TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO JUNHO/2016 UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ ENGENHARIA ELÉTRICA ESTUDO DAS CORRENTES E TENSÕES DE TERCEIRO HARMÔNICO QUANDO SÃO USADAS AS PRINCIPAIS CONEXÕES DE TRANSFORMADORES MONOFÁSICOS NA FORMAÇÃO DE UM BANCO TRIFÁSICO Fernando Tavares da Silva Orientador: Prof. Rafael Di Lorenzo Corrêa Instituto de Sistemas Elétricos e Energia (ISEE) Resumo – O presente trabalho visa a apresentar os resultados de experimentos que permitam identificar as correntes e tensões de terceiro harmônico considerando as conexões mais comumente utilizadas de transformadores monofásicos na formação de bancos trifásicos. Tal estudo é motivado pela importância e necessidade de se conhecer as circunstâncias que possam dar origem as correntes e tensões harmônicas e, assim, obter formas de eliminação ou mitigação mais efetivas para os efeitos provocados por elas no sistema elétrico. existentes na rede elétrica, mudando drasticamente o comportamento característico por parte das unidades consumidoras. Isso fez com que os consumidores se tornassem cada vez mais preocupados em relação a qualidade da energia elétrica entregue a eles pelas concessionárias de energia, tornando-os cada mais informados e cientes de seus direitos como clientes [1], aumentando as exigências e o rigor relativos a energia que consomem. Dentro desse contexto, este trabalho tem como objetivo principal a realização de ensaios que permitam identificar um dos principais tipos de perturbação existentes na rede elétrica, a distorção harmônica. Especificamente, desejase identificar os harmônicos de tensão e corrente gerados por um banco trifásico de transformadores monofásicos de acordo com as principais conexões utilizadas na prática. A justificativa para a realização desse trabalho especificamente com transformadores é dada pela grande importância que esse equipamento tem dentro de um sistema elétrico de potência, constatando sua presença nos setores de geração, transmissão e, principalmente, distribuição de energia. Palavras-chave: Harmônicos, Conexões de bancos de transformadores. I – INTRODUÇÃO Não é de hoje que se reconhece o quão fundamental a energia elétrica é para a sociedade moderna. A revolução na maneira de gerar, transmitir e distribuir energia elétrica permitiu um enorme avanço do setor industrial e, consequentemente, um desenvolvimento tecnológico que trouxe a modernização de nossa sociedade, aumentando e melhorando a qualidade de vida das pessoas que nela vivem. Presente em diversas atividades comerciais, grandes processos industriais, responsável tanto pela modernização dos meios de comunicação quanto pelo aumento da velocidade e facilidade de aquisição de informação, a energia elétrica se tornou indispensável para a grande maioria das atividades exercidas no nosso cotidiano. II – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA II.1 – Qualidade da energia elétrica Um sistema elétrico de potência está sujeito á diversos fenômenos eletromagnéticos que podem afetar negativamente sua boa operação. A grande finalidade de um sistema elétrico consiste em entregar energia aos consumidores finais de forma contínua, segura, confiável e de qualidade. Entregar uma energia elétrica de qualidade permite, principalmente aos consumidores industriais, uma maior produtividade, operação de um maquinário com maior eficiência e segurança, além de uma produção mais rápida. [1]. Analogamente, pode-se perceber que, dependendo da perturbação a qual a rede Juntamente com a modernização da sociedade e os avanços tecnológicos, veio à expansão e o desenvolvimento do setor elétrico, visando atender as necessidades da crescente demanda. O avanço tecnológico permitiu um imenso desenvolvimento de novos equipamentos e dispositivos que, por sua vez, tornaram-se cada vez mais sensíveis às perturbações 1 elétrica é submetida, o processo produtivo pode ser atingindo, resultando em perdas de matéria prima, produtos defeituosos, parada do processo, danificação de equipamentos, necessidade de retrabalho ou perda total de uma produção, gerando enormes prejuízos para empresas e empresários. Para isso, é fundamental conhecer os problemas aos quais um sistema elétrico está sujeito e que podem afetar a energia transportada por ele e, assim, buscar soluções mais efetivas para tais problemas. elétricos, permitindo decompor os componentes harmônicos em ondas senoidais com as respectivas frequências múltiplas da frequência fundamental, como exemplifica a figura 2: II.2 – A distorção harmônica Como mencionado anteriormente, compreender as perturbações as quais o sistema elétrico está sujeito é fundamental para que se possa buscar maneiras eficientes de eliminar ou mitigar esses problemas. Portanto, para o presente trabalho, é necessário entender de forma clara o que é a distorção harmônica. Os harmônicos são formas de ondas cujas frequências são múltiplas inteiras da frequência fundamental do sistema, ou seja, o valor de frequência para qual o sistema foi projetado para operar (geralmente, 50 ou 60 Hz) [3]. Essas frequências múltiplas da fundamental são denominadas de frequências harmônicas, sendo o número associado a cada harmônico correspondente ao valor múltiplo da fundamental. Por exemplo: o harmônico número 1, é a frequência fundamental, já o segundo harmônico corresponde a uma frequência duas vezes maior do que a frequência fundamental, e assim por diante. Figura 2 – Decomposição harmônica utilizando a técnica de Fourier – Fonte: DUGAN, Roger C.; MC GRANAGHAN Mark F.; SANTOSO Surya; Beaty H. Wayne, 2002, pág. 170. Como se pode perceber na figura 2, a amplitude das harmônicas, em geral, decresce conforme a ordem do harmônico aumenta, o que permite concluir que quanto maior for a ordem do harmônica, menor será sua amplitude e, logicamente, menor será seu impacto no sistema, tornado-o mais fácil de mitigar. A existência desse tipo de fenômeno faz com que os harmônico interajam com a impedância do sistema de alimentação, fazendo com que os demais usuários conectados ao mesmo sistema também sejam afetados [4]. Essa propagação de harmônicos pela rede elétrica é denominada de perturbação harmônica e o resultado dessa ocorrência são formas de ondas, de tensão ou corrente, distorcidas, conforme ilustrado na figura 1: II.3 – Distorção harmônica gerada por transformadores Como se sabe, os transformadores são máquinas elétricas estáticas fundamentais para um sistema elétrico, permitindo realizar acoplamento de diferentes níveis de tensão, isolamento galvânico, distribuição de energia, medição e proteção de dispositivos, entre outras funções. Para sistemas de potência, os transformadores são projetados e desenvolvidos para operar com poucas perdas, de forma que a tolerância para a corrente de magnetização seja cerca de 1 a 2% da corrente nominal do transformador, mantendo-se na região linear de operação da curva de magnetização [3]. No entanto, ao entrar na região de saturação da curva de magnetização, um pequeno acréscimo nos valores de tensão, irá corresponder a grandes variações nos valores de corrente de magnetização e, assim, os efeitos da distorção harmônica tornam-se mais evidentes. Para compreender como os transformadores produzem harmônicos, considere as figuras 3 e 4: Figura 1 – Forma de onda distorcida devido a presença de harmônicos – Fonte: Adaptado de CHAPMAN, Stephen J, 2013, pág. 84. Devido a essa característica particular, a técnica matemática de expansão em séries de Fourier é muito utilizada nos estudos de harmônicos nos sistemas 2 Figura 3 – Geração de harmônicos na curva da corrente de magnetização de um transformador. Figura 4 – Curva da corrente de excitação de um transformador. Quando uma forma de onda possui os semi-ciclos positivo e negativo com áreas iguais, como a corrente de magnetização mostrada na figura 4, a decomposição em séries de Fourier apresentará apenas as componentes ímpares [1]. No caso dos transformadores, entre todos harmônicos ímpares existentes, o harmônico de terceira ordem é o mais significativo, correspondendo a cerca de 50% da corrente de magnetização [3]. Da figura 3, como se pode perceber, a forma de onda do fluxo magnético φ acompanha o comportamento senoidal da tensão de entrada V1 do transformador, porém, deslocada praticamente de 90º em relação a mesma. O valor da tensão V’, situada na região crescente do semiciclo positivo da curva de tensão V1, corresponde a um fluxo magnético, também crescente φ’ e, consequentemente, a uma corrente de magnetização correspondente I1 (indicada em vermelho). Já a tensão Vmáx indica o valor máximo de tensão aplicada na entrada do transformador, proporcionando o valor máximo de fluxo φmáx e, logicamente, um valor máximo da corrente de magnetização I2 (indicado em roxo). Por fim, na região decrescente da curva de tensão V1, tem-se uma tensão V’’ correspondendo a um fluxo magnético φ’’ de mesmo módulo do que o produzido pela tensão V’, no entanto, a corrente de magnetização nessa região tem módulo inferior à corrente que foi obtida anteriormente para tensão V’, sendo representada pela corrente I3 em amarelo. Estabelecidas as definições iniciais e compreendido como um transformador gera harmônicos para o sistema, esse estudo, agora, destina-se para a coleta de dados através dos experimentos práticos e, obviamente, para análise dos resultados obtidos através desses ensaios. III–METODOLOGIA Para identificar os harmônicos de tensão e de corrente existentes durante o funcionamento dos bancos de transformadores, foram realizados ensaios em laboratório utilizando 3 transformadores monofásicos. Era de se esperar que os módulos das correntes de magnetização para as tensões V’ e V’’ fossem iguais, visto que as tensões possuem mesmo módulo, porém, essa diferença na intensidade das correntes é devida à Histerese da curva de magnetização. Fazendo a mesma análise para todos os pontos existente, obtém-se a seguinte curva para a corrente de magnetização do transformador, indicada em vermelho, em função do tempo, que visivelmente apresenta componentes harmônicas: Os ensaios foram realizados variando-se as conexões do banco de transformadores, considerando as principais formas de conexão utilizadas na maioria das aplicações, que foram elas: estrela – estrela - delta aberto, estrela aterrada – estrela - delta aberto e estrela – estrela - delta fechado. Para cada uma das conexões, obteve-se as formas de onda da tensão e da corrente e, com isso, verificou-se como a distorção harmônica se manifestava em cada uma delas. Abaixo, tem-se um diagrama geral de como foram realizadas as montagens de cada um dos ensaios: 3 Figura 7 – Formas de onda de tensão (em verde) e corrente (em amarelo) para conexão estrela – estrela – delta aberto. Figura 5 – Digrama geral das montagens dos ensaios realizados III.1 – Conexão estrela - estrela – delta aberto Como se pode verificar, a forma de onda da tensão encontra-se distorcida, devido a presença de harmônicos, enquanto a forma de onda encontra-se perfeitamente senoidal. A primeira conexão a ser ensaiada foi a de estrela– estrela-delta aberto e, para isso, montou-se o seguinte arranjo mostrado na figura 6: III.2 – Conexão estrela aterrada – estrela – delta aberto Para ensaiar a segunda conexão, ou seja, de estrela aterrada - estrela - delta aberto, manteve-se o arranjo anterior e apenas conectou-se o neutro do sistema ao neutro da estrela. O arranjo para esse caso pode ser observado na figura 8: Figura 6 – Arranjo prático para conexão estrela – estrela aberta do banco de transformadores trifásico Para essa conexão, obteve-se as seguintes formas de onda para a tensão e corrente: Figura 8 – Arranjo prático para conexão estrela aterrada - estrela - delta aberto do banco de transformadores trifásico Utilizando o osciloscópio, foi possível obter as seguintes formas de onda de tensão e corrente para essa conexão: Agora, como pode ser verificado na figura 9, ocorre o inverso do que ocorreu no primeiro caso, ou seja a forma 4 de onda da corrente é afetada pelo distúrbio harmônico, enquanto a tensão se torna perfeitamente senoidal. Figura 9 – Formas de onda de tensão (em verde) e corrente (em amarelo) para conexão estrela aterrada – estrela – delta aberto. Figura 11 – Formas de onda de tensão (em verde) e corrente (em amarelo) para conexão estrela – estrela – delta fechado. III.3 – Conexão estrela – estrela – delta fechado Neste caso, verifica-se que ambas as formas de onda apresentaram forma senoidal, ou seja, praticamente sem o efeito dos harmônicos. O penúltimo ensaio realizado foi o para conexão estrela – estrela – delta fechado do banco trifásico, conforme mostra o arranjo da figura 10: III.4 – Conexão estrela - estrela - delta aberto Essa conexão foi realizada com objetivo de se verificar a presença do terceiro harmônico de tensão dentro da conexão delta durante a operação do banco de transformadores. Utilizando o osciloscópio, obteve-se a seguinte curva para a tensão de terceiro harmônico: Figura 10 – Arranjo prático para conexão estrela – estrela – delta fechado do banco de transformadores trifásico Nesse caso as formas de onda de tensão e corrente estão mostradas na figura 11: Figura 12 – Formas de onda da tensão de terceiro harmônico gerada pelo banco trifásico. III.5 – Conexão delta - estrela - delta aberto Adicionalmente, realizou-se o ensaio para a conexão delta – estrela – delta aberto e, utilizando o mesmo 5 procedimento para as conexões anteriores, obteve-se as seguintes formas de ondas: IV.2 – Resultados para a conexão estrela aterrada – estrela - delta aberto Na segunda conexão ensaiada, ao se aterrar o neutro do sistema, cria-se um caminho para circulação do harmônico de corrente nesse lado, fazendo com que a forma de onda da corrente se distorça. No entanto, a tensão passa a ser perfeitamente senoidal. IV.3 – Resultados para a conexão estrela - estrela – delta fechado No terceiro caso estudado, verificou-se que, apesar da ausência de aterramento no lado primário, ambas as formas de onda, tanto de corrente quanto de tensão, apresentaram comportamento perfeitamente senoidal. Isso aconteceu porque a conexão em delta produz um caminho de circulação para a corrente de terceiro harmônico, evitando que haja distorção na forma de onda da tensão. Figura 13 – Tensão na entrada (amarelo) e no secundário (em verde) do banco senoidais. IV.4 – Resultados para a conexão delta - estrela – delta aberto Verificou-se que, para essa conexão, a corrente de terceiro harmônico ficou circulando apenas na conexão delta do banco, evitando que essa distorção passasse para o lado secundário do banco e, assim, mantendo uma forma de onda senoidal, como desejado. V– CONCLUSÃO A realização do presente trabalho permitiu constatar, através da prática, a importância da escolha adequada das conexões a serem utilizadas nos bancos trifásicos de transformadores monofásicos. Figura 14 – Tensão na entrada (amarelo) e corrente de terceiro harmônica confinada na conexão delta do banco de transformadores. Logicamente existem muitas outras formas de conexões para os bancos de transformadores, no entanto, esse trabalhou abordou as mais comuns encontradas nas aplicações de campo e, com isso, permitiu tirar diversas conclusões importantes e que são válidas para as demais ligações que não foram estudadas. IV – RESULTADOS E DISCUSSÃO Após a coleta dos dados, foi realizada a análise de cada uma das formas de onda obtidas para das diferentes conexões utilizadas durante o experimento. Primeiramente, foi possível concluir, através das formas de ondas obtidas, que conforme a conexão podem surgir correntes ou tensões de terceiro harmônico quando o neutro está ou não aterrado. Concluiu-se também que a utilização de um enrolamento terciário ligado em delta é uma solução para eliminação da distorção harmônica em aplicações onde o aterramento do neutro da conexão estrela não existe. IV.1 – Resultados para a conexão estrela – estrela - delta aberto Como foi verificado, para o primeiro caso ensaiado, a forma de onda da corrente manteve seu comportamento senoidal, no entanto, a forma de onda da tensão foi afetada pelos harmônicos, ficando distorcida. Isso ocorreu, pois o neutro oferece um caminho de circulação para a corrente harmônica, porém, se esse caminho deixa de existir, a forma de onda da tensão ficará distorcida. Sabe-se também que transformadores trifásicos apresentam custo e volume menores em relação aos bancos trifásicos, no entanto, transformadores 6 monofásicos formando um banco trifásico permitem uma maior flexibilidade operativa, como por exemplo na conexão delta-delta, quando um dos transformadores necessite ser removido para manutenção, os 2 restantes podem continuar operando ligados a dois sistemas trifásicos. BIOGRAFIA: Fernando Tavares da Silva Nasceu em Resende - RJ, em 1991. Ingressou na UNIFEI em 2011, cursando engenharia elétrica. Finalmente, constatou-se a grande importância que a forma de conexão dos bancos de transformadores tem dentro de um projeto de engenharia, pois, como visto no início desse artigo, a distorção harmônica sempre estará presente durante a operação dos transformadores. No entanto, a escolha da maneira de se conectar os transformadores pode intensificar ou mitigar esse fenômeno e, obviamente, o projeto sempre visa minimizar ou eliminar todos os possíveis problemas aos quais o sistema estará submetido. Além das alternativas para solução dos problemas gerados pelas distorções harmônicas, é valido a proposta de um estudo similar para outras conexões, como por exemplo a conexão zigue-zague e, também para transformadores trifásicos. No entanto, vale ressaltar que as perturbações harmônicas produzidas por bancos de transformadores são mais significativas do que as geradas pelos núcleos trifásicos. VI– AGRADECIMENTOS Primeiramente gostaria de agradecer aos meus pais, Maria Luiza e Gilson, por todo apoio e confiança que sempre dedicaram a mim para que pudesse seguir firme nessa caminhada que se finaliza. Muito obrigado a todos meus familiares, amigos e minha namorada Fernanda que sempre se fizeram tão presentes tanto nos momentos de alegria quanto nos momentos difíceis desses últimos anos. Por fim, gostaria de agradecer ao professor Rafael por todo conhecimento compartilhado não só no desenvolvimento desse trabalho, mas também em todas disciplinas que ministrou para mim e meus colegas de classe. Sem vocês, esse momento não seria uma realidade. Muito obrigado. VII – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] DUGAN, Roger C.; MC GRANAGHAN Mark F.; SANTOSO Surya; Beaty H. Wayne. Electrical Power Systems Quality. 2nd ed. Mc Graw-Hill, 2002. Pag 1- 3. [2] ACHA, Enrique; MADRIGAL, Manuel. Power Systemas Harmonics: Computer Modelling Analysis. Wiley, 2001 [3] BAGGINI, Angelo. Handbook of Power Quality. Wiley, 2008. [4] SANTOSO, Surya. Fundamentals of Electric Power Quality. Winter edition. Surya Santoso, 2010. 7