A ECONOMIA CRIATIVA E DE ALTA TECNOLOGIA NO BRASIL Sumário Executivo Marco Aurélio Ruediger Rafael Martins de Souza Bárbara Barbosa João Victor Dias Wagner Oliveira 1 A ECONOMIA CRIATIVA E DE ALTA TECNOLOGIA NO BRASIL Sumário Executivo A Economia Criativa e de alta tecnologia no Brasil 4 A ECONOMIA CRIATIVA E DE ALTA TECNOLOGIA NO BRASIL Sumário Executivo Diretor Marco Aurélio Ruediger Coordenação Marco Aurélio Ruediger Coordenação de Pesquisa Rafael Martins de Souza Pesquisadores Bárbara Barbosa João Victor Dias Wagner Oliveira 20 de julho de 2015 5 A Economia Criativa e de alta tecnologia no Brasil 6 INTRODUÇÃO A economia brasileira está diante de alguns desafios estruturais. Entre eles está a histórica concentração de commodities na pauta de exportações brasileira, que nos últimos foi agravada pela deterioração das condições de competividade da indústria nacional. Nos anos que estão por vir, a mudança de modelo de crescimento da China, nosso maior parceiro comercial, que deverá deixar de ser baseada em investimentos e ampliar a participação do consumo, gera alguns desafios. É bastante provável que o Brasil diminua a sua exportação de produtos básicos, mais notadamente minério de ferro. Por outro lado, há a possibilidade de que o Brasil seja naturalmente induzido a aumentar o comércio de bens semimanufaturados, com produtos derivados de atividade pecuária. Como estes produtos naturalmente impõem pressão sobre recursos naturais, floresta e água, por exemplo, imediatamente surge a questão: esta é a melhor forma de nos posicionarmos? Certamente não. Diante deste quadro, urge a formulação de estratégias de Estado para promoção de atividades econômicas que gerem condições de produção de forma internacionalmente competitiva de bens e serviços de maior valor agregado e que gerem empregos de qualidade, que não sejam facilmente eliminados pela implantação de tecnologia. Dadas estas considerações, A Economia Criativa e de Alta Tecnologia pode e deve contribuir de forma decisiva para que este objetivo seja atingido. Sendo assim a economia criativa e, principalmente, de alta tecnologia devem estar no centro do debate público sobre o futuro da economia Brasileira. Elas geram empregos para profissionais altamente qualificados que, por exercerem atividades intelectuais e de cunho criativo são mais dificilmente substituídos pela mudança tecnológica. A inovação é o componente fundamental para o que haja crescimento econômico sustentado e de longo prazo. Este documento reúne de forma sucinta dados disponíveis sobre o atual estado da Economia Criativa e de Alta Tecnologia no Brasil, apresenta algumas sugestões de políticas públicas que poderiam contribuir para o desenvolvimento das atividades tecnológicas e de criação e aponta os temas de estudo e ações a serem desenvolvidas no futuro. 7 A Economia Criativa e de alta tecnologia no Brasil PRINCIPAIS NÚMEROS Os números que serão apresentados neste sumário correspondem às atividades relacionadas à Economia Criativa e de Alta Tecnologia (ECAT) consideradas neste documento em quatro grandes grupos, a saber: Consumo: Publicidade, Arquitetura, Design e Moda. Cultura: Expressões Culturais, Patrimônio e Artes, Música e Artes Cênicas. Mídias: Editorial e Audiovisual. Tecnologia: Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e Biotecnologia. O contingente de profissionais alocados na Economia Criativa e de Alta Tecnologia (ECAT) Durante os anos de 2004 e 2013, houve um expressivo aumento de 90% no número de profissionais envolvidos em atividades relacionadas à ECAT no Brasil, crescimento bastante superior ao crescimento da força de trabalho no território nacional. Em 2013 a ECAT empregava mais de 892 mil profissionais. SEGMENTOS 2004 2013 CRESC. Consumo 211,5 422,9 100,0% Publicidade 45,7 154,8 238,5% Arquitetura 62,7 124,5 98,5% Design 42,6 87 104,3% Moda 60,5 56,7 -6,3% Cultura 43,3 62,1 43,6% Expressões Culturais 18,3 22,5 22,7% Patrimônio e Artes 10,2 16,4 60,9% Música 7,5 12 60,4% Artes Cênicas 7,2 11,2 54,9% Mídias 64,2 101,4 58,0% Editorial 27,8 50,8 82,5% Audiovisual 36,3 50,6 39,1% Tecnologia 150,9 306,1 102,8% P&D 82,2 166,3 102,3% TIC 55,5 112,9 103,6% Biotecnologia 13,2 26,9 102,8% Indústria Criativa 469,8 892,5 90,0% Fonte: FIRJAN (2014). (2014) 8 Este forte crescimento da força de trabalho é evidência do dinamismo dos setores relacionados à ECAT e do impacto potencial que pode ser gerado no mercado de trabalho brasileiro com o crescimento deste conjunto de atividades. Os setores que lideraram o crescimento no contingente de profissionais foram os de Publicidade, com impressionantes 238,5%, seguido pelos de Design, TIC, Biotecnologia e P&D, com 104,3%, 103,6%, 102,8% e 102,3%, respectivamente. A alocação dos profissionais nos diferentes setores da economia criativa e de alta tecnologia As atividades classificadas como relacionadas ao consumo detinham quase a metade dos profissionais atuantes em ECAT, com 47,38% da força de trabalho. O setor de Tecnologia, era o segundo em alocação de mão de obra, com 34,30% dos profissionais. Embora o grupo de tecnologia seja o setor que tenha o segundo maior contingente de profissionais atuando em ECAT, o setor de Pesquisa e Desenvolvimento no Brasil (P&D) é o que mais conta com profissionais atuantes entre todos os setores da ECAT, com 166,2 mil pessoas (18,63% do total) e um crescimento de 102,3%, entre 2004 e 2013. A Figura 1 apresenta o percentual de profissionais empregados em cada um dos setores da ECAT nos diferentes grupos. FIGURA 1 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 12,65% 1,84% 5,69% 5,67% 17,34% 18,63% 1,35% 6,35% 2,52% 9,75% 1,25% 3,01% 13,95% ALOCAÇÃO DE PROFISSIONAIS NOS DIFERENTES SEGMENTOS DA ECONOMIA CRIATIVA - 2013 90% 100% Arquitetura Artes Cenicas Biotecnologia Design Expressões Culturais Moda Música P&D Publicidade Editorial Audiovisual Patrimonio & Artes TIC Fonte: FIRJAN (2014). 9 A Economia Criativa e de alta tecnologia no Brasil A remuneração dos profissionais da economia criativa e de alta tecnologia Além da importância estratégica dos setores relacionados à Pesquisa e Desenvolvimento, a remuneração dos profissionais desta atividade é bem superior as demais, como pode ser observado na Figura 2. O salário médio dos profissionais que atuam em P&D foi, em 2013 equivalente a R$ 9.990, muito superior aos pagos pelos profissionais nos demais setores. Depois de P&D, os setores que mais oferecem remuneração acima da média das ECAT são os setores de Arquitetura e TIC, com R$ 6.927 e R$ 5.393, respectivamente. FIGURA 2 REMUNERAÇÃO MÉDIA DOS PROFISSIONAIS DOS SETORES DE ECONOMIA CRIATIVA E DE ALTA TECNOLOGIA (R$) - 2013 9990 12000 5393 2364 3794 Média: 5422 3721 5075 2216 1412 1508 2000 3157 4000 4911 6000 2760 8000 6927 10000 0 Remuneração Mensal média por área Média Fonte: FIRJAN (2014). Por outro lado, os setores de Moda e de Expressões Culturais são os que oferecem remuneraçõesmais baixas. Em ambos os casos os vencimentos médios são próximos ou inferiores R$ 1.500. No caso específico do setor de Moda, há atividades que são exercidas sem que haja a necessidade de alta qualificação, como é o caso das atividades de corte e costura, que certamente puxam para baixo a média de rendimentos dos profissionais deste setor. 10 A geografia da Economia Criativa e de Alta Tecnologia no Brasil A investigação sobre a alocação de profissionais dos setores da ECAT nos diferentes estados da federação pode revelar fatos surpreendentes. O estado do Tocantins tem o segundo maior percentual de profissionais de ECAT alocados em setores de Tecnologia, 42%, superado apenas pelo Rio de Janeiro, com 43%. Ao contrário do líder neste quesito, que abriga um grande número de escolas e centro de pesquisa e ensino superior, Tocantins é o estado mais novo da federação e não conta com o mesmo número de instituições. FIGURA 3 PARTICIPAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE TECNOLOGIA NA INDÚSTRIA CRIATIVA - 2013 25,6 27,1 27,4 28,1 Média :31 28,6 30 30,0 30,1 30,5 PR GO DF RN MA BA 31,1 32,1 SC 31,1 32,2 AP 31,2 32,4 33,8 34,7 34,7 34,8 35 36,3 37,4 37,4 37,7 40 42,1 45 43 % em relação ao total de profissionais na ECAT 19,3 20 19,5 21,5 25 PI PB 15 10 5 0 RJ TO AM SE ES MG AC PA SP PE RS RO AL MT RR MS CE Fonte: FIRJAN (2014). A participação dos setores da ECAT ligados ao consumo é bastante alta em todos os estados, variando de 55%, no Ceará, a 35% no Tocantins, como pode ser verificado na Figura 4. Além do Ceará, os estados de São Paulo e Rio Grande do Sul são os que têm da metade de seus profissionais de ECAT trabalhando em setores pertencentes a este grupo. 11 A Economia Criativa e de alta tecnologia no Brasil FIGURA 4 PARTICIPAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DO SETOR DE CONSUMO DA ECONOMIA CRIATIVA - 2013 % em relação ao total de profissionais na ECAT 35,1 35,3 37,0 RN PA RO AC AM SE TO 37,3 40,5 RJ 37,6 40,5 ES MS MT MA AL RR 40 38,5 41,0 41,3 Média: 44 41,3 42,0 42,4 44,2 44,9 GO MG PE 45,7 45,9 PI 45,7 46,3 46,9 47,0 47,3 47,5 48,0 50 49,9 50,8 54,5 60 30 20 10 0 CE SP RS PR BA SC DF PB AP Fonte: FIRJAN (2014). Conforme revelado na Figura 5, o setor de Mídias tem peso destacado em Rondônia, com 26% do total de profissionais de ECAT neste estado. Os lanternas neste quesito são os principais estados do Sudeste, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais com 9%, 10% e 11%, respectivamente. 12 FIGURA 5 PARTICIPAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DO SETOR DE MÍDIAS DA ECONOMIA CRIATIVA - 2013 % em relação ao total de profissionais na ECAT 9,0 9,5 10,9 11,0 12,1 12,3 12,6 12,8 10 10,9 Média: 15 14,3 14,5 14,8 14,9 15,6 16,4 16,3 15,0 15 17,7 17,8 19,4 19,6 19,6 19,8 20 19,8 20,6 25 23,0 25,7 30 5 0 RO MS RR PB MT PA MA PI SE AL DF AM RN AC GO TO RS AP PR SC ES PE CE BA MG RJ SP Fonte: FIRJAN (2014). Por fim, na Figura 6 são apresentados os dados sobre o percentual de profissionais alocados no setorde Cultura. Em todas as unidades da federação mais ricas o percentual de profissionais atuando neste setor é menor que 8%. O estado da Paraíba é o que apresenta o maior percentual de profissionais atuando no setor de cultura, com 15%. 13 A Economia Criativa e de alta tecnologia no Brasil FIGURA 6 PARTICIPAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DO SETOR DE CULTURA DA ECONOMIA CRIATIVA - 2013 % em relação ao total de profissionais na ECAT 7,0 PA MG PR RJ 5,5 5,5 6 5,6 6,2 7,0 7,1 7,2 8 7,8 8,0 8,0 8,0 Média 9,0 8,4 8,5 8,6 9,0 9,0 9,5 10 10,8 12 11,3 11,5 12,8 12,8 13.0 14 13,0 13,9 14,8 16 RS SP DF 4 2 0 PI PB CE AC AL RN BA RR MT SE AM MS MA PE AP GO RO TO SC ES Fonte: FIRJAN (2014). O protagonismo dos profissionais de Tecnologia no cenário de ECAT do Rio de Janeiro é refletido na remuneração que os profissionais deste estado apresentam. O Rio de Janeiro lidera o ranking de rendimento médio dos profissionais de ECAT, superando até mesmo os vencimentos dos seus colegas do Distrito Federal e São Paulo, como pode ser observado na Figura 7. Por outro lado, Piauí e Ceará oferecem as menores remunerações. O caso do Piauí guarda relação com o fato de que há uma proporção muito grande de profissionais do setor de Cultura no total de profissionais de ECAT no estado. No caso do Ceará a baixa remuneração pode ser explicada pela grande importância do setor de Moda, que oferece baixa remuneração. 14 FIGURA 7 REMUNERAÇÃO MÉDIA MENSAL DOS PROFISSIONAIS CRIATIVOS POR ESTADO (R$) - 2004 e 2013 9000 8682 10000 3046 2543 2934 2511 2853 3437 3555 3180 2329 1839 2000 2504 3794 3809 3668 2839 2822 2899 3862 2023 2735 4245 3943 2944 4246 3137 4413 4305 3699 2831 4449 3306 2820 3510 4506 4510 4721 2908 4770 4875 5023 3000 3664 3403 3812 5127 3464 4000 3923 4234 5000 5240 5851 6925 5307 6000 4956 7000 6438 8000 1000 0 RJ DF SP AM SE BA ES PA PE MA RN TO MG AP 2004 PR AC AL RO GO RS RR SC MS MT PB PI CE 2013 Fonte: FIRJAN (2014). A Figura 8 apresenta o mapa do Brasil com as unidades da federação coloridas de acordo com a proporção de profissionais empregados nos setores de Economia Criativa de Alta Tecnologia em relação ao total de empregados nas economias estaduais. Em 2013, São Paulo e Rio de Janeiro reafirmaram suas posições de liderança, ao se consolidarem como as únicas unidades da federação que possuíam mais de 2% de suas forças de trabalho atuando com ECAT. Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Paraná e Minas Gerais formavam o bloco que se colocava em seguida, mantendo entre 1,5% e 2% das suas forças de trabalho em atividades criativas. A Figura 9 apresenta o quociente local de Economia Criativa e de Alta Tecnologia. Este quociente é formado pela proporção de trabalhadores em ECAT de um estado em relação ao total de trabalhadores deste estado, sobre a proporção de trabalhadores em ECAT do país o total de trabalhadores deste país. Este coeficiente ajuda a entender quais são os estados ou regiões que lideram ou “puxam” as atividades de ECAT em um determinado país ou território. Por exemplo, se um estado tem quociente maior do que 1, este estado tem uma proporção maior de sua força de trabalho atuando em ECAT do que a média do país. 15 A Economia Criativa e de alta tecnologia no Brasil FIGURA 8 PERCENTUAL DE EMPREGOS CRIATIVOS POR UNIDADES DA FEDERAÇÃO, 2013 FIGURA 8 PERCENTUAL DE EMPREGOS CRIATIVOS POR UNIDADES DA FEDERAÇÃO, 2013 [0 , 1] [1 , 1.5] [1.5 , 2] [2, 2.5] [0 , 1] [1 , 1.5] [1.5 , 2] [2, 2.5] 16 FIGURA 9 QUOCIENTE LOCAL DE ECONOMIA CRIATIVA E DE ALTA TECNOLOGIA, 2013 FIGURA 9 QUOCIENTE LOCAL DE ECONOMIA CRIATIVA E DE ALTA TECNOLOGIA, 2013 [0 , 0.6] [0.6 , 0.8] [0.8 , 1] [1, 1.4] [0 , 0.6] [0.6 , 0.8] [0.8 , 1] [1, 1.4] 17 A Economia Criativa e de alta tecnologia no Brasil Outra forma de visualizar a importância dos estados e a distribuição dos empregos em ECAT nos estados é apresentada na Figura 10. Neste gráfico de dispersão, o eixo vertical apresenta o total de profissionais que atuam nos setores da ECAT e o eixo horizontal apresenta o quociente local de economia criativa. Esta forma de visualização permite perceber ao mesmo tempo quais são as unidades da federação que oferecem mais oportunidades de trabalho em ECAT em temos absolutos e quais são os estados que têm proporção de sua força de trabalho atuando em ECAT superior à verificada nacionalmente. Como esperado, o estado de São Paulo lidera com bastante folga o ranking de estados que geram oportunidades de trabalho em setores de ECAT em termos absolutos, seguido por Rio de Janeiro e Minas Gerais. E também lidera o ranking como polo de economia criativa, seguido de perto pelo Rio de Janeiro e, com um pouco mais de distância, pelos estados do sul do país, Minas Gerais e Distrito Federal. Por fim, os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul estão nos quartis superiores tanto em relação ao número de empregos absolutos, quanto em relação ao quociente local de economia criativa. FIGURA 10 Milhares CENTROS DE ECONOMIA CRIATIVA 400 350 Top estados em quociente loca em Empregos em economia criativa 300 ECAT 250 200 Top estados em empregos em 150 ECAT RJ 100 MG 50 GO 0 0,00 RS PR 0,20 0,40 0,60 BA CE 0,80 DF 1,00 SC 1,20 1,40 1,60 Quociente local de economia criativa Fonte: FIRJAN (2014). 18 Cidades empreendedoras em ECAT Há poucos dados disponíveis sobre a importância das ECAT nos municípios brasileiros. Mesmo não sendo um documento construído especificamente para tratar sobre este assunto, um dos poucos documentos que trazem algum dado sobre isto é o Índice de Cidades Empreendedoras, da Endeavor, de 2014. Por exemplo, na Figura 11 são apresentados os percentuais de trabalhadores envolvidos com funções ligadas à ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM) em 14 capitais brasileiras. Salvador e Vitória, com 7,3% e 7,1%, respectivamente, são as únicas cidades com mais de 7% de sua força de trabalho alocada nestas atividades. Por outro lado, Fortaleza e Brasília, com 3,3% e 4,2%, são as capitais selecionadas que apresentam a menor proporção de profissionais trabalhando nestes setores. FIGURA 11 PROPORÇÃO DE TRABALHADORES EM OCUPAÇÕES STEM (%) - 2013 Salvador 7,25 Vitória 7,13 Belém 6,47 Florianópolis 6,29 Brasília 6,04 Rio de Janeiro 5,66 Belo Horizonte 5,51 Porto Alegre 5,2 São Paulo 4,75 Manaus 4,74 Curitiba 4,63 Recife 4,54 Brasília 4,21 Fortaleza 3,32 0 1 2 3 4 5 6 7 8 Fonte: Endeavor Brasil, 2014. 19 A Economia Criativa e de alta tecnologia no Brasil Comparação internacional Entender o posicionamento do Brasil em relação aos demais países do mundo no que diz respeito ao ambiente para desenvolvimento da economia criativa concerne a capacidade de analisar as possibilidades de atuação do Brasil, de forma a ser possível traçar uma estratégia de inserção e manutenção do país no mapa da economia criativa. O objetivo advindo desta perspectiva global é garantir que seja possível direcionar o desenvolvimento econômico do país de forma a introduzir o país em um setor estratégico para a geração de riqueza e, por consequência, para a promoção do desenvolvimento econômico. A Figura 12 mostra a riqueza gerada pela economia criativa no PIB de países europeus em 2003 e no do Brasil em 2009. O Valor Adicionado (VA) consiste na diferença entre o valor bruto produzido no setor e o consumo intermediário. No caso do Brasil a economia criativa gerou 1,1% do total dariqueza do PIB, abaixo da média de 1,9% do valor adicionado gerado pelas economias europeias no mesmo ano. FIGURA 12 EUROPA E BRASIL: PARTICIPAÇÃO DO VA DA ECONOMIA CRIATIVA NO PIB (2003) Malta 0,2 Luxemburgo 0,6 Islândia 0,7 Chipre 0,8 Grécia 1,0 Brasil (2009) 1,1 Hungria 1,2 Polônia 1,2 Bulgária 1,2 Portugal 1,4 Romênia 1,4 Irlanda 1,7 Lituânia 1,7 Áustria 1,8 Latvia 1,8 Eslováquia 2,0 2,2 Eslovênia República Checa 2,3 Itália 2,3 Espanha Estônia Suécia Alemanha 2,3 2,4 2,4 2,5 Bélgica 2,6 Holanda 2,7 Reino Unido 3,0 Dinamarca 3,1 Finlândia 3,1 Noruega 3,2 França 3,4 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 Fonte: UNCTAD (2010) e IPEA (2013) 20 Na comparação direta com os países europeus selecionados, o Brasil só ganha da Grécia, Chipre,Islândia, Luxemburgo e Malta. Os dados sugerem que há espaço significativo para o desenvolvimento da ECAT no Brasil. Por exemplo, o líder do ranking, a França, tem 3,4% do seu produto gerados pela ECAT, mais de três vezes o percentual do Brasil. Após a França, Noruega, Finlândia, Dinamarca e Reino Unido, todos com 3% ou mais de geração de valor agregado do PIB provenientes da ECAT. O Brasil no mercado internacional de Economia Criativa e de Alta Tecnologia Como pode ser visto na Figura 13, o Brasil tem perdido participação no mercado de internacional de bens criativos e de tecnologia. O percentual de exportações brasileiras destes bens em relação ao total de exportações do resto do mundo caiu de cerca de 0,39% em 2004 para 0,19% em 2012, ano mais recente para o qual há dados disponíveis. FIGURA 13 PERCENTUAL DE EXPORTAÇÕES DO BRASIL DO TOTAL DE EXPORTAÇÕES MUNDIAIS DE BENS CRIATIVOS E DE ALTA TECNOLOGIA 2003 - 2012 0,5% 0,4% 0,39% 0,4% 0,3% 0,36% 0,35% 0,32% 0,29% 0,3% 0,27% 0,24% 0,2% 0,22% 0,2% 0,19% 0,19% 2011 2012 0,1% 0,1% 0,0% 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Fonte: Fonte: Banco de dados UNCTAD, acesso em 2015. A Figura 14 mostra a variação percentual de exportações desde o ano 2004 até 2012. Esta figura sugere que o crescimento da atuação do Brasil no mercado internacional se dá de forma mais próxima ao que ocorre nos países desenvolvidos do que da forma que ocorre nas economias em desenvolvimento. Isto não é, exatamente, uma boa notícia, dado que o desempenho do agregado dos países em desenvolvimento se sai melhor do que o dos países desenvolvidos. 21 A Economia Criativa e de alta tecnologia no Brasil FIGURA 14 VARIAÇÃO PERCENTUAL, EM RELAÇÃO AO ANO ANTERIOR, DO TOTAL DE EXPORTAÇÕES DE BENS CRIATIVOS E DE ALTA TECNOLOGIA 2004 - 2012 60 53,50 50 40,86 40 30 32,01 20,10 20 10 15,75 17,92 12,72 12,73 3,22 0 35,12 35,40 9,24 22,93 12,87 11,43 10,46 23,62 18,33 5,01 11,93 4,42 6,15 32,84 7,63 6,15 18,82 5,25 2,12 -3,64 -7,16 -4,11 -10 -20 20,77 -18,76 -25,67 -28,36 -30 -34,01 -40 2004 2005 Mundo 2006 2007 2008 Economias em Desenvolvimento 2009 2010 Desenvolvidos 2011 2012 Brasil Fonte: Fonte: Banco de dados UNCTAD, acesso em 2015. Embora os números consolidados apresentem um sinal de pouco alento para as nossas exportações, há setores que têm apresentado resultados bastante expressivos. Por exemplo, como pode ser verificado na Figura 15 e na Figura 16. A participação das exportações brasileiras de Novas Mídias em relação ao total de exportações mundiais destes produtos cresceu de 0,01% para 0,27% em um espaço de tempo de apenas 6 anos. O setor de Artes Visuais, apesar da oscilação de 2009 a 2012, apresenta um aumento de 0,8 ponto percentual no período de 2003 a 2012. A Informação para o ano de 2007 no Brasil não está disponível, para complementar o gráfico foi realizada uma interpolação entre os valores de 2006 e 2008. 1 22 FIGURA 15 PERCENTUAL DE EXPORTAÇÕES DO BRASIL DO TOTAL DE EXPORTAÇÕES MUNDIAIS DE BENS CRIATIVOS E DE TECNOLOGIA (SETORES SELECIONADOS) 2003 - 2012 0,6% 0,57% 0,52% 0,5% 0,49% 0,46% 0,43% 0,40% 0,4% 0,32% 0,29% 0,3% 0,22% 0,2% 0,22% 0,18% 0,27% 0,24% 0,22% 0,11% 0,1% 0,0% 2003 0,05% 0,02% 0,01% 0,01% 2004 2005 0,01% 2006 Artesanato 2007 2008 Audiovisual 2009 Design 2010 2011 2012 Nova mídia FIGURA 16 PERCENTUAL DE EXPORTAÇÕES DO BRASIL DO TOTAL DE EXPORTAÇÕES MUNDIAIS DE BENS CRIATIVOS E DE TECNOLOGIA (SETORES SELECIONADOS) 2003 - 2012 0,3% 0,21% 0,2% 0,19% 0,2% 0,14% 0,14% 0,1% 0,11% 0,08% 0,1% 0,06% 0,07% 0,11% 0,06% 0,11% 0,07% 0,08% 0,11% 0,09% 0,08% 0,07% 0,05% 0,03% 0,03% 0,0% 2003 2004 2005 Artes performáticas 2006 Publicações 2007 2008 2009 2010 Equipamentos de Informática 2011 2012 Artes visuais Fonte: Fonte: Banco de dados UNCTAD, acesso em 2015. 23 A Economia Criativa e de alta tecnologia no Brasil Implicações de Política A primeira conclusão que pode ser tirada com este documento é que os dados e estatísticas disponíveis para o entendimento da Economia Criativa e de Alta Tecnologia no Brasil ainda são insuficientes para a compreensão dos setores que a compõem. É necessário que se aprofunde os esforços para obtenção e análise de dados que possibilitem a construção de documentos que permitam avaliar a questão com profundidade e subsidiem a tomada de decisão dos órgãos públicos competentes. Por exemplo, há polos de ECAT em cidades do interior do Brasil que não podem ser devidamente mapeados e analisados por conta de inexistência de dados com capilaridade que permita este nível de regionalização. É preciso desenvolver um plano estratégico de atração e retenção de pesquisadores e empreendedores da ECAT, principalmente aqueles que tem as suas atividades relacionadas à tecnologia e inovação. A crise pela qual a Europa vem passando desde o início desta década tem feito com que vários profissionais altamente qualificados estejam mais propensos em aceitar oportunidades de trabalho em países como o Brasil. Há espaço para o desenvolvimento do potencial empreendedor de pesquisadores lotados em instituições de pesquisa. Como foi divulgado recentemente pela World Intellectual Property Organization (WIPO), o Brasil está mal colocado no ranking de registro de patentes e demais propriedades intelectuais construídas por esta instituição. A construção e ampliação de universidades em todo o território nacional realizada nos últimos anos deve impactar a quantidade, qualidade e a distribuição espacial deste tipo de registro. É preciso melhorar o acesso de pesquisadores e empreendedores aos mecanismos de registro de propriedade intelectual. O Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), órgão responsável pelo registo de propriedade intelectual no Brasil, é reconhecido pela demora com a qual executa os seus registros. Segundo dados da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (ANPROTEC), em 2013 o tempo de espera para o registro de uma propriedade intelectual chegava a 11 anos. Algumas medidas podem ser tomadas para a melhora do procedimento de registro de patentes, entre elas estão a ampliação do quadro de examinadores, investimentos em informatização e estabelecimento de convênios acordos de cooperação técnica e operacional com instituições de concessão de patentes internacionalmente reconhecidas como de excelência. 24 Existem potencialidades regionais que são pouco exploradas. Por exemplo, o Brasil possui diversosecossistemas que merecem ser estudados cuidadosamente. A implantação e a expansão de centros de pesquisa em biotecnologia devem ser executadas de forma estratégica, com vistas a explorar o potencial de geração de novos produtos e patentes a partir da biodiversidade destas regiões. Além disso, estes centros têm condições de dinamizar as economias locais com a atração e retenção de pessoas altamente qualificadas e com rendimentos elevados. Em alguns setores como Moda, as atividades de design e criação de produtos devem ser privilegiadas, em detrimento de atividades que exigem menos qualificação. Isto pode ser feito por meio de promoção de cursos de capacitação, tanto a profissionais que já atuam neste setor ou que pretendem atuar. 25 A Economia Criativa e de alta tecnologia no Brasil TRABALHOS FUTUROS A FGV/DAPP já está desenvolvendo e pretende desenvolver pesquisa em diversos caminhos: • Entender a economia criativa e de alta tecnologia nos BRICS Este estudo inicial deve ser aprofundado para permitir uma melhor compreensão territorial da Economia Criativa no Brasil. Os dados disponíveis só permitem enxergar as ações em nível estadual e em algumas capitais. É importantíssimo entender e promover as iniciativas que acontecem nos estados com menor representatividade econômica e nas cidades do interior. O mesmo deve ser feito, com igual profundidade e metodologia, para os demais BRICS. • Compreender como a transferência de inovação e tecnologia entre os BRICS pode ser aprofundada Há diversas barreiras que devem ser rompidas para que haja uma maior integração entre os BRICS. Há barreiras geográficas: além da enorme extensão continental de Brasil, Rússia, China e Índia, este conjunto de países estão localizados em pelo menos três continentes diferentes. A despeito do forte crescimento do comércio internacional com a China observado desde meados da década de 1990, há um histórico de baixo intercâmbio de profissionais, produtos e serviços entre os BRICS. Para que este bloco consiga ter ações em conjunto de forma mais efetiva, é importante que sejam estudados e promovidos mecanismos para gerar maior interação de “baixo para cima” de profissionais e pesquisadores. • Investigar e promover como produtos e serviços criativos e tecnológicos produzidos nos BRICS podem ser exportados para os países em desenvolvimento Muitas soluções que podem oferecer bons resultados nos BRICS podem ser aplicadas em outros países em desenvolvimento ou com desenvolvimento tardio. A FGV/DAPP entende que há grandes oportunidades de promover o crescimento econômico e social por meio da replicação dos seus estudos e soluções nestes países. Do ponto de vista estratégico, esta etapa é crucial para o desenvolvimento da próxima. • Fomentar a exportação de produtos e serviços criativos para os países desenvolvidos Os BRICS são reconhecidamente muito bem-sucedidos em exportação de commodities, produtos semimanufaturados e manufaturados desenvolvidos em países desenvolvidos. Embora existam algumas iniciativas notáveis de exportação de produtos com conteúdo de criação e de altíssimo valor agregado desenvolvidos nos BRICS para países desenvolvidos, as possibilidades de exportação deste tipo de produto para as economias centrais devem ser expandidas. A FGV/DAPP tem feito e pretende expandir seus estudos e suas ações com vistas a ampliar a sua participação em economias desenvolvidas. 26 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bakhshi, H., Davies, J., Freeman, A. e Higgs, P., The Geography of The UK’s Creative and High-Tech Economies, Nesta, January 2015, London. De Oliveira, João Maria, de Araujo, Bruno C., Silva, Leandro Valério, Panorama da Economia Criativa no Brasil, IPEA, 2013. Índice de Cidades Empreendedoras – Brasil, Endeavor Brasil, 2014. Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil, Federação da Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, FIRJAN, dezembro de 2014. World Intellectual Property Indicators, Economics and Statistics Series, World Intellectual Property Organization, 2014 UNCTAD – United Nations Conference on Trade and Development. Statistics on world trade in creative products. Disponível em: <http://unctad.org/en/Pages/DITC/CreativeEconomy/ Statistics-on-world-trade-in-creative-products.aspx>. Acesso em 27 out. 2015. . 27 A Economia Criativa e de alta tecnologia no Brasil www.dapp.fgv.br [email protected] (21) 3799-4300 30