novo disco do Testament8, comparando-o com os outros de sua
discografia, o que requer um conhecimento bastante específico da história da banda, é
preciso ter ouvido boa parte de sua discografia eu ter uma boa base de leitura. Ainda
sobre o novo disco do Testament discute-se o uso exacerbado de blast beat9 e se isso
não estaria fazendo a banda extrapolar as fronteiras do thrash metal, mostrando uma
aproximação maior com o death metal, aqui o conhecimento solicitado é sobre a parte
dos instrumentos musicais e das técnicas utilizadas, assim como o reconhecimento de
marcas discursivas de diferentes estilos dentro do metal.
Boa parte dessas disputas e discussões que se dão presencialmente podem surgir
ou serem prolongadas no ambiente virtual. Um bom exemplo são os eventos abertos
no Facebook que antes, durante e depois dos eventos, funcionam como espaços de
interação, reunindo pessoas que pretendem ir ao evento, antes mesmo que ele venha a
8
Banda norte americana de thrash metal formada em 1983
Blast beat é uma levada de bateria que se originou no jazz e com frequência é associada com o metal
extremo e o grindcore. Ela é utilizada por diferentes estilos de metal. O termo foi cunhado pela banda
Napalm Death embora essa forma de tocar já viesses sendo usada por outros. Tradução livre de:
http://en.wikipedia.org/wiki/Blast_beat
9
www.conecorio.org
5
5º Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UFF | UFRJ | UERJ | PUC-RIO
Universidade Federal Fluminense, Niterói. 24 a 26 de outubro de 2012.
acontecer; após o evento ainda é possível utilizar o espaço para que sejam postados
comentários sobre os shows ou sobre os acontecimentos daquele dia. As bandas
compartilham suas fotos que foram tiradas durante o evento, o público posta suas
imagens e as pessoas, se assim preferirem, podem usar o recurso “marcação de fotos”,
o que abre mais um grande espaço de sociabilização, criando laços afetivos entre as
pessoas que estavam presentes e que agora podem ficar “amigas”10 no Facebook.
A ideia de uma cena virtual não exclui a ideia de cena local, uma vez que uma
trabalharia em função da outra. Assim sendo, ideia de territorialidade ligada à cena
local não deixaria de ser relevante na cena virtual, mas esta, por estar inserida no
contexto da web 2.011, pode construir laços para além das fronteiras territoriais locais.
Por meio da web e das plataformas musicais, entre outros recursos é possível criar
pontes entre cenas geograficamente distantes, como as do Rio de Janeiro e de
Fortaleza.
Não é dizer que essas pontes não existissem anteriores a esses recursos, as trocas
de fitas, fanzines e cartas pelo correios foram muito presentes no desenvolvimento do
gênero em si, mas essas trocas de informações não se comparam em termos de fluxo
com o que temos hoje. O que este artigo leva em questão é a presença de um ambiente
online, criado especificamente para o relacionamento entre pessoas e a troca de
informações e como esse ambiente online tem interferido na configuração do
“ambiente off-line”.
Como aponta Raquel Recuero em seu livro “Redes Sociais na Internet” é
possível investigar mudanças nas estruturas sociais através da análise das interações e
dos fluxos de informações dispostos nas redes sociais:
O estudo das redes sociais na Internet, assim, foca o problema de como as
estruturas sociais surgem, de que tipo são, como são compostas através da
comunicação mediada pelo computador e como essas interações mediadas
são capazes de gerar fluxos de informações e trocas sociais que impactam
essas estruturas. (RECUERO, 2009, p.24)
O uso de redes sociais por atores da cena underground de metal para construir
ambientes online (grupos do Facebook) pode ser entendido assim como uma extensão
10
“Amigo” é a forma como o Facebook chama as pessoas que fazem parte da sua lista de contatos, o
que não necessariamente quer dizer que entre essas pessoas exista um laço forte de socialização. Ver:
AQUINO, 2007.
11
Ambiente online cuja principal característica é a cooperação. Ver: AQUINO, 2007.
www.conecorio.org
6
5º Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UFF | UFRJ | UERJ | PUC-RIO
Universidade Federal Fluminense, Niterói. 24 a 26 de outubro de 2012.
da cena local, aonde a interação se faz por contato físico e a comunicação face a face.
Ao mesmo tempo em que esse ambiente virtual serve aos acontecimentos da cena offline, ele de alguma forma acaba transformando, agindo sobre ela. Parte das
informações que fazem parte desse fluxo é o compartilhamento de material de bandas
underground: músicas, vídeos, notícias e flyers de eventos, por exemplo.
O papel das widgets e das plataformas de música online nas redes sociais
As widgets são pedaços das plataformas musicais que podem ser incorporados a
blogs, páginas pessoais e a redes sociais, permitindo que o usuário tenha acesso a
músicas e vídeos ao mesmo tempo em que checa suas mensagens ou confere os
comentários dos “amigos” em seu mural por exemplo, é uma pequena janela que se
abre e permite o acesso a um novo conteúdo, um material mais específico, que
normalmente é seguido de algum comentário ou recomendação de quem postou.
Sinome Sá em seu trabalho sobre os sistemas de recomendação musical pensa as
plataformas de música online como artefatos culturais: “a dimensão social das
plataformas é crucial para a eficiência do sistema e para recriação da experiência da
música” (SÁ, 2009, p.11). Ela destaca a importância do espaço de rede social no
avivamento das discussões sobre rótulos (as “tags”) e classificações, disputa
simbólica crucial ao campo musical. As widgets permitem levar as plataformas (em
pequenos móludos) para dentro das redes sociais, e a criar, a partir disso, novos
espaços para as discussões, recomendações e mediações de modo geral.
A plataforma ReverbNation foi escolhida para ilustrar este trabalho após um
longo tempo de observação da atividade dos usuários e, em especial, das bandas
através do Facebook. Foi possível notar que um bom número de bandas começaram a
divulgar seus perfis montados no ReverbNation e não mais seus links de MySpace12.
O MySpace tornou-se ultrapassado comparados a sites como o ReverbNation que
possuem um layout mais dinâmico, players mais ágeis e maiores possibilidades de
compartilhamento.
12
Plataforma musical criada em 2003, muito utilizado por bandas e artistas para divulgarem seus
trabalhos, mas que com o tempo foi perdendo sua popularidade.
www.conecorio.org
7
5º Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UFF | UFRJ | UERJ | PUC-RIO
Universidade Federal Fluminense, Niterói. 24 a 26 de outubro de 2012.
Embora o ReverbNation possua seu próprio espaço de rede social, a plataforma
se permite fazer parte de outras redes, como Facebook, Twitter e blogs, o que é
próprio da ideia de convergência proposta por Henry Jenkins:
Convergência é uma palavra que consegue definir transformações
tecnológicas, mercadológicas, culturais e sociais, dependendo de quem está
falando e do que imaginam estar falando. (...) a convergência representa
uma transformação cultural, à medida que consumidores são incentivados a
procurar novas informações e fazer conexões em meio a conteúdos
midiáticos dispersos. (JENKINS, 2009, p.29-30)
O autor diz ainda que a convergência ocorre dentro dos cérebros dos
consumidores individuais e em suas relações sociais, ele é contra a ideia de que a
convergência seja entendida simplesmente como um “processo tecnológico que une
múltiplas funções dentro dos mesmos aparelhos.” (2009, p.29). Portanto, essa
migração das plataformas de música online para dentro das plataformas de redes
sociais pode ser entendida como um movimento de convergência entre diferentes
mídias que acabam convergindo por sua vez, da cena virtual, para a cena local.
Na ilustração acima temos uma widget do ReverbNation incorporada a um post
no mural do grupo “M.U.C. – Movimento Underground Carioca” dentro do
Facebook. Essa widget, diferente da que é disponibilizada pelo YouTube, por
www.conecorio.org
8
5º Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UFF | UFRJ | UERJ | PUC-RIO
Universidade Federal Fluminense, Niterói. 24 a 26 de outubro de 2012.
exemplo, possui abas que dão acesso a diferentes tipos de conteúdo referentes àquele
material que está sendo exibido; não apenas músicas, mas também “info”, “videos” e
“photos”. Ao postar o link direto da URL para o mural do Facebook13, ou por meio do
botão “share” no site, a widget fica em “estado latente”, ao ser acionada com um
clique, ela abre automaticamente, já com a aba “music” acionada e com a primeira
música da playlist da banda selecionada, pronta para ser ouvida.
Clicando nas outras abas, é possível ter acesso às outras informações sem que a
música seja interrompida. Primeiro são mostrados resumos das informações dentro da
widget, fotos e vídeos em miniatura, por exemplo, que ao serem selecionadas,
direcionam o usuário de volta à plataforma, abrindo uma nova janela no navegador.
“O ReverbNation.com é um site, lançado em 2006, focado na indústria independente
de música. Sua intenção é funcionar como um site central para bandas, músicos,
produtores e como local de colaboração e comunicação.”14
Assim sendo, o papel das plataformas de música online e das widgets dentro das
redes sociais amplia a ideia de compartilhamento de informações, fazendo convergir
diferentes sites e estruturas para dentro de um post, que por sua vez está dentro de um
grupo reunido dentro de um determinado contexto. Pode-se dizer que tais recursos
utilizados juntos, compreendidos em diferentes contextos: tanto da web, quanto offline, (convergência entre os meios virtuais, e não virtuais, online e off-line) dão novas
dimensões à ideia de cena e de consumo coletivo de música.
O Underground Virtual Metálico e algumas considerações
O que este artigo vem propor é a uma ampliação da ideia de cena musical,
incluindo suas articulações no espaço virtual. Tendo como objeto de análise a cena
underground de metal e a forma como seus atores se relacionam no Facebook,
fazendo uso dos recursos dessa plataforma de rede social, combinado com os do
ReverbNation, plataforma musical. A partir disso, foi possível notar a crição de
ambientes similares aos espaços de sociabilização e de consumo coletivo de música
da cena off-line, no espaço virtual da web 2.0.
13
14
Copiando o link e colando no mural do Facebook
Tradução livre de: http://en.wikipedia.org/wiki/ReverbNation.com
www.conecorio.org
9
5º Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UFF | UFRJ | UERJ | PUC-RIO
Universidade Federal Fluminense, Niterói. 24 a 26 de outubro de 2012.
Essas aplicações tencionam a relação de cena com o espaço urbano no momento
em que não necessariamente, é preciso estar nesses espaços para compactuar daquela
sociabilização e daqueles acontecimentos. No entanto, a relação com a questão local
(ou a cena off-line, como em alguns momentos foi usado no texto para se referir o
espaço “não-virtual”) em nenhum momento é esmaecida, aqueles que deixam de viver
o local para acompanharem os acontecimentos e discussões em rede, acabam vivendo
a cena à margem de seus acontecimentos.
O fluxo de informações do ambiente online por sua vez, colaboram nas
reconfigurações das fronteiras e dos modos de produção;
(...)as fronteiras da cena são reconfiguradas constantemente devido ao
desenvolvi-mento das tecnologias de comunicação e aos fluxos contínuos de
informação. O que pressupõe que a circulação atualiza de forma dinâmica as
condições de produção e consumo dos produtos musicais. (JANOTTI;
PIRES, 2011, p.15)
Um exemplo dessa reconfiguração nos modos de produção que já pode ser
notada é o da preocupação das bandas em laçarem algum tipo de material audiovisual
de qualidade, muitas vezes um videoclipe, sabendo demanda do públido para este
material. Algumas bandas em vez lançarem álbuns completos, gravam apenas uma ou
duas músicas para disponibilizarem na rede ou em coletâneas promovidas por blogs e
sites, existem também várias promoções com entradas de shows, CDs e camisas,
promovidas pelas bandas e por organizadores de eventos nas páginas do Facebook.
Quando se fala de reconfiguração de fronteiras é preciso atentar mais
especificamente sobre o gênero com o qual estamos lidando. A cena metal tem uma
ligação muito forte com a ideia de territótio, existe a cena metal do Rio de Janeiro, a
cena brasileira, a cena latino-americana, e essas por sua vez se comunicam com outras
de diferentes territórios, parte dessa definição local pode vir do embate causado pelo
encontro dessas fronteiras.
É preciso ainda um maior esforço de análise sobre o papel dessas
reconfigurações na atual articulação da cena underground de metal. O que podemos
concluir no decorrer deste trabalho é que o uso de dispositivos como as widgets,
fazem parte desses mecanismos de mudança, e um estudo sobre elas é relevante para
entendermos de que formas elas vem trabalhando.
www.conecorio.org
10
5º Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UFF | UFRJ | UERJ | PUC-RIO
Universidade Federal Fluminense, Niterói. 24 a 26 de outubro de 2012.
Referências bibliográficas
AMARAL, Adriana. Categorização dos gêneros musicais na Internet - Para uma
etnografia virtual das práticas comunicacionais na plataforma social Last.FM. In:
FREIRE FILHO, João, HERSCHMANN, Michael. (Org.). Novos rumos da cultura
da mídia. Indústrias, produtos e audiências. 01 ed. Rio de Janeiro: Mauad, 2007, v.
01, p. 227-242.
ANDERSON, Chris. A cauda longa: Do mercado de massa para o mercado de nicho.
São Paulo: Makron Books/Editora Campus, 2006.
AQUINO, Maria Clara. Hipertexto 2.0, folksonomia e memória coletiva: um estudo
das tags na organização da web. E-Compós. Agosto, 2007.
CARDOSO FILHO, Jorge, JANOTTI Jr, Jeder. A música popular massiva, o
mainstream e o underground: trajetórias e caminhos da música na cultura midiática.
In: FREIRE FILHO, João e JANOTTI Jr, Jeder (org). Comunicação e música popular
massiva. Salvador: EDUFBA, 2006.
CHRISTE, Ian. Heavy Metal A história completa; tradução de Milena Duarte e
Augusto Zantoz. São Paulo: Arx, 2010.
FRITH, Simon. Performing rites: on the value of popular music. Cambridge: Harvard
University Press, 1996.
JANOTTI Jr, Jeder. Heavy Metal com Dendê: rock pesado e mídia em tempos de
globalização. Rio de Janeiro: E-papers, 2004.
JANOTTI Jr, Jeder. Dos Gêneros textuais, dos Discursos e das Canções: uma
proposta de análise da música popular massiva a partir da noção de gênero mediático.
in: XIV COMPÓS, 2005, Rio de Janeiro - UFF. Anais da XIV Compós.
www.conecorio.org
11
5º Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UFF | UFRJ | UERJ | PUC-RIO
Universidade Federal Fluminense, Niterói. 24 a 26 de outubro de 2012.
JANOTTI Jr, Jeder; PIRES, Victor de Almeida Nobre. Entre os afetos e os mercados
culturais: as cenas musicais como formas de mediatização dos consumos musicais.
In: JANOTTI Jr, Jeder; LIMA, Tatiana Rodrigues; PIRES, Victor de Almeida Nobre
(orgs.). Dez anos a mil: Mídia e Música Popular Massiva em Tempos de Internet
Porto Alegre: Simplíssimo, 2011. p. 8-21.
JENKINS, Henry. Cultura da convergência. São Paulo: Aleph, 2008.
SÁ, Simone Pereira de. A música na era de suas tecnologias de reprodução. ECompós. Agosto, 2006a.
SÁ, Simone Pereira de. Se você gosta de Madonna também vai gostar de Britney! Ou
não? Gêneros, gostos e disputa simbólica nos Sistemas de Recomendação Musical. ECompós, Brasília, v. 12, n. 2. Maio/Agosto, 2009.
TROTTA, Felipe. Gêneros musicais e sonoridade: construindo uma ferramenta de
análise. Revista Ícone, v.10 n.2. Recife: UFPE, 2008
WEINSTEIN, Deena. Heavy Metal: the music and its culture. New York: De Capo,
1991/2000.
www.conecorio.org
12
Download