UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE ARTES VISUAIS – LICENCIATURA JULIANA MIZIESKI MENDES A MÚSICA VAI À ESCOLA: DIFERENTES OLHARES DOS PROFESSORES DO 1º AO 5º ANO DO MUNICÍPIO DE IÇARA/SC SOBRE O ENSINO DE MÚSICA NAS AULAS DE ARTE CRICIÚMA, DEZEMBRO DE 2009 JULIANA MIZIESKI MENDES A MÚSICA VAI À ESCOLA: DIFERENTES OLHARES DOS PROFESSORES DO 1º AO 5º ANO DO MUNICÍPIO DE IÇARA/SC SOBRE O ENSINO DE MÚSICA NAS AULAS DE ARTE Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Artes Visuais da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC, para a obtenção do título de licenciada em Artes Visuais Orientador: Prof. Esp. Marcelo Feldhaus CRICIÚMA, DEZEMBRO DE 2009 JULIANA MIZIESKI MENDES A MÚSICA VAI À ESCOLA: DIFERENTES OLHARES DOS PROFESSORES DO 1º AO 5º ANO DO MUNICÍPIO DE IÇARA/SC SOBRE O ENSINO DE MÚSICA NAS AULAS DE ARTE Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Artes Visuais da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC, para a obtenção do título de licenciada em Artes Visuais Criciúma, 09 de dezembro de 2009 BANCA EXAMINADORA Prof. Marcelo Feldhaus – Especialista – (UNESC) Orientador Prof. Édina Regina Baumer – Mestre – (UNESC) Prof. Lourdete Gonçalves Nunes – Especialista – (UNESC) Dedico essa pesquisa aos meus pais e irmão que sempre me incentivaram a buscar novos horizontes, descobrir e desvelar caminhos. Á todos que contribuíram direta para a ou indiretamente conclusão deste trabalho. “Existe muitas maneiras de fazer música. Eu prefiro todas”! (Gilberto Gil). AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar agradeço a Deus por estar do meu lado, iluminando e apontando caminhos nos momentos de incertezas. Aos meus pais, Januário Mendes e Inês M Mendes pelo incentivo em todos os momentos difíceis e ao meu irmão, Lucas M Mendes que sempre esteve do meu lado. A todos os professores do Curso de Artes Visuais. As minhas queridas amigas Amanda e Sinara que durante esses quatro anos não mediram esforços para me acompanhar e dividir angústias e alegrias, a vocês compartilho minha conquista. Ao meu orientador Marcelo Feldhaus, pelo auxilio e acompanhamento na construção desta pesquisa. Por fim, a todos os professores que participaram desta investigação, respondendo ao questionário aplicado possibilitando assim uma maior compreensão da realidade. À todos o meu muito obrigado! “Tendo-se por meta uma Educação Musical significativa, que possibilite o acesso de todos os indivíduos à linguagem musical, acreditando-se que somente aquele que possui o conhecimento estará em condições de compreender o mundo e os signos a sua volta, de estudar e interferir naquilo que ouve [...]”. (PILLOTTO E SCHRAMM, 2001, p. 96) RESUMO O presente trabalho contempla o tema: A música vai á escola: diferentes olhares dos professores do 1ª ao 5º ano do município de Içara/SC sobre o ensino de música nas aulas de arte. O desafio traçado caminha na busca de respostas para a seguinte questão: Como os professores de arte estão ou não trabalhando a linguagem musical do 1º ao 5º ano na rede municipal de Içara/SC? Para tanto busco estabelecer alguns parâmetros dialogando sobre a história do ensino da Arte, da Música e sua presença na escola enquanto possibilidade de investigação. Dialogo com a alteração do art. 26 da Lei nº 9.394 que estabelece o ensino de música como componente curricular obrigatório, desafiando muitas escolas, professores e perspectivas de currículos já consolidados e instituídos historicamente. O trabalho apresentado aborda uma linguagem qualitativa contemplando a pesquisa de campo com a aplicação de questionário aos professores de Arte das séries citadas acima. Contudo percebe-se com este trabalho a real necessidade de uma formação continuada e um maior envolvimento dos professores de arte em aprender e ensinar as possibilidades oferecidas pela linguagem musical. Comungo da perspectiva de que devemos ampliar nosso olhar para um ensino de arte que tenha fundamentação, problematização, relação com o cotidiano e que contemple um maior número de linguagens transformando olhares e ampliando a formação estética dos sujeitos envolvidos. Palavras-chave: Música. Ensino da Arte. Construção do olhar. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ACT - Admitido em caráter temporário CD - Disco compacto DB - Decibéis FAEB - Federação das Associações de Arte - Educação do Brasil LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação MPB – Música Popular Brasileira PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais TCC - Trabalho de Conclusão de Curso TV - Televisão UNESC – Universidade do Estremo Sul Catarinense SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................11 2 LÁ VAI A ARTE NA EDUCAÇÂO: encontros e (des)encontros entre a prática e a formação estética .................................................................................................14 2.1 Arte na escola: percurso histórico.....................................................................14 2.2 A formação do professor de arte: que ensino de arte temos? Que ensino de arte queremos? .........................................................................................................18 2.2.1 A arte e as diferentes linguagens: o aluno e as diferentes possibilidades de formação estética ......................................................................................................22 3 CONSTRUINDO UMA SINFONIA: PENSANDO A MÚSICA NA ESCOLA.......... 25 3.1 A música no Brasil: multiculturalidade de vertentes e tendências....................25 3.2 A música: elemento de expressão, comunicação e Arte..................................32 3.2.1 A música na escola: formando ouvintes mais atentos...................................35 5 METODOLOGIA: DESVELANDO CAMINHOS......................................................41 6 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS: LENDO E COMPONDO PARTITURAS............................................................................................................43 7 PROJETO DE FORNAÇÃO CONTINUADA: na Linguagem Musical para professores de Arte..................................................................................................52 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................56 REFERÊNCIAS..........................................................................................................59 APÊNDICE.................................................................................................................61 APÊNDICE 01 - Questionário aplicado aos professores de arte do município de Içara/SC.....................................................................................................................62 11 1 INTRODUÇÃO Desde minha infância morei no município de Içara. Meus estudos do ensino fundamental e médio aconteceram em escolas próximas a minha casa. Quando me formei no ensino médio tinha certeza que queria fazer uma faculdade, porém como acontece com muitos adolescentes ao concluir esta etapa algumas dúvidas vieram em minha cabeça, foi quando, por influências de amigos, ingressei no Curso de Tecnologia em Cerâmica, porém já na primeira fase percebi que não era o que eu queria. Sempre me identifiquei com Arte, e durante minha trajetória escolar sempre sonhei em conhecer e me apropriar mais sobre essa área do conhecimento, por isso desisti da faculdade de Tecnologia em Cerâmica e me desafiei em um novo curso. Hoje aproximando-se do fim dessa etapa, tenho certeza que fiz a escolha certa, uma vez que compreendo a seriedade e a necessidade de comungarmos de um Ensino de Arte comprometido com a formação estética de cada sujeito. Em minha experiência enquanto acadêmica, tive contato com algumas linguagens artísticas, em especial o Teatro, o qual sempre percebi em sintonia com a Música – linguagens que interagem a todo momento e muito presentes no cotidiano das pessoas. Unindo o gosto e a familiaridade com a música e dialogando com a alteração do art. 26 da Lei nº 9.394: Diretrizes e Bases da Educação, que dispõe sobre a obrigatoriedade do ensino da música na educação básica, isso é, torna obrigatório o ensino de música dentro da área de artes em todas as escolas do país, muitas dúvidas surgiram em minha mente, fazendo-me questionar: qual o espaço ocupado pela música dentro das escolas? A música é entendida nesses espaços como linguagem artística que contribuiu significativamente na formação estética dos sujeitos? Outras questões também são apontadas: Os professores de arte da rede municipal de Içara estão trabalhando a música nas aulas de Artes? É possível trabalhar a música na disciplina de Artes Visuais? Quais as dificuldades encontradas pelos professores de Artes Visuais ao trabalhar a música? Partindo destas questões proponho como problema de minha pesquisa, uma investigação sobre como os professores de Artes estão trabalhando a linguagem musical do primeiro ao quinto ano na rede municipal de ensino de Içara/SC? 12 Desta forma a pesquisa teve como objetivo geral perceber se está ou não sendo desenvolvida um proposta que contemple o ensino da música enquanto linguagem artística nas turmas de primeiro ao quinto ano do ensino fundamental na rede municipal de ensino de Içara. Para tanto tracei como objetivos específicos a realização de pesquisa com os professores de artes da rede municipal de Içara referente ao ensino de música. Observação e reflexão sobre como a linguagem musical está ou não inserida nas escolas. Identificação das possíveis dificuldades encontradas pelos professores ao trabalharem propostas que contemplem o ensino de música e a reflexão sobre as possibilidades para a discussão e vivências da música enquanto processo de aprendizagem em Arte nos espaços escolares. Cabe ressaltar que o âmbito das discussões aqui apresentadas não é evidenciar a prática da polivalência em arte, mais sim discutir sobre que espaços, saberes são necessários para priorizar o contato dos alunos com as múltiplas linguagens na Arte. Meu trabalho será desenvolvido em cinco capítulos. Primeiramente proponho uma séries de discussões sobre a história do ensino de arte no Brasil, bem como a formação de professores de arte e as múltiplas linguagens, enquanto possibilidade de construção do conhecimento, necessárias ao desenvolvimento global de cada sujeito. Em seguida desenvolvo um capítulo destinado a Música, foco central deste trabalho na qual estabeleço algumas reflexões sobre a história da música, suas especificidades e a presença da música na escola. No capítulo seguinte apresento a metodologia de minha pesquisa. Aponto que a forma de abordagem apresentada nesta pesquisa é em uma perspectiva qualitativa descritiva, pois analisa e dialoga com os fatos colhidos durante a realização da mesma. Em seguida realizo a transcrição dos dados da pesquisa que é dialogada com seis professores da rede municipal de ensino do município de Içara/SC e que trabalham com a disciplina de Artes. O trabalho segue com as considerações finais onde faço uma análise dos dados colhidos pela pesquisa apresentando questionamentos e propondo alguns caminhos para reflexão e apropriação em relação à linguagem musical. Tenho a certeza de que esta pesquisa pode contribuir para uma reflexão mais profunda acerca do ensino da Arte no município de Içara/SC, bem como em toda a região sul do estado, fazendo com que os professores, autoridades competentes, 13 pesquisadores e estudiosos em Arte possam repensar a maneira de fazer Arte na sala de aula, buscando sempre “promover o desenvolvimento cultural e [estético] dos alunos” (LDB 5.394/96, Título V, Cap. II, Art. 26, 2º). 14 2 LÁ VAI A ARTE NA EDUCAÇÃO: encontros e (des)encontros entre a prática e a formação estética Lá vai o trem com o menino Lá vai a vida a rodar Lá vai ciranda e destino Cidade e noite a girar Lá vai o trem sem destino Pro dia novo encontrar. Heitor Villa-Lobos 2.1 A arte na escola: percurso histórico Quando falamos sobre o ensino da arte no Brasil estamos nos referindo a uma grande parte da história que poucas pessoas conhecem. E através dessa história podemos entender a luta que era enfrentada pelos professores, o que até hoje permanece. Em 1841 ocorreu a oficialização do ensino de música no Brasil quando foi criado o Conservatório de Música do Rio de Janeiro. Porém sua concretização aconteceu por causa do surgimento da Escola de Música da Universidade Federal no Rio de Janeiro. A escola/educação no Brasil nesse período passa a ser vista como uma preparação para a indústria, pois o desenvolvimento da Revolução Industrial e a abolição da escravatura valorizaram os trabalhos manuais. Já em 1890 o desenho geométrico é inserido no ensino para atender aos positivistas, pois o desenho era orientado pela cópia, segundo a Proposta Curricular de Santa Catarina (1998). O século XX é marcado pelo ensino de desenho técnico, onde o homem é considerado um produto, pois o interesse era de produzir indivíduos competentes para o mercado de trabalho. As autoras Pillotto e Schramm (2001, p. 29) trazem que: A prática escolar nessa pedagogia tem como função especial adequar o sistema educacional com a proposta econômica e política do regime militar, preparando, dessa forma, mão-de-obra para ser aproveitada pelo mercado de trabalho. 15 A partir de 1920 a educação artística passou por uma transformação e a criança começa a ser vista como um sujeito com características próprias, conforme a Proposta Curricular de Santa Catarina (1998). Desta forma é necessária uma investigação antes de definir os objetivos e métodos pedagógicos essenciais para aplicação dessa técnica pedagógica. Em 1922 surgem movimentos como fauvismo, expressionismo e com isso um novo olhar na produção artística infantil. Esse novo olhar era o da livre-expressão para a criança, em sua produção. Nesse momento Anita Malfatti e Mário de Andrade adquiriram uma ligação forte com esse novo olhar sobre o espontaneísmo infantil em suas produções. Na década de 30 surgiu a Escola Nova, onde discutiu-se a inclusão da arte na escola, não como disciplina, mas como forma de expressão. A Proposta Curricular de Santa Catarina (1998, p. 192) diz que “é desse período a introdução do ensino da música na escola regular, que usava o método do canto orfeônico idealizado por Heitor Villa – Lobos”. Devido a aproximação ao canto orfeônico foi introduzido a Educação Musical, onde utilizava-se de experimentação, improvisação e criação com sons no processo de ensino e aprendizagem. Em 1948 criou-se uma educação através da arte, ou seja, surge no Brasil o movimento das Escolinhas de Arte que tinha como finalidade de promover a capacidade criadora da criança e seu desenvolvimento estético. Em seguida, devido as grandes mudanças que estavam acontecendo na educação por volta dos anos 50 foi criada, no Brasil, a Escola de Arte Dramática, pois anteriormente esse tipo de atividade era informal, conforme a Proposta Curricular de Santa Catarina (1998). Em 1971 a Lei 5.692/71 exigiu o ensino de educação artística da 5ª série do 1ª grau a 3ª série do 2ª grau (ensino fundamental e médio). Educação artística foi o nome atribuído a disciplina que abordava as linguagens cênicas (teatro e dança), plástica e musical. Essa Lei determinou a obrigatoriedade da atividade educativa no ensino de arte, onde surge num período autoritário durante a ditadura militar. O surgimento dessa Lei faz surgir um novo problema: os professores de arte que existiam eram os formados pelas escolinhas de arte e não eram preparados para serem professores de arte. Desta forma foram criados os cursos de licenciatura que tinham algumas dificuldades: a maior era a formação de professores polivalentes, ou seja, esses professores poderiam ministrar aulas de artes plásticas, artes cênicas e música tendo que entender as formas de aprendizagem e 16 conhecimento em cada linguagem. Depois de alguns anos com esse tipo de formação polivalente o fracasso é comprovado, pois é raro um professor ter domínio das várias linguagens artísticas se pensarmos nas grades curriculares dos cursos de formação universitária. Desta forma referencio a Proposta Curricular de Santa Catarina (1998, p. 192) que aponta: Surge uma contradição com as políticas implementadas pelas instituições responsáveis pelo ensino público, pois enquanto as universidades formam professores especializados em cada linguagem artística, o ensino público demanda professores polivalentes que trabalhem simultaneamente com todas as artes. A demanda é uma dispersão na prática pedagógica, que poderia ser sanada a partir de uma prática integrada de professores de diferentes artes (interdisciplinaridade). Se a realidade educacional atual não permite a prática interdisciplinar em arte, é mais coerente que o professor concentre o seu campo de conteúdos a partir da área de formação, apenas transitando de forma cuidadosa e segura nas outras linguagens artística, para não fazer de suas aulas meras tentativas superficiais, sem um aprofundamento consistente. Este novo rumo tomado pela arte fez a disciplina de desenho geométrico e educação musical sair do currículo. A música agora era ensinada em algumas escolas de maneira solitária e tinham acesso também alguns poucos que tinham condições financeiras de ter aulas particulares, novamente elitizando o processo e o acesso as diferentes linguagens da Arte. A autora Silva (2006, p. 42) destaca que: A arte durante muito tempo, foi considerada um espaço para ser freqüentada apenas por alguns seres considerados especiais, já que somente eles possuíam aquele dom. Hoje, sabemos que, ao se desenvolver determinadas capacidades adormecidas e julgadas de domínio de apenas alguns, estaremos potencializando o aluno, possibilitando a sua formação integral. A compreensão de arte como possibilitando a sua formação integral. A compreensão de arte como possibilidade de todos, a valorização de seu conteúdo e de uma metodologia que proporcione a vivência de diferentes linguagens expressivas, complementará a sua formação que não pode continuar a ser baseada, unicamente, no ensino verbal, lógico e racional a ser baseada, unicamente, no ensino verbal, lógico e racional. Torna-se necessário permitir a experiência não-verbal, intuitiva e perceptiva para proporcionar á instrumentalização necessária que garantirá a promoção do aluno como ser criativo e empreendedor, capaz de aprender pensando e sentindo. Estas novas mudanças no campo das Artes em contraponto com a formação dos professores e as transformações da educação brasileira tornou o ensino tecnicista, isto é, técnica pela técnica. Por causa disso os professores estavam confusos com o rumo da arte e começaram a perceber que o importante era se 17 juntarem para tentar mudar o que estava acontecendo. Mas ainda hoje, mesmo sabendo que a arte é uma disciplina muito importante, ainda temos grandes reflexos da visão tecnicista, pois muitos professores ainda compreendem a arte como a técnica pela técnica e como fazer sem reflexão. Desta forma, preocupados com esses problemas, ainda na década de 70 surge um movimento denominado ArteEducação para tentar resolver esses problemas. Na década de 80 os professores criam a Federação das Associações de ArteEducadores do Brasil – FAEB, para discutir o ensino da arte e melhorar a qualidade. A busca por uma educação qualificada é permanente e acontece até nos dias de hoje, pois nunca devemos desistir de um ensino de qualidade. Nos anos 90 é discutida novamente a permanência da disciplina de arte ou a retirada dela, mas devido aos movimentos dos professores é criada a Lei 9.394 que dá obrigatoriedade da disciplina em todos os níveis de ensino. Assim podemos perceber que muito já se lutou pelo ensino da arte e sabemos que podemos melhorar ainda mais a partir de perspectivas contemporâneas pautadas na seriedade, comprometimento e fundamentação de propostas bem alicerçadas e adequadas ao nosso contexto. A Proposta Curricular de Santa Catarina (1998, p. 193) coloca que: Paralelamente a toda essa questão, avançou-se em termos teóricometodológicos em se tratando do ensino da arte. Cursos em nível de PósGraduação (Especialização, mestrado e Doutorado) sobre a arte e seu ensino crescem no Brasil. Ainda não é o suficiente; porém, tem-se um número crescente de pessoas refletindo sobre a arte e seu ensino. Duas grandes tendências, que não são excludentes, têm sido motivo de reflexões e geradoras de bons resultados: de um lado, uma que trata da estética do cotidiano, como forma de melhor apreensão da realidade através da alfabetização estética; de outro lado, uma postura pedagógica comprometida com a visão de que o objetivo artístico deva ser apreendido dentro de um contexto histórico-cultural, onde a leitura, a produção artística e a contextualização são áreas de conhecimento que fundamentam a compreensão histórico-cultural dos alunos. Ainda na década de 90, Ana Mei Barbosa apresenta a Proposta Triangular de Ensino e da ênfase a três ações básicas: ler obra de arte, fazer arte e contextualizar a arte. A leitura da obra de arte, além de informar faz, o indivíduo fazer uma leitura do mundo que vive. A autora Silva (2006, p. 45) aponta: 18 A leitura da obra de arte envolve diretamente o aspecto da fruição da obra de arte. Para isso é preciso que as escolas propiciem a ida dos alunos à exposição, a espetáculos teatrais e concertos musicais e, por que não, a feiras populares. Afinal, um outro aspecto importantíssimo no ensino da arte é a oportunidade de incluir os excluídos, mostrando aos alunos que arte é apenas aquilo que é reconhecido como tal pela classe dominante. O fazer arte agora vem junto com a contextualização, pois o fazer artístico desenvolve a imaginação, a percepção e a criatividade, onde também é necessário para se apropriar do instante que a obra foi produzida. A partir da Proposta Triangular que é baseada em ações continuamente interligadas, isso é, nas atividades de releitura das obras de arte que muitas vezes é tratada como realização de cópia das obras. Esse é só um exemplo, da Proposta Triangular em Artes Visuais, pois ela tem influência em outras áreas também de artes. Hoje infelizmente ainda encontramos professores que trabalham com todas as linguagens da Arte sem ter muita fundamentação consistente que possa levar para o aluno um bom aprendizado. O professor de Artes tem que saber que ele é um mediador entre o conhecimento e o aluno, por isso tem que ter idéias inovadoras para transformar a imagem do professor de Artes nos dias de hoje. Contudo, não podemos negar que para compreender o presente, é preciso entender o passado, pois a compreensão da história possibilita uma ação transformadora no ensino da Arte. Sendo assim o professor de arte é um eterno aprendiz. Sabemos que o Ensino da Arte precisa avançar muito ainda em busca de novas metodologias de ensino, mas para isso acontecer o trabalho deve ser dos professores, órgãos governamentais, alunos e da própria comunidade, pois unidos buscaremos conquistar uma educação melhor. 2.2 A formação do professor de arte: que ensino de arte temos? Que ensino de arte queremos? A formação de professores de Arte no Brasil se deu com o surgimento dos Cursos de Educação Artística na década de 1970; mais precisamente as discussões amadureceram com o surgimento da Lei 5692/71 que inclui a atividade de Educação 19 Artística no currículo escolar. Passamos a ter no cotidiano das escolas professores com cursos de licenciaturas curtas para atender a demanda, porém muitas eram as lacunas que se abriram nesse processo de formação. A autora Barbosa (2003, p. 155) afirma: Na década de 1980, o fracasso dessas licenciaturas curtas e da própria polivalência foi amplamente discutida pelos professores em seus encontros e associações e os cursos buscaram reformular seus currículos se adequando ás demandas daquele momento. Os cursos de licenciatura em Artes no Brasil vêm, ao longo de sua curta história, caminhando a reboque das políticas educacionais implantadas, tentando conjugar estas exigências com as necessidades dos professores. Hoje os cursos de graduação aprofundam o processo de ensinoaprendizagem em uma das linguagens e pincela as outras, o que faz os professores não ter o aprofundamento teórico necessário. Por isso que é tão importante para os professores o aperfeiçoamento e a qualificação continuada na área de artes. A autora Barbosa (2003, p. 158) traz que: As instituições responsáveis pela educação nas várias instâncias (federais, estaduais e municipais) vêm desenvolvendo sistematicamente programas de formação contínua para os seus professores. Entretanto, nem sempre o professor tem sido o alvo dos objetivos finais desses programas que acabam servindo como espaço para divulgação de uma nova proposta ou orientação. Do professor exigem um posicionamento ou adesão perante esses novos programas políticos/educacionais. A estas exigências somamse outras tantas de caráter burocrático que reforçam as pressões institucionais sobre os docentes. Então, a resistência a este esquema tem sido a resposta imediata do profissional que não sentindo-se amparado em suas reais necessidades não se deixa impregnar pelas propostas. Seria interessante que os investimentos neste setor procurassem auscultar as demandas concretas do professor em seu cotidiano escolar. O professor precisa ter um bom conhecimento para poder ter segurança quando for dar aula. Por isso trago a autora Barbosa (2003, p. 157) que coloca: A formação do professor de Arte tem, portanto, este caráter peculiar de lidar com as complexas questões da produção, da apreciação e da reflexão do próprio sujeito, o futuro professor, e das transposições das suas experiências com a Arte para a sala de aula com seus alunos. Além dessa peculiaridade inerente ao objeto do conhecimento, é preciso, também, propiciar situações para que o futuro professor possa conhecer os outros sujeitos do processo: as crianças, os jovens, seus alunos. Entender como crescem e se relacionam com o meio social e cultural. Como estabelecem a comunicação e como desenvolvem as linguagens e as expressões. Em fim, como aprendem? 20 Concordo com a autora acima e acrescento que para uma boa trajetória em sua prática pedagógica o professor de arte precisa ter confiança em si mesmo e depois precisa experimentar, ousar, planejar, rever e refazer. Ainda é muito comum percebermos professores que ficam com medo de sair do tradicional por achar que irá ser julgado por outros professores. Comungo da idéia que experimentar é a melhor forma de saber se vai dar certo ou não. O planejamento bem articulado a uma proposta que percebe o aluno enquanto sujeito ativo e o conhecimento enquanto possibilidade e necessidade de constituição desse sujeito. A arte não se resume em só fazer artístico, mas sim saberes que tenham significado para vida do aluno. Os autores Oliveira e Hernández (2005, p. 67) afirmam: Com base nessa ótica, a arte deve ser entendida como uma área do conhecimento humano, com uma linguagem própria, com objetivos claros, com domínio dos saberes pedagógicos e com domínio dos saberes disciplinares. Isso significa conteúdos que se sustentem, que tenham vida própria, contextualizados. Também significa entender a arte não mais como suporte/cabide para outras disciplinas e, muito menos, executada somente a partir do fazer artístico. Ela precisa existir articulando saberes que tenham significado para a vida do nosso aluno e isso precisa estar claro nos nossos planejamentos escolares. Somente a intenção não basta, a ação precisa ser visível e acontecer realmente como prática pedagógica. As universidades devem trabalhar com o futuro professor a questão do planejamento, pois assim se tornará mais seguro quando for dar suas aulas. O professor depois de formado deve ter uma formação continuada e lembrar sempre que o mundo não para de se transformar e as mudanças irão ser constantes e necessárias. Porém para isso é preciso sair da rotina. A autora Barbosa (2003, p. 158-159) destaca que: O professor precisa de tempo e de recursos para pesquisar. O professor de Arte precisa sair da sala de aula e interagir com os espaços culturais, museus, bibliotecas e outras instituições que produzem e veiculam os bens culturais. Precisa buscar o conhecimento junto com seus alunos aonde ele se encontra, ao incluir em seu programa de trabalho uma visita a um espaço cultural, por exemplo, o professor precisa se deslocar várias vezes ao local para preparar o encontro. Precisa ter acesso a outras fontes de informação que complementem e ampliem o universo tratado para que a oportunidade não se restrinja a um simples passeio ou a uma simples apreciação. Mas que possa ser problematizada e desdobrada em outras tantas atividade que gerem outros conhecimentos. O trabalho do professor de artes não deve ficar só na escola, mas sim sair e ir até a própria comunidade, e também em outros espaços. Com isso os alunos 21 perceberão que a arte não está apenas dentro de um currículo escolar, distante de sua realidade, mas sim que a mesma faz parte de nossa construção histórica e é indispensável para nossa formação estética e cultural. Dessa forma volto a pontuar a importância dos professores continuarem seu aperfeiçoamento com formações continuadas, ou seja, perceber-se enquanto sujeito pesquisador, reflexivo que acima de tudo goste do que faz, motivador de uma boa prática. Nesse sentido a autora Barbosa (2003, p. 55) destaca: Professores pesquisadores capazes de trabalhar em projetos inter ou transdisciplinares, não só com o olhar voltado para a linguagem da Arte, mas para a história, o meio ambiente, a linguagem verbal, os avanços da ciência e da tecnologia, porque tudo está no mundo contemporâneo. Por isso é preciso pesquisar mais a linguagem artística com a qual cada um trabalha, porque os ganchos freqüentemente vão ser buscados a partir dela própria, em mergulhos para além da superficialidade, sem esquecer sua abrangência e amplitude. O professor deve ser capacitado em Arte e consiga assim um melhor entendimento dos próprios alunos construindo um ensino de arte que vá ao encontro do que almejamos e é pontuado em lei. Os autores Oliveira e Hernández (2005, p. 217) destacam: Os estudantes têm o direito de contar com professores que estudam e saibam arte vinculada á vida pessoal, regional, nacional e internacional. Ao mesmo tempo, o professor de Artes precisa saber o alcance de sua ação profissional, ou seja, saber que pode trabalhar para que seus alunos também construam uma cultura estética e artística que expresse com clareza a sua vida na sociedade. O professor de Arte é um dos responsáveis pelo sucesso desse processo transformador ao ajudar os alunos a melhorarem suas sensibilidades e saberes práticos e teóricos em arte. Encontrar uma maneira de organizar o trabalho de educação escolar que contribua nesse rumo é um desafio que o coletivo dos professores compromissados em conseguir escolas de melhor qualidade para toda a população enfrentar. Contudo sabemos que devemos estar sempre em busca de melhoria e a formação constante do professor é fundamental, pois só assim poderemos construir um ensino mais humano e perceptível as questões estéticas. É preciso acreditar sim, em uma educação de qualidade para todos, não esquecendo que tudo se inicia partindo do pressuposto que é indispensável uma formação de qualidade para os nossos profissionais na área da educação. 22 2.2.1 A arte e as diferentes linguagens: o aluno e as diferentes possibilidades de formação estética A arte ainda hoje enfrenta algumas barreiras em seu caminho, pois muitas vezes é considerada uma perda de tempo ou uma disciplina que não proporciona conhecimento. Porém, cabe a nós, futuros educadores mostrar que a arte gera conhecimento e desenvolve o pensamento artístico e a reflexão estética nos alunos. Quando falamos de Arte nos deparamos com uma grande variação de linguagens que podem e devem ser vivenciadas pelos sujeitos em seu processo de apropriação estética. Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte afirmam: O ensino e a aprendizagem de conteúdos que colaborem para a formação do cidadão, buscando igualdade de participação e compreensão sobre a produção nacional e internacional de arte. A seleção e a ordenação de conteúdos gerais de Arte têm como pressupostos a clarificação de alguns critérios, que também encaminham a elaboração dos conteúdos de Artes Visuais, Música, Teatro e Dança e, no conjunto, procuram promover a formação artística e estética do aprendiz e a sua participação na sociedade (2000, p. 55). A partir disso o aluno irá desenvolver ao longo de seu estudo o conhecimento artístico e estético, seja com exercícios, por meio de formas artísticas ou contato com a própria obra. O aluno deve ter a oportunidade de trabalhar as linguagens que a arte proporciona, mas de uma maneira que ele possa entender estas linguagens claramente construindo o conhecimento científico e sensível. A Proposta Curricular de Santa Catarina (1998, p. 194) aponta que: Os conteúdos a serem abordados deverão contemplar uma postura interdisciplinar e devem corresponder às linguagens visuais, cênica e musical. Isto significa dizer que o professor de arte terá como ponto de partida, no seu planejamento, a linguagem especifica de sua formação. Entretanto, as outras linguagens enriquecem as possibilidades de criação e produção. Contudo, ao transitar por outras linguagens, o professor necessitará selecionar os conteúdos de maneira sensata, para que eles não fiquem fragmentados e distantes do objetivo de estudo, evitando, assim, um encaminhamento polivalente ao invés de interdisciplinar. Isto significa que o professor tem que ressignificar e reconstruir seu conhecimento constantemente, pois só assim as linguagens artísticas poderão ser 23 trabalhadas de maneira adequada e com um professor que irá ter habilidades técnicas e que participe de todo processo artístico ativamente. Lembrando que não estou enfatizando a idéia de polivalência, mas sim de propiciar ao aluno o contato com as múltiplas linguagens durantes sua trajetória escolar. Segundo a Proposta Curricular de Içara (2008), o aluno quando entra em contato com manifestações artísticas, pode desenvolver a própria sensibilidade, estimular a imaginação, adquire e cultivar maior senso artístico e estético. Não podemos esquecer que através das diferentes linguagens exercitamos os diferentes sentidos do corpo, por isso, o aluno passa a ter um desenvolvimento melhor não só em artes, mas em outras matérias que necessitem de concentração e produções textuais. Algumas linguagens da arte como o teatro, dança e a música eram só lembradas nos momentos de festas escolares. Por falta talvez de maior compreensão dos professores essas linguagens não tem visibilidade dentro de propostas curriculares em arte. A dança, por exemplo, desenvolve na criança o conhecimento com seu corpo onde o aluno pode expressar tanto individualmente como coletivamente. Desta maneira irá exercitar também a atenção a percepção, colaboração e a solidariedade. Segundo o PCN (2000, p. 67): A atividade de dança na escola pode desenvolver na criança a compreensão de sua capacidade de movimento, mediante um maior entendimento de como seu corpo funciona. Assim, poderá usá-lo expressivamente com maior inteligência, autonomia, responsabilidade e sensibilidade. A dança na área de arte tem como propósito o desenvolvimento e integração do aluno. Já a linguagem musical possibilita a improvisação, interpretação e uma liberdade de criação. Os alunos também poderão interpretar as músicas que estão sendo escutadas tornando-se ouvintes sensíveis e conhecendo diferentes estilos de música. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (2000, p. 77) dizem que: A canção oferece ainda a possibilidade de contato com toda a riqueza e profusão de ritmos do Brasil e do mundo, que nela se manifestam principalmente por meio de um de seus elementos: o arranjo de base. Nas atividades com esse elemento é importante lembrar que se considera música, por exemplo, tanto uma batucada de samba quanto uma canção que a utilize como arranjo de base. 24 A música a dança e o teatro tem sua importância na aprendizagem do aluno, pois, quando o trabalho é adequado, o aluno adquire um imenso conhecimento. O teatro tem como ato a dramatização que dá a oportunidade do aluno se desenvolver dentro de um determinado grupo onde deverá aprender a ouvir, respeitar as diferentes opiniões. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (2000, p. 84) apontam que: O teatro no processo de formação da criança, cumpre não só função integradora, mas dá oportunidade para que ela se aproprie critica e construtivamente dos conteúdos sociais e culturais de sua comunidade mediante trocas com os seus grupos. No dinamismo da experimentação, da fluência criativa propiciada pela liberdade e segurança, a criança pode transitar livremente por todas as emergências internas integrando imaginação, percepção, emoção, intuição, memória e raciocínio. O teatro individualmente pode desenvolver a capacidade expressiva e artística. Já no coletivo ajuda nas relações no diálogo e respeito com os colegas. Já as Artes Visuais podem ser trabalhadas na forma tradicional ou com os avanços tecnológicos. O PCN (2000, p. 61) destaca que: As artes visuais, além das formas tradicionais (pintura, escultura, desenho, gravura, arquitetura, artefato, desenho industrial), incluem outras modalidades que resultam dos avanços tecnológicos e transformações estéticas a partir da modernidade (fotografia, artes gráficas, cinema, televisão, vídeo, computador, performance). Por fim, a arte deve ser trabalhada de uma forma que o aluno consiga compreender todas as linguagens como necessárias e indispensáveis ao desenvolvimento global do ser humano. A arte tem a capacidade de provocar muitas sensações, por isso o dever do professor é buscar fundamentar a concepção de criação, fruição, leitura, produção artística e contextualização para um maior desempenho do aluno em busca de uma educação com qualidade. 25 3 CONSTRUINDO UMA SINFONIA: PENSANDO A MÚSICA NA ESCOLA Quando se foram sem um adeus Se grudando nos versos meus Como cacos de vidros espalhados No meu coração Sonhou que era um chorinho Tocando carinhoso Pediu então um chopinho Bem caprichado na pressão Pixinguinha 3.1 A música no Brasil: multiculturalidade de vertentes e tendências Quando pensamos a música no contexto histórico brasileiro a entendemos de maneira bastante significativa. A música popular se desenvolveu a partir de três etnias centrais, sendo elas: negra, branca, e indígena que criaram novas maneiras de se expressar musicalmente a partir de instrumentos específicos para cada cultura. A autora Jeandot (1997, p. 120) traz que “as primeiras manifestações musicais genuinamente brasileiras surgiram por volta de 1550, nas plantações de cana e nos engenhos de Pernambuco. Pela primeira vez, ali se reuniram o branco, o negro, e o índio”. Talvez por isso hoje encontremos uma grande variedade musical no Brasil podendo satisfazer vários tipos de pessoas. O autor Queiroz (2000, p. 15) referencia: Música axé tem o poder de satisfazer a sensorialidade. Beethoven tem o poder de satisfazer a sensorialidade. Por meio da satisfação, abre-se a sensibilidade humana. Toda música tem esse poder, embora existam grandes diferenças entre os dois tipos de música citados como exemplo e em suas respectivas satisfações, que são a expressão talvez extrema de uma gama ampla e variada, que se estende a muitas outras direções. Essa diversidade que pode ser encontrada na música faz as pessoas terem a capacidade de encontrar sons que irão satisfazer a sensorialidade de cada um. 26 A partir do século XVI iniciou-se o tráfico de escravos para substituir a mãode-obra indígena tendo uma grande influência na música brasileira. O autor Mariz (1983, p. 27) destaca: Esses milhões de pretos, que entraram no Brasil até 1850, tiveram papel de destaque na formação da alma e sentimento brasileiros. Na música, a maior contribuição dos africanos foi rítmica: imprimiram acentuada lascívia á nossa dança e nela introduziram um caráter dramático ou fetichista. Já no século XX percebemos uma grande contribuição da africanidade na música brasileira devido a diversidade rítmica, variação de danças e instrumentos que facilitaram na composição popular e folclórica deste momento histórico. O primeiro espetáculo musical que foi realizado no Brasil aconteceu em 1553 na Igreja da Misericórdia em Salvador e foi um drama sacro. Nesse período a maioria das músicas feitas no Brasil eram imitações de músicas sacras e tinham a participação dos brancos, negros e os indígenas, segundo Mariz, (1983). A música clássica ou erudita iniciou no Brasil a partir do processo de catequização desenvolvido pelos padres jesuítas que estavam aqui desde 1549. Nesse sentido Mariz (1983, p. 33) dialoga: Nos dois primeiros séculos de colonização portuguesa, a música que se fez no Brasil estava diretamente vinculada á Igreja e á catequese. Os franciscanos e sobretudo os jesuítas desempenharam papel importante, a partir de meados do século XVI. Em 1559, Francisco de Vaccas era o responsável pela música na catedral da Bahia e o cargo de mestre-decapela no Brasil se estendia também ás matrizes vizinhas. Esses músicos eram professores, dirigiam o coro, escreviam música e cantavam-na, além de tocarem vários instrumentos. Os mestres-de-capela funcionavam também como empresários de atividades musicais, organizavam os programas, escolhiam os interpretes e mantinham virtual monopólio musical em sua respectiva jurisdição. Um compositor de renome na música erudita brasileira e que levou o canto orfeônico para as escolas foi Heitor Villa-Lobos que teve um contato grande com vários instrumentos. Sobre ele, a autora Jeandot (1997, p. 130) nos coloca: As várias viagens que fez pelo Brasil, pesquisando a música popular e o folclore, forneceram-lhe matéria-prima para suas composições, que constituem uma síntese bem-sucedida entre as raízes musicais brasileiras e as influências estrangeiras (especialmente Stravinsky), do que resulta uma música de valor universal. 27 De acordo com Kiefer (1981) Villa-Lobos nasceu no dia 5 de março de 1887, no Rio de Janeiro e morreu na mesma cidade no dia 17 de novembro de 1959. Ele tem um papel muito importante na história da música no Brasil, pois foi o primeiro a implantar a música nas escolas e participou da Semana de Arte Moderna em 1992. O autor Kiefer (1981, p. 141) traz que: Instalado o novo governo, tendo sido nomeado Interventor em São Paulo João Alberto, Villa-Lobos, já de malas pronta para voltar á Europa, recebe convite para se apresentar no Palácio dos Campos Elíseos. Da conversa com João Alberto resultaria a concretização de seu plano de educação musical. A partir desse momento o canto orfeônico começa a fazer parte das disciplinas escolares nos anos 30 e 40 com a formação de grandes corais, pois a atividade visava a formação e a alfabetização musical. Nesse momento se deu o inicio de seu trabalho que iria até o fim de sua vida, onde em 1945 funde a Academia Brasileira de Música tornando-se o primeiro presidente. Nessa época, os padrões e os estilos da interpretação eram todos da cultura da Europa o que fez os índios perderem seus próprios estilos musicais. Por causa dos massacres e das epidemias os índios foram se retirando para regiões mais remotas do Brasil e fugindo do contato com os brancos. Segundo o autor Mariz (1983), a partir do século XVIII a atividade musical passa a ser bastante intensa em todo o país, pois a música passa a ter uma estrutura e uma educação mais estabilizada com o público em todas as classes sociais. As orquestras nesse momento se multiplicam, as igrejas passam a ter uma variedade de músicas, e as corporações militares passam a ter suas bandas estáveis. A partir do aumento da procura foram construídos salas de concertos e teatros em diferentes cidades do Brasil, como Salvador, São Paulo, Recife e Rio de Janeiro. Nesse momento surgiram grandes óperas destacando Antônio José da Silva, judeu, que fez sucesso em Lisboa adaptando trechos de óperas, minuetos, fandangos, contradança, modinha, e até lundus. O autor Mariz (1983, p. 35) diz que: Antônio José nascera no Rio de Janeiro e obteve enorme êxito em Portugal com seu teatro mordaz, o que lhe valeu as iras da Inquisição. Foi degolado e queimado como punição. Mas sua popularidade continuou e chegou até 28 os primeiros anos do Império. Há provas de que, no Rio e na Bahia, suas peças eram encenadas com freqüência. Suas comédias foram muito encenadas no Brasil até o Império. O primeiro manuscrito musical de autoria brasileira foi do Padre Caetano de Mello de Jesus, da capela de Salvador. O autor Mariz (1983, p. 36) destaca ainda que “a escrita para soprano, dois violinos, e baixo contínuo, em estilo italiano da época, apresenta razoável equilíbrio entre o solista e o acompanhamento de cordas”. Em 1808 chega no Rio de Janeiro a corte portuguesa que fez a música ter uma transformação e consequentemente essa transformação reflete também nos parâmetros estéticos. Surge então o classicismo que é conhecido também como escola literária. Dom João VI que havia trazido uma vasta biblioteca musical mandou construir um teatro chamado de Real Teatro de São Paulo. Segundo Mariz (1983) as repercussões da chegada de Dom João ao Rio de Janeiro foram efetivamente notáveis no terreno da música, que tomou grande impulso não somente no setor religioso, como também no profano. Este período não durou muito, pois em 1821 o rei foi obrigado a retornar a Lisboa com toda sua corte já que a difícil situação gerada pela independência não permite luxo. Isso estava acontecendo porque o Brasil estava passando por dificuldades financeiras geradas pela independência. Nesse momento difícil surge uma figura muito importante que foi Francisco Manuel da Silva um compositor que fundou o conservatório de música do Rio de Janeiro. Também foi autor do Hino Nacional Brasileiro e suas obras refletiram o gosto nacional para o Romantismo. O autor Mariz (1983, p. 57) destaca: Mas além do hino nacional, Francisco Manuel merece nossa gratidão histórica pela extraordinária atividade que desenvolveu nesse período de estagnação criativa. Em 1833 fundava a Sociedade Beneficente Musical, que teve atuação significativa e durou até 1890. A Sociedade Filarmônica, nascida em 1834, também obteve entusiástico apoio de Francisco Manuel e depois, sob o nome de Sociedade Musical Campesina, desempenhou importante papel na vida musical carioca até 1880. O jovem Imperador teve muita simpatia por Francisco Manuel e logo após a Maioridade nomeou-o mestre-compositor da Imperial Câmara (1841) e no seguinte sucedeu a Simão Portugal como mestre-de-capela. Em 1846, Dom Pedro II condecorou Francisco Manuel pelo serviços prestados á música brasileira, no grau de cavaleiro da Ordem da Rosa (promovido a oficial, em 1857). E desta forma a composição musical em nosso país se desenvolvia de acordo com as concepções e peculiaridade de cada momento. 29 Segundo Mariz (1983), entre os séculos XVIII e XIX a modinha teve seu lugar de destaque. De origem portuguesa com caráter sentimental e feição bastante simplificada este gênero muitas vezes era acompanhado por violão ou guitarra com apelo direto as pessoas comuns, isso é com letras mais voltadas as pessoas mais simples. Há vários nomes que ajudaram a construir o patrimônio musical no Brasil. Em 1899, Chiquinha Gonzaga se destaca com a música “Ô abre-alas”. A autora Jeandot (1997, p 125) relata: Ela foi uma das figuras mais importantes da música popular brasileira e popularizou a modinha. De espírito rebelde e inovador, teve sua prisão decretada e suas partituras queimadas por causa da composição “Aperta o botão”. Organizou um concerto com centenas de violonistas, quando o violão era considerado instrumento de marginais. Foi a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil. Junto à modinha surgiu o choro que teve esse nome em virtude de seu caráter triste. Desenvolveu-se em 1880 e adquiriu caráter próprio, onde o improviso era o papel principal. Foi utilizado como instrumento a flauta, cavaquinho e o violão e seus maiores representantes foram Chiquinha Gonzaga e Pixinguinha. Como Chiquinha teve um papel importante na música no Brasil outros músicos também se destacaram. Ernesto Nazaré, em 1910 compôs um novo gênero, o chorinho, passando sua infância em rodas de ex-escravos e negros baianos, conhecendo diversas danças populares. Outro músico importante foi o Alfredo da Rocha Viana Filho, conhecido como Pixinguinha, criador de um conjunto que se destacou no exterior abrindo um novo caminho para música brasileira. Conforme Jeandot (1997, p.126): Quando, em 1919, Pixinguinha organizou o conjunto Oito Batutas, que obteve muito sucesso, até no exterior, abriram-se então possibilidades novas para a música brasileira, pois o grupo, dado seu alto nível instrumental, introduzia instrumentos e ritmos afro-brasileiros até então restritos aos morros e terreiros de macumba. Pixinguinha foi um dos primeiros músicos a fazer arranjos para músicas populares, inaugurando uma nova fase na orquestração de nossa música. Se não fosse Pixinguinha e seu grupo introduzirem os ritmos e instrumentos da população afro-brasileira, hoje talvez não encontrássemos essa maravilha de diversidade e mistura étnicas que as músicas têm para oferecer. 30 No final do século XIX as batucadas e as rodas de samba eram proibidas pela polícia, porém José Barbosa da Silva mais conhecido por “Sinhô” não deixou se intimidar. Através dele o samba adquiriu um prestígio na sociedade e foi a primeira pessoa a ser o compositor-autor de samba, pois antes o mesmo era criado coletivamente, segundo Jeandot (1997). Outro cantor que fez parte da história da música no Brasil foi Luiz Gonzaga que em 1941 gravou seu primeiro disco como solista e hoje é conhecido como Rei do Baião por ter usado uma formação instrumental simples que tinha a sanfona, triângulo e zabumba. Jeandot (1997, p. 128) descreve que “Adoniran Barbosa cria um samba que foge da linha tradicional e traz as marcas de um tradicional bairro paulistano, o Bixiga”, outro importante nome. A Bossa Nova aparece na década de 1960 com Antônio Carlos Jobim e João Gilberto que foram os maiores representantes desse movimento. Durante essa década a música internacional influenciou fortemente a música popular brasileira. No início foi apenas uma forma diferente de cantar o samba, depois virou um grande movimento que utiliza a voz, piano ou violão. Segundo o autor Mariz (1983), na mesma década da Bossa Nova surgiu o Tropicalismo e a Jovem Guarda. O Tropicalismo se caracteriza por uma mistura do pop com o rock, e a cultura de elite, além de usar discursos politicamente engajados e de protestar contra a ditadura militar tendo como integrantes Caetano Veloso e Gilberto Gil. Já a Jovem Guarda foi um movimento que se ligava ao rock americano e ao inglês. Jeandot (1997, p. 128) destaca: As músicas da Jovem Guarda eram, em sua maioria, melodias simples, ritmos alegres, com letras inocentes que falavam muito de amor. Seus principais representantes foram Roberto Carlos e Erasmo Carlos. Segundo os autores Coll e Teberosky (2002), os anos 70 e 80 é marcado pela MPB (Música Popular Brasileira) um termo de uma ampla gama de estilos musicais, desde o rock até os regionalismos, passando pela música de protesto e a nacionalista. A TV também desempenhou um papel muito importante com a realização de festivais de músicas. Com a crescente abertura política do Brasil, nos anos 90 em diante, e a grande valorização e divulgação de suas próprias raízes históricas a música 31 brasileira vem mostrando grande originalidade e variedade. Hoje podemos encontrar uma vasta diversidade musical como o samba, a música sertaneja, o rock, o baião, o forró, o funk, o frevo, o hip hop, a música eletrônica e muitas outras. O Brasil é conhecido pela sua diversidade musical. Isso acontece porque o Brasil possui varias regiões que tem diversas culturas. A música caipira e sertaneja é um bom exemplo da diversidade musical contemporânea no Brasil. A música sertaneja só se desenvolveu a partir da música caipira. Os autores Coll e Teberosky (2002, p. 184) trazem que: A música caipira se constitui de um todo formado por modas de viola, desafios, festas religiosas, como folia do Divino, folia de Reis, cana-verde, cururu. Utiliza instrumentos como viola, violão, pandeiro, triângulo, rabeca, reco-reco, surdo, caixa ou tarol. Muito freqüente no interior paulista também está presente em outros estados da região Sudeste e nas regiões CentroOeste e Sul. Abordando temas da vida rural, a música caipira é cantada de forma nasalada. Quando a moda de viola passa a ser gravada, inicia-se uma nova vertente musical conhecida como música sertaneja. Os autores Coll e Teberosky (2002, p. 185) afirmam que: A música sertaneja possui características que a diferenciam da música caipira, a música sertaneja traz temas relacionados principalmente ao amor e á vida da cidade. Vamos vê-la expandindo-se de norte a sul do país, e também fora do Brasil. Desenvolve-se em centros urbanos e substitui os instrumentos originais da música caipira, como a caixa ou tarol, adufe, surdo, introduzindo a bateria, a sanfona, o violão e a guitarra elétrica. Tanto a música caipira como a sertaneja podem ser cantadas por duas pessoas, por uma só ou ser apenas instrumental. A música brasileira sofreu grandes transformações, pois eram reprimidos em colocar certas letras, porem hoje não precisamos esconder nada. só assim se adquiriu uma grande liberdade de colocar nas músicas todos os sentimentos que o músico quer expressar. Por fim sabemos que a música percorreu grandes caminhos e deixou uma grande história, onde o principal objetivo da luta era conseguir adquirir a liberdade de expressar nas letras e melodias o que quiserem colocar sem restrição. 32 3.2 A música: elemento de expressão, comunicação e Arte Ao nosso redor estamos cercados de sons produzidos pela natureza ou mesmo pelas pessoas. Alguns desses sons podem nos agradar ou desagradar, mas nenhum perde a importância, pois é onde podemos nos orientar, comunicar e nos divertir. Embora sabemos que todos os sons são captados em nosso ouvido podemos encontrar diferença na maneira como o percebemos. Isso irá depender de nosso interesse, pois em algumas vezes somente ouvimos, já em outros momentos, escutamos. Ouvir é perceber o som que chega aos nossos ouvidos, embora muitas vezes não estamos atentos a ele. Já escutar é prestar atenção e estar interessado nos sons. O autor Queiroz (2000, p. 29) explicam: A questão é que as pessoas não escutam a música que ouvem. Escutar é dar atenção ao que se ouve. Estas palavras usadas como sinônimas, na verdade, apresentam duas fases diferentes da relação de uma pessoa com os sons. Ouvir é captar fisicamente a presença do som (ou ruído). Escutar é colocar a atenção volitiva ou reativamente, sobre o que se está ouvindo. Escutar é estabelecer relação com o som ou a música, o que é muito diferente de apenas captar a vibração sonora, isto é, ouvir. Portanto escutar é ser capaz de ir além do simples ouvir e captar o sentido do sons. O som é produzido pela vibração que acontece quando agitamos ou tocamos um instrumento, a superfície ou uma parte dela vibra. Os autores Coll e Teberosky (2002, p. 92) referenciam: Essas vibrações se deslocam no ar em forma de onda sonoras que são captados por nossos ouvidos. Se pudéssemos ver o ar, o movimento das ondas sonoras seria parecido com o das ondas que se formam em um lago quando jogamos uma pedra na água. Quando alguém bate em um tambor, a membrana empurra o ar que a rodeia cada vez que ela vibra. Quando tocamos instrumentos diferentes as vibrações também são diferentes, mas os instrumentos não deixarão de produzir sons. O som possui quatro propriedades que nosso ouvido pode identificar que é a altura, intensidade, duração e timbre. 33 A altura é a propriedade do som por meio da qual podemos identificar se ele é agudo ou grave. A autora Jeandot (1997, p. 23) aponta: A altura é determinada pela freqüência dos sons, isto é, pelo número de vibrações que cada onda sonora emite num determinado intervalo de tempo. Um som é tanto mais grava quanto menos é o numero de vibrações, ou seja, quanto menor é a freqüência da onda sonora. Quanto maior for essa freqüência, mais agudo ele será. A intensidade é a força do som que pode ser caracterizada em fraco, médio, forte ou muito forte e é semelhante ao que estamos acostumados em chamar de volume. A autora Jeandot (1997, p. 23) relata que “a intensidade depende principalmente da energia emitida pela fonte sonora. Quanto mais força for imprimido pelo agente sonoro, mais alto será o som”. Os autores Coll e Teberosky (2002, p. 96) colocam ainda que: A intensidade do som, isto é, a força que as ondas sonoras empurram o ar, é medida em decibéis (db). O ouvido humano pode captar 325 db de intensidade sonora. O som mais fraco que pode ser ouvido precisa ter cerca de 10 db, por exemplo, o som produzido pelas folhas das arvores quando há uma brisa suave. A partir de 140 db aparece o chamado limite de dor: o som é dificilmente suportável pelo ouvido e pode causar lesões no sistema auditivo. Já a duração é o tempo que o som permanece em nossos ouvidos, isto é, se o som é curto ou longo. Tem sons que tem ressonância curta, isto é, continuam soando por um breve período de tempo. O timbre é o som que permite distinguir a fonte sonora que o produz. De acordo com Jeandot (1997, p. 23): O timbre é a qualidade do som que nos permite distinguir a voz das pessoas e o som dos instrumentos, mesma nota com a mesma altura e a mesma intensidade. O timbre depende de forma como a energia se distribui entre as várias freqüências que determinam a vibrações do som. A música é uma arte, mas também uma linguagem que vem sendo utilizada para se comunicar a milhares de anos pelos homens e mulheres. Ela pode ser apreciada por ouvintes de diferentes povos, culturas e inclusive de diferentes épocas. Por isso muitas vezes ela é classificada como linguagem universal. Quando um compositor cria uma peça musical ele trabalha com uma série de elementos 34 básicos da música que é o ritmo, a melodia, a harmonia, a textura, o timbre e a dinâmica. O ritmo é o elemento mais essencial da música, pois é onde determinamos o movimento e sua palpitação e onde representa o som e o silêncio. A autora Jeandot (1997, p. 26) afirma: O ritmo vital é marcado por tensões e relaxamentos energéticos sucessivos, condicionados no dia-a-dia por nossa movimentação e por nosso ritmo fisiológico. Essa noção rítmica instintiva, a que se mesclam elementos sensoriais e afetivos, constitui a base de nosso senso de equilíbrio e harmonia, essencial para que nos situemos no mundo e percebemos seus limites contornos. A criança possui essa noção instintiva de ritmos, mas no princípio não tem controle sobre ele. Por isso os professores têm que exercitar e trabalhar com a música para acender essa noção instintiva que já existe na criança. A música está presente na vida de todas as pessoas e muitas vezes nem percebemos a existência dela. Um exemplo é quando cantamos em um acontecimento especial como o aniversário de um amigo ou quando cantamos durante um show de um conjunto musical conhecido. Os autores Coll e Teberosky (2002, p. 104-105) afirmam que: Muitas músicas são feitas para acompanhar diversas atividades, como a música religiosa, a música para dançar, a música para os desfiles, ou a música composta para trilha sonora utilizada no teatro, no cinema ou na televisão. Outras músicas foram criadas para serem ouvidas em consertos, gravações ou apresentações e sua função é a de entreter as pessoas, proporcionar-lhes prazer e conhecimento. A música está em nossa vida, ou melhor, no nosso cotidiano, por isso devemos conhecer as diferentes funções que cumpre a música na vida das pessoas e nas diferentes culturas e sociedades, podendo assim compreender melhor seu sentido. Já a melodia é uma sucessão de sons de altura e duração diferentes, e quando ouvimos uma canção o que mais marca é sua melodia. A harmonia é quando duas ou mais notas diferentes soam ao mesmo tempo, formando um acorde. Segundo Coll e Teberosky (2002, p. 116): 35 Os acordes costumam ser usados para acompanhar uma melodia, algo que acontece com freqüência na maioria das canções que ouvimos e naquelas em que o cantor é acompanhado por um violão, um teclado ou qualquer instrumento harmônico. A melodia pode ser misturada com outros elementos da música. Neste momento surgem as texturas que se referem a maneira em que se entrelaçam ás linhas em uma composição. Essa palavra tem o significado literalmente, a maneira como os fios de um tecido são passados uns pelos outros. Um outro elemento utilizado para compor a música é o timbre, pois o compositor seleciona as vozes e instrumentos que vão integrar a orquestra e utilizando assim vários timbres. Por último podemos destacar a dinâmica que é quando interpretamos uma peça ou fazemos mudança de intensidade. Não podemos esquecer que o Brasil é um país reconhecido por sua grande diversidade musical. Por isso devemos aproveitar o que nós temos de melhor que é nossa diversidade e passar para os alunos esse conhecimento, pois irá aumentar mais o repertório e a própria curiosidade de querer saber sempre mais. 3.2.1 A música na escola: formando ouvintes mais atentos A música é uma linguagem que aparece não só no espaço escolar, mas sim desde que estamos dentro da barriga da mãe. Afinal o bebê ainda no útero pode escutar as falas tanto da mãe como de outras pessoas. Esse momento é muito importante no processo de musicalização da criança e também na formação afetiva da mãe com o filho. A autora Cunha, (1999, p. 70-71) referencia: A criança começa a perceber a música a partir de seu ambiente e da relação que mantém com as pessoas que convive. Inicialmente, é na barriga da mãe, ouvindo as batidas de seu coração, que a criança percebe a música. Afinal, o que move o bebê e a mãe é a necessidade de comunicação. No caso, a música aparece como o elo dessa comunicação, seja ao ouvir os sons internos de sua mãe, seja ao ouvir sua fala ou pessoas que conversem com ele. Os investigadores comprovaram que os bebês se movem em movimentos precisos e sincrônicos com a linguagem articulada do adulto, e logo nos primeiros dias, conseguem distinguir a voz feminina da masculina, um som verbal de um ruído. Logo, a linguagem musical, acompanhada da gestual, é a pioneira na formação do vínculo afetivo entre a mãe e o filho, fator determinante no processo de musicalização da criança. 36 A música é uma linguagem que tem uma importância muito grande na formação do sujeito, por isso não deve ser deixada de lado no processo de formação escolar. A música deve ser trabalhada ainda quando a criança é um bebê, uma vez que o mesmo poderá ter reações espontâneas ao escutar a música. A autora Beyer (2005, p. 106) aponta: É importante que o educador musical esteja buscando momentos musicais com o bebê que permitam que ele exerça sua ação espontânea sobre o som, equilibrando momentos de ação mais sensorial e outros de ação mais motora. Que consiga propiciar o contato com material musical simples, mas também complexos musicalmente para desafiar o bebê quando a seu conhecimento musical. Que a situação de aprendizagem musical possa ser descontraída e agradável, de modo a possibilitar interações mais significativas com os objetos musicais, envolvendo inclusive importantes vínculos com os pais e cuidadores. Cante, bebê, que estou ouvindo, seria talvez, a atitude mais importante do educador/pai que busca o desenvolvimento musical do bebê. Estar disponível para interagir, observar, colocar-se no seu lugar, à medida do possível, considerando que, antes de mais nada, o bebê que está a nossa frente não vai se tornar alguém futuramente, mas que ele já é um ser humano, com vontade, preferências e peculiaridades. Por isso trabalhar com a música já quando a criança nasce é uma forma de prepará-la para o futuro. Quando a música é trabalhada com o um bebê, criança ou adulto as reações e produções nunca irão ser a mesma. A Proposta Curricular de Santa Catarina (1998, p. 197) afirma que: A maneira como esses elementos foram combinados constitui a composição musical e permite ao ouvinte analisar, interpretar e julgar o objeto artístico. É importante ressaltar ainda que, no objeto musical cada nova execução estará sujeita a conter uma nova criação, uma vez que nessa linguagem a obra somente existirá se e quando executada, no que isso implica: quem, quando e como a executa. Por isso cada vez que irá ser executada estará sujeita a uma nova produção e criação sobre a música trabalhada. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (2000, p. 75) dizem ainda que: Qualquer proposta de ensino que considere essa diversidade precisa abrir espaço para o aluno trazer música para a sala de aula, acolhendo-a, contextualizando-a e oferecendo acesso a obras que possam ser significativas para o seu desenvolvimento pessoal em atividades de apreciação e produção. A diversidade permite ao aluno a construção de hipóteses sobre o lugar de cada obra no patrimônio musical da humanidade, 37 aprimorando sua condição de avaliação a qualidade das próprias produções e as dos outros. A liberdade de criação é muito importante, pois só assim o professor também poderá se aproximar do aluno no momento de suas produções e apreciações. O trabalho com a música na sala de aula favorece o conhecimento da música local e regional. Os PCN (2000, p. 76) trazem que “estudar o sistema modal/tonal no Brasil, por meio das culturas locais, regionais, nacionais e internacionais, colabora para conhecer a nossa língua musical materna”. Já a Proposta Curricular de Santa Catarina (1998, p. 202) coloca que: Trabalhar o som e a música fazendo uso exclusivo da teoria torna o aprendizado musical improdutivo, desvinculado da realidade e pouco significativo. Por serem os alunos filhos de um país extremamente musical, se fazem imprescindível o aproveitamento desta musicalidade, pesquisando as raízes deste contexto, explorando a sonoridade do ambiente natural e cultural, produzindo, interpretando e improvisando; fazendo isso das mais diferentes maneiras para que o aluno possa ampliar os seus conhecimentos dos códigos musicais. Muitos professores afirmam que têm medo de trabalhar a linguagem musical por achar que quem deve trabalhar é quem sabe música. Com isso os professores estão deixando de usar uma linguagem que traz muitos benefícios para os alunos, por isso trago a autora Ferreira (2001, p. 84) que destaca: A música é um veículo que desenvolve potencialidades do indivíduo como a capacidade de concentração, a habilidade motora, a percepção auditiva, a capacidade criativa etc. o aspecto interdisciplinar é também outro campo importante de ação para a música. Podemos, por exemplo, promover a integração com as ciências na forma de compreensão do fenômeno acústico, ou com o português e a história, na análise das poesias das canções. Pode também atuar junto com outras formas de expressão, com a utilização de imagens, palavras ou movimentos como ponto geradores de experimentações e criação musical. E, ainda, pode complementar essas outras expressões. Porém, existem professores que não tem medo de criar e experimentar através da música. Alguns deles, depois de mostrar uma partitura para seus alunos pedem para que eles criem através dos sons do corpo uma música e criem uma partitura com desenhos e símbolos que tenham significado para eles, como escuta da música. A partitura pode ficar toda cheia de desenho de bocas e caixas de fósforos, como no exemplo de Garcia (2000, p. 19): 38 A música Sons á solta ficou muito interessante, mas eu ainda não havia entendido porque a última caixa de fósforos desenhada na partitura era diferente das outras. Foi nesse momento que os pequemos compositores me explicaram que o som durava mais, pois a caixa de fósforo era representada num tamanho diferente. Portanto durava mais tempo. Os professores têm que deixar o medo de lado e trabalhar com entusiasmo, pois a música faz parte de nosso cotidiano e ao compreendê-la melhoraríamos nossa sensibilidade. Concordo com Garcia (2000, p. 23) quando propõe: Trabalhar com o entorno sonoro, pois ao terem de colecionar sons, buscálo, nossos alunos vão despertando um sentido que, ao longo do tempo, foi tendo importância menor, enquanto que os homens considerados primitivos decifravam, liam seu entorno também através do ouvido. Muitas vezes não percebemos o som que está no nosso redor pela correria ou falta de atenção e com os alunos acontece a mesma coisa, por isso o professor precisa despertar essa atenção. A autora Garcia (2000, p. 23) ainda relata: Ao trazer uma atividade proposta por Schafer, eu e meus alunos saímos da sala de aula e fomos á procura dos sons. Escolhemos procura-lo orientando-nos pelas posições leste, oeste, norte e sul. Recolhemos muitos sons interessantes, mas chamou-me a atenção a atitude de um dos alunos que agradecia a um pombo que naquele momento decolava para fugir dos passantes. Perguntei ao aluno, por que ele havia agradecido ao pombo, entendi melhor o que me parecia estranho quando ele respondeu: O som da asa do pombo batendo é legal. Eu não tinha percebido... Despertar no aluno a curiosidade, a atenção e assim perceber os sons que nos cercam é uma das possibilidades para desenvolver uma proposta musical na escola. Sabemos que não temos profissionais suficientes para ensinar música e ela é parte integrante do PCN e da Proposta Curricular de Santa Catarina e é uma das linguagens que devem ser trabalhadas em artes, pois todas de alguma forma estão interligadas. A autora Garcia (2000, p. 29) afirma que: Todos os professores e professoras deveriam saber que sabem música e, a partir daí, contribuir para a formação musical das crianças, principalmente na sensibilização delas para o ouvir/compreender. Assim, poderíamos formar ouvintes mais atentos que talvez veriam melhor com os ouvidos os produtos musicais de baixa qualidade a que são submetidos. Contribuindo para a iniciação musical das crianças e desenvolvendo-lhe a escuta, 39 evitaríamos formar cegos dos ouvidos e contribuiríamos paisagens sonoras bem interessantes. Paralelo a esta reflexão aponto a alteração do art. 26 da Lei nº 9.394 – Diretrizes e Bases da Educação no dia 18/08/2008 para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino da música básica tornando obrigatório o ensino da música. A discussão sobre esse assunto continua, quando perguntamos se a música pode ou não ser trabalhada por professores de arte, mesmo sem saber tocar algum instrumento? Entendo que música não se resume em tocar só instrumentos, mas sim em prestar atenção no que a mesma diz e escutar a mensagem que ela pode vir a nós causar. Quando trabalhada necessita de interesse, dedicação, força de vontade e para isso cabe ao professor tornar-se pesquisador e poder construir esse conhecimento com seus alunos. Algumas escolas contratam professores especializados em música e colocam essa aula em atividades extracurriculares. Algumas pessoas concordam em não colocar a música como disciplina dos currículos escolares, e outros não concordam, pois ela poderia ajudar muito mais dentro do currículo escolar envolvendo um número mais abrangente de alunos e também professores de outras disciplinas. A autora Wolffenbuttel (2001, p. 52) destaca: Segundo a linha de pensamento de alguns autores, como Figueredo (2005), que mostra sua preocupação em relação à importância de termos professores específicos de música e arte, desde a Educação Infantil e a relação desses com os professores de currículo, esta pesquisa preocupouse em mostrar que, apesas dos conteúdos específicos de música necessitarem ser transmitidos por um profissional da área, não se pode deixar de lado a importância do diálogo e cooperação. Diálogo este que deve acontecer não apenas com os demais campos artísticos, mas com as várias áreas de conhecimento como matemática, ciências sociais, filosofia, história, psicologia, ou outras tantas disciplinas. Muito se fala de interrelação com outras disciplinas, mas pouco se faz, pois muitas vezes os professores ficam com medo de trabalhar por falta de apoio ou por falta de segurança. O importante é começar a trabalhar a linguagem musical com improvisação, exploração corporal, manipulando, classificando, registrando, identificando, escutando sons e música, enfim, produzir e pensar música. Por meio da música o aluno pode se expressar, sendo assim não deve ser vista como passatempo, ou ser trabalhada de maneira descontextualizada. O professor deve explorar o que ela tem de melhor a oferecer como sua poesia, sua 40 melodia, seu encanto. Deve-se haver uma conciliação entre prazeres que a música proporciona e sua importância como forma de expressão e também como algo que critica e transforma a realidade. Todo aluno deve ter a oportunidade de conhecer todas as linguagens da arte no sentido de construir um repertório artístico mais significativo e receptível às questões sensíveis. Por fim os educadores têm que ter a qualidade de sugerir com mais entusiasmo as linguagens trabalhadas, podendo assim construir com confiança o que sabem, sonhando com o amanhã, onde a música continua viva dentro de cada um tanto na civilização presente como nas futuras. 41 5 METODOLOGIA: DESVELANDO CAMINHOS Para realização dessa pesquisa, estabeleci alguns métodos necessários para o esclarecimento, bem como critérios de classificação com base nos objetivos e no problema. A forma de abordagem da pesquisa será dentro de uma perspectiva qualitativa e pesquisa descritiva, onde Martins (2008, p. 88) diz que a mesma “busca a verificação de fatos ocorridos num determinado período de tempo, sem manipular as variáveis que as ocasionam” desta forma, aprofundando qualitativamente os significados das ações e relações humanas. Por isso trago na pesquisa qualitativa a fala de Minayo (1994, p. 15) para esclarecer as bases teóricas: Por fim, é necessário afirmar que o objetivo das Ciências Sociais é essencialmente qualitativo. A realidade social é o próprio dinamismo da vida individual e coletiva com toda a riqueza de significados dela transbordante. Essa mesma realidade é mais rica que qualquer teoria, qualquer pensamento e qualquer discurso que possamos elaborar sobre ela. Portanto, os códigos das ciências que por sua natureza são sempre referidos e recordados são incapazes de a conter. As Ciências Sociais, no entanto, possuem instrumentos e teorias capazes de fazer uma aproximação da suntuosidade que é a vida dos seres humanos em sociedades, ainda que de forma incompleta, imperfeita e insatisfatória. Para isso, ela aborda o conjunto de expressões humanas constantes nas estruturas, nos processos, nos sujeitos, nos significados e nas representações. Referindo-me a pesquisa descritiva também enfocada nesta produção enfatizo Martins (2008, p. 83): Uma pesquisa descritiva visa descobrir e observar fenômenos existentes, situações presentes e eventos, procurando descrevê-los, classificá-los, compará-los, interpretá-los e avalia-los, com o objetivo de aclarar situações para idealizar futuros planos e decisões. Como instrumento de pesquisa utilizei a aplicação de questionário com perguntas semi-estruturadas para dez professores de Artes que trabalham do primeiro ao quinto ano no município de Içara. O autor Martins (2008, p. 208) diz que o questionário “é um instrumento utilizado para se obter dados de um determinado grupo social por intermédio de questões a ele formuladas”. 42 Dos dez questionários seis devolveram e são aqui utilizados como foco investigativo e reflexivo. Todo o trabalho norteou o problema central desta pesquisa que busca investigar: Como os professores de Artes estão trabalhando a linguagem musical no 1º ao 5º ano na rede municipal de Içara/SC? O trabalho de campo fez a pesquisa ficar mais próxima da realidade permintindo assim compreender e analisar as possibilidades e os limites do contexto investigado. Em relação ao trabalho de campo Minayo (1994, p. 51) traz que: Após termos definido, através de um projeto de pesquisa, nosso objeto de estudo, surge a necessidade de selecionarmos formas de investigar esse objeto. Em Ciências Sociais, tendo como referência a pesquisa qualitativa, o trabalho de campo se apresenta como uma possibilidade de conseguirmos não só uma aproximação com aquilo que desejamos conhecer e estudar, mas também de criar um conhecimento, partindo da realidade presente no campo. O questionário também ofereceu subsídios para alcançar os objetivos do trabalho, entre eles o de perceber como estão ou não sendo desenvolvidas propostas que contemplem o ensino da música enquanto linguagem artística nas turmas de primeiro ao quinto ano do ensino fundamental na rede municipal de ensino de Içara. Minha pesquisa define-se de acordo com os objetivos e procedimentos técnicos científicos, seguindo a linha de pesquisa que aborda os princípios teóricos e metodológicos sobre Educação e Arte, Música, Teatro e suas relações com a prática pedagógica contemplados no Curso de Artes Visuais Unesc - Licenciatura. O resultado do questionário está analisado neste trabalho com muita seriedade e comprometimento, uma vez que traz apontamentos sobre as possíveis caminhos, desafios e possibilidades necessários para sanar o problema. 43 6 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS: LENDO E COMPONDO PARTITURAS Conforme já dito anteriormente, minha pesquisa contemplou uma abordagem qualitativa, uma vez que não teve como pretensão comprovar fatos, mais sim investigar e refletir sobre algumas questões que me inquietavam e me motivaram a pesquisar e discutir teoricamente alguns possíveis encaminhamentos e considerações sobre o problema proposto. Para aplicação da pesquisa, escolhi os professores que atuam do primeiro ao quinto ano do Ensino Fundamental por entender que neste período a criança está em uma fase de maior abertura para as questões que permeiam a ludicidade, a criação, a invenção e apropriação estética refletindo na linguagem musical, fator de análise neste trabalho. Dos dez questionários aplicados obtive retorno de seis, que transcrevo e analiso a seguir a partir de um olhar crítico e sensível a luz de alguns teóricos que dialogo ao longo do trabalho. O questionário que foi utilizado esta disponível no apêndice apresentando todas as perguntas que foram aplicadas aos professores. Ao todo foram quatorze questões aplicadas com o intuito de investigar como é trabalhada a linguagem musical do primeiro ao quinto ano na rede municipal de Içara/SC? Como questão de organização e preservação da autoria da pesquisa, enumero os seis questionários analisados com professores, um a seis, referindo-me nas perguntas seguintes por esta sequência numeral. Buscando conhecer um pouco o professor sujeito pesquisado, estabeleci a seguinte pergunta: Para que nível de ensino você leciona? Dos entrevistados os professores um, dois e seis lecionam no ensino fundamental e médio. Já as professoras quatro, cinco e seis lecionam somente para o ensino fundamental. Busquei aprofundar um pouco mais estabelecendo a seguinte pergunta: Você é licenciado? Há quanto tempo e em que curso superior? Todos os seis professores são licenciados na área de arte porém somente o professor seis é formada no curso superior de Artes Visuais. O demais formados são em Educação Artística que era um curso com outra nomenclatura. 44 No que se refere ao tempo de formação o professor um é licenciado há sete anos, o dois e três há dez anos, o quatro há vinte anos. O professor cinco tem vinte e dois anos de formação e o professor seis é formado há um ano. Tentando perceber se existe diferença entre as proposições lançadas por professores efetivos e ACTs, questionei sobre seus vínculos na rede, ou seja se eram concursados ou admitidos em caráter temporário (ACT)? Neste aspecto os professores um e seis são admitidos em caráter temporário e os professores dois, três, quatro e cinco são concursados. Com o objetivo em saber a quanto tempo o professor leciona, fiz a seguinte pergunta: Você leciona para turmas do ensino fundamental? Há quanto tempo? Todos responderam que lecionam para o ensino fundamental, porém o professor um leciona a dezoito anos, o dois a dez anos, o três a quinze anos, o quatro a quatorze anos, o cinco a vinte anos e o seis a quatro anos. De acordo com meus estudos e leituras teóricas sabe-se que a formação continuada é indispensável na área da educação, no caso desta pesquisa no ensino de Arte. A formação permanente possibilita que consigamos ressignificar o olhar, refletir sobre nossa prática e propor ações que favoreçam a formação estética de cada sujeito. Neste aspecto questionei sobre a participação e a frequência destes professores em cursos de aperfeiçoamento. As respostas variaram. O professor um fala que já participou, mas ressalta que os cursos de aperfeiçoamento ou capacitação na área de arte são raros. O professor dois também participa de cursos quando estão dentro de suas possibilidades. O professor três participa de vários cursos na área e consequentemente em cursos de especialização (pós-graduação). A professora quatro destaca que participa em média de três cursos por ano. Por fim o professor cinco participa frequentemente dos cursos e a seis destaca que esta cursando a pós-graduação. Enquanto professores de arte entendemos que a disciplina em que atuamos é muito importante para o desenvolvimento global de cada sujeito. Neste viés a pergunta lançada foi: para você, qual a importância da disciplina de artes no currículo escolar? O professor um destaca que a disciplina de artes é uma das mais importantes no currículo escolar, pois trabalha a sensibilidade, o lado humano, as frustrações e a emoção. Já o professor dois afirma que a importância é muita, pois a aula de artes ajuda na ampliação do conhecimento e desenvolve potenciais do aluno contribuindo 45 muito em seu cotidiano. Já o professor três destaca que a arte oportuniza o conhecimento, a leitura, a fruição e a busca de significados e exercita os nossos porquês. Neste mesmo aspecto alguns professores trazem respostas mais consistentes e que podem apontar caminhos para uma proposta mais estruturada, neste caso também na linguagem musical. A fala do professor quatro reflete isso quando traz que a arte pode desenvolver no aluno uma linguagem e ampliar o conhecimento estético nas diversas áreas da arte, bem como saber apreciar, criticar e valorizar bens artísticos, o panorama cultural, a história da arte ao longo dos tempos bem como na contemporaneidade. O professor cinco afirma que a disciplina de arte é tão importante quanto às demais. Através da arte o aluno descobre novas maneiras de aprender e ver as coisas, valorizando e vivenciando o mundo que o cerca. Por último o professor seis destaca que a disciplina de arte é muito importante no currículo escolar, principalmente nas escolas públicas, pois os alunos têm pouco acesso ao mundo das artes. Então é obrigação da escola abrir caminhos para que eles tenham o conhecimento sobre este assunto que é tão importante em nossa vida. Outro ponto chama atenção neste momento quando analisamos a respostas dos professores um, dois, cinco e seis, que permanecem numa defesa inconstante sobre a importância da arte, porém sem apresentar uma bagagem teórica consistente. Dando sequência ao questionário apliquei a seguinte questão: Como você considera o espaço que a disciplina de Arte tem dentro do currículo das escolas municipais de Içara? Justifique? As respostas foram bastante diversas. O professor um coloca que é uma disciplina que precisa ser mais valorizada, pois na maioria das vezes, ela é vista como passatempo. Neste momento cabe alguns questionamentos: Por quais sujeitos ela é percebida como passatempo? Os alunos? Os gestores? A comunidade? E ainda, ousaria mais: Qual o meu olhar e compromisso enquanto professor? Preocupo-me com a formação estética de meus alunos? Como desconstruir estes pré-conceitos? O professor dois entende que a disciplina tem o mesmo valor do que as outras e compara com outras escolas que o professor dois conheceu, porém entende que duas aulas semanais é pouco para a amplitude da disciplina. Já o professor três considera o espaço muito bom e destaca que o município de Içara foi um dos primeiros a cumprir com a lei obrigatória que 46 prevê professor específico e aulas regulares da disciplina dentro do currículo escolar. O professor quatro afirma que a disciplina de arte no município de Içara vem sendo muito valorizada, tendo professores nas séries iniciais e no ensino fundamental, com uma coordenação que promove cursos de capacitação. Por último os professores cinco e seis afirmam que o município de Içara valoriza muito a disciplina. O campo da arte contempla várias linguagens. A formação estética do sujeito passa por um ensino que favoreça estas linguagens e contemple-as em algum momento da trajetória escolar. Desta forma propus a seguinte pergunta: Considerando as linguagens artísticas como as Artes Visuais, Teatro, Música e dança, com qual (is) destas você trabalha com seus alunos em sala de aula? Justifique sua escolha por esta (s) linguagem (ns)? Todas as seis afirmaram trabalhar com as quatro linguagens, porém se identificam mais com o ensino das Artes Visuais, por contemplar suas formações. Porém a professora um afirma ter a preferência em Artes Cênicas e a professora quatro deixa bem claro que vem trabalhando todas as linguagens por determinação da coordenação municipal de artes. Neste ponto outros pontos se abrem. Trago o PCN (2000, p. 57) que fala que é preciso variar as linguagens: Tendo em vista não haver definições para a presença das diversas formas artísticas no currículo e o professor das séries iniciais não ter vivenciado uma formação mais acurada nesta área, optou-se por uma proposição de conteúdos sem diferenciações por ciclos escolares. A critério das escolas e respectivos professores, é preciso variar as formas artísticas propostas ao longo da escolaridade, quando serão trabalhadas Artes Visuais, Dança, Música ou Teatro. Neste momento foco meu questionário para perguntas mais direcionadas a investigação lançada nesta pesquisa com o intuito de provocar e constatar como estão acontecendo as proposições que contemplem a linguagem da música no ensino de primeiro ao quinto ano. Neste sentido propus: Caso utilize a música como linguagem em suas aulas, de que forma o fazes? O professor um afirma que é complicado explicar a forma que a música é trabalhada em suas aulas, mas procura trabalhar os diversos sons, ritmos, confeccionar instrumentos musicais e montar bandinhas. Já o professor dois trabalha a musicalização, ritmo, letras, paródias, sempre contextualizando a partir de uma imagem como, por exemplo, Os três 47 músicos de Picasso citado em seu questionário. Já a professora três trabalha através de CD, letras de música, filmes musicais e músicas trazidas pelos alunos. A professora quatro irá trabalhar música no terceiro trimestre. Destaca que planejou trabalhar cantigas infantis, folclóricas, história da música, paródias, ritmos, músicas populares, eruditas, música popular brasileira, gêneros musicais, dança e instrumentos, mas que não irá estudar a linguagens técnicas da música. Aqui uma questão me chama a atenção, a resposta da professora aponta que irá propor o ensino da música somente a partir da exigência da secretaria de educação conforme pontuado na questão anterior. Isso traz algumas preocupações, pois talvez necessite-se de um olhar mais aberto para essa linguagem entendendo-a não como obrigatoriedade, mas como possibilidade de formação, ampliação de repertório em um ensino que favoreça a diversidade. A professora cinco trabalha a partir da pesquisa, inclusive descobrindo talentos da escola e aproveitando assim o conhecimento trazido pelos alunos. Porém não deixa claro de que forma esta pesquisa é realizada e como ocorre o processo de apropriação destes conhecimentos. Quanto à descoberta de talentos, também temos que ter o cuidado de não cair em uma faca de dois gumes, pois conforme bem dito por Pillotto e Schramm (2001, p. 96): Toda metodologia que se propuser a efetivar a aquisição da linguagem musical, dentro do espaço do ensino regular, deve ter claro que o objetivo maior não é a formação do músico, mas sim a do indivíduo consciente, com condições de gerenciar os conhecimentos adquiridos, em beneficio próprio e do grupo social ao qual ele pertença. Por último o professor seis trabalha com pesquisa sobre música e confecciona objetos para produzir sons. Neste momento percebermos que se retomarmos o tempo de formação e a habilitação, as propostas efetivadas pelos professores se assemelham, independente do tempo de atuação no magistério. Desta forma, um dos pontos que pode estar contribuindo para essa preocupação com ensino, sejam talvez as formações continuadas e permanentes que consigam manter os professores atualizados e sujeitos ativos no processo de ensino-aprendizagem. Cabe ressaltar que a apropriação de propostas que evidenciem a música deixam lacunas e penso que um olhar mais direcionado ao cumprimento desta lei seja necessário no sentido de capacitar e preparar os professores para um ensino que contemple a linguagem 48 musical e não correndo o risco de propostas fragmentadas e sem aprofundamento teórico. Buscando compreender o olhar do professor de Arte estabeleci a seguinte pergunta: Qual o seu olhar sobre a música? Os professores um e quatro afirmam que deveria ter especialistas nessa área. O professor dois destaca que a música faz parte da história onde relembramos cenas do passado, trazendo para o presente. Além de ser muito bem aceito ao se trabalhar com o aluno, pois é muito difícil encontrar alguém que não gosta de música. O professor três destaca que a música leva para o mundo da imaginação e a quatro coloca que a música acalma, inspira, une mais as pessoas. Por fim o professor cinco acredita que a música é muito importante, mas afirma ter dificuldade para ensinar aos alunos. Já o professor seis adora música e afirma que faz parte da nossa vida desde os nossos primeiros dias, daí sua importância. Outro ponto frágil se abre no que diz respeito ao processo de formações que contemplem o ensino da música no currículo de arte e um professor pesquisador em sua área. O professor assim poderá ter uma habilidade maior em música sem ter medo de passar o que sabe e seu olhar estará mais aberto a novos conhecimentos. A autora Barbosa (2003, p. 55) destaca: Em tempos de aquecer transforma-ação a saída possível é que nos tornemos, cada vez mais, professores pesquisadores. Ávidos por descobertas, atentos a tudo o que nos possa abrir horizontes, corajosos e ousados para permitir o caos criador e o estudo que nos leve para o que ainda não sabemos, compromissados com as ressonâncias de nossas ações desejosos por compartilhar. Muitas discussões cercam a questão de propostas polivalentes no ensino de arte, por isso elaborei a seguinte pergunta: Você defende o trabalho polivalente na disciplina de Artes (um professor ensinando todas as linguagens artísticas) ou acredita que deveria haver um especialista para cada linguagem? Justifique. Os professores um, dois, quatro, cinco e seis acham que deveria ter um especialista para cada linguagem, pois assim o trabalho teria mais qualidade. Já o professor três acredita que as quatro linguagens são importantes, por isso o importante é as quatro andarem sempre juntas, não tem como fazer uma dança sem a música, por isso não concorda e nem discorda do trabalho polivalente. A Proposta Curricular de Santa Catarina (1998, p. 192) aponta: 49 [...] afinal, é raro um professor com domínio nas várias linguagens artísticas – atualmente a formação do professores, de arte, no âmbito dos cursos universitários, prevê o profissional específico para cada linguagem artística (Artes Plásticas, Artes Cênica, Desenho Geométrico, Musica). Entretanto, surge uma contradição com as políticas implementadas pelas instituições responsáveis pelo ensino público, pois enquanto as universidades formam professores especializados em cada linguagem artística, o ensino público demanda professores polivalentes que trabalhem simultaneamente com todas as artes. Em primeiro lugar o professor tem que ter um bom planejamento das aulas e saber que quando trabalhar qualquer uma das linguagens deve sempre fundamentar e não trabalhar só nos momentos de datas comemorativas ou como encaminhamentos metodológicos para ilustração dos conteúdos como muitas vezes ocorre em outras disciplinas. No dia 18 de agosto de 2008 foi alterado o art, 26 da Lei nº 9.394 que torna obrigatório o ensino de música dentro da área de artes em todas as escolas do país. Por causa dessa alteração estabeleci a seguinte pergunta: Qual sua opinião sobre a alteração dessa Lei? O professor um afirma que são criadas as leis e não têm profissionais suficientes para atuarem sobrando para nós: Os polivalentes. Aqui outro ponto se reflete a incompreensão de pensar propostas de formação que consigam contemplar propostas bem estruturadas. Já o professor três coloca que não muda muito, pois já é trabalhado em sala de aula. Os professores dois e cinco afirmam que essa lei é mais um “faz-de-conta” deixando a reflexão em aberto, podendo aqui pontuar alguns questionamentos: O que é necessário para que a arte não seja um faz de conta? Outras leis traçadas para o ensino da arte também são faz de conta? Para esse professor, o que fazer diante do desafio? Será que não é preciso ser um professor pesquisador? Por último os professores quatro e seis acham ótimo, desde que tenha um profissional de música nas escolas. Dando continuidade aos questionamentos propus a seguinte pergunta: Você percebe que a linguagem musical que você utiliza como conteúdo é bem recebida pelos alunos? O professor um diz que deixa a desejar, pois não tem formação nessa área. Mas o professor dois afirma que é bem recebida e concorda com as aulas de música no currículo escolar, o problema é como vai ser trabalhada na realidade que se encontra o ensino. Os professores três, quatro e cinco afirmam que todos gostam 50 de música como conhecimento e diversão. Já o professor seis afirma que os alunos gostam de cantar, dançar e desenhar as letras das músicas e ficam felizes ao produzir sons com os objetos. Os professores aqui estão trabalhando música enquanto conteúdo, mas sem fundamentar o que é necessário para a formação do aluno, por que se não se torna apenas uma metodologias para ilustrar a imaginação. Por último fiz a seguinte pergunta: como costumam ser as produções artísticas dos seus alunos quando você esta trabalhando música? O professor um afirma serem produções boas, pois atingem os objetivos propostos. Já o professor dois destaca que descobriu muitos talentos nas aulas de artes com propostas que contemplaram a música. Aqui ainda vemos o show, o palco. O professor três coloca que suas produções se dão através de desenho e apresentações musicais, teatrais e outras. Essa resposta fica frágil quando pensarmos em sustentação do conteúdo em música, apropriação dos conceitos e construção do conhecimento sensível. Já o professor quatro afirma não ter começado a trabalhar música ainda, pois irá trabalhar por determinação da coordenação do município. Nesse momento questiono: O professor só deve propor música a partir de determinações? Como estimular o olhar e sensibilizar esse professor quanto a necessidade da música na escola? Já com o professor cinco é diferente, uma vez que o mesmo destaca que se despertarmos o gosto musical para o aluno está bom, porém a música não é só isso. Outro ponto que devemos estar atentos, pois a música é muito mais do que o gosto. É uma linguagem que está presente desde nossa infância estendendo-se por toda a vida o que pressupõe propostas que a compreendam como possibilidade de formação estética. Por último o professor seis coloca que os trabalhos ficam bons, mas acredita que poderia ser melhor se fosse especialista no assunto. Estes foram os dados obtidos nos questionários e as opiniões dos professores de arte em relação à linguagem musical na escola. Sendo assim, retomo meu problema: Como os professores de Artes estão trabalhando a linguagem musical do primeiro ao quinto ano na rede municipal de ensino de Içara/SC? A pesquisa me apontou algumas dificuldades e anseios a partir da análise e reflexão dos dados colhidos. Percebo uma certa insegurança, ou mesmo medo, dos professores em se desafiarem em novos caminhos, novas propostas. Atualmente 51 percebo que muitas professores, de acordo com os dados observados não aprofundam conceitos essenciais dentro da linguagem musical, permanecendo na superficialidade e isso demonstra a fragilidade na formação e apropriação dos conteúdos previstos nos documentos curriculares, ainda que a formação não seja correspondente a linguagem aqui investigada, permanecendo enquanto meio de socialização e procedimentos metodológicos para ilustrar a imaginação. As respostas colhidas dialogam e vem ao encontro direto com o problema proposto onde constato algumas dificuldades já pontuadas acima dos professores em trabalhar a música tendo nessa pesquisa algumas possibilidades e proposições para qualificação desta proposta. 52 7 PROJETO DE FORNAÇÃO CONTINUADA: na Linguagem Musical para professores de Arte. TÍTULO: Música na escola: possibilidade ou necessidade? JUSTIFICATIVA: Segundo a Proposta Curricular do Município de Içara (2008, p. 11): “a função do professor em sala de aula é orientar e direcionar o processo de apropriação da cultura, colocando-se como mediadores entre as atividades dos alunos e os conhecimentos dos quais interagem”. Desta forma o professor precisa ser propositor das atividades para os alunos. Com a análise dos questionários pude constatar que os professores do município de Içara tem muitas dificuldades e necessidades quanto a inserção da música em suas propostas curriculares e muitas vezes encontram dúvidas e inseguranças. Por isso proponho a viabilização de uma formação continuada em caráter de curso com carga horária de 20h/a tendo como intuito a solidificação e amenização de alguns dos anseios apontados. Neste processo de apropriação, meu objetivo não é levar receitas prontas, mas proporcionar aos professores situações, onde os mesmos interajam, assim o curso oferecerá possibilidades que o levem a construção e transformação destes conhecimentos vivenciados. OBJETIVO GERAL Proporcionar aos professores de arte vivências, experimentações, trocas e construção do conhecimento estético na linguagem Musical. OBJETIVOS ESPECÍFICOS - Reconhecer a historia da música no Brasil. - Refletir sobre a importância da música na educação. - Construir instrumentos musicais a partir de materiais alternativos. 53 - Reconhecer os elementos que compõe a música e a diferença entre ouvir e escutar. - Experimentar e vivenciar a linguagem musical: escutar, ouvir, cantar e tocar. Proposta de carga horária: Teóricas: 6 horas-aula Práticas: 14 horas-aula Total: 20 horas-aulas Público alvo: Professores de Arte. EMENTA: - Apresentação da proposta e dinâmica inicial – 2h/a - História da Música no Brasil – Conceituações teóricas – 4h/a - Aquecimento vocal e improvisações sonoras – 04h/a - Produção, experimentação e composição musical a partir de instrumentos alternativos – 10h/a METODOLOGIA: 1º Encontro – 4h/a - Dinâmica inicial. - Apresentação da proposta do curso - Explicação da historia da música na educação brasileira e como a linguagem contribui na formação do educando. Em seguida trataremos dos principais elementos da música: diferença de ouvir e escutar, altura, intensidade, compasso e outros. 2º Encontro – 4h/a - Dando continuidade do último encontro iremos fazer a dinâmica cujo nome é “barulho e silêncio”, onde pedirei para os professores fazerem um barulho utilizando o corpo. Em seguida pedirei silêncio. Farei alguns questionamentos: O que é necessário para haver barulho? O que é necessário para haver silêncio? É possível 54 fazer barulho sem movimento? A ideia é levar os professores a perceber que o som vem do movimento e assim construir debates por meio de trocas e experiências. - Na seqüência mostrarei uma partitura, com leitura e a apropriação de alguns elementos. Em seguida distribuirei folha de A4 e pedirei que construam uma partitura, onde os códigos musicais sejam criados por eles a partir de uma música já existente ou inédita. - Apresentação e apreciação do exercício 3º Encontro – 4h/a - Nesse encontro iniciaremos fazendo a brincadeira da dança da cadeira, mas não da forma tradicional. Um grupo fará uma música utilizando-se do seu corpo enquanto que os demais dançarão ao ritmo criado ao redor das cadeiras. O grupo que está responsável pela música decide a hora de parar criando o cotidiano da brincadeira. O que perder troca de lugar com a banda e assim por diante. - Estudos sobre aquecimento e técnicas vocais. - Construção de instrumentos tendo como ponto de partida materiais alternativos. Apreciação de alguns instrumentos já criados e utilizados por outros grupos. Os professores deverão criar um instrumento musical com esses materiais que estiverem disponíveis. Socialização das experiências. 4º Encontro – 4h/a - Aquecimento vocal e facial. Exercícios de voz. - Vivências estéticas a partir da criação de instrumentos 5º Encontro – 4h/a - Apreciação e sessão de cinema a partir dos filmes: “O som do coração” e “Escola da Vida” - Mesa redonda - Avaliação da proposta. REFERÊNCIAS: 55 COLL, César; TEBEROSKY, Ana. Aprendendo arte: conteúdos essenciais para o ensino fundamental. 2ª ed. São Paulo: Ática, 2002. CUNHA, Susana Rangel Vieira da (org.). Cor, som e movimento: a expressão plástica, musical e dramática no cotidiano da criança. V. 8. Porto Alegre: Mediação, 1999. IÇARA, Secretaria Municipal de Educação. Proposta Curricular da Rede Municipal de Ensino Fundamental. Içara, SC, 2008. JEANDOT, Nicole. Explorando o universo da Música. São Paulo: Scipione, 1997. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte /Secretaria de Educação Fundamental. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. SANTA CATARINA. Secretaria de Estado da Educação, Ciência e Tecnologia. Proposta Curricular de Santa Catarina: Disciplinas Curriculares. Florianópolis, 1998. 56 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS A música é algo que já está em nosso cotidiano, por isso faz o aluno se aproximar mais de fatos de seu dia-a-dia. Quando o professor traz essa linguagem para seu aluno torna a arte mais próxima dele, envolvendo-o em propostas mais dinâmicas e significativas para o aprendizado em Arte. Conforme os estudos realizados fica claro em minha pesquisa que a linguagem musical apresenta-se ainda bastante frágil em propostas curriculares no município de Içara. As entrevistas mostram que propostas em música ainda assustam muitos professores, pois eles falam que não sabem trabalhar ou acham que só quem pode trabalhar é quem tem conhecimento musical. O fato é que o professor antes de qualquer coisa deve prestar atenção as suas próprias atitudes, pois assim irá ter um bom resultado quando ensinar a linguagem musical em suas aulas. A autora Cunha (1999, p. 69) fala que: Um bom começo é o professor ficar atento á sua própria expressão musical, ao uso de seu corpo na sala de aula, á maneira como se movimenta, como respira, como fala, como canta, como articula as palavras, como anda, como se comunica com seus alunos. Prestar atenção a suas ações e á forma como estas discursam – sem fala direta – sempre que respondem ás necessidades e manifestações da turma. Não podemos esquecer que somos um equipamento audiovisual e, como tal, estamos comunicando todo tempo. Se, cada vez que necessitamos de silêncio ou queremos chamar um aluno que esta no pátio damos um berro daqueles, como é que pretendemos que as crianças não gritem, argumentando que elas atrapalham os colegas, ou irão estragar a sua voz? Se, cada vez que temos que entoar uma canção, ficamos envergonhados, com raiva, porque achamos nossa voz feia e cantamos quase que morrendo, então, como pretendemos que as crianças gostem de cantar? O professor de arte poderá ensinar a linguagem musical em suas aulas sem influenciar o gosto do aluno e fazendo perceber as diferentes músicas que se pode encontrar no universo sonoro que nos rodeia. A autora Garcia (2000, p. 22-23) fala que “ao compreendermos, a música, poderíamos também compreender que sabemos algo sobre ela, pois ela é parte de nosso cotidiano”. Em contraponto nas falas dos professores percebo que existe uma preocupação com a implementação desta nova lei, que ao olhar dos mesmos será mais um faz-de-conta na prática educativa. Isso me preocupa, uma vez que muitos 57 faz-de-conta devem estar sendo praticados no ensino da arte, pedindo um olhar imediato sobre as práticas, currículos e proposições realizadas no cotidiano escolar. Conforme análise realizada percebo que existe exigência do município no que diz respeito a práticas que proponham apropriações das quatro linguagens e isso pressupõe formação, ou seja, a habilitação dos professores não corresponde ao cotidiano das salas de aula. Dessa forma, acredito que um dos caminhos seria a viabilização de formações continuadas que possibilitem embasamentos teóricopráticos para a superação das necessidades apontadas. Contudo professores precisam ter um olhar mais aberto tanto para música como para as outras linguagens da arte desmistificando a idéia de obrigatoriedade, superficialidade e sim como possibilidades de ampliação do repertório. Quando a escola proporciona a linguagem musical, o aluno amplia a escuta e começa a prestar a mais atenção nas aulas e nos sons fora da escola e assim se torna mais atento. O autor Snyders (1992, p. 79) traz que: A experiência mais familiar aos jovens é a da música que toma conta deles: sabem bem que a música não os prende apenas de um determinado lado, não os atinge só em um determinado aspecto deles mesmos, mas toca o centro de sua existência, atinge o conjunto de sua pessoa, coração, espírito, corpo. Ela nos agarra, sacode, invade, até impor-nos um determinado comportamento, um determinado jeito de ser. E, com freqüência, os alunos vivem a música como uma pressão em direção a movimentos ritmados e cantarolares ininterruptos. Os professores entrevistados apontam que não concordam com a idéia de polivalência, porém muitas vezes se contradizem falando que acabam sendo polivalentes quando não conseguem aprofundar conceitos e percebem-se envolvidos em práticas onde as linguagens sejam percebidas enquanto meio para o fim de outra natureza. O professor de arte trazendo a linguagem musical para suas aulas mostra que ela é muito importante e faz parte das linguagens da arte. Mas o professor não deve colocar seu gosto no momento de escolher as músicas, pois devemos mostrar as varias formas de música que os alunos podem encontrar, deixando-os livres para escolher. O professor através disso deixará o aluno mostrar o que gosta de escutar quando está em sua casa, podendo assim ter uma aproximação maior entre aluno e professor. A autora Garcia (2000, p. 31-32) fala sobre o gosto das músicas. 58 É preciso escutar melhor, tendo assim a oportunidade de analisar criticamente os produtos da indústria cultural. Quem realmente compreendesse e não só ouvisse como música de fundo algumas músicas muito veiculadas pelo rádio e televisão, jamais conseguiria ouvir novamente. Com uma escuta focalizada, poderíamos discernir a música de boa qualidade da música de má qualidade. Porem sempre respeitando os gostos e as preferências de cada um. Afinal, para gostar de samba, não é preciso odiar o rock. Para gostar de forró, não é preciso detestar Beethoven. Podemos gostar de vários estilos musicais ao mesmo tempo. Eles não se excluem. Para trabalhar música em uma escola o professor não precisa saber tocar um instrumento, mas sim, ser determinado, e querer conhecer mais essa linguagem para assim levar ao conhecimento do aluno um pouco da história e o conhecimento básico. Percebo que alguns professores apontaram a necessidade de serem músicos para ensinarem propostas que contemplem essa linguagem, o que não é verdade, uma vez que conforme Garcia (2000, p. 20) “os professores deixam de experimentar e criar sons, por pensar que só pode trabalhar quem sabe música.” Os professores, disponibilizando todas as linguagens da arte, farão o aluno ter uma visão ampla de onde a arte pode ser encontrada. E através disso o aluno poderá ter uma melhor afinidade em uma determinada linguagem ou não. A partir da aplicação dessa pesquisa e com a análise dos dados obtidos deixo alguns questionamentos para reflexão: Será que precisamos da obrigatoriedade de uma Lei para considerar a importância da música na escola? Como estimular o olhar e sensibilizar os professores quanto a necessidade da música na escola? Como proposição antes das considerações finais dessa produção uma proposta de formação continuada para os professores de Arte como uma possibilidade de formação e aprofundamento estético a partir da linguagem musical. Contudo finalizo essa etapa sem a perspectiva de apontar culpados, julgar ou mesmo solucionar todos os problemas que surgem durante a proposta. O importante é construirmos propostas tendo o aluno enquanto foco de construção e aprendizagem, ou seja, enquanto conteúdo essencial de arte. Desta forma parto do pressuposto que só “doamos aquilo que temos” e isso conota diretamente em nosso repertório estético uma vez que como produtores de cultura somos responsáveis pela cultura e arte de nossa sociedade. 59 REFERÊNCIAS BARBOSA, Ana Mae (org.). Inquietações e mudanças no ensino da arte. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2003. BEYER, Esther Sulzbacher Wondracek (org). O som e a criatividade: reflexões sobre experiências musicais. Santa Maria: UFSM, 2005. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte /Secretaria de Educação Fundamental. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. COLL, César; TEBEROSKY, Ana. Aprendendo arte: conteúdos essenciais para o ensino fundamental. 2. ed. São Paulo: Ática, 2002. CUNHA, Susana Rangel Vieira da (org.). Cor, som e movimento: a expressão plástica, musical e dramática no cotidiano da criança. 8.v.Porto Alegre: Mediação, 1999. FERREIRA, Sueli (org.). O ensino das artes: construindo caminhos. Campinas: Papirus, 2001. GARCIA, Regina Leite (org.). Múltiplas linguagens na escola. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. IÇARA, Secretaria Municipal de Educação. Proposta Curricular da Rede Municipal de Ensino Fundamental. Içara, SC, 2008. JEANDOT, Nicole. Explorando o universo da Música. São Paulo: Scipione, 1997. MARTIS JUNIOR, Joaquim. Como escrever trabalho de conclusão de curso: introdução para planejar e montar, desenvolver, concluir, redigir e apresentar trabalhos monográficos e artigos. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. KIEFER, Bruno. Villa-Lobos e o modernismo na música brasileira. Porto Alegre: Movimento, 1981. MARIZ, Vasco. Historia da música no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1983. MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 23. ed. Petrópolis, RJ: Vozes,1994. OLIVEIRA, Marilda Oliveira de; HERNÁNDEZ, Fernando (org.). A formação do professor e o ensino das artes visuais. Santa Maria: UFSM, 2005. PILLOTTO, Sílvia Sell Duarte; SCHRAMM, Marilene de Lima Körting (org.). Reflexões sobre o ensino das artes. Joinvile: Univille. 2001. 60 QUEIROZ, Gregório J. Pereira de. A música compõe o homem, o homem compõe a música. São Paulo: Cultrix, 2000. SANTA CATARINA. Secretaria de Estado da Educação, Ciência e Tecnologia. Proposta Curricular de Santa Catarina: Disciplinas Curriculares. Florianópolis, 1998. SILVA, Angela Carrancho (org.). Escola com arte: multicaminhos para a transformação. Porto Alegre: Mediação, 2006. SNYDERS, Georges. A escola pode ensinar as alegrias da música. São Paulo: Cortez, 1992. WOLFFENBUTTEL, Cristina Rolim. A presença da música nos projetos políticopedagógicos das escolas e a importância das interlocuções entre as atividades musicais e a gestão escolar. Revista da fundarte, Montenegro, v.1, n.1, p.41-53, jan /Jun.2001. 61 APÊNDICE 62 APÊNDICE 01 – Questionário aplicado aos professores de arte do município de Içara/SC Questionário Içara, setembro de 2009 Senhor(a) Professor(a) de Arte, Este questionário é parte fundamental na pesquisa que estou realizando para a composição do meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Licenciatura em Artes Visuais pela Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC. Peço sua colaboração nas respostas a estas questões, com sua maior sinceridade. Lembrando que, para dar mais liberdade em suas respostas, seu nome será omitido nesta pesquisa. Pesquisadora: Juliana Mizieski Mendes 1. Para que nível de ensino você leciona? 2. Você é licenciado? Há quanto tempo e em que curso superior? 3. Você é professor concursado ou é admitido em caráter temporário (ACT)? 4. Você leciona para turmas do ensino fundamental? Há quanto tempo? 5. Depois de licenciado, você já participou de cursos de aperfeiçoamento ou capacitação na área? Se sim, com que freqüência? 6. Para você, qual a importância da disciplina de Arte no currículo escolar? 7. Como você considera o espaço que a disciplina de Artes tem dentro do currículo das escolas municipais de Içara? Justifique? 8. Considerando as linguagens artísticas como as Artes Visuais, Teatro, Música e Dança, com qual(is) destas você trabalha com seus alunos em sala de aula? Justifique sua escolha por esta(s) linguagem(ns)? 9.Caso utilizes a música como linguagem em suas aulas, de que forma o fazes? 10. Qual o seu olhar sobre a música? 11. Você defende o trabalho polivalente na disciplina de Arte (um professor ensinando todas as linguagens artísticas) ou acredita que deveria haver um especialista para cada linguagem? Justifique. 63 12. No dia 18 de agosto de 2008 foi alterada a Lei nº 9.394: Diretrizes e Bases da Educação, para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino da música básica, isso é, torna obrigatório o ensino de música dentro da área de artes em todas as escolas do país. Qual sua opinião sobre a alteração dessa lei? 13. Você percebe que a linguagem musical que você utiliza como conteúdo é bem recebida pelos alunos? Justifique. 14. Como costumam ser as produções artísticas dos seus alunos quando você está trabalhando música?