ECONOMIA | 23 QUINTA, 1º DE DEZEMBRO DE 2016 PAÍS EM CRISE “FUNDO DO POÇO CADA VEZ MAIS PROFUNDO” Para Gilberto Braga, existe nuvem de dúvidas sobre governo ARQUIVO BEATRIZ SEIXAS [email protected] As estatísticas que vêm sendo divulgadas, como o PIB trimestral, não têm poupado a economia brasileira, que há alguns meses tenta ensaiar uma retomada, mas pouco avança. Para o professor de Finanças do Ibmec/RJ e da Fundação Dom Cabral, Gilberto Braga, o que parece é que o fundo do poço tem ficadocadavezmaisprofundo. E o complicador para a volta do crescimento está na instabilidade política. O que a queda do PIB representa? Significa que a situação aindanãomelhorou.Embora as perspectivas de quando Temer assumiu era de que, neste momento, já teríamossinaismaisconcretos de recuperação da situação econômica, o que estamos vendo é que nenhum dos principais grupos que formam o PIB apresentou sinal de melhora. Sob qualquer ótica, consumo das famílias ou segmentos econômicos, todos estão com resultados pioresdoqueoanterior,eisso traz certo desânimo em termos de comportamento da economia brasileira, o que mostra que a estabilidade no cenário político, as discussões de aprovação da PEC do teto dos gastos e ou- Gilberto Braga, professor do Ibmec, diz que instabilidade política preocupa tras medidas de ajustes efetivamente são necessários. Muitosefalouemfundodo poço, mas os dados ruins persistem.Afinal,jáchegamosaofundodopoço? Atingimos o fundo do poço, mas o que parece é que ele está ficando cada vez mais profundo. Para 2017 há perspectivas de melhora? A expectativa para ano que vem continua favorável, mas ela já foi bem mais. Antes, tinha uma perspectiva de que hou- vesse ambiente mais favorável, mais robusto. E isso não aconteceu por conta das crises políticas e das dúvidas quanto a aprovação das medidas econômicas de ajustes. Acrisepolíticatemsidoentraveparaocrescimento? Sim. A crise do Calero traz nuvem de dúvidas sobre o governo Temer, que apesar das potenciais boas intenções, ele está cercado de auxiliares que são da velha política. O episódio Geddel/Calero demonstra isso, o que é ruim em termos de confiança do mercado. Entretanto, se for aprovada no segundo turno a PEC 55, isso deve criar um ambiente mais positivo. Então, podemos esperar um PIB positivo em 2017? Vai ter reversão. A economiavaidarmeiavoltaecomeçar a crescer. Mas como está caindo 3% neste ano e vai subir 1% em 2017, se tudo der certo, tal qual traçam as projeções, você recupera em 2017 um terço do que vai cair em 2016. É uma melhora, mas não significa que isso vai atin- A crise do Calero traz nuvem de dúvidas sobre Temer, que apesar das potenciais boas intenções, está cercado de auxiliares que são da velha política” gir todas as pessoas de forma ampla. A queda da Selic estava dentro do esperado? Sim. O resultado do desemprego de terça e o PIB muito ruim mostram que a política de juros já não produz mais efeitos. É hora agora de apostar no investimento direto para desestimular o mercado financeiro. Acho que se continuar nas condições atuais, podemos esperar que caia mais dois pontos percentuais distribuídos no primeiro semestre de 2017. ANÁLISE ANÁLISE Queda está em linha com expectativas Redução de juros é muito desejada Em linha com as expectativas de mercado, o Banco Central baixou pela 2ª vez consecutiva a taxa de juros básica da economia. Apesar da maior parte das apostas ser por queda de 0,25 p.p., havia quem apostasse numa queda mais agressiva por conta do fraco desempenho da economia. O papel do BC é colocar os preços sob controle. Como temos visto os preços es- táveis, com projeções positivas para 2017 e 2018, o BC pode manter a tendência de queda dos juros. Porém, essa redução precisa ser feita com parcimônia por conta do repique do dólar causado pelo efeito Trump e devido à instabilidade política que pode colocar em risco o ajuste fiscal. É preciso lembrar que o BC está recuperando sua credibilidade perdida nos úl- timos anos. Assim, qualquer atitude mais agressiva na redução dos juros que dificulte a queda da inflação pode ser um retrocesso para a credibilidade do banco. — BRUNO FUNCHAL PROFESSOR DE ECONOMIA DA FUCAPE O Copom adotou postura conservadora ao reduzir a Selic em apenas 0,25 p.p. Deve-se a maior incerteza do cenário externo, com a eleição de Donald Trump. A explicação é que uma alta na taxa de juros americanos pode repercutir em desvalorização do real frente ao dólar. O resultado é o encarecimento de importações e, por esse mecanismo, risco de elevação na inflação. O fato é que a trajetória de queda da Selic se viabiliza no cenário de menor volatilidade, que é esperado para o início do ano. Mantendo-se a perspectiva de queda do IPCA, então é provável que a Selic continue reduzindo até alcançar 11%. A queda dos juros é muito desejada na economia por dois motivos: 1º porque favorece a ampliação de investimentos produtivos, um dos principais componen- Cenário político piora crise Para a doutora em economia e professora da Fucape, Arilda Teixeira, a economia está parada por conta do impasse político. “Condições econômicas para o país funcionar nós temos. O que falta é condições políticas”, diz. A aprovação das alterações no Pacote Anticorrupção, feita na calada da noite, é sinal de que a classe política está alheia ao que espera as ruas, aponta Arilda. “Não tem ambiente político que sinalize melhora. O grande entrave nosso é o déficit público, mas dentro dele é o déficit da Previdência o que mais preocupa. A ameaça agora é não aprovar essas reformas. A credibilidade do presidente da República (Temer) também está sub judice’, e isso nos preocupa”. Outro problema é que, na visão da economista, o Congresso não se mostra preocupado com a pressão popular. “A bola está no pé do legislativo, que age apenas em prol de seus interesses”, completa. tes para ajudar na superação da recessão. Segundo, porque a redução da Selic também contribui para o ajuste fiscal, reduzindo despesas com serviço da dívida pública. — EDUARDO REIS ARAÚJO PRESIDENTE DO CORECON-ES