insetos aquáticos associados à

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INSETOS AQUÁTICOS ASSOCIADOS À
BARRAGEM DO JAZIGO, SERRA TALHADA, PE
Ayllanne Mary da Silva Magalhães ¹ Janaína Kely Nogueira Lima 1, Cláudia Helena
Cysneiros Matos 2 Carlos Romero Ferreira de Oliveira2
1Graduanda de Bacharelado em Ciências Biológicas da Unidade Acadêmica de Serra
Talhada, Universidade Federal Rural de Pernambuco (UAST/UFRPE). Fazenda
Saco,S/N, Caixa Postal: 063. Serra Talhada, PE. E-mail: [email protected]
2 Professor Adjunto da a Unidade Acadêmica de Serra Talhada, Universidade Federal
Rural de Pernambuco (UAST/UFRPE). E-mail: [email protected]
Resumo: A Classe Insecta é considerada por muitos autores a mais evoluída do Filo
Arthropoda e inclui representantes que vivem pelo menos um estágio do ciclo de vida
em ambiente aquático, os quais constituem a entomofauna aquática. O presente estudo
teve como objetivo analisar a composição da comunidade de insetos aquáticos presente
na Barragem do Jazigo, localizada no município de Serra Talhada - PE, sertão
pernambucano. Foi contabilizado um total de 482 indivíduos, distribuídos em quatro
Ordens: Coleoptera, Odonata, Hemiptera, e Orthoptera. Estes, estiveram associados às
macrófitas aquáticas Egeria densa Planch., Eichornia crassipes (Mart.) Solms e Azolla
sp., não sendo encontrados indivíduos associados ao sedimento. As Ordens Coleoptera e
Odonata foram as mais representativas, correspondendo a 51 e 35%, respectivamente
dos indivíduos encontrados. Já no que se refere à associação da entomofauna com as
macrófitas, esta foi mais representativa nas macrófitas de grande porte, o que pode ser
explicado pelo microambiente formado por estas espécies. O interesse pela
entomofauna aquática tem crescido consideravelmente nos últimos anos, principalmente
devido à utilidade desses organismos como bioindicadores ambientais. Entretanto, as
informações sobre esta parcela da fauna no semiárido pernambucano ainda são escassas,
o que reforça a importância do presente estudo.
Palavras-chave: Insecta, macrofauna bentônica, semiárido pernambucano.
1
INTRODUÇÃO
Dentre os principais grupos de organismos presentes nos ecossistemas aquáticos
destacam-se os representantes da Classe Insecta, devido a estarem associados às
macrofitas aquáticas, bem como ao sedimento nesses ambientes, no qual participam do
fluxo de energia, da ciclagem de nutrientes e ainda servem de alimento a diversos outros
grupos de organismos, ocupando diferentes habitats (MERRITT; CUMMINS, 1996).
Os insetos aquáticos apresentam seu ciclo de vida, ou parte dele, nesses ambientes
encontrando-se associados a diversos tipos de substratos como: cascalhos, folhas,
sedimentos, rochas (TRIVINHO–STRIXINO & STRIXINO, 1993; SONODA, 1999;
PEIRÓ & ALVES, 2004). Apesar da ocorrência comum em todos os tipos de ambientes
de água doce, desde as correntes até as águas lênticas, este é o grupo para o qual o
conhecimento é talvez o mais incompleto (BRASIL, 2004).
As informações disponíveis sobre os macroinvertebrados como indicadores de
poluição e tolerância a fatores químicos e físicos funcionam como uma ferramenta
suplementar para uma rápida avaliação das condições da qualidade da água, juntamente
com outros parâmetros (BONZINI et al. 2008, FLYNN et al. 2010), como os físicoquímicos. Além disso, fornecem subsídios para a conservação, o manejo e a
recuperação dos ecossistemas aquáticos, através das respostas biológicas para avaliar as
mudanças ambientais (PRANTERA e BUSSONS 2009).
A distribuição e diversidade de insetos está diretamente ligada à morfologia do
ecossistema e ao tipo de substrato (WARD et al., 1995; GALDEAN et al., 2000), ou
seja, dependendo da morfologia das macrofitas aquáticas será encontrada maior ou
menor diversidade, podendo ser influenciada pela disponibilidade de
alimento e
condições físico-químicas (BISPO; OLIVEIRA, 1998).
As comunidades biológicas refletem de forma íntegra a ecologia do ecossistema
sobre os diferentes agentes impactantes (BARBOUR et al., 1999). Os organismos que
formam a comunidade biológica são aqueles que possuem uma grande capacidade de
tolerância e adaptação às diversas condições ambientais (ALBA – TERCEDOR, 1996).
Assim, com o crescimento das cidades nas últimas décadas os ecossistemas
aquáticos vêm sendo alterados drasticamente devido aos impactos ambientais que
sobrevêm de atividades antrópicas, como mineração, eutrofização artificial, construção
de barragens e represas, introdução de espécies exóticas, desvio do curso natural de rios,
2
lançamento de efluentes domésticos e industriais não tratados, desmatamento, dentre
outros fatores. Como consequência destas atividades, tem-se observado uma expressiva
queda da qualidade da água e perda de biodiversidade aquática, devido a transformações
negativas do ambiente físico e químico dessas comunidades biológicas (GOULART &
CALLISTO, 2003).
O interesse pela entomofauna aquática tem crescido consideravelmente nos
últimos anos, principalmente devido à utilidade desses organismos como bioindicadores
ambientais. Entretanto, existem lacunas sobre o conhecimento e a caracterização de suas
comunidades nesses ambientes, sendo de grande importância o desenvolvimento de
pesquisas taxonômicas e ecológicas, de maneira a se ter o conhecimento de sua estrutura
e função nos ecossistemas aquáticos.
Apesar do importante reconhecimento e dos trabalhos desenvolvidos nessa área no
Brasil, há apenas uma pesquisa sobre esta parcela da fauna no semiárido pernambucano
(LIMA, 2012). Assim, os resultados obtidos com a presente proposta trarão informações
de grande relevância para o preenchimento das lacunas existentes no que se refere ao
conhecimento da biota do semiárido pernambucano, mais especificamente dos insetos
aquáticos associados à Barragem do Jazigo, Serra Talhada - PE.
Além disso, contribuirão para o desenvolvimento de ações estratégicas no que diz
respeito à recuperação de áreas degradadas da Caatinga, através do diagnóstico da biota
da área em questão, o qual servirá de base para a determinação de planos de manejo e
recuperação dessas áreas, dando suporte assim aos objetivos do Centro de Referência e
Recuperação de Áreas Degradadas (CR-ad Serra Talhada), o qual trará grande
desenvolvimento para o semiárido pernambucano, tanto nos aspectos científicos, como
nos aspectos econômicos e sociais.
MATERIAL E MÉTODOS
Os insetos avaliados no estudo foram provenientes de coletas mensais, diurnas,
realizadas no período de Outubro/2008 à Novembro de 2012, na Barragem do Jazigo PE. Foram previamente selecionadas três estações de coleta ao longo da barragem,
sendo uma estação representada por ambiente lêntico e duas por ambientes lóticos. As
amostras foram coletadas nas margens da barragem, utilizando-se rede entomológica
aquática com abertura de malha de 2 mm para as amostras da vegetação superficial de
3
pequeno porte, coletor de PVC para coleta do sedimento, e balde graduado de 5L para a
coleta
das
macrófitas
aquáticas
flutuantes.
Os
espécimes
coletados
foram
acondicionados em recipientes plásticos, devidamente etiquetados, fixados em formol e
levados ao laboratório da Unidade Acadêmica de Serra Talhada/UAST para os
procedimentos rotineiros de triagem e identificação.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As macrófitas aquáticas avaliadas no presente estudo, quanto à entomofauna
associada, foram: (a) Macrófitas de grande porte (MGP) - Egeria densa Planch. e
Eichornia crassipes (Mart.) Solms ; (b) macrófitas de pequeno porte (MPP): Azolla sp. .
As macrófitas E. densa (Fig.2a) são conhecidas como elódea e são aquáticas
submersas enraizadas, podendo também viver de forma livre. São consideradas como
plantas daninhas que infestam mananciais de água parada como lagos, lagoas e
pequenas represas, e de pequena movimentação, como os canais de drenagem, e que se
desenvolvem abundantemente em ambientes eutrofizados. Quando intensamente
iluminadas liberam grande quantidade de oxigênio que pode ser observado sob a forma
de pequenas bolhas presas às folhas ou se desprendendo e subindo para a superfície
(FONTES, 2011). Assim como outras macrófitas, servem de local de abrigo para
microorganismos e invertebrados aquáticos (MOURA et al. 2009).
O aguapé E.crassipes se destaca devido à densa cobertura que pode formar nos
ambientes aquáticos, servindo de habitat para peixes, alevinos, insetos e outros
organismos aquáticos (JUNK E HOWARD-WILLIAMS 1984). É a planta daninha
aquática que causa mais problemas no país, uma espécie muito vigorosa que dobra sua
área a cada 6-7 dias, quando em condições ótimas de crescimento, chegando a produzir
480 toneladas de massa verde/ha/ano. Sua distribuição se estende a todas as regiões
tropicais do planeta (SCULTHORPE 1985).
Já as plantas do gênero Azolla são também conhecidas como samambaias d'água.
São pequenas plantas flutuantes livres (cerca de 2 cm), cujo caule apresenta-se
densamente ramificado coberto por folhas pequenas e alternadas. São ricas em
nitrogênio, pois vivem em simbiose com a alga cianofícea Anabaena azollae que habita
o interior das cavidades de suas folhas. Além disso, são comumente utilizadas como
adubo (por causa do nitrogênio), constituindo um alimento rico em proteínas para
bovinos, suínos, aves, peixes e organismos aquáticos. Atuam como despoluidoras
4
de águas (retenção de metais pesados), podendo ser utilizadas no tratamento de esgotos
e, assim como outras macrófitas, servem de local de abrigo para microorganismos e
invertebrados aquáticos (MOURA et al., 2009).
Na Barragem do Jazigo (Serra Talhada – PE), até o momento, foi contabilizado
um total de 482 indivíduos, os quais se encontram distribuídos em quatro Ordens
(Coleoptera, Odonata, Hemiptera e Orthoptera) e 14 famílias (Tab. 1). Destes, 456
espécimes foram coletados no ano de 2011 e 19 no ano de 2012, o que indica uma baixa
representatividade desses organismos no ano de 2012. Todos os insetos estiveram
associados à macrófitas aquáticas de grande e pequeno porte, não sendo observada a
ocorrência de insetos associados ao sedimento em nenhum dos pontos de coleta ao
longo de todo o período estudado.
Dentre as Ordens de insetos que apresentam representantes aquáticos, destacamse: Ephemeroptera, Odonata, Plecoptera, Coleoptera, Hemiptera, Trichoptera e Diptera
(ESTEVES, 1998), das quais três foram encontradas no presente estudo . Além disso, os
Orthoptera estiveram presentes, Ordem cujos representantes têm hábito semi-aquático e
que, quando presentes nesses ambientes, estão normalmente associados à presença de
macrófitas (LHANO et al.2005), como observado no presente estudo (Tab. 1).
Observou-se que Coleoptera e Odonata foram as Ordens mais representativas,
correspondendo a 51 e 35%, respectivamente dos indivíduos encontrados. Os menos
representativos foram os Hemiptera (13%) e os Orthoptera (1%). Tais resultados
corroboram com o observado por Lopes (2005) que, estudando a entomofauna de dois
igarapés no Amazonas, observou que as mesmas foram as mais frequentes e abundantes
nessas áreas.
Já no que se refere à associação da entomofauna com as macrófitas, observou-se
que em todo o período estudado estes foram mais representativos nas macrófitas de
grande porte (MGP), havendo destaque no período de 2008/2009 para os Coleoptera e
Odonata (Tab. 1) e em 2012 para os Coleoptera e os Hemiptera (Tab. 1).
A ocorrência de insetos associados às macrófitas aquáticas já foi relatada em
vários estudos, como Pratte-Santos et al. (2011), que relataram sobre a capacidade das
macrófitas aquáticas sustentarem uma comunidade de insetos e outros invertebrados,
muito variada e característica, e de abundância relativamente alta. Estes autores
consideram que isso ocorre devido às condições de suporte fornecidas por essas plantas.
5
Tabela 1– Lista de táxons, com a abundância numérica, de insetos aquáticos presentes
em três tipos de substratos, em três pontos de coleta, na Barragem do Jazigo, município
de Serra Talhada - PE (Macrófitas de grande porte; MPP=Macrófitas de pequeno porte;
S=Sedimento).
Período de coleta
(ano)
Tipos de Substrato
TÁXONS
Coleoptera
Hydrophilidae
Lutrochidae
Elmidae
Dryopidae
Dytiscidae
Curculionidae
Hemiptera
Belostomatidae
Salidae
Helotrephidae
Odonata
Coenagrionidae
Libellulidae
Gomphidae
Aeshnidae
Orthoptera
Tettigoniidae
Total de insetos
Total de famílias
2008/2009
Total
2012
MGP
MPP
S
MGP
MPP
S
0
1
5
1
198
2
2
0
1
0
24
0
0
0
0
0
0
0
0
1
5
1
0
0
2
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
2
1
6
1
222
2
53
0
0
0
0
0
0
0
0
1
2
2
0
1
0
0
0
0
54
3
2
28
62
43
25
0
4
0
0
0
0
0
0
0
2
0
0
0
1
0
0
0
0
0
0
28
66
43
25
7
425
11
0
31
4
0
0
0
0
14
7
0
5
4
0
0
0
7
462
14
A ausência de insetos associados ao sedimento observada no presente estudo
pode ser decorrente da estiagem severa ocorrida no ano de 2012 e também ao método de
coleta utilizado que pode não ter sido o mais adequado. Assim, em pesquisas futuras,
devem ser feitos ajustes na metodologia de maneira a se utilizar um método que tenha
maior eficiência na captura de insetos associados ao sedimento.
O padrão de distribuição de insetos nos ambientes aquáticos é decorrente de
diversos fatores, como a interação entre o hábito, as condições físicas do hábitat
(substrato, fluxo, turbulência) e a disponibilidade alimentar (ESTEVES, 1998;
KIKUSHI & UIEDA,1998). Este aspecto pode ser uma explicação para a variação
observada na composição e ocorrência dos insetos no presente estudo.
6
A observação de que macrófitas de grande porte são ricas em insetos aquáticos
também foi observada por (NASCIMENTO ET AL. 2011), os quais comentam que
muitas delas podem ser encontradas nos ecossistemas aquáticos durante todo o ano,
formando densos estandes, o que nem sempre ocorre com outras espécies de pequeno
porte. Assim, o fato de ter havido predominância de insetos associados às MGP no
presente estudo pode ser explicado pelo microambiente formado por estas espécies, o
qual pode ser um fator chave para a abundância dos referidos táxons.
Os insetos são de grande importância na transformação de matéria e no fluxo de
energia do ecossistema (TRIVINHO-STRIXINO & STRIXINO 1993). Seu estudo vem
sendo muito difundido nos últimos anos, porém existem lacunas sobre o conhecimento
de suas relações com macrófitas aquáticas. Assim, a união de pesquisas taxonômicas
com as de abordagem ecológica é muito importante para o conhecimento da estrutura e
da função da comunidade desses organismos nos ecossistemas aquáticos.
CONCLUSÕES
1. A predominância de determinados grupos de insetos, como Coleoptera e Odonata em
detrimento de outros, observada no presente estudo, pode estar associada aos
requerimentos alimentares, de abrigo e às interações existentes entre esses organismos.
2. Já ausência de representantes de determinadas Ordens, tais como Ephemeroptera,
Plecoptera e Trichoptera, os quais ainda não foram registrados nas amostras até o
momento e são sensíveis a desequilíbrios ambientais pode ser decorrente do alto grau de
eutrofização observado na Barragem do Jazigo.
3. A maior representatividade da entomofauna aquática nas macrófitas de grande porte
pode ser explicada pelo microambiente formado por estas espécies, o qual pode ser um
fator chave para a abundância dos referidos táxons.
4. É importante a continuidade deste estudo, de maneira que as informações acerca da
caracterização da entomofauna presente na Barragem do Jazigo (Serra Talhada – PE)
possam servir de base para estudos de ecologia e monitoramento da referida área.
AGRADECIMENTOS
À FACEPE e ao CNPq pelo apoio financeiro.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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