genotipagem do vírus da hepatite b em uma coorte de

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FUNDAÇÃO FACULDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS MÉDICAS DE PORTO ALEGRE
FFFCMPA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HEPATOLOGIA
MESTRADO EM HEPATOLOGIA BÁSICA
GENOTIPAGEM DO VÍRUS DA HEPATITE B EM UMA
COORTE DE PACIENTES AVALIADOS EM UM
HOSPITAL GERAL
CARLOS EDUARDO BECKER
Porto Alegre, 2007
Livros Grátis
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Milhares de livros grátis para download.
CARLOS EDUARDO BECKER
GENOTIPAGEM DO VÍRUS DA HEPATITE B EM UMA
COORTE DE PACIENTES AVALIADOS EM UM
HOSPITAL GERAL
Dissertação apresentada ao Curso de PósGraduação em Hepatologia Básica da Fundação
Faculdade Federal de Ciências Médicas de
Porto Alegre para obtenção do título de Mestre.
Orientador: Prof. Dr. Angelo Alves de Mattos
Co-orientador: Prof. Dr. Maurício Reis Bogo
Porto Alegre, 2007
ii
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
B395g Becker, Carlos Eduardo
Genotipagem do vírus da hepatite B em uma coorte de
pacientes avaliados em um hospital geral. / Carlos Eduardo
Becker ; Orientação Angelo Alves de Mattos ; Co-orientação
Maurício Reis Bogo. – Porto Alegre : Fundação Faculdade
Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre, 2007.
76 f. ; il. ; graf. ; tab.
Dissertação (Mestrado) – Fundação Faculdade Federal de
Ciências Médicas de Porto Alegre - FFFCMPA, Programa de
Pós-Graduação em Hepatologia Básica, 2007.
1. Hepatologia. 2. Vírus da hepatite B. 3. Genótipo –
subtipos. 4. Genótipo – fatores de risco. 5. Dados demográficos.
I. Título. II. Mattos, Angelo Alves de. III. Bogo, Maurício Reis.
CDD: 616.3623
CDU: 616.36-002
Eleonora Liberato Petzhold
CRB10/1801
Aos meus pais, Onofre Jorge e Maria Ignez, pela sua
energia, força de trabalho, bravura, amor, carinho e,
principalmente, pelo incentivo que sempre me deram
em toda a minha vida.
À minha avó, a quem eu devo minha educação, índole,
determinação e garra. Sempre presente, mostrou-me
como encarar e superar as dificuldades, sendo meu
exemplo na maneira de conduzir a vida. A minha
referência em todos os momentos.
À Cassandra, pelo amor, compreensão, companheirismo
e cumplicidade. Soube abdicar de muitos momentos de
lazer, auxiliando-me na conquista deste objetivo.
iv
Agradecimentos
A Deus, pois sem Ele e sem a Sua presença, nada somos e nada podemos fazer.
Aos pacientes, sem os quais este trabalho não seria possível.
À Faculdade Fundação Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre, pela
oportunidade de realizar este mestrado.
Ao Dr. Angelo Alves de Mattos, por seu exemplo como profissional na área da
saúde e determinação na realização de pesquisas, mas principalmente por ensinar-me a
fazer ciência, mostrando caminhos ao invés de meras soluções. Agradeço pelo apoio,
compreensão, incentivo, amizade, confiança e ensinamentos recebidos. Além disso, sou
muito grato por receber a sua orientação e desenvolver esta pesquisa, possibilitando trilhar
novos caminhos na minha vida profissional.
Ao Dr. Maurício Reis Bogo, pela co-orientação, amizade, gentileza, colaboração,
presteza. Agradeço pelas conversas construtivas que tivemos e pelo conhecimento no
desenvolvimento desta dissertação.
À Dra. Fernanda Schild Branco de Araújo e a Dra. Gabriela Perdomo Coral, pela
amizade, ensinamentos, idéias e colaboração incondicional transmitidos durante toda a
etapa desse trabalho.
À Carolina Silva Schiefelbein pela busca de informações que, sem dúvida alguma,
contribuíram para elaboração desse trabalho.
Ao Laboratório Central do Complexo Hospitalar Santa Casa, pelo auxílio na fase
inicial do estudo e na coleta e armazenamento das amostras dos pacientes; em especial ao
Dr. Carlos Franco Voegeli, pelos ensinamentos recebidos por esse, que é sem dúvida, um
exemplo de conduta e postura profissional.
Ao Laboratório Weinmann, pelo incentivo e valorização a capacitação dos seus
profissionais. Agradeço a equipe do setor de Biologia Molecular, em especial a Fabiana da
Silva Pereira, pela dedicação e colaboração na parte prática.
Aos professores, pesquisadores do Centro de Biologia Genômica e Molecular da
PUCRS que me auxiliaram no desenvolvimento dessa dissertação.
À equipe de Gastroenterologia e Hemodiálise do Complexo Hospitalar Santa Casa
que permitiu que os pacientes, sob seus cuidados, fossem incluídos nesse estudo.
E a todas as pessoas que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização e
conclusão deste trabalho.
v
Lista de Abreviaturas e Símbolos
ALT
Alanina aminotransferase
anti-HBc
Anticorpo contra o HBcAg
anti-HBe
Anticorpo contra o HBeAg
anti-HBs
Anticorpo contra o HBsAg
anti-HBx
Anticorpo contra o HBxAg
anti-HCV
Anticorpo contra o vírus da hepatite C
anti-HIV
Anticorpo contra o HIV
BCP
Promotor Basal do Core
CBGM
Centro de Biologia Genômica e Molecular
CHC
Carcinoma hepatocelular
cm
Centímetro
DNA
Ácido desoxirribonucléico
dNTPs
Desoxirribonucleotídeo trifosfato
ddNTPs
Didesoxiribonucleotídeo trifosfato
EDTA
Ácido etilenodiaminotetracético
g
Gramas
HBcAg
Antígeno do centro do vírus da hepatite B
HBeAg
Antígeno e do vírus da hepatite B
HBsAg
Antígeno de superfície do vírus da hepatite B
HBxAg
Antígeno X do vírus da hepatite B
HIV
Vírus da Imunodeficiência Humana
IFN-α
Interferon-alfa
kDa
Kilodaltons
MgCl2
Cloreto de Magnésio
mL
Mililitro
mm
Milímetro
MS-1
Designação da primeira linhagem do vírus da hepatite A
MS-2
Designação da primeira linhagem do vírus da hepatite B
ng
Nanograma
nm
Nanômetro
OMS
Organização Mundial da Saúde
pb
Pares de base
PCR
Reação em cadeia da polimerase
pmol
Picomol
rpm
Rotações por minuto
µL
Microlitros
VHB
Vírus da hepatite B
VHC
Vírus da hepatite C
vi
Sumário
Lista de Figuras e Gráficos ..................................................................................................................................ix
Lista de Tabelas...........................................................................................................................................................x
RESUMO ...........................................................................................................................................................................xii
SUMMARY .......................................................................................................................................................................xiv
1 INTRODUÇÃO ..........................................................................................................................................................
2
1.1 Epidemiologia ......................................................................................................................................................
2
1.2 História Natural ...................................................................................................................................................
5
1.3 O Vírus da Hepatite B .....................................................................................................................................
6
1.3.1 A Classificação do Vírus da Hepatite B ................................................................................................
6
1.3.2 O Genoma do Vírus da Hepatite B .........................................................................................................
7
1.3.3 Proteínas Virais .................................................................................................................................................
9
1.4 Diversidade Viral................................................................................................................................................11
1.4.1 Genótipos e Subtipos.....................................................................................................................................11
1.4.2 Mutações do VHB ............................................................................................................................................14
1.5 Relação dos Genótipos com a Resposta ao Tratamento Anti-Viral .................................15
2 OBJETIVOS ...............................................................................................................................................................18
2.1 Objetivo Primário...............................................................................................................................................18
2.2 Objetivos Secundários...................................................................................................................................18
3 PACIENTES E MÉTODOS .................................................................................................................................20
3.1 Casuística...............................................................................................................................................................20
3.2 Extração de Ácidos Nucléicos ..................................................................................................................21
3.3 Reações de PCR ................................................................................................................................................22
3.3.1 PCR Nested ........................................................................................................................................................22
3.3.2 Identificação dos Produtos das Reações ............................................................................................24
3.3.3 Controle de Qualidade...................................................................................................................................24
3.3.3.1 Análises dos Controles .............................................................................................................................24
3.4 Reação de Purificação ...................................................................................................................................25
3.5 Reação de Seqüenciamento .......................................................................................................................25
3.6 Análise das Seqüências ................................................................................................................................26
3.7 Aspectos Éticos .................................................................................................................................................26
3.8 Análise Estatística ............................................................................................................................................26
vii
4 RESULTADOS..........................................................................................................................................................29
4.1 Relação entre Dados Demográficos da População Avaliada e os Genótipos............30
4.2 Fatores de Risco Avaliados e os Genótipos....................................................................................31
4.3 Genótipos, Padrão Sorológico e Laboratorial da Doença Hepática .................................32
5 DISCUSSÃO ..............................................................................................................................................................35
6 CONCLUSÕES .........................................................................................................................................................43
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................................................45
8 ANEXOS ......................................................................................................................................................................59
8.1 Protocolo
8.2 Consentimento Pós-Informação
8.3 Dados e Resultados dos Pacientes Analisados
viii
Lista de Figuras e Gráficos
Figura 1
Distribuição geográfica da infecção crônica por VHB ........................................................
3
Figura 2
Vírus da hepatite B visto à microscopia eletrônica ..............................................................
6
Figura 3
Vírus e partículas subvirais da hepatite B................................................................................
7
Figura 4
Genoma do VHB ...................................................................................................................................
9
Figura 5
Distribuição dos genótipos da população estudada ...........................................................29
Gráfico 1 Casos de hepatite B confirmados no Estado do Rio Grande do
Sul, de 1996 a 2005 ............................................................................................................................
4
Gráfico 2 Casos de hepatite B confirmados em Porto Alegre, de 1996 a
2005.............................................................................................................................................................
ix
4
Lista de Tabelas
Tabela 1
Relação dos genótipos e seus respectivos subtipos ..........................................................11
Tabela 2
Distribuição geográfica mundial dos 8 genótipos do VHB...............................................13
Tabela 3
Distribuição da idade dos pacientes nos diferentes genótipos .....................................30
Tabela 4
Distribuição dos genótipos do VHB em relação ao sexo .................................................30
Tabela 5
Distribuição dos genótipos do VHB em relação à raça .....................................................31
Tabela 6
Distribuição dos genótipos do VHB em relação ao fator de risco................................32
Tabela 7
Distribuição dos genótipos do VHB em relação ao padrão
sorológico e laboratorial da doença hepática.........................................................................33
x
RESUMO
RESUMO
A hepatite pelo vírus B continua sendo um flagelo à humanidade. Muito tem sido a
evolução do conhecimento desta doença e de seu agente etiológico. Nos últimos anos
especial atenção tem sido dada à genotipagem do vírus da hepatite B (VHB).
Este estudo tem como objetivo implementar uma técnica para determinação do
genótipos e subtipos do VHB.
Para esse fim foram avaliados 67 pacientes com marcadores de infecção crônica
pelo VHB, que estavam em acompanhamento no ambulatório de gastroenterologia e na
unidade de hemodiálise do Complexo Hospitalar Santa Casa de Porto Alegre – RS. Desses,
15 eram pacientes em hemodiálise e 52 estavam em acompanhamento ambulatorial. Foi
aplicado aos pacientes um protocolo de estudo com dados demográficos, epidemiológicos e
realizada a determinação de ALT e do HBeAg. Os genótipos e subtipos foram determinados
após a extração do DNA, com a realização da reação em cadeia da polimerase (PCR) in
house e, por fim, as amostras foram seqüenciadas. O nível de significância utilizado nesse
estudo foi de 5%. A análise qualitativa para DNA-VHB, pela PCR, foi positiva em 79,1% das
amostras (53/67). O genótipo foi determinado em todas as amostras DNA-VHB positivas. A
análise demonstrou a presença dos genótipos A (34%), D (60,4%) e F (5,4%). Foram
encontrados os seguintes subtipos: adw, ayw e adw4. Não se encontrou correlação
significativa entre os genótipos do VHB e as variáveis demográficas estudadas (idade, sexo
e cor), com os fatores de risco para a aquisição do VHB e com o padrão sorológico e
laboratorial da doença hepática. Conclui-se que, após ter-se realizado com sucesso técnica
para a determinação dos genótipos e subtipos do VHB, o mais prevalente genótipo
observado foi o D. No entanto, há necessidade de estudos com maior casuística para que
possamos avaliar as implicações da variabilidade genética na evolução clínica dos
portadores do VHB.
xii
SUMMARY
SUMMARY
The hepatitis caused by B virus continues being humanity calamity. There has been
great evolution in terms of knowledge of this illness and its etiology agent. In recent years
special attention has been given to the genotyped of the hepatitis B virus (VHB).
The objective of this study is to implement a technique for the determination of the
genotypes and subtypes of the VHB.
To accomplish this objective 67 patients were evaluated with markers of chronic
infection by the VHB, who were assisted in the clinic of gastroenterology and the unit of
hemodialysis of the Complexo Santa Casa in Porto Alegre - RS. Among the 67 selected
individuals, 15 were patients in hemodialysis and 52 patients were assisted in the ward. A
record of study was applied to the patients with information about demographic data,
epidemiologists, and the determination of ALT and HBeAg was done. The genotypes and
subtypes were determined after the extraction of the DNA, after the chain reaction of
polimerase (PCR) in house was done and, finally, the samples were sequenced. The level of
significance used in this study was of 5%. The qualitative analysis for DNA-VHB, by the
PCR, was positive in 79,1% of the samples (53/67). The genotype was determined in all
positive DNA-VHB samples. The analysis demonstrated the presence of the genotypes A
(34%), D (60.4%) and F (5.4%). The following subtypes were found: adw, ayw and adw4.
There has not been found any significant correlation among the variable demographic
studied (age, sex and color), with the factors of risk for the infection of the VHB and with the
serological and laboratorial standard of the hepatical illness. It has been concluded that after
having successfully done the technique for the determination of the genotypes and subtypes
of the VHB, the most frequent was genotype D. However, there is the need for deeper
studies, so that we will be able to evaluate the implications of the genetic variability in the
clinical evolution of the VHB carriers.
xiv
1 INTRODUÇÃO
1 Introdução
2
1 INTRODUÇÃO
A hepatite viral é uma das causas mais freqüentes de doença aguda e crônica do
fígado. Quando analisamos os vírus hepatotrópicos, observamos que a descoberta do
antígeno Austrália e sua posterior vinculação com o vírus da hepatite B (VHB) correspondeu
a um dos grandes avanços científicos do século XX. Essa etapa desencadeou uma
explosão de informação na literatura médica, com melhora da compreensão das hepatites
virais agudas e crônicas [111, 117].
A despeito da importância da histologia, a história natural da hepatite pelo VHB e a
avaliação da eficácia dos tratamentos antivirais é feita, basicamente, pelo acompanhamento
das “provas de função hepática”, dos marcadores sorológicos do VHB e de sua atividade
replicativa, medida diretamente pela quantificação do DNA viral em amostras de soro.
Recentemente, pelo seqüenciamento do DNA viral, foram determinadas outras características
virais relevantes para o prognóstico e avaliação da resposta terapêutica de um determinado
paciente. Assim, a genotipagem do VHB e a determinação do subtipo viral tem ganho
crescente prestígio quanto ao acompanhamento desses pacientes [107, 108, 110].
1.1 Epidemiologia
A existência de uma forma de hepatite de transmissão parenteral foi documentada
pela primeira vez quando da sua transmissão por vacina antivaríolica, em 1885. Após essa
data, vários casos foram referidos na literatura, até que, em 1947, Mccallum definiu o termo
hepatite B para esta entidade [96].
Experimento realizado em uma instituição de deficientes mentais levou à identificação de
dois agentes infecciosos independentes, denominados como MS-1 e MS-2, que foram
associados com as hepatites A e B, respectivamente [57].
Em 1965, Blumberg et al. [12] descobriram no soro de um aborígene australiano um
antígeno que foi denominado antígeno Austrália, inicialmente associado com uma série de
diferentes doenças. Sua ligação com a hepatite B foi feita três anos depois por Okochi e
Murakami [111] e Prince [117], recebendo posteriormente o nome de antígeno de superfície
da hepatite B (HBsAg).
1 Introdução
3
Na população em geral, o VHB acomete preferencialmente indivíduos na faixa etária
de 20 a 40 anos, sendo que sua prevalência é categorizada conforme a presença de seus
marcadores sorológicos em uma população. Utilizando-se o HBsAg, identificamos indivíduos
com infecção aguda, assim como os portadores de infecção crônica, nos diferentes estágios
clínicos. Quando desejamos saber o índice de indivíduos já expostos ao VHB, contabilizamos
aqueles com infecção atual (presença de HBsAg) e com infecção passada, ou seja,
ausência de HBsAg e com presença dos anticorpos contra o antígeno do centro do VHB
(anti-HBc) e /ou contra o antígeno de superfície do VHB (anti-HBs). Dessa forma, a
Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica a situação epidemiológica do VHB em
populações de baixa, moderada e alta endemicidade [91]:
Baixa: HBsAg presente em menos de 2% e infecção passada em menos de 20% da
população.
Moderada: HBsAg presente entre 2% e 7% e infecção passada entre 20 e 60% da
população.
Alta: HBsAg presente em mais de 7% e infecção passada em mais de 60% da
população.
A prevalência da infecção pelo VHB é considerada alta em países tropicais (África
Sub-sahariana, sudeste da Ásia, China, partes do Oriente Médio e Ilhas do Pacífico);
intermediária na Europa Oriental e Mediterrânea, parte da América do Sul, Oriente Médio e
Rússia e baixa no restante do mundo, que inclui os países mais desenvolvidos (América do
Norte, Europa Ocidental e Austrália). Nestas últimas áreas, a infecção neonatal e na infância
é infreqüente [42]. Essa distribuição está representada na Figura 1.
HBsAg Prevalência
≥ 8% - Alta
Fonte: Internet - www.cdc.gov - Centers for Disease Control and Prevention
Figura 1 - Distribuição geográfica da infecção crônica por VHB.
1 Introdução
4
No Brasil, o Ministério da Saúde estima que pelo menos 15% da população já foi
contaminada com VHB, sendo que os casos crônicos correspondem a cerca de 1% da
população brasileira. A literatura médica refere à Região Sul como área de baixa
endemicidade; as regiões Centro-Oeste, Nordeste e Sudeste de intermediária endemicidade, a
região da Amazônia, o estado do Espírito Santo e a região oeste do estado de Santa
Catarina de alta endemicidade [17, 18].
No Estado do Rio Grande do Sul e em Porto Alegre, as notificações de hepatite pelo
VHB são representados pelos Gráficos 1 e 2.
Casos confirmados UF/Rio Grande do Sul
1600
1362
Número de casos
1400
1200
1053
1000
704
800
996
967
857
1076
766
658
600
400
288
200
0
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
Ano
Fonte: Secretaria Estadual da Saúde / RS
SINAN/DVE/CEVS/SES-RS
Gráfico 1 - Casos de hepatite B confirmados no Estado do Rio
Grande do Sul, de 1996 a 2005.
Casos confirmados em Porto Alegre
700
611
603
Número de Casos
600
500
400
268
312
287
300
208
200
254
164
186
153
100
0
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Ano
Fonte: Secretaria Municipal da Saúde / Porto Alegre
SINAN/EVDT/CGVS/SMS
Gráfico 2 - Casos de hepatite B confirmados em Porto Alegre, de
1996 a 2005.
1 Introdução
5
É estimado que, no mundo, 400 milhões de indivíduos sejam portadores crônicos do
VHB [78]. Estudos epidemiológicos demonstram que a hepatite B é responsável por 2
milhões de mortes por ano [92], sendo a 9a causa de morte no mundo [15].
De modo geral, a taxa de letalidade dos pacientes hospitalizados é de 0,8% a 2%,
podendo aumentar nos indivíduos com mais de 40 anos de idade. No Brasil, a taxa de
mortalidade é de 0,6 por 100.000 habitantes [16].
1.2 História Natural
O VHB pode causar hepatite fulminante, aguda, crônica, cirrose e hepatocarcinoma
(CHC) [42]. A hepatite fulminante ocorre em 0,5 a 1% dos casos [43]. A coinfecção do VHB
com o vírus delta tem sido relacionado ao aumento do risco de hepatite fulminante [127]. A
hepatite aguda é, geralmente, subclínica e anictérica em neonatos e crianças, ao contrário
dos adultos onde aproximadamente 30-50% desenvolvem icterícia [97]. Um aspecto
relevante da infecção é que até 90% dos recém-nascidos infectados pelo VHB podem
desenvolver hepatite crônica. Esta pode evoluir de forma assintomática ou subclínica, sendo
notada somente anos mais tarde, com o desenvolvimento de cirrose e/ou CHC [37]. Por
outro lado, nos indivíduos infectados pelo VHB na fase adulta, entre 2 a 10% evoluirão para
hepatite crônica [43].
A taxa mundial de incidência da progressão para cirrose em pacientes com hepatite
crônica B é de 20% em 5 anos [37]. Fatores associados com um aumento da taxa de
progressão à cirrose incluem elevados níveis no soro de VHB-DNA, episódios de
exacerbação da doença e atividade necroinflamatória severa [61, 94]. A probabilidade de
sobreviver após 5 anos do diagnóstico de cirrose é de 84% [119]. A descompensação
hepática ocorre com uma taxa anual de 3% em pacientes cirróticos, com uma incidência
cumulativa em 5 anos de 16% [37].
O CHC é um dos mais freqüentes tumores malignos existentes no mundo [41, 88]. É
estimado que 53% dos casos de CHC estão relacionados ao VHB [114]. A literatura mostranos que há relação entre a freqüência do estado de portador do VHB com a freqüência de
hepatocarcinoma e que a incidência de CHC em áreas de alta endemicidade, é de 0,1 a
cada 100 portadores crônicos assintomáticos e 1,0 a cada 100 pacientes com hepatite B
crônica não cirróticos [98]. A idade mais avançada, o abuso de álcool, história familiar e a
presença de cirrose são fatores importantes para desenvolvimento de CHC [10].
Pacientes que tiveram infecção passada pelo VHB, em casos de imunossupressão,
como câncer, quimioterapia ou após transplante, o vírus pode ser reativado [27].
1 Introdução
6
1.3 O Vírus da Hepatite B
1.3.1 A Classificação do Vírus da Hepatite B
O VHB é um vírus de DNA, com dimensões de 42 nm, envelopado, da família
Hepadnaviridae e que possui 3.200 nucleotídeos [25, 43]. A Figura 2 mostra através da
microscopia eletrônica as partículas virais.
Fonte: Internet - www.cdc.gov - Centers for
Disease Control and Prevention
Figura 2 - Vírus da hepatite B visto à
microscopia eletrônica.
O VHB é estável no éter e à temperatura de 20 a 27º C. É inativado em autoclave
por 30 minutos e no calor seco (160º C) por uma hora [91]. A partícula viral completa,
denominada de partícula de Dane; tem uma estrutura complexa, com duplo envoltório. O
envoltório externo contém proteínas antigênicas denominadas de HBsAg; e o interno, junto
com o DNA e uma enzima (DNA-polimerase), constitui o core, que apresenta uma proteína
antigênica, o antígeno de centro da hepatite B (HBcAg) e um antígeno solúvel, antígeno e
do vírus da hepatite B (HBeAg) [36, 118].
A Figura 3 mostra o VHB e suas partículas virais.
1 Introdução
7
Fonte: Internet - www.globalserve.net/~robertg/HBV/index.html
Figura 3 - Vírus e partículas subvirais da hepatite B.
1.3.2 O Genoma do Vírus da Hepatite B
O genoma do VHB consiste de 3.200 pares de bases, sendo o menor vírus DNA
conhecido [69], contendo quatro genes, ou seja, estruturas sobrepostas para leitura genética,
denominados S, C, P e X, os quais regulam a seqüência da produção de proteínas virais no
ciclo replicativo do vírus. Os genes C e S possuem regiões iniciais denominadas pré-C e
pré-S [11, 78, 86]:
a) O gene S corresponde à proteína principal do envelope e é dividido em S e pré-S
[33].
As proteínas do envelope, pré-S1, pré-S2 e S, codificam 3 glicoproteínas da superfície:
a S (small) de 24 kDa, é a mais abundante proteína do envelope viral; a M (middle), com 31
kDa, cujo significado permanece desconhecido, contém, além da proteína menor, mais uma
extensão amino-terminal na qual está localizado o antígeno pré-S2; e a L (large), com 39
kDa, formada pela proteína M acrescida de uma extesão N-terminal que define o antígeno
pré-S1 e é envolvida no reconhecimento viral pelos receptores do hepatócito. Quando a
1 Introdução
8
proteína L não é secretada, acumulando-se dentro do retículo endoplasmático, este se torna
hiperplásico, originando o aspecto celular de “vidro fosco” evidenciado pela histologia [33].
b) O gene C codifica para a principal proteína do core viral e está correlacionado
com a infecciosidade. Esse gene possui dois códons de iniciação: a região pré-core e a
região core. O gene pré-C/C codifica dois componentes virais: polipeptídeos formadores do
nucleocapsídeo e que corresponde ao HBcAg e uma proteína que se tornará o HBeAg
(antígeno solúvel) [80]. O nucleocapsídio envolve o VHB-DNA (genoma viral) e a DNApolimerase. No citosol dos hepatócitos, o nucleocapsídeo é envolvido pelo HBsAg, formando
o vírus. O HBcAg é encontrado no tecido hepático e excepcionalmente no soro, contrastando
com o antígeno solúvel HBeAg presente com regularidade no soro de pacientes com
replicação do VHB [91].
Além da replicação celular, o VHB possui a propriedade de integrar seu genoma ao
genoma do hospedeiro, momento em que pode agir como um vírus oncogênico [91].
Segundo Norder et al. [107], as regiões pré-core e core do gene C possuem
variabilidade intermediária, sendo 69,9% dos genes conservados, ao contrário da região
pré-S do gene S, que é a região que possui maior variabilidade genômica; somente 49,6%
dos nucleotídeos se mantiveram constantes em seu estudo. A região S foi a região
genômica que se manteve mais conservada (81,9%), quando todos os genomas foram
comparados.
c) O gene P está relacionado à atividade da DNA polimerase. Esse gene se estende
por cerca de 80% do genoma viral e é uma importante enzima pois está relacionada ao
processo de replicação viral [67].
d) O gene X é uma proteína multifuncional que possui atividade de transativação e
transcrição. Esse gene provavelmente seja uma proteína reguladora das funções do VHB
como uma proteína quinase e como um ativador de transcrição. Isto faz com que aumente a
atividade do VHB e também de outros vírus, como por exemplo o HIV e fatores de
crescimento de oncogenes. Estudos preliminares, sugerem que o anti-HBx é um marcador
encontrado em pacientes com VHB associado ao CHC [67, 134].
A Figura 4 mostra o genoma completo do VHB.
1 Introdução
9
Fonte: Sherlock S, Dooley J. Diseases of liver and
th
biliary system. 10 edition. Blackwell Science, 1997.
Figura 4 - Genoma do VHB.
1.3.3 Proteínas Virais
As infecções pelo VHB são inicialmente diagnosticadas através do uso de marcadores
sorológicos. Em resposta à proteínas virais, ou seja, os antígenos HBsAg, HBcAg e HBeAg,
o organismo humano produz, respectivamente, os anticorpos anti-HBs, anti-HBc e anti-HBe.
No entanto, a presença do HBsAg é o marcador mais efetivo para indicar infecção crônica
[91, 95].
O HBsAg, um polipeptídio de tamanho variável, é um dos componentes do invólucro
externo da partícula do VHB. O sangue das pessoas infectadas pelo VHB contém, além de
partículas de VHB infecciosas intactas, partículas não infecciosas, menores, que se formam
em excesso e são também traduzidas como HBsAg. Todas as partículas de HBsAg têm em
comum o determinante “a”, contra o qual se dirige majoritariamente a resposta imunitária.
Além disto, estão também presentes os determinantes principais “d” ou “y” e “w” ou “r”.
A detecção do HBsAg no soro é um indicador de infecção pelo VHB, sendo
observado em pacientes com hepatite B aguda e crônica [19-21, 38, 40, 45, 50, 57, 58, 74,
99, 140].
Os anticorpos anti-HBs são considerados protetores. Estes anticorpos aparecem
após o término da infecção pelo VHB, estando presentes no soro após o desaparecimento
do HBsAg e cerca de dois meses após a normalização das aminotransferases. Surge,
também, como resposta à vacinação contra o vírus da hepatite B. Os anticorpos estão
1 Introdução
10
relacionados ao determinante "a" do HBsAg, comum a todos os subtipos, e contra
determinantes específicos dos subtipos [13, 38, 40, 51, 58, 65, 76, 91, 130].
O HBcAg é uma proteína não glicosilada, que se correlaciona com replicação viral e
doença ativa. Não tem importância prática para o diagnóstico de hepatite aguda, mas é de
real valor na avaliação da replicação viral em material de biópsia hepática de pacientes com
infecção crônica, uma vez que não é detectado no soro pelos métodos de rotina [91].
Durante a replicação do VHB, prioritariamente na fase aguda das doenças, podem
ser detectados no soro anticorpos IgM para o HBcAg, que continuam a ser detectados semanas
ou meses após a infecção. Em casos de hepatite B aguda, ou durante agudizações de
hepatite B crônica, podem ser observadas elevadas concentrações de anti-HBc IgM. Para
diagnosticar infecção viral aguda utilizam-se testes de detecção de anticorpos anti-HBc IgM,
juntamente com determinações de HBsAg [38, 40, 45, 46, 48, 49, 53, 57, 91, 122, 144].
O anti-HBc IgG surge pouco tempo depois do início da infecção, podendo ser
detectado no soro após o aparecimento do HBsAg. Os anticorpos anti-HBc subsistem tanto
nos indivíduos que se recuperaram de uma infecção, como naqueles que desenvolvem o
estado de portador do HBsAg. Assim, pode ser um indicador de infecção passada ou de
infecção crônica [58]. Na falta de outros marcadores da hepatite B (indivíduos HBsAg não
reagentes), o anti-HBc pode ser a única indicação de infecção viral pré-existente [50].
O HBeAg é um marcador de replicação viral ativa e está associado com a progressão
da doença. O HBeAg surge no soro durante as infecções agudas pelo VHB, e só é detectável
durante um intervalo de tempo. Habitualmente, a detecção do HBeAg está associada à
presença de grandes quantidades de vírus. Na fase de recuperação após a hepatite B aguda, o
HBeAg torna-se negativo, sendo substituído pelo anticorpo correspondente (anti-HBe). Quando
persiste, sugere cronificação do processo. Podem, no entanto, ocorrer infecções crônicas
pelo VHB sem detecção do HBeAg. A constatação do anti-HBe nestes indivíduos é uma
indicação da presença de mutantes do VHB [19-21, 38, 40, 45, 57, 74, 99, 140].
Historicamente, na maioria das vezes o diagnóstico da hepatite pelo VHB era focado
nos marcadores sorológicos das proteínas virais específicas e seus respectivos anticorpos.
Entretanto a tecnologia molecular tem avançado muito, tendo-se hoje a possibilidade de
avaliar qualitativamente e quantitativamente o DNA do VHB [32].
1 Introdução
11
1.4 Diversidade Viral
1.4.1 Genótipos e Subtipos
Os genótipos do VHB, nos últimos anos, têm sido relacionados à progressão da
doença hepática, assim como a resposta às terapias antivirais [55, 69, 85, 90, 113].
O curso da infecção pelo VHB depende de muitos fatores que podem influenciar a
interação vírus-hospedeiro, sendo provavelmente de relevância, a variabilidade genética do
vírus, incluindo genótipos e subtipos, os quais podem influenciar a expressão dos antígenos
virais [54, 59, 69, 115].
Análises do genoma revelaram 8 genótipos (A-H) do VHB, com distribuição geográfica
mundial distinta [82, 85, 131].
Além dos genótipos há 4 principais subtipos sorológicos do VHB (adw, ayw, adr e
ayr) ou 9 subtipos secundários: adw (adw2, adw4); ayw (ayw1, ayw2, ayw3, ayw4);
1 Introdução
12
O determinante “a” é comum à maioria dos vírus e é atribuido a um epítopo
descontínuo, ao qual são dirigidos anticorpos neutralizantes anti-HBs. Ela faz parte da
região hidrofílica principal do HBsAg e sua estrutura terceária é muito importante para sua
antigenicidade [22, 141].
Esses subtipos dependem de aminoácidos do HBsAg. Na posição 122 a Lisina
determina a especificidade d, enquanto a Arginina determina a y. A posição 160 determina a
especificidade w na presença de uma Lisina ou r na presença da Arginina. Na posição 127
uma Prolina determina as especificidades w1 e w2, a Treonina determina a w3 e uma
Leucina ou Isoleucina determina a w4. A presença de uma Alanina na posição 159,
determina o subtipo adrq+ e uma Glicina na mesma posição determina adrq- [47, 93, 106].
A divergência das seqüências do genoma completo dentro de um mesmo subtipo é
de aproximadamente 8%, semelhante à encontrada entre diferentes subtipos. Assim, a
subtipagem não reflete uma verdadeira variação genotípica nas seqüências codificadoras da
proteína S [110].
Os genótipos do VHB tem distribuição geográfica mundial distinta. Globalmente, os
genótipo A e D são mais prevalentes no Brasil, Europa, América do Norte, Índia e África; o
genótipo B e C são encontrados com maior freqüência no Sudeste da Ásia, China e Japão;
o genótipo E é restrito à África; o genótipo F é encontrado na população nativa da América
do Sul e Central; o genótipo G foi descrito na França, Estados Unidos, México e o genótipo
H foi encontrado na América Central [7, 69, 71, 85, 104] (Tabela 2).
A distribuição geográfica dos genótipos pode mudar devido a migração ou ao
comportamento de risco populacional. Nos Estados Unidos, os genótipos B e C são resultados
da imigração da população Asiática [31].
O VHB diverge entre os genótipos de acordo com a distribuição populacional nos
diferentes continentes. Entretanto, estes estudos ainda estão incompletos em algumas
partes do mundo, incluindo a América do Sul [102, 108, 135].
1 Introdução
13
Tabela 2 - Distribuição geográfica mundial dos 8 genótipos do VHB
Genótipo
Distribuição Geográfica Mundial
A
Nordeste da Europa, Espanha, Alemanha, Polônia, EUA, África Central, Índia, Brasil
B
Sudeste da Ásia, Taiwan, Japão, Indonésia, China, Hong Kong, Vietnã, Tailândia
C
Leste da Ásia, Taiwan, Japão, Coréia, China, Hong Kong, Tailândia, Indonésia,
Polinésia, Ilhas Salomão, Vietnã, Índia, Austrália, EUA, Brasil
D
Mediterrâneo, Albânia, Turquia, Irã, Índia, Espanha, República Checa, Rússia, EUA,
Brasil, Ilhas Salomão
E
Oeste da África
F
América do Sul e Central, Bolívia, Venezuela, Argentina, Brasil, Polinésia, Alasca
G
França, EUA
H
América Central
Fonte: Liu, C.J. et al. Liver International 2005;25:1097-1107 e Arauz-Ruiz, P. et al. J Gen Virol 2002;83:20592073.
A distribuição genotípica do VHB e sua correlação com o curso clínico da doença
hepática ainda não estão claros [39, 62].
A maioria dos estudos indica que a gravidade da hepatite crônica é maior em
pacientes com genótipo C comparado ao genótipo B [66, 85]. Estudo com pacientes de
Taiwan, mostraram que a cirrose e o CHC são mais freqüentes em portadores do genótipo
C do que B [85]. O genótipo C é mais prevalente em pacientes HBeAg positivos do que o
genótipo B [31]. A literatura mostra que o risco de CHC além de aumentar com o aumento
da carga viral por estar associado com o genótipo do VHB. Assim, no Japão e na China, o
genótipo C do VHB está relacionado com o desenvolvimento do CHC [85, 95].
Similarmente, o genótipo D está associado com maior gravidade da doença hepática
quando comparado ao genótipo A e pode também favorecer a ocorrência de CHC em
pacientes jovens [69].
Na Europa, a maioria dos pacientes com o genótipo A tem hepatite crônica, e a
maioria dos pacientes com o genótipo D têm hepatite aguda [95].
Sanchez-Tapias et al. [123] mostraram que a remissão bioquímica e o clearence do
DNA do VHB foram mais freqüentes no genótipo A do que no D ou F; a taxa de depuração
do HBsAg foi também mais alto, no genótipo A, quando comparado, com o genótipo D.
1 Introdução
14
1.4.2 Mutações do VHB
As mutações do VHB em pacientes com hepatite crônica são freqüentes, sendo
maiores naqueles imunossuprimidos, como pacientes em hemodiálise [34, 87, 109], em
quimioterapia, diabéticos [109, 116] e nos infectados com o vírus da imunodeficiência
humana (HIV) [4, 56, 109].
Diversas são as mutações existentes, entretanto a variante mais freqüentemente
encontrada nas infecções crônicas do VHB é a variante pré-core. Inicialmente descrita na
Itália [19], envolvia casos de pacientes com sorologia negativa para o HBeAg, mas positiva
para o HBsAg, anti-HBc, anti-HBe, presença de DNA viral e HBcAg no fígado.
São comuns na região Mediterrânea e no Extremo Oriente, apresentando mutações
pontuais na região pré-core do genoma viral (posições 1896/1899). A presença da
seqüência “selvagem” foi denominada M0, a presença da mutação no nucleotídeo 1896 de
M1, onde ocorre a troca de guanina (G) para adenina (A) no nucleotídeo 1896 (G1896A) e a
presença das duas mutações (G1896A/G1899A) de M2 [5, 29, 79, 81]. Essa mutação traduz
um impedimento da produção do HBeAg. Tais casos geralmente traduzem doença mais
grave, talvez devido à ausência do papel modulador da resposta imune desempenhado pelo
HBeAg, evoluindo, muitas vezes, com hepatite crônica com intensa atividade [142]. Essas
mutações podem estar associadas a uma progressão mais rápida da infecção pelo VHB,
com maior freqüência de evolução para cirrose e carcinoma [137]. Essas mutações também
foram encontradas em pacientes com doença hepática não avançada [75].
A mutação na região pré-core é dependente do genótipo e é encontrada com maior
freqüência em pacientes com genótipo D, sendo incomum em pacientes com o VHB do
genótipo A [30, 52, 83, 112, 121]. Essa mutação também é mais freqüente no genótipo B em
relação ao C e uma análise multivariada mostrou que a mesma não está relacionada com a
soro-conversão para o anti-HBe [132].
Outra mutação observada é a do Promotor Basal do Core (BCP), onde o HBeAg
também é negativo e existe o padrão HBsAg, anti-HBe e DNA viral positivos. Nestes casos,
no nucleotídeo 1762, ocorre troca de adenina (A) para timina (T) – (A1762T), e de guanina
(G) para adenina (A) no nucleotídeo 1764 (G1764A). Essas duas mutações fazem com que
haja uma down-regulation da produção do HBeAg [28]. Na população americana tais
mutações são mais comuns nos genótipos C e D [72].
Alguns estudos revelam que mutações na região do core aumentam a taxa de
replicação viral do VHB [30] e estes nucleotídeos acarretam hepatite crônica com maior
atividade, doença mais grave após transplante de fígado, CHC e hepatites fulminantes [9].
1 Introdução
15
Essas mutações ocorrem com maior freqüência no genótipo C do que no B,
independente do estado do HBeAg [30]. A mutação do gene X no BCP pode aumentar o
risco de CHC [26, 73].
1.5 Relação dos Genótipos com a Resposta ao Tratamento Anti-Viral
No que diz respeito ao tratamento, Liu et al. [84] mostraram a eficácia do interferon
(INF) convencional nos pacientes com hepatite B crônica genótipo B. Os resultados desse
estudo mostraram que pacientes com genótipo C têm um nível basal elevado de
aminotransferases
e
uma
alta
freqüência
de
mutação
do
core
promoter
(A1762T/G1764A). A taxa de resposta, definida pela normalização do nível das
aminotransferases, perda do HBeAg e negativação do VHB DNA após 48 semanas de
tratamento foi de 41% e 15% em pacientes genótipos B e C, respectivamente. Esses dados
sugerem que o genótipo C do VHB, comparado com o genótipo B, está associado com a
alta freqüência de mutação do core promoter e uma baixa taxa de resposta à terapia com
IFN-α. Wai [139] também compararam a resposta da terapia com IFN-α entre os genótipos B
e C. Eles encontraram dados semelhantes aos anteriores: a resposta foi melhor em
pacientes com o genótipo B do que com o genótipo C (39% vs. 17%).
Pacientes com o genótipo A e sem mutações na região pré-core também respondem
em maior freqüência ao tratamento com IFN-α [143].
Outros estudos, considerando a resposta ao tratamento, demonstraram que
pacientes com genótipos C e D apresentam uma baixa resposta à terapia com IFN-α quando
comparados com os genótipos A ou B [63, 69]. Isso provavelmente se deve ao
desenvolvimento de mais mutações no BCP dos genótipos C e D, comparado com os
genótipos A e B [103].
O genótipo B mostrou ter melhor resposta à lamivudina do que o genótipo C [70].
Pacientes infectados com o genótipo B tiveram uma melhor resposta à lamivudina durante
os três primeiros meses de tratamento, comparados aos pacientes infectados com o
genótipo C. O subtipo adw é associado a um maior risco de resistência à lamivudina do que
o subtipo ayw [69].
Zollner et al. [145] mostraram que há um risco maior de resistência à lamivudina do
genótipo A em relação ao genótipo D; além disso, a média de tempo para que ocorra
mutação no genótipo A, quando da utilização do medicamento, é de 4 meses comparado ao
genótipo D onde o tempo é maior que 12 meses.
A despeito da importância epidemiológica e clínica do conhecimento dos genótipos
do VHB, pouco se sabe sobre a distribuição genotípica desta infecção na América Latina [6,
135, 136]. No Brasil, esses estudos são pouco freqüentes, e o número de linhagens analisadas
1 Introdução
16
é pequena [23, 24, 44, 100, 120, 126, 136]. Desta forma, nos propomos avaliar a
prevalência dos genótipos do VHB em uma coorte de pacientes avaliados em um hospital
geral.
2 OBJETIVOS
2 Objetivos
18
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo Primário
•
Implementar uma técnica para determinação dos genótipos e subtipos do vírus da
hepatite B.
2.2 Objetivos Secundários
•
Avaliar a prevalência dos genótipos e os subtipos do VHB na população estudada.
•
Avaliar a correlação dos dados demográficos e fatores de risco com os genótipos
do VHB.
•
do VHB.
Avaliar o status sorológico da doença hepática e sua correlação com os genótipos
3 PACIENTES E MÉTODOS
3 Pacientes e Métodos
20
3 PACIENTES E MÉTODOS
3.1 Casuística
Foram avaliados 67 pacientes consecutivos, com marcadores de infecção crônica
pelo VHB, que estavam em acompanhamento no ambulatório de gastroenterologia e na
unidade de hemodiálise do Complexo Hospitalar Santa Casa de Porto Alegre – RS, no
período de fevereiro de 2005 a setembro de 2006.
Os pacientes foram divididos em dois grupos:
a) pacientes HBeAg positivos subdivididos em:
−
com alanina aminotransferase (ALT) dentro dos limites da normalidade;
−
com ALT aumentada.
b) pacientes HBeAg negativos subdivididos em:
−
com ALT dentro dos limites da normalidade;
−
com ALT aumentada.
O valor de referência utilizado para ALT foi de 35 U/L.
Os critérios de inclusão foram: pacientes com positividade para o HBsAg no soro por
um período superior a seis meses independente dos níveis séricos de aminotransferases.
Os critérios de exclusão foram: pacientes com anti-HCV positivo, anti-HIV positivo,
ingestão de bebida alcoólica > 40 g/dia, uso de medicamentos potencialmente hepatotóxicos
e pacientes que não assinaram o termo de consentimento informado.
Foi preenchido, junto ao paciente, pelo pesquisador o protocolo pré-estabelecido com
dados demográficos, epidemiológicos e de exames laboratoriais (Anexo 8.1).
Do ponto de vista epidemiológico, considerou-se a hemodiálise como fator de risco
para a aquisição do VHB, quando os pacientes tornaram-se HBsAg positivos após o início
do programa dialítico.
3.2 Métodos
De cada paciente foi colhido, à vácuo, dois frascos de sangue total com EDTA (2 x
5 ml - Vacutainer BD / Becton Dickinson UK Ltda.) e posteriormente centrifugados entre
3 Pacientes e Métodos
21
1.500 e 2.000 rpm. O plasma foi separado e as amostras foram estocadas em freezer a
menos 20º C no Laboratório Central do Complexo Hospitalar Santa Casa de Porto Alegre.
Após a coleta, as amostras receberam um número seqüencial fazendo com que a
identificação dos pacientes fosse conhecida apenas pelo autor do projeto.
Os testes sorológicos foram analisados, seguindo as especificações dos fabricantes.
O HBsAg e o HBeAg foram analisados pelo método de eletroquimioluminescência (Elecsys
2010 – Roche). Para dosagem da ALT foi utilizado o método cinético colorimétrico (Advia
1650 – Bayer).
Os genótipos e subtipos foram determinados segundo Sitnik et al. [126].
3.2.1 Extração de Ácidos Nucléicos
A extração do DNA, realização da reação em cadeia da polimerase (PCR) in house e
o seqüenciamento das amostras foram realizados no CBGM/PUCRS (Centro de Biologia
Genômica e Molecular / Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul) e no
Laboratório Weinmann Ltda, ambos de Porto Alegre – RS
A estabilidade das amostras, para realização da extração de ácidos nucléicos, é de
até 6 meses quando armazenadas a menos 20º C, segundo fabricante do kit [QIAamp DNA
Blood Kit (QIAGEN Inc., Calif.)].
Protocolo de extração para sangue:
•
as amostras foram equilibradas à temperatura ambiente;
•
foi ligado o termobloco a 56 ± 2º C;
•
tampão AE (eluente) foi equilibrado à temperatura ambiente;
•
nos casos em que ocorreu precipitação no tampão AL (lisante) foi dissolvido por
incubação à 70 ± 2º C;
•
todos passos de centrifugação foram feitos à temperatura ambiente;
•
verificou-se se o volume adequado de etanol foi adicionado aos tampões AW1
(tampão de lavagem, 242 mL) e AW2 (tampão de lavagem, 324 mL) antes de serem usados
pela primeira vez.
A seguir, obdeceu-se aos seguintes passos:
a) pipetou-se Protease (ou Proteinase K) no fundo de um tubo de micro-centrífuga;
b) adicionou-se o tampão AL ao tubo;
c) adicionou-se a amostra. Após, agitou-se no vórtex;
d) incubou-se a 56 ± 2º C por aproximadamente 20 minutos;
e) centrifugou-se brevemente para remover resíduos da tampa;
3 Pacientes e Métodos
22
f) adicionou-se etanol (96% – 100%), e agitou-se novamente no vórtex;
g) transferiu-se a mistura do passo f para uma coluna QIAamp identificada, sendo
essa centrifugada. Após a centrifugação descartou-se o tubo contendo o filtrado e esse foi
transferido da coluna para um novo tubo coletor;
h) adicionou-se sobre a coluna o tampão AW1, evitando encostar na membrana;
centrifugou-se novamente. A coluna foi colocada em um novo tubo coletor e o tubo contendo
o filtrado foi descartado;
i) adicionou-se sobre a coluna o tampão AW2, evitando encostar na membrana;
centrifugou-se novamente;
j) a coluna foi colocada em um tubo eppendörf, previamente identificado, e o tubo
contendo o filtrado foi descartado. Adicionou-se tampão AE e a coluna foi centrifugada
novamente.
3.2.2 Reações de PCR
O DNA extraído foi amplificado por uma reação que utiliza primers e a partir da
ligação com estes primers ocorre a PCR em que a enzima DNA Polimerase amplifica o DNA
alvo.
Para isso ocorrer é necessário preparar a PCR. A mistura de reação contém as
substâncias necessárias para fazer novas cópias de DNA no processo da PCR e foi
realizada em sala especial, que não continha amostras biológicas, para que não houvesse
contaminação com DNA de outro material que não seja o estudado. Foram colocadas as
seguintes substâncias:
a) solução tampão para manter a mistura de reação no pH e condições iônicas
ideais para a reação;
b) desoxinucleosídeos trifosfatados (dATP; dTTP; dGTP; dCTP) que são quatro
componente químicos diferentes que atuam na construção da molécula de DNA, Adicionase uma mistura de todos os dNTP´s em concentrações iguais à reação;
c) primers serve para sintetizar a seqüência alvo no sentido 3’ - 5’ e outro para o
sentido inverso isto é, 5’ - 3’;
d) Taq Polimerase que irá promover a síntese de DNA apenas na região em dupla
fita;
e) MgCl2.
3 Pacientes e Métodos
23
3.2.2.1 PCR Nested
O tipo de PCR realizado no estudo foi a PCR Nested, onde para melhorar a
especificidade e a eficiência da reação, o segmento genômico é amplificado primeiro de
forma abrangente e depois, utilizando este primeiro produto, a amplificação da real
seqüência-alvo. Estas duas etapas (rounds) são realizadas concomitantemente. O limite de
sensibilidade do teste da PCR utilizado foi de 400 cópias/mL.
A reação ocorre em um termociclador que, através de sucessivas mudanças de
temperatura, direciona as três etapas da reação:
•
Desnaturação: aquecendo a reação a uma temperatura específica, as duas cadeias
de DNA fita-dupla são separadas, tornando-se DNA fita-simples.
•
Anelamento: nesta fase ocorre o pareamento do primer, com uma região
complementar da fita do DNA da amostra. Somente se o DNA contiver a seqüência alvo, os
primers irão anelar, marcando o ponto de partida para enzima Taq DNA polimerase.
•
Extensão: a partir do primer, a Taq DNA polimerase adiciona nucleotídeos de
forma a completar a cópia da seqüência alvo da fita molde, gerando uma fita-dupla a partir
de cada fita-simples de DNA.
Ao final do primeiro ciclo da PCR, duas seqüências-alvo completas foram sintetizadas
tendo como molde o DNA da seqüência original. Em cada ciclo sucessivo, as cadeias são
novamente desnaturadas, originando duas cadeias fita-simples, nas quais os primers irão
anelar e novas fitas de DNA serão sintetizadas pela DNA polimerase. O objetivo é de que no
final da reação da PCR a seqüência de interesse seja encontrada em grande quantidade,
facilitando sua detecção.
Os soros dos pacientes foram tratados como descrito acima e submetidos a duas
rodadas de amplificação, usando seqüencialmente primers externos (FHBS1 e RHBS1) e
internos (FHBS2 e RHBS2). Os primers selecionados foram os seguintes: FHBS1, 5’-GAG
TCT AGA CTC GTG GTG GAC TTC-3’; FHBS2, 5’-CGT GGT GGA CTT CTC TCA ATT
TTC-3’; RHBS1, 5’-AAA TKG CAC TAG TAA ACT GAG CCA-3’; e RHBS2, 5’-GCC ARG
AGA AAC GGR CTG AGG CCC-3’ [126].
A amplificação nas duas rodadas da PCR ocorreu com os seguintes ciclos em um
termociclador PTC-200 (MJ Research, Watertown, MA, USA).
A reação consistiu de:
a) desnaturação inicial à 94º C por 20 segundos
b) 30 ciclos de desnaturação à 94º C por 20 segundos
c) 30 ciclos de anelamento à 56º C por 20 segundos
d) 30 ciclos de extensão à 72º C por 30 segundos
e) extensão final à 72º C por 1 minuto
3 Pacientes e Métodos
24
f) manutenção das amostras à 4º C
3.2.2.2 Identificação dos Produtos das Reações
A detecção dos produtos amplificados é feita através de eletroforese em gel de
agarose.
Os ensaios de eletroforese valem-se do princípio que determina que a carga global
de uma fita de DNA é negativa. Ao final do processo, as cadeias de DNA estarão próximas
ao cátodo (positivo), atraente de moléculas de carga negativa. No entanto, o foco da técnica
é separar os fragmentos por tamanho, uma vez que a reação gera fragmentos de mesma
extensão. O princípio baseia-se no fato de que cadeias maiores demoram mais tempo para
passar pelos poros do gel de agarose e as cadeias menores viajam mais rapidamente
através dela. A distância que o fragmento percorreu, a partir do ponto de aplicação, é
comparada com a distância que outros fragmentos de tamanhos conhecidos percorreram no
mesmo gel, esses chamados de ladders (escadas).
Para identificar o produto das reações da PCR, aplicou-se uma voltagem que variou
70 V e 110 V, dependendo do tamanho da cuba utilizada. Foram utililizadas concentrações
de 0,5% a 3% de agarose no gel. A visualização dos produtos no gel após a corrida foi
realizada pela reação de ligação do DNA com brometo de etídio (EtBr). Esse composto tem
a capacidade de inserir-se nas fendas da cadeia de DNA e apresenta fluorescência quando
excitado com radiação ultravioleta. Adicionou-se o EtBr no gel de agarose liquefeito antes da
corrida.
As bandas foram observadas em transiluminador com luz ultravioleta e o gel foi
fotografado com máquina tipo Polaroid.
Os produtos da PCR foram purificados enzimaticamente e seqüenciados.
3.2.2.3 Controle de Qualidade
Controles utilizados
•
Controle negativo: Água bidestilada estéril (ampola).
•
Controle positivo: é utilizado um controle positivo específico composto de DNA para
cada agente infeccioso a ser testado.
3 Pacientes e Métodos
25
3.2.2.3.1 Análises dos Controles
•
Controle negativo: não deve apresentar bandas.
•
Controle positivo: VHB deve apresentar banda de 417 pares de bases (pb).
3.2.3 Reação de Purificação
Os produtos da PCR foram purificados enzimaticamente e seqüenciados.
A reação de purificação tem, como objetivo, deixar apenas o DNA íntegro, clivando
os demais componentes para que estes não interfiram no seqüenciamento.
Os reagentes utilizados na purificação dos amplificados são: clorofórmio, exonuclease I
(EXO I), Shrimp alkaline phosphatase (SAP).
A seqüencia de procedimentos para realizar a purificação foi:
1. identificar um tubo da PCR para cada amostra e pipetar 2,0 µl de enzima
SAP/EXO;
2. adicionar 2,0 µl do produto amplificado extraído com clorofórmio;
3. colocar as amostras no termociclador e selecionar o programa SAP/EXO;
Programa: 15 minutos a 37º C e 15 minutos a 80º C.
3.2.4 Reação de Seqüenciamento
Para o seqüenciamento, foi utilizada a técnica de seqüenciamento pela PCR (cycle
sequencing), derivada da metodologia de Sanger et al. [124], utilizando-se didesoxinucleotídeos
(ddNTPs) contendo marcadores fluorescentes (Kit ABI PrismR BigDye™ Terminator Cycle
Sequencing Ready Reaction − Applied Biosystems, Foster City, CA, USA). O seqüenciador
automático utilizado foi o ABI PrismR 377 (Applied Biosystems).
Para a reação de seqüenciamento, utilizou-se 3-10 ng do DNA, 2,5 µl (3,2 pmol) de
primer (qualquer primer da última amplificação realizada), 4 µl da mistura de reação do Kit
de seqüenciamento, 4 µl de tampão Tris-HCI (pH 9,0) e MgCI2 5X e 7,5 µl de água destilada
estéril para um volume final de 20 µl.
Em seguida, as amostras foram submetidas a repetidos ciclos de variação de
temperatura em um termociclador (PTC-200, MJ Research, Watertown, MA, USA) com um
programa específico para a síntese da fita complementar e incorporação dos ddNTPs
marcados (25 ciclos de 96º C por 30 segundos, 50º C por 15 segundos e 60º C por 4
minutos).
3 Pacientes e Métodos
26
Após a reação de seqüenciamento, as amostras foram precipitadas com isopropanol
para a retirada dos ddNTPs marcados não incorporados. Aos 20 µl de reação, foram
adicionados 80 µl de isopropanol 75%. Os microtubos foram submetidos à forte agitação por
10 segundos e incubados à temperatura ambiente por 15 minutos. Após incubação, as
amostras foram centrifugadas por 20 minutos a 14.000 rpm à temperatura ambiente. Em
seguida, removeu-se o isopropanol e adicionaram-se 1.000 µl de etanol 70% ao precipitado.
As amostras foram novamente centrifugadas por 15 minutos a 14.000 rpm à temperatura
ambiente. Após a centrifugação, o etanol foi retirado e as amostras foram incubadas a 90º C
por 2 minutos para a retirada total do etanol.
Às amostras adicionaram-se 6 µl de tampão de amostra [5 partes de formamida: 1
parte de blue dextran (Applied Biosystems)], homogeneizou-se várias vezes, centrifugou-se
por 15 segundos e incubou-se a 95º C por 5 minutos para desnaturação. Imediatamente
após a incubação, as amostras foram colocadas no gelo até a aplicação de 1,5 µl em gel de
poliacrilamida.
O gel de separação consistiu em um gel de poliacrilamida 5% (Long Ranger™ Gel
Solution, FMC) com uréia 6M em tampão TBE 1X concentrado em placas de 36 cm por
0,5 mm de espessura. A eletroforese foi realizada no seqüenciador automático.
3.2.5 Análise das Seqüências
As análises dos genótipos e subtipos virais foram realizadas através da comparação
das seqüências, obtidas com seqüências já conhecidas dos diferentes genótipos do VHB.
Para análise das seqüências foi utilizado o programa Chromas Versão 2.31 (Technelysium
Pty Ltd) e para tradução da seqüência o programa DNA for Windows Versão 2.2 (David
Dixon) e para comparação da seqüência encontrada com as já conhecidas, ou seja para
identificar o genótipo e subtipo, o programa GeneMapper Versão 3.7 (Applied Biosystems).
3.2.6 Aspectos Éticos
O Comitê de Ética em Pesquisa da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto
Alegre/Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre aprovou esse
protocolo sob Parecer no 065/04 e Protocolo no 823/04. O consentimento pós-informação
pode ser apreciado no anexo 8.2.
3 Pacientes e Métodos
27
3.2.7 Análise Estatística
Foi realizada análise descritiva, através de médias e desvio padrão para variáveis
contínuas e freqüência absoluta relativa para variáveis categóricas.
Para comparação de grupos, foram utilizados teste T-Student, análise de variância e
teste Qui-Quadrado, dependendo do tipo de variável na comparação. Para todas
comparações foi considerado nível de significância de 5%. O programa utilizado foi SPSS
versão 13.0 for Windows (Statistical Product for Service Solutions).
4 RESULTADOS
4 Resultados
29
4 RESULTADOS
Foram analisados, durante o período de estudo, 67 pacientes HBsAg positivos,
sendo que 15 desses estavam em programa de hemodiálise.
Os resultados dos genótipos, subtipos, idade, sexo, cor, fator de risco, valor de ALT e
resultado do HBeAg dos pacientes encontram-se no Anexo 8.3.
A análise qualitativa para o VHB-DNA, por PCR, foi positiva em 79,1% das amostras
(53/67). Assim, em 14 amostras HBsAg positivas, o resultado do VHB-DNA pela PCR foi
negativo.
O genótipo foi determinado em todas as amostras VHB-DNA positivas.
A análise dos genótipos, nas amostras VHB-DNA positivas, demonstrou a presença
dos genótipos A, D e F, sendo que o genótipo mais freqüente foi o tipo D, encontrado em 32
pacientes (60,4%) da população genotipada. O segundo genótipo mais freqüente foi o A,
com 18 casos (34,0%). O genótipo F foi encontrado em apenas 3 amostras (5,4%). A
distribuição dos genótipos encontrados dentre as 53 amostras VHB-DNA positivas
estudadas está demonstrada na Figura 5.
3
18
32
Genótipo A
Genótipo D
Genótipo F
Figura 5 - Distribuição dos genótipos da população estudada.
Nos 53 pacientes que foi realizada a genotipagem, foi estudada a classificação dos
vírus circulantes em subtipo. Foram encontrados os seguintes subtipos: adw, ayw e adw4. O
genótipo A apresentou somente o subtipo adw, o genótipo D somente ayw e o genótipo F
apresentou o subtipo adw4.
4 Resultados
30
4.1 Relação entre Dados Demográficos da População Avaliada e os
Genótipos
A idade dos pacientes, cuja amostra foi genotipada, variou de 23 a 79 anos (média =
46,73 ± 13,05). A distribuição da média idade dos pacientes em relação ao genótipo pode
ser observada na Tabela 3.
Tabela 3 - Distribuição da idade dos pacientes nos diferentes genótipos
Média da Idade em
anos (Erro Padrão)
Genótipo A
Genótipo D
Genótipo F
Indetectável
Total
48,78 (3,95)
46,41 (2,10)
35,33 (1,45)
47,29 (2,94)
46,73 (1,59)
Não houve diferença estatisticamente significativa entre as médias de idade
dos pacientes com diferentes genótipos do VHB (p = 0,436).
Quando avaliamos o gênero dos pacientes genotipados, observamos que 75,5%
eram do sexo masculino (n = 40), enquanto 24,5% eram do sexo feminino (n = 13). A
distribuição dos gêneros em relação aos genótipos está representado na Tabela 4.
Tabela 4 - Distribuição dos genótipos do VHB em relação ao sexo
Mulheres
Homens
Genótipo A
Genótipo D
Genótipo F
Indetectável
Total
6
7
0
3
16
(37,5%)
(43,7%)
−
(18,8%)
(100%)
12
25
3
11
51
(23,5%)
(49,0%)
(5,9%)
(21,6%)
(100%)
Não houve diferença estatisticamente significativa entre a distribuição dos genótipos do
VHB, quando avaliado o sexo dos pacientes (p = 0,584).
A maioria dos pacientes, cujo vírus foi genotipado, pertencia à raça branca (92,5%),
estando na Tabela 5 a distribuição dos pacientes quanto a raça e o genótipo.
4 Resultados
31
Tabela 5 - Distribuição dos genótipos do VHB em relação à raça
Negro
Branco
Genótipo A
Genótipo D
Genótipo F
Indetectável
Total
3
1
0
3
7
(42,9%)
(14,2%)
−
(42,9%)
(100%)
15
31
3
11
60
(25,0%)
(51,7%)
(5,0%)
(18,3%)
(100%)
Não houve diferença estatisticamente significativa entre os diversos genótipos, quando
avaliada a raça dos pacientes (p = 0,192).
4.2 Fatores de Risco Avaliados e os Genótipos
Na amostra dos pacientes estudados, 23,9% (16/67) adquiriram o vírus através de
relações sexuais observando-se 6 genótipos A, 6 genótipos D e 4 indetectáveis; 4,5% (3/67)
eram usuário de drogas IV sendo 2 genótipo D e 1 genótipo F. Três (4,5%) pacientes
apresentaram como único fator de risco a transfusão sangüínea sendo todos do genótipo A.
Três (4,5%) se contaminaram com o VHB através de transmissão vertical sendo 2 genótipos
D e 1 genótipo A; dois (2,9%) pacientes através de acidente de punção sendo 1 genótipo D
e 1 genótipo F. A hemodiálise foi detectada como fator de risco em 26/67 (38,8%) pacientes
estudados sendo o mais prevalente. Destes, 7 eram genótipo A, 11 genótipo D e em 8 casos
não foi possível a identificação do genótipo. Outros fatores de risco foram citados por 20,9%
(14/67) pacientes como: cirurgias (9) e causas desconhecidas (5). Esse grupo revelou 1
genótipo A, 10 genótipos D, 1 genótipo F e 2 indetectáveis (Tabela 6).
4 Resultados
32
Tabela 6 - Distribuição dos genótipos do VHB em relação ao fator de risco
Sexual
Drogas IV
Transfusão
Transmissão
Vertical
Acidente de
Punção
Diálise
Outros
Genótipo A
Genótipo D
Genótipo F
Indetectável
Total
6
6
0
4
16
(37,5%)
(37,5%)
−
(25,0%)
(100%)
0
2
1
0
3
−
(66,7%)
(33,3%)
−
(100%)
3
0
0
0
3
(100,0%)
−
−
−
(100%)
1
2
0
0
3
(33,3%)
(66,7%)
−
−
(100%)
0
1
1
0
2
−
(50,0%)
(50,0%)
−
(100%)
7
11
0
8
26
(26,9%)
(42,3%)
−
(30,8%)
(100%)
1
10
1
2
14
(7,1%)
(71,5%)
(7,1%)
(14,3%)
(100%)
A distribuição dos genótipos do VHB, em relação ao fator de risco, não pode ser
avaliada estatísticamente em função da extratificação das variáveis e pelo baixo número de
pacientes em cada grupo. Em função disso, foi realizada apenas uma análise descritiva dos
resultados obtidos.
4.3 Genótipos, Padrão Sorológico e Laboratorial da Doença Hepática
Em 26,9% (18/67) dos casos, os pacientes eram HBeAg positivos e possuíam ALT
aumentada, sendo que a distribuição dos genótipos neste subgrupo foi de 4 genótipos A, 10
genótipos D, 1 genótipo F e 3 indetectáveis. Destes 18 pacientes, 11 pacientes realizaram
biópsia, sendo 8 com diagnóstico de hepatite crônica e 3 com cirrose. No grupo HBeAg
positivos e ALT normal, ou seja 10,5% dos casos (7/67) a distribuição genotípica foi de 5
genótipos A e 2 genótipos D. Nenhum destes pacientes realizou biópsia hepática.
4 Resultados
33
Em relação ao grupo de pacientes HBeAg negativos com ALT aumentada 40,3% (27/67)
encontraram-se 8 genótipos A, 14 genótipos D, 2 genótipos F e 3 genótipos indetectáveis.
Desses pacientes, 6 realizaram biópsia hepática, 4 deles apresentam hepatite crônica e 2
cirrose.
Em relação ao subgrupo de pacientes HBeAg negativos com ALT normal 22,3%
(15/67) a distribuição genotípica foi de 1 genótipo A, 6 genótipos D e 8 genótipos em que
não se conseguiu realizar a identificação. Em nenhum caso foi realizado biópsia hepática.
Os dados referentes aos parâmetros avaliados podem ser observados na Tabela 7.
Tabela 7 - Distribuição dos genótipos do VHB em relação ao padrão sorológico e
laboratorial da doença hepática
Genótipo A
Genótipo D
Genótipo F
Indetectável
Total
HBeAg + ALT ↑
4 (22,2%)
10 (55,6%)
1 (5,6%)
3 (16,6%)
18 (100%)
HBeAg + ALT Normal
5 (71,4%)
2 (28,6%)
0 (0%)
0 (0%)
7 (100%)
HBeAg + (Total)
9 (36,0%)
12 (48,0%)
1 (4,0%)
3 (12,0%)
25 (100%)
HBeAg – ALT ↑
8 (29,6%)
14 (51,9%)
2 (7,4%)
3 (11,1%)
27 (100%)
HBeAg – ALT Normal
1 (6,7%)
6 (40,0%)
0 (0%)
8 (53,3%)
15 (100%)
Como pode ser observado dentre os 25 pacientes com HBeAg positivo, na quase
totalidade o VHB é genótipo A (36,0%) e D (48,0%). Nos pacientes com HBeAg negativo e
ALT aumentada, o percentual com genótipo A e D foi 29,6% e 51,9% respectivamente. Por
outro lado, os pacientes com HBeAg negativo e ALT normal (prováveis portadores inativos)
o genótipo do VHB em 6,7% foi A e 40,0 % foi D. Não foram considerados os resultados dos
genótipos indetectáveis para análise estatatística dos dados referente à tabela 8. Não houve
diferença estatisticamente significativa entre a distribuição dos genótipos do VHB quando
avaliado o padrão sorológico e laboratorial da doença hepática dos pacientes (p = 0,313).
5 DISCUSSÃO
5 Discussão
35
5 DISCUSSÃO
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, aproximadamente 30% da população
mundial já foram infectados com o VHB e cerca de 350 - 400 milhões de indivíduos são
portadores crônicos da doença. Em nosso meio, a prevalência da infecção pelo VHB é
baixa, estando ao redor de 0,4% [128].
A história natural da infecção pelo VHB compreende três fases distintas. Durante a
fase de imunotolerância da infecção pelo VHB, observa-se a presença do HBsAg, do HBeAg
e altos títulos de VHB-DNA (105 – 1010
cópias por m/L), sendo a ALT normal ou
discretamente elevada e na histologia inflamação mínima ou inexistente. A fase de
clareamento viral é caracterizada por destruição dos hepatócitos infectados, replicação viral
elevada ou flutuante, possibilidade de soroconversão HBeAg para anti-HBe e ALT elevada
secundária à vigorosa resposta imunológica e a histologia revela lesões mais “floridas”. A
terceira fase da infecção crônica pelo VHB, fase de integração, resulta da persistência viral,
no genoma do hospedeiro, quando a resposta imunológica não é suficiente para eliminar o
vírus. Há a presença no soro do HBsAg, o anti-HBe é positivo, títulos baixos ou indetectáveis do
VHB-DNA, a ALT é normal e, na maioria das vezes, mínima lesão histológica hepática,
caracterizando a fase não replicativa (portador inativo do VHB). Ressalta-se que a cirrose
ativa pode ser observada nessa fase, caso tenha ocorrido injúria hepática importante prévia
e soroconversão do sistema e.
A partir da década de 1990, iniciaram os estudos que revelaram a diversidade
genômica do VHB, com o isolamento de 8 genótipos (A-H) [101, 105, 106]. Posteriormente,
alguns autores demonstraram que o amplo espectro de manifestações clínicas que envolvem
a doença hepática pelo VHB [66, 69, 85, 95], bem como a resposta ao tratamento antiviral
[63, 64, 70, 145], poderiam estar relacionados aos genótipos do vírus B.
No Brasil, poucos estudos que demonstrem a prevalência dos genótipos e subtipos do
VHB foram publicados até o presente [23, 24, 44, 100, 120, 126, 136], para tanto existem
algumas razões que poderiam ser aventadas como: a pouca oferta de kits comerciais para
genotipagem e subtipagem do VHB, o que faz com que as técnicas da PCR sejam realizadas in
house e o alto custo dos equipamentos e reagentes que envolvem a realização das técnicas
de biologia molecular, aumentando consideravelmente a dificuldade na realização dos
estudos nessa linha de pesquisa.
5 Discussão
36
No Rio Grande do Sul, até o presente estudo, nenhum centro havia realizado a
técnica de PCR para a determinação da genotipagem do vírus B da hepatite. Assim, esse
estudo objetivou, primariamente, a tentativa de implementação de uma técnica ainda não
realizada em nossa região. Uma vez alcançado o objetivo primário, analisamos a
soroprevalência dos genótipos e subtipos do VHB em uma população de pacientes com
marcadores sorológicos da infecção viral B, que estavam em acompanhamento ambulatorial
e em uma unidade de hemodiálise de um hospital geral.
Dos 67 pacientes HBsAg positivos incluídos no estudo, o DNA viral estava presente
nas amostras de sangue de 53 (79,1%). Dos 14 casos em que não foi identificado o DNA do
VHB no soro, 11 (78,5%) foram também negativos para o HBeAg, sendo que em 8 as
aminotransferases eram normais. As razões para a ausência do DNA do VHB no soro, em
pacientes com HBsAg positivo, permanecem desconhecidas, no entanto, a presença de
variantes do VHB com um baixo nível de replicação, neste estudo traduzidas pela ausência
do HBeAg, mecanismos inibitórios relacionados ao sistema imunológico dos pacientes
infectados ou resultado falso-positivo do antígeno viral podem ser consideradas. No entanto,
deve ser ressaltado que o maior número de casos ocorreu em pacientes HBeAg negativos e
com aminotransferases normais, sugerindo ser esta uma população de portadores inativos
do VHB. Outros parâmetros relacionados à detecção do DNA do VHB devem ser
analisados, tais como o método diagnóstico utilizado; as condições de armazenamento das
amostras e o tipo de material biológico analisado (soro, células mononucleares do sangue
periférico e tecido hepático). No presente estudo, os frascos utilizados para coleta dos pacientes
eram comerciais, a vácuo, e de apenas um fabricante; o material imediatamente após a coleta e
após a centrifugação foi estocado em freezer a menos 20º C e processado no mesmo mês
da coleta, apesar de haver estabilidade por 6 meses. Acreditamos que essas etapas foram
cruciais para a adequada realização do teste.
A presença de 79,1% de positividade do DNA viral em nossa amostra vai ao encontro
dos 76% encontrados por Carrilho et al. [23]. Chu et al. [30] em estudo realizado nos
Estados Unidos, em 694 pacientes provenientes de 17 centros de referência em
hepatologia, também encontrou 76% de positividade. Esse cenário foi semelhante ao
encontrado por outros autores [136] em uma população de pacientes em hemodiálise de
Goiânia nos quais o VHB-DNA pela PCR foi positivo entre 67% e 88% dos pacientes HBsAg
positivos e por Sunbul et al. [133] em estudo realizado em 88 pacientes com hepatite B
crônica na Turquia, onde a positividade do DNA viral foi de 88,6%.
Os resultados encontrados nessa análise demonstram uma prevalência elevada do
genótipo D (60,4%) seguido do genótipo A (34,0%). O genótipo F foi encontrado em apenas
5,4% da população genotipada.
5 Discussão
37
A distribuição dos genótipos, na população brasileira correlaciona-se à origem dos
nossos ascendentes. A presença dos genótipos A e D sugere a influência da afrodescendência, ocorrida por conta do período da escravidão passada, além da influência da
colonização européia. O Instituto Oswaldo Cruz (IOC), pioneiro em estabelecer os genótipos
do vírus que circulam no Brasil, identificou que cerca de 50% dos vírus encontrados no país
são do genótipo A, subtipo africano, possivelmente relacionado à introdução dos africanos no
Brasil pelo comércio escravo [136]. No Rio Grande do Sul, há um predomínio de
descendentes europeus. Aproximadamente 90% dos pacientes aqui apresentados eram da
raça branca, motivo que poderia explicar a menor prevalência do genótipo A encontrada
nesse estudo. Esses mesmos genótipos também foram encontrados em outros 5 estudos
realizados no Brasil nos estados de Goiânia, Rio de Janeiro e Santa Catarina [23, 24, 44,
100, 136]. O estudo realizado na região Sul [23] demonstrou a mesma freqüência dos
genótipos do VHB que encontramos, sendo o genótipo D o mais freqüente, em seguida o
genótipo A e o menos freqüente o genótipo F. O genótipo D é encontrado, principalmente,
na região do Mediterrâneo, local de uma importante leva de imigrantes que se dirigiram a
região Sul do Brasil, como italianos, espanhóis e portugueses [85, 108]. O genótipo F é
característico da população nativa das Américas, com um aumento desse genótipo na
Argentina [135], o que então não surpreende de ter sido encontrado no estudo em foco.
Na presente análise, o genótipo D foi o mais prevalente no grupo dos pacientes com
hepatite B crônica, indo ao encontro de resultados já publicados [1]. Entretanto um estudo
realizado na Bahia [120] em indivíduos com diagnóstico de hepatite B crônica, demonstrou
que o genótipo mais freqüente foi o A, seguido do genótipo F, contrastando com o resultado
aqui demonstrado.
No estudo em foco, os genótipos B, C, E, G e H não foram encontrados na análise dos
pacientes. Os genótipos B e C são encontrados com maior freqüência no Sudeste da Ásia,
China e Japão [31, 132] e como não avaliamos nenhum paciente com descendência oriental,
ou proveniente dessa região, acreditamos que, por isso, não foram encontrados. Sitnik et al.
[126] publicaram o primeiro estudo que detectou os genótipos B e C no Brasil em uma
população de mais de 100 pacientes. No entanto, todos infectados com os genótipos B ou C
eram de origem asiática. Sumi et al. [132], em uma população de 258 pacientes japoneses
com infecção crônica pelo VHB, revelaram os genótipos C (86%) e B (12%) como os mais
prevalentes, sendo o genótipo A identificado em apenas 11/585 (1,9%) casos. O genótipo E
foi encontrado apenas em algumas regiões da África e ainda não foi identificado em estudos
brasileiros [23, 24, 100, 126, 136]. Stuyver et al. [131] em um estudo pioneiro na
identificação do genótipo G do VHB em uma população de 121 pacientes na França e EUA,
demonstraram a maior prevalência do genótipo A (54%) nesta população seguida pelo D
(19%). Da mesma forma, o genótipo G foi identificado por outros autores na França,
5 Discussão
38
Alemanha e EUA [93, 131]. O genótipo H foi encontrado apenas na região da América
Central [3, 7].
Os subtipos encontrados foram o ayw (60,4%) nos pacientes com genótipo D, adw
(34%) nos com genótipo A e o adw4 (5,4%) nos com genótipo F. Teles et al. [136]
estudando uma população de pacientes em hemodiálise em Goiânia, demostraram o subtipo
adw2 em 44% e ayw3 em 41% dos pacientes subtipados. Os subtipos menos freqüentes
foram o adw4 e ayw2 em 3% da população estudada. A alta prevalência dos subtipos
observada em pacientes em hemodiálise pode estar relacionada à transmissão nosocomial
deste subtipo pelos aparelhos de diálise. Em estudo realizado no estado de Goiânia, em 51
pacientes HBsAg positivos atendidos pela rede pública de saúde, 62,7% foram subtipo
adw2, 23,5% ayw3, 9,8% ayw2 e 3,9% adw4 [125]. Em outro estudo brasileiro, realizado em
mineiros expostos à malária que trabalhavam na região amazônica, se encontrou 59% do
subtipo adw2, 8,1% adw4 e adw3 e 5,4% ayw2 [129].
A relação entre os genótipos e os subtipos dá-se através da seqüência de DNA, já que
tanto a definição dos genótipos quanto a dos subtipos depende dessa seqüência.
A média de idade encontrada no grupo de doentes foi de 46,7 anos, semelhante nos
pacientes com genótipos A e D. A maior média de idade, 48,78 anos, foi encontrado no
genótipo A e a menor média de idade foi encontrada no genótipo F, 35,33 anos. Não foi
encontrado diferença significativa entre as médias das idades, isso provavelmente deve-se
ao fato do estudo abranger um número pequeno de pacientes em cada grupo. Em regiões
onde a infecção crônica pelo VHB é pouco freqüente, como no Estado do Rio Grande do
Sul, a prevalência mais alta foi registrada nos pacientes entre os 20 e os 40 anos de idade
[35].
A maioria dos pacientes genotipados, nesse estudo, foram do gênero masculino
(75,5%), apesar de um maior número de mulheres estarem infectadas com o genótipo A
(37,5%) e de homens com o genótipo D (49,0%), não houve diferença estatística entre o
gênero e os genótipos do VHB. Alguns outros autores, realizando estudos sobre
genotipagem do VHB em pacientes com hepatite B crônica, encontraram o percentual de
pacientes masculinos semelhante ao do presente trabalho, como Sitnik et al. [126] em
estudo brasileiro (76,5%) e Abdo et al. [1] (72,9%), Chu et al. [30] (68%) e Sumi et al. [132]
(75,5%) em estudos internacionais.
A maioria dos pacientes, cujo vírus foi genotipado eram da raça branca (92,5%),
sendo o genótipo D o mais prevalente neste grupo. Contrariamente, nos pacientes de raça
negra, o genótipo A foi detectado em um maior número de casos. Não foi observado, no
entanto, diferença nesses índices. A proporção de brancos e negros do estudo vai ao
encontro dos dados oficiais referentes ao Estado do Rio Grande do Sul, onde revela que
84,5% da população é branca [60]. Carrilho et al. [23] também analisaram a raça dos
5 Discussão
39
pacientes, onde 94% da população estudada, proveniente do estado de Santa Catarina,
eram da raça branca.
No que diz respeito aos fatores de risco, a diálise foi a mais prevalente (38,8%) entre os
pacientes estudados. Sabe-se que os centros de hemodiálise são potenciais transmissores do
VHB por excessiva reutilização do material, métodos ineficientes de esterilização das
membranas e falha em aderir às precauções universais de esterilização. Da mesma forma,
atraso em identificar pacientes infectados com o VHB e conseqüentemente os isolarem em
sala e equipamento específicos (sala amarela), favorecem a transmissão nosocomial [23,
136]. A prevalência da infecção pelo VHB em pacientes com nefropatia submetidos à
hemodiálise pode ser tão elevada quanto 10%, índice este superior aos 2,7% entre os
trabalhadores dos centros de hemodiálise e de 2,7% entre pacientes do grupo controle
estudados por Carrilho et al. [23]. Ainda, esse estudo mostrou que o risco de um paciente
em hemodiálise adquirir o VHB aumenta 1.47 vezes para cada mês de tratamento; 1.96
vezes se os centros dialíticos reutilizam os filtros mais de 10 vezes e para 3.42 vezes se o
número de pacientes por trabalhador do centro é superior a 5.
Deve ser ressaltado que a maior prevalência de pacientes, tendo como fator de risco
a hemodiálise, atende a um viés de seleção, uma vez que houve busca ativa de pacientes a
uma unidade de tratamento de pacientes com insuficiência renal.
A distribuição dos genótipos difere entre os centros de hemodiálise. Assim, Teles et al.
[136] estudando uma população de pacientes em hemodiálise em Goiânia verificaram uma
prevalência similar de pacientes infectados com o genótipo A e com o D (50% x 46%).
Nesse estudo, o genótipo F estava presente em apenas 3,8% dos casos. No entanto em
outro estudo, igualmente nacional, Ferreira et al. [44] demonstraram o genótipo D como o
mais freqüente (61,5%) nos pacientes em hemodiálise. Tal resultado também foi apresentado
por Carrilho et al. [23], em um estudo onde analisaram a freqüência e fatores de risco para a
infecção pelo VHB em 22 centros de hemodiálise em Santa Catarina, onde 57% dos
pacientes em hemodiálise eram igualmente do genótipo D. No estudo aqui realizado,
observamos a presença dos genótipos A e D do VHB.
Alguns estudos internacionais, envolvendo esse mesmo grupo de pacientes,
demonstraram resultados distintos, por exemplo, no México, todos os pacientes eram genótipo
H; na Turquia, todos estavam infectados pelo genótipo D e, na Indonésia, todos os
pacientes eram genótipo B [3, 14, 89].
Apesar de mais de um genótipo ter sido identificado em alguns centros, nenhum
paciente foi infectado com dois genótipos distintos indicando que, provavelmente, uma vez
infectado, o paciente desenvolve resistência à superinfecção por outro genótipo.
5 Discussão
40
Além da hemodiálise, outros fatores de risco foram avaliados no presente estudo
como transmissão sexual, drogas IV, transfusão sangüínea, transmissão vertical, acidentes
de punção e cirurgias.
O segundo fator de risco mais prevalente foi a transmissão sexual 16/67 (23,9%), nesse
grupo, os genótipos D e A do VHB foram encontrados em um mesmo número de pacientes.
Nos três casos em que o fator de risco identificável foi o uso de drogas IV, observamos
que em dois o genótipo do VHB foi o D. Esse dado vai ao encontro do descrito por Alam et al.
[2] e Van Steenbergen et al. [138] como sendo o mesmo o mais freqüente entre usuários de
drogas ilícitas.
A despeito do risco de transmissão do VHB por transfusão ser de 1 a cada 50.000 a
63.000 unidades transfundidas [8], observamos 3 casos, onde o único fator epidemiológico
identificável foi a transfusão. Em todos, o genótipo do VHB foi do tipo A.
Avaliando os pacientes em relação ao padrão sorológico de replicação viral e os
níveis de aminotransferases, os mesmos foram assim divididos: 18/67 (26,9%) HBeAg
positivos e ALT aumentada; 7/67 (10,5%) HBeAg positivos e ALT normal; 27/67 (40,3%)
HBeAg negativos e ALT aumentada (prováveis mutantes pré-core) e 15/67 (22,3%) HBeAg
negativos e ALT normal (prováveis portadores inativos do VHB).
O genótipo D foi o mais prevalente nos pacientes com replicação viral (HBeAg
reagente) e ALT aumentada. No entanto, o estudo realizado em Salvador [120] demostrou que
de 12 casos que estavam em fase de replicação viral, 10 (83%) eram infectados pelo
genótipo A.
Quando consideramos os pacientes HBeAg positivos e ALT normal, verificamos que
71% estavam infectados com o genótipo A. Esse resultado vai ao encontro do estudo
publicado por Ribeiro et al. [120] onde 60% dos pacientes com os mesmos marcadores e
resultados eram genótipo A.
Nos casos de hepatite B crônica com HBeAg não reagente e ALT aumentada, sugerindo
a possibilidade de mutação pré-core, o genótipo D foi o mais prevalente; no entanto
aproximadamente 30% estavam infectados pelo genótipo A. Outro estudo brasileiro
realizado por Castro et al. [24] apontaram que as mutações das regiões do core e pré-core
estavam presentes em apenas 20% dos pacientes infectados com o genótipo A,
significativamente menor que os infectados com o genótipo D. Ribeiro et al. [120] não
evidenciaram pacientes com vírus mutante pré-core. Sitnik et al. [126], também no Brasil,
mostraram que a mutação pré-core estava presente em 88% dos pacientes infectados com
o genótipo D. Resultado semelhante foi descrito por Sumi et al. [132] que demonstraram que
a mutação da região pré-core mais freqüente, foi principalmente encontrada em associação
com o genótipo D.
5 Discussão
41
No grupo de pacientes HBeAg não reagente e ALT normal, em 8 casos (53,3%) o
DNA-VHB foi indetectável, possivelmente porque sendo pacientes “portadores inativos do
VHB” a carga viral estava abaixo do limite de sensibilidade do teste da PCR utilizado (400
cópias/ml). Em 7 dos 8 pacientes, foi detectado o anti-HBe no soro, indicando
soroconversão do HBeAg. No entanto não podemos deixar de considerar que o caso com o
anti-HBe negativo possa de fato não estar infectados com o VHB e o resultado do HBsAg
tenha sido falso-positivo.
Nos 7 casos em que o DNA-VHB foi detectado, 6 estavam infectados pelo genótipo
D e o outro paciente pelo genótipo A. Ribeiro et al. [120] ao estudarem 76 portadores
crônicos do VHB em uma população de Salvador, onde 61 pacientes (80%) eram portadores
inativos, detectaram o genótipo A em 53 casos (70%).
O genótipo F foi encontrado em apenas 3 casos em nosso estudo (5,4%) e em todos
a ALT estava aumentada, sendo que um deles o HBeAg era positivo. O mesmo genótipo
tem sido relacionado a um pior prognóstico com alta freqüência de desenvolvimento de
cirrose e CHC [68].
Dos resultados do presente estudo, a despeito de termos obtido êxito em
implementar uma técnica para determinação dos genótipos e subtipos do VHB, entende-se
necessários estudos prospectivos, com um maior número de casos, para que possamos, no
futuro, conhecer o impacto que a determinação dos genótipos possa proporcionar na
avaliação da evolução das hepatopatias e nas decisões a respeito do manejo terapêutico
dos pacientes com doença hepática crônica relacionada ao VHB.
6 CONCLUSÕES
6 Conclusões
43
6 CONCLUSÕES
1) Foi implementada técnica para avaliar os genótipos e subtipos do VHB em
pacientes com marcadores de infecção crônica, sendo a PCR positiva em 79,1% dos casos,
demonstrando nestes, o sucesso na determinação dos genótipos.
2) Foram encontrados, na população estudada, os genótipos A, D e F, sendo que o
genótipo mais freqüente foi o tipo D, encontrado em 6 0,4% da população genotipada. O
genótipo A foi observado em 34,0% e o F em 5,4%.
3) O genótipo A apresentou somente o subtipo adw, o genótipo D somente o ayw e o
F apenas o subtipo
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D. Hepatology, v. 9, p. 42-50, 2004.
8 ANEXOS
8 ANEXOS
8.1 Protocolo
Data: __/__/__
PROTOCOLO
o
N : ________
Nome do paciente: _______________________________________________________
Idade: ________ anos Sexo: ( ) 1 - Feminino / 2 - Masculino
Data de nascimento: ___ / ___ / ____ Cor: ( ) 1 - Branco / 2 - Negro
Endereço: ______________________________________________________________
_______________________________________________________________________
Cidade: ___________________ Fone: _______________ Celular: ______________
Fatores de risco para infecção pelo VHB:
( ) drogas IV
Data: _________________
( ) sexual
Data: _________________
( ) transfusão sangüínea
Data: _________________
( ) diálise
Data: _________________
( ) transmissão vertical
Data: _________________
( ) acidente de punção
Data: _________________
( ) outros
Data: _________________ Descrição: ________________
Exames:
HBeAg: ___________
ALT: ___________U/L
Biópsia Hepática: ( ) Sim ( ) Não
Avaliação Molecular:
Genótipo VHB: ______________________
Subtipo VHB: _______________________
8.2 Consentimento Pós-Informação
Data: __/__/__
o
CONSENTIMENTO PÓS-INFORMAÇÃO
N : ____
Estamos realizando, neste hospital um trabalho de pesquisa sobre o Vírus da Hepatite B
(VHB) e gostaríamos de saber se o senhor(a) se dispõe a ajudar-nos.
Muitas pessoas são atendidas diariamente, depois de saber que têm o VHB após fazer
exames de laboratório. Elas podem ter-se contaminado através de relações sexuais, uso de
drogas, após ter feito cirurgia ou durante o parto.
Esse vírus pode ser responsável por causar cirrose e câncer de fígado em momentos
diferentes ou ao mesmo tempo. Já se sabe que existem diferentes tipos de vírus, por nós
chamados de genótipos que, através de uma detecção, poderemos saber quais os tipos de vírus
da Hepatite B existem na cidade de Porto Alegre – RS, qual é o tipo mais agressivo, qual favorece
as pessoas adoecerem mais rápido e quais pessoas responderam melhor ao tratamento.
Muitos estudos estão sendo feitos por todo o mundo, mas muito poucos em nossa região,
por isso estamos realizando esse trabalho.
Para colaborar conosco, você terá que responder poucas perguntas e coletar sangue como
você sempre fez nos exames de rotina. Com esse estudo, o senhor(a) saberá o tipo (genótipo),
subtipo. As informações referentes aos resultados encontrados neste estudo, seu nome e outros
dados pessoais serão mantidos em absoluto segredo.
A sua decisão em participar ou não desta pesquisa não irá influenciar de forma nenhuma na
qualidade do atendimento oferecida pela equipe médica deste hospital, e serão realizados os
exames laboratoriais usuais. Essa pesquisa não terá nenhum custo extra a você.
Caso queira retirar-se do estudo, estará livre para fazê-lo em qualquer momento que
desejar. Se tiver alguma dúvida em relação à pesquisa, por favor, entre em contato para que
possamos explicá-la.
PESQUISADOR
Endereço: Rua Felipe Nery 253/303 – POA
RS - CEP: 90440-150 Fone: 51 99997240
Assinatura do Paciente
Assinatura do Pesquisador
8.3 Dados e Resultados dos Pacientes Analisados
ID
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
14.
15.
16.
17.
18.
19.
20.
21.
22.
23.
24.
25.
26.
27.
28.
29.
30.
31.
32.
33.
34.
35.
36.
37.
38.
39.
40.
41.
42.
ASM
PGM
JONL
SIB
AAB
EAS
CRPS
LMO
COC
LGAM
CUMG
AMG
LH
CJ
MS
LCPM
NMLA
JRT
LCG
NG
AS
AATN
JAS
RSF
IP
ALSR
CFCZ
LAP
LCG
RNMS
AC
EMDS
JJH
JBB
RCC
JS
EMSA
RMB
ARB
LGB
MT
AMO
Genótipo
D
F
D
D
D
D
Indetectável
D
A
D
D
D
D
D
A
Indetectável
D
A
D
D
D
A
D
A
D
A
D
Indetectável
D
A
D
F
D
Indetectável
Indetectável
A
A
D
A
D
A
A
Subtipo
ayw
adw4
ayw
ayw
ayw
ayw
Indetectável
ayw
adw
ayw
ayw
ayw
aym
ayw
adw
Indetectável
ayw
adw
ayw
ayw
ayw
adw
ayw
adw
ayw
adw
ayw
Indetectável
ayw
adw
ayw
adw4
ayw
Indetectável
Indetectável
adw
adw
ayw
adw
ayw
adw
adw
I
34
38
38
52
56
34
44
50
61
44
79
43
53
40
25
51
47
27
57
45
61
73
44
38
55
40
38
51
62
36
46
35
23
54
33
52
34
44
75
48
57
62
S
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
1
2
2
1
2
1
1
1
2
2
2
2
2
1
2
1
2
2
1
1
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
1
C
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
2
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
2
1
2
1
1
1
1
1
1
FR
1
1
2
4
6
4
4
4
4
4
7
7
7
2
3
4
5
2
4
4
4
3
2
2
7
2
7
2
7
5
2
6
5
4
4
4
4
4
4
1
4
2
ALT
53
49
46
101
114
51
17
45
15
58
29
18
15
55
22
44
26
72
124
52
108
114
15
58
60
52
51
52
72
72
145
52
95
25
8
47
45
71
43
158
53
30
HBeAg
1
1
0
1
0
0
0
0
1
0
1
0
0
1
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0
0
0
1
0
1
1
0
1
0
0
0
0
0
1
1
0
0
0
0
1
0
1
0
0
0
1
Cont. tabela
ID
43.
44.
45.
46.
47.
48.
49.
50.
51.
52.
53.
54.
55.
56.
57.
58.
59.
60.
61.
62.
63.
64.
65.
66.
67.
PLR
ABS
GJS
FJB
MPSR
PVP
FLP
APH
OBR
LSA
MHL
DVR
ZC
AP
CAPR
CCM
RJ
BH
ALV
HG
CJ
AC
RB
LC
TJ
Genótipo
A
D
A
A
Indetectável
A
D
Indetectável
Indetectável
Indetectável
A
Indetectável
D
A
Indetectável
Indetectável
D
Indetectável
D
Indetectável
D
D
D
F
D
Subtipo
adw
ayw
adw
adw
Indetectável
adw
ayw
Indetectável
Indetectável
Indetectável
adw
Indetectável
ayw
adw
Indetectável
Indetectável
ayw
Indetectável
ayw
Indetectável
ayw
ayw
ayw
adw4
ayw
LEGENDA:
I (Idade) = em anos
S (Sexo) = 1 - Feminino / 2 - Masculino
C (Cor) = 1 - Branco / 2 - Negro
FR (Fatores de Risco) = 1, 2, 3, 4, 5, 6 ou 7
1 - drogas IV
2 - sexual
3 - transfusão sangüínea
4 - diálise
5 - transmissão vertical
6 - acidente de punção
7 - outros (cirurgias e causas desconhecidas)
ALT = em U/L
HBeAg = 1 - reagente / 0 - não reagente
I
40
37
70
72
65
47
43
56
60
48
37
53
35
32
26
32
58
46
41
43
40
33
72
33
33
S
1
2
2
2
1
2
2
2
2
1
1
2
1
2
2
1
2
2
2
2
2
2
2
2
2
C
1
1
2
1
1
1
1
1
1
1
2
1
1
1
1
2
1
1
1
1
1
1
1
1
2
FR
7
2
4
4
4
2
7
7
2
7
3
4
4
2
2
2
7
4
4
4
2
4
7
7
7
ALT
20
18
13
49
15
34
28
57
9
867
60
42
66
41
34
26
28
28
65
79
112
129
43
52
211
HBeAg
1
1
1
0
0
0
0
0
0
1
0
1
1
0
0
0
0
0
1
1
1
0
0
0
0
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