ELONIR JOSÉ SAVIAN PAULO HENRIQUE BARBOSA LACERDA INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE HISTÓRIAMILITAR GERAL RESENDE 2015 S267m LACERDA, Paulo Henrique Barbosa; SAVIAN, Elonir José Introdução ao Estudo de História Militar Geral/Paulo Henrique Barbosa Lacerda; Elonir José Savian. Resende: AMAN, 2015. 1. História. 2. História Militar. 3.Guerra. 4. Batalhas. 5. Exércitos. 355.009 SUMÁRIO (Idades Antiga, Média e Moderna) Apresentação............................................................................................................................................. 07 PARTE I - IDADE ANTIGA Capítulo 1 - Mesopotâmia........................................................................................................................ 13 Capítulo 2 - Grécia e Macedônia........................................................................................................... 23 Capítulo 3 - Roma...........................................................................................................................................35 Capítulo 4 - Os Bárbaros...............................................................................................................................51 PARTE II - IDADE MÉDIA Capítulo 5 - O Império Bizantino......................................................................................................... 61 Capítulo 6 - Os Árabes............................................................................................................................ 69 Capítulo 7 - Os Francos.......................................................................................................................... 75 Capítulo 8 -AEuropa Feudal................................................................................................................ 83 Capítulo 9- Os Mongóis........................................................................................................................... 95 PARTE III - IDADE MODERNA Capítulo 10 - Guerras na Itália (1494-1525)..................................................................................... 105 Capítulo 11 - O Exército Espanhol no Século XVI e as Tropas Holandesas de Nassau.............. 115 Capítulo 12 -AGuerra dos TrintaAnos e GustavoAdolfo.............................................................. 127 Capítulo 13 - O Exército Francês no Reinado de Luís XIV............................................................ 135 Capítulo 14 - O Exército Prussiano e o Pensamento Militar Francês no Século XVIIII.......... 143 SUMÁRIO (Idade Contemporânea) PARTE IV - IDADE CONTEMPORÂNEA Capítulo 15 -A Revolução Francesa................................................................................................... 155 Capítulo 16 - Napoleão Bonaparte......................................................................................................... 165 Capítulo 17 -AGuerra da Crimeia...................................................................................................... 185 Capítulo 18 -AGuerra CivilAmericana............................................................................................ 195 Capítulo 19 -AUnificaçãoAlemã......................................................................................................... 207 Capítulo 20 -AGuerra dos Bôeres...................................................................................................... 219 Capítulo 21 -AGuerra Russo-Japonesa............................................................................................. 227 Capítulo22 -A Primeira Guerra Mundial......................................................................................... 235 Capítulo 23 - O Período Entreguerras............................................................................................... 261 Capítulo 24 -ASegunda Guerra Mundial.......................................................................................... 269 Capítulo 25 - Guerras da Indochina................................................................................................... 307 Capítulo 26 - O Conflito Árabe-Israelense......................................................................................... 323 Capítulo 27 -AGuerra das Malvinas.................................................................................................. 335 Capítulo 28 - As Guerras no Golfo Pérsico....................................................................................... 345 Capítulo 29 - Reflexões sobre a GuerraAtual e a Futura.............................................................. 357 Crédito das imagens............................................................................................................................... 361 Referências.................................................................................................................................................. 363 CAPÍTULO 22 A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL “Assim que deixamos a borda da floresta, uma saraivada de balas assoviou junto aos nossos narizes e atingiram árvores atrás. Cinco ou seis gritaram perto de mim, cinco ou seis de meus companheiros caíram na grama (...) O fogo parecia vir de longa distância, um pouco à esquerda (...) E lá estávamos nós, avançando como se estivéssemos em um desfile (...) em direção a um metálico som de marteladas, seguido por uma pausa e, então, por marteladas 33 ainda mais rápidas, metralhadoras”. Relato de um oficial alemão, sobre um assalto a uma posição britânica. Nos primeiros anos do século XX, um conflito de proporções mundiais parecia pouco provável para a maioria dos europeus. As populações das principais potências da Europa vivenciavam um período de paz, prosperidade econômica, desenvolvimento cultural e avanços científicos, conhecido na França como “Belle Époque”. Havia percepções de se estar fazendo parte de uma realidade produtiva e de um futuro promissor. Tal contexto decorria de diversas razões: a última guerra de vulto na Europa fora a Guerra Franco-Prussiana (1870-71); o cinema, o impressionismo e a “Art Nouveau” difundiam-se, revolucionando estilos de se pensar e viver; e novas tecnologias propiciavam o advento de notáveis invenções, como as do avião e do rádio. Embora os Estados Unidos já fossem uma potência de primeiro nível, o domínio global era exercido por países europeus: o Império Britânico possuía vastos territórios em todo o mundo e uma pujante atividade comercial; o Império Russo estendia-se por dois continentes e, paulatinamente, desenvolvia seu imenso potencial industrial; a Alemanha era a maior nação industrializada do continente e progredia aceleradamente; e a França tinha diversas colônias e um comércio próspero. Entretanto, um observador mais atento perceberia que, na Europa, aconteciam eventos que poderiam redundar em uma grande crise. Havia uma crescente corrida armamentista, por meio da qual os países buscavam sobrepujar ou, pelo menos, equiparar seu poder militar ao dos potencialmente rivais. AInglaterra e aAlemanha, por exemplo, considerando vital o domínio dos mares em caso de um conflito, intensificaram a construção de navios; uma para manter sua hegemonia nos mares, a outra para poder fazer frente à primeira. 33 apud KEEGAN, 2005, p.110. 235 Na esfera econômica, a Alemanha tornara-se a principal potência industrial europeia, o que era visto como uma ameaça pela Inglaterra e França, que se viam perdendo espaço na economia mundial. O projeto do governo alemão relativo à construção de uma ferrovia ligando Berlim a Bagdá contribuía para acirrar os ânimos, já que esta obra colocaria os imensos lençóis petrolíferos do Oriente Médio à disposição da Alemanha. Existiam disputas imperialistas entre as nações europeias, sempre ávidas de aumentar seu prestígio e seu comércio internacional. Em 1905, por exemplo, ocorreu uma crise diplomática entre países europeus em virtude de interesses conflitantes em relação ao Marrocos. AInglaterra e a França fizeram um pacto pelo qual os ingleses reconheciam o direito da França controlar o Marrocos; em contrapartida, os franceses concordavam com o domínio pleno da Inglaterra sobre o Egito. Tal acordo foi contestado pelo governo alemão, que se mostrou disposto a defender o Marrocos de interferências estrangeiras. Após negociações, um ambíguo tratado reconheceu a soberania do Marrocos, sendo, no entanto, resguardados os interesses da França naquele país. Havia também um clima de fervor nacionalista e de hostilidade entre os países. Isso era explorado por órgãos sensacionalistas e líderes governamentais, que lembravam incessantemente aos cidadãos ou súditos as glórias das guerras vencidas, os desapontamentos dos reveses sofridos e os objetivos nacionais a serem alcançados. Em consequência, os franceses desejavam ardentemente vingar-se da derrota na Guerra Franco-Prussiana e recuperar a Alsácia e a Lorena; os italianos esperavam anexar a seu país as “terras irredentas” (territórios que diziam lhes pertencer legitimamente); um movimento pangermânico lutava pela unificação dos povos germânicos; e ummovimento pan-eslavista pretendia unificar os povos eslavos dos Bálcãs em uma “Grande Sérvia”. Ainda havia estados, como os ImpériosAustro-Húngaro e Russo, que tinham graves problemas sociais, econômicos e políticos. Para muitas lideranças desses países, uma guerra poderia levar à união nacional, possibilitando a superação das crises internas. Para agravar a situação, diplomatas, seguindo orientação de seus governantes, estabeleceram, por meio de acordos secretos, intrincados sistemas de alianças. Às vésperas da Primeira Guerra Mundial, os países europeus, de acordo com seus objetivos nacionais, estavam alinhados em dois blocos antagônicos: a TrípliceAliança, formada pela Alemanha (buscava manter a supremacia no continente e tornar-se política e maritimamente a nação preponderante no globo), ImpérioAustro-Húngaro (almejava implementar uma política de hegemonia sobre os Bálcãs) e Itália (entrara na aliança por haver tido atritos coloniais com a França, mas estes, em grande parte, estavam resolvidos); e a Tríplice Entente, formada pela França (visava reconquistar aAlsácia e a Lorena e restabelecer sua supremacia no continente), Império Russo (temia um avanço alemão ou austrohúngaro para o leste europeu, almejava absorver os Bálcãs e procurava uma saída para o mar Mediterrâneo) e Inglaterra (desejava conter o expansionismo alemão). Outros estados europeus, de menor força, gravitavam em torno desta ou daquela aliança, de acordo com seus interesses e conveniências. 236 A situação era particularmente preocupante nos Bálcãs, área ambicionada por russos e austro-húngaros, onde, a partir da terceira década do século XIX, gregos, sérvios, montenegrinos, romenos, búlgaros e albaneses erigiram países em detrimento do decadente Império Otomano. A região estava convulsionada, em virtude de os países locais buscarem ampliar seus territórios. Tal fato causou duas guerras curtas nos anos de 1912 e 1913, cujas principais consequências foramo surgimento daAlbânia e a expansão territorial do Reino da Sérvia. O fortalecimento do Reino da Sérvia, que era apoiado pelo Império Russo (ambos de população eslava), preocupava o Império Austro-Húngaro (formado por diversas etnias, governado por soberanos germânicos), que era respaldado pelo Império Alemão (nação germânica). Tal preocupação existia porque líderes nacionalistas sérvios, tendo em vista formar uma “Grande Sérvia”, esperavam anexar os territórios austro-húngaros da Bósnia-Herzegovina (área habitada predominantemente por eslavos). Para fazer frente a essa ameaça, o arquiduque Francisco Ferdinando, futuro Imperador Austro-Húngaro, pretendia transformar o império dual austro-húngaro em um estado tríplice austro-húngaro-eslavo, o que, para ele, poria fim a qualquer ideia separatista de seus súditos eslavos. No dia 28 de junho de 1914, Francisco Ferdinando resolveu visitar Saravejo, capital da Bósnia, fato visto por muitos sérvios como uma afronta. Durante sua estada, o arquiduque sofreu um atentado que resultou em sua morte. Gavrilo Princip, um estudante bósnio, autor dos disparos que vitimaram o arquiduque, foi imediatamente preso e identificado como integrante de um grupo nacionalista-terrorista, que teria ligações com o serviço secreto sérvio. O governo austro-húngaro exigiu satisfações à Sérvia, por meio de um ultimato (23 de julho de 1914). Todas as exigências foram atendidas, exceto a de que tribunais e policiais austro-húngaros operassem em território sérvio, a fim de supervisionar o esclarecimento do crime e a punição dos culpados. Diante da recusa dos sérvios em atender na plenitude o ultimato, o Império Austro-Húngaro declarou guerra ao Reino da Sérvia (28 de julho de 1914). Esta atitude fez desencadear o sistema de alianças pré-estabelecido. Os russos começaram a mobilizar seus exércitos, para apoiar os sérvios, e, em virtude disso, os alemães declararam guerra à Rússia (1º de agosto de 1914). Pouco depois, em 03 de agosto, os alemães declararam guerra também à França, que começava a se mobilizar, acusando-a de ter invadido o espaço aéreo germânico. Com esses fatos, iniciava-se a Primeira Guerra Mundial. As declarações de guerra foram recebidas festivamente pelas populações de diversos países, impregnadas pelo espírito nacionalista. Para muitos, chegava a hora, há muito aguardada, de mostrar a superioridade de sua nação, de resolver antigas pendências e de levar a cabo antigas aspirações nacionais. Esperava-se, de modo geral, que a guerra fosse curta. No máximo deveria 237 EUROPA DURANTE A GUERRA ÂN TI CO NO RU EG A ISLÂNDIA SUÉCIA EA NO AT L MAR DO NORTE DINAMARCA OC REINO UNIDO RÚSSIA HOLANDA BÉLGICA ALEMANHA LUXEMBURGO FRANÇA ÁUSTRIAHUNGRIA UG AL ROMÊNIA MAR NEGRO SÉRVIA BULGÁRIA MONTENEGRO ITÁLIA IM PÉ ALBÂNIA RI O OT OM GRÉCIA MAR MEDITERRÂNEO AN O ESPANHA PO RT SUÍÇA ÁFRICA ALIADOS PAÍSES NEUTROS POTÊNCIAS CENTRAIS ` VESPERAS ´ RECURSOS DOS PRINCIPAIS BELIGERANTES ÁS DA GUERRAS GRÃBRETANHA FRANÇA RÚSSIA ALEMANHA AUSTROHUNGRIA POPULAÇÃO 46.407.037 39.601.509 167.000.000 65.000.000 49.000.000 FROTA MERCANTIL (TON VAPOR LÍQUIDO) 11.538.000 1.098.000 486.917 3.096.000 559.784 NAVIOS DE GUERRA 64 28 16 40 6 SUBMARINOS 64 73 29 23 06 1.223.152.000 424.000.000 190.247.000 1.030.380.000 198.712.000 6.903.000 4.333.000 4.416.000 17.024.000 2.642.000 37.716 40.982 74.935 63.457 44.319 711.000 3.500.000 4.423.000 8.500.000 3.000.000 VALOR ANUAL DO COMÉRCIO EXTERIOR EM LIBRAS ESTERLINAS PRODUÇÃO ANUAL DE AÇO (ton) FERROVIAS (KM) SOLDADOS DISPONÍVEIS PARA MOBILIZAÇÃO IMEDIATA Fonte: História do século 20: 1914/1919. São Paulo: Abril, 1968. p.497. 238 prolongar-se até o Natal, pois os principais beligerantes confiavam em uma vitória rápida de suas forças armadas, as quais se preparavam havia um bom tempo. A unidade base dos exércitos europeus era a divisão, com efetivo aproximado de dezesseis mil homens. Em caso de guerra, duas a cinco divisões constituiriam os corpos de exércitos (grande unidade de manobra), que, por sua vez, seriam reunidos em exércitos de campanha. Países como a Alemanha e a França estavam divididos em distritos militares, onde eram recrutados os contingentes para as divisões. A mobilização de pessoal já treinado para o combate e dos meios necessários para a guerra (animais, suprimentos, armamentos e equipamentos) foi facilitada em países que tinham bons sistemas de comunicações e onde o serviço militar era obrigatório. Este era o caso da Alemanha onde, em questão de dias, aos oitocentos mil soldados da ativa juntaram-se mais três milhões de combatentes, constituindo-se rapidamente diversos exércitos de campanha. Tal medida, porém, não era executada de forma tão eficiente no vastíssimo Império Russo, que, embora tivesse uma reserva imensa de soldados, não possuía boas vias de transporte. Sendo assim, a mobilização geral russa demorou meses, tendo muitos homens se dirigido para o combate sem os equipamentos necessários. Houve a preocupação, por parte dos comandantes militares, de fornecer a seus soldados uniformes que favorecessem à camuflagem. Uma exceção foi os franceses, cujos infantes entraram na guerra trajando calças vermelhas e sobretudos azul-marinho, logo substituídos por um uniforme cinza-azulado. Os soldados alemães vestiam fardas cinza-esverdeada, os austríacos, cinza, e os russos, verde-oliva. Os soldados, em sua maioria, entraram na guerra bastante motivados, dispostos a defender o seu país. Tal fato, porém, não acontecia em estados multiétnicos, como o Império Austro-Húngaro, formado por austríacos, húngaros, tchecos, italianos, poloneses, romenos, croatas, eslovacos, que tinham suas próprias aspirações. A instrução militar dos contingentes variava conforme o país, podendo ser rígida e minuciosa, no caso da Alemanha, ou insuficiente, como ocorria na Bélgica. De maneira geral, os comandantes davam atenção especial ao desenvolvimento das forças morais, pois esperavam que seus soldados avançassem resolutamente sobre o inimigo, mesmo estando sob intenso fogo. Os exércitos estavam equipados com diversos tipos de armamentos para a guerra. Ao longo do conflito muitos deles foram aperfeiçoados e outros desenvolvidos. Os fuzis eram de repetição e possuíam um alcance superior a dois mil metros. Dentre os mais utilizados podem ser destacados o Mauser Gewehr 98 (7,92mm, da Alemanha), o Lee-Enfield (7,7mm, da Grã-Bretanha), o Lebel (8mm, da França), o MosinNagant (7,62mm, do Império Russo) e o Springfield (7,62mm, dos Estados Unidos). As metralhadoras, que teriam um papel fundamental na guerra, pesavam de trinta a sessenta quilos, tinham alcance superior a dois mil metros e podiam disparar de trezentos a seiscentos tiros por minuto. As que mais se destacaram foram a Maxim 239 (7,92mm, da Alemanha), a Vickers (7,7mm, da Grã-Bretanha), a Hotchkiss (8mm, da França), a Maxim Sokolov (7,62mm, do Império Russo) e a Browning (7,62mm, dos Estados Unidos). As artilharias possuíam diversos tipos de canhões, de variados calibres e poder de alcance. A artilharia alemã era a mais bem dotada de canhões de grosso calibre, contando em seu arsenal com um poderoso canhão denominado Kaiser Wilhelm Geschütz (conhecido também como Lange Max ou canhão de Paris), que tinha um calibre de 210mm e um alcance de 130 quilômetros. Foram empregados durante a guerra muitos outros armamentos, entre eles lança-chamas, granadas, morteiros e canhões antiaéreos. Os exércitos também possuíam equipamentos de comunicações (telefone, telégrafo e rádio, entre outros). Entretanto, mesmo passando por constantes aperfeiçoamentos, os equipamentos de comunicações não atenderam às necessidades das forças terrestres. Em alguns casos, falhas nas comunicações foram o motivo principal do malogro das operações. Os beligerantes haviam também preparado planos detalhados para o conflito. Os franceses tinham o Plano XVII, que previa uma ofensiva direta, frontal, com todas as forças, pelo centro do dispositivo alemão, ao longo da fronteira franco-germânica. Os alemães esperavam colocar em prática um plano elaborado pelo conde Alfred von Schlieffen, um antigo Chefe do Estado-Maior, que morrera em 1912. O Plano Schlieffen, como era conhecido, previa uma luta em duas frentes, contra a França e contra o Império Russo. Para que o plano obtivesse êxito, os alemães rapidamente deveriam derrotar um dos inimigos, para, depois, com mais tranquilidade, combater o outro (isso evitaria o desgaste de se combater simultaneamente em duas frentes). Schlieffen concluiu que seria melhor derrotar primeiramente a França, pois um ataque inicial à Rússia não traria uma vitória rápida (devido à vastidão de seu território). Acreditava Schlieffen, também, que, ao contrário da França, os russos demorariam a se mobilizar (devido ao seu precário sistema de comunicações), não ameaçando imediatamente aAlemanha. Sendo assim, Schlieffen planejou que o grosso das forças alemãs deveria, com extrema rapidez, realizar uma manobra de flanco para derrotar a França. Enquanto isso, o restante do contingente alemão se deslocaria para o leste, a fim de deter uma possível ofensiva russa. A Áustria pretendia empregar seus exércitos em cooperação com os alemães na frente oriental e em uma invasão à Sérvia. Os russos tinham como objetivos atacar a Alemanha pela fronteira noroeste (forçando-a a uma guerra em duas frentes) e invadir a Áustria e a Hungria. Os sérvios tinham apenas planos defensivos. Os britânicos estavam dispostos a mandar para o continente uma força expedicionária em apoio aos franceses. 240 PLANO SCHLIEFFEN - MANOBRA DE FLANCO SOBRE A FRANÇA CANAL DA M ANCHA H OLANDA 4 B É L G IC A 3 ALEM ANHA B ruxelas 2 1 LUX. 8 P aris R io M 5 ar 6 ne 9 7 FR A N Ç A ´ A S U IÇ O grosso das tropas alemãs da frente ocidental (1) realizaria uma manobra de flanco (ação principal) (2) extremamente ampla pelo norte da França (3), passando pela Bélgica (4), já que a fronteira oriental francesa, de Luxemburgo à Suíça (5), estava muito fortificada. Paralelamente, o restante das tropas alemãs nesta frente (6), em uma ação secundária, deveria deter um possível ataque das forças francesas (7) na fronteira franco-germânica. O ataque principal alemão, depois de atingir o norte da França, deveria rumar para o sul, conquistar Paris (8) e, em seguida, convergir para o leste (9), a fim de atacar as tropas e fortificações inimigas pela retaguarda. O desfecho da guerra na frente ocidental não deveria durar mais de seis semanas (tempo que Schlieffen acreditava que a Rússia demoraria a mobilizar tropas suficientes para atacar aAlemanha).Após a vitória, as tropas designadas inicialmente para atacar a França deveriam ser deslocadas rapidamente para a frente oriental, a fim de derrotar os russos. Em 3 de agosto de 1914, os alemães desencadearam o Plano Schlieffen, adentrando na Bélgica.A violação da neutralidade belga era um desrespeito a um tratado firmado em 1839 por prussianos, ingleses e franceses, e levou os ingleses a declarar guerra à Alemanha (4 de agosto). AItália, que integrava a TrípliceAliança, preferiu manter-se neutra. Definiam-se, então, os dois blocos que se oporiam durante a guerra: o dos Aliados (França, Inglaterra e Império Russo) e o das Potências Centrais (Impérios Alemão e Austro-Húngaro). Coube ao general Helmuth J. L. Moltke, o moço, (sobrinho do conde von Moltke, herói das Guerras de Unificação daAlemanha) executar o plano Schlieffen. Isso foi feito de forma parcial, resultando em uma derrota alemã no rio Marne, fato que inviabilizou uma rápida vitória daAlemanha sobre a França. 241 EXECUÇÃO DO PLANO SCHLIEFFEN POR MOLTKE CANAL DA MANCHA HOLANDA ALEMANHA BÉLGICA Bruxelas 7 2 Ri o Paris FRANÇA 8 M ar ne 5 6 LUX. 1 4 3 ´ SUIÇA Moltke alterou o Plano Schlieffen. A primeira mudança deu-se quando ele, preocupado com uma possível ofensiva francesa sobre território alemão, reforçou (1) o contingente da ala esquerda do dispositivo de ataque alemão (ação secundária) com elementos da ala direita (ação principal) , o que enfraqueceu o poder de combate das tropas que desencadeariam o esforço principal. Apesar da retirada de parte de seu poder de combate e da reação dos belgas que entraram na luta ao lado dos aliados, as forças encarregadas do ataque principal alemão abriram caminho pela Bélgica e penetraram em território francês (2). Enquanto isso, na fronteira franco-germânica, os franceses lançaram a ofensiva que haviam planejado, mas esta foi barrada pelos exércitos alemães (3). Esta vitória sobre os franceses encorajou Moltke a ordenar um contra-ataque nesse setor (4). Tal medida estava em desacordo com o Plano Schlieffen, que previa apenas a fixação dos franceses nesse local. Pressionados, os franceses começaram a recuar (5), saindo da armadilha elaborada por Schlieffen. Entrementes, Moltke, perturbado por informações de que os russos desferiam um ataque no leste da Alemanha (realizado antes do esperado pelos alemães), deslocou efetivos da ala direita (enfraquecendo esta ainda mais) para a Prússia Oriental (6) (modificando pela terceira vez o Plano Schlieffen). No final de agosto, as forças alemãs que desencadeavam o ataque principal estavam a dois dias de marcha de Paris, mas encontravam-se exaustas. Faltavam-lhes suprimentos, equipamentos e as comunicações estavam precárias. Seus efetivos também estavam reduzidos, pois, como os franceses, os alemães não sabiam assaltar posições inimigas sem sofrer um grande número de baixas. Em 1º de setembro de 1914, o generalAlexander von Kluck, comandante do I Exército Alemão, que estava na extrema direita das forças que realizavam a ação principal (cuja missão era contornar Paris pelo oeste), ordenou que suas tropas convergissem para o sul do rio Marne, passando a leste de Paris (em desacordo com o Plano Schlieffen) (7). O comandante alemão esperava flanquear as tropas francesas que recuavam para o rio Marne. Enquanto os alemães avançavam para o rio Marne, os franceses, já contando com apoio de forças britânicas, reagruparam-se ao sul deste rio (8) e iniciaram preparativos defensivos. Quando as forças se depararam ocorreu a Primeira Batalha do Marne, vencida pelos aliados. Fracassava, desse modo, o Plano Schlieffen. 242 A PRIMEIRA BATALHA DO MARNE 7 RETHEL RIO AISNE COMPIÈGNE SOISSONS VERDUN 6 xxxx 5 V 6 xxxx RIO MARNE I xxxx xxxx xxxx 4 Château-thierry 6 III IV VI Bre ch RIO G RAN DE 3 PARIS a xxxx xxxx II III xxxx 2 RIO P ETIT MORIN MOR IN O RI xxxx xxxx BEF V 1 IV xxxx NA SE IX LEGENDA xxxx xxxx EXÉRCITO ALIADO ATAQUE BRITÂNICO RETIRADA ALEMÃ EXÉRCITO ALEMÃO ATAQUES ALEMÂES BRECHA RIOS LINHA DE FRENTE De 5 a 12 de setembro de 1914, na frente ocidental, tropas aliadas (francesas e inglesas) enfrentaram forças alemãs em um embate que teria enormes repercussões no desenrolar da I Guerra Mundial. Os franceses eram comandados por Joseph J. C. Joffre, os ingleses por John D. P. French, e os alemães por Helmuth J. L. Moltke. Os aliados contavam com 6 exércitos, sendo 5 deles franceses (III, IV, V, VI e IX) e 1 britânico (Força Expedicionária Britânica - BEF), somando um número aproximado de 1.070.000 combatentes. Os alemães possuíam 5 exércitos (I, II, III, IV, V) e tinham um efetivo aproximado de 1.480.000 soldados. O VI e o IX Exércitos haviam sido recentemente criados por Joffre, o que proporcionou aos aliados superioridade em seu flanco esquerdo. Os contendores posicionaram seus exércitos ao longo do rio Marne (1). Os alemães, porém, ao ajustarem suas tropas, deixaram uma brecha entre os I e II Exércitos, na região de Château Thierry (2). Iniciados os combates, os aliados perceberam a brecha no dispositivo germânico. Imediatamente a BEF aproveitou-se da falha inimiga iniciando uma penetração (3) pelas linhas inimigas em Château Thierry. Se a penetração fosse bem sucedida, a BEF ficaria em condições de desbordar o I e II Exércitos alemães. Enquanto os britânicos avançavam vagarosamente, os exércitos franceses suportavam bem as investidas inimigas (foram reforçados no dia 7 de setembro por uma divisão apressadamente formada em Paris, que se juntou ao VI Exército Francês). Diante da possibilidade de ter suas forças desbordadas, o comandante do II Exército Alemão (von Büllow), resolveu retrair (4). O comandante do I Exército Alemão (Von Kluck), para não ficar isolado, fez o mesmo (5). Diante da situação, na tarde do dia 11, von Moltke ordenou que o III, o IV e o V Exércitos também se retirassem (6). No dia 12, os alemães estavam tomando posição ao norte do rio Aisne (7). Os aliados saíram-se vitoriosos no embate, livrando Paris da ocupação inimiga. Na batalha, os aliados sofreram aproximadamente 262.000 baixas (250.000 francesas e 12 mil britânicas), enquanto os alemães perderam cerca de 250.000 homens. 243 Após serem derrotadas no Marne, as tropas alemãs, seguindo ordem de Moltke, recuaram para o rioAisne, na região da Picardia, perseguidas vagarosamente por forças inglesas e francesas extenuadas. Acontraofensiva aliada não avançou muito, pois logo foi detida pelos alemães no Aisne (1ª Batalha do Aisne, de 13 a 28 de setembro de 1914). Moltke, em virtude de haver sofrido um colapso nervoso e, também, por haver fracassado na aplicação do Plano Schlieffen, foi substituído pelo general Erich von Falkenhayn. Depois da Batalha doAisne, os beligerantes, em batalhas sangrentas, procuraram alternadamente flanquear-se pelo norte, mas em virtude do equilíbrio de forças, as várias tentativas de ambos fracassaram, no episódio que ficou conhecido como a “Corrida para o Mar”. No final de outubro, Falkenhayn lançou uma última ofensiva, que esperava ser decisiva, contra ingleses e franceses na região de Flandres. O comandante alemão almejava capturar áreas importantes da Bélgica e da França, de onde poderia, em melhores condições, voltar a ameaçar Paris. Desencadeada a ofensiva, os alemães ocuparam Antuérpia, mas fracassaram em penetrar nas principais linhas defensivas inimigas (1ª Batalha de Ypres, de 19 de outubro a 22 de novembro de 1914). Em dezembro de 1914, os beligerantes da frente ocidental encontravam-se exaustos e sem suprimentos, tendo suas trincheiras se estendido da Suíça até o Canal da Mancha (Belfort a Ostende). Acabavam-se, com isso, as esperanças de que a guerra tivesse um fim breve. Passaram, então, os beligerantes a organizar as economias nacionais para fazer frente aos esforços de guerra. Ao mesmo tempo em que desencadeavam seus ataques na frente ocidental, os alemães viram-se obrigados a resistir a uma ofensiva russa no leste (frente oriental). O ataque russo visava obrigar os alemães a combater em duas frentes, o que, em consequência, diminuiria a pressão alemã sobre os franceses. Em agosto de 1914, dois exércitos russos, comandados pelos generais Alexander Samsonov e Paul von Rennenkanpf, penetraram na Prússia Oriental. Os generais russos, após uma modesta vitória em Gumbinnen (20 de agosto), sofreram desastrosas derrotas para tropas alemãs, comandadas pelo general Paul von Hindenburg, nas Batalhas de Tannenberg (26 a 30 de agosto de 1914) e 1ª dos Lagos Mazurianos (9 a 14 de setembro de 1914). Em consequência, a maior parte das tropas russas remanescentes da malograda ofensiva se retirou da Prússia, e as que permaneceram na região foram batidas pelos alemães na 2ª Batalha dos Lagos Mazurianos, em fevereiro do ano seguinte. Nos meses de setembro e outubro de 1914, os alemães contra-atacaram e invadiram a Polônia, então território russo, com o objetivo de conquistar Varsóvia, mas fracassaram. Os russos, em resposta, lançaram uma nova ofensiva, agora na Silésia (sudeste da Alemanha), que também foi rechaçada pelos alemães. 244 A BATALHA DE TANNENBERG xxx 3 K ö n ig sb e r g 7 xxx xx 6 xxxx 5 G u m b in n e n I xxx 1 xxx 6 6 6 2 LA G O S M A ZU R IA N O S xxxx TANNENBERG II 4 LEGENDA xxxx xxx EXÉRCITOS RUSSOS AVANÇOS RUSSOS CORPOS DE EXÉRCITO ALEMÃES ATAQUES ALEMÂES CAVALARIA ALEMÃ Na Prússia Oriental, leste do Império Alemão, no início da guerra, os alemães contavam com cerca de 150 mil homens, os russos somavam 190 mil. Os russos, a pedido da aliada França (que fora maciçamente atacada pelos alemães), lançaram uma ofensiva sobre o leste da Alemanha com dois exércitos, o I e o II , comandados, respectivamente, por Paul von Rennenkampf e Alexander Samsonov. Os exércitos russos avançaram separadamente, sem comunicação entre si e de forma vagarosa. O I Exército Russo penetrou na Prússia Oriental (1), passou ao norte dos lagos Mazurianos (2) e tinha como objetivo principal conquistar a cidade de Königsberg (3). O II Exército penetrou pelo sul (4) dos lagos Mazurianos, visando convergir para o norte em direção a Königsberg. Se tudo ocorresse conforme o planejado, o VIII ExércitoAlemão, que defendia a Prússia Oriental, seria cercado e destruído pelos dois exércitos russos. O I Exército Russo obteve uma vitória pouco significativa sobre os alemães em Gumbinnen (20 de agosto) (5). Tal fato alarmou o comandante geral alemão Helmuth J. L. Moltke, que substituiu o comandante do Teatro de Operações Oriental, Maximilian von Prittwitz, por Paul von Hindenburg. Após a vitória em Gumbinnen, Rennenkampf não prosseguiu com suas ações. Ao perceber que o I Exército Russo não se movia, Hindenburg resolveu derrotar um exército russo de cada vez. Seguindo um plano elaborado pelo coronel Max Hoffmann, optou por atacar inicialmente o II Exército, que se encontrava desgastado por uma penosa marcha. Rapidamente as unidades do VIII Exército Alemão foram deslocadas por ferrovias em direção ao sul (6), onde cercaram o Exército de Samsonov em Tannenberg. Enquanto isso, a fim de dissimular o ataque principal, o comandante alemão manteve apenas uma divisão de cavalaria na frente do I Exército Russo (7).Após cercarem as tropas do II Exército Russo, os alemães passaram a batê-las com intensos fogos de artilharia. Surpreendidos, os soldados de Samsonov entraram em pânico, o que resultou, em 30 de agosto, na desintegração do II Exército Russo. Poucas unidades conseguiram sair do cerco alemão, tendo Hindenburg conseguido uma importante vitória. Depois, o I Exército Russo foi derrotado na Primeira Batalha dos Lagos Mazurianos (09 a 14 de setembro). Em Tannenberg, os alemães tiveram cerca de 20 mil baixas, os russos 30 mil (outros 95 mil russos foram feitos prisioneiros). 245 Paralelamente aos ataques no leste da Alemanha, quatro exércitos russos penetraram na Galícia (nordeste da Áustria-Hungria). Nos embates que se seguiram, os russos venceram os austro-húngaros na Batalha de Lemberg (8 a 12 de setembro de 1914), passando a ocupar extensa faixa dentro do território inimigo. Nos Bálcãs, no dia 11 de agosto de 1914, os austro-húngaros lançaram uma ofensiva, esperando derrotar facilmente os sérvios e conquistar Belgrado. Os combates, no entanto, prolongaram-se, e, para agravar a sua situação, os austro-húngaros tiveram de transferir tropas para conter os russos que atacavam a Galícia. Aproveitando-se da diminuição do poder de combate dos austro-húngaros, no dia 3 de dezembro de 1914, em um ataque desesperado, os sérvios repeliram as forças invasoras para além do rio Danúbio. Em outubro de 1914, os turcos, que tinham estreitas ligações com o Império Alemão, aliaram-se às Potências Centrais. Lançaram uma ofensiva sobre o Egito, protetorado inglês, e outra no Cáucaso, contra os russos, mas ambas fracassaram. A maior contribuição turca para o esforço de guerra das Potências Centrais, no entanto, foi o fechamento dos estreitos de Bósforo e Dardanelos à navegação dos aliados. Essa medida prejudicou enormemente o comércio exterior russo, dependente em grande parte dos portos do mar Negro. Em resposta ao ataque turco, os britânicos lançaram, a partir do Egito e de Basra (sul do Iraque), ofensivas contra o Império Otomano. As tropas britânicas, entre sucessos e reveses e com apoio de árabes que viviam sob domínio turco, avançaram, nos anos seguintes, vagarosamente para o norte, rumo a Bagdá e a Jerusalém. Logo no início da guerra, a Marinha Britânica iniciou um bloqueio naval à Alemanha, visando negar-lhe acesso a recursos vitais (alimentos e matérias-primas). Enquanto isso, na América Latina, em 1º de novembro de 1914, uma frota alemã, comandada pelo Vice-Almirante Graf Spee, conseguiu uma expressiva vitória sobre forças inglesas em Colonel, na costa do Chile. Pouco tempo depois, porém, em 8 de dezembro de 1914, nas proximidades das ilhas Malvinas, a frota de Spee foi interceptada e destruída pela Marinha Britânica. Este fato asseguraria o controle dos oceanos pelos aliados durante o restante da guerra. A parte principal da frota de superfície alemã, por sua vez, permaneceu durante quase toda a guerra em seus portos, pouco cooperando para o esforço militar de seu país. Somente em 1916, os receosos comandantes navais alemães decidiram medir forças com a Marinha Inglesa. No embate que se seguiu, nos dias 30 e 31 de maio, o maior da guerra, conhecido como Batalha de Jutlândia, os alemães levaram uma ligeira vantagem, mas, após a batalha, retornaram com seus navios para as suas bases, de onde não mais saíram. O maior esforço naval alemão coube aos submarinos. Estes, no início do conflito, foram incumbidos de realizar uma “guerra submarina irrestrita”, ou seja, deve246 riam afundar todos os navios aliados e neutros que se dirigissem às ilhas britânicas. Com tal medida, os alemães pretendiam sufocar a economia britânica, impondo um bloqueio semelhante ao que a Marinha Britânica fazia ao Império Alemão. O afundamento de navios de países neutros, entretanto, levou estes a pressionarem o governo alemão, que suspendeu a ordem de se afundarem os navios de países que não participavam da guerra. No Extremo-Oriente e na África, A PARTICIPAÇÃO BRASILEIRA nos primeiros meses de guerra, os aliados toQuando a guerra se iniciou, o Brasil maram as colônias alemãs. A única exceção adotou uma posição de neutralidade. Em ocorreu na África Oriental Alemã, onde o ge1917, durante o governo de Venceslau Brás, neral alemão Paul von Lettow-Vorbeck, à diversos navios mercantes brasileiros foram frente de aproximadamente onze mil homens afundados por submarinos alemães. Esses (a maioria nativos), resistiu até o final da guer- ataques germânicos levaram o Brasil a dera a cento e trinta mil soldados aliados, usando clarar guerra às Potências Centrais (26 de outubro de 1917). táticas de guerrilha. Tendo em vista contribuir para o esO ano de 1915 se iniciou com o forço de guerra aliado, o governo brasileiro impasse na frente ocidental. Falkenhayn decidiu manter-se na defensiva neste setor e lançar enviou uma missão médica à França e emgrandes ofensivas no leste, onde as grandes penhou-se no sentido de fornecer matériasprimas e gêneros alimentícios aos aliados. extensões territoriais impediam uma guerra de No campo militar, a Marinha Brasitrincheiras. Seu objetivo era colocar a Rússia leira patrulhou o Atlântico; uma força naval fora da guerra, fato que liberaria forças alemãs juntou-se à Marinha Inglesa (não chegou a e austro-húngaras para outras frentes. combater); e um grupo de aviadores e ofiEm maio, forças austro-húngaro- ciais do exército integrou as forças armadas alemãs desencadearam ofensivas planejadas aliadas. por Falkenhayn contra os russos em Gorlice-Tornow. As ofensivas das potências centrais obtiveram sucesso, permitindo-lhes reconquistar a Galícia, penetrar profundamente em território russo e ocupar Varsóvia. Somente em setembro, o avanço austro-húngaro-alemão foi detido em uma linha defensiva estabelecida pelos russos, que se estendia do mar Báltico aos Cárpatos (Riga a Czernowitz). Apesar dos reveses e das grandes perdas materiais e humanas, o Império Russo manteve-se firme na guerra, frustrando as expectativas iniciais germânicas. No oeste, os alemães lançaram apenas uma ofensiva na região de Flandres (2ª Batalha de Ypres, de 22 de abril a 15 de maio de 1915), quando utilizaram experimentalmente gases venenosos que já haviam utilizado contra os russos em Bolinow, em janeiro de 1915. A surpresa decorrente do uso da nova arma não foi aproveitada pelos alemães e seu ataque foi barrado pelos aliados, que rapidamente tomaram medidas para resistir aos efeitos dos gases. Por outro lado, na frente ocidental, os aliados lançaram ofensivas nas regiões de Artois (maio e setembro de 1915) e Champagne (setembro e outubro de 1915), com o objetivo de recapturar territórios franceses e belgas. Pouco terreno foi conquistado, 247 PRINCIPAIS OFENSIVAS E BATALHAS DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL EA NO AT L ÂN TI CO NO RU EG A ISLÂNDIA SUÉCIA MAR DO NORTE 12 OC REINO UNIDO DINAMARCA HOLANDA 2 RÚSSIA ALEMANHA 4 14 BÉLGICA 10 5 6 16 13 9LUXEMBURGO 1 11 3 FRANÇA SUÍÇA ESPANHA PO RT UG AL 17 15 ÁUSTRIAHUNGRIA ROMÊNIA MAR NEGRO 8 SÉR- BULGÁRIA ITÁLIA VIA IM MONTENEGRO P 7 É RI ALBÂNIA O OT OM GRÉCIA AN MAR MEDITERRÂNEO O ÁFRICA ALIADOS 248 POTÊNCIAS CENTRAIS PAÍSES NEUTROS 1914 1 - INVASÃO ALEMÃ À FRANÇA 2 - OFENSIVA RUSSA SOBRE A PRÚSSIA ORIENTAL 3 - OFENSIVA RUSSA NA GALÍCIA 1915 4 5 6 7 8 9 1916 10 - OFENSIVA ALIADA NO SOMME 11 - OFENSIVA DE BRUSILOV 12 - BATALHA NAVAL DE JUTLÂNDIA 13 - OFENSIVA DE NIVELLE 1917 14 - OFENSIVA ALIADA EM FLANDRES 15 - BATALHA DE CAPORETTO 1918 16 - OFENSIVA DA PRIMAVERA 17 - BATALHA DE VITTORIO VENETO - CAMPANHA ALEMÃ DE GORLICE-TORNOW - OFENSIVA ALIADA EM ARTOIS - OFENSIVA ALIADA EM CHAMPAGNE - OFENSIVA ALIADA EM GALÍPOLI - OCUPAÇÃO DA SÉRVIA PELAS POTÊNCIAS CENTRAIS - OFENSIVA ALEMÃ EM VERDUN com grande número de baixas. Os fracassos levaram à nomeação de um novo comandante inglês para a Frente Ocidental, o general Sir Douglas Haig. Os aliados resolveram lançar uma ofensiva nos Bálcãs em 1915, com a finalidade de colocar o Império Otomano fora da guerra e, dessa forma, desbloquear os portos russos do Mar Negro. O local escolhido foi a Península de Galípoli, onde tropas australianas e neozelandesas foram desembarcadas em 25 de abril, tendo em vista conquistar Istambul. O ataque aliado, porém, esbarrou em uma feroz resistência turca. A ofensiva estagnou-se e os combates tornaram-se semelhantes aos da frente ocidental. Depois de pesadas baixas de ambos os lados, sem esperança de vitória, os aliados evacuaram suas tropas da península em janeiro de 1916. Em 23 de maio de 1915, a Itália entrou na guerra ao lado dos aliados, que lhe prometeram territórios da Áustria-Hungria.Até 1917, os italianos lançariam diversas ofensivas infrutíferas, com enorme número de baixas, sobre o sul do ImpérioAustro-Húngaro. Este, já envolvido em difíceis lutas contra os russos e sérvios, permaneceu, na maior parte do tempo, na defensiva na frente italiana, protegido pelo terreno montanhoso e por boas posições. Em agosto de 1915, os búlgaros entraram na guerra, optando por se aliarem às potências centrais, que lhes prometeram terras macedônicas. Com apoio búlgaro, forças austro-húngaras e alemãs finalmente derrotaram e ocuparam a Sérvia. Os aliados tentaram socorrer os sérvios desembarcando tropas em Salônica, na Grécia (5 de outubro de 1915), mas estas, com pouco poder de combate, foram detidas pelos búlgaros. Os soldados remanescentes do Exército Sérvio retiraram-se para a Albânia, de onde seguiram para a ilha de Corfu, no mar Adriático, a fim de se reorganizarem. Quando o ano de 1916 se iniciou, as nações beligerantes ainda estavam dispostas a fazer grandes esforços para alcançar a vitória. Falkenhayn tinha em mente lançar uma ofensiva na frente ocidental, com o objetivo de derrotar o Exército Francês através de uma “batalha de desgaste”. Para isso, ele tencionava atacar intensivamente um setor vital da linha francesa, para onde seriam atraídos os exércitos franceses e suas reservas, que em seguida, iriam ser destruídos por fogos de artilharia. Verdun foi o local escolhido, por permitir aos alemães concentrarem ao máximo sua artilharia contra os defensores e por ser uma cidade afetiva e estrategicamente muito importante para os franceses. Em 21 de fevereiro de 1916, o ataque alemão teve início e, como esperado, os franceses resistiram. O general Henri Phillippe Pétain foi escolhido para liderar os exércitos que defendiam Verdun. Quando o combate se intensificou, o comandante alemão percebeu que não estava atingindo seus objetivos, pois suas tropas se enfraqueciam na mesma proporção com que desgastavam o inimigo. Ao mesmo tempo em que os franceses resistiam em Verdun, os russos lançaram uma poderosa ofensiva sob o comando de general AlexeiAlekseevich Brusilov. Esta não foi lançada em um setor restrito, como costumeiramente era feito, mas em um amplo 249 FORMA USUAL DE COMBATE NA GUERRA DE TRINCHEIRAS ASSALTO ALEMÃO À TRINCHEIRA INGLESA No início da guerra, os comandantes acreditavam resolutamente que a ofensiva móvel era superior à defesa estática. Devido a isso, optaram por lançar seus soldados sobre as posições inimigas sem se preocupar com o número de baixas. Para romper as trincheiras, resolveram empregar a fórmula “a artilharia conquista, a infantaria ocupa”. Desse modo, inicialmente eram lançados pesados fogos de artilharia sobre as posições inimigas, a fim de destruí-las e eliminar seus ocupantes. Às vezes, as preparações levavam dias, como durante a Batalha de Verdun, quando os alemães lançaram vinte e dois milhões de granadas sobre as posições francesas. Em seguida, as divisões eram colocadas em linha e suas infantarias lançavam-se para conquistar os objetivos, já batidos pela artilharia, e abrir brechas no sistema defensivo adversário. Depois, caso os infantes obtivessem sucesso, a cavalaria seria lançada pelas brechas para aproveitar o êxito. Tal processo de combate, no entanto, não surtiu os efeitos desejados, pois a artilharia mostrou-se incapaz de destruir totalmente as posições e os defensores inimigos. Em virtude disso, os infantes quando atacavam (normalmente vagarosamente e em formações emassadas), eram alvos dos fogos da artilharia e dos infantes inimigos, que, abrigados em posições fortificadas, os abatiam facilmente com fogos de metralhadoras e fuzis. O resultado, na maioria dos casos, era o malogro do ataque, ficando a cavalaria sem poder entrar em ação. Por vezes, a infantaria conseguia abrir uma pequena brecha no dispositivo adversário, mas falhas rotineiras nas comunicações (os rádios eram pesados e não confiáveis, os telefones tinham suas linhas cortadas pelos fogos inimigos, muitos mensageiros eram mortos) impediam que os comandantes enviassem reservas para o local em tempo útil. Os defensores, pelo contrário, quando percebiam uma brecha em seu dispositivo, rapidamente deslocavam tropas reservas para o setor ameaçado. O rápido emprego das reservas por parte dos defensores, nos locais e momentos adequados, era facilitado pelos prolongados fogos de artilharia do atacante, que denunciavam o local da ofensiva. Por isso, os infantes que conseguiam se apossar de um pequeno trecho da linha inimiga ficavam isolados, incapazes de resistir a uma contraofensiva. Com o passar do tempo, os defensores passaram a construir segundas posições, o que dificultou mais ainda as ações ofensivas. Em suma, o fogo prevalecia sobre o movimento. 250 ARMAS DA GUERRA O AVIÃO O potencial bélico do avião, inventado no início do século XX, foi logo percebido pelos comandantes militares. No início da guerra, as aeronaves eram frágeis e utilizadas apenas em missões de reconhecimento e bombardeio. Entretanto, os beligerantes sentiram a necessidade de possuírem a supremacia aérea nos campos de batalha, surgindo, em decorrência, aviões de combate (caças), armados com metralhadoras, que passaram a duelar nos ares. Entre outros modelos, os alemães empregaram o bombardeiro Gotha G IV e o Caça Fokker D VII; os franceses, o bombardeiro Caudron R-11 e o caça SPAD XIII; e os ingleses, o bombardeiro Handley Page V/ 1500 e o caça Bristol F.2b. Os alemães também fizeram uso de enormes balões dirigíveis (zepelins) para bombardear o inimigo. Mas, por serem inflados com hidrogênio, os aeróstatos eram muito vulneráveis à artilharia e aos projéteis incendiários dos caças inimigos. O CARRO-DE -COMBATE Tendo em vista romper o impasse na frente ocidental, os aliados resolveram desenvolver um veículo blindando capaz de penetrar nas defesas adversárias. Os ingleses construíram o Mark IV, cujas principais características eram a guarnição de 8 homens (comandante, motorista, 2 orientadores e 4 artilheiros); peso de 28,5 toneladas; à gasolina; velocidade máxima de 5,6 km/h; autonomia de 56 km; dois canhões de 57mm e 4 metralhadoras de 7,7mm; blindagem com 16mm (frente), 12mm (lados) e 8 mm (teto). Os franceses desenvolveram o Renault FT-17 e o Schneider CA 1, similares ao Mark IV. Os franceses utilizaram os carros-de-combate como artilharia de apoio, enquanto os ingleses os usaram em apoio à infantaria. Os alemães não priorizaram a fabricação de carros-de-combate, dando preferência às armas anticarro. Embora causassem surpresa ao inimigo, muitos carros-de-combate tiveram problemas mecânicos, caíram em valas ou atolaram quando empregados, não tendo um papel decisivo no desfecho da guerra. 251 setor da frente oriental. Apesar do enorme número de baixas russas, o plano de Brusilov obteve êxito, tendo suas tropas avançado cerca de cinquenta quilômetros em toda a área atacada. Paralelamente, os ingleses realizaram ofensivas na região da Picardia (Somme julho a novembro de 1916), onde empregaram, pela primeira vez, alguns carros-de-combate. Mesmo surpresos diante da nova arma inimiga, os alemães reagiram, e a ofensiva britânica não atingiu os resultados esperados. O esforço inglês, juntamente com a ofensiva de Brusilov, serviram para aliviar a pressão dos alemães sobre os franceses em Verdun. A partir de julho de 1916, os alemães passaram a transferir tropas de Verdun para o Somme, onde eramatacados pelos ingleses, o que indicava que o plano de Falkenhayn de destruir o Exército Francês em Verdun fracassara (os combates nessa região prosseguiram com menos intensidade até dezembro de 1916, quando as perdas humanas, entre mortos e feridos, contavam 362.000 franceses e 336.000 alemães). Em virtude do revés em Verdun, Falkenhayn acabou substituído pelo general von Hindenburg (29 de agosto de 1916). Nos Bálcãs, em agosto de 1916, os romenos aderiram aos aliados (27 de agosto), que lhes prometeram territórios austro-húngaros. ARomênia, no entanto, estava em uma posição estratégica delicada, pois fazia fronteira com a Bulgária e o Império Austro-Húngaro. Os romenos lançaram uma ofensiva sobre o Império Austro-Húngaro, mas tropas dos países centrais rapidamente contra-atacaram e ocuparam quase toda a Romênia. No início de 1917, os fracassos das ofensivas já começavam a desestruturar as instituições dos países beligerantes e a abalar o moral dos civis e dos combatentes. Isso ocorria porque nas rotineiras batalhas infrutíferas, o número de mortos e feridos era contado na casa dos milhares (no primeiro dia da ofensiva do Somme, os britânicos tiveram 57.470 baixas). Mesmo assim, os aliados e os alemães tinham expectativas TRINCHEIRAS 252 de encerrar a guerra na frente ocidental nesse ano. O general Robert Nivelle, nomeado comandante geral do Exército Francês, marcou uma grande ofensiva para o início da primavera. Os britânicos, da mesma forma, esperavam lançar potentes ataques. Já o general Hindenburg chegara à conclusão de que a guerra de atrito beneficiava os aliados, que possuíam maiores recursos, portanto os alemães deveriam manter-se momentaneamente na defensiva. Nivelle lançou sua ofensiva em “Chemin des Dames”, no Aisne, mas os alemães estavam preparados. Teve início, então, a 2ª Batalha do Aisne (16 de abril a 9 de maio de 1917), na qual os franceses foram repelidos, com grande quantidade de baixas. O fracasso ocasionou grandes descontentamentos, levando muitos soldados, esgotados pelos esforços de guerra, a amotinar-se. Eles não queriam mais participar de ações ofensivas, embora se mostrassem dispostos a lutar defensivamente. Nivelle foi destituído do comando em 15 de maio de 1917, sendo substituído por Pétain. O novo comandante atendeu muitas das reivindicações da tropa, reconquistando a confiança dos soldados. O Exército Francês, porém, foi mantido na defensiva até que recobrasse o ânimo. Os ingleses, ao contrário, realizaram novas ofensivas na região de Artois (Batalha de Arras, de 9 de abril a 16 de maio de 1917), na região de Flandres (3ª Batalha de Ypres, de 31 de julho a 6 de novembro de 1917), e na região de NordPas-de-Calais. Na ofensiva em Nord-Pas-de-Calais, na Batalha de Cambrai (25 de novembro a 6 de dezembro de 1917), os britânicos empregaram em massa cerca de duzentos carros-de-combate. Tal medida, contudo, não lhes trouxe resultados expressivos. Os aliados ganharam pouco terreno em suas ofensivas e tiveram um grande número de baixas. Os alemães também sofreram duras baixas e o desgaste de seu exército passou a preocupar o alto comando. Com o fracasso das operações, o impasse na frente ocidental continuava quando o ano de 1917 terminou. Na frente italiana, em outubro de 1917, os países centrais, empregando novos processos de combate ofensivo (infiltração tática e grupos de assaltos), lançaram uma grande ofensiva, fazendo a linha defensiva italiana ceder (Batalha de Caporetto, de 24 de outubro a 29 de novembro). Os italianos foram obrigados a recuar 110 quilômetros até o rio Piave, onde, com apoio de franceses e britânicos, detiveram o inimigo. Também em 1917 aconteceram fatos importantes para o desfecho da guerra. Em 31 de janeiro, o governo alemão lançou mão de forma irreversível da “guerra submarina irrestrita”. O resultado não foi o esperado, já que a economia britânica resistiu, e o afundamento de navios norte-americanos levou a opinião pública dos Estados Unidos a se voltar contra a Alemanha. O governo norte-americano, influenciado ainda por uma forte parceria econômica com as nações aliadas, declarou guerra à Alemanha (6 de abril). O Exército Norte-Americano, porém, não estava preparado para um confronto em larga escala. Desse modo, sua presença na frente ocidental, sob o comando do general John Pershing, só seria sentida efetivamente no ano seguinte. 253 A REVOLUÇÃO RUSSA No início do século XX, intensificou-se uma crise político-econômico-social há muito presente no Império Russo. As péssimas condições de vida de operários e camponeses, a derrota na Guerra Russo-Japonesa e a propagação de ideias revolucionárias minavam o poder autocrático do czar Nicolau II. Quando a I Guerra Mundial teve início, o soberano russo conseguiu unir a nação em torno de uma causa comum: vencer as Potências Centrais. A prometida vitória, porém, não veio, apesar dos esforços materiais do governo e da tenacidade dos soldados, que morriam aos milhares na frente de combate. Os insucessos nos campos de batalha somaram-se à falta de alimentos e às agitações populares, criando um ambiente de descontentamento geral. Em março de 1917, o czar, pressionado, abdicou, e o Império Russo foi dissolvido. O governo na Rússia passou a ser exercido por uma coalizão de socialistas moderados (mencheviques) e burgueses liberais. O líder do novo governo, Aleksander Kerenski, manteve a Rússia na guerra. Novos fracassos militares, no entanto, aumentaram a crise interna e esfacelaram as instituições russas. Aproveitando-se disso, em novembro de 1917, socialistas radicais (bolcheviques) assumiram o poder. Os bolcheviques retiraram a Rússia da guerra, venceram seus inimigos internos em uma guerra civil e fundaram, em 1922, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, o primeiro Estado de caráter socialista da História. Na Rússia, desgastes ocasionados pela guerra somaram-se a crises internas, provocando a Revolução de Fevereiro. O czar foi obrigado a abdicar, sendo sucedido por Aleksander Kerenski, líder de um governo provisório. Kerenski optou por manter a Rússia na guerra e por lançar uma grande ofensiva contra os alemães, sobre a qual se depositaram enormes expectativas de vitória. O ataque, entretanto, fracassou, provocando a desagregação do Exército Russo. Soldados passaram a desertar, pilhando o que encontravam em seu retorno para casa.Aproveitando-se da situação, revolucionários bolcheviques assumiram o poder (Revolução de Outubro). Os novos líderes retiraram a Rússia da guerra, assinando com os alemães, em 3 de março do ano seguinte, o desvantajoso Tratado de Brest-Litovsk, pelo qual cediam muitos territórios e importantes áreas industriais e agrícolas à Alemanha. Ainda em 1917, a Grécia, que esperava apossar-se de territórios turcos, juntou-se aos aliados. Em 1918, os alemães decidiram lançar uma ofensiva decisiva com todos os seus meios na Frente Ocidental, para acabar de vez com a guerra. Vários motivos levavam os comandantes alemães a optarem por esta linha de ação: suas tropas momentaneamente dispunham de superioridade numérica na frente ocidental (208 divisões contra 179 aliadas), graças aos efetivos liberados da frente oriental devido à saída da Rússia da guerra; a economia alemã, devido ao esforço de guerra e ao bloqueio naval 254 PROCESSOS DE COMBATE A INFILTRAÇÃO TÁTICA 2 3 1 4 34 Em uma ação ofensiva, tipo “infiltração tática”, não havia uma longa preparação de artilharia, para que o local do ataque não fosse denunciado. As unidades do primeiro escalão de ataque deslocavam-se para as suas posições de partida durante a noite, pouco tempo antes do momento marcado para o início das ações. A artilharia fazia, então, se fosse o caso, uma breve mas intensa preparação de fogos. Em seguida, as unidades do primeiro escalão (1) infiltravam-se através dos pontos fracos do dispositivo do adversário (2), ultrapassando os pontos fortes (3), que só posteriormente deveriam ser destruídos por elementos do segundo escalão ou da reserva. Os elementos do primeiro escalão de ataque conduziam armas coletivas leves (metralhadoras e morteiro leves) e eram apoiados em sua progressão por uma barragem rolante de artilharia (ocorria uma sincronização entre os fogos de artilharia e o avanço da infantaria). Os elementos do primeiro escalão de ataque, uma vez infiltrados, atuavam na retaguarda inimiga (4), desestabilizando o sistema defensivo adversário, com vistas a enfraquecer os pontos fortes inimigos. A reserva era empregada no aproveitamento do êxito e não para a correção de falhas, como então era habitual. OS GRUPOS DE COMBATE 2 3 1 Com o advento, no século XIX, das armas de fogo de tiro rápido e longo alcance, as infantarias passaram a sofrer grande número de baixas ao assaltar uma posição defensiva. Isto ocorria porque os infantes, ao atacar, grupados em formações compactas, ficavam muito tempo expostos aos fogos inimigos. A infantaria, portanto, não sabia progredir no terreno combinando adequadamente o fogo e o movimento. Nos primeiros anos da Primeira Guerra Mundial, este problema persistiu, sendo um dos motivos do elevado número de baixas do conflito. No final da guerra, a combinação do fogo e movimento foi resolvida pelos alemães, que passaram a diluir suas formações. As frações alemãs foram divididas em grupos de combate (célula de infantaria), que atuavam se apoiando. Durante a progressão rumo à posição inimiga (2), um grupo avançava realizando lanços (movimento) (3), enquanto o outro, abrigado, o apoiava, disparando sobre o inimigo (fogo) (1). Depois as funções eram invertidas e o processo repetido, até que os grupos chegassem à posição inimiga. 34 A “infiltração tática” usada pelos alemães na I Guerra Mundial não tem qualquer relação com o conceito de “infiltração tática” da atual doutrina brasileira. 255 PROCESSOS DE COMBATE: DEFESA EM PROFUNDIDADE 1 10 a 25 km 2 3 4 Durante a guerra, os beligerantes aperfeiçoaram seus sistemas defensivos. As formações lineares de pouca profundidade, características dos primeiros tempos da guerra, foram substituídas por um dispositivo no qual a infantaria era escalonada em profundidade (não mais em linhas contínuas). Assim, a conquista pelo atacante das partes mais avançadas do sistema defensivo não constituía uma brecha, como anteriormente, e, por conseguinte, só parcialmente infligia danos ao conjunto da defesa. O dispositivo defensivo passou a corresponder a uma zona fortificada de 10 a 25 km de profundidade, sendo a defesa efetuada nessa zona. A frente do dispositivo defensivo ficavam postos avançados (1), com fraco poder de combate, mas bem apoiados por fogos de artilharia, que tinham a missão de detectar ações inimigas e repeli-las, se estas fossem de pequena monta. Logo depois era estabelecida a “posição de resistência” (2), dotada da maior parte dos meios, que tinha a missão principal de defesa. À retaguarda da “posição de resistência” era disposta uma segunda posição defensiva (3). Finalmente, atrás da segunda posição defensiva, eram posicionadas tropas reservas (4) para apoiar, se fosse o caso, as ações defensivas ou realizar contraataques. Trincheiras defensivas e de ligação, espaldões e abrigos de diversos tipos, flanqueavam-se e cobriam-se mutuamente. Redes de arame farpado e obstáculos batidos por fogos de armas automáticas as protegiam. Localidades e bosques eram organizados como pontos de apoio. Tudo isto constituía um sistema de defesa, que seria potente sem ser rígido. FRENTE OCIDENTAL CAMPO DE BATALHA 256 CANHÃO DE LONGO ALCANCE ALEMÃO britânico, estava entrando em colapso, com repercussões danosas para a ordem política e social; os novos métodos de combate alemães, testados em Caporetto, haviam surtido bons resultados; e a crescente presença norte-americana na frente ocidental, em recursos e homens, indubitavelmente, faria a vitória pender para os aliados a curto prazo. O ataque que decidiria a sorte da Alemanha na guerra (ofensiva da primavera) foi lançado em 27 de março de 1918. Apesar de sucessos iniciais, as tropas alemãs foram detidas de forma decisiva na 2ª Batalha do Rio Marne (15 de julho a 6 de agosto). Derrotados, os alemães recuaram para uma linha, denominada Hindenburg. Restava, agora, aos germânicos somente as alternativas de se manter na defensiva ou de procurar a paz. Nos meses de setembro a novembro de 1918, os aliados passaram a pressionar seus inimigos em todas as frentes. No Oriente Médio, os turcos, após perderem o controle sobre as cidades de Jerusalém, Bagdá e Damasco, solicitaram o armistício (30 de outubro). Na frente italiana, o Império Austro-Húngaro pediu a suspensão das hostiFRENTE OCIDENTAL, 1914-18 REINO UNIDO MAR DO NORTE Amsterdã HOLANDA Antuérpia REN Ostende O R YSE Ypres Arras Bruxelas ALEMANHA BÉLGICA Cambrai LEGENDA SOMM E LUX. AISNE SE NA MARNE FRONTEIRAS: 03 DE AGOSTO DE 1914 Sedan Verdun Metz LIMITE DO AVANÇO ALEMÃO: SET 1914 Paris LINHA DE TRINCHEIRAS: 1914 - 1917 LIMITE DA OF. DA PRIMAVERA: 1918 Belfort LINHA DO ARMISTÍCIO: NOV. DE 1918 FRANÇA SUÍÇA 257 lidades, após ser derrotado pelos italianos na Batalha de Vittorio Veneto (23 de outubro a 3 de novembro). Nos Bálcãs, a Bulgária também resolveu entrar em negociações. Na frente ocidental, os aliados, fazendo uso de centenas de carros-de-combate, obrigaram os alemães a recuar e romperam a linha Hindenburg (27 a 30 de setembro). Isolado, esgotado material e moralmente, o Império Alemão começou a se desestruturar. Irromperam motins na Marinha e agitações populares agravaram a situação. O Kaiser Guilherme II, ao perder o apoio do exército, abdicou dando ensejo à instauração de uma república. Os novos governantes, sem esperança de vitória, procuraram os aliados para firmar um armistício, que foi assinado em Compiègne (11 de novembro), pondo fim às hostilidades. Ao armistício seguiram-se, em janeiro de 1919, na cidade de Paris, conferências de paz, profundamente influenciadas pela França, Inglaterra e Estados Unidos. As conversações tinham como objetivos principais redesenhar o mapa europeu, atendendo aos interesses das diversas nacionalidades (basicamente, a constituição de Estados-nações étnico-linguísticos), e enfraquecer aAlemanha e o governo bolchevique recém-instalado na Rússia. Com o governo alemão foi firmado o Tratado de Versalhes, segundo o qual, territorialmente, aAlemanha cedeu aAlsácia-Lorena à França; Eupen-Malmédy à Bélgica; a maior parte da província de Posen (“corredor polonês”) à Polônia; o Schleswig do norte à Dinamarca; Memel à Lituânia; suas colônias à França, Inglaterra, Japão e África do Sul; e, ainda, a cidade de Dantzig foi transformada em cidade livre. Economicamente, os alemães tiveram de ceder a Bacia do Sarre (rica em carvão) à exploração francesa por quinze anos, entregar as jazidas carboníferas da Alta Silésia à Polônia e passar boa parte de seus navios mercantes e locomotivas às potências aliadas. Financeiramente, foram confiscados todos os investimentos e bens alemães no estrangeiro (nacionais ou privados) e uma Comissão de Reparação foi designada para avaliar o montante a ser pago pelo governo alemão aos aliados, a título de reparação de guerra (calculado em 132 bilhões de marcos). Militarmente, a Renânia foi desmilitarizada; a MarinhaAlemã foi proibida de possuir encouraçados e submarinos; o Exército não poderia ter efetivo superior a cem mil homens, além de ficar proibido de equipar-se com carros-de-combate, caminhões pesados e artilharia antiaérea; e a força aérea devia ser extinta. Amaior humilhação imposta à Alemanha, entretanto, foi uma cláusula moral, na qual os aliados, mediante ameaça de ocupação, obrigaram os alemães a assumir a culpa pelo desencadeamento da guerra. O Tratado de Saint-Germain, firmado entre os aliados ocidentais e o recéminstituído governo austríaco, determinou a dissolução do Império Austro-Húngaro, cujas partes deram origem a novos países (Áustria, Hungria e Tchecoslováquia) ou foram cedidos à Itália, Polônia, Romênia e Iugoslávia. A Áustria também foi proibida de unir-se, política ou economicamente, àAlemanha. Com a Hungria foi assinado o Tratado de Trianon, pelo qual os húngaros 258 EUROPA EM 1919 EG A ISLÂNDIA ÂN TI CO NO RU FINLÂNDIA SUÉCIA ESTÔNIA EA NO AT L MAR DO NORTE OC REINO UNIDO LETÔNIA DINAMARCA RÚSSIA LITUÂNIA HOLANDA BÉLGICA ALEMANHA POLÔNIA LUXEMBURGO T CH E C FRANÇA SUÍÇA OSL OV UG AL IU G RT ESPANHA ITÁLIA PO Á Q UIA ÁUSTRIA HUNGRIA MAR MEDITERRÂNEO O ROMÊNIA SL ÁV IA BULGÁRIA IMP ÉR ALBÂNIA GRÉCIA MAR NEGRO IO OT OM A NO ÁFRICA NOVOS PAÍSES cederam territórios à Romênia, Iugoslávia e Tchecoslováquia, perdendo o acesso que tinham ao mar. Ao Império Otomano, que em 1923 deixaria de existir, foi imposto o Tratado de Sèvres, pelo qual os turcos perdiam a Palestina, a Síria, o Líbano, a Mesopotâmia e a Esmirna (recuperada, pouco tempo depois, pelos turcos em uma guerra contra a Grécia). Os estreitos de Bósforo e dos Dardanelos foram declarados neutros, sendo sua travessia permitida a todos os navios estrangeiros, mercantes ou de guerra, em quaisquer circunstâncias. A Rússia, governada pelos bolcheviques, vista com desconfiança pelas nações vencedoras, perdeu grandes extensões territoriais. Dos antigos domínios do czar originaram-se quatro novos Estados: Finlândia, Letônia, Estônia e Lituânia. Além disso, os russos cederam grande parte do território que deu origem à Polônia e perderem a Bessarábia para a Romênia. Uma “grande Sérvia” foi formada com o nome de Iugoslávia (eslavos do sul), abrangendo a Sérvia, Montenegro, Eslovênia, Croácia, Bósnia-Herzegovínia, Dalmácia e parte da Macedônia. 259 As potências vencedoras esperavam que os tratados impostos aos derrotados evitassem um novo conflito, pois a guerra trouxera consequências catastróficas para os principais países europeus. Dentre estas, a queda de três impérios tradicionais (Alemão, Austro-Húngaro e Russo); e a morte de cerca de oito milhões de soldados (outros vinte milhões ficaram feridos) e de aproximadamente doze milhões de civis (em virtude da falta de alimentos, epidemias e massacres). Também obrigou os governos a despenderem recursos vultosos, muito acima de sua capacidade, o que fez com que dívidas nacionais aumentassem e sistemas monetários entrassem em crise; e arruinou economias nacionais, devido à destruição de grande número de indústrias, campos agrícolas e navios mercantes. Tais consequências refletem o caráter total da Primeira Guerra Mundial, travada até as últimas forças por governos cientes de que o resultado final do embate poderia significar a própria sobrevivência dos seus estados. Nos combates, foram utilizados todos os meios possíveis para superar o inimigo, mesmo os de uso controverso, como o afundamento de navios de passageiros, bombardeios de cidades e uso de gases venenosos. Os esforços de guerra nacionais implicaram em ampla mobilização das populações (os homens capazes iam para a frente de combate, enquanto as mulheres os substituíam nos campos e fábricas) e das economias (direcionadas para a produção de alimentos, suprimentos e armamentos). O conflito foi tridimensional (ocorreram combates no mar, ar e terra) e psicológico (bloqueios econômicos e propagandas realizados para abater as forças morais do inimigo). Ao término da guerra, os países europeus, mesmo os vitoriosos, estavam enfraquecidos. Perderam espaço para os Estados Unidos, que se tornaram, indiscutivelmente, a maior potência econômica mundial. Um órgão internacional, denominado Liga das Nações, foi criado para promover a cooperação e manter a paz mundial, embora não viesse a se mostrar à altura de sua missão. 260 CAPÍTULO 24 A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL “Embora grande parte da Europa e antiquíssimos e famosos Estados hajam caído ou possam ainda cair nas garras da Gestapo e de todo o odioso aparato nazista, não haveremos de ceder nem fracassar. Iremos até o fim: lutaremos na França, lutaremos nos mares e oceanos, lutaremos, com crescente confiança e poderio, no ar; defenderemos nossa ilha custe o que custar; lutaremos nas praias, lutaremos nos aeródromos, lutaremos nos campos, nas ruas, nas colinas; jamais nos renderemos, e mesmo que – o que não creio sequer por um momento – esta ilha ou uma grande parte dela seja subjugada e esteja passando fome, nosso império de além-mar, armado e guardado pela esquadra britânica, continuará a lutar até que, quando Deus quiser, o Novo Mundo, com toda a sua força e poderio, se ponha em marcha para socorrer e libertar o velho”. 36 Winston Churchill, primeiro-ministro inglês A Segunda Guerra Mundial começou a delinear-se na década de 1930, quando os líderes do Japão, Itália e Alemanha deram início a uma política de expansão territorial. Os governantes japoneses ordenaram a ocupação de diversas regiões da China, desejosos de obter a autossuficiência econômica para seu país. O líder fascista italiano Benito Mussolini ordenou anexação daAbissínia (Etiópia) e a ocupação daAlbânia, tencionando aumentar a grandeza de sua nação. O dirigente da Alemanha, Adolf Hitler, anexou, através de plebiscitos, o Sarre (região alemã que estava sob administração da Liga das Nações) e a Áustria (nação germânica que estava proibida de unir-se à Alemanha pelo Tratado de Germain, de 1919), e por meio de pressões diplomáticas, os Sudetos e Memel (territórios habitados por alemães, que faziam parte da Tchecoslováquia e Lituânia, respectivamente). Em 1939, o líder alemão pôs fim à Tchecoslováquia ao mandar suas tropas ocuparem a parte do país habitada pelos tchecos (Boêmia e a Morávia ). Os eslovacos formaram seu próprio Estado, tutelado pelos alemães. As outras potências mundiais, Estados Unidos, URSS, França e Inglaterra, não se sentiram animadas a tomar medidas sérias em represália às agressões nipo-teutoitalianas. Isso ocorreu porque os norte-americanos adotavam uma postura isolacionista, os soviéticos consolidavam internamente o socialismo, e os ingleses e os franceses seguiam uma política de apaziguamento. Hitler, todavia, não estava satisfeito com os ganhos territoriais obtidos, pois pretendia conquistar áreas que considerava vitais (“Lebensraum”) para o aumento do poderio nacional germânico (territórios perdidos pelaAlemanha na Primeira Guerra Mundial e outras regiões da Europa Oriental). 36 Apud YOUNG, 1980, p.53. 269 Para dar continuidade ao seu projeto expansionista, o governante alemão optou por conquistar territórios poloneses, embora previsse que tal ação poderia provocar um conflito armado de largas proporções, já que a Inglaterra e a França comprometeram-se em apoiar a Polônia em caso de uma invasão alemã. A maior preocupação de Hitler, não obstante, era com a União das Repúblicas Socialista Soviéticas (URSS), governada por Josef Stalin, pois os alemães desejavam evitar uma guerra em duas frentes, como ocorrera na Primeira Guerra Mundial. Para o espanto dos líderes da França e da Inglaterra, em 23 de agosto de 1939, a Alemanha e a União Soviética, de regimes políticos diametralmente opostos, firmaram um pacto de não-agressão. O pacto era conveniente para Hitler porque possibilitaria um ataque alemão à Polônia sem a ingerência dos soviéticos; para Stalin era importante porque lhe daria tempo para reorganizar as Forças Armadas Soviéticas, que se encontravam fragilizadas em virtude de um expurgo realizado no seio da alta oficialidade pelo próprio líder comunista. Pelo pacto também ficou acordado que os signatários poderiam, sem interferência de um ou do outro, reconquistar territórios perdidos na Primeira Guerra Mundial. Assim, a Alemanha poderia anexar a metade ocidental do território polonês; a URSS, a metade oriental da Polônia, a Estônia, a Lituânia, a Letônia, a Bessarábia e partes da Finlândia. Livre de uma guerra em duas frentes, Hitler sentiu-se confiante para lançar uma campanha contra a Polônia, que se iniciou em 1° de setembro de 1939, quando as Forças Armadas Alemãs, de surpresa e sem declarar guerra, invadiram o território polonês. Dois dias depois, a Inglaterra e a França, em retaliação, declararam guerra à Alemanha. No embate teuto-polaco que se iniciava, somente o valor moral dos contendores se equivalia, pois, em todos os outros aspectos, as Forças Armadas Alemãs eram superiores. A Força Aérea Alemã (Luftwaffe) contava com modernos caças e bombardeiros, enquanto a polonesa só possuía aeronaves obsoletas. O Exército Alemão dispunha de 51 divisões (10 blindadas e 4 motorizadas), contra as quais os poloneses poderiam destacar 39 divisões (nenhuma blindada). AMarinhaAlemã era superior em quantidade e qualidade à polonesa. O diferencial principal entre as forças armadas adversárias, no entanto, estava centrado nos processos de combate empregados. Os alemães utilizavam a “blitzkrieg”, que consistia no emprego combinado da aviação e de unidades blindadas, motorizadas e a pé, em ações coordenadas por comunicação com rádio e marcadas pela surpresa e rapidez. Em contrapartida, os poloneses adotavam métodos lentos e antiquados, típicos da Primeira Guerra Mundial. A ofensiva alemã, denominada Operação Queda Branca (“Unternehmen Fall Weiß”) foi iniciada pela Luftwaffe, que destruiu as bases aéreas polonesas e conquistou rapidamente a supremacia aérea, ficando em condições de apoiar as operações terrestres. A Marinha Alemã, em pouco tempo, controlou o litoral polonês, passando 270 FORMA USUAL DE EMPREGO DA BLITZKRIEG 5 3 4 6 7 1 2 Os alemães conseguiram rápidas e expressivas vitórias no início da Segunda Guerra Mundial, por empregarem um processo de combate inovador, desenvolvido no período entreguerras, principalmente por Heinz Guderian, denominado “blitzkrieg” (guerra relâmpago). Tratava-se do emprego tático combinado da aviação e de unidades blindadas, motorizadas e a pé, em ações coordenadas por comunicação com rádio e marcadas pela surpresa e rapidez. Inicialmente era estabelecido um objetivo estratégico que deveria ser alcançado pelas grandes unidades blindadas. O ataque iniciava-se pela ação de caças e bombardeiros, que, agindo como uma “artilharia aérea”, destruíam campos de pouso, estações ferroviárias, depósitos de combustíveis, pontes, quartéis-generais, entre outros alvos, a fim de desarticular as posições defensivas inimigas. A artilharia contribuía, de acordo com suas possibilidade, nesse esforço. Tropas paraquedistas podiam ser lançadas para conquistar áreas importantes para o prosseguimento das operações, ou para desorganizar ainda mais o sistema defensivo inimigo. Paralelamente, ou mesmo antes do início das operações, tropas terrestres pressionavam toda a frente inimiga (reconhecimento em força) para localizar os pontos fortes (1) e fracos (2) do dispositivo inimigo. Feitos os reconhecimentos, poderosas investidas blindadas (3) eram realizadas para abrir brechas de 2 a 3 km nos pontos fracos. Os pontos fortes eram desbordados, para posterior destruição. Após passar pelas brechas, as forças blindadas poderiam, dependendo o caso, seguir para o objetivo final (4), causando a maior quantidade de danos possíveis ao adversário, ou isolar os pontos fortes que haviam ultrapassado (5), enfraquecendo-os (dependendo do caso, as duas operações poderiam ser realizadas conjuntamente). Unidades motorizadas seguiam as blindadas (6), procurando alargar as brechas. Por fim vinham divisões a pé (7), às quais cabia reduzir os pontos fortes, agora enfraquecidos pela ação das forças de primeiro escalão. Todas as operações terrestres eram apoiadas pela força aérea. Alcançado o objetivo estratégico, outros eram traçados, e as operações prosseguiam. Os defensores inimigos tinham poucas opções: podiam permanecer em suas posições isoladas, enfraquecendo-se continuamente em virtude das baixas e da falta de suprimento; ou procurar retrair, sendo, nesse caso, atacados pelos aviões e perseguidos pelos blindados, que impediam qualquer tentativa de reorganização. 271 a bombardear as defesas costeiras. Por terra, os alemães avançaram, a partir da Silésia, Pomerânia, Prússia Oriental e Eslováquia, e, com velocidade, cercaram e destruíram diversas unidades polonesas, que haviam sido posicionadas de forma dispersa ao longo das fronteiras. Os comandantes militares poloneses tinham dispersado suas unidades com o intuito de proteger importantes áreas industriais, mas tal medida acarretou no enfraquecimento do Exército Polonês em todos os setores. Os poloneses lançaram algumas contraofensivas desesperadas, que fracassaram. Para agravar a situação polonesa, no dia 17 de setembro de 1939, forças soviéticas invadiram a Polônia pelo leste, conforme o acordado no pacto de não-agressão teutosoviético. Em 18 de setembro de 1939, o governo polonês, sem esperança de reverter a situação, já que seus aliados franceses e ingleses não esboçaram pronta reação militar, refugiou-se na Romênia, estabelecendo um governo no exílio, transferido, posteriormente, para a França e, mais tarde, para a Grã-Bretanha. No dia 27 de setembro de 1939, a capital polonesa, Varsóvia, caiu sob o poder dos alemães. Encerrava-se, dessa forma, a primeira campanha da guerra.APolônia foi dividida por alemães e soviéticos, mas muitos poloneses, no exílio, se reagrupariam e continuariam a lutar para restabelecer a independência de sua pátria. O passo seguinte foi dado por Stalin, que ordenou a invasão da Finlândia, tendo em vista conquistar territórios considerados vitais para a segurança da URSS. Com 100 divisões, 3.200 carros-de-combate e 2.500 aviões, os soviéticos esperavam bater facilmente as Forças Armadas Finlandesas, compostas por 3 divisões e alguns poucos aviões obsoletos. Em 30 de novembro de 1939, os soviéticos iniciaram a ofensiva. Os finlandeses resolveramresistir à investida inimiga emuma linha defensiva denominada Mannerheim, situada entre o lago Ladoga e o golfo da Finlândia. O avanço soviético foi retardado pelo terreno acidentado, coberto por florestas e densas camadas de neve, e pela ação de rápidas patrulhas finlandesas, que emboscavam as unidades inimigas. Os soviéticos tiveram maiores problemas ao se depararem com a Linha Mannerheim, pois, ao tentarem rompê-la, empregando processos de combate semelhantes aos da Primeira Guerra Mundial, tiveram resultados desastrosos. Paralelamente, os soviéticos lançaram grandes bombardeios aéreos sobre posições e cidades finlandesas, que poucos resultados positivos lhes trouxeram. Em fevereiro de 1940, os soviéticos empregaram divisões blindadas em massa contra a Linha Mannerheim, conseguindo, finalmente, transpô-la. Com sua principal linha defensiva rompida, os finlandeses, em 12 de março de 1940, renderam-se, após dois meses e meio de heroica resistência. Em consequência da derrota, os finlandeses foram obrigados a ceder o istmo da Carélia e a cidade de Viipuri para os soviéticos. 272 ORGANIZAÇÃO DOS EXÉRCITOS O quadro abaixo demonstra a hierarquia organizacional teórica do Exército Norte-Americano na II Guerra Mundial. Os exércitos de outros países ocidentais envolvidos no conflito tinham organização semelhante, com algumas variações de organização e nomenclatura. SÍMBOLO XXXXX NOME GRUPO DE EXÉRCITOS INTEGRANTES UNIDADES SUBORDINADAS 100 MIL OU MAIS 2 OU MAIS EXÉRCITOS GENERAL XXXX EXÉRCITO 50 A 60 MIL XXX CORPO DE EXÉRCITO 30 A 50 MIL 2 OU MAIS DIVISÕES XX DIVISÃO 10 A 20 MIL 2 A 4 REGIMENTOS MAJORGENERAL III REGIMENTO 2 A 3 MIL 2 OU MAIS BATALHÕES CORONEL II BATALHÃO 300 A 1 MIL 2 A 6 COMPANHIAS TENENTE -CORONEL OU MAJOR I COMPANHIA 70 A 250 2 A 8 PELOTÕES CAPITÃO ... PELOTÃO 25 A 60 .. ESQUADRA . GRUPOS DE TIRO 2 OU MAIS CORPOS DE EXÉRCITO COMANDANTE 8 A 13 2 OU MAIS ESQUADRAS 2 OU MAIS GRUPOS DE TIRO 4A5 GENERAL TENENTEGENERAL 1º OU 2º TENENTE SARGENTO CABO Durante a guerra, os norte-americanos e aliados fizeram uso dos grupamentos táticos (brigadas provisórias), que eram a combinação de elementos de diversas armas e serviços, para cumprir missões específicas. Os britânicos não usaram os grupamentos táticos pois tinham em sua organização as brigadas (não tinham, no entanto, regimentos como unidades de combate). COMPOSIÇÃO DAS DIVISÕES PANZER A composição das divisões panzer sofreu alterações durante a guerra. No final da guerra, as divisões panzer tinham um poder de combate bem mais fraco do que no início, embora o Alto-Comando Alemão procurasse não reconhecer isso. Os dados a seguir, referem-se à 11ª Divisão Panzer, quando de sua organização, em 1941, pouco antes da Operação Barba Roxa. Principais unidades: 01 regimento de carros-de-combate, 01 brigada de infantaria blindada, 01 regimento de artilharia, 01 batalhão de engenharia, 01 batalhão de comunicações e 01 batalhão de transporte. Efetivo: 17 mil homens. Armamentos e equipamentos mais relevantes: 21 carros-de-combate médios PZ IV, 60 carros-de-combate médios PZ III, 50 carros-de-combate leves PZ II, 56 carros-de-combate diversos, 8 canhões de 15cm, 16 canhões de 10,5cm, 16 canhões de 7,5cm, 25 canhões antiaéreos de 2cm, 16 canhões anticarro de 3,7cm, 24 morteiros de 8,1cm, 116 morteiros de 5cm, 542 metralhadoras e 1200 caminhões. Fonte: <www.wikimedia.org> acesso em 05 set. 2007 (adaptado pelos autores). 273 DIVISÃO PANZER Ainda no ano de 1940, Stalin mandou que suas tropas ocupassem a Estônia, a Letônia e a Lituânia. O péssimo desempenho militar demonstrado pelos soviéticos na Finlândia foi recebido com satisfação por alemães, franceses e britânicos, que se consideravam possíveis oponentes da URSS em um futuro conflito. Por outro lado, preocupou Stalin, que ordenou ao marechal Semyon K. Timoshenko aumentar a eficiência do Exército Soviético, tirando lições da campanha que a URSS acabava de vencer. Hitler, após vencer os poloneses, fixou como próximo objetivo derrotar os franceses. Antes disso, no entanto, era necessário assegurar o fluxo de minério de ferro, importado da Suécia, vital para a Alemanha, já que britânicos e franceses demonstravam intenções de interceptá-lo. Como o minério era embarcado no porto norueguês de Narvik, situado em águas que não congelavam durante o inverno, o líder alemão resolveu conquistar a Noruega. Em 9 de abril de 1940, tendo o apoio do partido fascista local, a invasão alemã à Noruega foi desencadeada. Unidades alemãs terrestres (sete divisões), aéreas e navais, atuando de forma combinada, conquistaram simultaneamente diversos objetivos estratégicos. Oslo, a capital, foi ocupada por paraquedistas. Outros importantes centros de mobilização também caíram em poder das tropas alemãs, o que impediu uma reação militar consistente. Paralelamente, Hitler ordenou a invasão da Dinamarca, que ocupava um espaço estratégico importante para as futuras ações alemãs. Em face da superioridade bélica alemã, o rei dinamarquês Cristiano X ordenou que seu exército, composto por aproximadamente 15 mil homens, se rendesse. 274 Surpreendidos pela rapidez da operação alemã, a Grã-Bretanha e a França enviaram apressadamente algumas brigadas para a Noruega (dentre as quais unidades polonesas), que chegaram tarde demais para evitar o colapso das forças armadas locais. As tropas britânicas chegaram a obter sua primeira vitória na guerra ao conquistar o porto de Narvik, mas, em seguida, tiveram de ser evacuadas, devido à superioridade geral inimiga. Com a retirada das tropas aliadas, os alemães concluíram a ocupação da Noruega, que passou a ser governada por Vidkun Quisling, um fascista norueguês aliado de Hitler. A invasão alemã fora, de maneira geral, um sucesso, mas os germânicos sofreram reveses importantes no mar, onde sua frota de superfície sofreu pesadas perdas (2 cruzadores e 10 destroieres). A vitória alemã permitiu a Hitler assegurar o fluxo de minério de ferro sueco e instalar bases aéreas e navais na Noruega, a partir das quais os alemães passaram a ameaçar as ilhas britânicas e o controle dos britânicos sobre o Mar do Norte. Todavia, a perda de grande parte da frota de superfície e os enormes contingentes destinados a manter a Noruega (12 divisões, em junho de 1941) foram fatores que influíram negativamente para o esforço alemão na continuidade da guerra. Após a campanha da Noruega, Hitler passou a concentrar-se na conquista da França. Para isso, os alemães contavam com 3 grupos de exércitos (136 divisões, sendo 10 blindadas) e cerca de 2.700 veículos blindados. Essa força enfrentaria 146 divisões francesas e britânicas (somente 3 blindadas). Os alemães, no entanto, como na Campanha da Polônia, tinham força aérea, carros-de-combate, processos de combate (“blitzkrieg”), organização, instrução e lideranças superiores aos dos oponentes. Isso ocorria porque, os aliados, no entreguerras pouca atenção deram à evolução doutrinária e ao reaparelhamento de suas forças armadas. Os franceses preocuparam-se quase tão somente em empregar vultosos recursos na construção da Linha Maginot, uma sólida posição defensiva ao longo da fronteira com a Alemanha. Em 10 de maio de 1940, os 3 grupos de exército alemães iniciaram a ofensiva. O Grupo de Exércitos “B” avançou sobre os Países Baixos, a fim de ocupar a Holanda e a Bélgica e atrair as tropas franco-britânicas. O Grupo de Exércitos “C” atacou a Linha Maginot, visando fixar as tropas que defendiam a fronteira francesa. O Grupo de Exércitos “A”, incumbido da ação principal, liderado por divisões Panzer, avançou pela montanhosa floresta dasArdenas, considerada pelos aliados intransponível para blindados, em direção ao Canal da Mancha, tendo como objetivo dividir as forças rivais. O Exército Holandês rapidamente sucumbiu às ações do Grupo de Exércitos “B” e se rendeu em 14 de maio de 1940. Os belgas recuaram para posições defensivas, para onde, em seguida, acorreram forças aliadas para apoiá-los. Paralelamente, o Grupo de Exércitos “A”, após atravessar as Ardenas, abriu uma brecha na posição aliada e rumou para o Canal da Mancha, conseguindo, conforme o planejado, separar as forças aliadas que estavam na Bélgica das que ficaram na França. 275 Encurraladas entre os Grupos de Exércitos “A” e “B”, as forças anglo-francesas que estavam na Bélgica viram-se obrigadas, em 27 de maio de 1940, a seguir para o porto de Dunquerque, na expectativa de serem evacuadas por via marítima. Os belgas renderam-se em 28 de maio de 1940. Dois dias antes, a Marinha Inglesa, auxiliada por embarcações civis, havia iniciado a Operação Dínamo (“Operation Dynamo”), destinada a evacuar as tropas anglo-francesas que se encontravam em Dunquerque. Em virtude do terreno nos arredores de Dunquerque não ser propício para o uso de blindados, Hitler resolveu poupá-los para a continuidade da campanha na França, incumbindo a Luftwaffe de pôr fim à evacuação. Houve, porém, a interferência da Força Aérea Inglesa (RAF), que infligiu pesadas perdas à Luftwaffe. No final, a Operação Dínamo foi um sucesso, pois cerca de 340 mil soldados aliados foram transportados para a Inglaterra.37 Dando prosseguimento às operações, os alemães rumaram para Paris. O Exército Francês, abalado pelos reveses iniciais, perdeu seu moral e diluiu-se diante do avanço inimigo. A Linha Maginot, atacada frontalmente e pela retaguarda, também sucumbiu. Paris, por sua vez, caiu em poder dos alemães em 14 de junho de 1940. No dia 22 de junho, o marechal Philippe Pétain, recém-nomeado primeiroministro, assinou um armistício com os alemães. De acordo com o armistício, os alemães passaram a ocupar o norte e o oeste da França, enquanto Pétain passou a governar uma república títere que abrangia o território francês não ocupado pelos alemães, cuja sede foi estabelecida em Vichy (cidade do sul da França). CANAL DA MANCHA HOLANDA ALEMANHA OFENSIVA ALEMÃ EM 1940 BÉLGICA B Bruxelas LUX. ag ne M ar a M nh Paris o Li Ri A C in ot MANOBRAS ALEMÃS ALEMÃES FRANÇA ´ SUIÇA ALIADOS 3 7 A retirada de Dunquerque é um assunto controverso. Alguns historiadores afirmam que Hermann Göring, comandante da Luftwaffe, teria garantido a Hitler que a Força Aérea Alemã poderia sozinha impedir a evacuação inglesa, o que não se confirmou. Outros asseveram que Hitler teria permitido a retirada como um sinal de boa vontade, tendo em vista assegurar futuras negociações de paz com a Grã-Bretanha. 276 270 Pouco antes da queda de Paris, Mussolini entrou no conflito ao lado dos alemães, mesmo sabendo que a economia e o exército de sua nação não estavam em condições de sustentar uma guerra de grande amplitude. Em setembro de 1940, o Japão se uniria a esta aliança, formando o Eixo Roma-Berlim-Tóquio. Comesta atitude, Mussolini esperava receber apoio dos alemães para conquistar um “espaço vital” para os italianos na região do mar Mediterrâneo. Em 10 de junho, 32 divisões italianas atacaram a França, tendo como propósito anexar áreas fronteiriças. O ataque italiano redundou em um completo fracasso, pois foi barrado por 6 divisões francesas nos Alpes, fato que pressagiou futuras derrotas acachapantes das forças de Mussolini. Após vencerem a França, os alemães procuraram os britânicos para um acordo de paz. Todavia, o Primeiro-Ministro da Grã-Bretanha, Winston Churchill, repeliu a oferta e declarou que a Grã-Bretanha iria continuar sozinha a luta contra a Alemanha. Em Londres, o general francês Charles de Gaulle não reconheceu o governo da França sediado em Vichy e conclamou os franceses a continuar a luta contra os alemães. De Gaulle instalou um governo no exílio, denominado “França Livre”, reconhecido pelos britânicos em 28 de junho de 1940. Pouco depois, em 5 de julho de 1940, os britânicos desencadearam a Operação Catapulta (“Operation Catapult”), ao bombardearem navios franceses ancorados em Orã (Argélia), por temerem que estes caíssem em mãos germânicas. Em represália, o governo de Vichy rompeu relações com a Grã-Bretanha. Diante da recusa dos britânicos de negociarem a paz, Hitler ordenou preparativos para a invasão da Inglaterra. Os alemães reservaram 20 divisões para a operação, chamada Leão-Marinho (“Unternehmen Seelöwe”). Mas, para que chegassem às ilhas britânicas, havia a necessidade do controle do espaço aéreo no Canal da Mancha, já que a MarinhaAlemã não tinha condições de escoltar isoladamente as tropas até seu objetivo. Hitler, então, expediu uma diretriz na qual encarregava a Luftwaffe de destruir a RAF. A Luftwaffe contava para o ataque com 1.300 caças (Messerschmitt 109), 180 caças-bombardeiros (Messerschmitt 110) e 1.350 bombardeiros (Heinkel 111, Junker 88 e Dornier 17). Para enfrentar essa força, a RAF dispunha de 700 caças (Hurricanes, Blenheims, Spitfires e Defiants). A luta pela superioridade aérea, que ficou conhecida como a Batalha da GrãBretanha, teve início no dia 10 de julho de 1940. ALuftwaffe tomou a iniciativa ao atacar bases aéreas, áreas industriais, fábricas de aviões e cidades inglesas. No entanto, o transcorrer do combate passou a mostrar que a RAF levava nítida vantagem sobre sua oponente. Isso se explica porque os ingleses possuíam aviões superiores, combatiam em áreas conhecidas, conseguiam rapidamente repor as perdas materiais e humanas e dispunham de um eficiente sistema de alerta por radar. No final de agosto, a Luftwaffe havia perdido aproximadamente 600 aviões e a Grã-Bretanha menos de 300. Embora a Luftwaffe continuasse a bombardear as principais cidades inglesas, Hitler, em 12 de outubro de 1940, percebendo que sua força aérea seria incapaz de 277 vencer a batalha, suspendeu a Operação Leão-Marinho. Tal fato representou uma derrota decisiva para os alemães na guerra, embora isso não aparentasse naquele momento. Os combates também se propagaram por mares e oceanos, onde, desde o início do conflito, a Grã Bretanha teve superioridade. Hitler desejava sufocar a economia inglesa, por isso determinou que sua marinha cortasse o fluxo de suprimentos que se dirigia para as ilhas britânicas. Como a frota de superfície alemã era muito mais fraca do que a britânica, caberia aos submarinos alemães o papel principal nesse sentido. Todavia, a maior ameaça aos britânicos, nos primeiros meses da guerra, adveio dos modernos navios de superfície da Alemanha, entre os quais se destacavam os couraçados Graf Spee, Gneisenau, Scharnhorst e Bismarck. Estes obtiveram sucessos no início das operações, destruindo navios mercantes e importantes embarcações de guerra britânicas. Com o desenrolar da guerra, no entanto, passaram a ser perseguidos intensivamente pela Marinha e pela Real Força Aérea Britânica, que os puseram fora de ação. O Gneisenau foi avariado em 1942, permanecendo em reparos em Danzig até 1945, quando foi afundando pelos próprios alemães; o Graf Spee, o Bismarck e o Scharnhorst foram postos a pique pelos britânicos nos anos de 1939, 1941 e 1943, respectivamente. Os submarinos alemães, por sua vez, comprometeram seriamente o esforço de guerra britânico, pois afundaram grande número de navios mercantes que se dirigiam para as ilhas britânicas (585 nos seis primeiros meses de 1942, num total superior de 3 milhões de toneladas). Os submarinos germânicos usavam a tática da “alcateia”, ou seja, um deles, ao localizar um alvo compensador, comunicava tal fato imediatamente a outros que estavam nas proximidades, possibilitando, desse modo, um ataque conjunto, com maiores probabilidades de êxito. A partir do segundo semestre de 1942, entretanto, os aliados passaram a ter importantes sucessos no combate aos submarinos, pois desenvolveram novos meios para localizá-los e destruí-los. Esses meios foram, principalmente, sonares mais eficientes, rádios goniômetros de alta frequência, com os quais era possível determinar a posição dos transmissores de ondas curtas das embarcações inimigas, aviões de patrulha com maior autonomia e cargas de profundidade mais destrutivas. Além disso, os britânicos, juntamente com os norte-americanos, que entraram na guerra contra os alemães no final de 1941, melhoraram o sistema de escoltas a seus comboios, inibindo a ação dos submarinos. Os aliados, também, decifraram o código Enigma, empregado pelos alemães para se comunicarem, o que lhes proporcionou a coleta de importantes informações a respeito das ações inimigas. Embora os submarinos alemães continuassem a ser um perigo até o final da guerra, a partir de 1943, devido ao aprimoramento das medidas antissubmarinas angloamericanas, os efeitos de sua atuação deixaram de ser relevantes. Quando a guerra terminou, dos 1.162 submarinos construídos pelos alemães, 785 haviam sido destruídos. Em terra, em 3 de agosto de 1940, Mussolini ordenou que suas tropas 278 ARMAMENTOS Durante a Segunda Guerra Mundial, os beligerantes empregaram grande número de armamentos de uso individual e coletivo. Muitos foram criados durante o conflito, para atender a novas necessidades, outros foram aperfeiçoados. De maneira geral, os exércitos eram dotados de fuzis, metralhadoras, pistolas, lança-foguetes, lança-chamas, canhões, morteiros, granadas e veículos blindados, dos mais diferentes modelos e eficiência em combate. Os carros-de-combate tiveram grande importância nas operações. Um dos que mais se destacou foi o T-34 soviético, que pesava 30 toneladas, podia desenvolver uma velocidade de 55 km/h e era dotado de um canhão de 76,2mm. Os alemães desenvolveram o Panzer V Panther, superior aos blindados aliados, que pesava 45,5 toneladas, desenvolvia uma velocidade de 46 Km/h e era dotado de um canhão de 75mm (cerca de 6 mil foram produzidos). Os norte-americanos empregaram o M4 Sherman, com 30,3 toneladas, canhão de 75mm e velocidade de 38,5 km/h (cerca de 50 mil foram fabricados). A Alemanha não tinha condições de acompanhar o ritmo de produção bélica, inclusive de carros-de-combate, dos Estados Unidos, o que foi um fator decisivo para a vitória aliada. Nos combates marítimos, principalmente no Pacífico, os navios aeródromos tiveram um papel fundamental. Importantes foram os da classe Essex, base da frota norteamericana, com 3.240 tripulantes, grande mobilidade (até 33 nós) e capacidade de transporte de aeronaves (em junho de 1944: 42 Hellcats, 36 Helldivers e 20 Avengers). No Atlântico, foram de grande importância os submarinos, arma que os alemães julgavam ser capaz de decidir a guerra para seu lado. O modelo VII, constantemente aperfeiçoado, foi o mais empregado pela Alemanha. Era tripulado por 44 a 52 homens, desenvolvia uma velocidade máxima de 17,7 nós, chegava a uma profundidade de 220 metros e tinha como armamentos um canhão de 88 mm, 14 torpedos e 26 minas. Os combates aéreos também foram importantes durante a guerra e os aviões sofreram constantes aperfeiçoamentos. Na Batalha da Inglaterra, destacou-se o caça britânico Supermarine Spitfire, que tinha revestimento metálico, desenvolvia uma velocidade de 594 Km/h, possuía uma autonomia de 700 km e era dotado de 8 metralhadoras .303 polegadas. Os aviões bombardeiros também se destacaram. Os B-29 norte-americanos, atacando em massa, puseram abaixo boa parte da infraestrutura alemã e japonesa, contribuindo para a vitória aliada. Estas aeronaves eram tripuladas por 10 a 14 homens, desenvolviam uma velocidade de 575 Km/h, tinham autonomia de 5.230 km e podiam carregar até 9 toneladas de bombas. No final da guerra, Hitler esperava que novas armas fossem capazes de conter as investidas inimigas. Para isso contava com o poder destruidor dos caças a jato e das bombas V1 e V2. A bomba V2 era um míssil balístico de baixa precisão, com alcance de 330 km, capaz de atingir uma velocidade de 5.760 Km/h, conduzindo uma carga explosiva de 975 kg. Muitas foram lançadas sobre a Inglaterra, causando grande efeito moral, já que os aliados não tinham nenhum sistema de defesa para conter esse tipo de arma. As novas armas alemãs, no entanto, chegaram tardiamente e não foram capazes de reverter a vitória dos Aliados. Decisiva, realmente, foi a bomba atômica, desenvolvida pelos Estados Unidos. Ela tinha altíssimo poder destrutivo (entre 12 e 18 quilotons – cada quiloton equivale a mil toneladas de TNT), proveniente da fissão do urânio-235. Foram lançadas em Hiroshima e Nagasaki, convencendo os japoneses a se render. 279 ARMAMENTOS PANZER V PANTHER NAVIO AERÓDROMO ESSEX SPITFIRE BOMBA V-2 280 T-34 SUBMARINO MODELO VII B - 29 BOMBA ATÔMICA posicionadas na África Oriental Italiana (2 divisões italianas e 29 brigadas nativas) ocupassem a Somália Britânica. Tal operação foi bem sucedida, encorajando o líder italiano a desencadear dois novos ataques: um ao Egito, em setembro de 1940, tendo em vista a posse do canal de Suez, controlado pelos britânicos; e outro sobre a Grécia, tendo como objetivo ocupar posições estratégicas nos Bálcãs. O líder italiano estava confiante em obter sucesso em ambas as frentes. Em setembro de 1940, cerca de 200 mil soldados italianos partiram da Líbia (colônia italiana no norte da África) em direção ao Egito, defendido por aproximadamente 35 mil soldados britânicos. Ao mesmo tempo, da Albânia, ocupada pela Itália, 9 divisões italianas (1 blindada) seguiram para enfrentar 75 mil gregos. Para surpresa de Mussolini, as forças italianas mostraram-se totalmente despreparadas para a guerra, particularmente pela falta de suprimentos, principalmente combustível. No norte da África, os ingleses contra-atacaram e derrotaram o inimigo em dezembro de 1940, apossando-se, em janeiro de 1941, do importante porto de Tobruk, na Líbia. Nos Bálcãs, os italianos não tiveram melhor sorte frente aos gregos que, apoiados por tropas inglesas, provenientes do norte da África, lançaram uma contra ofensiva que penetrou na Albânia. Paralelamente, na África Oriental, os britânicos iniciaram uma série de ofensivas que redundariam na reconquista da Somália Britânica e na ocupação das colônias italianas situadas na África Oriental (Abissínia, Eritreia e Somália Italiana). Diante dos fracassos de seu aliado, Hitler interveio. O líder alemão preocupava-se, principalmente, com a possibilidade dos britânicos instalarem-se na Grécia, de onde poderiam ameaçar os campos de petróleo da Romênia, vitais para a Alemanha. Destarte, os alemães lançaram duas operações: a Girassol (“Unternehmen Sonnenblume”) e VioletaAlpina (“UnternehmenAlpenveilchen”), que visavam, respectivamente, apoiar os italianos no norte da África e nos Bálcãs. Para o norte da África, os alemães enviaram uma divisão blindada leve (núcleo básico do Corpo Africano - AfrikaKorps), comandada pelo General Erwin Rommel. No dia 31 de março de 1941, Rommel lançou suas tropas, apoiadas por 2 divisões italianas (1 blindada), em uma ofensiva contra os britânicos, que dispunham, naquele momento, de somente uma força de cobertura na Líbia, composta por 1 divisão blindada incompleta, 1 divisão australiana e uma brigada motorizada indiana (3 divisões britânicas do norte da África haviam sido deslocadas para apoiar os gregos).As forças de Rommel rapidamente venceram as tropas inimigas, conquistando bases britânicas em El Agheila, Agedabia e Bengazi. Tobruk, no entanto, continuou nas mãos dos britânicos. Nos meses seguintes, ambos os lados reforçaram suas tropas. Os britânicos, em 18 de novembro de 1941, depois de formarem o 8º Exército, que dispunha de 700 carros-de-combate e 1.000 aviões, contra-atacaram Rommel, lançando a Operação Cruzado (“Operation Crusader”), que visava diminuir a pressão das tropas do Eixo sobre Tobruk. Rommel, para fazer frente ao inimigo, dispunha de 2 corpos de exército 281 EUROPA 1939/1940 Narvik FINLÂNDIA A AT LÂ N TIC O Arkhangel NO OC EA RU NO EG Lago ladoga Helsinque REINO UNIDO Oslo Leningrado ESTÔNIA SUÉCIA MAR DO NORTE DINAMARCA LETÔNIA MAR BÁLTICO IRLANDA Moscou LITUÂNIA URSS Danzig Londres ALEM. HOLANDA BÉLGICA Kursk Berlim ALEMANHA Varsóvia Kharkov Stalingrado POLÔNIA Kiev Paris E S L OV Á Q U IA SUÍÇA HUNGRIA FRANÇA Crimeia ROMÊNIA IU G ESPANHA ITÁLIA O Cáucaso Bucareste SL ÁV Belgrado IA Roma MAR NEGRO BULGÁRIA Sófia Nápoles TURQUIA ALBÂNIA MAR MEDITERRÂNEO Orã Sícilia GRÉCIA Atenas Argel Bougle Túnis COLÔNIAS FRANCESAS CRETA ARGÉLIA TUNÍSIA Gazala Tobruk Trípoli Bengasi El Alamein LÍBIA CO OB AS E ÁR Suez N ITÂ BR LE O R NT ICO El Agheila ÁREA SOB CONTROLE DO EIXO 282 PAÍSES NEUTROS OFENSIVAS ITALIANAS EM 1940 OFENSIVAS ALEMÃS EM 1939 OFENSIVAS BRITÂNICAS EM 1940 OFENSIVAS SOVIÉTICAS EM 1939 OFENSIVAS ALEMÃS EM 1940 RETIRADAS BRITÂNICAS EM 1940 OFENSIVAS GREGAS EM 1940 38 italianos e doAfrikaKorps, formado, nessa ocasião, por 2 divisões. Inicialmente, Rommel contava com 320 carros-de-combate, aos quais se somaram, mais tarde, outros 480, além de 320 aviões. As forças britânicas obtiveram êxito em sua contraofensiva, obrigando Rommel a ceder boa parte do terreno que havia conquistado. Nos Bálcãs, em agosto de 1940, os alemães ocuparam, mediante pressões diplomáticas, a Romênia, tendo em vista assegurar o fornecimento dos campos de petróleo deste país; e, em 1º de março de 1941, a Bulgária. ARomênia e a Bulgária, juntamente com a Hungria, a Eslováquia e a Finlândia, acabaram aliando-se ao Eixo. Em abril de 1941, tropas do 12º Exército Alemão derrotaram facilmente a Iugoslávia, que fora contrária à ocupação de seu território pelos alemães (20 divisões iugoslavas foram vencidas); e, simultaneamente, atacaram a Grécia. Como a maior parte das forças gregas (14 divisões) combatia os italianos na Albânia, somente restaram 3 divisões inglesas e 3 divisões gregas para fazer frente aos alemães, que, com grande rapidez, derrotaram seus oponentes e ocuparam a Grécia (o Exército Grego se rendeu em 21 de abril). Boa parte das tropas britânicas pôde ser evacuada pela Marinha Inglesa. Em seguida, os alemães desencadearam a Operação Mercúrio (“Unternehmen Nerker”) para conquistar Creta, onde os britânicos haviam instalado bases aéreas. Ailha era defendida por aproximadamente 50 mil soldados britânicos e gregos, que estavam mal equipados e com pouca munição. Para conquistá-la, no dia 20 de maio de 1941, os alemães lançaram um audacioso ataque realizado por 22 mil homens, dos quais 17 mil eram paraquedistas. Apesar de um enorme número de baixas (cerca de 4 mil), os alemães conquistaram a ilha. Novamente, tropas britânicas foram evacuadas. No norte da África, em fins de maio de 1942, Rommel voltou a atacar, mesmo em inferioridade numérica, pois possuía 80 mil homens e 560 carros-de-combate, que enfrentariam 175 mil soldados e 843 carros-de-combate inimigos. Infligiu uma derrota contundente ao 8º Exército Britânico em Gazala e conquistou posteriormente Tobruk. Depois, mesmo com falta crônica de suprimentos (principalmente combustível), as forças do Eixo seguiram para o Egito, mas foram detidas pelos britânicos a 90 quilômetros do Canal de Suez, na 1ª Batalha de ElAlamein (julho de 1942) e na Batalha deAlam El Halfa (fins de agosto e início de setembro de 1942). Em 23 de outubro de 1942, o general Bernard Law Montgomery, designado comandante do 8º Exército Britânico, após intensos preparativos, tendo superioridade de forças, atacou as tropas do Eixo, o que resultou na 2ª Batalha de ElAlamein.Aluta seguiu em um impasse até 3 de novembro, terminando com a vitória dos britânicos. Enquanto desenrolavam-se os combates no norte da África, Hitler, ainda em 1941, considerou ser importante consolidar seu poder na Europa continental. Para isso esperava derrotar a URSS (única potência no continente livre do jugo alemão), já que não obtivera sucesso em sua investida contra a Grã-Bretanha. Vários motivos compeli38 O AfrikaKorps contou, ao longo de sua campanha, com a 15ª, a 21ª, a 90ª e a 164ª Divisões Panzer, além da Brigada Paraquedista Ramcke. 283 A SEGUNDA BATALHA DE EL ALAMEIN N 2 10 7 9 10 LEGENDA 8 6 MANOBRAS DO EIXO 10 ATAQUES BRITÂNICOS 4 FORÇAS DO EIXO 1 1 5 FORÇAS BRITÂNICAS CAMPOS MINADOS DO EIXO 3 CAMPOS MINADOS BRITÂNICOS De 23 de outubro a 3 de novembro de 1941, no Egito, tropas do Eixo (alemãs e italianas), lideradas inicialmente pelo general Georg Stumme e depois por Erwin Rommel, enfrentaram forças britânicas (reforçadas por contingentes da “França Livre” e da Grécia), comandadas pelo general Bernard Law Montgomery. Stumme e Rommel contavam com cerca de 95 mil homens e 430 carros-de-combate, Montgomery com 243 mil soldados e 1200 carros-de-combate. Em disputa estava o controle do norte da África. Os preparativos para o embate começaram logo após a Batalha deAlam El Halfa (fins de agosto e início de setembro), após a qual as tropas do Eixo e da Grã Bretanha estabeleceram posições defensivas, fortemente minadas (1) na região de ElAlamein, entre o mar Mediterrâneo (2) e a depressão de Qattara ( 3). Nos meses seguintes, através do Egito, as tropas britânicas receberam expressivos reforços de pessoal e grande quantidade de suprimentos; as do Eixo, ao contrário, tiveram dificuldade em se reforçar, pois lhes eram destinados poucos soldados e suprimentos, que, por vezes, eram destruídos antes de chegarem ao destino pela ação da Real Força Aérea (RAF), que tinha superioridade aérea no norte da África. Após sentir que suas tropas estavam preparadas, Montgomery resolveu atacar. Seu plano previa que as linhas defensivas alemãs fossem rompidas no norte. Para evitar que as forças do Eixo fossem concentradas nesse setor, Montgomery, por meio de ações diversionárias, fez Stumme pensar que o ataque principal britânico seria lançado no sul da linha. Quando percebeu que as melhores tropas do Eixo (Divisão Panzer e Divisão Aríete) encontravam-se posicionadas no sul da linha (4), Montgomery lançou sua ofensiva. Ataques secundários britânicos foram lançados no sul (5) e no centro da linha defensiva inimiga ( 6), e o principal, no flanco norte (7). O ataque principal britânico avançou, mas foi detido. Nesse espaço de tempo, Stumme faleceu vítima de um ataque cardíaco. Rommel, às pressas, assumiu o comando das tropas do Eixo, e logo percebeu que o esforço principal britânico estava sendo realizado no norte. Para reforçar seu flanco esquerdo, Rommel deslocou a Divisão Panzer e a Divisão Aríete, que estavam no sul, para o norte (8), o que resultou em um impasse neste setor. Montgomery, que nesse momento contava com uma superioridade em blindados de 10 para 1, resolveu então mudar o eixo de gravidade das operações, realizando um ataque um pouco mais para o sul, na área do flanco norte (9). Dessa vez, as forças britânicas conseguiram romper as linhas inimigas. Diante da ruptura de suas linhas, Rommel, que a essa altura encontrava-se sem reservas, ordenou o retraimento (10). Os britânicos perderam na batalha aproximadamente 14 mil homens e 600 carros-de-combate, as tropas do Eixo 19 mil homens e 400 carros-de-combate.Após a vitória, as tropas britânicas prosseguiram com suas operações, que resultaram na derrota total das tropas do Eixo no Norte da África. 284 ram o líder nazista a investir contra os soviéticos: a URSS possuía ricas fontes de matérias-primas, era inimiga ideológica dos nazistas e vinha tendo atritos com os alemães, devido a questões hegemônicas na Europa Oriental (Stalin não via com bons olhos a expansão e as alianças que os alemães faziam nos Bálcãs e no leste europeu).Além disso, a vitória sobre a URSS garantiria aos alemães a posse de territórios que se estenderiam do Atlântico aos Montes Urais e o controle sobre cerca de 250 milhões de pessoas. Para a campanha, Hitler contava com 145 divisões, contingente que acreditava ser suficiente para derrotar o Exército Soviético, composto aproximadamente por 190 divisões. Apesar da inferioridade numérica, os estrategistas alemães calculavam que a campanha terminaria em quatro meses, antes do início do inverno. Tal otimismo se justificava pelos sucessos obtidos pela “blitzkrieg”, pela experiência do ExércitoAlemão, e pelo despreparo do Exército Soviético, que se ressentia de oficiais e soldados experientes, de equipamentos modernos (os blindados e aviões eram obsoletos) e de adestramento. O plano alemão, denominado Operação Barba-Roxa (“Unternehmen Barbarossa”) previa uma ofensiva em uma frente de 3.200 quilômetros a ser realizada por 3 grupos de exércitos, denominados Norte, Central e Sul, que tinham por objetivo, respectivamente, a conquista de Leningrado (importante área industrial), Moscou (capital inimiga e importante entroncamento ferroviário) e Ucrânia (rica em matérias-primas e importante região agrícola). Os alemães esperavam aniquilar o grosso do Exército Soviético a oeste dos rios Dvina e Dnieper, por meio de uma série de batalhas de cerco e aniquilamento. Em seguida, pretendiam avançar até o rio Volga e a cidade de Arkhangel, onde seriam estabelecidos os limites de uma linha defensiva capaz de resistir eficazmente a contra-ataques das forças soviéticas restantes, que estariam, então, com poucos recursos para uma reação eficaz, já que as terras mais férteis e os principais centros industriais da URSS estariam sob controle alemão. Em 22 de junho de 1941, as Forças Armadas Alemãs atacaram. A Luftwaffe rapidamente obteve a supremacia aérea e as unidades terrestres lançaram a “blitzkrieg”. O progresso inicial alemão foi acelerado. Suas tropas, atacando em colunas de movimentação rápida, fragmentavam as formações soviéticas, para depois envolvê-las, o que resultou na prisão de milhares de soldados soviéticos. Importantes cidades, como Kiev e Smolensk, passaram para o controle alemão. Para alento de Stálin, a Inglaterra, que até então lutava sozinha contra os alemães, ofereceu seu apoio à URSS, sendo firmada uma aliança anglo-soviética contra aAlemanha. Para tentar diminuir o ímpeto da ofensiva inimiga, o líder soviético ordenou que, em caso de retirada, suas tropas destruíssem quaisquer recursos (plantações, indústrias, ferrovias, entre outros) que pudessem ser aproveitados pelos alemães. O ataque alemão foi acompanhado por uma ofensiva finlandesa sobre o noroeste da URSS. Quando o inverno chegou, os alemães tiveram de suspender suas operações. 285 Até esse momento haviam conseguido importantes avanços (sitiavam Leningrado, tinham praticamente conquistado a Crimeia e se encontravam nos subúrbios de Moscou), mas as metas traçadas por Hitler não haviam sido atingidas. Isso se devia, em grande parte, à resistência dos soviéticos, mais forte do que a esperada. Além disso, na frente oriental o conflito radicalizou-se, tornando-se uma luta de extermínio, na qual os soldados soviéticos e alemães lutavam até as suas últimas forças, pois sabiam que se caíssem em mãos inimigas teriam uma morte sumária ou por maltratos (fome, doenças ou exaustão decorrente de trabalho escravo). Para complicar a situação dos alemães, o frio intenso passou a causar grande número de baixas em suas fileiras (faltaram roupas de inverno aos soldados) e o sistema de suprimento entrou em colapso (muitos blindados, por exemplo, tornaram-se indisponíveis por falta de peças de reposição). Por outro lado, as Forças Armadas Soviéticas passaram por consideráveis reformulações ao longo dos primeiros meses de luta. Muitos oficiais que eram mantidos nas prisões por Stalin foram libertados para reforçar o exército; aviões modernos passaram a disputar a supremacia aérea com a Luftwaffe; novos carros-de-combate (T-34), superiores aos dos alemães (Mark III e IV), entraram em operação; e houve melhorias nas táticas soviéticas relativas ao emprego de blindados.Além disso, paradoxalmente, em dezembro de 1941, apesar das enormes perdas sofridas, o poderio militar soviético havia aumentado, pois, em um grande esforço, os soviéticos conseguiram mobilizar para a frente de combate mais 280 divisões. Muitas destas estavam no Extremo Oriente, a fim de repelir um possível ataque japonês oriundo da Manchúria, mas puderam ser deslocadas para o oeste, em virtude de um pacto de não-agressão nipo-soviético (o pacto do Eixo, firmado pelo Japão, não o impedia de ter relações amistosas com a URSS). Em 6 de dezembro de 1941, o Exército Soviético sentiu-se confiante para desferir um maciço contra-ataque, tendo como objetivo isolar o Grupo de Exércitos Central alemão. A ofensiva soviética prolongou-se pelos meses de janeiro e fevereiro de 1942, mas os resultados foram aquém do esperado. Os soviéticos tiveram êxitos consideráveis somente na região de Moscou, onde fizeram os alemães recuar cerca de 150 quilômetros. Com a chegada das chuvas e do degelo da primavera, ambas as forças ficaram atoladas na lama das péssimas estradas. Em 8 de maio de 1942, os alemães, após receberem reforços (entre os quais 71 divisões formadas por contingentes de países aliados, de menor preparo e menos equipadas), voltaram a atacar. A prioridade foi dada ao Grupo de Exércitos Sul, que deveria conquistar o Cáucaso, região rica em reservas petrolíferas, cuja perda seria fatal para o esforço de guerra soviético. O Grupo de Exércitos Norte deveria manter a pressão sobre Leningrado e o Central manter a posição. No sul, os alemães obtiveram grandes êxitos, avançando profundamente pelo Cáucaso. No final de junho de 1942 iniciaram operações tendo em vista a conquista da 286 EUROPA 1941/1942 LÂ N TIC O Arkhangel Lago ladoga NO RU OC EA EG NO A AT FINLÂNDIA Helsinque Oslo URSS Leningrado ESTÔNIA MAR DO NORTE SUÉCIA REINO UNIDO Moscou MAR BÁLTICO DINAMARCA IRLANDA LETÔNIA LITUÂNIA ALEM. Londres HOLANDA Kursk Danzig Berlim Stalingrado BÉLGICA ALEMANHA Varsóvia POLÔNIA Kiev Paris E S L OV SUÍÇA Á Q U IA HUNGRIA FRANÇA DE VICHY IU G O ITÁLIA ESPANHA ROMÊNIA Bucareste SL MAR NEGRO Sófia BULGÁRIA Nápoles ALBÂNIA TURQUIA GRÉCIA Túnis Crimeia Cáucaso ÁV Belgrado IA Roma Orã Argel Kharkov Sícilia Atenas Bougle COLÔNIAS FRANCESAS MAR MEDITERRÂNEO ARGÉLIA TUNÍSIA Gazala CRETA Tobruk Trípoli Bengasi El Alamein El Agheila EA ÁR ON BC SO OL TR O NIC ITÂ R EB Suez LÍBIA ÁREA SOB CONTROLE DO EIXO (1942) OFENSIVAS ALEMÃS EM 1941 OFENSIVAS ALEMÃS EM 1942 RETIRADAS ALEMÃS EM 1941 PAÍSES NEUTROS PAÍSES ALIADOS DO EIXO OFENSIVAS SOVIÉTICAS EM 1941 OFENSIVAS DO EIXO EM 1941 OFENSIVAS BRITÂNICAS EM 1941 OFENSIVAS FINLANDESAS EM 1941 OFENSIVAS DO EIXO EM 1942 OFENSIVAS BRITÂNICAS EM 1942 OFENSIVAS NORTE-AMERICANAS EM 1942 RETIRADAS DO EIXO EM 1942 RETIRADAS BRITÂNICAS EM 1941 OFENSIVAS ITALIANAS EM 1941 287 importante cidade de Stalingrado, situada às margens do rio Volga. Nesta cidade, no entanto, os alemães sofreram uma grande derrota. Enquanto alemães e soviéticos se digladiavam na Europa Oriental, novos contendores surgiram, e a guerra tornou-se mundial. Isso ocorreu porque o Japão, em julho de 1941, com o consentimento do governo de Vichy, mas com a desaprovação dos Estados Unidos, que temiam uma expansão japonesa no Extremo Oriente, se apossou de parte da Indochina (colônia francesa). Em represália, o governo norte-americano congelou os bens nipônicos existentes nos Estados Unidos e suspendeu as exportações de petróleo para o Japão. Diante disso, os líderes japoneses consideraram que só poderiam resolver suas pendências com os norte-americanos por meio da guerra. Contribuiu também para a tomada de decisão japonesa o fato de os norte-americanos estarem apoiando materialmente a China, contra a qual o Japão estava em guerra desde a década de 1930. Os japoneses tinham ciência de que não poderiam vencer os norte-americanos em uma longa guerra de desgaste, pois o poderio econômico do rival era muito superior. Planejaram, então, uma grande ofensiva, que tinha como meta a conquista das colônias e das bases militares que as nações ocidentais possuíam no Sudeste Asiático e no Pacífico. Tais conquistas propiciariam, calculavam os estrategistas nipônicos, a autossuficiência econômica ao Japão e a formação de um perímetro de defesa capaz de resistir às contraofensivas dos norte-americanos. Com tais ações, os japoneses esperavam forçar os estadunidenses a aceitar os termos de paz impostos pelo Japão. Em 07 de dezembro de 1941, sem declarar guerra, os japoneses lançaram um ataque aeronaval sobre a base naval norte-americana de Pearl Harbor, nas ilhas do Havaí, tendo como objetivo destruir a frota americana do Pacífico. Em meia hora, o ataque japonês destruiu 188 aviões, matou 2.500 marinheiros e pôs a pique muitos navios. Todavia, os resultados do bombardeio foram insatisfatórios, pois não atingiram os navios aeródromos norte-americanos Enterprise, Lexington e Saratoga, que se encontravam fora de Pearl Harbor, realizando manobras. As potências do Eixo deram apoio ao Japão, declarando guerra aos Estados Unidos, governado por Franklin D. Roosevelt. A guerra então tinha delineado os seus principais protagonistas: de um lado os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) e do outro os Aliados (Grã-Bretanha, URSS e Estados Unidos). Paralelamente ao ataque a Pearl Harbor, tendo superioridade no mar, ar e terra, os japoneses lançaram ofensivas vitoriosas sobre tropas britânicas, americanas e holandesas estacionadas no Sudeste Asiático e no Pacífico. Em pouco tempo, os japoneses se apossaram de Guam, Ilhas Wake, Filipinas, Hong Kong, Malásia, Bornéu, Tailândia, Birmânia, Ilhas Salomão e parte da Nova Guiné, entre outros territórios. Forças navais aliadas tentaram interceptar as frotas invasoras, sem sucesso. Em março de 1942, os japoneses haviam alcançado seus objetivos estratégicos, estabelecendo o almejado perímetro de defesa, que era delimitado pelas Ilhas Atu e Kiska (Pacífico Norte), Ilhas Wake (Pacífico Central), Java (Pacífico Sul) e Birmânia 288 A BATALHA DE STALINGRADO 4 11 9 LEGENDA 8 1 ATAQUES ALEMÃES 7 ATAQUES SOVIÉTICOS 10 3 11 TROPAS ROMENAS 2 6 5 TROPAS ALEMÃS TROPAS SOVIÉTICAS ÁREA OCUPADA (ALEMÃES) ÁREA OCUPADA (SOVIÉTICOS) De 21 de agosto de 1942 a 2 de fevereiro de 1943, na cidade de Stalingrado, no sul da Rússia, tropas alemãs, reforçadas por contingentes italianos, romenos e búlgaros, comandadas pelo general Friedrich von Paulus, enfrentaram forças soviéticas, lideradas pelo general Georgy Zhukov. Durante a batalha, em Stalingrado e regiões adjacentes, os alemães e seus aliados empregaram cerca de 1.300.000 homens; os soviéticos aproximadamente 1.700.000. A cidade de Stalingrado (1) situava-se em uma posição estratégica no rio Volga (2), a cavaleiro de uma rota vital que ligava o mar Cáspio à Rússia Central. Era um importante centro industrial e tinha também um valor simbólico, pois seu nome (cidade de Stalin) era uma homenagem ao líder soviético. Tais fatores fariam com que Hitler e Stalin dessem ordens para que a cidade fosse, respectivamente, conquistada ou mantida a qualquer custo. Em agosto de 1942, o 6º e o 4º (Panzer) Exércitos Alemães iniciaram a conquista da localidade (3), passando de imediato a enfrentar feroz resistência do 62º e 63º Exércitos Soviéticos que a defendiam. O 3º (4) e o 4º Exércitos (5) Romenos e parte do 4º Exército Panzer (6) faziam a proteção dos flancos alemães. Stalin não ordenou a evacuação dos civis da cidade, esperando que em virtude disso os defensores lutassem com mais afinco. Paulus, a princípio, dispunha de volumosos recursos materiais e humanos, que foram se exaurindo à medida que o comandante alemão expandia seu controle sobre a cidade. Enquanto Paulus progredia vagarosamente em meio aos escombros da localidade (7), travando encarniçadas lutas, os russos preparavam tropas para um contra-ataque. Estas tropas foram posicionadas na margem leste do rio Volga (8), compreendendo, no perímetro norte da cidade, o 5º, 21º, 65º, 64º e 66º Exércitos (9), e no perímetro sul o 57º e 51º Exércitos (10). Em novembro, quando os alemães já controlavam aproximadamente 90% de Stalingrado, os Exércitos Soviéticos que estavam na margem leste do rio Volga atacaram e derrotaram as tropas que defendiam os flancos alemães, cercando as tropas de Paulus que estavam no interior da cidade (11). As tropas alemãs cercadas passaram a ser abastecidas por via aérea, mas de maneira insuficiente. Forças alemãs, comandadas pelo general Erich von Manstein, tentaram romper o bloqueio soviético, mas fracassaram. Sem suprimentos e esperanças de escapar do cerco, Paulus rendeu-se. Em Stalingrado, os alemães e seus aliados perderam cerca de 740.000 soldados (destes, 110.000 foram aprisionados) e os soviéticos aproximadamente 750.000 (além de 100.000 civis). A vitória soviética marcou o início da contraofensiva soviética, que só pararia em Berlim. 289 (SudesteAsiático). Em seguida, para salvaguardar suas conquistas, o alto comando japonês resolveu estender ainda mais seu perímetro defensivo. Para isso, decidiu conquistar as Ilhas Aleutas, as Midway e completar a conquista da Nova Guiné. Em maio de 1942, os japoneses atacaram Porto Moresby, na costa sul da Nova Guiné, que poderia servir de base para uma invasão à Austrália. Para atingir esse objetivo, uma força invasora japonesa confrontou-se com uma norte-americana na Batalha do Mar de Coral. Este foi o primeiro confronto da história naval em que os navios dos oponentes atacaram-se sem contato visual, com a ação totalmente conduzida por portaaviões. As perdas materiais e humanas dos contendores foram semelhantes, mas o confronto representou uma vitória estratégica para os norte-americanos, pois os japoneses desistiram da conquista de Porto Moresby. Apesar do fracasso na Batalha do Mar de Coral, os japoneses planejaram uma nova ofensiva, desta vez em alto-mar, para destruir a Frota Americana do Pacífico. Este ataque japonês também previa a conquista das ilhas Aleutas Ocidentais e Midway. O confronto teve início em 4 de junho de 1942, e seu resultado foi uma derrota fragorosa dos japoneses, que perderam 4 navios aeródromos e afundaram apenas 1 do inimigo. As vitórias aliadas em Midway, em Stalingrado e em El Alamein, ocorridas na segunda metade de 1942, marcam o fim do expansionismo territorial dos países do Eixo. Doravante, os aliados ditariam o andamento das operações, colocando os inimigos na defensiva. A produção bélica aliada, muito superior à dos adversários, teria um papel decisivo nesse sentido. A partir de 1943, os Aliados lançaram uma maciça campanha de bombardeios estratégicos às cidades, parques industriais e outras instalações inimigas, o que prejudicou os esforços de guerra dos países do Eixo. No norte da África, a derrota na 2ª Batalha de El Alamein obrigou as tropas do Eixo a realizarem um longo recuo em direção à Tunísia, ocupada pelos alemães em 1942. Apesar de perseguidas pelo 8º Exército Britânico, elas realizaram a retirada em boas condições, tendo poucas perdas. Mesmo assim, os problemas das forças do Eixo no norte da África eram muitos: não recebiam suprimentos indispensáveis da Europa, porque os Aliados controlavam boa parte do mar Mediterrâneo; tinham meios aéreos e terrestres (aviões e blindados, por exemplo) em quantidade bastante inferior; e não podiam contar com reforços substanciais de pessoal, já que os recursos alemães eram prioritariamente destinados às tropas que combatiam no leste europeu. O golpe final para os alemães e italianos no continente africano ocorreu em 8 de novembro de 1942, quando os Aliados desencadearam uma operação anfíbia denominada Tocha (“Operation Torch”). Por meio desta, cerca de 75 mil soldados norte-americanos e britânicos desembarcaram na Argélia e no Marrocos (colônias francesas submetidas à autoridade do governo de Vichy). Os franceses que defendiam a Argélia e o Marrocos não ofereceram grande resistência e, posteriormente, chegaram a organizar tropas para combater ao lado de ingleses e americanos. 290 FORÇAS MORAIS Embora, no momento do combate, o soldado lute primordialmente pela autopreservação, ele se dirige para a batalha e, se sobreviver, prossegue na guerra, movido por crenças, compromissos, pressões e muitos outros fatores. Na Segunda Guerra Mundial as ideologias tiveram importância na motivação dos soldados, mas não de forma primordial. Muitos dos soldados soviéticos que resistiram com denodo às ofensivas alemãs não o fizeram por serem comunistas, mas sim para defenderem sua pátria, a família e a si próprios das atrocidades que resultariam da subjugação de sua nação pelos nazistas. O mesmo pode-se dizer dos soldados alemães, quando a maré da guerra inverteu-se. Estima-se que apenas 15% dos soldados alemães eram nazistas, embora grande parcela deles tivesse enorme admiração por Hitler. Isso explicaria a resistência de boa parte dos soldados alemães, que só depuseram as armas quando a Alemanha rendeu-se. Britânicos e norte-americanos, que também combateram com tenacidade, em sua maioria não queriam participar de uma guerra, mas viram-se compelidos a fazê-lo para livrar o mundo de regimes vistos por eles como opressores (o ataque japonês a Pearl Harbor e a ocupação de grande parte da Europa pela Alemanha corroboravam essa ideia). Os soldados japoneses, que lutavam fanaticamente, preferindo a morte à rendição, estavam impregnados fortemente pelos valores do “Bushido” e pelo sentimento de lealdade a seu imperador. Por outro lado, soldados de outros países demonstraram, de modo geral, um espírito combativo muito aquém do esperado. Os italianos, mobilizados para guerras de conquista, não se entusiasmaram por sacrificar suas vidas. A incompetência de seus comandantes, que em diversas ocasiões os deixaram em situações difíceis por falta de planejamento, contribuiu para o desânimo da tropa. Os franceses, em 1940, sucumbiram sem oferecer grande resistência, abalados pelos novos métodos de combate germânicos, que os surpreenderam. TROPAS SOVIÉTICAS EM STALINGRADO 291 As tropas do Eixo posicionadas na Tunísia estavam agora comprimidas entre o 8º Exército Britânico e as recém-chegadas tropas aliadas. Rommel ainda encontrou forças para infligir uma derrota incisiva às inexperientes forças dos Estados Unidos na Batalha de Passo Kasserine, em fevereiro de 1943, mas foi incapaz de explorar o sucesso por falta de meios. Hitler substituiu Rommel pelo general JürgenArnim, mas o novo comandante encontrava-se em uma posição desesperadora. Os aliados, então, uniram suas forças para dar o golpe final. No dia 14 de maio de 1943, as forças alemãs e italianas que restavam no norte da África foram aprisionadas. As perdas totais do Eixo foram estimadas em 620 mil homens, enquanto os Aliados perderam em torno de 258 mil soldados. Vitoriosos, osAliados fixaram como próximo objetivo colocar a Itália fora da guerra, pois tal fato ampliaria seu controle sobre o mar Mediterrâneo, por onde passavam importantes rotas. O fato de haver grande quantidade de homens e materiais disponíveis no norte da África reforçava essa linha de ação. Em julho de 1943, tropas do XV Grupo de Exércitos Aliado (7º Exército Norte-Americano e 8º Exército Britânico) desembarcaram e conquistaram a Sicília, defendida por 10 divisões italianas e 2 alemãs, tendo relativamente poucas baixas. Isso abria caminho para a invasão da Península Itálica. Em virtude dos fracassos militares italianos, Benito Mussolini foi deposto e preso em 25 de julho de 1943 (Mussolini acabou resgatado, mais tarde, pelos alemães e foi feito líder de um governo títere no norte da Itália). O novo governo na Itália solicitou um armistício aos Aliados em 8 de setembro de 1943. Diante da perda de seu aliado, os alemães reagiram com rapidez, ocupando a Itália e a Albânia. Na acidentada Península Italiana, os alemães estabeleceram uma série de complexas linhas defensivas, por estarem inferiorizados belicamente em relação aos aliados, No mesmo dia em que o governo italiano solicitou o armistício, contingentes do XV Grupo de Exércitos Aliado (agora formado pelo 5º Exército Norte-Americano e 8º Exército Britânico) desembarcaram na Itália. Mesmo enfrentando feroz resistência das 18 divisões alemãs lá estacionadas, iniciaram um lento mas inexorável avanço rumo ao norte da península. Nápoles foi conquistada em 1º de outubro de 1943, juntamente com as importantes bases aéreas de Foggia, cuja posse possibilitou aos Aliados bombardearem os campos petrolíferos da Romênia, importantes para os alemães. Após essas ações, a prioridade aliada deixou de ser a Itália. Boa parte das tropas veteranas foram deslocadas para a Inglaterra, onde passaram a preparar-se para libertar a França. As forças que permaneceram na Itália, mesmo com seu poder de combate reduzido, conseguiram, em 11 de maio de 1944, ultrapassar a Linha Gustav, principal posição defensiva alemã no sul da península, e, em 4 de junho, conquistar Roma. Os alemães recuaram em ordem, estabelecendo uma posição defensiva no norte da Itália, a Linha Gótica, onde mantiveram-se até o início de 1945, sob pressão de forças aliadas. 292 TROPAS O adestramento das tropas dos diversos países que tomaram parte da Segunda Guerra Mundial não era uniforme. Até mesmo em um mesmo país, a preparação do soldado para a guerra, devido a diversas circunstâncias, poderia variar. AAlemanha, por exemplo, no início da guerra, empregou tropas com elevado treinamento, mas, no final, em face da falta de meios e tempo, utilizou contingentes com pouca instrução. Em diversos países foram formadas unidades para realizar missões de alto risco, compostas por soldados rigorosamente selecionados e instruídos. Nas Forças Armadas da Alemanha, em 1940, durante a ofensiva sobre a França, sobressaíram-se as tropas paraquedistas, que conquistaram importantes objetivos, como a fortaleza belga de Eben Emael; mais tarde, estas mesmas tropas foram responsáveis por um audacioso assalto aeroterrestre, que resultou na conquista da ilha de Creta.As divisões blindadas alemãs (Panzer) também tiveram desempenho excepcional em muitos episódios, principalmente as que combateram sob o comando de Rommel no norte da África. As tropas alemãs consideradas de elite, entretanto, eram as SS (Shutzstaffel-tropas de proteção), compostas por soldados nazistas que lutaram fanaticamente em muitos combates, às vezes cometendo atrocidades. Entre os contingentes norte-americanos destacaram-se os fuzileiros navais, que travaram duros combates nas ilhas do Pacífico; as tropas de montanha, empregadas na Itália; e as tropas paraquedistas, que cumpriram árduas missões na ofensiva aliada final à Alemanha. Os britânicos, por sua vez, criaram, em 1940, unidades de “comandos”, constituídas por soldados que realizam incursões em áreas sob controle do inimigo, com o intuito de executar complicadas missões, muita das quais destinadas a desmoralizar o adversário. Na Birmânia, britânicos e americanos empregaram, respectivamente, os “Chindits” e os “Bandits of Merrill”. Tratavam-se de unidades de penetração profunda, especialmente preparadas para se infiltrarem nas linhas inimigas, a fim de desorganizar sistemas de comunicação e rotas de suprimento. Os soldados do Japão mostraram-se bons combatentes de selva, mas, mais famosos ficaram os pilotos “kamikazes” (vento divino) que, no final da guerra, em aviões especiais, realizaram missões suicidas para causar os maiores danos possíveis às forças norte-americanas. Finalmente, tiveram grande importância os guerrilheiros, que contribuíram bastante para a vitória aliada. Na Europa, atuando em territórios controlados pelos alemães (partes da França, Iugoslávia, Itália e Rússia), esses combatentes, entre muitas outras ações, forneciam informações relevantes aos aliados, emboscavam o inimigo e sabotavam ferrovias. COMANDOS NO NORTE DAÁFRICA 293 Na frente oriental, no início de 1943, o Exército Soviético, após vencer os alemães em Stalingrado, passou a pressionar continuamente os germânicos. Dispunha para isso de ampla superioridade em soldados (aproximadamente 7 milhões contra 3,5 milhões do inimigo) e equipamentos (muitos fornecidos pelos Estados Unidos). Em julho de 1943, os alemães, buscando desesperadamente revidar, empreenderam um grande esforço para destruir substanciais forças soviéticas que se encontravam em um saliente, na região do Kursk. Os germânicos contavam com 2.700 carros-decombate, 800.000 soldados e 2.000 aviões, os soviéticos com 3.600 carros-de-combate, 1.300.000 soldados e 2.400 aviões. O ataque alemão em Kursk, denominado Operação Cidadela (“Unternehmen Zitadelle”), foi desencadeado mas fracassou, redundando em grandes perdas para os germânicos. Após a Batalha de Kursk, os soviéticos reiniciaram suas ofensivas, fazendo ceder os flancos e o centro da linha alemã. Os alemães foram obrigados a recuar por centenas de quilômetros, com perdas humanas e materiais insubstituíveis. Em seus avanços, os soviéticos retomaram cidades importantes, como Kharkov, Smolensk e Kiev. No norte da frente oriental, em janeiro de 1944, os soviéticos levantaram o cerco alemão à Leningrado e começaram a esfacelar o flanco esquerdo germânico. Em setembro de 1944, o Exército Vermelho apossou-se da Estônia e Letônia. Nesse mesmo mês, os finlandeses, que apoiaram a invasão alemã à URSS, pressionados, renderam-se às tropas soviéticas. No sul da frente oriental, em maio de 1944, as tropas alemãs que se encontravam na Crimeia retiraram-se para a Romênia. Logo depois, os soviéticos avançaram para a Romênia e Hungria. Os governantes romenos e húngaros, sem condições de resistir ao inimigo, solicitaram o armistício em setembro de 1944. Em consequência, os soviéticos passaram a controlar os campos petrolíferos romenos, vitais para os alemães. Também em setembro de 1944, a Bulgária mudou de lado, quando forças soviéticas cruzaram o Danúbio. Na Iugoslávia, em outubro de 1944, guerrilheiros tomaram a capital Belgrado, expulsando os alemães do país. No centro da frente oriental, em julho de 1944, forças soviéticas destruíram as forças alemãs que defendiam a Bielo-Rússia. Em 7 de agosto, os soviéticos penetraram na Polônia, onde se detiveram a leste de Varsóvia (poucos dias antes, começara um levante nessa cidade contra a ocupação alemã; os soviéticos, no entanto, não apoiaram os poloneses, que foram derrotados, em outubro, pelos alemães). Em dezembro de 1944, os soviéticos adentraram na Alemanha (Prússia Oriental), agravando ainda mais a situação dos alemães, que, desde junho de 1944, lutavam para deter os Aliados ocidentais, que haviam se engajado na libertação da França. Nos anos de 1943 e 1944, Stalin, diversas vezes, solicitou aos aliados a abertura de uma nova frente de combate na Europa Ocidental, para aliviar a pressão que o grosso das tropas alemãs exercia sobre o Exército Soviético. Os aliados preparavam294 O BRASIL NA II GUERRA MUNDIAL Quando a guerra teve início, o Brasil manteve uma atitude imparcial, seguindo acordos diplomáticos firmados com os países americanos, que estabeleciam a neutralidade continental. Com a intensificação e expansão do conflito, o Brasil, aos poucos, foi alinhando-se aos Estados Unidos, que haviam entrado na guerra contra os países do Eixo em dezembro de 1941, após o ataque japonês à base de Pearl Harbor. A partir do ano de 1942, diversos navios mercantes brasileiros foram afundados por submarinos alemães, que tentavam sufocar a economia aliada. Em resposta, o Brasil declarou guerra aos países do Eixo e passou a contribuir para o esforço de guerra Aliado com ações políticas, econômicas e militares. Na campo militar, a Marinha do Brasil passou a escoltar comboios de navios mercantes que se dirigiam para os Estados Unidos e patrulhou a costa brasileira. O governo brasileiro também organizou uma divisão de infantaria (Força Expedicionária Brasileira - FEB) e um grupo de aviação de caça para o Teatro de Operações da Itália. O grupo de caça brasileiro chegou a realizar 45% das missões aliadas na Itália, sendo reconhecido pelo Comando Aliado como altamente eficaz. Já a Força Expedicionária Brasileira, comandada pelo General João Baptista Mascarenhas de Morais, com um efetivo de aproximadamente 25 mil homens, foi incorporada ao 5º Exército Norte-Americano, que buscava romper a Linha Gótica, posição defensiva estabelecida pelos alemães no norte da Itália. Nos anos de 1944 e 45, as tropas brasileiras realizaram campanhas vitoriosas, nos vales dos Rios Sercchio, Reno, Panaro e Pó, vencendo combates em Monte Castelo, Montese, Castelnuovo, Colecchio e Fornovo. Para coroar sua participação, a FEB capturou a 148º Divisão de Infantaria Alemã, fazendo mais de 17 mil prisioneiros. PATRULHA BRASILEIRA NA LINHA DE FRENTE 295 PROCESSOS DE COMBATE SOVIÉTICOS 3 5 7 1 4 6 6 2 Após sofrerem grandes reveses no início da Operação Barba Roxa, os soviéticos desenvolveram um processo de combate para conter a “blitzkrieg”, obtendo bons resultados. Basicamente, os russos estabeleceram sistemas defensivos profundos, fortemente minados (1), constituídos de pontos fortes (2), capazes de lançar fogos em todas as direções e de se apoiarem mutuamente. Tropas, inclusive blindadas (3), ficavam normalmente à retaguarda, em condições de realizar contra-ataques. Quando o inimigo atacava, os russos procuravam, por meio dos campos minados e outros obstáculos (naturais ou artificiais), canalizar as colunas blindadas adversárias (4) para pontos fortes fartamente munidos de armas anticarro (5). Ao mesmo tempo, lançavam ataques (6) para separar os blindados que estavam na vanguarda das demais forças que vinham à retaguarda. Uma vez separadas de suas unidades de apoio, as unidades blindadas alemãs ficavam perigosamente expostas, às vezes sem suprimentos, aos ataques da artilharia, dos carros-de-combate (7) e de “caçadores” de carros-de-combate da URSS. TROPAS SOVIÉTICAS 296 se nesse sentido, planejando detalhadamente uma operação anfíbia denominada Overlord, que, da Inglaterra, seria lançada para libertar a França, através de um desembarque na Normandia. Para tal tarefa, os Aliados dispunham de 37 divisões bem equipadas e adestradas. Para manter a França, os alemães contavam com 60 divisões, muitas delas com reduzido poder de combate. Além disso, esperavam valer-se de um sistema de defesas conhecido como “Muralha do Atlântico”, construído no litoral norte da Europa. Preliminarmente ao ataque principal, os aliados lançaram diversas operações. Entre essas, ações diversionárias foram realizadas para dar a entender aos alemães que a invasão seria realizada pela parte mais estreita do Canal da Mancha (Estreito de Calais), e a aviação aliada bombardeou o norte da França, com o intuito de romper as comunicações por vias férreas e rodoviárias, de modo a evitar que reforços alemães alcançassem o litoral francês. A ofensiva na Normandia, propriamente dita, iniciou-se em 6 de junho de 1944 (Dia “D”), com um intenso bombardeio aéreo e naval às posições costeiras alemãs. Paraquedistas aliados foram lançados à retaguarda das defesas inimigas para desestabilizálas. A Força Aérea Aliada obteve ampla supremacia, fator vital para o sucesso da operação. Em seguida, tropas do XXI Grupo de Exércitos Aliado (1º Exército Norte-Americano e 2º Exército Britânico) desembarcaram nas praias da Normandia, que receberam os codinomes Gold, Juno, Sword, Omaha e Utah. Embora a resistência alemã fosse tenaz, os aliados conseguiram consolidar posições no litoral.Ataques aéreos aliados impediram que reforços alemães substanciais apoiassem os defensores, o que permitiu, nas semanas seguintes, aos Aliados avançar para o interior do continente. A resistência alemã continuou determinada no interior da França, mas não resistiu aos aliados, que passaram a contar com o apoio do 7º Exército Norte-Americano desembarcado no sul da França em 15 de agosto, na Operação Dragão (“Operation Dragoon”). O avanço aliado prosseguiu em direção a Paris, que foi libertada em 25 de agosto de 1944. Os alemães só conseguiram reagrupar-se eficazmente na linha defensiva Siegfried, na fronteira da Alemanha com a França, onde passaram a ser pressionados por três Grupos de Exércitos Aliados: o XXI (agora formado pelo 1º Exército Canadense e 2º Exército Britânico), o XII (1º, 3º e 9º Exércitos Norte-Americanos), e VI (1º Exército Francês e 7º Norte-Americano). Tendo em vista abreviar o desfecho da guerra, os aliados, após penetrarem na Bélgica, lançaram um assalto aeroterrestre com 3 divisões de paraquedistas na Holanda (“Operation Market Garden”). O Objetivo era capturar as principais pontes do Reno, o que permitiria aos aliados estabelecer rotas diretas para o interior daAlemanha. O ataque, porém, fracassou e os aliados tiveram grandes perdas. Hitler ainda dispunha de 65 divisões, mas poucas estavam devidamente equipadas, e muitas eram compostas por militares fora da idade de servir (velhos ou 297 jovens demais para combater eficazmente). A derrota alemã parecia inevitável, mas o líder alemão decidiu surpreender os aliados lançando uma última contraofensiva, que seria executada nasArdenas, tendo em vista dividir os aliados e conquistarAntuérpia, por onde chegavam os suprimentos do inimigo. Para esse ataque, Hitler reuniu 24 divisões (10 blindadas). A “Batalha do Bolsão”, como foi chamado o ataque alemão, foi desencadeado em 16 de dezembro de 1944 contra o 5º Corpo de Exército Norte-Americano. Inicialmente os alemães obtiveramsucesso, derrotando as forças norte-americanas que não esperavamuma contraofensiva em pleno inverno, em uma região de matas cerradas. Após o ímpeto inicial, uma escassez aguda de combustível prejudicou as ações das forças alemãs, que foram detidas e contraatacadas. No Pacífico, incentivados pela vitória em Midway, os norte-americanos iniciaram uma contraofensiva aos japoneses, conquistando, em novembro de 1942, a importante base naval de Guadalcanal. Depois, forças dos Estados Unidos iniciaram ataques contra os japoneses nas Ilhas Salomão e Nova Guiné, que se prolongaram até o final da guerra. Os ataques às Ilhas Salomão e a Nova Guiné, na verdade, eram diversionários, pois o plano principal dos Estados Unidos previa como objetivos a destruição da Marinha Japonesa e a abertura de uma rota que levasse os norte-americanos diretamente ao Japão (seriam conquistados somente os territórios indispensáveis para tal propósito, as demais áreas ocupadas pelos japoneses seriam isoladas). Para isso, os norte-americanos dividiram suas forças em dois grandes Comandos de Área: o do Pacífico Central e o do Sudeste do Pacífico, comandados, respectivamente, pelo almirante Chester William Nimitz e pelo general Douglas MacArthur. Seguindo o plano traçado, as forças do Comando do Pacífico Central conquistaram, em novembro de 1943, Makin e Tarawa. Em resposta, a esquadra japonesa avançou para enfrentar as forças de Nimitz e o embate deu-se em junho de 1944, em torno das ilhas Marianas. Os japoneses sofreram mais uma grande derrota naval (perderam 3 navios aeródromos e 600 aviões), o que possibilitou aos norte-americanos capturar as ilhas Marianas, de onde aeronaves poderiam bombardear diretamente o Japão. Em setembro de 1944, as forças de Nimitz ocuparam Saipan, Guam, Yap e Palau. Paralelamente, os contingentes do Comando do Sudeste do Pacífico também obtiveram êxitos, entre os quais destaca-se a conquista das Filipinas, onde ocorreu a Batalha Naval do Golfo de Leyte, entre 23 e 25 de outubro de 1944. Dela resultou mais uma vitória dos norte-americanos e a destruição quase completa do poder de combate da Marinha Japonesa. No confronto, os japoneses perderam 4 navios aeródromos, 3 couraçados, 22 outros navios, cerca de 500 aviões e 10.500 marinheiros e aeronautas; os norte-americanos, 3 pequenos navios-aeródromos, 3 destroieres, 200 aviões e 3.800 marinheiros e aeronautas. 298 AT LÂ N TIC O EUROPA 1943/1944/1945 A OC EA NO FINLÂNDIA NO RU EG Lago ladoga Helsinque Oslo URSS Leningrado SUÉCIA REINO UNIDO MAR DO NORTE MAR BÁLTICO DINAMARCA IRLANDA ESTÔNIA LETÔNIA Moscou LITUÂNIA Danzig Londres HOLANDA Antuérpia ALEM. Kursk BIELORÚSSIA Berlim BÉLGICA Stalingrado Varsóvia Paris Kiev POLÔNIA ALEMANHA E S L OV Kharkov Á Q U IA SUÍÇA HUNGRIA FRANÇA DE VICHY IU G ITÁLIA ESPANHA ROMÊNIA Crimeia Bucareste O SL ÁV Belgrado IA Cáucaso MAR NEGRO BULGÁRIA Roma Sófia Nápoles ALBÂNIA TURQUIA Túnis Sícilia Atenas GRÉCIA COLÔNIAS FRANCESAS MAR MEDITERRÂNEO CRETA TUNÍSIA ARGÉLIA Trípoli Tobruk El Alamein Bengasi EA ÁR LÍBIA ÁREA SOB CONTROLE DO EIXO (1942) OFENSIVAS ALIADAS EM 1943 OFENSIVAS SOVIÉTICAS EM 1944 OFENSIVAS ALIADAS EM 1944 OFENSIVAS SOVIÉTICAS EM 1945 OFENSIVAS ALIADAS EM 1945 OL TR Suez PAÍSES ALIADOS DO EIXO PAÍSES NEUTROS OFENSIVAS SOVIÉTICAS EM 1943 ON BC SO ICO ÂN RIT B E OFENSIVAS ALEMÃS EM 1943 OFENSIVAS ALEMÃS EM 1944 RETIRADAS ALEMÃS EM 1944 RETIRADAS ALEMÃS EM 1945 RETIRADAS ALEMÃS EM 1943 299 Enquanto ocorria a ofensiva norte-americana no Pacífico, os japoneses que ocupavam a Birmânia, em março de 1944, resolveram invadir a Índia. Atacaram as cidades de Kohima e Imphal, mas foram rechaçados. Em novembro de 1944, os britânicos contra-atacaram, avançando em direção a Yangon (capital da Birmânia). Quando o ano de 1945 teve início, a Alemanha e o Japão estavam em situação desesperadora. Na Itália, os Aliados lançaram a Ofensiva da Primavera, graças à qual romperam a Linha Gótica e adentraram no Vale do Pó, em perseguição às forças alemãs, que se renderam em 2 de maio de 1945. Mussolini, capturado por guerrilheiros italianos, foi executado. No oeste europeu, após derrotar os alemães na Batalha do Bolsão, os aliados cruzaram o rio Reno e ocuparam a região do Ruhr (principal centro industrial da Alemanha). A GUERRA NO PACÍFICO E NO SUDESTE ASIÁTICO URSS SAKALINA ALÊUTAS ATU KISKA MONGÓLIA S LA RI KU MANCHÚRIA CORÉIA CHINA JAPÃO Tókio Hiroshima O AN E OC Nagasaki NEPAL ÍNDIA BIRMÂNIA IWOSHIMA FORMOSA Hong kong Pearl Harbor MARIANA wake Yangon TAYLÂNDIA INDOCHINA SAIPAN GUAN FILIPINAS Yap LEYTE CEILÃO Palau NO EA OC MALÁSIA Singapura ÍND SUMATRA MARSHALL AS LIN O R CA BORNÉU ICO ´ 300 COMANDO DO PACÍFICO CENTRAL TARAWA GILBERT SALOMÃO GUADALCANAL Porto AUSTRÁLIA Moresby TERRITÓRIOS OCUPADOS PELO JAPÃO MAKIN COMANDO DO SUDESTE DO PACÍFICO NOVA GUINE JAVA MIDWAY HAVAÍ OKINAWA Kohima Imphal CO ÍFI C PA TERRITÓRIOS CONQUISTADOS PELOS EUA E ALIADOS MAR DE CORAU MÁXIMA EXPANSÃO DO PERÍMETRO DE DEFESA JAPONÊS OFENSIVAS NORTEAMERICANAS 293 No leste europeu, os soviéticos, com imensa superioridade de meios, fizeram ruir as posições defensivas inimigas. Cruzaram o rio Oder, em 31 de janeiro, e a fronteira austríaca, em 15 de abril de 1945. Berlim foi cercada pelo Exército Soviético em 25 de abril. Nessa mesma data, norte-americanos e soviéticos encontraram-se em Torgau, no Rio Elba. A batalha por Berlim foi sangrenta, mas, pouco a pouco, o Exército Soviético foi conquistando a capital alemã. Adolf Hitler cometeu suicídio em 30 de abril, quando tropas soviéticas aproximavam-se da Chancelaria Alemã, onde ele se encontrava. Em 8 de maio de 1945, as forças alemãs que ainda lutavam aceitaram os termos da rendição incondicional imposta pelosAliados. Com a rendição alemã, a guerra acabava na Europa, mas ainda prosseguia no Sudeste Asiático e no Pacífico. Na Birmânia, os britânicos conquistaramYangon em maio de 1945, obrigando os japoneses a render-se. No Pacífico, os norte-americanos conquistaram, por meio de dois grandes ataques anfíbios, em março de 1945, as ilhas de Iwo Jima, e, em agosto, Okinawa. Iwo Jima e Okinawa, próximas ao Japão, serviram como importantes bases para os bombardeiros norte-americanos. Para finalizar a guerra, no entanto, os americanos teriam de forçar a rendição dos japoneses. Aexpectativa de baixas norte-americanas em uma invasão ao Japão eram grandes, pois os combates em Iwo Jima e Okinawa, devido à feroz resistência inimiga, foram muito custosos em termos de soldados mortos (aproximadamente 7 mil homens em Iwo Jima e 16 mil em Okinawa). Em virtude disso, o presidente norte-americano, Harry S. Truman, que substituíra Roosevelt, falecido em 12 de abril de 1945, decidiu empregar a recém-desenvolvida bomba atômica, para abreviar o conflito. Em 6 de agosto de 1945, uma bomba atômica foi lançada sobre Hiroshima, matando, na hora, cerca de 80 mil pessoas. Outra foi lançada em Nagasáki, em 9 de agosto de 1945, ceifando 40 mil vidas. Paralelamente, a URSS declarou guerra ao Japão e invadiu a Manchúria. Diante dos ataques devastadores e da declaração de guerra soviética, o Imperador Japonês anunciou a rendição de seu país, o que aconteceu em 2 de setembro de 1945, pondo fim à Segunda Guerra Mundial. O segundo conflito mundial caracterizou-se por ter um caráter total, ou seja, os principais países envolvidos empregaram todos os meios a seu alcance para derrotar os oponentes (o emprego das bombas atômicas exemplifica o grau de violência a que chegou a guerra). Combates sangrentos aconteceram no mar, no ar e em terra; em desertos, selvas, planícies, montanhas, cidades e ilhas; em temperaturas por vezes escaldantes ou enregelantes. Operações combinadas, aeroterrestres e anfíbias foram largamente empregadas. Cerca de sessenta milhões de pessoas morreram em consequência dos combates ou devido a perseguições, trabalho escravo, execuções, fome e doenças. Os países derrotados perderam territórios e dois deles, a Alemanha e o Japão, passaram a ser governados pelos Aliados. A Europa, enfraquecida pela guerra, deixou de ser o centro das decisões, substituída pelos Estados Unidos e pela URSS. 301 A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS A Organização das Nações Unidas (ONU) foi criada em 1945 com o objetivo de manter a paz mundial, estimular relações internacionais amistosas e coordenar ações que visem à resolução de problemas de ordem social, política e humanitária em âmbito mundial. Seus órgãos principais são o Conselho de Segurança, a Assembleia Geral, a Corte Internacional de Justiça, o Conselho Econômico e Social e a Secretaria. O Conselho de Segurança é o principal órgão, pois tem a responsabilidade de manter a paz e a segurança mundial. É constituído por cinco membros permanentes: China, Federação Russa, Estados Unidos, Reino Unido e França, que possuem direito a veto; e por outros dez, eleitos pela Assembleia Geral, por um período de dois anos, sem direito a veto. Para cumprir seus objetivos, o Conselho de Segurança pode fazer uso de meios pacíficos ou não. Desse modo, pode autorizar intervenções militares ou missões de paz em países onde há conflitos ou crises. O Brasil, como membro da ONU, enviou tropas para o Canal de Suez em 1957, para manter a paz entre israelenses e egípcios. Posteriormente, as Forças Armadas brasileiras enviaram contingentes para missões de paz em Moçambique, Angola, Timor Leste e Haiti. PRIMEIRASESSÃO DA ASSEMBLEIAGERAL DAONU, REALIZADA EM 06 DE JANEIRO DE 1946, NO CENTRAL HALL, EM LONDRES 302