A atriz Phedra de Córdoba foi para o céu Wilton Garcia De Havana à São Paulo, a atriz cubana Phedra de Córdoba trilhou um percurso significativo no teatro paulistano junto a companhia Os Satyros, desde 2003. Participou de peças como: A Filosofia na Alcova, A Vida na Praça Roosevelt, Transex, Divinas Palavras, Liz, Hipóteses para o Amor e a Verdade, além de Cabaret Stravaganza. Suas participações eram sempre inusitadas, para não dizer singulares. Também, encenou personagens eloquentes no cinema nacional, ao expor atitudes subversivas e/ou transgressoras com o glamour de ser, eternamente, uma diva – vide Wikipédia. De fato, Phedra representou no palco e na vida a condição complexa da transexualidade, ao desafiar estrategicamente a convencionalidade do circuito de artes no país. Convidava o público ao constante deslocamento para uma observação mais aguda, pois sua produção artística extrapolava a experiência do cotidiano. Trouxe para o/ espectador/a a abundância da estética do gozo, em uma discussão que expressa a liberdade necessária ao pensamento artístico e intelectual. Assim, ajudou o teatro brasileiro a provocar o debate sobre corpo, performance, sexo e vida. O que promove transcorporalidades. Mais que isso, elege a erótica e a sensualidade de situações pulsantes; como componentes de encenações radicalmente frenéticas. A força poética do trabalho de atriz se confunde com sua vida transexual, uma vez que reverbera persona/personagem. O trânsito de ideias e a manifestação artística projeta aspectos identitários socioculturais e/ou políticos, próprios do contemporâneo. Por isso, foi bastante atual em sua visão de mundo. Dos embaraços que beiram ao estranhamento, ressaltou valores adormecidos em uma assinatura bastante contundente, inquietante e impulsiva. Essa versatilidade dinâmica da atriz instaura-se como manifestação do desejo espelhado: o que esteve à frente, diante dos olhos, sem divisão entre o palco e a plateia. Era comum permanecer distante do normativo: longe de padrão, regra, lei e/ou ordem. Sua proposta sempre foi combater a ignorância para ampliar o olhar e alargar as fronteiras. Questionar o sistema hegemônico (o mainstream) é papel de qualquer artista. Então, lá estava ela no enfrentamento contra o controle ou domínio. Por certo, trata-se de uma pessoa extremamente importante para se pensar o teatro contemporâneo no Brasil e no mundo, pois produziu metáforas emblemáticas para ampliar as estratégias discursivas da diversidade cultural/sexual no teatro. Tudo isso (inter)mediado por categorias como alteridade e diferença para a arte contemporânea. Sem dúvida, seu legado é envolvente e apaixonante. Irreverente, caricata e avançada, Phedra de Córdoba (26/05/1938-09/04/2016) foi uma grande artista do teatro, que vai deixar saudade. Agora, ela foi para o céu: virou uma estrela, pois atravessou o arco-íris: fez sua passagem. A Folha de S. Paulo, o portal G1, o Jornal O Dia anunciaram seu falecimento no último sábado (9/4). E agora, para onde vão as estrelas? É fácil escrever sobre uma estrela, difícil é chegar lá! Agora, talvez, repouse nos braços de morféu... Wilton Garcia é artista visual e doutor em Comunicação pela USP. devoradigital.wordpress.com