Apostila Historia Militar Geral

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ELONIR JOSÉ SAVIAN
PAULO HENRIQUE BARBOSA LACERDA
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE
HISTÓRIAMILITAR GERAL
RESENDE
2015
S267m LACERDA, Paulo Henrique Barbosa; SAVIAN, Elonir José
Introdução ao Estudo de História Militar Geral/Paulo Henrique
Barbosa Lacerda; Elonir José Savian. Resende: AMAN, 2015.
1. História. 2. História Militar. 3.Guerra. 4. Batalhas. 5. Exércitos.
355.009
SUMÁRIO
(Idades Antiga, Média e Moderna)
Apresentação............................................................................................................................................. 07
PARTE I - IDADE ANTIGA
Capítulo 1 - Mesopotâmia........................................................................................................................ 13
Capítulo 2 - Grécia e Macedônia........................................................................................................... 23
Capítulo 3 - Roma...........................................................................................................................................35
Capítulo 4 - Os Bárbaros...............................................................................................................................51
PARTE II - IDADE MÉDIA
Capítulo 5 - O Império Bizantino......................................................................................................... 61
Capítulo 6 - Os Árabes............................................................................................................................ 69
Capítulo 7 - Os Francos.......................................................................................................................... 75
Capítulo 8 -AEuropa Feudal................................................................................................................ 83
Capítulo 9- Os Mongóis........................................................................................................................... 95
PARTE III - IDADE MODERNA
Capítulo 10 - Guerras na Itália (1494-1525)..................................................................................... 105
Capítulo 11 - O Exército Espanhol no Século XVI e as Tropas Holandesas de Nassau.............. 115
Capítulo 12 -AGuerra dos TrintaAnos e GustavoAdolfo.............................................................. 127
Capítulo 13 - O Exército Francês no Reinado de Luís XIV............................................................ 135
Capítulo 14 - O Exército Prussiano e o Pensamento Militar Francês no Século XVIIII.......... 143
SUMÁRIO
(Idade Contemporânea)
PARTE IV - IDADE CONTEMPORÂNEA
Capítulo 15 -A Revolução Francesa................................................................................................... 155
Capítulo 16 - Napoleão Bonaparte......................................................................................................... 165
Capítulo 17 -AGuerra da Crimeia...................................................................................................... 185
Capítulo 18 -AGuerra CivilAmericana............................................................................................ 195
Capítulo 19 -AUnificaçãoAlemã......................................................................................................... 207
Capítulo 20 -AGuerra dos Bôeres...................................................................................................... 219
Capítulo 21 -AGuerra Russo-Japonesa............................................................................................. 227
Capítulo22 -A Primeira Guerra Mundial......................................................................................... 235
Capítulo 23 - O Período Entreguerras............................................................................................... 261
Capítulo 24 -ASegunda Guerra Mundial.......................................................................................... 269
Capítulo 25 - Guerras da Indochina................................................................................................... 307
Capítulo 26 - O Conflito Árabe-Israelense......................................................................................... 323
Capítulo 27 -AGuerra das Malvinas.................................................................................................. 335
Capítulo 28 - As Guerras no Golfo Pérsico....................................................................................... 345
Capítulo 29 - Reflexões sobre a GuerraAtual e a Futura.............................................................. 357
Crédito das imagens............................................................................................................................... 361
Referências.................................................................................................................................................. 363
CAPÍTULO 22
A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
“Assim que deixamos a borda da floresta, uma saraivada de balas
assoviou junto aos nossos narizes e atingiram árvores atrás. Cinco ou seis gritaram perto de mim, cinco ou seis de meus companheiros caíram na grama (...) O fogo parecia vir de longa distância, um pouco à esquerda (...) E lá estávamos nós, avançando como
se estivéssemos em um desfile (...) em direção a um metálico som
de marteladas, seguido por uma pausa e, então, por marteladas
33
ainda mais rápidas, metralhadoras”.
Relato de um oficial alemão, sobre
um assalto a uma posição britânica.
Nos primeiros anos do século XX, um conflito de proporções mundiais parecia
pouco provável para a maioria dos europeus. As populações das principais potências da
Europa vivenciavam um período de paz, prosperidade econômica, desenvolvimento cultural e avanços científicos, conhecido na França como “Belle Époque”. Havia percepções
de se estar fazendo parte de uma realidade produtiva e de um futuro promissor. Tal contexto decorria de diversas razões: a última guerra de vulto na Europa fora a Guerra Franco-Prussiana (1870-71); o cinema, o impressionismo e a “Art Nouveau” difundiam-se,
revolucionando estilos de se pensar e viver; e novas tecnologias propiciavam o advento
de notáveis invenções, como as do avião e do rádio.
Embora os Estados Unidos já fossem uma potência de primeiro nível, o domínio
global era exercido por países europeus: o Império Britânico possuía vastos territórios em
todo o mundo e uma pujante atividade comercial; o Império Russo estendia-se por dois
continentes e, paulatinamente, desenvolvia seu imenso potencial industrial; a Alemanha
era a maior nação industrializada do continente e progredia aceleradamente; e a França
tinha diversas colônias e um comércio próspero.
Entretanto, um observador mais atento perceberia que, na Europa, aconteciam
eventos que poderiam redundar em uma grande crise.
Havia uma crescente corrida armamentista, por meio da qual os países buscavam sobrepujar ou, pelo menos, equiparar seu poder militar ao dos potencialmente rivais.
AInglaterra e aAlemanha, por exemplo, considerando vital o domínio dos mares em caso
de um conflito, intensificaram a construção de navios; uma para manter sua hegemonia nos
mares, a outra para poder fazer frente à primeira.
33
apud KEEGAN, 2005, p.110.
235
Na esfera econômica, a Alemanha tornara-se a principal potência industrial
europeia, o que era visto como uma ameaça pela Inglaterra e França, que se viam perdendo espaço na economia mundial. O projeto do governo alemão relativo à construção de
uma ferrovia ligando Berlim a Bagdá contribuía para acirrar os ânimos, já que esta obra
colocaria os imensos lençóis petrolíferos do Oriente Médio à disposição da Alemanha.
Existiam disputas imperialistas entre as nações europeias, sempre ávidas de
aumentar seu prestígio e seu comércio internacional. Em 1905, por exemplo, ocorreu uma
crise diplomática entre países europeus em virtude de interesses conflitantes em relação
ao Marrocos. AInglaterra e a França fizeram um pacto pelo qual os ingleses reconheciam
o direito da França controlar o Marrocos; em contrapartida, os franceses concordavam
com o domínio pleno da Inglaterra sobre o Egito. Tal acordo foi contestado pelo governo
alemão, que se mostrou disposto a defender o Marrocos de interferências estrangeiras.
Após negociações, um ambíguo tratado reconheceu a soberania do Marrocos, sendo, no
entanto, resguardados os interesses da França naquele país.
Havia também um clima de fervor nacionalista e de hostilidade entre os países. Isso era explorado por órgãos sensacionalistas e líderes governamentais, que lembravam incessantemente aos cidadãos ou súditos as glórias das guerras vencidas, os desapontamentos dos reveses sofridos e os objetivos nacionais a serem alcançados. Em
consequência, os franceses desejavam ardentemente vingar-se da derrota na Guerra Franco-Prussiana e recuperar a Alsácia e a Lorena; os italianos esperavam anexar a seu país
as “terras irredentas” (territórios que diziam lhes pertencer legitimamente); um movimento
pangermânico lutava pela unificação dos povos germânicos; e ummovimento pan-eslavista
pretendia unificar os povos eslavos dos Bálcãs em uma “Grande Sérvia”.
Ainda havia estados, como os ImpériosAustro-Húngaro e Russo, que tinham
graves problemas sociais, econômicos e políticos. Para muitas lideranças desses países,
uma guerra poderia levar à união nacional, possibilitando a superação das crises internas.
Para agravar a situação, diplomatas, seguindo orientação de seus governantes,
estabeleceram, por meio de acordos secretos, intrincados sistemas de alianças. Às vésperas da Primeira Guerra Mundial, os países europeus, de acordo com seus objetivos
nacionais, estavam alinhados em dois blocos antagônicos: a TrípliceAliança, formada pela
Alemanha (buscava manter a supremacia no continente e tornar-se política e maritimamente a nação preponderante no globo), ImpérioAustro-Húngaro (almejava implementar
uma política de hegemonia sobre os Bálcãs) e Itália (entrara na aliança por haver tido
atritos coloniais com a França, mas estes, em grande parte, estavam resolvidos); e a
Tríplice Entente, formada pela França (visava reconquistar aAlsácia e a Lorena e restabelecer sua supremacia no continente), Império Russo (temia um avanço alemão ou austrohúngaro para o leste europeu, almejava absorver os Bálcãs e procurava uma saída para
o mar Mediterrâneo) e Inglaterra (desejava conter o expansionismo alemão). Outros estados europeus, de menor força, gravitavam em torno desta ou daquela aliança, de acordo com seus interesses e conveniências.
236
A situação era particularmente preocupante nos Bálcãs, área ambicionada por
russos e austro-húngaros, onde, a partir da terceira década do século XIX, gregos, sérvios,
montenegrinos, romenos, búlgaros e albaneses erigiram países em detrimento do decadente Império Otomano. A região estava convulsionada, em virtude de os países locais
buscarem ampliar seus territórios. Tal fato causou duas guerras curtas nos anos de 1912 e
1913, cujas principais consequências foramo surgimento daAlbânia e a expansão territorial
do Reino da Sérvia.
O fortalecimento do Reino da Sérvia, que era apoiado pelo Império Russo (ambos de população eslava), preocupava o Império Austro-Húngaro (formado por diversas
etnias, governado por soberanos germânicos), que era respaldado pelo Império Alemão
(nação germânica). Tal preocupação existia porque líderes nacionalistas sérvios, tendo
em vista formar uma “Grande Sérvia”, esperavam anexar os territórios austro-húngaros
da Bósnia-Herzegovina (área habitada predominantemente por eslavos). Para fazer frente
a essa ameaça, o arquiduque Francisco Ferdinando, futuro Imperador Austro-Húngaro,
pretendia transformar o império dual austro-húngaro em um estado tríplice austro-húngaro-eslavo, o que, para ele, poria fim a qualquer ideia separatista de seus súditos eslavos.
No dia 28 de junho de 1914, Francisco Ferdinando resolveu visitar Saravejo,
capital da Bósnia, fato visto por muitos sérvios como uma afronta. Durante sua estada, o
arquiduque sofreu um atentado que resultou em sua morte. Gavrilo Princip, um estudante
bósnio, autor dos disparos que vitimaram o arquiduque, foi imediatamente preso e identificado como integrante de um grupo nacionalista-terrorista, que teria ligações com o serviço secreto sérvio.
O governo austro-húngaro exigiu satisfações à Sérvia, por meio de um ultimato
(23 de julho de 1914). Todas as exigências foram atendidas, exceto a de que tribunais e
policiais austro-húngaros operassem em território sérvio, a fim de supervisionar o esclarecimento do crime e a punição dos culpados.
Diante da recusa dos sérvios em atender na plenitude o ultimato, o Império
Austro-Húngaro declarou guerra ao Reino da Sérvia (28 de julho de 1914). Esta atitude
fez desencadear o sistema de alianças pré-estabelecido. Os russos começaram a mobilizar seus exércitos, para apoiar os sérvios, e, em virtude disso, os alemães declararam
guerra à Rússia (1º de agosto de 1914). Pouco depois, em 03 de agosto, os alemães
declararam guerra também à França, que começava a se mobilizar, acusando-a de ter
invadido o espaço aéreo germânico. Com esses fatos, iniciava-se a Primeira Guerra
Mundial.
As declarações de guerra foram recebidas festivamente pelas populações de
diversos países, impregnadas pelo espírito nacionalista. Para muitos, chegava a hora, há
muito aguardada, de mostrar a superioridade de sua nação, de resolver antigas pendências e de levar a cabo antigas aspirações nacionais.
Esperava-se, de modo geral, que a guerra fosse curta. No máximo deveria
237
EUROPA DURANTE A GUERRA
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POTÊNCIAS CENTRAIS
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FRANÇA
RÚSSIA
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POPULAÇÃO
46.407.037
39.601.509
167.000.000
65.000.000
49.000.000
FROTA
MERCANTIL
(TON VAPOR LÍQUIDO)
11.538.000
1.098.000
486.917
3.096.000
559.784
NAVIOS DE GUERRA
64
28
16
40
6
SUBMARINOS
64
73
29
23
06
1.223.152.000
424.000.000
190.247.000
1.030.380.000
198.712.000
6.903.000
4.333.000
4.416.000
17.024.000
2.642.000
37.716
40.982
74.935
63.457
44.319
711.000
3.500.000
4.423.000
8.500.000
3.000.000
VALOR ANUAL DO
COMÉRCIO EXTERIOR
EM LIBRAS ESTERLINAS
PRODUÇÃO ANUAL DE
AÇO (ton)
FERROVIAS (KM)
SOLDADOS DISPONÍVEIS
PARA MOBILIZAÇÃO
IMEDIATA
Fonte: História do século 20: 1914/1919. São Paulo: Abril, 1968. p.497.
238
prolongar-se até o Natal, pois os principais beligerantes confiavam em uma vitória rápida
de suas forças armadas, as quais se preparavam havia um bom tempo.
A unidade base dos exércitos europeus era a divisão, com efetivo aproximado de dezesseis mil homens. Em caso de guerra, duas a cinco divisões constituiriam os
corpos de exércitos (grande unidade de manobra), que, por sua vez, seriam reunidos em
exércitos de campanha. Países como a Alemanha e a França estavam divididos em distritos militares, onde eram recrutados os contingentes para as divisões.
A mobilização de pessoal já treinado para o combate e dos meios necessários
para a guerra (animais, suprimentos, armamentos e equipamentos) foi facilitada em países
que tinham bons sistemas de comunicações e onde o serviço militar era obrigatório. Este
era o caso da Alemanha onde, em questão de dias, aos oitocentos mil soldados da ativa
juntaram-se mais três milhões de combatentes, constituindo-se rapidamente diversos exércitos de campanha. Tal medida, porém, não era executada de forma tão eficiente no
vastíssimo Império Russo, que, embora tivesse uma reserva imensa de soldados, não
possuía boas vias de transporte. Sendo assim, a mobilização geral russa demorou meses,
tendo muitos homens se dirigido para o combate sem os equipamentos necessários.
Houve a preocupação, por parte dos comandantes militares, de fornecer a
seus soldados uniformes que favorecessem à camuflagem. Uma exceção foi os franceses,
cujos infantes entraram na guerra trajando calças vermelhas e sobretudos azul-marinho,
logo substituídos por um uniforme cinza-azulado. Os soldados alemães vestiam fardas
cinza-esverdeada, os austríacos, cinza, e os russos, verde-oliva.
Os soldados, em sua maioria, entraram na guerra bastante motivados, dispostos a defender o seu país. Tal fato, porém, não acontecia em estados multiétnicos,
como o Império Austro-Húngaro, formado por austríacos, húngaros, tchecos, italianos,
poloneses, romenos, croatas, eslovacos, que tinham suas próprias aspirações.
A instrução militar dos contingentes variava conforme o país, podendo ser
rígida e minuciosa, no caso da Alemanha, ou insuficiente, como ocorria na Bélgica. De
maneira geral, os comandantes davam atenção especial ao desenvolvimento das forças
morais, pois esperavam que seus soldados avançassem resolutamente sobre o inimigo,
mesmo estando sob intenso fogo.
Os exércitos estavam equipados com diversos tipos de armamentos para a
guerra. Ao longo do conflito muitos deles foram aperfeiçoados e outros desenvolvidos.
Os fuzis eram de repetição e possuíam um alcance superior a dois mil metros.
Dentre os mais utilizados podem ser destacados o Mauser Gewehr 98 (7,92mm, da Alemanha), o Lee-Enfield (7,7mm, da Grã-Bretanha), o Lebel (8mm, da França), o MosinNagant (7,62mm, do Império Russo) e o Springfield (7,62mm, dos Estados Unidos).
As metralhadoras, que teriam um papel fundamental na guerra, pesavam de
trinta a sessenta quilos, tinham alcance superior a dois mil metros e podiam disparar de
trezentos a seiscentos tiros por minuto. As que mais se destacaram foram a Maxim
239
(7,92mm, da Alemanha), a Vickers (7,7mm, da Grã-Bretanha), a Hotchkiss (8mm, da
França), a Maxim Sokolov (7,62mm, do Império Russo) e a Browning (7,62mm, dos
Estados Unidos).
As artilharias possuíam diversos tipos de canhões, de variados calibres e poder de alcance. A artilharia alemã era a mais bem dotada de canhões de grosso calibre,
contando em seu arsenal com um poderoso canhão denominado Kaiser Wilhelm Geschütz
(conhecido também como Lange Max ou canhão de Paris), que tinha um calibre de 210mm
e um alcance de 130 quilômetros.
Foram empregados durante a guerra muitos outros armamentos, entre eles
lança-chamas, granadas, morteiros e canhões antiaéreos.
Os exércitos também possuíam equipamentos de comunicações (telefone,
telégrafo e rádio, entre outros). Entretanto, mesmo passando por constantes aperfeiçoamentos, os equipamentos de comunicações não atenderam às necessidades das forças
terrestres. Em alguns casos, falhas nas comunicações foram o motivo principal do malogro das operações.
Os beligerantes haviam também preparado planos detalhados para o conflito. Os franceses tinham o Plano XVII, que previa uma ofensiva direta, frontal, com todas
as forças, pelo centro do dispositivo alemão, ao longo da fronteira franco-germânica.
Os alemães esperavam colocar em prática um plano elaborado pelo conde
Alfred von Schlieffen, um antigo Chefe do Estado-Maior, que morrera em 1912. O Plano
Schlieffen, como era conhecido, previa uma luta em duas frentes, contra a França e contra
o Império Russo. Para que o plano obtivesse êxito, os alemães rapidamente deveriam
derrotar um dos inimigos, para, depois, com mais tranquilidade, combater o outro (isso
evitaria o desgaste de se combater simultaneamente em duas frentes).
Schlieffen concluiu que seria melhor derrotar primeiramente a França, pois
um ataque inicial à Rússia não traria uma vitória rápida (devido à vastidão de seu território). Acreditava Schlieffen, também, que, ao contrário da França, os russos demorariam
a se mobilizar (devido ao seu precário sistema de comunicações), não ameaçando imediatamente aAlemanha.
Sendo assim, Schlieffen planejou que o grosso das forças alemãs deveria,
com extrema rapidez, realizar uma manobra de flanco para derrotar a França. Enquanto
isso, o restante do contingente alemão se deslocaria para o leste, a fim de deter uma
possível ofensiva russa.
A Áustria pretendia empregar seus exércitos em cooperação com os alemães
na frente oriental e em uma invasão à Sérvia. Os russos tinham como objetivos atacar a
Alemanha pela fronteira noroeste (forçando-a a uma guerra em duas frentes) e invadir a
Áustria e a Hungria. Os sérvios tinham apenas planos defensivos. Os britânicos estavam
dispostos a mandar para o continente uma força expedicionária em apoio aos
franceses.
240
PLANO SCHLIEFFEN - MANOBRA DE FLANCO SOBRE A FRANÇA
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O grosso das tropas alemãs da frente ocidental (1) realizaria uma manobra de
flanco (ação principal) (2) extremamente ampla pelo norte da França (3), passando pela
Bélgica (4), já que a fronteira oriental francesa, de Luxemburgo à Suíça (5), estava
muito fortificada. Paralelamente, o restante das tropas alemãs nesta frente (6), em uma
ação secundária, deveria deter um possível ataque das forças francesas (7) na fronteira
franco-germânica. O ataque principal alemão, depois de atingir o norte da França, deveria rumar para o sul, conquistar Paris (8) e, em seguida, convergir para o leste (9), a
fim de atacar as tropas e fortificações inimigas pela retaguarda. O desfecho da guerra na
frente ocidental não deveria durar mais de seis semanas (tempo que Schlieffen acreditava que a Rússia demoraria a mobilizar tropas suficientes para atacar aAlemanha).Após
a vitória, as tropas designadas inicialmente para atacar a França deveriam ser deslocadas
rapidamente para a frente oriental, a fim de derrotar os russos.
Em 3 de agosto de 1914, os alemães desencadearam o Plano Schlieffen,
adentrando na Bélgica.A violação da neutralidade belga era um desrespeito a um tratado
firmado em 1839 por prussianos, ingleses e franceses, e levou os ingleses a declarar
guerra à Alemanha (4 de agosto). AItália, que integrava a TrípliceAliança, preferiu manter-se neutra. Definiam-se, então, os dois blocos que se oporiam durante a guerra: o dos
Aliados (França, Inglaterra e Império Russo) e o das Potências Centrais (Impérios Alemão e Austro-Húngaro).
Coube ao general Helmuth J. L. Moltke, o moço, (sobrinho do conde von
Moltke, herói das Guerras de Unificação daAlemanha) executar o plano Schlieffen. Isso
foi feito de forma parcial, resultando em uma derrota alemã no rio Marne, fato que
inviabilizou uma rápida vitória daAlemanha sobre a França.
241
EXECUÇÃO DO PLANO SCHLIEFFEN POR MOLTKE
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Moltke alterou o Plano Schlieffen. A primeira mudança deu-se quando ele, preocupado com
uma possível ofensiva francesa sobre território alemão, reforçou (1) o contingente da ala esquerda do dispositivo de ataque alemão (ação secundária) com elementos da ala direita (ação principal) , o que enfraqueceu o
poder de combate das tropas que desencadeariam o esforço principal.
Apesar da retirada de parte de seu poder de combate e da reação dos belgas que entraram na luta
ao lado dos aliados, as forças encarregadas do ataque principal alemão abriram caminho pela Bélgica e penetraram em território francês (2). Enquanto isso, na fronteira franco-germânica, os franceses lançaram a ofensiva
que haviam planejado, mas esta foi barrada pelos exércitos alemães (3).
Esta vitória sobre os franceses encorajou Moltke a ordenar um contra-ataque nesse setor (4).
Tal medida estava em desacordo com o Plano Schlieffen, que previa apenas a fixação dos franceses nesse local.
Pressionados, os franceses começaram a recuar (5), saindo da armadilha elaborada por Schlieffen.
Entrementes, Moltke, perturbado por informações de que os russos desferiam um ataque no
leste da Alemanha (realizado antes do esperado pelos alemães), deslocou efetivos da ala direita (enfraquecendo
esta ainda mais) para a Prússia Oriental (6) (modificando pela terceira vez o Plano Schlieffen).
No final de agosto, as forças alemãs que desencadeavam o ataque principal estavam a dois dias
de marcha de Paris, mas encontravam-se exaustas. Faltavam-lhes suprimentos, equipamentos e as comunicações estavam precárias. Seus efetivos também estavam reduzidos, pois, como os franceses, os alemães não
sabiam assaltar posições inimigas sem sofrer um grande número de baixas.
Em 1º de setembro de 1914, o generalAlexander von Kluck, comandante do I Exército Alemão,
que estava na extrema direita das forças que realizavam a ação principal (cuja missão era contornar Paris pelo
oeste), ordenou que suas tropas convergissem para o sul do rio Marne, passando a leste de Paris (em desacordo
com o Plano Schlieffen) (7). O comandante alemão esperava flanquear as tropas francesas que recuavam para
o rio Marne.
Enquanto os alemães avançavam para o rio Marne, os franceses, já contando com apoio de
forças britânicas, reagruparam-se ao sul deste rio (8) e iniciaram preparativos defensivos. Quando as forças se
depararam ocorreu a Primeira Batalha do Marne, vencida pelos aliados. Fracassava, desse modo, o Plano
Schlieffen.
242
A PRIMEIRA BATALHA DO MARNE
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EXÉRCITO
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FRENTE
De 5 a 12 de setembro de 1914, na frente ocidental, tropas aliadas (francesas e inglesas) enfrentaram
forças alemãs em um embate que teria enormes repercussões no desenrolar da I Guerra Mundial. Os franceses
eram comandados por Joseph J. C. Joffre, os ingleses por John D. P. French, e os alemães por Helmuth J. L.
Moltke. Os aliados contavam com 6 exércitos, sendo 5 deles franceses (III, IV, V, VI e IX) e 1 britânico (Força
Expedicionária Britânica - BEF), somando um número aproximado de 1.070.000 combatentes. Os alemães
possuíam 5 exércitos (I, II, III, IV, V) e tinham um efetivo aproximado de 1.480.000 soldados. O VI e o IX
Exércitos haviam sido recentemente criados por Joffre, o que proporcionou aos aliados superioridade em seu
flanco esquerdo. Os contendores posicionaram seus exércitos ao longo do rio Marne (1). Os alemães, porém, ao
ajustarem suas tropas, deixaram uma brecha entre os I e II Exércitos, na região de Château Thierry (2). Iniciados
os combates, os aliados perceberam a brecha no dispositivo germânico. Imediatamente a BEF aproveitou-se da
falha inimiga iniciando uma penetração (3) pelas linhas inimigas em Château Thierry. Se a penetração fosse bem
sucedida, a BEF ficaria em condições de desbordar o I e II Exércitos alemães. Enquanto os britânicos avançavam
vagarosamente, os exércitos franceses suportavam bem as investidas inimigas (foram reforçados no dia 7 de
setembro por uma divisão apressadamente formada em Paris, que se juntou ao VI Exército Francês). Diante da
possibilidade de ter suas forças desbordadas, o comandante do II Exército Alemão (von Büllow), resolveu retrair
(4). O comandante do I Exército Alemão (Von Kluck), para não ficar isolado, fez o mesmo (5). Diante da
situação, na tarde do dia 11, von Moltke ordenou que o III, o IV e o V Exércitos também se retirassem (6). No
dia 12, os alemães estavam tomando posição ao norte do rio Aisne (7). Os aliados saíram-se vitoriosos no
embate, livrando Paris da ocupação inimiga. Na batalha, os aliados sofreram aproximadamente 262.000 baixas
(250.000 francesas e 12 mil britânicas), enquanto os alemães perderam cerca de 250.000 homens.
243
Após serem derrotadas no Marne, as tropas alemãs, seguindo ordem de
Moltke, recuaram para o rioAisne, na região da Picardia, perseguidas vagarosamente por
forças inglesas e francesas extenuadas. Acontraofensiva aliada não avançou muito, pois
logo foi detida pelos alemães no Aisne (1ª Batalha do Aisne, de 13 a 28 de setembro de
1914).
Moltke, em virtude de haver sofrido um colapso nervoso e, também, por
haver fracassado na aplicação do Plano Schlieffen, foi substituído pelo general Erich von
Falkenhayn. Depois da Batalha doAisne, os beligerantes, em batalhas sangrentas, procuraram alternadamente flanquear-se pelo norte, mas em virtude do equilíbrio de forças, as
várias tentativas de ambos fracassaram, no episódio que ficou conhecido como a “Corrida para o Mar”.
No final de outubro, Falkenhayn lançou uma última ofensiva, que esperava
ser decisiva, contra ingleses e franceses na região de Flandres. O comandante alemão
almejava capturar áreas importantes da Bélgica e da França, de onde poderia, em melhores condições, voltar a ameaçar Paris. Desencadeada a ofensiva, os alemães ocuparam
Antuérpia, mas fracassaram em penetrar nas principais linhas defensivas inimigas (1ª Batalha de Ypres, de 19 de outubro a 22 de novembro de 1914).
Em dezembro de 1914, os beligerantes da frente ocidental encontravam-se
exaustos e sem suprimentos, tendo suas trincheiras se estendido da Suíça até o Canal da
Mancha (Belfort a Ostende). Acabavam-se, com isso, as esperanças de que a guerra
tivesse um fim breve. Passaram, então, os beligerantes a organizar as economias nacionais
para fazer frente aos esforços de guerra.
Ao mesmo tempo em que desencadeavam seus ataques na frente ocidental,
os alemães viram-se obrigados a resistir a uma ofensiva russa no leste (frente oriental). O
ataque russo visava obrigar os alemães a combater em duas frentes, o que, em consequência, diminuiria a pressão alemã sobre os franceses. Em agosto de 1914, dois exércitos russos, comandados pelos generais Alexander Samsonov e Paul von Rennenkanpf,
penetraram na Prússia Oriental.
Os generais russos, após uma modesta vitória em Gumbinnen (20 de agosto),
sofreram desastrosas derrotas para tropas alemãs, comandadas pelo general Paul von
Hindenburg, nas Batalhas de Tannenberg (26 a 30 de agosto de 1914) e 1ª dos Lagos
Mazurianos (9 a 14 de setembro de 1914). Em consequência, a maior parte das tropas
russas remanescentes da malograda ofensiva se retirou da Prússia, e as que permaneceram na região foram batidas pelos alemães na 2ª Batalha dos Lagos Mazurianos, em
fevereiro do ano seguinte.
Nos meses de setembro e outubro de 1914, os alemães contra-atacaram e
invadiram a Polônia, então território russo, com o objetivo de conquistar Varsóvia, mas
fracassaram. Os russos, em resposta, lançaram uma nova ofensiva, agora na Silésia (sudeste da Alemanha), que também foi rechaçada pelos alemães.
244
A BATALHA DE TANNENBERG
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EXÉRCITOS RUSSOS
AVANÇOS RUSSOS
CORPOS DE EXÉRCITO ALEMÃES
ATAQUES ALEMÂES
CAVALARIA ALEMÃ
Na Prússia Oriental, leste do Império Alemão, no início da guerra, os alemães contavam com cerca de
150 mil homens, os russos somavam 190 mil. Os russos, a pedido da aliada França (que fora maciçamente
atacada pelos alemães), lançaram uma ofensiva sobre o leste da Alemanha com dois exércitos, o I e o II ,
comandados, respectivamente, por Paul von Rennenkampf e Alexander Samsonov. Os exércitos russos avançaram separadamente, sem comunicação entre si e de forma vagarosa. O I Exército Russo penetrou na Prússia
Oriental (1), passou ao norte dos lagos Mazurianos (2) e tinha como objetivo principal conquistar a cidade de
Königsberg (3). O II Exército penetrou pelo sul (4) dos lagos Mazurianos, visando convergir para o norte em
direção a Königsberg. Se tudo ocorresse conforme o planejado, o VIII ExércitoAlemão, que defendia a Prússia
Oriental, seria cercado e destruído pelos dois exércitos russos. O I Exército Russo obteve uma vitória pouco
significativa sobre os alemães em Gumbinnen (20 de agosto) (5). Tal fato alarmou o comandante geral alemão
Helmuth J. L. Moltke, que substituiu o comandante do Teatro de Operações Oriental, Maximilian von
Prittwitz, por Paul von Hindenburg. Após a vitória em Gumbinnen, Rennenkampf não prosseguiu com suas
ações. Ao perceber que o I Exército Russo não se movia, Hindenburg resolveu derrotar um exército russo de
cada vez. Seguindo um plano elaborado pelo coronel Max Hoffmann, optou por atacar inicialmente o II
Exército, que se encontrava desgastado por uma penosa marcha. Rapidamente as unidades do VIII Exército
Alemão foram deslocadas por ferrovias em direção ao sul (6), onde cercaram o Exército de Samsonov em
Tannenberg. Enquanto isso, a fim de dissimular o ataque principal, o comandante alemão manteve apenas uma
divisão de cavalaria na frente do I Exército Russo (7).Após cercarem as tropas do II Exército Russo, os alemães
passaram a batê-las com intensos fogos de artilharia. Surpreendidos, os soldados de Samsonov entraram em
pânico, o que resultou, em 30 de agosto, na desintegração do II Exército Russo. Poucas unidades conseguiram
sair do cerco alemão, tendo Hindenburg conseguido uma importante vitória. Depois, o I Exército Russo foi
derrotado na Primeira Batalha dos Lagos Mazurianos (09 a 14 de setembro). Em Tannenberg, os alemães
tiveram cerca de 20 mil baixas, os russos 30 mil (outros 95 mil russos foram feitos prisioneiros).
245
Paralelamente aos ataques no leste da Alemanha, quatro exércitos russos
penetraram na Galícia (nordeste da Áustria-Hungria). Nos embates que se seguiram, os
russos venceram os austro-húngaros na Batalha de Lemberg (8 a 12 de setembro de
1914), passando a ocupar extensa faixa dentro do território inimigo.
Nos Bálcãs, no dia 11 de agosto de 1914, os austro-húngaros lançaram uma
ofensiva, esperando derrotar facilmente os sérvios e conquistar Belgrado. Os combates,
no entanto, prolongaram-se, e, para agravar a sua situação, os austro-húngaros tiveram
de transferir tropas para conter os russos que atacavam a Galícia. Aproveitando-se da
diminuição do poder de combate dos austro-húngaros, no dia 3 de dezembro de 1914,
em um ataque desesperado, os sérvios repeliram as forças invasoras para além do rio
Danúbio.
Em outubro de 1914, os turcos, que tinham estreitas ligações com o Império
Alemão, aliaram-se às Potências Centrais. Lançaram uma ofensiva sobre o Egito,
protetorado inglês, e outra no Cáucaso, contra os russos, mas ambas fracassaram. A
maior contribuição turca para o esforço de guerra das Potências Centrais, no entanto, foi
o fechamento dos estreitos de Bósforo e Dardanelos à navegação dos aliados. Essa medida prejudicou enormemente o comércio exterior russo, dependente em grande parte
dos portos do mar Negro.
Em resposta ao ataque turco, os britânicos lançaram, a partir do Egito e de
Basra (sul do Iraque), ofensivas contra o Império Otomano. As tropas britânicas, entre
sucessos e reveses e com apoio de árabes que viviam sob domínio turco, avançaram, nos
anos seguintes, vagarosamente para o norte, rumo a Bagdá e a Jerusalém.
Logo no início da guerra, a Marinha Britânica iniciou um bloqueio naval à
Alemanha, visando negar-lhe acesso a recursos vitais (alimentos e matérias-primas). Enquanto isso, na América Latina, em 1º de novembro de 1914, uma frota alemã, comandada pelo Vice-Almirante Graf Spee, conseguiu uma expressiva vitória sobre forças inglesas
em Colonel, na costa do Chile. Pouco tempo depois, porém, em 8 de dezembro de 1914,
nas proximidades das ilhas Malvinas, a frota de Spee foi interceptada e destruída pela
Marinha Britânica. Este fato asseguraria o controle dos oceanos pelos aliados durante o
restante da guerra.
A parte principal da frota de superfície alemã, por sua vez, permaneceu durante quase toda a guerra em seus portos, pouco cooperando para o esforço militar de
seu país. Somente em 1916, os receosos comandantes navais alemães decidiram medir
forças com a Marinha Inglesa. No embate que se seguiu, nos dias 30 e 31 de maio, o
maior da guerra, conhecido como Batalha de Jutlândia, os alemães levaram uma ligeira
vantagem, mas, após a batalha, retornaram com seus navios para as suas bases, de onde
não mais saíram.
O maior esforço naval alemão coube aos submarinos. Estes, no início do
conflito, foram incumbidos de realizar uma “guerra submarina irrestrita”, ou seja, deve246
riam afundar todos os navios aliados e neutros que se dirigissem às ilhas britânicas. Com
tal medida, os alemães pretendiam sufocar a economia britânica, impondo um bloqueio
semelhante ao que a Marinha Britânica fazia ao Império Alemão. O afundamento de navios de países neutros, entretanto, levou estes a pressionarem o governo alemão, que
suspendeu a ordem de se afundarem os navios de países que não participavam da guerra.
No Extremo-Oriente e na África,
A PARTICIPAÇÃO BRASILEIRA
nos primeiros meses de guerra, os aliados toQuando a guerra se iniciou, o Brasil
maram as colônias alemãs. A única exceção
adotou uma posição de neutralidade. Em
ocorreu na África Oriental Alemã, onde o ge1917, durante o governo de Venceslau Brás,
neral alemão Paul von Lettow-Vorbeck, à diversos navios mercantes brasileiros foram
frente de aproximadamente onze mil homens afundados por submarinos alemães. Esses
(a maioria nativos), resistiu até o final da guer- ataques germânicos levaram o Brasil a dera a cento e trinta mil soldados aliados, usando clarar guerra às Potências Centrais (26 de
outubro de 1917).
táticas de guerrilha.
Tendo em vista contribuir para o esO ano de 1915 se iniciou com o
forço
de
guerra aliado, o governo brasileiro
impasse na frente ocidental. Falkenhayn decidiu manter-se na defensiva neste setor e lançar enviou uma missão médica à França e emgrandes ofensivas no leste, onde as grandes penhou-se no sentido de fornecer matériasprimas e gêneros alimentícios aos aliados.
extensões territoriais impediam uma guerra de
No campo militar, a Marinha Brasitrincheiras. Seu objetivo era colocar a Rússia leira patrulhou o Atlântico; uma força naval
fora da guerra, fato que liberaria forças alemãs juntou-se à Marinha Inglesa (não chegou a
e austro-húngaras para outras frentes. combater); e um grupo de aviadores e ofiEm maio, forças austro-húngaro- ciais do exército integrou as forças armadas
alemãs desencadearam ofensivas planejadas aliadas.
por Falkenhayn contra os russos em Gorlice-Tornow. As ofensivas das potências centrais
obtiveram sucesso, permitindo-lhes reconquistar a Galícia, penetrar profundamente em
território russo e ocupar Varsóvia. Somente em setembro, o avanço austro-húngaro-alemão foi detido em uma linha defensiva estabelecida pelos russos, que se estendia do mar
Báltico aos Cárpatos (Riga a Czernowitz). Apesar dos reveses e das grandes perdas
materiais e humanas, o Império Russo manteve-se firme na guerra, frustrando as expectativas iniciais germânicas.
No oeste, os alemães lançaram apenas uma ofensiva na região de Flandres
(2ª Batalha de Ypres, de 22 de abril a 15 de maio de 1915), quando utilizaram experimentalmente gases venenosos que já haviam utilizado contra os russos em Bolinow, em
janeiro de 1915. A surpresa decorrente do uso da nova arma não foi aproveitada pelos
alemães e seu ataque foi barrado pelos aliados, que rapidamente tomaram medidas para
resistir aos efeitos dos gases.
Por outro lado, na frente ocidental, os aliados lançaram ofensivas nas regiões
de Artois (maio e setembro de 1915) e Champagne (setembro e outubro de 1915), com
o objetivo de recapturar territórios franceses e belgas. Pouco terreno foi conquistado,
247
PRINCIPAIS OFENSIVAS E BATALHAS DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
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MAR DO NORTE
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MAR MEDITERRÂNEO
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ALIADOS
248
POTÊNCIAS CENTRAIS
PAÍSES NEUTROS
1914
1 - INVASÃO ALEMÃ À FRANÇA
2 - OFENSIVA RUSSA SOBRE A PRÚSSIA ORIENTAL
3 - OFENSIVA RUSSA NA GALÍCIA
1915
4
5
6
7
8
9
1916
10 - OFENSIVA ALIADA NO SOMME
11 - OFENSIVA DE BRUSILOV
12 - BATALHA NAVAL DE JUTLÂNDIA
13 - OFENSIVA DE NIVELLE
1917
14 - OFENSIVA ALIADA EM FLANDRES
15 - BATALHA DE CAPORETTO
1918
16 - OFENSIVA DA PRIMAVERA
17 - BATALHA DE VITTORIO VENETO
- CAMPANHA ALEMÃ DE GORLICE-TORNOW
- OFENSIVA ALIADA EM ARTOIS
- OFENSIVA ALIADA EM CHAMPAGNE
- OFENSIVA ALIADA EM GALÍPOLI
- OCUPAÇÃO DA SÉRVIA PELAS POTÊNCIAS CENTRAIS
- OFENSIVA ALEMÃ EM VERDUN
com grande número de baixas. Os fracassos levaram à nomeação de um novo comandante inglês para a Frente Ocidental, o general Sir Douglas Haig.
Os aliados resolveram lançar uma ofensiva nos Bálcãs em 1915, com a finalidade de colocar o Império Otomano fora da guerra e, dessa forma, desbloquear os
portos russos do Mar Negro. O local escolhido foi a Península de Galípoli, onde tropas
australianas e neozelandesas foram desembarcadas em 25 de abril, tendo em vista conquistar Istambul. O ataque aliado, porém, esbarrou em uma feroz resistência turca. A
ofensiva estagnou-se e os combates tornaram-se semelhantes aos da frente ocidental.
Depois de pesadas baixas de ambos os lados, sem esperança de vitória, os aliados evacuaram suas tropas da península em janeiro de 1916.
Em 23 de maio de 1915, a Itália entrou na guerra ao lado dos aliados, que lhe
prometeram territórios da Áustria-Hungria.Até 1917, os italianos lançariam diversas ofensivas infrutíferas, com enorme número de baixas, sobre o sul do ImpérioAustro-Húngaro.
Este, já envolvido em difíceis lutas contra os russos e sérvios, permaneceu, na maior parte
do tempo, na defensiva na frente italiana, protegido pelo terreno montanhoso e por boas
posições.
Em agosto de 1915, os búlgaros entraram na guerra, optando por se aliarem
às potências centrais, que lhes prometeram terras macedônicas. Com apoio búlgaro, forças austro-húngaras e alemãs finalmente derrotaram e ocuparam a Sérvia. Os aliados
tentaram socorrer os sérvios desembarcando tropas em Salônica, na Grécia (5 de outubro de 1915), mas estas, com pouco poder de combate, foram detidas pelos búlgaros.
Os soldados remanescentes do Exército Sérvio retiraram-se para a Albânia, de onde
seguiram para a ilha de Corfu, no mar Adriático, a fim de se reorganizarem.
Quando o ano de 1916 se iniciou, as nações beligerantes ainda estavam dispostas a fazer grandes esforços para alcançar a vitória. Falkenhayn tinha em mente lançar
uma ofensiva na frente ocidental, com o objetivo de derrotar o Exército Francês através
de uma “batalha de desgaste”. Para isso, ele tencionava atacar intensivamente um setor
vital da linha francesa, para onde seriam atraídos os exércitos franceses e suas reservas,
que em seguida, iriam ser destruídos por fogos de artilharia. Verdun foi o local escolhido,
por permitir aos alemães concentrarem ao máximo sua artilharia contra os defensores e
por ser uma cidade afetiva e estrategicamente muito importante para os franceses.
Em 21 de fevereiro de 1916, o ataque alemão teve início e, como esperado,
os franceses resistiram. O general Henri Phillippe Pétain foi escolhido para liderar os
exércitos que defendiam Verdun. Quando o combate se intensificou, o comandante alemão percebeu que não estava atingindo seus objetivos, pois suas tropas se enfraqueciam
na mesma proporção com que desgastavam o inimigo.
Ao mesmo tempo em que os franceses resistiam em Verdun, os russos lançaram uma poderosa ofensiva sob o comando de general AlexeiAlekseevich Brusilov. Esta
não foi lançada em um setor restrito, como costumeiramente era feito, mas em um amplo
249
FORMA USUAL DE COMBATE NA GUERRA DE TRINCHEIRAS
ASSALTO ALEMÃO À TRINCHEIRA INGLESA
No início da guerra, os comandantes acreditavam resolutamente que a ofensiva móvel era
superior à defesa estática. Devido a isso, optaram por lançar seus soldados sobre as posições
inimigas sem se preocupar com o número de baixas.
Para romper as trincheiras, resolveram empregar a fórmula “a artilharia conquista, a infantaria
ocupa”. Desse modo, inicialmente eram lançados pesados fogos de artilharia sobre as posições
inimigas, a fim de destruí-las e eliminar seus ocupantes. Às vezes, as preparações levavam dias,
como durante a Batalha de Verdun, quando os alemães lançaram vinte e dois milhões de granadas
sobre as posições francesas. Em seguida, as divisões eram colocadas em linha e suas infantarias
lançavam-se para conquistar os objetivos, já batidos pela artilharia, e abrir brechas no sistema
defensivo adversário. Depois, caso os infantes obtivessem sucesso, a cavalaria seria lançada pelas
brechas para aproveitar o êxito.
Tal processo de combate, no entanto, não surtiu os efeitos desejados, pois a artilharia mostrou-se incapaz de destruir totalmente as posições e os defensores inimigos. Em virtude disso, os
infantes quando atacavam (normalmente vagarosamente e em formações emassadas), eram alvos
dos fogos da artilharia e dos infantes inimigos, que, abrigados em posições fortificadas, os abatiam
facilmente com fogos de metralhadoras e fuzis. O resultado, na maioria dos casos, era o malogro do
ataque, ficando a cavalaria sem poder entrar em ação.
Por vezes, a infantaria conseguia abrir uma pequena brecha no dispositivo adversário, mas
falhas rotineiras nas comunicações (os rádios eram pesados e não confiáveis, os telefones tinham
suas linhas cortadas pelos fogos inimigos, muitos mensageiros eram mortos) impediam que os
comandantes enviassem reservas para o local em tempo útil. Os defensores, pelo contrário, quando
percebiam uma brecha em seu dispositivo, rapidamente deslocavam tropas reservas para o setor
ameaçado. O rápido emprego das reservas por parte dos defensores, nos locais e momentos adequados, era facilitado pelos prolongados fogos de artilharia do atacante, que denunciavam o local da
ofensiva. Por isso, os infantes que conseguiam se apossar de um pequeno trecho da linha inimiga
ficavam isolados, incapazes de resistir a uma contraofensiva.
Com o passar do tempo, os defensores passaram a construir segundas posições, o que
dificultou mais ainda as ações ofensivas. Em suma, o fogo prevalecia sobre o movimento.
250
ARMAS DA GUERRA
O AVIÃO
O potencial bélico do avião, inventado no início
do século XX, foi logo percebido pelos comandantes
militares. No início da guerra, as aeronaves eram frágeis
e utilizadas apenas em missões de reconhecimento e
bombardeio. Entretanto, os beligerantes sentiram a necessidade de possuírem a supremacia aérea nos campos de batalha, surgindo, em decorrência, aviões de
combate (caças), armados com metralhadoras, que passaram a duelar nos ares.
Entre outros modelos, os alemães empregaram
o bombardeiro Gotha G IV e o Caça Fokker D VII; os
franceses, o bombardeiro Caudron R-11 e o caça SPAD
XIII; e os ingleses, o bombardeiro Handley Page V/
1500 e o caça Bristol F.2b.
Os alemães também fizeram uso de enormes balões dirigíveis (zepelins) para bombardear o inimigo.
Mas, por serem inflados com hidrogênio, os aeróstatos
eram muito vulneráveis à artilharia e aos projéteis incendiários dos caças inimigos.
O CARRO-DE -COMBATE
Tendo em vista romper o impasse na frente ocidental, os aliados resolveram desenvolver um veículo
blindando capaz de penetrar nas defesas adversárias.
Os ingleses construíram o Mark IV, cujas principais características eram a guarnição de 8 homens (comandante, motorista, 2 orientadores e 4 artilheiros); peso
de 28,5 toneladas; à gasolina; velocidade máxima de 5,6
km/h; autonomia de 56 km; dois canhões de 57mm e 4
metralhadoras de 7,7mm; blindagem com 16mm (frente),
12mm (lados) e 8 mm (teto). Os franceses desenvolveram o Renault FT-17 e o Schneider CA 1, similares ao
Mark IV.
Os franceses utilizaram os carros-de-combate
como artilharia de apoio, enquanto os ingleses os usaram em apoio à infantaria. Os alemães não priorizaram a
fabricação de carros-de-combate, dando preferência às
armas anticarro.
Embora causassem surpresa ao inimigo, muitos
carros-de-combate tiveram problemas mecânicos, caíram em valas ou atolaram quando empregados, não tendo um papel decisivo no desfecho da guerra.
251
setor da frente oriental. Apesar do enorme número de baixas russas, o plano de Brusilov
obteve êxito, tendo suas tropas avançado cerca de cinquenta quilômetros em toda a área
atacada. Paralelamente, os ingleses realizaram ofensivas na região da Picardia (Somme julho a novembro de 1916), onde empregaram, pela primeira vez, alguns carros-de-combate. Mesmo surpresos diante da nova arma inimiga, os alemães reagiram, e a ofensiva
britânica não atingiu os resultados esperados. O esforço inglês, juntamente com a ofensiva
de Brusilov, serviram para aliviar a pressão dos alemães sobre os franceses em Verdun.
A partir de julho de 1916, os alemães passaram a transferir tropas de Verdun
para o Somme, onde eramatacados pelos ingleses, o que indicava que o plano de Falkenhayn
de destruir o Exército Francês em Verdun fracassara (os combates nessa região prosseguiram com menos intensidade até dezembro de 1916, quando as perdas humanas, entre
mortos e feridos, contavam 362.000 franceses e 336.000 alemães). Em virtude do revés
em Verdun, Falkenhayn acabou substituído pelo general von Hindenburg (29 de agosto
de 1916).
Nos Bálcãs, em agosto de 1916, os romenos aderiram aos aliados (27 de
agosto), que lhes prometeram territórios austro-húngaros. ARomênia, no entanto, estava
em uma posição estratégica delicada, pois fazia fronteira com a Bulgária e o Império
Austro-Húngaro. Os romenos lançaram uma ofensiva sobre o Império Austro-Húngaro,
mas tropas dos países centrais rapidamente contra-atacaram e ocuparam quase toda a
Romênia.
No início de 1917, os fracassos das ofensivas já começavam a desestruturar
as instituições dos países beligerantes e a abalar o moral dos civis e dos combatentes. Isso
ocorria porque nas rotineiras batalhas infrutíferas, o número de mortos e feridos era
contado na casa dos milhares (no primeiro dia da ofensiva do Somme, os britânicos
tiveram 57.470 baixas). Mesmo assim, os aliados e os alemães tinham expectativas
TRINCHEIRAS
252
de encerrar a guerra na frente ocidental nesse ano. O general Robert Nivelle, nomeado
comandante geral do Exército Francês, marcou uma grande ofensiva para o início da
primavera. Os britânicos, da mesma forma, esperavam lançar potentes ataques. Já o general Hindenburg chegara à conclusão de que a guerra de atrito beneficiava os aliados,
que possuíam maiores recursos, portanto os alemães deveriam manter-se momentaneamente na defensiva.
Nivelle lançou sua ofensiva em “Chemin des Dames”, no Aisne, mas os alemães estavam preparados. Teve início, então, a 2ª Batalha do Aisne (16 de abril a 9 de
maio de 1917), na qual os franceses foram repelidos, com grande quantidade de baixas.
O fracasso ocasionou grandes descontentamentos, levando muitos soldados, esgotados
pelos esforços de guerra, a amotinar-se. Eles não queriam mais participar de ações ofensivas, embora se mostrassem dispostos a lutar defensivamente.
Nivelle foi destituído do comando em 15 de maio de 1917, sendo substituído
por Pétain. O novo comandante atendeu muitas das reivindicações da tropa, reconquistando a confiança dos soldados. O Exército Francês, porém, foi mantido na defensiva até
que recobrasse o ânimo. Os ingleses, ao contrário, realizaram novas ofensivas na região
de Artois (Batalha de Arras, de 9 de abril a 16 de maio de 1917), na região de Flandres
(3ª Batalha de Ypres, de 31 de julho a 6 de novembro de 1917), e na região de NordPas-de-Calais. Na ofensiva em Nord-Pas-de-Calais, na Batalha de Cambrai (25 de novembro a 6 de dezembro de 1917), os britânicos empregaram em massa cerca de duzentos carros-de-combate. Tal medida, contudo, não lhes trouxe resultados expressivos.
Os aliados ganharam pouco terreno em suas ofensivas e tiveram um grande
número de baixas. Os alemães também sofreram duras baixas e o desgaste de seu exército passou a preocupar o alto comando. Com o fracasso das operações, o impasse na
frente ocidental continuava quando o ano de 1917 terminou.
Na frente italiana, em outubro de 1917, os países centrais, empregando novos processos de combate ofensivo (infiltração tática e grupos de assaltos), lançaram
uma grande ofensiva, fazendo a linha defensiva italiana ceder (Batalha de Caporetto, de
24 de outubro a 29 de novembro). Os italianos foram obrigados a recuar 110 quilômetros
até o rio Piave, onde, com apoio de franceses e britânicos, detiveram o inimigo.
Também em 1917 aconteceram fatos importantes para o desfecho da guerra.
Em 31 de janeiro, o governo alemão lançou mão de forma irreversível da “guerra submarina irrestrita”. O resultado não foi o esperado, já que a economia britânica resistiu, e o
afundamento de navios norte-americanos levou a opinião pública dos Estados Unidos a
se voltar contra a Alemanha. O governo norte-americano, influenciado ainda por uma
forte parceria econômica com as nações aliadas, declarou guerra à Alemanha (6 de
abril). O Exército Norte-Americano, porém, não estava preparado para um confronto em
larga escala. Desse modo, sua presença na frente ocidental, sob o comando do general
John Pershing, só seria sentida efetivamente no ano seguinte.
253
A REVOLUÇÃO RUSSA
No início do século XX, intensificou-se uma crise político-econômico-social há
muito presente no Império Russo. As péssimas condições de vida de operários e camponeses, a derrota na Guerra Russo-Japonesa e a propagação de ideias revolucionárias
minavam o poder autocrático do czar Nicolau II.
Quando a I Guerra Mundial teve início, o soberano russo conseguiu unir a nação em
torno de uma causa comum: vencer as Potências Centrais. A prometida vitória, porém,
não veio, apesar dos esforços materiais do governo e da tenacidade dos soldados, que
morriam aos milhares na frente de combate.
Os insucessos nos campos de batalha somaram-se à falta de alimentos e às agitações populares, criando um ambiente de descontentamento geral. Em março de 1917, o
czar, pressionado, abdicou, e o Império Russo foi dissolvido. O governo na Rússia passou
a ser exercido por uma coalizão de socialistas moderados (mencheviques) e burgueses
liberais. O líder do novo governo, Aleksander Kerenski, manteve a Rússia na guerra.
Novos fracassos militares, no entanto, aumentaram a crise interna e esfacelaram as
instituições russas. Aproveitando-se disso, em novembro de 1917, socialistas radicais
(bolcheviques) assumiram o poder. Os bolcheviques retiraram a Rússia da guerra, venceram seus inimigos internos em uma guerra civil e fundaram, em 1922, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, o primeiro Estado de caráter socialista da História.
Na Rússia, desgastes ocasionados pela guerra somaram-se a crises internas,
provocando a Revolução de Fevereiro. O czar foi obrigado a abdicar, sendo sucedido
por Aleksander Kerenski, líder de um governo provisório. Kerenski optou por manter a
Rússia na guerra e por lançar uma grande ofensiva contra os alemães, sobre a qual se
depositaram enormes expectativas de vitória.
O ataque, entretanto, fracassou, provocando a desagregação do Exército
Russo. Soldados passaram a desertar, pilhando o que encontravam em seu retorno para
casa.Aproveitando-se da situação, revolucionários bolcheviques assumiram o poder (Revolução de Outubro). Os novos líderes retiraram a Rússia da guerra, assinando com os
alemães, em 3 de março do ano seguinte, o desvantajoso Tratado de Brest-Litovsk, pelo
qual cediam muitos territórios e importantes áreas industriais e agrícolas à Alemanha.
Ainda em 1917, a Grécia, que esperava apossar-se de territórios turcos, juntou-se aos aliados.
Em 1918, os alemães decidiram lançar uma ofensiva decisiva com todos os
seus meios na Frente Ocidental, para acabar de vez com a guerra. Vários motivos levavam os comandantes alemães a optarem por esta linha de ação: suas tropas momentaneamente dispunham de superioridade numérica na frente ocidental (208 divisões contra
179 aliadas), graças aos efetivos liberados da frente oriental devido à saída da
Rússia da guerra; a economia alemã, devido ao esforço de guerra e ao bloqueio naval
254
PROCESSOS DE COMBATE
A INFILTRAÇÃO TÁTICA
2
3
1
4
34
Em uma ação ofensiva, tipo “infiltração tática”, não havia uma longa preparação de artilharia, para que
o local do ataque não fosse denunciado. As unidades do primeiro escalão de ataque deslocavam-se para as suas
posições de partida durante a noite, pouco tempo antes do momento marcado para o início das ações. A artilharia
fazia, então, se fosse o caso, uma breve mas intensa preparação de fogos. Em seguida, as unidades do primeiro
escalão (1) infiltravam-se através dos pontos fracos do dispositivo do adversário (2), ultrapassando os pontos
fortes (3), que só posteriormente deveriam ser destruídos por elementos do segundo escalão ou da reserva. Os
elementos do primeiro escalão de ataque conduziam armas coletivas leves (metralhadoras e morteiro leves) e
eram apoiados em sua progressão por uma barragem rolante de artilharia (ocorria uma sincronização entre os
fogos de artilharia e o avanço da infantaria). Os elementos do primeiro escalão de ataque, uma vez infiltrados,
atuavam na retaguarda inimiga (4), desestabilizando o sistema defensivo adversário, com vistas a enfraquecer os
pontos fortes inimigos. A reserva era empregada no aproveitamento do êxito e não para a correção de falhas,
como então era habitual.
OS GRUPOS DE COMBATE
2
3
1
Com o advento, no século XIX, das armas de fogo de tiro rápido e longo alcance, as infantarias passaram
a sofrer grande número de baixas ao assaltar uma posição defensiva. Isto ocorria porque os infantes, ao atacar,
grupados em formações compactas, ficavam muito tempo expostos aos fogos inimigos. A infantaria, portanto,
não sabia progredir no terreno combinando adequadamente o fogo e o movimento. Nos primeiros anos da
Primeira Guerra Mundial, este problema persistiu, sendo um dos motivos do elevado número de baixas do
conflito. No final da guerra, a combinação do fogo e movimento foi resolvida pelos alemães, que passaram a diluir
suas formações. As frações alemãs foram divididas em grupos de combate (célula de infantaria), que atuavam se
apoiando. Durante a progressão rumo à posição inimiga (2), um grupo avançava realizando lanços (movimento)
(3), enquanto o outro, abrigado, o apoiava, disparando sobre o inimigo (fogo) (1). Depois as funções eram
invertidas e o processo repetido, até que os grupos chegassem à posição inimiga.
34
A “infiltração tática” usada pelos alemães na I Guerra Mundial não tem qualquer relação com o conceito de “infiltração tática” da atual doutrina brasileira.
255
PROCESSOS DE COMBATE: DEFESA EM PROFUNDIDADE
1
10 a 25 km
2
3
4
Durante a guerra, os beligerantes aperfeiçoaram seus sistemas defensivos. As formações lineares de pouca
profundidade, características dos primeiros tempos da guerra, foram substituídas por um dispositivo no qual a
infantaria era escalonada em profundidade (não mais em linhas contínuas). Assim, a conquista pelo atacante das
partes mais avançadas do sistema defensivo não constituía uma brecha, como anteriormente, e, por conseguinte, só
parcialmente infligia danos ao conjunto da defesa. O dispositivo defensivo passou a corresponder a uma zona
fortificada de 10 a 25 km de profundidade, sendo a defesa efetuada nessa zona. A frente do dispositivo defensivo
ficavam postos avançados (1), com fraco poder de combate, mas bem apoiados por fogos de artilharia, que tinham
a missão de detectar ações inimigas e repeli-las, se estas fossem de pequena monta. Logo depois era estabelecida a
“posição de resistência” (2), dotada da maior parte dos meios, que tinha a missão principal de defesa. À retaguarda
da “posição de resistência” era disposta uma segunda posição defensiva (3). Finalmente, atrás da segunda posição
defensiva, eram posicionadas tropas reservas (4) para apoiar, se fosse o caso, as ações defensivas ou realizar contraataques. Trincheiras defensivas e de ligação, espaldões e abrigos de diversos tipos, flanqueavam-se e cobriam-se
mutuamente. Redes de arame farpado e obstáculos batidos por fogos de armas automáticas as protegiam. Localidades
e bosques eram organizados como pontos de apoio. Tudo isto constituía um sistema de defesa, que seria potente sem
ser rígido.
FRENTE OCIDENTAL
CAMPO DE BATALHA
256
CANHÃO DE LONGO ALCANCE ALEMÃO
britânico, estava entrando em colapso, com repercussões danosas para a ordem política
e social; os novos métodos de combate alemães, testados em Caporetto, haviam surtido
bons resultados; e a crescente presença norte-americana na frente ocidental, em recursos
e homens, indubitavelmente, faria a vitória pender para os aliados a curto prazo.
O ataque que decidiria a sorte da Alemanha na guerra (ofensiva da primavera) foi lançado em 27 de março de 1918. Apesar de sucessos iniciais, as tropas alemãs
foram detidas de forma decisiva na 2ª Batalha do Rio Marne (15 de julho a 6 de agosto).
Derrotados, os alemães recuaram para uma linha, denominada Hindenburg. Restava, agora,
aos germânicos somente as alternativas de se manter na defensiva ou de procurar a paz.
Nos meses de setembro a novembro de 1918, os aliados passaram a pressionar seus inimigos em todas as frentes. No Oriente Médio, os turcos, após perderem o
controle sobre as cidades de Jerusalém, Bagdá e Damasco, solicitaram o armistício (30
de outubro). Na frente italiana, o Império Austro-Húngaro pediu a suspensão das hostiFRENTE OCIDENTAL, 1914-18
REINO
UNIDO
MAR DO
NORTE
Amsterdã
HOLANDA
Antuérpia
REN
Ostende
O
R
YSE
Ypres
Arras
Bruxelas
ALEMANHA
BÉLGICA
Cambrai
LEGENDA
SOMM
E
LUX.
AISNE
SE
NA
MARNE
FRONTEIRAS: 03 DE AGOSTO DE 1914
Sedan
Verdun
Metz
LIMITE DO AVANÇO ALEMÃO: SET 1914
Paris
LINHA DE TRINCHEIRAS: 1914 - 1917
LIMITE DA OF. DA PRIMAVERA: 1918
Belfort
LINHA DO ARMISTÍCIO: NOV. DE 1918
FRANÇA
SUÍÇA
257
lidades, após ser derrotado pelos italianos na Batalha de Vittorio Veneto (23 de outubro a
3 de novembro). Nos Bálcãs, a Bulgária também resolveu entrar em negociações. Na
frente ocidental, os aliados, fazendo uso de centenas de carros-de-combate, obrigaram
os alemães a recuar e romperam a linha Hindenburg (27 a 30 de setembro).
Isolado, esgotado material e moralmente, o Império Alemão começou a se
desestruturar. Irromperam motins na Marinha e agitações populares agravaram a situação. O Kaiser Guilherme II, ao perder o apoio do exército, abdicou dando ensejo à
instauração de uma república. Os novos governantes, sem esperança de vitória, procuraram os aliados para firmar um armistício, que foi assinado em Compiègne (11 de novembro), pondo fim às hostilidades.
Ao armistício seguiram-se, em janeiro de 1919, na cidade de Paris, conferências de paz, profundamente influenciadas pela França, Inglaterra e Estados Unidos. As
conversações tinham como objetivos principais redesenhar o mapa europeu, atendendo
aos interesses das diversas nacionalidades (basicamente, a constituição de Estados-nações étnico-linguísticos), e enfraquecer aAlemanha e o governo bolchevique recém-instalado na Rússia.
Com o governo alemão foi firmado o Tratado de Versalhes, segundo o qual,
territorialmente, aAlemanha cedeu aAlsácia-Lorena à França; Eupen-Malmédy à Bélgica; a maior parte da província de Posen (“corredor polonês”) à Polônia; o Schleswig do
norte à Dinamarca; Memel à Lituânia; suas colônias à França, Inglaterra, Japão e África
do Sul; e, ainda, a cidade de Dantzig foi transformada em cidade livre. Economicamente,
os alemães tiveram de ceder a Bacia do Sarre (rica em carvão) à exploração francesa por
quinze anos, entregar as jazidas carboníferas da Alta Silésia à Polônia e passar boa parte
de seus navios mercantes e locomotivas às potências aliadas. Financeiramente, foram
confiscados todos os investimentos e bens alemães no estrangeiro (nacionais ou privados)
e uma Comissão de Reparação foi designada para avaliar o montante a ser pago pelo
governo alemão aos aliados, a título de reparação de guerra (calculado em 132 bilhões
de marcos). Militarmente, a Renânia foi desmilitarizada; a MarinhaAlemã foi proibida de
possuir encouraçados e submarinos; o Exército não poderia ter efetivo superior a cem mil
homens, além de ficar proibido de equipar-se com carros-de-combate, caminhões pesados e artilharia antiaérea; e a força aérea devia ser extinta. Amaior humilhação imposta à
Alemanha, entretanto, foi uma cláusula moral, na qual os aliados, mediante ameaça de
ocupação, obrigaram os alemães a assumir a culpa pelo desencadeamento da guerra.
O Tratado de Saint-Germain, firmado entre os aliados ocidentais e o recéminstituído governo austríaco, determinou a dissolução do Império Austro-Húngaro, cujas
partes deram origem a novos países (Áustria, Hungria e Tchecoslováquia) ou foram cedidos à Itália, Polônia, Romênia e Iugoslávia. A Áustria também foi proibida de unir-se,
política ou economicamente, àAlemanha.
Com a Hungria foi assinado o Tratado de Trianon, pelo qual os húngaros
258
EUROPA EM 1919
EG
A
ISLÂNDIA
ÂN
TI
CO
NO
RU
FINLÂNDIA
SUÉCIA
ESTÔNIA
EA
NO
AT
L
MAR DO NORTE
OC
REINO UNIDO
LETÔNIA
DINAMARCA
RÚSSIA
LITUÂNIA
HOLANDA
BÉLGICA ALEMANHA
POLÔNIA
LUXEMBURGO
T CH E C
FRANÇA
SUÍÇA
OSL OV
UG
AL
IU
G
RT
ESPANHA
ITÁLIA
PO
Á Q UIA
ÁUSTRIA
HUNGRIA
MAR MEDITERRÂNEO
O
ROMÊNIA
SL
ÁV
IA BULGÁRIA
IMP
ÉR
ALBÂNIA
GRÉCIA
MAR NEGRO
IO
OT
OM
A
NO
ÁFRICA
NOVOS PAÍSES
cederam territórios à Romênia, Iugoslávia e Tchecoslováquia, perdendo o acesso que
tinham ao mar.
Ao Império Otomano, que em 1923 deixaria de existir, foi imposto o Tratado
de Sèvres, pelo qual os turcos perdiam a Palestina, a Síria, o Líbano, a Mesopotâmia e a
Esmirna (recuperada, pouco tempo depois, pelos turcos em uma guerra contra a Grécia).
Os estreitos de Bósforo e dos Dardanelos foram declarados neutros, sendo sua travessia
permitida a todos os navios estrangeiros, mercantes ou de guerra, em quaisquer circunstâncias.
A Rússia, governada pelos bolcheviques, vista com desconfiança pelas nações vencedoras, perdeu grandes extensões territoriais. Dos antigos domínios do czar
originaram-se quatro novos Estados: Finlândia, Letônia, Estônia e Lituânia. Além disso,
os russos cederam grande parte do território que deu origem à Polônia e perderem a
Bessarábia para a Romênia.
Uma “grande Sérvia” foi formada com o nome de Iugoslávia (eslavos do sul),
abrangendo a Sérvia, Montenegro, Eslovênia, Croácia, Bósnia-Herzegovínia, Dalmácia e
parte da Macedônia.
259
As potências vencedoras esperavam que os tratados impostos aos derrotados evitassem um novo conflito, pois a guerra trouxera consequências catastróficas para
os principais países europeus. Dentre estas, a queda de três impérios tradicionais (Alemão, Austro-Húngaro e Russo); e a morte de cerca de oito milhões de soldados (outros
vinte milhões ficaram feridos) e de aproximadamente doze milhões de civis (em virtude da
falta de alimentos, epidemias e massacres). Também obrigou os governos a despenderem
recursos vultosos, muito acima de sua capacidade, o que fez com que dívidas nacionais
aumentassem e sistemas monetários entrassem em crise; e arruinou economias nacionais,
devido à destruição de grande número de indústrias, campos agrícolas e navios
mercantes.
Tais consequências refletem o caráter total da Primeira Guerra Mundial, travada até as últimas forças por governos cientes de que o resultado final do embate poderia significar a própria sobrevivência dos seus estados.
Nos combates, foram utilizados todos os meios possíveis para superar o inimigo, mesmo os de uso controverso, como o afundamento de navios de passageiros,
bombardeios de cidades e uso de gases venenosos. Os esforços de guerra nacionais
implicaram em ampla mobilização das populações (os homens capazes iam para a frente
de combate, enquanto as mulheres os substituíam nos campos e fábricas) e das economias (direcionadas para a produção de alimentos, suprimentos e armamentos). O conflito
foi tridimensional (ocorreram combates no mar, ar e terra) e psicológico (bloqueios
econômicos e propagandas realizados para abater as forças morais do inimigo).
Ao término da guerra, os países europeus, mesmo os vitoriosos, estavam
enfraquecidos. Perderam espaço para os Estados Unidos, que se tornaram, indiscutivelmente, a maior potência econômica mundial. Um órgão internacional, denominado Liga
das Nações, foi criado para promover a cooperação e manter a paz mundial, embora não
viesse a se mostrar à altura de sua missão.
260
CAPÍTULO 24
A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
“Embora grande parte da Europa e antiquíssimos e famosos Estados hajam caído ou possam ainda cair nas garras da Gestapo e de todo o
odioso aparato nazista, não haveremos de ceder nem fracassar. Iremos até
o fim: lutaremos na França, lutaremos nos mares e oceanos, lutaremos,
com crescente confiança e poderio, no ar; defenderemos nossa ilha custe o
que custar; lutaremos nas praias, lutaremos nos aeródromos, lutaremos
nos campos, nas ruas, nas colinas; jamais nos renderemos, e mesmo que –
o que não creio sequer por um momento – esta ilha ou uma grande parte
dela seja subjugada e esteja passando fome, nosso império de além-mar,
armado e guardado pela esquadra britânica, continuará a lutar até que,
quando Deus quiser, o Novo Mundo, com toda a sua força e poderio, se
ponha em marcha para socorrer e libertar o velho”. 36
Winston Churchill, primeiro-ministro inglês
A Segunda Guerra Mundial começou a delinear-se na década de 1930, quando
os líderes do Japão, Itália e Alemanha deram início a uma política de expansão territorial.
Os governantes japoneses ordenaram a ocupação de diversas regiões da China, desejosos de obter a autossuficiência econômica para seu país. O líder fascista italiano Benito
Mussolini ordenou anexação daAbissínia (Etiópia) e a ocupação daAlbânia, tencionando
aumentar a grandeza de sua nação. O dirigente da Alemanha, Adolf Hitler, anexou, através de plebiscitos, o Sarre (região alemã que estava sob administração da Liga das Nações) e a Áustria (nação germânica que estava proibida de unir-se à Alemanha pelo Tratado de Germain, de 1919), e por meio de pressões diplomáticas, os Sudetos e Memel
(territórios habitados por alemães, que faziam parte da Tchecoslováquia e Lituânia, respectivamente). Em 1939, o líder alemão pôs fim à Tchecoslováquia ao mandar suas tropas ocuparem a parte do país habitada pelos tchecos (Boêmia e a Morávia ). Os eslovacos
formaram seu próprio Estado, tutelado pelos alemães.
As outras potências mundiais, Estados Unidos, URSS, França e Inglaterra,
não se sentiram animadas a tomar medidas sérias em represália às agressões nipo-teutoitalianas. Isso ocorreu porque os norte-americanos adotavam uma postura isolacionista,
os soviéticos consolidavam internamente o socialismo, e os ingleses e os franceses
seguiam uma política de apaziguamento.
Hitler, todavia, não estava satisfeito com os ganhos territoriais obtidos, pois
pretendia conquistar áreas que considerava vitais (“Lebensraum”) para o aumento do
poderio nacional germânico (territórios perdidos pelaAlemanha na Primeira Guerra Mundial e outras regiões da Europa Oriental).
36
Apud YOUNG, 1980, p.53.
269
Para dar continuidade ao seu projeto expansionista, o governante alemão
optou por conquistar territórios poloneses, embora previsse que tal ação poderia provocar um conflito armado de largas proporções, já que a Inglaterra e a França comprometeram-se em apoiar a Polônia em caso de uma invasão alemã. A maior preocupação de
Hitler, não obstante, era com a União das Repúblicas Socialista Soviéticas (URSS), governada por Josef Stalin, pois os alemães desejavam evitar uma guerra em duas frentes,
como ocorrera na Primeira Guerra Mundial.
Para o espanto dos líderes da França e da Inglaterra, em 23 de agosto de
1939, a Alemanha e a União Soviética, de regimes políticos diametralmente opostos,
firmaram um pacto de não-agressão. O pacto era conveniente para Hitler porque possibilitaria um ataque alemão à Polônia sem a ingerência dos soviéticos; para Stalin era importante porque lhe daria tempo para reorganizar as Forças Armadas Soviéticas, que se
encontravam fragilizadas em virtude de um expurgo realizado no seio da alta oficialidade
pelo próprio líder comunista. Pelo pacto também ficou acordado que os signatários poderiam, sem interferência de um ou do outro, reconquistar territórios perdidos na Primeira
Guerra Mundial. Assim, a Alemanha poderia anexar a metade ocidental do território
polonês; a URSS, a metade oriental da Polônia, a Estônia, a Lituânia, a Letônia, a Bessarábia
e partes da Finlândia.
Livre de uma guerra em duas frentes, Hitler sentiu-se confiante para lançar
uma campanha contra a Polônia, que se iniciou em 1° de setembro de 1939, quando as
Forças Armadas Alemãs, de surpresa e sem declarar guerra, invadiram o território polonês. Dois dias depois, a Inglaterra e a França, em retaliação, declararam guerra à
Alemanha.
No embate teuto-polaco que se iniciava, somente o valor moral dos
contendores se equivalia, pois, em todos os outros aspectos, as Forças Armadas Alemãs
eram superiores. A Força Aérea Alemã (Luftwaffe) contava com modernos caças e bombardeiros, enquanto a polonesa só possuía aeronaves obsoletas. O Exército Alemão dispunha de 51 divisões (10 blindadas e 4 motorizadas), contra as quais os poloneses poderiam destacar 39 divisões (nenhuma blindada). AMarinhaAlemã era superior em quantidade e qualidade à polonesa.
O diferencial principal entre as forças armadas adversárias, no entanto, estava centrado nos processos de combate empregados. Os alemães utilizavam a “blitzkrieg”,
que consistia no emprego combinado da aviação e de unidades blindadas, motorizadas e
a pé, em ações coordenadas por comunicação com rádio e marcadas pela surpresa e
rapidez. Em contrapartida, os poloneses adotavam métodos lentos e antiquados, típicos
da Primeira Guerra Mundial.
A ofensiva alemã, denominada Operação Queda Branca (“Unternehmen Fall
Weiß”) foi iniciada pela Luftwaffe, que destruiu as bases aéreas polonesas e conquistou
rapidamente a supremacia aérea, ficando em condições de apoiar as operações terrestres. A Marinha Alemã, em pouco tempo, controlou o litoral polonês, passando
270
FORMA USUAL DE EMPREGO DA BLITZKRIEG
5
3
4
6
7
1
2
Os alemães conseguiram rápidas e expressivas vitórias no início da Segunda Guerra
Mundial, por empregarem um processo de combate inovador, desenvolvido no período entreguerras,
principalmente por Heinz Guderian, denominado “blitzkrieg” (guerra relâmpago). Tratava-se do
emprego tático combinado da aviação e de unidades blindadas, motorizadas e a pé, em ações
coordenadas por comunicação com rádio e marcadas pela surpresa e rapidez.
Inicialmente era estabelecido um objetivo estratégico que deveria ser alcançado pelas grandes unidades blindadas. O ataque iniciava-se pela ação de caças e bombardeiros, que,
agindo como uma “artilharia aérea”, destruíam campos de pouso, estações ferroviárias, depósitos
de combustíveis, pontes, quartéis-generais, entre outros alvos, a fim de desarticular as posições
defensivas inimigas. A artilharia contribuía, de acordo com suas possibilidade, nesse esforço.
Tropas paraquedistas podiam ser lançadas para conquistar áreas importantes para o prosseguimento das operações, ou para desorganizar ainda mais o sistema defensivo inimigo.
Paralelamente, ou mesmo antes do início das operações, tropas terrestres pressionavam toda a frente inimiga (reconhecimento em força) para localizar os pontos fortes (1) e fracos (2)
do dispositivo inimigo. Feitos os reconhecimentos, poderosas investidas blindadas (3) eram realizadas para abrir brechas de 2 a 3 km nos pontos fracos. Os pontos fortes eram desbordados, para
posterior destruição. Após passar pelas brechas, as forças blindadas poderiam, dependendo o
caso, seguir para o objetivo final (4), causando a maior quantidade de danos possíveis ao adversário, ou isolar os pontos fortes que haviam ultrapassado (5), enfraquecendo-os (dependendo do
caso, as duas operações poderiam ser realizadas conjuntamente). Unidades motorizadas seguiam
as blindadas (6), procurando alargar as brechas. Por fim vinham divisões a pé (7), às quais cabia
reduzir os pontos fortes, agora enfraquecidos pela ação das forças de primeiro escalão. Todas as
operações terrestres eram apoiadas pela força aérea.
Alcançado o objetivo estratégico, outros eram traçados, e as operações prosseguiam. Os defensores inimigos tinham poucas opções: podiam permanecer em suas posições isoladas, enfraquecendo-se continuamente em virtude das baixas e da falta de suprimento; ou procurar
retrair, sendo, nesse caso, atacados pelos aviões e perseguidos pelos blindados, que impediam
qualquer tentativa de reorganização.
271
a bombardear as defesas costeiras. Por terra, os alemães avançaram, a partir da Silésia,
Pomerânia, Prússia Oriental e Eslováquia, e, com velocidade, cercaram e destruíram diversas unidades polonesas, que haviam sido posicionadas de forma dispersa ao longo
das fronteiras. Os comandantes militares poloneses tinham dispersado suas unidades com
o intuito de proteger importantes áreas industriais, mas tal medida acarretou no enfraquecimento do Exército Polonês em todos os setores.
Os poloneses lançaram algumas contraofensivas desesperadas, que fracassaram. Para agravar a situação polonesa, no dia 17 de setembro de 1939, forças soviéticas
invadiram a Polônia pelo leste, conforme o acordado no pacto de não-agressão teutosoviético.
Em 18 de setembro de 1939, o governo polonês, sem esperança de reverter
a situação, já que seus aliados franceses e ingleses não esboçaram pronta reação militar,
refugiou-se na Romênia, estabelecendo um governo no exílio, transferido, posteriormente, para a França e, mais tarde, para a Grã-Bretanha.
No dia 27 de setembro de 1939, a capital polonesa, Varsóvia, caiu sob o
poder dos alemães. Encerrava-se, dessa forma, a primeira campanha da guerra.APolônia
foi dividida por alemães e soviéticos, mas muitos poloneses, no exílio, se reagrupariam e
continuariam a lutar para restabelecer a independência de sua pátria.
O passo seguinte foi dado por Stalin, que ordenou a invasão da Finlândia,
tendo em vista conquistar territórios considerados vitais para a segurança da URSS. Com
100 divisões, 3.200 carros-de-combate e 2.500 aviões, os soviéticos esperavam bater
facilmente as Forças Armadas Finlandesas, compostas por 3 divisões e alguns poucos
aviões obsoletos.
Em 30 de novembro de 1939, os soviéticos iniciaram a ofensiva. Os finlandeses resolveramresistir à investida inimiga emuma linha defensiva denominada Mannerheim,
situada entre o lago Ladoga e o golfo da Finlândia. O avanço soviético foi retardado pelo
terreno acidentado, coberto por florestas e densas camadas de neve, e pela ação de
rápidas patrulhas finlandesas, que emboscavam as unidades inimigas.
Os soviéticos tiveram maiores problemas ao se depararem com a Linha
Mannerheim, pois, ao tentarem rompê-la, empregando processos de combate semelhantes aos da Primeira Guerra Mundial, tiveram resultados desastrosos. Paralelamente, os
soviéticos lançaram grandes bombardeios aéreos sobre posições e cidades finlandesas,
que poucos resultados positivos lhes trouxeram.
Em fevereiro de 1940, os soviéticos empregaram divisões blindadas em massa contra a Linha Mannerheim, conseguindo, finalmente, transpô-la. Com sua principal
linha defensiva rompida, os finlandeses, em 12 de março de 1940, renderam-se, após
dois meses e meio de heroica resistência. Em consequência da derrota, os finlandeses foram obrigados a ceder o istmo da Carélia e a cidade de Viipuri para os soviéticos.
272
ORGANIZAÇÃO DOS EXÉRCITOS
O quadro abaixo demonstra a hierarquia organizacional teórica do Exército Norte-Americano na
II Guerra Mundial. Os exércitos de outros países ocidentais envolvidos no conflito tinham organização semelhante, com algumas variações de organização e nomenclatura.
SÍMBOLO
XXXXX
NOME
GRUPO DE
EXÉRCITOS
INTEGRANTES
UNIDADES SUBORDINADAS
100 MIL OU MAIS
2 OU MAIS EXÉRCITOS
GENERAL
XXXX
EXÉRCITO
50 A 60 MIL
XXX
CORPO DE
EXÉRCITO
30 A 50 MIL
2 OU MAIS DIVISÕES
XX
DIVISÃO
10 A 20 MIL
2 A 4 REGIMENTOS
MAJORGENERAL
III
REGIMENTO
2 A 3 MIL
2 OU MAIS BATALHÕES
CORONEL
II
BATALHÃO
300 A 1 MIL
2 A 6 COMPANHIAS
TENENTE -CORONEL
OU MAJOR
I
COMPANHIA
70 A 250
2 A 8 PELOTÕES
CAPITÃO
...
PELOTÃO
25 A 60
..
ESQUADRA
.
GRUPOS DE TIRO
2 OU MAIS CORPOS DE EXÉRCITO
COMANDANTE
8 A 13
2 OU MAIS ESQUADRAS
2 OU MAIS GRUPOS DE TIRO
4A5
GENERAL
TENENTEGENERAL
1º OU
2º TENENTE
SARGENTO
CABO
Durante a guerra, os norte-americanos e aliados fizeram uso dos grupamentos táticos (brigadas
provisórias), que eram a combinação de elementos de diversas armas e serviços, para cumprir missões específicas. Os britânicos não usaram os grupamentos táticos pois tinham em sua organização as brigadas (não tinham,
no entanto, regimentos como unidades de combate).
COMPOSIÇÃO DAS DIVISÕES PANZER
A composição das divisões panzer sofreu alterações durante a guerra. No final da guerra, as
divisões panzer tinham um poder de combate bem mais fraco do que no início, embora o Alto-Comando Alemão
procurasse não reconhecer isso. Os dados a seguir, referem-se à 11ª Divisão Panzer, quando de sua organização,
em 1941, pouco antes da Operação Barba Roxa.
Principais unidades: 01 regimento de carros-de-combate, 01 brigada de infantaria blindada, 01 regimento de
artilharia, 01 batalhão de engenharia, 01 batalhão de comunicações e 01 batalhão de transporte.
Efetivo: 17 mil homens.
Armamentos e equipamentos mais relevantes: 21 carros-de-combate médios PZ IV, 60 carros-de-combate
médios PZ III, 50 carros-de-combate leves PZ II, 56 carros-de-combate diversos, 8 canhões de 15cm, 16 canhões
de 10,5cm, 16 canhões de 7,5cm, 25 canhões antiaéreos de 2cm, 16 canhões anticarro de 3,7cm, 24 morteiros
de 8,1cm, 116 morteiros de 5cm, 542 metralhadoras e 1200 caminhões.
Fonte: <www.wikimedia.org> acesso em 05 set. 2007 (adaptado pelos autores).
273
DIVISÃO PANZER
Ainda no ano de 1940, Stalin mandou que suas tropas ocupassem a Estônia,
a Letônia e a Lituânia.
O péssimo desempenho militar demonstrado pelos soviéticos na Finlândia foi
recebido com satisfação por alemães, franceses e britânicos, que se consideravam possíveis oponentes da URSS em um futuro conflito. Por outro lado, preocupou Stalin, que
ordenou ao marechal Semyon K. Timoshenko aumentar a eficiência do Exército Soviético, tirando lições da campanha que a URSS acabava de vencer.
Hitler, após vencer os poloneses, fixou como próximo objetivo derrotar os
franceses. Antes disso, no entanto, era necessário assegurar o fluxo de minério de ferro,
importado da Suécia, vital para a Alemanha, já que britânicos e franceses demonstravam
intenções de interceptá-lo. Como o minério era embarcado no porto norueguês de Narvik,
situado em águas que não congelavam durante o inverno, o líder alemão resolveu conquistar a Noruega.
Em 9 de abril de 1940, tendo o apoio do partido fascista local, a invasão
alemã à Noruega foi desencadeada. Unidades alemãs terrestres (sete divisões), aéreas e
navais, atuando de forma combinada, conquistaram simultaneamente diversos objetivos
estratégicos. Oslo, a capital, foi ocupada por paraquedistas. Outros importantes centros
de mobilização também caíram em poder das tropas alemãs, o que impediu uma reação
militar consistente. Paralelamente, Hitler ordenou a invasão da Dinamarca, que ocupava
um espaço estratégico importante para as futuras ações alemãs. Em face da superioridade
bélica alemã, o rei dinamarquês Cristiano X ordenou que seu exército, composto por
aproximadamente 15 mil homens, se rendesse.
274
Surpreendidos pela rapidez da operação alemã, a Grã-Bretanha e a França
enviaram apressadamente algumas brigadas para a Noruega (dentre as quais unidades
polonesas), que chegaram tarde demais para evitar o colapso das forças armadas locais.
As tropas britânicas chegaram a obter sua primeira vitória na guerra ao conquistar o porto
de Narvik, mas, em seguida, tiveram de ser evacuadas, devido à superioridade geral
inimiga.
Com a retirada das tropas aliadas, os alemães concluíram a ocupação da
Noruega, que passou a ser governada por Vidkun Quisling, um fascista norueguês aliado
de Hitler. A invasão alemã fora, de maneira geral, um sucesso, mas os germânicos sofreram reveses importantes no mar, onde sua frota de superfície sofreu pesadas perdas
(2 cruzadores e 10 destroieres).
A vitória alemã permitiu a Hitler assegurar o fluxo de minério de ferro sueco e
instalar bases aéreas e navais na Noruega, a partir das quais os alemães passaram a
ameaçar as ilhas britânicas e o controle dos britânicos sobre o Mar do Norte. Todavia, a
perda de grande parte da frota de superfície e os enormes contingentes destinados a
manter a Noruega (12 divisões, em junho de 1941) foram fatores que influíram negativamente para o esforço alemão na continuidade da guerra.
Após a campanha da Noruega, Hitler passou a concentrar-se na conquista
da França. Para isso, os alemães contavam com 3 grupos de exércitos (136 divisões,
sendo 10 blindadas) e cerca de 2.700 veículos blindados. Essa força enfrentaria 146
divisões francesas e britânicas (somente 3 blindadas). Os alemães, no entanto, como na
Campanha da Polônia, tinham força aérea, carros-de-combate, processos de combate
(“blitzkrieg”), organização, instrução e lideranças superiores aos dos oponentes. Isso ocorria
porque, os aliados, no entreguerras pouca atenção deram à evolução doutrinária e ao
reaparelhamento de suas forças armadas. Os franceses preocuparam-se quase tão somente em empregar vultosos recursos na construção da Linha Maginot, uma sólida posição defensiva ao longo da fronteira com a Alemanha.
Em 10 de maio de 1940, os 3 grupos de exército alemães iniciaram a ofensiva. O Grupo de Exércitos “B” avançou sobre os Países Baixos, a fim de ocupar a Holanda
e a Bélgica e atrair as tropas franco-britânicas. O Grupo de Exércitos “C” atacou a Linha
Maginot, visando fixar as tropas que defendiam a fronteira francesa. O Grupo de Exércitos “A”, incumbido da ação principal, liderado por divisões Panzer, avançou pela montanhosa floresta dasArdenas, considerada pelos aliados intransponível para blindados, em
direção ao Canal da Mancha, tendo como objetivo dividir as forças rivais.
O Exército Holandês rapidamente sucumbiu às ações do Grupo de Exércitos
“B” e se rendeu em 14 de maio de 1940. Os belgas recuaram para posições defensivas,
para onde, em seguida, acorreram forças aliadas para apoiá-los. Paralelamente, o Grupo
de Exércitos “A”, após atravessar as Ardenas, abriu uma brecha na posição aliada e
rumou para o Canal da Mancha, conseguindo, conforme o planejado, separar as forças
aliadas que estavam na Bélgica das que ficaram na França.
275
Encurraladas entre os Grupos de Exércitos “A” e “B”, as forças anglo-francesas que estavam na Bélgica viram-se obrigadas, em 27 de maio de 1940, a seguir para
o porto de Dunquerque, na expectativa de serem evacuadas por via marítima.
Os belgas renderam-se em 28 de maio de 1940. Dois dias antes, a Marinha
Inglesa, auxiliada por embarcações civis, havia iniciado a Operação Dínamo (“Operation
Dynamo”), destinada a evacuar as tropas anglo-francesas que se encontravam em
Dunquerque. Em virtude do terreno nos arredores de Dunquerque não ser propício para
o uso de blindados, Hitler resolveu poupá-los para a continuidade da campanha na França, incumbindo a Luftwaffe de pôr fim à evacuação. Houve, porém, a interferência da
Força Aérea Inglesa (RAF), que infligiu pesadas perdas à Luftwaffe. No final, a Operação Dínamo foi um sucesso, pois cerca de 340 mil soldados aliados foram transportados
para a Inglaterra.37
Dando prosseguimento às operações, os alemães rumaram para Paris. O
Exército Francês, abalado pelos reveses iniciais, perdeu seu moral e diluiu-se diante do
avanço inimigo. A Linha Maginot, atacada frontalmente e pela retaguarda, também sucumbiu. Paris, por sua vez, caiu em poder dos alemães em 14 de junho de 1940.
No dia 22 de junho, o marechal Philippe Pétain, recém-nomeado primeiroministro, assinou um armistício com os alemães. De acordo com o armistício, os alemães
passaram a ocupar o norte e o oeste da França, enquanto Pétain passou a governar uma
república títere que abrangia o território francês não ocupado pelos alemães, cuja sede foi
estabelecida em Vichy (cidade do sul da França).
CANAL DA
MANCHA
HOLANDA
ALEMANHA
OFENSIVA ALEMÃ EM 1940
BÉLGICA
B
Bruxelas
LUX.
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MANOBRAS ALEMÃS
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ALIADOS
3 7 A retirada de Dunquerque é um assunto controverso. Alguns historiadores afirmam que Hermann Göring, comandante da Luftwaffe, teria garantido a Hitler
que a Força Aérea Alemã poderia sozinha impedir a evacuação inglesa, o que não se confirmou. Outros asseveram que Hitler teria permitido a retirada como
um sinal de boa vontade, tendo em vista assegurar futuras negociações de paz com a Grã-Bretanha.
276
270
Pouco antes da queda de Paris, Mussolini entrou no conflito ao lado dos
alemães, mesmo sabendo que a economia e o exército de sua nação não estavam em
condições de sustentar uma guerra de grande amplitude. Em setembro de 1940, o Japão
se uniria a esta aliança, formando o Eixo Roma-Berlim-Tóquio. Comesta atitude, Mussolini
esperava receber apoio dos alemães para conquistar um “espaço vital” para os italianos
na região do mar Mediterrâneo. Em 10 de junho, 32 divisões italianas atacaram a França,
tendo como propósito anexar áreas fronteiriças. O ataque italiano redundou em um completo fracasso, pois foi barrado por 6 divisões francesas nos Alpes, fato que pressagiou
futuras derrotas acachapantes das forças de Mussolini.
Após vencerem a França, os alemães procuraram os britânicos para um acordo
de paz. Todavia, o Primeiro-Ministro da Grã-Bretanha, Winston Churchill, repeliu a oferta e declarou que a Grã-Bretanha iria continuar sozinha a luta contra a Alemanha. Em
Londres, o general francês Charles de Gaulle não reconheceu o governo da França sediado
em Vichy e conclamou os franceses a continuar a luta contra os alemães. De Gaulle instalou um governo no exílio, denominado “França Livre”, reconhecido pelos britânicos em
28 de junho de 1940. Pouco depois, em 5 de julho de 1940, os britânicos desencadearam a Operação Catapulta (“Operation Catapult”), ao bombardearem navios franceses
ancorados em Orã (Argélia), por temerem que estes caíssem em mãos germânicas. Em
represália, o governo de Vichy rompeu relações com a Grã-Bretanha.
Diante da recusa dos britânicos de negociarem a paz, Hitler ordenou preparativos para a invasão da Inglaterra. Os alemães reservaram 20 divisões para a operação,
chamada Leão-Marinho (“Unternehmen Seelöwe”). Mas, para que chegassem às ilhas
britânicas, havia a necessidade do controle do espaço aéreo no Canal da Mancha, já que
a MarinhaAlemã não tinha condições de escoltar isoladamente as tropas até seu objetivo.
Hitler, então, expediu uma diretriz na qual encarregava a Luftwaffe de destruir a RAF.
A Luftwaffe contava para o ataque com 1.300 caças (Messerschmitt 109),
180 caças-bombardeiros (Messerschmitt 110) e 1.350 bombardeiros (Heinkel 111, Junker
88 e Dornier 17). Para enfrentar essa força, a RAF dispunha de 700 caças (Hurricanes,
Blenheims, Spitfires e Defiants).
A luta pela superioridade aérea, que ficou conhecida como a Batalha da GrãBretanha, teve início no dia 10 de julho de 1940. ALuftwaffe tomou a iniciativa ao atacar
bases aéreas, áreas industriais, fábricas de aviões e cidades inglesas. No entanto, o transcorrer do combate passou a mostrar que a RAF levava nítida vantagem sobre sua oponente. Isso se explica porque os ingleses possuíam aviões superiores, combatiam em
áreas conhecidas, conseguiam rapidamente repor as perdas materiais e humanas e dispunham de um eficiente sistema de alerta por radar. No final de agosto, a Luftwaffe havia
perdido aproximadamente 600 aviões e a Grã-Bretanha menos de 300.
Embora a Luftwaffe continuasse a bombardear as principais cidades inglesas,
Hitler, em 12 de outubro de 1940, percebendo que sua força aérea seria incapaz de
277
vencer a batalha, suspendeu a Operação Leão-Marinho. Tal fato representou uma derrota decisiva para os alemães na guerra, embora isso não aparentasse naquele momento.
Os combates também se propagaram por mares e oceanos, onde, desde o
início do conflito, a Grã Bretanha teve superioridade. Hitler desejava sufocar a economia
inglesa, por isso determinou que sua marinha cortasse o fluxo de suprimentos que se
dirigia para as ilhas britânicas. Como a frota de superfície alemã era muito mais fraca do
que a britânica, caberia aos submarinos alemães o papel principal nesse sentido.
Todavia, a maior ameaça aos britânicos, nos primeiros meses da guerra, adveio
dos modernos navios de superfície da Alemanha, entre os quais se destacavam os couraçados Graf Spee, Gneisenau, Scharnhorst e Bismarck. Estes obtiveram sucessos no início
das operações, destruindo navios mercantes e importantes embarcações de guerra britânicas. Com o desenrolar da guerra, no entanto, passaram a ser perseguidos intensivamente pela Marinha e pela Real Força Aérea Britânica, que os puseram fora de ação. O
Gneisenau foi avariado em 1942, permanecendo em reparos em Danzig até 1945, quando foi afundando pelos próprios alemães; o Graf Spee, o Bismarck e o Scharnhorst foram
postos a pique pelos britânicos nos anos de 1939, 1941 e 1943, respectivamente.
Os submarinos alemães, por sua vez, comprometeram seriamente o esforço
de guerra britânico, pois afundaram grande número de navios mercantes que se dirigiam
para as ilhas britânicas (585 nos seis primeiros meses de 1942, num total superior de 3
milhões de toneladas). Os submarinos germânicos usavam a tática da “alcateia”, ou seja,
um deles, ao localizar um alvo compensador, comunicava tal fato imediatamente a outros
que estavam nas proximidades, possibilitando, desse modo, um ataque conjunto, com
maiores probabilidades de êxito.
A partir do segundo semestre de 1942, entretanto, os aliados passaram a ter
importantes sucessos no combate aos submarinos, pois desenvolveram novos meios para
localizá-los e destruí-los. Esses meios foram, principalmente, sonares mais eficientes, rádios goniômetros de alta frequência, com os quais era possível determinar a posição dos
transmissores de ondas curtas das embarcações inimigas, aviões de patrulha com maior
autonomia e cargas de profundidade mais destrutivas. Além disso, os britânicos, juntamente com os norte-americanos, que entraram na guerra contra os alemães no final de
1941, melhoraram o sistema de escoltas a seus comboios, inibindo a ação dos submarinos. Os aliados, também, decifraram o código Enigma, empregado pelos alemães para se
comunicarem, o que lhes proporcionou a coleta de importantes informações a respeito
das ações inimigas.
Embora os submarinos alemães continuassem a ser um perigo até o final da
guerra, a partir de 1943, devido ao aprimoramento das medidas antissubmarinas angloamericanas, os efeitos de sua atuação deixaram de ser relevantes. Quando a guerra terminou, dos 1.162 submarinos construídos pelos alemães, 785 haviam sido destruídos.
Em terra, em 3 de agosto de 1940, Mussolini ordenou que suas tropas
278
ARMAMENTOS
Durante a Segunda Guerra Mundial, os beligerantes empregaram grande número
de armamentos de uso individual e coletivo. Muitos foram criados durante o conflito, para
atender a novas necessidades, outros foram aperfeiçoados. De maneira geral, os exércitos
eram dotados de fuzis, metralhadoras, pistolas, lança-foguetes, lança-chamas, canhões, morteiros, granadas e veículos blindados, dos mais diferentes modelos e eficiência em combate.
Os carros-de-combate tiveram grande importância nas operações. Um dos que
mais se destacou foi o T-34 soviético, que pesava 30 toneladas, podia desenvolver uma
velocidade de 55 km/h e era dotado de um canhão de 76,2mm. Os alemães desenvolveram o
Panzer V Panther, superior aos blindados aliados, que pesava 45,5 toneladas, desenvolvia
uma velocidade de 46 Km/h e era dotado de um canhão de 75mm (cerca de 6 mil foram
produzidos). Os norte-americanos empregaram o M4 Sherman, com 30,3 toneladas, canhão
de 75mm e velocidade de 38,5 km/h (cerca de 50 mil foram fabricados). A Alemanha não
tinha condições de acompanhar o ritmo de produção bélica, inclusive de carros-de-combate,
dos Estados Unidos, o que foi um fator decisivo para a vitória aliada.
Nos combates marítimos, principalmente no Pacífico, os navios aeródromos
tiveram um papel fundamental. Importantes foram os da classe Essex, base da frota norteamericana, com 3.240 tripulantes, grande mobilidade (até 33 nós) e capacidade de transporte
de aeronaves (em junho de 1944: 42 Hellcats, 36 Helldivers e 20 Avengers).
No Atlântico, foram de grande importância os submarinos, arma que os alemães
julgavam ser capaz de decidir a guerra para seu lado. O modelo VII, constantemente aperfeiçoado, foi o mais empregado pela Alemanha. Era tripulado por 44 a 52 homens, desenvolvia
uma velocidade máxima de 17,7 nós, chegava a uma profundidade de 220 metros e tinha
como armamentos um canhão de 88 mm, 14 torpedos e 26 minas.
Os combates aéreos também foram importantes durante a guerra e os aviões
sofreram constantes aperfeiçoamentos. Na Batalha da Inglaterra, destacou-se o caça britânico Supermarine Spitfire, que tinha revestimento metálico, desenvolvia uma velocidade de 594
Km/h, possuía uma autonomia de 700 km e era dotado de 8 metralhadoras .303 polegadas.
Os aviões bombardeiros também se destacaram. Os B-29 norte-americanos,
atacando em massa, puseram abaixo boa parte da infraestrutura alemã e japonesa, contribuindo para a vitória aliada. Estas aeronaves eram tripuladas por 10 a 14 homens, desenvolviam uma velocidade de 575 Km/h, tinham autonomia de 5.230 km e podiam carregar até 9
toneladas de bombas.
No final da guerra, Hitler esperava que novas armas fossem capazes de conter
as investidas inimigas. Para isso contava com o poder destruidor dos caças a jato e das
bombas V1 e V2. A bomba V2 era um míssil balístico de baixa precisão, com alcance de 330
km, capaz de atingir uma velocidade de 5.760 Km/h, conduzindo uma carga explosiva de 975
kg. Muitas foram lançadas sobre a Inglaterra, causando grande efeito moral, já que os aliados
não tinham nenhum sistema de defesa para conter esse tipo de arma. As novas armas alemãs,
no entanto, chegaram tardiamente e não foram capazes de reverter a vitória dos Aliados.
Decisiva, realmente, foi a bomba atômica, desenvolvida pelos Estados Unidos.
Ela tinha altíssimo poder destrutivo (entre 12 e 18 quilotons – cada quiloton equivale a mil
toneladas de TNT), proveniente da fissão do urânio-235. Foram lançadas em Hiroshima e
Nagasaki, convencendo os japoneses a se render.
279
ARMAMENTOS
PANZER V PANTHER
NAVIO AERÓDROMO ESSEX
SPITFIRE
BOMBA V-2
280
T-34
SUBMARINO MODELO VII
B - 29
BOMBA ATÔMICA
posicionadas na África Oriental Italiana (2 divisões italianas e 29 brigadas nativas) ocupassem a Somália Britânica. Tal operação foi bem sucedida, encorajando o líder italiano a
desencadear dois novos ataques: um ao Egito, em setembro de 1940, tendo em vista a
posse do canal de Suez, controlado pelos britânicos; e outro sobre a Grécia, tendo como
objetivo ocupar posições estratégicas nos Bálcãs.
O líder italiano estava confiante em obter sucesso em ambas as frentes. Em
setembro de 1940, cerca de 200 mil soldados italianos partiram da Líbia (colônia italiana
no norte da África) em direção ao Egito, defendido por aproximadamente 35 mil soldados britânicos. Ao mesmo tempo, da Albânia, ocupada pela Itália, 9 divisões italianas (1
blindada) seguiram para enfrentar 75 mil gregos.
Para surpresa de Mussolini, as forças italianas mostraram-se totalmente
despreparadas para a guerra, particularmente pela falta de suprimentos, principalmente
combustível. No norte da África, os ingleses contra-atacaram e derrotaram o inimigo em
dezembro de 1940, apossando-se, em janeiro de 1941, do importante porto de Tobruk,
na Líbia. Nos Bálcãs, os italianos não tiveram melhor sorte frente aos gregos que, apoiados por tropas inglesas, provenientes do norte da África, lançaram uma contra ofensiva
que penetrou na Albânia. Paralelamente, na África Oriental, os britânicos iniciaram uma
série de ofensivas que redundariam na reconquista da Somália Britânica e na ocupação
das colônias italianas situadas na África Oriental (Abissínia, Eritreia e Somália Italiana).
Diante dos fracassos de seu aliado, Hitler interveio. O líder alemão preocupava-se, principalmente, com a possibilidade dos britânicos instalarem-se na Grécia, de
onde poderiam ameaçar os campos de petróleo da Romênia, vitais para a Alemanha.
Destarte, os alemães lançaram duas operações: a Girassol (“Unternehmen Sonnenblume”)
e VioletaAlpina (“UnternehmenAlpenveilchen”), que visavam, respectivamente, apoiar
os italianos no norte da África e nos Bálcãs.
Para o norte da África, os alemães enviaram uma divisão blindada leve
(núcleo básico do Corpo Africano - AfrikaKorps), comandada pelo General Erwin
Rommel. No dia 31 de março de 1941, Rommel lançou suas tropas, apoiadas por 2
divisões italianas (1 blindada), em uma ofensiva contra os britânicos, que dispunham,
naquele momento, de somente uma força de cobertura na Líbia, composta por 1 divisão
blindada incompleta, 1 divisão australiana e uma brigada motorizada indiana (3 divisões
britânicas do norte da África haviam sido deslocadas para apoiar os gregos).As forças de
Rommel rapidamente venceram as tropas inimigas, conquistando bases britânicas em El
Agheila, Agedabia e Bengazi. Tobruk, no entanto, continuou nas mãos dos britânicos.
Nos meses seguintes, ambos os lados reforçaram suas tropas. Os britânicos,
em 18 de novembro de 1941, depois de formarem o 8º Exército, que dispunha de 700
carros-de-combate e 1.000 aviões, contra-atacaram Rommel, lançando a Operação Cruzado (“Operation Crusader”), que visava diminuir a pressão das tropas do Eixo sobre
Tobruk. Rommel, para fazer frente ao inimigo, dispunha de 2 corpos de exército
281
EUROPA 1939/1940
Narvik
FINLÂNDIA
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N
TIC
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Arkhangel
NO
OC
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RU
NO
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Lago ladoga
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REINO UNIDO
Oslo
Leningrado
ESTÔNIA
SUÉCIA
MAR DO
NORTE
DINAMARCA
LETÔNIA
MAR
BÁLTICO
IRLANDA
Moscou
LITUÂNIA
URSS
Danzig
Londres
ALEM.
HOLANDA
BÉLGICA
Kursk
Berlim
ALEMANHA
Varsóvia
Kharkov
Stalingrado
POLÔNIA
Kiev
Paris
E S L OV
Á Q U IA
SUÍÇA
HUNGRIA
FRANÇA
Crimeia
ROMÊNIA
IU
G
ESPANHA
ITÁLIA
O
Cáucaso
Bucareste
SL
ÁV Belgrado
IA
Roma
MAR NEGRO
BULGÁRIA
Sófia
Nápoles
TURQUIA
ALBÂNIA
MAR MEDITERRÂNEO
Orã
Sícilia
GRÉCIA
Atenas
Argel
Bougle
Túnis
COLÔNIAS FRANCESAS
CRETA
ARGÉLIA
TUNÍSIA
Gazala
Tobruk
Trípoli
Bengasi
El Alamein
LÍBIA
CO
OB
AS
E
ÁR Suez
N
ITÂ
BR
LE
O
R
NT
ICO
El Agheila
ÁREA SOB CONTROLE
DO EIXO
282
PAÍSES NEUTROS
OFENSIVAS ITALIANAS EM 1940
OFENSIVAS ALEMÃS
EM 1939
OFENSIVAS BRITÂNICAS EM 1940
OFENSIVAS SOVIÉTICAS EM 1939
OFENSIVAS ALEMÃS
EM 1940
RETIRADAS BRITÂNICAS EM 1940
OFENSIVAS GREGAS
EM 1940
38
italianos e doAfrikaKorps, formado, nessa ocasião, por 2 divisões. Inicialmente, Rommel
contava com 320 carros-de-combate, aos quais se somaram, mais tarde, outros 480,
além de 320 aviões. As forças britânicas obtiveram êxito em sua contraofensiva, obrigando Rommel a ceder boa parte do terreno que havia conquistado.
Nos Bálcãs, em agosto de 1940, os alemães ocuparam, mediante pressões
diplomáticas, a Romênia, tendo em vista assegurar o fornecimento dos campos de petróleo deste país; e, em 1º de março de 1941, a Bulgária. ARomênia e a Bulgária, juntamente com a Hungria, a Eslováquia e a Finlândia, acabaram aliando-se ao Eixo.
Em abril de 1941, tropas do 12º Exército Alemão derrotaram facilmente a
Iugoslávia, que fora contrária à ocupação de seu território pelos alemães (20 divisões
iugoslavas foram vencidas); e, simultaneamente, atacaram a Grécia. Como a maior parte
das forças gregas (14 divisões) combatia os italianos na Albânia, somente restaram 3
divisões inglesas e 3 divisões gregas para fazer frente aos alemães, que, com grande
rapidez, derrotaram seus oponentes e ocuparam a Grécia (o Exército Grego se rendeu em
21 de abril). Boa parte das tropas britânicas pôde ser evacuada pela Marinha Inglesa.
Em seguida, os alemães desencadearam a Operação Mercúrio (“Unternehmen
Nerker”) para conquistar Creta, onde os britânicos haviam instalado bases aéreas. Ailha
era defendida por aproximadamente 50 mil soldados britânicos e gregos, que estavam
mal equipados e com pouca munição. Para conquistá-la, no dia 20 de maio de 1941, os
alemães lançaram um audacioso ataque realizado por 22 mil homens, dos quais 17 mil
eram paraquedistas. Apesar de um enorme número de baixas (cerca de 4 mil), os alemães
conquistaram a ilha. Novamente, tropas britânicas foram evacuadas.
No norte da África, em fins de maio de 1942, Rommel voltou a atacar, mesmo em inferioridade numérica, pois possuía 80 mil homens e 560 carros-de-combate, que
enfrentariam 175 mil soldados e 843 carros-de-combate inimigos. Infligiu uma derrota
contundente ao 8º Exército Britânico em Gazala e conquistou posteriormente Tobruk.
Depois, mesmo com falta crônica de suprimentos (principalmente combustível), as forças
do Eixo seguiram para o Egito, mas foram detidas pelos britânicos a 90 quilômetros do
Canal de Suez, na 1ª Batalha de ElAlamein (julho de 1942) e na Batalha deAlam El Halfa
(fins de agosto e início de setembro de 1942).
Em 23 de outubro de 1942, o general Bernard Law Montgomery, designado
comandante do 8º Exército Britânico, após intensos preparativos, tendo superioridade de
forças, atacou as tropas do Eixo, o que resultou na 2ª Batalha de ElAlamein.Aluta seguiu
em um impasse até 3 de novembro, terminando com a vitória dos britânicos.
Enquanto desenrolavam-se os combates no norte da África, Hitler, ainda
em 1941, considerou ser importante consolidar seu poder na Europa continental. Para
isso esperava derrotar a URSS (única potência no continente livre do jugo alemão), já que
não obtivera sucesso em sua investida contra a Grã-Bretanha. Vários motivos compeli38
O AfrikaKorps contou, ao longo de sua campanha, com a 15ª, a 21ª, a 90ª e a 164ª Divisões Panzer, além da
Brigada Paraquedista Ramcke.
283
A SEGUNDA BATALHA DE EL ALAMEIN
N
2
10
7
9
10
LEGENDA
8
6
MANOBRAS DO EIXO
10
ATAQUES BRITÂNICOS
4
FORÇAS DO EIXO
1 1
5
FORÇAS BRITÂNICAS
CAMPOS MINADOS DO EIXO
3
CAMPOS MINADOS BRITÂNICOS
De 23 de outubro a 3 de novembro de 1941, no Egito, tropas do Eixo (alemãs e italianas), lideradas
inicialmente pelo general Georg Stumme e depois por Erwin Rommel, enfrentaram forças britânicas (reforçadas
por contingentes da “França Livre” e da Grécia), comandadas pelo general Bernard Law Montgomery. Stumme
e Rommel contavam com cerca de 95 mil homens e 430 carros-de-combate, Montgomery com 243 mil soldados
e 1200 carros-de-combate. Em disputa estava o controle do norte da África. Os preparativos para o embate
começaram logo após a Batalha deAlam El Halfa (fins de agosto e início de setembro), após a qual as tropas do
Eixo e da Grã Bretanha estabeleceram posições defensivas, fortemente minadas (1) na região de ElAlamein, entre
o mar Mediterrâneo (2) e a depressão de Qattara ( 3). Nos meses seguintes, através do Egito, as tropas britânicas
receberam expressivos reforços de pessoal e grande quantidade de suprimentos; as do Eixo, ao contrário,
tiveram dificuldade em se reforçar, pois lhes eram destinados poucos soldados e suprimentos, que, por vezes,
eram destruídos antes de chegarem ao destino pela ação da Real Força Aérea (RAF), que tinha superioridade
aérea no norte da África. Após sentir que suas tropas estavam preparadas, Montgomery resolveu atacar. Seu
plano previa que as linhas defensivas alemãs fossem rompidas no norte. Para evitar que as forças do Eixo fossem
concentradas nesse setor, Montgomery, por meio de ações diversionárias, fez Stumme pensar que o ataque
principal britânico seria lançado no sul da linha. Quando percebeu que as melhores tropas do Eixo (Divisão
Panzer e Divisão Aríete) encontravam-se posicionadas no sul da linha (4), Montgomery lançou sua ofensiva.
Ataques secundários britânicos foram lançados no sul (5) e no centro da linha defensiva inimiga ( 6), e o
principal, no flanco norte (7). O ataque principal britânico avançou, mas foi detido. Nesse espaço de tempo,
Stumme faleceu vítima de um ataque cardíaco. Rommel, às pressas, assumiu o comando das tropas do Eixo, e
logo percebeu que o esforço principal britânico estava sendo realizado no norte. Para reforçar seu flanco
esquerdo, Rommel deslocou a Divisão Panzer e a Divisão Aríete, que estavam no sul, para o norte (8), o que
resultou em um impasse neste setor. Montgomery, que nesse momento contava com uma superioridade em
blindados de 10 para 1, resolveu então mudar o eixo de gravidade das operações, realizando um ataque um pouco
mais para o sul, na área do flanco norte (9). Dessa vez, as forças britânicas conseguiram romper as linhas
inimigas. Diante da ruptura de suas linhas, Rommel, que a essa altura encontrava-se sem reservas, ordenou o
retraimento (10). Os britânicos perderam na batalha aproximadamente 14 mil homens e 600 carros-de-combate,
as tropas do Eixo 19 mil homens e 400 carros-de-combate.Após a vitória, as tropas britânicas prosseguiram com
suas operações, que resultaram na derrota total das tropas do Eixo no Norte da África.
284
ram o líder nazista a investir contra os soviéticos: a URSS possuía ricas fontes de matérias-primas, era inimiga ideológica dos nazistas e vinha tendo atritos com os alemães,
devido a questões hegemônicas na Europa Oriental (Stalin não via com bons olhos a
expansão e as alianças que os alemães faziam nos Bálcãs e no leste europeu).Além disso,
a vitória sobre a URSS garantiria aos alemães a posse de territórios que se estenderiam
do Atlântico aos Montes Urais e o controle sobre cerca de 250 milhões de pessoas.
Para a campanha, Hitler contava com 145 divisões, contingente que acreditava ser suficiente para derrotar o Exército Soviético, composto aproximadamente por
190 divisões. Apesar da inferioridade numérica, os estrategistas alemães calculavam que
a campanha terminaria em quatro meses, antes do início do inverno. Tal otimismo se
justificava pelos sucessos obtidos pela “blitzkrieg”, pela experiência do ExércitoAlemão,
e pelo despreparo do Exército Soviético, que se ressentia de oficiais e soldados experientes, de equipamentos modernos (os blindados e aviões eram obsoletos) e de
adestramento.
O plano alemão, denominado Operação Barba-Roxa (“Unternehmen
Barbarossa”) previa uma ofensiva em uma frente de 3.200 quilômetros a ser realizada por
3 grupos de exércitos, denominados Norte, Central e Sul, que tinham por objetivo, respectivamente, a conquista de Leningrado (importante área industrial), Moscou (capital
inimiga e importante entroncamento ferroviário) e Ucrânia (rica em matérias-primas e
importante região agrícola). Os alemães esperavam aniquilar o grosso do Exército Soviético a oeste dos rios Dvina e Dnieper, por meio de uma série de batalhas de cerco e
aniquilamento. Em seguida, pretendiam avançar até o rio Volga e a cidade de Arkhangel,
onde seriam estabelecidos os limites de uma linha defensiva capaz de resistir eficazmente
a contra-ataques das forças soviéticas restantes, que estariam, então, com poucos recursos para uma reação eficaz, já que as terras mais férteis e os principais centros industriais
da URSS estariam sob controle alemão.
Em 22 de junho de 1941, as Forças Armadas Alemãs atacaram. A Luftwaffe
rapidamente obteve a supremacia aérea e as unidades terrestres lançaram a “blitzkrieg”.
O progresso inicial alemão foi acelerado. Suas tropas, atacando em colunas de movimentação rápida, fragmentavam as formações soviéticas, para depois envolvê-las, o que resultou na prisão de milhares de soldados soviéticos. Importantes cidades, como Kiev e
Smolensk, passaram para o controle alemão. Para alento de Stálin, a Inglaterra, que até
então lutava sozinha contra os alemães, ofereceu seu apoio à URSS, sendo firmada uma
aliança anglo-soviética contra aAlemanha. Para tentar diminuir o ímpeto da ofensiva inimiga, o líder soviético ordenou que, em caso de retirada, suas tropas destruíssem quaisquer recursos (plantações, indústrias, ferrovias, entre outros) que pudessem ser aproveitados pelos alemães. O ataque alemão foi acompanhado por uma ofensiva finlandesa
sobre o noroeste da URSS.
Quando o inverno chegou, os alemães tiveram de suspender suas operações.
285
Até esse momento haviam conseguido importantes avanços (sitiavam Leningrado, tinham
praticamente conquistado a Crimeia e se encontravam nos subúrbios de Moscou), mas as
metas traçadas por Hitler não haviam sido atingidas. Isso se devia, em grande parte, à
resistência dos soviéticos, mais forte do que a esperada. Além disso, na frente oriental o
conflito radicalizou-se, tornando-se uma luta de extermínio, na qual os soldados soviéticos e alemães lutavam até as suas últimas forças, pois sabiam que se caíssem em mãos
inimigas teriam uma morte sumária ou por maltratos (fome, doenças ou exaustão decorrente de trabalho escravo).
Para complicar a situação dos alemães, o frio intenso passou a causar grande
número de baixas em suas fileiras (faltaram roupas de inverno aos soldados) e o sistema
de suprimento entrou em colapso (muitos blindados, por exemplo, tornaram-se indisponíveis por falta de peças de reposição).
Por outro lado, as Forças Armadas Soviéticas passaram por consideráveis
reformulações ao longo dos primeiros meses de luta. Muitos oficiais que eram mantidos
nas prisões por Stalin foram libertados para reforçar o exército; aviões modernos passaram a disputar a supremacia aérea com a Luftwaffe; novos carros-de-combate (T-34),
superiores aos dos alemães (Mark III e IV), entraram em operação; e houve melhorias
nas táticas soviéticas relativas ao emprego de blindados.Além disso, paradoxalmente, em
dezembro de 1941, apesar das enormes perdas sofridas, o poderio militar soviético havia
aumentado, pois, em um grande esforço, os soviéticos conseguiram mobilizar para a frente de combate mais 280 divisões. Muitas destas estavam no Extremo Oriente, a fim de
repelir um possível ataque japonês oriundo da Manchúria, mas puderam ser deslocadas
para o oeste, em virtude de um pacto de não-agressão nipo-soviético (o pacto do Eixo,
firmado pelo Japão, não o impedia de ter relações amistosas com a URSS).
Em 6 de dezembro de 1941, o Exército Soviético sentiu-se confiante para
desferir um maciço contra-ataque, tendo como objetivo isolar o Grupo de Exércitos Central
alemão. A ofensiva soviética prolongou-se pelos meses de janeiro e fevereiro de 1942,
mas os resultados foram aquém do esperado. Os soviéticos tiveram êxitos consideráveis
somente na região de Moscou, onde fizeram os alemães recuar cerca de 150 quilômetros.
Com a chegada das chuvas e do degelo da primavera, ambas as forças ficaram atoladas
na lama das péssimas estradas.
Em 8 de maio de 1942, os alemães, após receberem reforços (entre os quais
71 divisões formadas por contingentes de países aliados, de menor preparo e menos
equipadas), voltaram a atacar. A prioridade foi dada ao Grupo de Exércitos Sul, que
deveria conquistar o Cáucaso, região rica em reservas petrolíferas, cuja perda seria fatal
para o esforço de guerra soviético. O Grupo de Exércitos Norte deveria manter a pressão sobre Leningrado e o Central manter a posição.
No sul, os alemães obtiveram grandes êxitos, avançando profundamente pelo
Cáucaso. No final de junho de 1942 iniciaram operações tendo em vista a conquista da
286
EUROPA 1941/1942
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Stalingrado
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Varsóvia
POLÔNIA
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Sófia
BULGÁRIA
Nápoles
ALBÂNIA
TURQUIA
GRÉCIA
Túnis
Crimeia
Cáucaso
ÁV Belgrado
IA
Roma
Orã Argel
Kharkov
Sícilia
Atenas
Bougle
COLÔNIAS FRANCESAS
MAR MEDITERRÂNEO
ARGÉLIA
TUNÍSIA
Gazala
CRETA
Tobruk
Trípoli
Bengasi
El Alamein
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EA
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SO
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Suez
LÍBIA
ÁREA SOB CONTROLE DO EIXO (1942)
OFENSIVAS ALEMÃS EM 1941
OFENSIVAS ALEMÃS EM 1942
RETIRADAS ALEMÃS EM 1941
PAÍSES NEUTROS
PAÍSES ALIADOS
DO EIXO
OFENSIVAS SOVIÉTICAS
EM 1941
OFENSIVAS DO
EIXO EM 1941
OFENSIVAS BRITÂNICAS EM 1941
OFENSIVAS FINLANDESAS
EM 1941
OFENSIVAS DO
EIXO EM 1942
OFENSIVAS BRITÂNICAS EM 1942
OFENSIVAS NORTE-AMERICANAS EM 1942
RETIRADAS DO EIXO
EM 1942
RETIRADAS BRITÂNICAS EM 1941
OFENSIVAS ITALIANAS
EM 1941
287
importante cidade de Stalingrado, situada às margens do rio Volga. Nesta cidade, no
entanto, os alemães sofreram uma grande derrota.
Enquanto alemães e soviéticos se digladiavam na Europa Oriental, novos
contendores surgiram, e a guerra tornou-se mundial. Isso ocorreu porque o Japão, em
julho de 1941, com o consentimento do governo de Vichy, mas com a desaprovação dos
Estados Unidos, que temiam uma expansão japonesa no Extremo Oriente, se apossou de
parte da Indochina (colônia francesa). Em represália, o governo norte-americano congelou os bens nipônicos existentes nos Estados Unidos e suspendeu as exportações de
petróleo para o Japão. Diante disso, os líderes japoneses consideraram que só poderiam
resolver suas pendências com os norte-americanos por meio da guerra. Contribuiu também para a tomada de decisão japonesa o fato de os norte-americanos estarem apoiando
materialmente a China, contra a qual o Japão estava em guerra desde a década de 1930.
Os japoneses tinham ciência de que não poderiam vencer os norte-americanos em uma longa guerra de desgaste, pois o poderio econômico do rival era muito superior. Planejaram, então, uma grande ofensiva, que tinha como meta a conquista das colônias
e das bases militares que as nações ocidentais possuíam no Sudeste Asiático e no Pacífico. Tais conquistas propiciariam, calculavam os estrategistas nipônicos, a autossuficiência
econômica ao Japão e a formação de um perímetro de defesa capaz de resistir às
contraofensivas dos norte-americanos. Com tais ações, os japoneses esperavam forçar
os estadunidenses a aceitar os termos de paz impostos pelo Japão.
Em 07 de dezembro de 1941, sem declarar guerra, os japoneses lançaram
um ataque aeronaval sobre a base naval norte-americana de Pearl Harbor, nas ilhas do
Havaí, tendo como objetivo destruir a frota americana do Pacífico. Em meia hora, o
ataque japonês destruiu 188 aviões, matou 2.500 marinheiros e pôs a pique muitos
navios. Todavia, os resultados do bombardeio foram insatisfatórios, pois não atingiram os
navios aeródromos norte-americanos Enterprise, Lexington e Saratoga, que se encontravam fora de Pearl Harbor, realizando manobras.
As potências do Eixo deram apoio ao Japão, declarando guerra aos Estados
Unidos, governado por Franklin D. Roosevelt. A guerra então tinha delineado os seus
principais protagonistas: de um lado os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) e do
outro os Aliados (Grã-Bretanha, URSS e Estados Unidos).
Paralelamente ao ataque a Pearl Harbor, tendo superioridade no mar, ar e
terra, os japoneses lançaram ofensivas vitoriosas sobre tropas britânicas, americanas e
holandesas estacionadas no Sudeste Asiático e no Pacífico. Em pouco tempo, os japoneses se apossaram de Guam, Ilhas Wake, Filipinas, Hong Kong, Malásia, Bornéu, Tailândia,
Birmânia, Ilhas Salomão e parte da Nova Guiné, entre outros territórios. Forças navais
aliadas tentaram interceptar as frotas invasoras, sem sucesso.
Em março de 1942, os japoneses haviam alcançado seus objetivos estratégicos, estabelecendo o almejado perímetro de defesa, que era delimitado pelas Ilhas Atu e
Kiska (Pacífico Norte), Ilhas Wake (Pacífico Central), Java (Pacífico Sul) e Birmânia
288
A BATALHA DE STALINGRADO
4
11
9
LEGENDA
8
1
ATAQUES ALEMÃES
7
ATAQUES SOVIÉTICOS
10
3
11
TROPAS ROMENAS
2
6
5
TROPAS ALEMÃS
TROPAS SOVIÉTICAS
ÁREA OCUPADA (ALEMÃES)
ÁREA OCUPADA (SOVIÉTICOS)
De 21 de agosto de 1942 a 2 de fevereiro de 1943, na cidade de Stalingrado, no sul da Rússia,
tropas alemãs, reforçadas por contingentes italianos, romenos e búlgaros, comandadas pelo general Friedrich von Paulus, enfrentaram forças soviéticas, lideradas pelo general Georgy Zhukov.
Durante a batalha, em Stalingrado e regiões adjacentes, os alemães e seus aliados empregaram cerca
de 1.300.000 homens; os soviéticos aproximadamente 1.700.000. A cidade de Stalingrado (1) situava-se em uma posição estratégica no rio Volga (2), a cavaleiro de uma rota vital que ligava o mar
Cáspio à Rússia Central. Era um importante centro industrial e tinha também um valor simbólico,
pois seu nome (cidade de Stalin) era uma homenagem ao líder soviético. Tais fatores fariam com que
Hitler e Stalin dessem ordens para que a cidade fosse, respectivamente, conquistada ou mantida a
qualquer custo. Em agosto de 1942, o 6º e o 4º (Panzer) Exércitos Alemães iniciaram a conquista da
localidade (3), passando de imediato a enfrentar feroz resistência do 62º e 63º Exércitos Soviéticos
que a defendiam. O 3º (4) e o 4º Exércitos (5) Romenos e parte do 4º Exército Panzer (6) faziam a
proteção dos flancos alemães. Stalin não ordenou a evacuação dos civis da cidade, esperando que
em virtude disso os defensores lutassem com mais afinco. Paulus, a princípio, dispunha de volumosos recursos materiais e humanos, que foram se exaurindo à medida que o comandante alemão
expandia seu controle sobre a cidade. Enquanto Paulus progredia vagarosamente em meio aos
escombros da localidade (7), travando encarniçadas lutas, os russos preparavam tropas para um
contra-ataque. Estas tropas foram posicionadas na margem leste do rio Volga (8), compreendendo,
no perímetro norte da cidade, o 5º, 21º, 65º, 64º e 66º Exércitos (9), e no perímetro sul o 57º e 51º
Exércitos (10). Em novembro, quando os alemães já controlavam aproximadamente 90% de Stalingrado,
os Exércitos Soviéticos que estavam na margem leste do rio Volga atacaram e derrotaram as tropas
que defendiam os flancos alemães, cercando as tropas de Paulus que estavam no interior da
cidade (11). As tropas alemãs cercadas passaram a ser abastecidas por via aérea, mas de maneira
insuficiente. Forças alemãs, comandadas pelo general Erich von Manstein, tentaram romper o bloqueio soviético, mas fracassaram. Sem suprimentos e esperanças de escapar do cerco, Paulus
rendeu-se. Em Stalingrado, os alemães e seus aliados perderam cerca de 740.000 soldados (destes,
110.000 foram aprisionados) e os soviéticos aproximadamente 750.000 (além de 100.000 civis). A
vitória soviética marcou o início da contraofensiva soviética, que só pararia em Berlim.
289
(SudesteAsiático). Em seguida, para salvaguardar suas conquistas, o alto comando japonês resolveu estender ainda mais seu perímetro defensivo. Para isso, decidiu conquistar as
Ilhas Aleutas, as Midway e completar a conquista da Nova Guiné.
Em maio de 1942, os japoneses atacaram Porto Moresby, na costa sul da
Nova Guiné, que poderia servir de base para uma invasão à Austrália. Para atingir esse
objetivo, uma força invasora japonesa confrontou-se com uma norte-americana na Batalha do Mar de Coral. Este foi o primeiro confronto da história naval em que os navios dos
oponentes atacaram-se sem contato visual, com a ação totalmente conduzida por portaaviões. As perdas materiais e humanas dos contendores foram semelhantes, mas o confronto representou uma vitória estratégica para os norte-americanos, pois os japoneses
desistiram da conquista de Porto Moresby.
Apesar do fracasso na Batalha do Mar de Coral, os japoneses planejaram
uma nova ofensiva, desta vez em alto-mar, para destruir a Frota Americana do Pacífico.
Este ataque japonês também previa a conquista das ilhas Aleutas Ocidentais e Midway. O
confronto teve início em 4 de junho de 1942, e seu resultado foi uma derrota fragorosa
dos japoneses, que perderam 4 navios aeródromos e afundaram apenas 1 do inimigo.
As vitórias aliadas em Midway, em Stalingrado e em El Alamein, ocorridas
na segunda metade de 1942, marcam o fim do expansionismo territorial dos países do
Eixo. Doravante, os aliados ditariam o andamento das operações, colocando os inimigos
na defensiva. A produção bélica aliada, muito superior à dos adversários, teria um papel
decisivo nesse sentido. A partir de 1943, os Aliados lançaram uma maciça campanha de
bombardeios estratégicos às cidades, parques industriais e outras instalações inimigas, o
que prejudicou os esforços de guerra dos países do Eixo.
No norte da África, a derrota na 2ª Batalha de El Alamein obrigou as tropas
do Eixo a realizarem um longo recuo em direção à Tunísia, ocupada pelos alemães em
1942. Apesar de perseguidas pelo 8º Exército Britânico, elas realizaram a retirada em
boas condições, tendo poucas perdas. Mesmo assim, os problemas das forças do Eixo
no norte da África eram muitos: não recebiam suprimentos indispensáveis da Europa,
porque os Aliados controlavam boa parte do mar Mediterrâneo; tinham meios aéreos e
terrestres (aviões e blindados, por exemplo) em quantidade bastante inferior; e não podiam contar com reforços substanciais de pessoal, já que os recursos alemães eram
prioritariamente destinados às tropas que combatiam no leste europeu.
O golpe final para os alemães e italianos no continente africano ocorreu em 8
de novembro de 1942, quando os Aliados desencadearam uma operação anfíbia denominada Tocha (“Operation Torch”). Por meio desta, cerca de 75 mil soldados norte-americanos e britânicos desembarcaram na Argélia e no Marrocos (colônias francesas submetidas à autoridade do governo de Vichy). Os franceses que defendiam a Argélia e o Marrocos não ofereceram grande resistência e, posteriormente, chegaram a organizar tropas
para combater ao lado de ingleses e americanos.
290
FORÇAS MORAIS
Embora, no momento do combate, o soldado lute primordialmente pela
autopreservação, ele se dirige para a batalha e, se sobreviver, prossegue na guerra, movido
por crenças, compromissos, pressões e muitos outros fatores.
Na Segunda Guerra Mundial as ideologias tiveram importância na motivação
dos soldados, mas não de forma primordial. Muitos dos soldados soviéticos que resistiram
com denodo às ofensivas alemãs não o fizeram por serem comunistas, mas sim para defenderem sua pátria, a família e a si próprios das atrocidades que resultariam da subjugação de
sua nação pelos nazistas. O mesmo pode-se dizer dos soldados alemães, quando a maré da
guerra inverteu-se. Estima-se que apenas 15% dos soldados alemães eram nazistas, embora
grande parcela deles tivesse enorme admiração por Hitler. Isso explicaria a resistência de boa
parte dos soldados alemães, que só depuseram as armas quando a Alemanha rendeu-se.
Britânicos e norte-americanos, que também combateram com tenacidade, em
sua maioria não queriam participar de uma guerra, mas viram-se compelidos a fazê-lo para
livrar o mundo de regimes vistos por eles como opressores (o ataque japonês a Pearl Harbor
e a ocupação de grande parte da Europa pela Alemanha corroboravam essa ideia). Os soldados japoneses, que lutavam fanaticamente, preferindo a morte à rendição, estavam impregnados fortemente pelos valores do “Bushido” e pelo sentimento de lealdade a seu imperador.
Por outro lado, soldados de outros países demonstraram, de modo geral, um
espírito combativo muito aquém do esperado. Os italianos, mobilizados para guerras de
conquista, não se entusiasmaram por sacrificar suas vidas. A incompetência de seus comandantes, que em diversas ocasiões os deixaram em situações difíceis por falta de planejamento,
contribuiu para o desânimo da tropa. Os franceses, em 1940, sucumbiram sem oferecer
grande resistência, abalados pelos novos métodos de combate germânicos, que os surpreenderam.
TROPAS SOVIÉTICAS EM STALINGRADO
291
As tropas do Eixo posicionadas na Tunísia estavam agora comprimidas entre
o 8º Exército Britânico e as recém-chegadas tropas aliadas. Rommel ainda encontrou
forças para infligir uma derrota incisiva às inexperientes forças dos Estados Unidos na
Batalha de Passo Kasserine, em fevereiro de 1943, mas foi incapaz de explorar o sucesso
por falta de meios.
Hitler substituiu Rommel pelo general JürgenArnim, mas o novo comandante
encontrava-se em uma posição desesperadora. Os aliados, então, uniram suas forças
para dar o golpe final. No dia 14 de maio de 1943, as forças alemãs e italianas que
restavam no norte da África foram aprisionadas. As perdas totais do Eixo foram estimadas em 620 mil homens, enquanto os Aliados perderam em torno de 258 mil soldados.
Vitoriosos, osAliados fixaram como próximo objetivo colocar a Itália fora da
guerra, pois tal fato ampliaria seu controle sobre o mar Mediterrâneo, por onde passavam
importantes rotas. O fato de haver grande quantidade de homens e materiais disponíveis
no norte da África reforçava essa linha de ação.
Em julho de 1943, tropas do XV Grupo de Exércitos Aliado (7º Exército
Norte-Americano e 8º Exército Britânico) desembarcaram e conquistaram a Sicília, defendida por 10 divisões italianas e 2 alemãs, tendo relativamente poucas baixas. Isso abria
caminho para a invasão da Península Itálica.
Em virtude dos fracassos militares italianos, Benito Mussolini foi deposto e
preso em 25 de julho de 1943 (Mussolini acabou resgatado, mais tarde, pelos alemães e
foi feito líder de um governo títere no norte da Itália). O novo governo na Itália solicitou
um armistício aos Aliados em 8 de setembro de 1943. Diante da perda de seu aliado, os
alemães reagiram com rapidez, ocupando a Itália e a Albânia. Na acidentada Península
Italiana, os alemães estabeleceram uma série de complexas linhas defensivas, por estarem
inferiorizados belicamente em relação aos aliados,
No mesmo dia em que o governo italiano solicitou o armistício, contingentes
do XV Grupo de Exércitos Aliado (agora formado pelo 5º Exército Norte-Americano e
8º Exército Britânico) desembarcaram na Itália. Mesmo enfrentando feroz resistência das
18 divisões alemãs lá estacionadas, iniciaram um lento mas inexorável avanço rumo ao
norte da península. Nápoles foi conquistada em 1º de outubro de 1943, juntamente com
as importantes bases aéreas de Foggia, cuja posse possibilitou aos Aliados bombardearem os campos petrolíferos da Romênia, importantes para os alemães. Após essas ações,
a prioridade aliada deixou de ser a Itália. Boa parte das tropas veteranas foram deslocadas
para a Inglaterra, onde passaram a preparar-se para libertar a França.
As forças que permaneceram na Itália, mesmo com seu poder de combate
reduzido, conseguiram, em 11 de maio de 1944, ultrapassar a Linha Gustav, principal
posição defensiva alemã no sul da península, e, em 4 de junho, conquistar Roma. Os
alemães recuaram em ordem, estabelecendo uma posição defensiva no norte da Itália, a
Linha Gótica, onde mantiveram-se até o início de 1945, sob pressão de forças aliadas.
292
TROPAS
O adestramento das tropas dos diversos países que tomaram parte da Segunda Guerra Mundial
não era uniforme. Até mesmo em um mesmo país, a preparação do soldado para a guerra, devido a diversas
circunstâncias, poderia variar. AAlemanha, por exemplo, no início da guerra, empregou tropas com elevado
treinamento, mas, no final, em face da falta de meios e tempo, utilizou contingentes com pouca instrução.
Em diversos países foram formadas unidades para realizar missões de alto risco, compostas por
soldados rigorosamente selecionados e instruídos. Nas Forças Armadas da Alemanha, em 1940, durante a
ofensiva sobre a França, sobressaíram-se as tropas paraquedistas, que conquistaram importantes objetivos,
como a fortaleza belga de Eben Emael; mais tarde, estas mesmas tropas foram responsáveis por um audacioso
assalto aeroterrestre, que resultou na conquista da ilha de Creta.As divisões blindadas alemãs (Panzer) também
tiveram desempenho excepcional em muitos episódios, principalmente as que combateram sob o comando de
Rommel no norte da África. As tropas alemãs consideradas de elite, entretanto, eram as SS (Shutzstaffel-tropas
de proteção), compostas por soldados nazistas que lutaram fanaticamente em muitos combates, às vezes
cometendo atrocidades.
Entre os contingentes norte-americanos destacaram-se os fuzileiros navais, que travaram duros
combates nas ilhas do Pacífico; as tropas de montanha, empregadas na Itália; e as tropas paraquedistas, que
cumpriram árduas missões na ofensiva aliada final à Alemanha. Os britânicos, por sua vez, criaram, em 1940,
unidades de “comandos”, constituídas por soldados que realizam incursões em áreas sob controle do inimigo,
com o intuito de executar complicadas missões, muita das quais destinadas a desmoralizar o adversário.
Na Birmânia, britânicos e americanos empregaram, respectivamente, os “Chindits” e os “Bandits
of Merrill”. Tratavam-se de unidades de penetração profunda, especialmente preparadas para se infiltrarem nas
linhas inimigas, a fim de desorganizar sistemas de comunicação e rotas de suprimento.
Os soldados do Japão mostraram-se bons combatentes de selva, mas, mais famosos ficaram os
pilotos “kamikazes” (vento divino) que, no final da guerra, em aviões especiais, realizaram missões suicidas
para causar os maiores danos possíveis às forças norte-americanas.
Finalmente, tiveram grande importância os guerrilheiros, que contribuíram bastante para a vitória aliada. Na Europa, atuando em territórios controlados pelos alemães (partes da França, Iugoslávia, Itália e
Rússia), esses combatentes, entre muitas outras ações, forneciam informações relevantes aos aliados, emboscavam o inimigo e sabotavam ferrovias.
COMANDOS NO NORTE DAÁFRICA
293
Na frente oriental, no início de 1943, o Exército Soviético, após vencer os
alemães em Stalingrado, passou a pressionar continuamente os germânicos. Dispunha
para isso de ampla superioridade em soldados (aproximadamente 7 milhões contra 3,5
milhões do inimigo) e equipamentos (muitos fornecidos pelos Estados Unidos).
Em julho de 1943, os alemães, buscando desesperadamente revidar, empreenderam um grande esforço para destruir substanciais forças soviéticas que se encontravam
em um saliente, na região do Kursk. Os germânicos contavam com 2.700 carros-decombate, 800.000 soldados e 2.000 aviões, os soviéticos com 3.600 carros-de-combate, 1.300.000 soldados e 2.400 aviões. O ataque alemão em Kursk, denominado Operação Cidadela (“Unternehmen Zitadelle”), foi desencadeado mas fracassou, redundando
em grandes perdas para os germânicos.
Após a Batalha de Kursk, os soviéticos reiniciaram suas ofensivas, fazendo
ceder os flancos e o centro da linha alemã. Os alemães foram obrigados a recuar por
centenas de quilômetros, com perdas humanas e materiais insubstituíveis. Em seus avanços, os soviéticos retomaram cidades importantes, como Kharkov, Smolensk e Kiev.
No norte da frente oriental, em janeiro de 1944, os soviéticos levantaram o
cerco alemão à Leningrado e começaram a esfacelar o flanco esquerdo germânico. Em
setembro de 1944, o Exército Vermelho apossou-se da Estônia e Letônia. Nesse mesmo
mês, os finlandeses, que apoiaram a invasão alemã à URSS, pressionados, renderam-se
às tropas soviéticas.
No sul da frente oriental, em maio de 1944, as tropas alemãs que se encontravam na Crimeia retiraram-se para a Romênia. Logo depois, os soviéticos avançaram
para a Romênia e Hungria. Os governantes romenos e húngaros, sem condições de resistir ao inimigo, solicitaram o armistício em setembro de 1944. Em consequência, os soviéticos passaram a controlar os campos petrolíferos romenos, vitais para os alemães. Também em setembro de 1944, a Bulgária mudou de lado, quando forças soviéticas cruzaram
o Danúbio. Na Iugoslávia, em outubro de 1944, guerrilheiros tomaram a capital Belgrado,
expulsando os alemães do país.
No centro da frente oriental, em julho de 1944, forças soviéticas destruíram as
forças alemãs que defendiam a Bielo-Rússia. Em 7 de agosto, os soviéticos penetraram
na Polônia, onde se detiveram a leste de Varsóvia (poucos dias antes, começara um levante nessa cidade contra a ocupação alemã; os soviéticos, no entanto, não apoiaram os
poloneses, que foram derrotados, em outubro, pelos alemães).
Em dezembro de 1944, os soviéticos adentraram na Alemanha (Prússia Oriental), agravando ainda mais a situação dos alemães, que, desde junho de 1944, lutavam
para deter os Aliados ocidentais, que haviam se engajado na libertação da França.
Nos anos de 1943 e 1944, Stalin, diversas vezes, solicitou aos aliados a
abertura de uma nova frente de combate na Europa Ocidental, para aliviar a pressão que
o grosso das tropas alemãs exercia sobre o Exército Soviético. Os aliados preparavam294
O BRASIL NA II GUERRA MUNDIAL
Quando a guerra teve início, o Brasil manteve uma atitude imparcial, seguindo
acordos diplomáticos firmados com os países americanos, que estabeleciam a neutralidade
continental. Com a intensificação e expansão do conflito, o Brasil, aos poucos, foi alinhando-se aos Estados Unidos, que haviam entrado na guerra contra os países do Eixo em
dezembro de 1941, após o ataque japonês à base de Pearl Harbor.
A partir do ano de 1942, diversos navios mercantes brasileiros foram afundados
por submarinos alemães, que tentavam sufocar a economia aliada. Em resposta, o Brasil
declarou guerra aos países do Eixo e passou a contribuir para o esforço de guerra Aliado
com ações políticas, econômicas e militares.
Na campo militar, a Marinha do Brasil passou a escoltar comboios de navios
mercantes que se dirigiam para os Estados Unidos e patrulhou a costa brasileira. O governo brasileiro também organizou uma divisão de infantaria (Força Expedicionária Brasileira
- FEB) e um grupo de aviação de caça para o Teatro de Operações da Itália.
O grupo de caça brasileiro chegou a realizar 45% das missões aliadas na Itália,
sendo reconhecido pelo Comando Aliado como altamente eficaz. Já a Força Expedicionária Brasileira, comandada pelo General João Baptista Mascarenhas de Morais, com um
efetivo de aproximadamente 25 mil homens, foi incorporada ao 5º Exército Norte-Americano, que buscava romper a Linha Gótica, posição defensiva estabelecida pelos alemães
no norte da Itália.
Nos anos de 1944 e 45, as tropas brasileiras realizaram campanhas vitoriosas,
nos vales dos Rios Sercchio, Reno, Panaro e Pó, vencendo combates em Monte Castelo,
Montese, Castelnuovo, Colecchio e Fornovo. Para coroar sua participação, a FEB capturou a 148º Divisão de Infantaria Alemã, fazendo mais de 17 mil prisioneiros.
PATRULHA BRASILEIRA NA LINHA DE FRENTE
295
PROCESSOS DE COMBATE SOVIÉTICOS
3
5
7
1
4
6
6
2
Após sofrerem grandes reveses no início da Operação Barba Roxa, os soviéticos desenvolveram um processo de combate para conter a “blitzkrieg”, obtendo bons
resultados.
Basicamente, os russos estabeleceram sistemas defensivos profundos, fortemente minados (1), constituídos de pontos fortes (2), capazes de lançar fogos em todas as
direções e de se apoiarem mutuamente. Tropas, inclusive blindadas (3), ficavam normalmente à retaguarda, em condições de realizar contra-ataques.
Quando o inimigo atacava, os russos procuravam, por meio dos campos minados e outros obstáculos (naturais ou artificiais), canalizar as colunas blindadas adversárias
(4) para pontos fortes fartamente munidos de armas anticarro (5). Ao mesmo tempo,
lançavam ataques (6) para separar os blindados que estavam na vanguarda das demais
forças que vinham à retaguarda. Uma vez separadas de suas unidades de apoio, as unidades blindadas alemãs ficavam perigosamente expostas, às vezes sem suprimentos, aos
ataques da artilharia, dos carros-de-combate (7) e de “caçadores” de carros-de-combate
da URSS.
TROPAS SOVIÉTICAS
296
se nesse sentido, planejando detalhadamente uma operação anfíbia denominada Overlord,
que, da Inglaterra, seria lançada para libertar a França, através de um desembarque na
Normandia. Para tal tarefa, os Aliados dispunham de 37 divisões bem equipadas e
adestradas.
Para manter a França, os alemães contavam com 60 divisões, muitas delas
com reduzido poder de combate. Além disso, esperavam valer-se de um sistema de defesas conhecido como “Muralha do Atlântico”, construído no litoral norte da Europa.
Preliminarmente ao ataque principal, os aliados lançaram diversas operações.
Entre essas, ações diversionárias foram realizadas para dar a entender aos alemães que a
invasão seria realizada pela parte mais estreita do Canal da Mancha (Estreito de Calais),
e a aviação aliada bombardeou o norte da França, com o intuito de romper as comunicações por vias férreas e rodoviárias, de modo a evitar que reforços alemães alcançassem
o litoral francês.
A ofensiva na Normandia, propriamente dita, iniciou-se em 6 de junho de
1944 (Dia “D”), com um intenso bombardeio aéreo e naval às posições costeiras alemãs.
Paraquedistas aliados foram lançados à retaguarda das defesas inimigas para desestabilizálas. A Força Aérea Aliada obteve ampla supremacia, fator vital para o sucesso da operação. Em seguida, tropas do XXI Grupo de Exércitos Aliado (1º Exército Norte-Americano e 2º Exército Britânico) desembarcaram nas praias da Normandia, que receberam os
codinomes Gold, Juno, Sword, Omaha e Utah. Embora a resistência alemã fosse tenaz,
os aliados conseguiram consolidar posições no litoral.Ataques aéreos aliados impediram
que reforços alemães substanciais apoiassem os defensores, o que permitiu, nas semanas
seguintes, aos Aliados avançar para o interior do continente.
A resistência alemã continuou determinada no interior da França, mas não
resistiu aos aliados, que passaram a contar com o apoio do 7º Exército Norte-Americano
desembarcado no sul da França em 15 de agosto, na Operação Dragão (“Operation
Dragoon”). O avanço aliado prosseguiu em direção a Paris, que foi libertada em 25 de
agosto de 1944. Os alemães só conseguiram reagrupar-se eficazmente na linha defensiva
Siegfried, na fronteira da Alemanha com a França, onde passaram a ser pressionados por
três Grupos de Exércitos Aliados: o XXI (agora formado pelo 1º Exército Canadense e 2º
Exército Britânico), o XII (1º, 3º e 9º Exércitos Norte-Americanos), e VI (1º Exército
Francês e 7º Norte-Americano).
Tendo em vista abreviar o desfecho da guerra, os aliados, após penetrarem
na Bélgica, lançaram um assalto aeroterrestre com 3 divisões de paraquedistas na Holanda
(“Operation Market Garden”). O Objetivo era capturar as principais pontes do Reno, o
que permitiria aos aliados estabelecer rotas diretas para o interior daAlemanha. O ataque,
porém, fracassou e os aliados tiveram grandes perdas.
Hitler ainda dispunha de 65 divisões, mas poucas estavam devidamente equipadas, e muitas eram compostas por militares fora da idade de servir (velhos ou
297
jovens demais para combater eficazmente). A derrota alemã parecia inevitável, mas o
líder alemão decidiu surpreender os aliados lançando uma última contraofensiva, que
seria executada nasArdenas, tendo em vista dividir os aliados e conquistarAntuérpia, por
onde chegavam os suprimentos do inimigo.
Para esse ataque, Hitler reuniu 24 divisões (10 blindadas). A “Batalha do
Bolsão”, como foi chamado o ataque alemão, foi desencadeado em 16 de dezembro de
1944 contra o 5º Corpo de Exército Norte-Americano. Inicialmente os alemães obtiveramsucesso, derrotando as forças norte-americanas que não esperavamuma contraofensiva
em pleno inverno, em uma região de matas cerradas. Após o ímpeto inicial, uma escassez
aguda de combustível prejudicou as ações das forças alemãs, que foram detidas e contraatacadas.
No Pacífico, incentivados pela vitória em Midway, os norte-americanos iniciaram uma contraofensiva aos japoneses, conquistando, em novembro de 1942, a importante base naval de Guadalcanal. Depois, forças dos Estados Unidos iniciaram ataques contra os japoneses nas Ilhas Salomão e Nova Guiné, que se prolongaram até o final
da guerra.
Os ataques às Ilhas Salomão e a Nova Guiné, na verdade, eram diversionários,
pois o plano principal dos Estados Unidos previa como objetivos a destruição da Marinha Japonesa e a abertura de uma rota que levasse os norte-americanos diretamente ao
Japão (seriam conquistados somente os territórios indispensáveis para tal propósito, as
demais áreas ocupadas pelos japoneses seriam isoladas). Para isso, os norte-americanos
dividiram suas forças em dois grandes Comandos de Área: o do Pacífico Central e o do
Sudeste do Pacífico, comandados, respectivamente, pelo almirante Chester William Nimitz
e pelo general Douglas MacArthur.
Seguindo o plano traçado, as forças do Comando do Pacífico Central conquistaram, em novembro de 1943, Makin e Tarawa. Em resposta, a esquadra japonesa
avançou para enfrentar as forças de Nimitz e o embate deu-se em junho de 1944, em
torno das ilhas Marianas. Os japoneses sofreram mais uma grande derrota naval (perderam 3 navios aeródromos e 600 aviões), o que possibilitou aos norte-americanos capturar as ilhas Marianas, de onde aeronaves poderiam bombardear diretamente o Japão.
Em setembro de 1944, as forças de Nimitz ocuparam Saipan, Guam, Yap e Palau.
Paralelamente, os contingentes do Comando do Sudeste do Pacífico também
obtiveram êxitos, entre os quais destaca-se a conquista das Filipinas, onde ocorreu a
Batalha Naval do Golfo de Leyte, entre 23 e 25 de outubro de 1944. Dela resultou mais
uma vitória dos norte-americanos e a destruição quase completa do poder de combate da
Marinha Japonesa. No confronto, os japoneses perderam 4 navios aeródromos, 3 couraçados, 22 outros navios, cerca de 500 aviões e 10.500 marinheiros e aeronautas; os
norte-americanos, 3 pequenos navios-aeródromos, 3 destroieres, 200 aviões e 3.800
marinheiros e aeronautas.
298
AT
LÂ
N
TIC
O
EUROPA 1943/1944/1945
A
OC
EA
NO
FINLÂNDIA
NO
RU
EG
Lago ladoga
Helsinque
Oslo
URSS
Leningrado
SUÉCIA
REINO UNIDO
MAR DO
NORTE
MAR
BÁLTICO
DINAMARCA
IRLANDA
ESTÔNIA
LETÔNIA
Moscou
LITUÂNIA
Danzig
Londres
HOLANDA
Antuérpia
ALEM.
Kursk
BIELORÚSSIA
Berlim
BÉLGICA
Stalingrado
Varsóvia
Paris
Kiev
POLÔNIA
ALEMANHA
E S L OV
Kharkov
Á Q U IA
SUÍÇA
HUNGRIA
FRANÇA DE VICHY
IU
G
ITÁLIA
ESPANHA
ROMÊNIA
Crimeia
Bucareste
O
SL
ÁV Belgrado
IA
Cáucaso
MAR NEGRO
BULGÁRIA
Roma
Sófia
Nápoles
ALBÂNIA
TURQUIA
Túnis
Sícilia
Atenas
GRÉCIA
COLÔNIAS FRANCESAS
MAR MEDITERRÂNEO
CRETA
TUNÍSIA
ARGÉLIA
Trípoli
Tobruk
El Alamein
Bengasi
EA
ÁR
LÍBIA
ÁREA SOB CONTROLE DO EIXO (1942)
OFENSIVAS ALIADAS EM 1943
OFENSIVAS SOVIÉTICAS EM 1944
OFENSIVAS ALIADAS EM 1944
OFENSIVAS SOVIÉTICAS EM 1945
OFENSIVAS ALIADAS EM 1945
OL
TR
Suez
PAÍSES ALIADOS DO EIXO
PAÍSES NEUTROS
OFENSIVAS SOVIÉTICAS EM 1943
ON
BC
SO
ICO
ÂN
RIT
B
E
OFENSIVAS ALEMÃS EM 1943
OFENSIVAS ALEMÃS EM 1944
RETIRADAS ALEMÃS EM 1944
RETIRADAS ALEMÃS EM 1945
RETIRADAS ALEMÃS EM 1943
299
Enquanto ocorria a ofensiva norte-americana no Pacífico, os japoneses que
ocupavam a Birmânia, em março de 1944, resolveram invadir a Índia. Atacaram as cidades de Kohima e Imphal, mas foram rechaçados. Em novembro de 1944, os britânicos
contra-atacaram, avançando em direção a Yangon (capital da Birmânia).
Quando o ano de 1945 teve início, a Alemanha e o Japão estavam em situação desesperadora. Na Itália, os Aliados lançaram a Ofensiva da Primavera, graças à
qual romperam a Linha Gótica e adentraram no Vale do Pó, em perseguição às forças
alemãs, que se renderam em 2 de maio de 1945. Mussolini, capturado por guerrilheiros
italianos, foi executado.
No oeste europeu, após derrotar os alemães na Batalha do Bolsão, os aliados cruzaram o rio Reno e ocuparam a região do Ruhr (principal centro industrial da
Alemanha).
A GUERRA NO PACÍFICO E NO SUDESTE ASIÁTICO
URSS
SAKALINA
ALÊUTAS
ATU
KISKA
MONGÓLIA
S
LA
RI
KU
MANCHÚRIA
CORÉIA
CHINA
JAPÃO
Tókio
Hiroshima
O
AN
E
OC
Nagasaki
NEPAL
ÍNDIA
BIRMÂNIA
IWOSHIMA
FORMOSA
Hong kong
Pearl Harbor
MARIANA
wake
Yangon
TAYLÂNDIA
INDOCHINA
SAIPAN
GUAN
FILIPINAS
Yap
LEYTE
CEILÃO
Palau
NO
EA
OC
MALÁSIA
Singapura
ÍND
SUMATRA
MARSHALL
AS
LIN
O
R
CA
BORNÉU
ICO
´
300
COMANDO DO PACÍFICO CENTRAL
TARAWA
GILBERT
SALOMÃO
GUADALCANAL
Porto
AUSTRÁLIA Moresby
TERRITÓRIOS
OCUPADOS
PELO JAPÃO
MAKIN
COMANDO DO SUDESTE DO PACÍFICO
NOVA GUINE
JAVA
MIDWAY
HAVAÍ
OKINAWA
Kohima
Imphal
CO
ÍFI
C
PA
TERRITÓRIOS
CONQUISTADOS
PELOS EUA E
ALIADOS
MAR DE CORAU
MÁXIMA EXPANSÃO
DO PERÍMETRO DE
DEFESA JAPONÊS
OFENSIVAS NORTEAMERICANAS
293
No leste europeu, os soviéticos, com imensa superioridade de meios, fizeram
ruir as posições defensivas inimigas. Cruzaram o rio Oder, em 31 de janeiro, e a fronteira
austríaca, em 15 de abril de 1945. Berlim foi cercada pelo Exército Soviético em 25 de
abril. Nessa mesma data, norte-americanos e soviéticos encontraram-se em Torgau, no
Rio Elba.
A batalha por Berlim foi sangrenta, mas, pouco a pouco, o Exército Soviético
foi conquistando a capital alemã. Adolf Hitler cometeu suicídio em 30 de abril, quando
tropas soviéticas aproximavam-se da Chancelaria Alemã, onde ele se encontrava. Em 8
de maio de 1945, as forças alemãs que ainda lutavam aceitaram os termos da rendição
incondicional imposta pelosAliados. Com a rendição alemã, a guerra acabava na Europa,
mas ainda prosseguia no Sudeste Asiático e no Pacífico.
Na Birmânia, os britânicos conquistaramYangon em maio de 1945, obrigando os japoneses a render-se. No Pacífico, os norte-americanos conquistaram, por meio
de dois grandes ataques anfíbios, em março de 1945, as ilhas de Iwo Jima, e, em agosto,
Okinawa. Iwo Jima e Okinawa, próximas ao Japão, serviram como importantes bases
para os bombardeiros norte-americanos.
Para finalizar a guerra, no entanto, os americanos teriam de forçar a rendição
dos japoneses. Aexpectativa de baixas norte-americanas em uma invasão ao Japão eram
grandes, pois os combates em Iwo Jima e Okinawa, devido à feroz resistência inimiga,
foram muito custosos em termos de soldados mortos (aproximadamente 7 mil homens em
Iwo Jima e 16 mil em Okinawa). Em virtude disso, o presidente norte-americano, Harry
S. Truman, que substituíra Roosevelt, falecido em 12 de abril de 1945, decidiu empregar
a recém-desenvolvida bomba atômica, para abreviar o conflito.
Em 6 de agosto de 1945, uma bomba atômica foi lançada sobre Hiroshima,
matando, na hora, cerca de 80 mil pessoas. Outra foi lançada em Nagasáki, em 9 de
agosto de 1945, ceifando 40 mil vidas. Paralelamente, a URSS declarou guerra ao Japão
e invadiu a Manchúria. Diante dos ataques devastadores e da declaração de guerra
soviética, o Imperador Japonês anunciou a rendição de seu país, o que aconteceu em 2 de
setembro de 1945, pondo fim à Segunda Guerra Mundial.
O segundo conflito mundial caracterizou-se por ter um caráter total, ou seja,
os principais países envolvidos empregaram todos os meios a seu alcance para derrotar
os oponentes (o emprego das bombas atômicas exemplifica o grau de violência a que
chegou a guerra). Combates sangrentos aconteceram no mar, no ar e em terra; em desertos, selvas, planícies, montanhas, cidades e ilhas; em temperaturas por vezes escaldantes
ou enregelantes. Operações combinadas, aeroterrestres e anfíbias foram largamente empregadas. Cerca de sessenta milhões de pessoas morreram em consequência dos combates ou devido a perseguições, trabalho escravo, execuções, fome e doenças.
Os países derrotados perderam territórios e dois deles, a Alemanha e o Japão, passaram a ser governados pelos Aliados. A Europa, enfraquecida pela guerra, deixou de ser o centro das decisões, substituída pelos Estados Unidos e pela URSS.
301
A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS
A Organização das Nações Unidas (ONU) foi criada em 1945 com o objetivo
de manter a paz mundial, estimular relações internacionais amistosas e coordenar ações
que visem à resolução de problemas de ordem social, política e humanitária em âmbito
mundial.
Seus órgãos principais são o Conselho de Segurança, a Assembleia Geral, a
Corte Internacional de Justiça, o Conselho Econômico e Social e a Secretaria. O Conselho de Segurança é o principal órgão, pois tem a responsabilidade de manter a paz e
a segurança mundial. É constituído por cinco membros permanentes: China, Federação
Russa, Estados Unidos, Reino Unido e França, que possuem direito a veto; e por outros
dez, eleitos pela Assembleia Geral, por um período de dois anos, sem direito a veto.
Para cumprir seus objetivos, o Conselho de Segurança pode fazer uso de
meios pacíficos ou não. Desse modo, pode autorizar intervenções militares ou missões
de paz em países onde há conflitos ou crises. O Brasil, como membro da ONU, enviou
tropas para o Canal de Suez em 1957, para manter a paz entre israelenses e egípcios.
Posteriormente, as Forças Armadas brasileiras enviaram contingentes para missões de
paz em Moçambique, Angola, Timor Leste e Haiti.
PRIMEIRASESSÃO DA ASSEMBLEIAGERAL DAONU, REALIZADA
EM 06 DE JANEIRO DE 1946, NO CENTRAL HALL, EM LONDRES
302
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