teatro antônio josé da silva (o judeu)

Propaganda
TEATRO
DE
ANTÔNIO JOSÉ DA SILVA (O JUDEU)
(Segundo as edições do Teatro Cômico
Português de 1744, 1747, 1759-1761.
1788-1792).
DEDICATÓRIA À MUI NOBRE SENHORA
PECÚNIA ARGENTINA (*)
Apenas veio ao pensamento estamparem-se estas
Obras, quando com o mesmo projecto nasceu gêmeo
o desejo de dedicá-las a Vossa Senhoria, a quem de
juro e herdade (**) lhe compete a glória de protectora
de semelhantes acções, pois sem a preciosa
assistência de Vossa Senhoria não há discrição que
não seja ignorância. Basta que Vossa Senhoria ocupe
os Teatros para que estes tenham maior estimação
que os anfiteatros olímpicos e cretenses. Se assim
como Vossa Senhoria sabe correr soubera discorrer,
penetraria na fisionomia dos semblantes a glória dos
corações; pois quando Vossa Senhoria, acompanhada
dos seus sequazes, se digna de honrar aquele Teatro,
logo tudo são parabéns, sussurros e alvoroços; e,
para que o prazer excessivo não pareça imodéstia, se
vai o riso esconder nos cantinhos da boca. É cousa
para ver o obsequioso respeito com que todos a
recebem! Todos se afastam, todos se encolhem, uns
para cima dos outros; e, quando já não há assentos,
então é que Vossa Senhoria tem o melhor lugar: tudo
anda num
(*) Nesta chistosa dedicatória ao Dinheiro,
afirma-se a grande influência por ele exercida no
desenvolvimento material e moral do teatro.
(**) De juro e herdade - por direito de herança.
3
COLECÇÃO DE CLÁSSICOS SÁ DA COSTA
corropio; o porteiro se ataranta; o arrumador se
titubeia; o chocolate se derrama; o doce desaparece;
as luzes parecem estrelas; as arquitecturas dóricas;
as vozes harmoniosas; os instrumentos mais se
apuram; os cantores mais se afinam; os duos mais se
ajustam; os bastidores não necessitam de sabão para
correr (*); e, finalmente, até parece que a alma do
arame no corpo da cortiça lhe infunde verdadeiro
espírito e novo alento (**).
Se isto tudo causa Vossa Senhoria quando nos
faz mercê, como podia eu deixar de oferecer-lhe estas
Obras? Seria deslustre do agradecimento buscar
outra protectora, quando em Vossa Senhoria
trasbordam os méritos para o patrocínio.
Espero que Vossa Senhoria, desterrando as
melancolias do aferrolhado, deixando vazios os
cubiculários bolsilhos dos avarentos e jarretas,
continue em fazer-nos mercê, pois a docilidade de sua
pessoa é o atractivo de nossos corações. E assim, já
posso navegar seguro no mar da fortuna, pois se
Vossa Senhoria se declara patrona, por força há-de
franquear os cartuchos (***). Uma burra (****) guarde
a ilustre pessoa de Vossa Senhoria os anos que todos
seus criados havemos mister.
(*) São curiosas as referências aos servidores da
casa de espectáculos - o porteiro, o arrumador -; ao
chocolate e aos doces consumidos durante a
representação; à figuração da arquitectura nos panos de
cena; às vozes dos cantores; aos instrumentos músicos;
aos duetos; à maneira como os bastidores se punham em
movimento.
(**) “A alma do arame no corpo da cortiça” - significa
que os actores eram bonecos articulados, ou bonifrates.
(***) Repare-se no trocadilho da palavra patrona,
tomada no duplo sentido de protectora e cartucheira.
(****) Esta palavra tem aqui a significação de cofre.
4
AO LEITOR DESAPAIXONADO
Contigo falo, leitor desapaixonado, que, se o
não és, não falo contigo, pois nem quero adulação
dos amigos, porque o são, nem é justo que os que o
não são queiram ser árbitros para sentenciarem
estas Obras no tribunal da sua crítica. Não há
melhor ouvinte que um desapaixonado, sem afecto
ao autor da obra, sem inclinação ao da música, sem
conhecimento do arquitecto da Pintura (*). Aquele
que nem a amizade lhe franqueia a entrada, nem a
vizinhança do Teatro lhe facilita o regresso; aquele
que instigado só da curiosidade, a expensas do seu
pecúlio entra com ânimo livre de paixões, este, sim,
não sendo estulto por natureza, é o verdadeiro
ouvinte no teatro e leitor nos papéis. Com estes é
que eu falo, pois só a estes se dirigem estas Obras;
porque, sendo a sua censura despida de afectos de
amor e ódio, saberá desculpar os erros com
sinceridade, saberá discernir a dificuldade da
cômica (**) em um teatro donde os representantes
(*) Na montagem de urna peça concorriam três
colaboradores: o autor do texto, o autor da música e o
pintor dos cenários. Bastaria este passo para rebater a
afirmação de ser o autor o compositor da música, ou
de que a parte musical das “óperas” eram modinhas
brasileiras.
(**) Da cômica - isto é, do cômico.
5
COLECÇÃO DE CLÁSSIC0S SÁ DA COSTA
se animam de impulso alheio, donde os afectos e
acidentes estão sepultados nas sombras do inanimado,
escurecendo estas muita parte da perfeição que nos
teatros se requer, por cuja causa se faz incomparável o
trabalho de compor para semelhantes interlocutores;
que, como nenhum seja senhor de suas acções, não as
podem executar com a perfeição que devia ser. Por
este motivo, surpreendido muitas vezes o discurso de
quem compõe estas Obras, deixa de escrever muitos
lances, por se não poderem executar (*).
Saberá o mesmo leitor desapaixonado não
desprezar por menos polida a frase que no contexto de
semelhantes Obras se requer, pois muito bem conheço
que no cômico se precisa um estilo mediano; que,
como a representação é uma imitação dos sucessos
que naturalmente acontecem, também a frase deve
seguir o mesmo preceito, fazendo diferença que o
estilo sublime e elevado, a que chamaram os Romanos
coturno, só se permite nas tragédias, em que se trata
de cousas graves e nìmiamente sérias, como acções e
obras heróicas de príncipes. Na comédia, porém, há-de
ser o estilo doméstico, sem afectação de sublime, a que
chamam soco (**)
(*) As expressões – “os representantes (actores) se
animam de impulso alheio”, “sombras do inanimado”,
“semelhantes interlocutores” - referem-se aos bonifrates, ou
bonecos articulados.
(**)Coturno, calçado usado pelos actores da tragédia,
é o símbolo desse gênero teatral, como o soco, de uso na
comédia, o é desta.
6
OBRAS COMPLETAS DE A. JOSÉ DA SILVA
por se representar nela matérias de enredos feminis e
acções amorosas. Estes preceitos aponta Horácio na
sua Arte Poética:
Versibus exponi tragicis res comica non vult.
Indignatur item privatis, ac prope socco
Dignis carminibus narrari coena Thyestae.
Singula quaeque locum teneant sortita decenter
(*).
E como os émulos, por inimigos, os parciais por
afectos (**) e os ignorantes por néscios não sabem
distinguir estas circunstâncias, e só tu, leitor douto e
desapaixonado, judiciosamente reflectindo no que
leres e ouvires representar, formarás o conceito que
merecem estas Obras, que para teu divertimento se
oferecem ao público.
Bem conheço que nelas acharás muitos defeitos;
porém, como não pretendo utilizar-me dos teus
aplausos nem singularizar-me nos meus escritos, te
peço que nestas obras atendas somente ao desejo
(*) Tradução de Cândido Lusitano (século XVIII).
“Os versos da, tragédia não competem a cômico
argumento, e o baixo metro, quase próprio do soco, faz
agravo
à narração da ceia de Tiestes.
Dê-se a cada poema o seu decente lugar.”
(V.V. 89-92).
(**) Afectos (adj.) - afeiçoados.
7
COLECÇÃO DE CLÁSSIC0S SÁ DA COSTA
que tenho, de agradar-te e vejas não quero outro
prêmio mais que o que te peço nestas
DÉCIMAS
Amigo leitor, prudente,
Não crítico rigoroso,
Te desejo, mas piedoso
Os meus defeitos consente:
Nome não busco excelente,
Insigne entre os escritores;
Os aplausos inferiores
Julgo a meu plectro bastantes;
Os encômios relevantes
São para engenhos maiores.
Esta cômica harmonia
Passatempo é douto e grave;
Honesta, alegre e suave,
Divertida a melodia.
Apolo, que ilustra o dia,
Soberano me reparte
Ideas, facúndia e arte,
Leitor, para divertir-te,
Vontade para servir-te,
Afecto para agradar-te.
8
ADVERTÊNCIA DO COLECTOR (**)
Leitor, foi tão grande o aplauso e aceitação
com que foram ouvidas as Óperas que no Teatro
público do Bairro Alto de Lisboa se representaram
desde o ano de 1733 até o de 1738, que, não
satisfeitos muitos dos curiosos com as ouvirem
cotidianamente repetir, passavam a copiá-las,
conservando ao depois estas cópias com uma tal
avareza, que se faziam invisíveis para aqueles que
desejavam na leitura delas, uns apagar o desejo de
as lerem pelas terem ouvido, outros renovar a
recreação com que no mesmo teatro as viram
representadas. Por satisfazer ao desejo de uns e
outros, tomei a empresa de as ajuntar e fazê-las
imprimir com o título de Teatro Cômico Português,
para que com facilidade e sem o dispêndio que as
cópias manuscritas fazem pudessem todos gozar de
umas Obras tão apetecidas por singulares. Estou
persuadido que te não há-de ser desagradável esta
minha Colecção, porque, além de te satisfazer o
desejo, sirvo a Pátria publicando umas Obras que,
segundo as leis da composição dramática, são as
primeiras que deste gênero se têm escrito no nosso
idioma (**). Algumas comédias se
(*) Edição de 1744 (1ª).
(**) Correia Garção, nascido em 1724, tinha
catorze anos quando se representou a última peça do
Judeu. Anos depois, todo votado à reforma do nosso
teatro, pôs na boca de uma personagem da sua comédia
-
9
COLECÇÃO DE CLÁSSIC0S SÁ DA COSTA
liam impressas, como as de António Prestes, Gil
Vicente, António Ribeiro, Sebastião Pires e Simão
Machado, compostas em verso. Publicou Jorge
Ferreira em prosa a Eufrósina, a Ulissipo e a
Aulegrafia. Saiu à luz Francisco de Sá e Miranda com
a intitulada Os Estrangeiros e Vilhalpandos, e D.
Francisco Manuel com as duas a que deu por título O
Labirinto da Fortuna e Os Segredos bem guardados,
sem nos esquecermos também das duas do nosso Luís
de Camões que andam impressas no fim das suas
Obras; porém todas estas, umas pelo diverso gênio dos
tempos, outras pela sua informe disposição e dilatada
contextura, serviam aos curiosos mais de fastio que de
recreio (*). Nestas que
Teatro Novo - as seguintes palavras, que mostram quanto era
estimado o teatro de António José da Silva:
Branca:
Eu sou de parecer que só se façam / as portuguesas óperas
impressas: / Encantos da Medeia, Precipícios / de Faetonte,
Alecrim e Mangerona. / Em outros nunca achei galantaria. /
(*) Enumeram-se atrás os cultores do gênero
dramático do século XVI, sem distinção do popular e do
clássico. O correcto seria: Gil Vicente, António Ribeiro
(Chiado), Camões, António Prestes, Sebastião Pires e Simão
Machado, por um lado; e pelo outro, Francisco de Sá de
Miranda, António Ferreira (que o colector omite) e Jorge
Ferreira de Vasconcelos. - Além da citada omissão, é
estranha a citação de duas composições de D. Francisco
Manuel de Meio (séc. XVII), que se não publicaram e se
desconhecem. Quanto à relegação de Camões para último
lugar, explica-se pela circunstância de as duas comédias
desse autor que primeiro se publicaram - Anfitriões, Filodemo
- haverem aparecido somente a partir de 1587, com as
Rimas. A propósito, diremos que a comédia - El-rei Seleuco só foi publicada, nas mesmas circunstâncias, em 1645.
10
OBRAS COMPLETAS DE A. JOSÉ DA SILVA
agora te ofereço por benefício da impressão
acharás, pelo contrário daquelas, uma suave e
natural disposição das partes, o carácter dos
sujeitos sustentado sem decadência, a locução
própria a cada um dos interlocutores e o joco-sério
tão temperadamente honesto, que não ofende com a
graça os ouvidos; e tão vivo, que se não encontra
semelhante em o nosso idioma, e não sei também se
dissera nos das nações estranhas (*); o que
confessariam, não sem inveja, se fossem ainda vivos,
Moretoentre os Espanhóis, Molière entre os
Franceses, e Nicolau Amenta entre os Italianos.
Ofereço-te por agora dous tomos e contém o
primeiro a História de D. Quixote; a Vida de
Esopo; Encantos de Medea, e o Anfitrião; no
segundo o Labirinto de Creta; Guerras do Alecrim
e Mangerona; as Variedades de Proteu; e
Precipício de Faetonte. No terceiro tomo, que sairá
com brevidade, te darei a ler As firmezas de
Proteu e acasos do seu amor; Adriano em Síria,
Semíramis, e Filinto perseguido e exaltado; no
quarto, Adolónimo em Sidónia; Endimião e
Diana; Os amores de Pã e a ninfa Sirinx; e
ultimamente a de D. Rodrigo.
Se experimentar o teu agrado, continuarei este
Teatro com as óperas que se representaram no
Bairro da Mouraria desta cidade e com outras de
teatros particulares, que todas tenho em ordem para
se poderem imprimir sucessivamente nos mais
(*)Na edição de 1759, só até aqui, com ponto
final.
11
COLECÇÃO DE CLÁSSIC0S SÁ DA COSTA
tomos, os quais hão-de conter quarenta e oito
óperas portuguesas, que são todas as de que tenho
notícia (*).
Vale.
(*) Eis o texto desta parte na edição de 1747, a
partir do período terminado por “Nicolau Amenta
entre os Italianos” :
“Tinha determinado continuar este Teatro na
forma que te prometi a primeira vez que foi impresso;
ao que não pude satisfazer-te por haver autor vivo das
Óperas que te prometia, e este não consentir que
outrem se utilizasse do seu trabalho; e, como destas
se imprimiram dous tomos, alterando a ordem que eu
tinha ideado, é preciso advertir-te que para eu
continuar o meu Teatro fiz nova escolha doutras, que
certamente gostarás de ler. Ofereço-te novamente
estes dous tomos, e contém o primeiro a História de D.
Quixote; a Vida de Esopo, Encantos de Medea, e o Anfitrião;
no segundo, o Labirinto da Greta; Guerras do Alecrim e
Mangerona; As Variedades de Proteu, e Precipício de
Faetonte. No terceiro tomo, que sairá com brevidade,
te darei a ler As firmezas de Proteu e acasos do seu amor;
Os Triunfos de Cupido contra as vinganças de Vênus; Júpiter
e Danae, e Perseu e Andrômeda; no quarto, O Avaro e o
Zeloso; Memórias de Peralvilho; A Destruição de Tróia, e
Endimião e Diana. Outras muitas conservo em meu
poder, umas ainda não executadas, e outras que já o
foram
em
Teatros
particulares,
com
que
voluntariamente te poderei lisonjear o gosto, sem que
possas obrigar-me pela promessa. Vale”.
12
PRIVILÉGIO
D. João, por graça de Deus rei de Portugal e
dos Algarves, daquém e dalém mar em África,
Senhor de Guiné, etc.
Faço saber que Francisco Luís Ameno me
representou por sua petição que ele se achava
imprimindo
dous
tomos
das
Comédias
Portuguesas com o título de Teatro Cômico
Português, as quais se tinham representado na
casa do Teatro público do Bairro Alto, e com o
mesmo título havia de continuar mais volumes; e
porque na referida impressão tinha feito
considerável despesa e ainda havia de fazer na
continuação dos mais volumes e receava que lhe
imprimisse outrem a referida Obra, no que se lhe
seguia grave prejuízo, pedindo-me lhe fizesse
mercê conceder-lhe privilégio, para que nenhum
livreiro, impressor ou outra qualquer pessoa
pudesse imprimir, vender ou mandar vir de fora
do reino a dita Obra, atendendo ao prejuízo que
do contrário se lhe seguia ao suplicante e debaixo
das penas costumadas, e visto seu requerimento,
informação que se houve pelo corregedor do Cível
da cidade Simão da Fonseca de Sequeira, e
resposta do meu procurador da Coroa, a que se
deu vista, que não teve dúvida a este
requerimento, - Hei por bem fazer mercê ao
suplicante de lhe conceder o Privilégio de que faz
menção, por tempo de dez
13
COLECÇÃO DE CLÁSSIC0S SÁ DA COSTA
anos, para que durante eles nenhum impressor,
livreiro nem qualquer pessoa possa imprimir, vender
nem mandar vir de fora do reino os dous tomos
referidos, sem licença do suplicante, sob pena de
perder todos os volumes, que lhe forem achados para
o mesmo suplicante, e de pagar cinqüenta cruzados,
ametade para o acusador e outra para minha
Câmera Real. E esta provisão se cumprirá como nela
se contém, que valerá, posto que seu efeito haja de
durar mais de um ano, sem embargo da Ordenação
do livro segundo, título primeiro, em contrário. E
pagou de novos direitos quinhentos e quarenta réis,
que se carregaram ao tesoureiro deles, a folhas
trezentas e quarenta e cinco do livro quarto de sua
receita, e se registou o conhecimento em forma no
livro oitavo do registo geral, a folhas155 verso. Elrei, nosso Senhor, o mandou por seu especial
mandado, pelos DD. António Teixeira Álvares e José
Vaz de Carvalho, ambos de seu Conselho, e seus
desembargadores do Paço. Francisco Xavier da
Cunha a fez em Lisboa, a 27 de Dezembro de 1743
anos. De feitio desta duzentos réis. António Pedra
Vergolino a fez escrever.
Gregório Pereira Fidalgo da Silveira, José
Vaz de Carvalho.
*
*
*
Seguem-se depois as licenças do Santo Ofício, do
Ordinário e do Desembargo do Paço, que não foram
transcritas nas edições subseqüentes. Aqui
reproduzimos as duas primeiras:
14
OBRAS COMPLETAS DE A. JOSÉ DA SILVA
“CENSURA DO M. R. P. M. FR. FRANCISCO DE
S. TOMÁS, QUALIFICADOR DO SANTO OFíCIO,
ETC.
Ex.mo e Rev.mo Senhor
Estas farsas, que reproduzidas a dous volumes com o
título de Teatro Cômico Português quer mandar
imprimir Francisco Luís Ameno já foram expostas ao
divertimento público, umas na estampa (*) e todas nos
teatros desta Corte, com grande satisfação dos seus
moradores, e nenhum inconveniente há em que juntas
agora se divulguem novamente e eternizem no prelo,
porque, ainda que o sal dos escritores deste gênero com
que seus autores os costumam temperar para brindarem
ao palato dos que não gostam doutros degenere às vezes
em corrupção dos costumes, aqui não sucede assim,
porque o sal destes escritos foi com muita arte extraído
dos mares da eloqüência dentro das margens da
modéstia e sem redundância fora dos limites da Religião
Cristã. Este é o meu juízo. Vossa Eminência Rev.ma
mandará o que for servido. S. Domingos de Lisboa, 8 de
Março de 1743. Fr. Francisco de S. Tomás.
(*) Refere-se às edições parcelares do Labirinto de
Greta (1736) e das Variedades de Proteu e Guerras do Alecrim
e Mangerona (1737), a que se fez referência no começo da
parte III do Prefácio desta edição.
15
COLECÇÃO DE CLÁSSIC0S SÁ DA COSTA
Vista a informação, podem imprimir-se os papéis
de que se trata e depois de impressos tornarão para
se conferir e dar licença que corram, sem a qual não
correrão. Lisboa, 9 de Março de 1743. Fr. R. de
Alencastre Teixeira. Silva. Soares. Abreu.
CENSURA DO ORDINÁRIO
Ex.mo e Rev.mo Sr.
Por ordem de V. Ex.a vi as Comédias Portuguesas
que pretende imprimir Francisco Luís Ameno e me
parecem que se lhe pode dar a licença, porque não
tem cousa alguma contra a Fé ou bons costumes.
Lisboa, nesta casa de N.ª Senhora da Divina
Providência de Clérigos Regulares, 6 de Abril de
1743”.
*
**
No final de cada um dos dois tomos das edições do
Teatro Cômico Português de 1744, 1747 e 1759, lêse esta “Protestação do Colector”:
“As palavras Deuses, Númen, Fado, Divindade,
Omnipotência e Soberania se devem somente
entender no sentido poético, e não de nenhuma outra
maneira, porque somente se usa delas nestas Obras
como necessárias para adorno da composição
dramática e expressão dos episódios cômicos, e não
com intenção de ofender em cousa alguma aos
dogmas da Santa Madre Igreja, a quem, como
obediente filho, me sujeito em tudo o que ela
determina”
16
Download