RESUMO 19ªEXPANDIDO RAIB 630 276/449 ALTERAÇÕES CITOPÁTICAS INDUZIDAS POR POTYVIRIDAE EM ARÁCEAS S.R. Galleti, R. Lombardi*, E.B. Rivas Instituto Biológico, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Vegetal, Av. Cons. Rodrigues Alves, 1252 CEP 04014-002, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: [email protected] RESUMO Ultraestruturalmente, os membros da família Potyviridae podem ser identificados pela presença de inclusões citoplasmáticas cilíndricas (ICs). Entretanto, inclusões nucleares e massas amorfas podem, também, estar presentes em infecções causadas por algumas espécies dessa família de fitovírus. Visando realizar estudos adicionais sobre as alterações ultraestruturais induzidas por Potyviridae em aráceas infectadas, duas amostras de Dieffenbachia amoena e duas Xanthosoma sagittifolium, com sintomas característicos de infecção viral, foram coletadas e processadas para observações de cortes ultrafinos ao microscópio eletrônico de transmissão. Pela observação dos cortes ultrafinos ao microscópio eletrônico pode-se detectar a presença de ICs, nas quatro amostras avaliadas; assim como massas amorfas, semelhantes àquelas relatadas para algumas espécies de Potyvirus, no citoplasma de células de Dieffenbachia, e agregados de material fibrilar em Xanthosoma. Tais agregados podem representar uma nova alteração citopática para espécies de Potyvirus. Vesículas no estroma periférico de cloroplastos e outros plastídeos foram observados apenas nas amostras de Xanthosoma. As alterações detectadas em X. sagittifolium ainda não haviam sido relatadas em infecções de Potyviridae. Porém, a presença das vesículas nos plastídeos de todos os tipos celulares dessa espécie dificulta o relacionamento da sua presença com a infecção viral. PALAVRAS-CHAVE: Espécies ornamentais, Araceae, microscopia eletrônica, ultraestrutura, alterações citopáticas, Potyviridae. ABSTRACT CYTOPATHIC ALTERATIONS INDUCED BY POTYVIRIDAE IN AROIDS. The members of the Potyviridae family can be identified by the presence of cytoplasmatic cylindrical inclusions (CIs). However, other kinds of nuclear inclusions and amorphous masses can also be present in infections by some potyviridae species. With the aim of adding to the knowledge concerning ultrastructural alterations in Potiviridae-infected aroids, two Dieffenbachia amoena and two Xanthosoma sagittifolium samples showing typical viral-infection symptoms were collected. The procedures to obtain ultra-thin sections from the samples were performed. Transmission electron microscopy observations revealed the presence of CIs in all the samples, as well as amorphous masses in the cytoplasm from Dieffenbachia cells, similar to inclusions found in some Potyviridae species; and fibrilar material aggregates in Xanthosoma. The aggregates can represent a novel cytopathic structure. Vesicles in chloroplasts and other plastid peripheral stroma were observed in Xanthosoma samples only. The alterations found in Xanthosoma have not been previously reported in Potyviridae infections; however the presence of vesicles in the plastids from all kinds of cells make it difficult to establish the relationship of vesicles to viral infection. KEY WORDS: Ornamental species, Araceae, electron microscopy, ultrastructure, cytopathic alterations, Potyviridae. INTRODUÇÃO As espécies de vírus da família Potyviridae possuem genoma de RNA, fita simples, senso positivo e poliadenilado, encapsidado em partículas alongado- flexuosas (BERGER et al., 2000). Essa família representa cerca de 30% de todos os vírus que infectam plantas. Os membros dos seis gêneros (Bymovirus, Ipomovirus, Macluravirus, Potyvirus, Rymovirus e Tritimovirus) que compõem essa família têm por característica induzir *Bolsista CNPq/PIBIC/IB. Biológico, São Paulo, v.68, Suplemento, p.630-633, 2006 19ª RAIB a formação de inclusões citoplasmáticas cilíndricas (ICs) (BERGER et al., 2000). As ICs podem assumir as formas de: estruturas cônicas, “cataventos”, túbulos, agregados laminares longos e retos ou curtos e curvos (SHUKLA et al., 1994; BERGER et al., 2000; CARVALHO et al., 2004). Além dessas inclusões, os Potyviridae podem induzir inclusões nucleares (IN) e a formação de massas amorfas (CARVALHO et al., 2004). Este trabalho teve por objetivo realizar estudos adicionais sobre as alterações ultraestruturais induzidas por Potyviridae em aráceas infectadas. MATERIAL E MÉTODOS As amostras da família Araceae, Dieffenbachia amoena (A67 e A75) e Xanthosoma sagittifolium (A97 e A98), coletadas em regiões produtoras do Estado de São Paulo ou em jardins da Cidade de São Paulo, respectivamente, foram previamente diagnosticadas como infectadas por vírus da família Potyviridae através da presença de ICs (RIVAS, 2002) e de RT-PCR realizada com ‘primers’ específicos (RIVAS, 2002; RIVAS et al., 2003). D. amoena (A67 e A75) apresentavam sintomas foliares de manchas e anéis concêntricos cloróticos com contorno necrótico avermelhado (A67), além de manchas e faixas-de-nervuras cloróticas (A75). X. sagittifolium apresentavam anéis cloróticos, mosaico e faixas esbranquiçadas paralelas às nervuras (A97) ou manchas cloróticas com centro verde e mosaico (A98). Fragmentos foliares de cada uma das amostras foram fixados em glutaraldeído, pós-fixados em tetróxido de ósmio, contrastados/fixados com acetato de uranila e infiltrados por resina Spurr. Secções ultrafinas foram, então, negativamente contrastados em acetato de uranila 2,5% e citrato de chumbo e observadas ao microscópio eletrônico de transmissão (CARVALHO et al., 2004). RESULTADOS E DISCUSSÃO As observações ao microscópio eletrônico de transmissão, dos cortes ultrafinos das amostras foliares de D. amoena, revelaram a presença de corpos amorfos que se apresentaram sob a forma de massas, pouco elétron-densas, imersas na região do citoplasma com estruturas filamentosas (Fig. 1). Os cloroplastos do mesófilo desta espécie apresentaram, em sua maioria, tilacóides estruturados, com grandes grãos-deamido, mas com diferentes formas (Fig. 2). Em ambas as amostras de Xanthosoma, a visualização ao microscópio eletrônico evidenciou a presença de agregados de material fibrilar elétrondenso no citoplasma (Fig. 3). Além disso, cloroplastos (Fig. 4) e outros plastídeos (Fig. 5), de diferentes tipos celulares, apresentavam vesículas no estroma periférico. Estas vesículas eram mais conspícuas e ocupavam toda a extensão de todos os tipos de plastídeos, quando a organela mostrava sinais de senescência (Fig. 4); já em outras situações as vesículas eram discretas e apresentavam distribuição irregular (Fig. 5). Assim, além das ICs previamente observadas nas 4 amostras de aráceas (RIVAS, 2002), detectou-se a presença de corpos amorfos em D. amoena A67 e A75, os quais se assemelham aos relatados em infeções por Bean yellow mosaic virus, Papaya ringspot virus, Potato virus Y, Tobacco vein mottling virus, Turnip mosaic virus e Watermelon mosaic virus (SHUKLA et al., 1994). Estas inclusões amorfas foram descritas, na literatura, como massas arredondadas com subestrutura homogênea contendo material finamente granular, tubular, fibrilar ou conter elementos semelhante a bastões (RIEDEL et al., 1998). Materiais fibrilares, como aqueles observados nas amostras de Xanthosoma, não estão descritos na literatura relacionada aos Potyviridae. Entretanto, muitas espécies de vírus dessa família induzem, alterações no sistema de membranas e organelas, diferentes daquelas observadas nos processos de senescência celular, tais como: proliferação e aglomeração de retículo endoplasmático; aumento e agrupamento dos mitocôndrios, cloroplastos e peroxissomos (SHUKLA et al., 1994). Nas amostras aqui estudadas, foram observadas alterações típicas do processo de senescência, tais como: afrouxamento de cristas mitocondriais e do sistema de tilacóides de cloroplastos, além de cloroplastos com maior concentração de lipídios. Este processo pode ter sido acelerado pela infecção viral, como aqueles já relatados em literatura (MÁS et al., 2000). Em X. sagittifolium, foram observadas vesículas nos estromas periféricos de cloroplastos e outros plastídeos, sendo o número e o tamanho dessas vesículas variáveis; aparentemente, o maior número de vesículas encontrava-se em cloroplastos com certo grau de afrouxamento dos tilacóides. A infecção por alguns gêneros de fitovírus pode induzir a formação de vesículas no estroma periférico dos cloroplastos de células infectadas. Assim, a infecção por Tymovirus, por exemplo, induzem a formação de vesículas de membrana dupla no estroma periférico de cloroplastos (G ALLETI , 2005) e de plastídeos de células de raiz (ROSAS et al., 2006). Por outro lado, em infecções por Potyviridae não têm sido relatadas alterações específicas em cloroplastos (CHRISTIE & EDWARDSON, 1977; FRANCKI et al., 1985). Convém destacar que algumas plantas, como as espécies com fotossíntese C 4 , possuem, naturalmente, cloroplastos com um sistema de vesículas e túbulos anastomosados, localizados na periferia do estroma, denominado retículo periférico (RIVAS, 1996). Biológico, São Paulo, v.68, Suplemento, p.630-633, 2006 631 632 19ª RAIB Figs. 1 a 5- Micrografias de cortes ultrafinos de folhas infectadas de Dieffenbachia e Xanthosoma. Fig. 1: Inclusões amorfas (Ia), pouco elétron-densas, imersas em regiões do citoplasma de Diefenbachia rica em material filamentoso (F). Barra =250nm. Fig. 2: Região do mesofilo de Diefenbachia apresentando cloroplastos com tilacóides, grana bem estruturados e grandes grãos-de-amido. Barra =2500nm e barra do detalhe =800nm. Fig. 3: Citoplasma de célula de Xanthosoma com agregados de material fibrilar (seta). Barra =250nm. Fig. 4: Citoplasma de célula do parênquima paliçádico de Xanthosoma apresentando cloroplastos com vesículas, grãos-de-amido e glóbulos lipídicos (L). Barra =500nm. Fig. 5: Feixe vascular com células de Xanthosoma contendo plastídeos (Pl) com vesículas; detalhe de um plastídio com vesículas periféricas. Barra =2500nm e barra detalhe =800nm. A– Grãos de amido; C– Cloroplasto; Cc– Célula companheira; E- Elemento crivado; M– Mitocôndrio; N– Núcleo; O– Glóbulo osmiofílico; P– Parede celular; Pd– Plasmodesmo; Pe– Peroxissomo; Ve– Vesícula CONCLUSÃO Pelos resultados obtidos conclui-se que os corpos amorfos presentes nas amostras de D. amoena são semelhantes àqueles relatados, na literatura internacional, para determinadas espécies de Potyvirus, enquanto os materiais fibrilares e a presença de vesículas nos plastídeos de X. sagittifolium não haviam sido, até o presente, relatados em infecções por espécies de vírus da família Potyviridae. Entretanto, o fato das vesículas estarem presentes no estroma periférico de cloroplastos e de outros plastídeos de todos os tipos celulares de X. sagittifolium dificulta o seu relacionamento com a infecção viral. Novos estudos deverão ser realizados para comparar as alterações causadas pelo processo de senescência com àquelas causadas pelo processo da infecção por Potyviridae em Aráceas. REFERÊNCIAS BERGER, P.H.; BARNETT, O.W.; BRUNT, A.A.; COLINET, D.; EDWARDSON, J.R.; HAMMOND, J.; HILL, J.H.; JORDAN, R.L.; KASHIWAZAKI, S.; MAKKOUK, K.; MORALES, F.J.; RYBICKI, E.; SPENCE, N.; OHKI, S.T.; UYEDA, I.; VAN ZAAYEN, A.; VETTEN, H.J. Family Potyviridae. In: VAN REGENMORTEL, M.H.V.; FAUQUET, C.M.; BISHOP, D.H.L.; CARSTENS, E.B.; ESTES, M.K.; LEMON, S.M.; MCGEOCH, D.J.; MANILOFF, J.; MAYO, M.A.; PRINGLE, C.R.; WICKNER, R.B. (Eds.). Virus taxonomy seventh report of the international committee on taxonomy of viruses. San Diego: Academic Press, 2000. p.703-724. Biológico, São Paulo, v.68, Suplemento, p.630-633, 2006 19ª RAIB CARVALHO, N.R.; CAMARGO, R.Z.; GALLETI, S.R. Alterações citopáticas atípicas em espécies infectadas por membros da família Potiviridae. Arquivos do Instituto Biológico, São Paulo, v.71, p.98-101, 2004. Suplemento. 1CD-ROM. CHRISTIE, R.G. & EDWARDSON, J.R. Light and electron microscopy of plant virus inclusions. 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