Profa. Lourdes Botelho Garcia. Disciplina: Periodontopatias I. 1 AULA TEÓRICA ASPECTOS MICROBIOLÓGICOS DA DOENÇA PERIODONTAL I. PARTICIPAÇÃO BACTERIANA NA DOENÇA PERIODONTAL 1. Evidências da participação bacteriana 2. Estudos in vivo ( animais de laboratório) 3. Estudos in vivo (seres humanos) II. EFEITOS DO ACÚMULO DE PLACA BACTERIANA NO PERIODONTO 1. Efeitos diretos: (a) fatores de virulência dos microrganismos; (b) colonização; (c) dano tecidual 2. Efeitos indiretos (hospedeiro) III. FATORES MICROBIANOS DE AGRESSÃO AO PERIODONTO 1. Enzimas 2. Toxinas: (a) endotoxinas; (b) exotoxinas 3. Cápsula 4. Produtos metabólicos 5. Antígenos e fatores de quimiotaxia IV. MICRORGANISMOS PERIODONTOPATOGÊNICOS E COMPLEXOS MICROBIANOS V. PARTICIPAÇÃO DE OUTROS MICRORGANISMOS NA ETIOLOGIA DA DOENÇA PERIODONTAL VI. TRANSMISSIBILIDADE DE MICRORGANISMOS PERIODONTOPATOGÊNICOS Fontes: (1) Cardoso Jorge, A.O. Microbiologia Bucal. 2a edição, Santos Livraria Editora, São Paulo, 1998. (2) Uzeda, M. Microbiologia Oral. MEDSi Editora Médica e Científica Ltda, Rio de Janeiro, 2002. Professora responsável: Lourdes Botelho Garcia. E-mail: [email protected] Laboratório de Microbiologia, Bloco I90, sala 114, DBS-UEM. Carga horária total: 2 horas Profa. Lourdes Botelho Garcia. Disciplina: Periodontopatias I. 2 EVIDÊNCIAS DA PARTICIPAÇÃO BACTERIANA NA DOENÇA PERIODONTAL Antibióticos diminuem o número de microrganismos do biofilme e consequentemente a gravidade da doença Mudanças inflamatórias são detectadas histologicamente em gengivas com placas Bactérias do sulco gengival apresentam potencial patogênico para causar doença O número de microrganismos no sulco gengival inflamado ou bolsa periodontal é maior que no sulco saudável Estudos epidemiológicos demonstram que o controle da higiene bucal reduz a incidência de gengivite Bactérias cultivadas de bolsa periodontal de humanos produzem enzimas capazes de degradar o tecido conjuntivo gengival Na doença periodontal ocorre aumento de título de anticorpos para bactérias da placa, tanto no plasma quanto no fluído gengival Linfócitos e plasmócitos aumentam em número no tecido conjuntivo periodontal quando existem evidências de inflamação gengival ESTUDOS IN VIVO (ANIMAIS DE LABORATÓRIO) Jordan & Keys (1964). Hamster isentos de doença periodontal quando inoculados com A. viscosus e alimentados com dieta cariogênica apresentavam acúmulo de placa bacteriana, formação de bolsa periodontal e perda óssea Gibbons et al. (1964). Inoculação de cultura pura de determinadas bactérias bucais (estreptococos, bacilos Gram-positivos) iniciam a doença periodontal em ratos gnotobióticos e hamsters Lindhe & Rylander (1975) demonstraram em cães a evolução gradual da gengivite para periodontite com perda de tecido conjuntivo de suporte e osso alveolar ESTUDOS IN VIVO (SERES HUMANOS) Loe et al., 1965. Experimento com estudantes da Dinamarca no qual suprimindo-se a escovação dos dentes observou-se: Primeiro dia: Início da placa. Presença de aproximadamente 90% cocos e bacilos Gram-positivos. Terceiro dia: Cocos e bacilos Gram-negativos constituem a maior parte da flora. Implantação de bactérias filamentosas e fusobactérias. Quinto ao sétimo dia: Implantação dos espiralados. Décimo dia: Gengivite marginal. Vigésimo primeiro dia: Retorno à higiene, levando ao desaparecimento rápido dos sinais clínicos da inflamação gengival. Este fato é comprovado na clínica quando quadros severos de gengivite são controlados e curados apenas com a profilaxia. Profa. Lourdes Botelho Garcia. Disciplina: Periodontopatias I. 3 FATORES MICROBIANOS DE AGRESSÃO DIRETA AO PERIODONTO Fatores de colonização: multiplicação microbiana no sulco gengival Cápsula: inibição da fagocitose (cápsulas antifagocitárias) Toxinas: exotoxinas e endotoxinas (lipopolissacarídeo ou LPS) Enzimas histolíticas: hialuronidase, colagenase, beta-glicuronidase, sulfatases, proteases, DNAses, RNAses, neuraminidases, hemolisinas, coagulases etc... Peptideoglicano (PG): constituinte da parede celular bacteriana. Polímeros extracelulares: dextrana e ácido hialurônico. Produtos de metabolismo: atividade fermentativa (ácidos orgânicos) e proteolítica (amônia, aminas fétidas, indol, escatol). EFEITOS INDIRETOS (MEDIADOS PELO HOSPEDEIRO) Enzimas: colagenase, hialuronidase, enzimas lisossômicas Resposta inflamatória Ativação do complemento Imunidade humoral Imunidade celular Reabsorção óssea AGRESSÃO MICROBIANA E DOENÇA PERIODONTAL Liberação de enzimas hialuronidase, colagenases, citotoxinas Liberação de fatores de quimiotaxia induz a produção de enzimas líticas dos lisossomos pelos fagócitos Antígenos e produtos tóxicos do metabolismo liberação de mediadores inflamatórios (citocinas) Proteases Cápsula Leucotoxinas Lipopolissacarídeo Antígenos e produtos tóxicos do metabolismo liberação de mediadores inflamatórios (citocinas) DESTRUIÇÃO DE TECIDOS E FIBRAS EVASÃO DOS MECANISMOS DE DEFESA DO HOSPEDEIRO REABSORÇÃO ÓSSEA Profa. Lourdes Botelho Garcia. Disciplina: Periodontopatias I. MICRORGANISMOS PERIODONTOPATOGÊNICOS Relação das principais bactérias que têm sido associadas com os diferentes quadros clínicos do periodonto. Uzeda, M. Microbiologia Oral. 1a. Edição, MEDSI ed., 2002. Acúmulo de placa dental (sem doença): Streptococcus sanguis, Actinomyces viscosus Gengivite com sangramento: Actinomyces viscosus, Prevotella intermedia Gengivite da gravidez: Prevotella intermedia Gengivite da puberdade: Capnocytophaga, Prevotella intermedia MICRORGANISMOS PERIODONTOPATOGÊNICOS Relação das principais bactérias que têm sido associadas com os diferentes quadros clínicos do periodonto. Uzeda, M. Microbiologia Oral. 1a. Edição, MEDSI ed., 2002. Gengivite ulcerativa necrotizante aguda: Treponema denticola, Prevotella intermedia Periodontite juvenil localizada: Aggregatibacter (Actinobacillus) actinomycetemcomitans Periodontite de progressão rápida: Porphyromonas gingivalis, Treponema denticola Peridontite de adulto: Porphyromonas gingivalis, Fusobacterium nucleatum, Tannerella forsythia (Bacteroides forsythus), Treponema denticola, Wollinella recta 4 Profa. Lourdes Botelho Garcia. Disciplina: Periodontopatias I. 5 COMPLEXOS MICROBIANOS Socransky et al. Microbial complexes in subgingival plaque. J Clin Periodontol, 25:134-44, 1998. Aggregatibacter actinomycetemcomitans sorotipo a Eubacterium nodatum Campylobacter rectus Streptococcus constellatus Prevotella intermedia Prevotella nigrescens Fusobacterium nucleatum Fusobacterium periodonticum Campylobacter showae Peptostreptococcus micros Porphyromonas gingivalis Treponema denticola Bacteroides forsythus Campylobacter gracilis Aggregatibacter (Actinobacillus) actinomycetemcomitans sorotipo a Campylobacter concisus Eikenella corrodens Capnocytophaga sp Streptococcus mitis Streptococcus sanguis Streptococcus oralis Streptococcus gordonii Streptococcus intermedius Streptococcus sp Veillonella parvula, Actinomyces odontolyticus Actinomyces naeslundii 2 A. viscosus Selenomonas noxia POTENCIAL PATOGÊNICO DO BIOFILME DENTAL BIOFILME DENTÁRIO Placa dental Placa bacteriana Microrganismos cariogênicos S. Mutans, L. Casei, Actinomyces Microrganismos periodontopatogênicos F. nucleatum, P. gingivalis, P. intermedia, A. actinomicetencomitans, B. forshytus, T. denticola Metabolismo acidogênico Ácido láctico Fatores de agressão Enzimas, LPS, leucotoxina, metabólitos, antígenos, fatores de quimiotaxia Desmineralização Esmalte/dentina Cárie de raiz Resposta inflamatória Destruição epitélio e tecido conjuntivo Reabsorção óssea Cárie de esmalte/dentina Cárie de raiz Gengivite Doença periodontal Profa. Lourdes Botelho Garcia. Disciplina: Periodontopatias I. 6 Tabela 1. Dados que sugerem a participação do Aggregatibacter (Actinobacillus) actinomycetemcomitans como um possível agente etiológico da Doença Periodontal Destrutiva. CRITÉRIO RESULTADOS Associação Elevado em lesões de periodontite juvenil Raro em amostras de indivíduos saudáveis ou com gengivite Elevado em algumas lesões de periodontite Elevado em lesões de periodontite juvenil ativa Detectado em área apical de bolsa ou tecidos de lesões de PJL Eliminação Eliminação resulta em sucesso do tratamento Resposta do hospedeiro Anticorpos séricos elevados na periodontite juvenil Anticorpos locais elevados na periodontite juvenil Fatores de virulência Leucotoxina, colagenase, endotoxina, epiteliotoxina, fator inibidor de fibroblasto, fator indutor da reabsorção óssea Estudos em animais Indução da doença em rato gnotobiótico Socransky, S.S. & Haffajee, A.D. The bacterial etiology of destructive periodontal disease: current concepts. J. Periodontol., 63(4): 322-331, 1992. Tabela 2. Dados que sugerem a participação do Porphyromonas gingivalis como um possível agente etiológico da Doença Periodontal Destrutiva. CRITÉRIO RESULTADOS Associação Elevado em lesões de periodontite Raro em amostras de indivíduos saudáveis ou com gengivite Presente em células epiteliais do sulco Eliminação Eliminação ou supressão resulta em sucesso do tratamento Resposta do hospedeiro Anticorpos séricos elevados na periodontite Anticorpos locais elevados na periodontite Fatores de virulência Colagenase, fibrinolisina, outras proteases, fosfolipase, fosfatases, endotoxina, epiteliotoxina, H2S, NH3, ácidos graxos,fatores que afetam leucócitos polimorfonucleares Estudos em animais Importante papel em infecções experimentais mistas Estudos em macacos e cachorros Socransky, S.S. & Haffajee, A.D. The bacterial etiology of destructive periodontal disease: current concepts. J. Periodontol., 63(4): 322-331, 1992.