Rev Med (São Paulo). 2015 out.-dez.;94(4):230-8. doi: http://dx.doi.org/10.11606/issn.1679-9836.v.94i4p230-238 Perspectivas de terapia celular em neurologia Cell therapy perspectives in neurology Fernando Onuchic1, Chary Marquez Batista1, Guilherme Lepski1,2 Onuchic F, Batista CM, Lepski G. Perspectivas de terapia celular em neurologia/ Cell therapy perspectives in neurology. Rev Med (São Paulo). 2015 out.-dez.;94(4):230-8. RESUMO: Neste artigo de revisão, buscamos ressaltar alguns dos avanços mais recentes na pesquisa sobre células-tronco em neurologia. Além disso, buscamos demonstrar a direta associação entre seu funcionamento e mecanismos de replicação, diferenciação e maturação, além da terapêutica celular de algumas doenças neurológicas. Abordamos a provável associação entre essas células indiferenciadas e a origem de alguns tumores malignos do SNC, bem como os potenciais terapêuticos que o transplante das mesmas tem na medicina neurológica regenerativa. Por fim, concluímos que o entendimento e a pesquisa sobre esses mecanismos podem abrir portas para abordagens mais diretas e eficazes de diversas doenças atualmente incuráveis do sistema nervoso. ABSTRACT: In this review, we sought to highlight some of the latest advances in stem-cell research in neurology. In addition, we demonstrated the direct association between its functioning and replication mechanisms, differentiation and maturation, and also the cell therapy involved in some neurological diseases. We discussed the possible association between these undifferentiated cells and the source of some malignant tumors of the CNS, as well as the therapeutic potential of transplanting these cells in neurologic regenerative medicine. Finally, we conclude that the understanding and research on these mechanisms may lead the way to more direct and effective approaches of several currently incurable diseases of the nervous system. Descritores: Terapia baseada em transplante de células e tecidos; Medicina regenerativa; Células-tronco; Pesquisa com célulastronco; Doenças do sistema nervoso/diagnóstico; Neurologia. Keywords: Cell-and tissue-based therapy; Regenerative medicine; Stem cells; Steam cell research; Nervous system diseases/diagnosis; Neurology. INTRODUÇÃO O uso de células-tronco representa uma alternativa promissora no futuro da medicina regenerativa, incluindo as doenças neurológicas, nas quais a perda de neurônios muitas vezes acarreta danos e sintomas irreversíveis ao paciente. Essas células possuem a capacidade tanto de se auto-renovar, gerando descendentes iguais, quanto de se diferenciar em células adultas, maduras e especializadas, participando, dessa forma, do crescimento, reparação e manutenção da homeostasia nos diferentes tecidos do organismo1. De acordo com sua origem, as células-tronco podem ser divididas em 3 subgrupos: embrionárias, que provêm da camada celular interna do blastocisto; fetais, que são oriundas de partes do feto; e adultas, que são extraídas de tecidos adultos já desenvolvidos. Em relação ao seu grau de plasticidade - ou seja, o seu potencial de diferenciação em diferentes tecidos – as células-tronco podem ser classificadas em totipotentes, pluripotentes e multipotentes. As células totipotentes são as mais indiferenciadas, e são encontradas no embrião nas primeiras fases de divisão. São 1. Departamento de Neurologia, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil. 2. Department of Neurosurgery, Eberhard-Karls University, Tuebingen, Germany. Autor para correspondência: Prof. Dr. Guilherme A. Lepski. Neurocirurgião. Departamento de Neurologia. Universidade de São Paulo. Av. Dr. Arnaldo, 455. 4°andar, sala 4220. Cerqueira Cesar. São Paulo, SP, Brasil. CEP: 01246-903. E-mail: [email protected] 230 Onuchic F, et al. Perspectivas de terapia celular em neurologia. capazes de originar qualquer tipo celular do organismo, incluindo os tecidos embrionários e extra-embrionários. Por sua vez, as células pluripotentes são capazes de gerar tipos celulares de todos os três folhetos germinativos (endoderma, mesoderma e ectoderma), porém não são capazes de gerar tecidos extra-embrionários, como a placenta e outros tecidos de suporte do feto. Finalmente, as células multipotentes são capazes de gerar diferentes tipos celulares apenas nos tecidos em que residem. Essas células estão presentes durante toda a vida embrionária e, em alguns tecidos, permanecem no organismo adulto, participando no reparo e regeneração de tecidos. As células multipotentes podem ser obtidas de diversas regiões do organismo, entre eles a medula óssea e o cordão umbilical1, 2. Por fim, vale destacar um novo tipo de célulatronco que vem ganhando espaço em pesquisas recentes: as células-tronco pluripotentes induzidas (IPS). Essas células nada mais são do que células já diferenciadas (por exemplo, fibroblastos, hepatócitos, células da medula óssea e células mucosas gástricas) que, por meio de ativação de genes específicos e fatores de transcrição, retornam ao seu estado pluripotente3. Os primeiros modelos de IPS foram obtidos por meio da expressão de Oct3/4, Sox2, Klf4 e c-Myc, introduzidos na célula na maioria das vezes através de vetores lentivirais. Embora possuam enorme capacidade de diferenciação, essas células apresentam alto potencial replicativo, o que condiciona frequentemente o aparecimento de teratomas. Assim sendo, seu uso para terapia celular em humanos ainda não foi aprovado4. O desempenho das células-tronco depende de uma fina interação entre os fatores intrínsecos e os sinais extrínsecos do microambiente onde estão inseridas. O nicho microambiental é um compartimento anatômico especializado onde as células-tronco residem, formado por componentes celulares e moleculares que regulam a proliferação, diferenciação e sobrevivência dessas células. Entre os seus componentes, podemos citar fatores solúveis, proteínas da matriz extracelular, vasos sanguíneos e aferências neurais5. Quando células-tronco neurais (CTNs) são transplantadas em um micro-ambiente neurogênico favorável (por exemplo, no giro denteado hipocampal), se diferenciam e integram-se no tecido hospedeiro, ao passo que, se transplantadas num micro-ambiente nãoneurogênico (no corpo estriado), acabam por se degenerar e perecer6. No sistema nervoso central, as CTNs e seus progenitores são comunmente referidos como células precursoras neurais (CPNs) 7. As CTNs possuem a capacidade de se diferenciar nas 3 linhagens neurais: neurônios, astrócitos e oligodendrócitos8. O processo de neurogênese (formação de neurônios a partir das CTNs) ocorre em todo o cérebro durante o período pré-natal, e continua ativo na vida adulta em duas regiões em especial: a zona subventricular (ZSV) e a camada subgranular do giro denteado do hipocampo (DG). A partir dessas regiões, neurônios adultos podem migrar para diferentes regiões do cérebro, dependendo do estímulo fisiológico ou patológico que venham a receber. Os neurônios da ZSV tendem a migrar majoritariamente para o bulbo olfatório, integrandose aos circuitos locais que compõem a memória olfativa9. Já as células do DG tendem a originar neurônios granulares, que se integram a circuitos hipocampais relacionados à memória declarativa10. Nessas duas regiões, há um tipo especializado de astrócito em formato estrelado (positivo para GFAP e nestina), que pode ser considerado a verdadeira célulatronco neural fisiológica. Essas células dividem-se assimetricamente, gerando uma igual a si mesma e uma pequena e arredondada, chamada célula amplificadora transitória (CAT). As CAT, por sua vez, se dividem em taxas elevadas, produzindo neurônios jovens denominados neuroblastos, que migram para seu sítio definitivo no SNC durante as etapas finais de diferenciação11. Células-tronco e patogênese em neurologia Elucidar o complexo processo de desenvolvimento, divisão e maturação das células indiferenciadas do SNC até originarem as diferentes linhagens neurais (neurônio, astrócito e oligodendrócito) tem se revelado fundamental para explicar a origem de diversas doenças, dentre elas o câncer. Um exemplo clássico disso é o glioblastoma multiforme (GBM). Essa neoplasia, que é a mais comum dentre os tumores primários do cérebro, se caracteriza por ser altamente maligna e agressiva, com sobrevida média de 1,5 anos a despeito do tratamento multidisciplinar com cirurgia e radio/quimioterapia12,13. Além disso, apresenta padrão celular bastante heterogêneo, com diversas populações celulares que diferem em função e fenótipo14. Contudo, sua patogênese ainda é incerta. Uma teoria que encontra eco em estudos mais recentes é a hipótese de que o tumor provém de CSCs (cancer stem cells), como resultado de um processo de diferenciação anômala de CTN endógenas. Essa população de CSCs guardaria propriedades comuns a células-tronco normais. Além disso, em função de seu perfil de resistência a anóxia e a radio/quimioterapia, essas células-tronco vêm sendo implicadas na resistência e recorrência do processo neoplásico15. Essa teoria teria profundas implicações na maneira como os tumores são abordados na prática clínica, bem como seus potenciais tratamentos. Afinal, se esse subgrupo com características de CT é capaz de gerar e repopular um tumor maligno, um tratamento eficaz exigiria a eliminação total dessa população celular. Dessa forma, torna-se essencial entender melhor a fisiologia e as especificidades dessas células. Além disso, é necessário descobrir sua identidade funcional no cérebro humano, uma questão que se mantém controversa na literatura. Atualmente, a teoria 231 Onuchic F, et al. Perspectivas de terapia celular em neurologia. mais acreditada é que as CSCs seriam oriundas de células indiferenciadas do SNC. O marcador CD133 é uma das evidências que embasam essa teoria: bastante expresso em CTNs fisiológicas, é encontrado também em CSCs de glioblastoma. Assim, tornou-se um marcador bastante utilizado para esse tipo tumoral, partindo-se da observação de que um pequeno contingente de células CD133+ é capaz de originar GBMs em ratos, ao passo que células CD133- não o fazem16. Outra evidência de que as CSCs provêm de células indiferenciadas é o microambiente no qual o tumor cresce: chamado de nicho perivascular, ele é composto por diversos tipos celulares (astrócitos, células endoteliais, macrófagos, microglia e células tumorais) e se assemelha bastante ao ambiente no qual as células fisiológicas crescem17. Esse nicho é em grande parte responsável pela sobrevivência do tumor, ao garantir o aporte necessário de nutrientes e oxigênio18, além de proteger as células tumorais de agressões ambientais (o que explica em parte a resistência desse tipo tumoral à quimioterapia convencional)18. Vale ressaltar que as próprias células cancerígenas também atuam na modificação desse nicho, tornando-o mais propício ao seu desenvolvimento por meio da secreção de fatores angiogênicos (por exemplo, o VEGF)19. Assim como no desenvolvimento fisiológico de células indiferenciadas, os processos de sinalização celular são essenciais para compreender a patogênese dessas neoplasias. Alguns estudos comprovam que alterações em vias de proliferação e maturação neuronal, bem como na expressão de fatores de transcrição, podem influenciar nas características clínicas e histológicas da doença, e podem estar diretamente envolvidas com a sua fisiopatologia. Um exemplo é a via de sinalização Notch: quando ativada, ela induz auto-renovação das CTNs; quando inibida, ela permite diferenciação dessas células em neurônios20. Estudos já notificaram uma hiper ativação dessa via em GSCs, o que explicaria uma replicação excessiva de células tumorais com características de células-tronco21. Além disso, a via parece estar envolvida com a resistência que esses tumores apresentam a quimioterapia22. Outra via que parece estar alterada na doença é a da BMP. Essa família de citocinas atua sobre as CTNs, regulando sua proliferação, diferenciação e apoptose. Sobre as CSCs, parece que a BMP inibe seu crescimento e replicação23. Assim, há indícios de que a BMP seja eficaz para reduzir o tumor em modelos animais, podendo se provar a longo prazo um tratamento eficaz em humanos24. Em relação a fatores de transcrição, um exemplo que pode estar envolvido na patogênese da doença é o PRC1. Em células normais, atua como supressor de tumores e como mantenedor da função normal nas CTNs. Assim, quando esse mecanismo é silenciado, ocorre uma disfunção de células-tronco, que altera sua função e pode levar a um fenótipo cancerígeno. Não à toa, está relacionado a fenótipos mais agressivos de GBM25. Outro exemplo seria o fator Olig2. É um mecanismo bastante ativo no desenvolvimento embrionário e em tumores em crescimento, e está envolvido com a supressão do crescimento promovida pelo p5326. Assim, seu silenciamento está diretamente associado com uma tumorigênese menos agressiva, bem como menores taxas de crescimento tumoral27. Por fim, vale lembrar outras neoplasias menos comuns que o GBM, mas que também parecem estar envolvidas com alguma disfunção na maturação de células indiferenciadas. Um exemplo é o tumor neuroectodérmico primitivo (PTEN), cuja correlação direta com a mutação dos genes p53, Rb e PTEN em CTNs da ZSV foi comprovada em modelos animais28. Outro exemplo seria o meduloblastoma, tumor que atinge o cerebelo ainda na infância e que é altamente maligno. Essa neoplasia parece se originar de precursores indiferenciados de neurônios granulares do cerebelo, que se proliferam indiscriminadamente após mutações em vias sinalizatórias como Shh, Notch e WNT29. Dessa forma, torna-se evidente o papel central que o processo de diferenciação das CTNs em células maduras executa na patogênese dessas doenças. Logo, fica clara a necessidade de melhor compreensão desses mecanismos, a fim de que possamos tratar e prevenir melhor essas graves afecções do SNC. Células-tronco exógenas e o tratamento de doenças neurológicas Durante muito tempo, a neurologia se baseou no princípio de que, após o desenvolvimento pré-natal do SNC, esse seria um sistema totalmente imutável, apenas com células neuronais plenamente diferenciadas. Dessa forma, interpretava-se uma perda de neurônios, aguda ou crônica, como um dano irreversível, incapaz de ser resolvido ou até mesmo minimizado pelo próprio SNC. Estudos clássicos de Santiago Ramón y Cajal, utilizando técnicas limitadas de coloração tecidual, não demonstraram a existência de figuras mitóticas em neurônios no cérebro adulto, embora tenha evidenciado a capacidade dos neurônios de regenerarem seus axônios e formar novas conexões após lesões do SNC30. Contudo, em 1992, Reynold e Weiss31 demonstraram pela primeira vez a existência de neurogênese no cérebro adulto. Depois disso, inúmeras evidências da plasticidade do sistema nervoso surgiram, e o neurônio passou a ser visto como uma célula capaz de se adaptar e sofrer algumas modificações, mesmo após seu pleno desenvolvimento32. Além disso, estudos mais recentes apontam para uma nova informação: embora de maneira significativamente menos intensa que no período pré-natal, o processo de diferenciação de CTNs em neurônios maduros ainda se mantém ativo no cérebro adulto. Tal processo está continuamente envolvido em processos fisiológicos 232 Onuchic F, et al. Perspectivas de terapia celular em neurologia. (como a memória e a sensibilidade olfatória), e pode ser amplificado diante de agressões externas33. Entretanto, do ponto de vista clínico, tais descobertas ainda têm pouca aplicabilidade. Apesar de presente, a neurorregeneração pós-lesões ainda é pouco significativa, de modo que o prognóstico de afecções recorrentes no SNC (como AVCs, lesões cerebrais e medulares traumáticas e doenças neurodegenerativas) continua ruim. Dessa forma, torna-se essencial a investigação de novas estratégias para essas condições clínicas, de modo que se consiga potencializar a regeneração das células do sistema nervoso. Diante desse cenário, a terapia celular com células indiferenciadas parece uma ideia promissora. Uma possibilidade seria o transplante exógeno de células, extraídas de organismos ainda em estágios prévios de maturação (células-tronco embrionárias e fetais), a fim de simular o processo fisiológico de diferenciação e regenerar parte do tecido lesado. Conforme diversos estudos revelam, essa estratégia tem se mostrado promissora em diversas doenças, mas ainda enfrenta diversos desafios. Um exemplo de afecção neurológica que tem sido alvo de diversos estudos é a doença de Parkinson. Ela se caracteriza por ser uma doença progressiva, hipocinética e neurodegenerativa, com sintomas motores como bradicinesia, rigidez, acinesia, instabilidade postural e tremor de repouso. Tais sintomas estão associados à perda de neurônios dopaminérgicos (DA) na substância negra34. Estudos clássicos de Bjorklund e Stenevi 35 abordaram a possibilidade de reinervação do estriado por meio de transplantes de mesencéfalo fetal. Anos depois, Lindvall reportou pela primeira vez melhora clínica em pacientes com doença de Parkinson transplantados da mesma forma36. Estudos prospectivos e controlados subsequentes, no entanto, mostraram resultados insatisfatórios, principalmente às custas de discinesias induzidas pelos enxertos. Isso provavelmente se deve a uma série de fatores que possivelmente não foram estudados a fundo, dentre eles: a quantidade de tecido necessária para obter resultado, a reação imunológica local, o local do cérebro escolhido para o transplante e os possíveis efeitos colaterais que podem decorrer37,38. Outro estudo abordou, além dessas questões, a importância de neurônios serotoninérgicos, que ao induzir uma hiper-inervação do transplante, asseguram a atividade funcional e geram locais para o armazenamento e liberação de dopamina, o que reduziria os efeitos farmacológicos do tratamento medicamentoso, reduzindo assim os riscos de discinesia39. Contudo, apesar dos estudos na área, a neurorestauração ainda não foi incorporada no esquema terapêutico da doença. O que sabemos é que a doença não se resume apenas a uma perda de neurônios DA, mas também envolve outros fatores, como predisposição genética, uma condição neuro-inflamatória local, a influência de agregados de proteínas e a participação de outras células neurais40. Dessa forma, ainda seria necessário preencher vários critérios básicos antes de partir para outros ensaios clínicos, dentre eles: re-programação celular para se impedir ou retardar a apoptose, co-transplante de tipos célulares capazes de inibir as discinesias, recrutamento dos pacientes mais aptos a responderem à terapia celular, desenvolvimento de métodos capazes de se aumentar a diferenciação neuronal dentro do graft, dentre outros desafios. Nesse último quesito, um trabalho recente de nosso grupo demonstrou de maneira pioneira que a terapia de estimulação cerebral crônica, seguido do transplante celular, aumenta o poder de eficácia dos transplantes e aumenta a geração de células dopaminérgicas no enxerto41. Outro tipo de afecção bastante estudada são as doenças desmielinizantes. Essas síndromes se caracterizam pela perda de mielina nos neurônios, normalmente por uma série de pequenas reações inflamatórias locais. Exemplos são a esclerose múltipla, a mielite transversa, a doença de Devic, a leucoencefalopatia multifocal progressiva, a neurite óptica, dentre outras. Uma solução que possivelmente obteria bons resultados seria o transplante de células produtoras de mielina (por exemplo, células de Schwann). Contudo, esse tipo celular apresenta grandes dificuldades de ser criado e expandido in vitro, o que representa um entrave à sua utilização na terapia celular. Assim, a estratégia mais usada em estudos da área tem sido o transplante de CNPs (células ainda indiferenciadas, mas já comprometidas com a linhagem neural) adultas. Em um modelo experimental de encefalomielite, por exemplo, CNPs adultas apresentaram boa migração e direcionamento, indo em maior número para locais desmielinizados. Além disso, foram capazes de se diferenciar em neurônios, oligodendrócitos e astrócitos, e diminuíram a formação de cicatriz glial. Isso indica que esse tipo celular tem um fenótipo principalmente neurorestaurador in vivo, promovendo restauração onde ocorre neurodegeneração. Ao mesmo tempo, ele continua indiferenciado onde ocorre neuroinflamação, mantendo seu fenótipo e sua capacidade proliferativa, enquanto diminui os danos no tecido, reduzindo a resposta inflamatória TH1, que contribui com a destruição da mielina42. Contudo, apesar desses resultados positivos, ainda restam dúvidas em relação à interação entre células transplantadas com o tecido hospedeiro, a melhor via de administração, e a segurança e viabilidade dessas intervenções em humanos. Outras afecções que vem apresentando alguns resultados promissores são as lesões traumáticas, tanto cerebrais (LCT) quanto medulares (LMT). Ambas são lesões bastante frequentes em nosso meio, e têm entre suas principais causas os acidentes automotores, a violência urbana e as quedas não intencionais43. Além disso, possuem alto custo social, devido aos custos da reabilitação e por acometerem principalmente adultos jovens, que ainda estão em fase produtiva da vida. Dependendo de sua extensão, intensidade e topografia, podem levar a grandes perdas 233 Onuchic F, et al. Perspectivas de terapia celular em neurologia. neuronais e provocar graves sintomas44. Em um estudo com animais submetidos à LCT foi revelado que, após o transplante de NPCs no estriado, há maior sobrevivência a longo prazo, bem como recuperação motora, sem formação de tumores. Contudo, a imuno histoquímica não revelou marcadores neuronais, apenas oligodendrogliais45. Em contraste, o transplante para cérebros sadios resultou em neurônios maduros funcionais46. Além disso, células-tronco neurais fetais, quando transplantadas para o entorno da área lesada, provocam melhoria motora, mas não cognitiva47. Já quando transplantadas para o hipocampo, ocorre melhorias cognitivas, mas não motoras48. Em outros trabalhos, o transplante de célulastronco embrionárias pré-diferenciadas em precursores neurais e gliais apresentou grandes melhoras sensoriais e motoras, mas não cognitiva 49; já o transplante de neurônios GABAérgicos levou a uma maior recuperação sensório-motora, o que não foi observado no transplante de astrócitos50. Outro achado interessante desses estudos foi que algumas células transplantadas migraram para a região DG, que atrairia as células e auxiliaria na sua diferenciação51. Assim, esses resultados sugerem que o local de implante e a especificidade do tecido transplantado influenciam bastante a recuperação funcional e a diferenciação celular52. Em relação à LMT, as células-tronco provenientes da bainha olfativa (OECs) parecem ser ótimas candidatas para o transplante celular nessa doença. Afinal, além de representarem uma possibilidade de transplante endógeno e possuírem diversas características em comum com as CTEs, essas células possuem alta capacidade de mielinização, promoção da regeneração axonal e promoção da capacidade endógena das células de Schwann para invadir o local lesionado, criando assim um ambiente favorável à regeneração axonal53. Essas capacidades motivaram uma série de ensaios clínicos. Um estudo piloto relatou melhora de escores ASIA sensoriais e motores, mudanças no controle muscular voluntário, melhora nas funções autonômicas de intestino e bexiga, e redução da cavidade da lesão nos pacientes transplantados. Contudo, vale ressaltar que houve efeitos adversos em três pacientes com episódios de redução no escore ASIA e aumento da dor lombar53. Outro estudo realizado pelo mesmo grupo indicou melhorias dos sintomas também em pacientes com LMT crônica (há mais de um ano)54. Por fim, outro ensaio clínico relacionado sugeriu que resultados promissores podem ser alcançados combinando o transplante de OECs e fragmentos de medula espinhal fetal, levando a uma maior recuperação nas funções motoras, sensoriais e autonômicas55. Por fim, vale ressaltar um estudo de 2005, no qual foi comprovada a eficácia do transplante exógeno de NPCs em animais submetidos tanto a LCT quanto a LMT. Além das células terem sobrevivido e proliferado em quantidade razoável, o estudo comprovou, por meio de marcadores imuno histoquímicos, que o fenótipo final das células transplantadas variou conforme a lesão. Além disso, o uso de vetores lentivirais, para permitir o rastreamento das células após o transplante, abriu espaço para investigar outras possibilidades terapêuticas associadas, como, por exemplo, a possibilidade de alterações gênicas para se induzir uma hiper-expressão de neurotrofinas56. Assim, fica evidente o grande potencial terapêutico que células indiferenciadas exógenas podem ter nessas doenças; contudo, novamente, a compreensão dos mecanismos celulares e moleculares por trás do processo, bem como a interação do transplante com o microambiente local, parecem ser essenciais para que haja um avanço nesse sentido e um efetivo uso na clínica. Uma nova alternativa: células-tronco endógenas Apesar dos resultados promissores das pesquisas com células-tronco exógenas, esse campo ainda esbarra em alguns entraves, sendo os principais: respostas imunitárias deflagradas contra as células (que provêm de outros organismos e podem ser interpretadas como antígenos), efeitos colaterais consequentes e questões de ordem ética, pois essas células são extraídas de fetos ou embriões. Nesse contexto, surgiu a ideia do transplante celular autólogo: realizar transplantes a partir de células endógenas, que seriam extraídas de tecidos do próprio indivíduo, reduzindo significativamente esses problemas. Assim, vamos abordar duas alternativas nesse sentido, que têm sido alvo de estudos em neurologia: células-tronco adultas (CTAs) e células-tronco pluripotentes induzidas (IPS). As CTAs são células multipotentes, que podem ser encontradas em diversos tecidos do organismo adulto. É um tipo celular que apresenta diversas vantagens no transplante: podem ser extraídas de vários tecidos do organismo adulto, facilitando a extração para o paciente e reduzindo seus efeitos colaterais; podem ser usadas para transplante celular autólogo; e não apresentam restrições éticas ao seu uso, pois sua extração não envolve destruição de embriões ou fetos2. Assim como outros tipos de células-tronco, as CTAs são capazes de promover regeneração tecidual por diversos mecanismos. Além de promover repovoamento do tipo celular perdido (seja se diferenciando diretamente nele, ou atraindo CTs no entorno para fazer isso), elas também apresentam potencial imuno-modulador: alguns estudos já comprovaram que elas são capazes de inibir o processo inflamatório local secundário a uma lesão, e estimular a regeneração tecidual57. CT mesenquimais, por exemplo, são capazes de mudar o fenótipo dos macrófagos ao serem transplantadas para um tecido lesado, inibindo sua atividade pró-inflamatória e estimulando sua atividade pró-regenerativa57,58. Contudo, a utilização in vivo de células-tronco 234 Onuchic F, et al. Perspectivas de terapia celular em neurologia. sempre esbarra em dificuldades variadas. No caso das células-tronco adultas, deve-se considerar a baixa porcentagem que elas representam nos tecidos nos quais estão presentes, o que leva pesquisadores a expandi-las através de substâncias que estimulem seu crescimento (por exemplo, G-CSF para células hematopoiéticas da medula óssea)59. Outro fator importante a se levar em conta é a senescência celular associada à expansão in vitro (necessária após a sua extração). Esse processo é bastante descrito na literatura, e ocorre devido a uma série de mecanismos celulares e moleculares pouco elucidados, dos quais o principal é a ação das telomerases, que encurtam os telômeros do DNA celular a cada replicação, reduzindo sua capacidade proliferativa60. Além disso, devemos considerar a senescência do organismo do qual retiramos as células: em tecidos mais envelhecidos, há perda de função celular, potência e capacidade replicativa das células, ao mesmo tempo em que ocorre acúmulo de mutações somáticas. No caso do SNC, isso se reflete em perda neuronal, mau funcionamento celular, menor capacidade de regeneração frente a lesões, menor capacidade de aprendizado, alterações no microambiente tecidual, dentre outras consequências61. IPS, por sua vez, ainda estão em fase de desenvolvimento e aprimoramento para ampliação do seu uso em ensaios clínicos. Ainda permanece como objetivo importante o aumento de sua biosegurança após a manipulação genética que condiciona retorno ao estado pluripotente. Já se cogita utilizar esse tipo celular no tratamento de algumas doenças neurológicas, em especial as degenerativas (doença de Parkinson, Huntington e esclerose lateral amiotrófica)62. Dentre suas vantagens, estariam: a ausência de questões éticas relacionadas, uma vez que não exigiriam a destruição de tecido fetal ou embrionário, e a ausência de imunossupressão após o transplante, uma vez que o transplante seria autólogo63. Contudo, seu uso em humanos ainda é muito restrito, principalmente devido aos riscos que essa terapia traria. A ocorrência de teratomas é um risco evidenciado por uma série de estudos63-65; faz-se necessário compreender melhor os riscos tumorigênicos antes de partirmos para ensaios clínicos e testes em humanos. Basicamente, o aumento do potencial de diferenciação celular está diretamente relacionado a um maior potencial replicativo, o que por sua vez favorece a degeneração maligna. Alguns estudos já foram desenvolvidos no sentido de compreender as razões desse efeito, e tentar diminuílo. Por exemplo, um trabalho recente buscou reduzir a carcinogênese dessas células por meio da inserção dos genes indutores de pluripotência em lócus específicos do genoma humano, que sejam mais seguros contra esses eventos (por exemplo, a região AAVS1, do cromossomo 19)66. Outro trabalho busca compreender se IPS são necessariamente carcinogênicas, e quais são as associações entre elas e as células neoplásicas67. Contudo, fica evidente que esse é um grande entrave a ser superado, caso desejemos utilizar no futuro esse tipo celular para transplantes bem sucedidos. CONCLUSÃO Por fim, podemos concluir que avanços significativos no estudo de células-tronco em neurologia e processos de neurogênese abriram caminho tanto para a compreensão da fisiopatologia de doenças (por exemplo, os GBMs), quanto para possíveis tratamentos futuros para outras doenças. Assim, torna-se realista imaginar que esses conhecimentos adentrem a área clínica em um futuro próximo, na forma de terapias mais novas e eficazes para doenças até então incuráveis. Contudo, antes que avancemos para ensaios clínicos, é necessário compreendermos os mecanismos celulares e moleculares por trás desses processos, bem como a interação das células-tronco com o micro-ambiente hospedeiro. REFERÊNCIAS does the concept of the stem cell niche really mean today? BMC Biol. 2012;10:19. doi: 10.1186/1741-7007-10-19. 1. Hosseinkhani M, Shirazi R, Rajaei F, Mahmoudi M, Mohammadi N, Abbasi M. Engineering of the embryonic and adult stem cell niches. 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