mise-en-scène, stanislavski e a literatura _o expectador e o leitor

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MISE-EN-SCÈNE, STANISLAVSKI E A LITERATURA (O EXPECTADOR E O
LEITOR)
HERCULANO, Eduardo1
O presente relato teve origem na compilação de informações e experiências
adquiridas em mais de cinco anos atuando no meio teatral de Presidente Prudente/SP,
ora atuando como compositor de textos dramáticos, ora apenas como leitor, e analista
crítico da composição teórica teatral e literária. Às quais, atribuíram-me erros e acertos
durante minha trajetória de estudo, e que fez-me somar algumas conclusões, que se
seguem neste relato de experiência.
Uma cena no teatro não necessita de palavras para acontecer, basta o
principal, o ator. A ele cabe a construção de uma linguagem que estabeleça relações
entre a peça e os expectadores, ocorrendo, então, em todas as funções que, porventura, o
teatro possa oferecer. À essa linguagem, denominamos linguagem teatral.
Dentre as linguagens teatrais, destaca-se a do plano espacial no qual o
tablado se compõe; primeiro, segundo, terceiro plano, o proscênio, ou mesmo além da
quarta parede, junto à platéia ou qualquer outra área em que a obra permitir. Pois, a
partir desse plano espacial, constrói-se o que denominamos mise-en-scène ou,
simplesmente, a arte de pôr em cena, a vereda do suor em um rosto bruto e, em terceiro
plano, um franzino corpo estendido ao chão, ao expectador, então, a mise-en-scène, mas
e ao leitor? A cena não representa apenas dois signos separados, o cansaço e a morte,
mas, destacadamente, a impotência da vida perante seu fado, o viver de um pai além de
seu filho.
O teatro liga-se à literatura devido a sua composição dramatúrgica e não à
sua composição espacial; os atores não estão em cena num livro, mas as personagens. A
construção espacial, nesse caso, cabe então ao leitor e não a agentes físicos presentes na
obra, ou seja, assim como ao teatro não está no roteiro o teatro, à literatura não está no
enredo a literatura. Seria então possível ao leitor tornar-se, também, expectador do livro
e construir, dessa forma, a sua mise-en-scène?
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Para isso, interessa-nos construir a linguagem que nos falta, não devemos
buscar o fim, uma característica imanente ao leitor, porém os meios, para alcançarmos o
fim que desejamos.
Constantin Stanislavski (1999; 2001), ator desde os 14 anos, um dos
fundadores do Teatro de Arte de Moscou, elaborou um sistema de atuação realista
denominado Sistema Stanislavski, do qual derivam-se alguns métodos. Destacam-se,
entre esses métodos a preparação do ator; a criação de um papel; e a construção da
personagem. Métodos que se referem aos atores, entretanto, que não por esses estarem
no do tablado, deixam, também, de ser leitores.
Ao ator cabe transformar o teatro em teatro e ao leitor, a literatura em
literatura. Do mesmo modo como é possível ao ator criar a mise-en-scène ao
expectador, também é possível o leitor criá-la para si, tornando-se o agente físico da
obra. Mas, para isso, é necessário que o leitor aja como ator, não que interprete o livro
que lê, mas que o transforme e o crie para si, assim como o ator transforma e cria a peça
ao expectador. O ator, ao aprender por meio de um método como criar o teatro a partir
do texto dramaturgo, deve novamente aprender seus atos mais simples, aquilo que, por
fazer parte de seu cotidiano e estar acostumado, esquece ao pisar no tablado e ficar
diante da platéia, e, no caso do leitor, diante de si mesmo. Deve, portanto, o leitor/ator
corrigir e aprender novamente o que esqueceu ao abrir o livro, aprender a andar, a sentar
ou deitar, a olhar, ver, a escutar e ouvir...
BIBLIOGRAFIA
STANISLAVSKI, Constantin. A preparação do ator. São Paulo: Civilização
Brasileira, 1999.
STANISLAVSKI, Constantin. A criação de um papel. São Paulo: Civilização
Brasileira, 1999.
STANISLAVSKI, Constantin. A construção da personagem. São Paulo: Civilização
Brasileira, 2001.
1
Graduado em Letras: Português, Inglês, e Respectivas Literaturas; pela FAPEPE - Faculdade
de Presidente Prudente. Pós-graduando em Psicopedagogia, Lato Sensus, pela UNOESTE -
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Universidade do Oeste Paulista. Atualmente atua como professor da rede estadual de educação
de São Paulo, na cidade de Presidente Prudente.
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