INDIVÍDUO E FAMÍLIA NA PSICOTERAPIA: A REDENÇÃO ATRAVÉS DO JOGO DE AREIA. Sheila Teresa Carmona Simões1 Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana. Carl Gustav Jung RESUMO O presente estudo de caso coletivo focaliza três processos psicoterapêuticos de adultos e sua família com a utilização da técnica do Jogo de Areia. O objetivo do uso dessa técnica foi, frente à importância de incluir no processo um membro da família significativo, fazê-lo simbolicamente. Através da análise qualitativa das imagens projetadas no Jogo de Areia buscou-se identificar como o familiar é percebido, seu efeito emocional para o paciente e promover a reflexão e compreensão do processo. As semelhanças entre os casos apontaram para a compreensão sistêmica de diferenciação tardia dos pacientes, sua resistência em trazer o familiar significativo e o impacto da imagem no processo terapêutico. INTRODUÇÃO Neste estudo, pretende-se demonstrar uma aproximação entre as abordagens da Psicologia Analítica e a Terapia Sistêmica através da psicoterapia de adultos com dificuldades nas relações familiares. Foi utilizado o Jogo de Areia (Sandplay) como instrumento de integração de um membro importante da família no tratamento individual, quando este estiver ausente física ou psicologicamente. Além de promover conexões com outras percepções e sentimentos relacionais. Os terapeutas sistêmicos preconizaram por décadas a importância de todos os membros da família - ou pelo menos todos os disponíveis - participarem do tratamento daquele que estava sendo designado como o paciente identificado, para que este fosse efetivo. Além disso, a atenção se concentrava nas interações externas, evitando a distração com as necessidades individuais de cada membro da família (Minuchin, 2003; Haley, 1980). 1 Psicóloga Junguiana, especializanda em Psicologia Clínica Junguiana pelo IJRS; Terapeuta Sistêmica de casal e família pelo Instituto da Família de Porto Alegre (INFAPA), especialista em Dependência Química pela UNISINOS. Original de São Paulo – SP, Brasil. 2 A Terapia Sistêmica se ocupa das relações entre os padrões e os sistemas humanos, suas conexões recursivas e as trocas e ausências que ocorrem no decorrer do tempo referiram Boscolo e Bertrando (2012). Pautados neste conceito, estes e outros autores (Weber & Simon, 1989; Schwartz, 2003) chamaram a atenção para a possibilidade e importância do olhar sistêmico ser dirigido, também, para um único indivíduo e poder ajudá-lo em suas relações sociais e familiares, diminuindo disfuncionalidades e com repercussões positivas na família. Contudo, a participação da família em terapia individual nem sempre se faz possível por indisponibilidade do familiar ou do paciente em aceitar a participação deste, por morar em cidade distante ou por não aceitação da necessidade de integração do familiar, como se fosse um desejo só do terapeuta (Boscolo & Bertrando, 2012). Há, ainda, outras impossibilidades mais difíceis de resolver como o desaparecimento do membro, que abandonou a família e o paciente não tem como manter contato. Nos casos de falecimento, quando o familiar falecido pode continuar fazendo parte da família em relações disfuncionais como um fantasma (Minuchin, 2003) e, por conseguinte, influenciando as relações familiares e a vida do indivíduo em tratamento. Weber e Simon (1989) alertaram para o fato de que nem sempre todos os membros da família são importantes ou têm relação com o problema do indivíduo que procura ajuda, segundo estes autores, os problemas têm suas próprias histórias. Além disso, nos sistemas humanos, os problemas se apresentam quando há a necessidade de adaptação às mudanças internas e externas. A busca por terapia individual no período de independização familiar pode apontar para o fato de que os adultos da atualidade estão enfrentando problemas diferentes das décadas passadas. Em outros tempos, a vida adulta era marcada pelo momento do ciclo vital em que os filhos buscavam sair da casa dos pais para estudar e se lançar no mercado de trabalho, construindo uma vida separada e independente destes (Aylmer, 1995). Diferenciar-se da família, enfrentando as exigências sociais para encontrar uma identidade específica e funções únicas requer um grande desafio de negociação entre pais e filhos, a fim de permitir que o sistema de adapte às mudanças essenciais desta fase e deixe as relações se desenvolverem, para o indivíduo conseguir se libertar rumo à individualidade (Andolfi et al, 1989 a; Bowen,1991). Ao longo dos anos de trabalho com famílias e indivíduos, muitas técnicas e intervenções terapêuticas foram desenvolvidas, como o jogo em terapia para engajar a família ou o indivíduo no tratamento, expressando na representação lúdica e metafórica os desejos, 3 medos e experiências que não foram trazidos verbalmente (Andolfi et al,1989 a; Andolfi e Angelo,1989b). Com isso, a inclusão de um membro familiar importante no processo do paciente, que não possa estar presente, através de diversas modalidades de terapia não verbal, não racional e criativa, como o desenho, a escultura em argila, entre outros, pode facilitar o processo. O Jogo de Areia é um método que possibilita ao paciente a construção de imagens ou cenários - através de miniaturas colocadas numa caixa de areia de tamanho específico - que podem representar o membro familiar ou sua relação com este (Weinrib, 1993; Ammann, 2002). O Jogo de Areia, como método psicoterapêutico, foi idealizado por Dora Maria Kalff, analista junguiana suíça, a partir da técnica psicológica conhecida como Técnicas do Mundo, criada por Margaret Lowenfeld, psiquiatra infantil. Kalff inicialmente trabalhou com crianças e, posteriormente, com adultos visando proporcionar um espaço livre e protegido para os conteúdos inconscientes se expressarem através das imagens escolhidas para o cenário (Weinrib, 1993; Levy, 2011). PSICOLOGIA JUNGUIANA E O JOGO DE AREIA Jung relaciona os aspectos conscientes e inconscientes da psique no processo de individuação, levando em consideração sua relação com o exterior, através da linguagem simbólica das imagens que aparecem nos sonhos, das fantasias, nos desenhos e nas técnicas expressivas. Segundo o autor (Jung, 1999, p. 101, §448): “O processo de individuação tem dois aspectos fundamentais: por um lado é um processo interior e subjetivo de integração, por outro, é um processo objetivo de relação com as pessoas, tão indispensável quanto o primeiro. Um não pode existir sem o outro, muito embora seja ora um, ora o outro desses aspectos que prevaleça.” Os processos cerebrais conscientes são imagens reflexas espontâneas do inconsciente – imagem psíquica - que aparecem no cérebro a partir de um episódio significativo, sugerindo que “uma entidade psíquica só pode ser um conteúdo consciente, isto é, só pode ser representada quando é representável, ou seja, precisamente quando possui a qualidade de imagem” (Jung, 2000, p. 264, §608). Neste sentido, tornar-se pertinente a avaliação dos aspectos emergentes das imagens relacionando-as no contexto das relações familiares do paciente, sem abordamos os aspectos inconscientes, que embora presentes, não foram foco deste estudo. O Jogo de Areia traz para a concretude a forma como o paciente percebe e se relaciona com o familiar ao descrever o que a imagem representa e os sentimentos despertados por esta 4 experiência numa atividade de personificação. Para Hillman (2010) sempre que vivenciamos, imaginamos e falamos das configurações da existência acontece uma personificação, ou seja, a palavra torna-se consciente e pode ser expressa como se fosse uma pessoa. O mesmo autor refere ainda que, a partir da relação com esta imagem ou personificação, o paciente poderia encontrar a liberdade e a segurança necessárias para viver plenamente sua singularidade e aprender a conviver com o outro, do lado de fora de si mesmo, de modo autêntico, saudável e funcional. Com a utilização do Jogo de Areia pretende-se contribuir com a ampliação da prática terapêutica no atendimento do indivíduo com a inclusão de um familiar importante, buscando identificar nas imagens projetadas como este está sendo representado e qual sua implicação emocional para o paciente. As imagens obtidas a partir das fotografias foram analisadas minunciosamente em seu significado e conteúdo simbólico referente à expressão do paciente. Conforme Chevalier & Gheerbrant (2007), o símbolo é sugestivo, depende daquele que o vê, ou seja, sem intuição nada de profundo é percebido. A analogia das formas simbólicas foi possível através da hermenêutica de profundidade, que coloca em evidência o fato de que o objeto de análise é uma construção simbólica significativa, que exige uma interpretação (Thompson, 1999). Desta forma, para realizar a análise das imagens contou-se com o apoio da livre associação que os participantes produziram através da linguagem. Bauer & Gaskell (2002) reforçam a importância da verbalização para tirar a ambigüidade da imagem, necessitando uma da outra para obter-se o sentido completo da informação. Em seguida, os resultados foram organizados primeiramente expondo uma breve história de vida de cada participante, seguida do motivo de busca por tratamento e o motivo de não participação do familiar significativo. Na sequência, a respectiva imagem do instante terapêutico foi analisada e discutida segundo as livres associações do participante e sua analogia simbólica. Além disso, foram discutidas as particularidades de cada caso com relação à inclusão do familiar através da imagem, como este está sendo representado e qual sua implicação emocional para o paciente. As semelhanças entre os casos foram abordadas quanto ao processo de diferenciação tardio; à resistência em trazer o familiar significativo e o impacto da imagem para o processo terapêutico. Carla e o agressor 5 Carla tinha 31 anos, filha única e sua mãe morava em outra cidade no interior do estado do Rio Grande do Sul. O pai abandonou a família quando Carla tinha 02 anos, desde então, ela não teve contato com ele. Carla e a mãe moraram com os avós maternos, ela referiu que o avô e a avó foram os pais dela, principalmente a avó, ela dizia que Carla precisava estudar muito, porque teria que cuidar da mãe mais tarde. Carla tinha dificuldade em cumprir as tarefas da faculdade, infringindo-se um autoboicote quando ia chegando o momento de entregar os trabalhos finais. Podia-se inferir que o impedimento para cumprir as tarefas era de ordem emocional na relação com a mãe e talvez com o pai, que ela não conhecia nem mantinha contato. Foi solicitada a presença do pai na terapia para ser trabalhada a relação parental, mas Carla não aceitou convidá-lo com medo de que ele rejeitasse seu convite. Neste instante terapêutico proponho o Jogo de Areia para propiciar a emersão da imagem que Carla tinha do pai, com a seguinte pergunta: “Como é seu pai? A figura escolhida por Carla foi um homem segurando um taco em posição de ataque, com a expressão agressiva, ao que ela deu o nome de o agressor. Ela referiu que não pensou para colocar o pai, apenas pegou a imagem: “O agressor parece que vai bater em alguém, mas meu pai é passivo, não reage para nada”. O Jogo de Areia propiciou uma imagem psíquica (Jung, 2000) do pai de Carla como um homem em posição de ataque, aquele que pode feri-la a qualquer momento, apesar de ser a representação de um masculino fraco e passivo, não reagindo para nada. Para Carla o pai parece que vai bater em alguém, talvez este seja o impedimento para vir à terapia, poderia agredi-la novamente não aceitando o convite, como fez abandonando-a na infância. Para evitar sofrer novamente, Carla se nega a convidá-lo, mas aceita trabalhar o 6 instante terapêutico no ambiente protegido da terapia e com a presença da terapeuta para mediar este encontro. De acordo com a imagem, pode-se fazer a analogia de que o agressor é um adversário mau, semelhante a Satanás (Chevalier & Gheerbrant, 2007), do qual ela tem que se proteger sendo muito grande, com o dobro do tamanho das outras miniaturas. Carla disse ver-se como uma menina superpoderosa, e referiu: “eu preciso ser grande para suportar a todos eles”. Ela representou a mãe como uma bonequinha chinesa, colocando-a para ficar ao seu lado, “essa é minha mãe: gordinha, pequena e simpática, ela vai ficar de mão comigo”. Esta relação familiar imagética sugere que Carla entendia que precisava ser grande para defender a si mesma do pai agressor, abandonador, que não a recebia como ela idealizara. E também para proteger a mãe, que vai ficar de mão com ela, como uma criança indefesa, confiada aos seus cuidados pela avó. Esta ligação caracteriza a triangulação entre o pai, a mãe e Carla, como intermediária da relação parental (Minuchin, 1990; Andolfi et al, 1989a). Andolfi e colegas (1989a) apontam para o risco da função estereotipada que o indivíduo pode receber ao longo da vida, respondendo a um script inalterado. Paralisada ao lado da mãe, num mundo infantilizado, sem a presença de um feminino forte, Carla fica impedida de seguir em frente no seu processo de diferenciação. Carla mostrava-se na imagem tal como era na vida real, aprisionada junto à mãe e distante do pai e da madrasta, ela vivia uma pseudo-diferenciação da família, que poderia estar interferindo no cumprimento das tarefas acadêmicas e dificultado sua independização. Enquanto ela não terminasse a faculdade não poderia conseguir um emprego e manejar seu sustento financeiro, permanecendo indefinidamente sob os cuidados dos tios, que representavam o poder dos avós maternos - figuras parentais substitutas (Andolfi et al, 1989a; Aylmer, 1995). A madrasta, colocada ao lado do pai, era vista como uma bruxa simpática e dócil: “esta é a mulher dele, parece uma bruxa burra”, representada numa figura do mesmo tamanho que a figura do pai, em oposição às figuras de Carla e a mãe. Em Chevalier e Gheerbrant (2007) encontram-se referências a feiticeiras e bruxas como forças criadoras instintuais, com poder para fazer o mal. São invejosas e vingativas, que sabem como fazer uso de seus poderes sombrios, dominando aos outros. A bruxa neste caso pode representar uma ameaça para a relação estereotipada de Carla com a mãe, ao que Andolfi e colegas (1989a) afirmam serem as mudanças nas relações 7 percebidas como ameaçadoras tanto para o indivíduo, que precisa diferenciar-se, quanto para as famílias rígidas, que evitam experiências e informações novas. Na imagem, pelas marcas na areia, pode-se notar que inicialmente a mãe foi colocada ao lado do pai e retirada em seguida para ficar de mão com Carla. No lugar, então, foi colocada a madrasta, que passou a fazer um par com o pai, com isso, pode-se identificar outra relação triangular – Carla, pai e madrasta – formada na vida de Carla, com a recuperação do contato paterno. No entanto, por ser uma relação tensa e sem intimidade com o pai, a madrasta foi recebida como rival, recebendo a projeção de todos os aspectos negativos de uma mãe má, em polarização com a bonequinha chinesa, denunciando o desequilíbrio familiar, com o qual Carla estava tentando entender e falar com sua família interiorizada nas imagos (Jung, 2000) e estas estavam tentando falar com ela num diálogo simbólico e concreto, personificadas na imagem (Hillman, 2010) do Jogo de Areia. Nesta relação sistêmica imagética, o sistema indivíduo é o protagonista do diálogo interno consigo mesmo, com foco na integração do mundo externo ao mundo interno, através das quais se vê e se compreende (Boscolo & Bertrando, 2012). Para fazer efetivamente seu processo de diferenciação Carla deveria se relacionar com todas estas partes, no processo dialético da terapia, e, sobretudo promovendo a mudança da relação fazendo o movimento de ir até o pai, agora que era adulta. Três meses depois da realização do Jogo de Areia podem-se verificar as mudanças na relação de Carla com o pai: ela conseguiu pedir ajuda para ele no momento de crise com uma namorada e foi acolhida e alimentada. Seu pai velou seu sono e, antes que ela voltasse para sua casa, aconselhou-a em como agir, assumindo a função paterna há tanto esperada. Carla também pediu a ele para ajudá-la a realizar o trabalho final da faculdade e trabalharam juntos, um dia inteiro. Apesar deste esforço, ela não conseguiu aprovação na disciplina. Contudo, Carla passou a visitar o pai e a madrasta e a se permitir participar de refeições com outros membros da família da madrasta. Ao retomarmos a imagem, perguntei o que ela pôde apreender com aquela vivência. Carla referiu que hoje ela não se colocaria tão grande, nem o pai seria tão agressivo, nem a madrasta seria poderosa como uma bruxa. A madrasta seria um ser inferior ao pai, pois com a proximidade ela viu que o pai tolera a esposa, mas não é feliz com ela. Apenas a mãe ainda seria a mesma bonequinha chinesa. Jaqueline e o anjo da guarda 8 Jaqueline tinha 40 anos, trabalhava como auxiliar administrativo e estudava à distância um curso tecnólogo. Morava sozinha e tem nível social médio-baixo, enquanto sua mãe e irmã moram no interior do Rio Grande do Sul com nível social médio-alto. Sua irmã era casada, sem filhos e a mãe era viúva e separada do segundo marido. Seu pai morreu quando Jaqueline era adulta jovem. Ela sofre desde a infância de uma doença de pele – psoríase – o que deixou marcas físicas e psicológicas, devido à forma como a mãe lidou com isso fazendoa usar roupas compridas e evitando que ela convivesse com outras crianças. O pai de Jaqueline era alcoolista, agredia a mãe e as filhas e manteve uma amante por vários anos. Ela refere-se sobre o pai num relacionamento distante e idealizado, dizendo perdoá-lo por ter sido doente. Seu relacionamento com a mãe também era distante e baseado em chantagem emocional. Jaqueline tinha um ano a mais de idade do que a irmã e sempre alimentou a crença de que precisava cuidar dela na infância, protegendo-a de todo o mal. No decorrer do processo ela mostrou-se à vontade para expressar sua relação em família através da seguinte pergunta: “Como é a sua mãe e a sua imã?” A irmã de Jaqueline era vista como um ser superior, protegendo-a: “ela é meu anjo da guarda”. A imagem que representa a irmã era de tamanho maior do que as outras duas imagens – ela e a mãe – e Jaqueline referiu que a irmã estava olhando pelas duas, pois “ela é que tem a maior responsabilidade na família”. A maior responsabilidade também pressupõe o maior poder, a maior importância e, consequentemente, a maior imagem. Minuchin e Fishman (2003) ressaltaram a importância de observar o lugar que cada membro ocupa na família a fim de identificar o funcionamento estabelecido na relação. 9 Na infância Jaqueline sentia que deveria cuidar da irmã por ser a mais velha, assumindo, consequentemente, a incumbência de explicitar o sintoma – psoríase - para focar a tensão do sistema sobre si, livrando a irmã para ser a filha saudável (Andolfi et al, 1989a). A psoríase é uma doença crônica manifestando-se com inflamação das células da pele, formando placas de escamação avermelhadas ou prateadas (Silva, Muller & Bonamigo, 2006). Com isso, a disfunção familiar regida pelo pai alcoolista e a mãe distante e infantil poderia ser acobertada pelo sintoma da filha, como válvula de segurança para o casal, conforme Andolfi e colegas (1989a) afirmaram ser o sacrifício de sua autonomia para preencher a função escolhida, e como Haley (1980) referiu ser a função de viver uma vida estreita por não conseguir se desembaraçar de sua família e, assim, exercer a função de fracassada. Como a hierarquia da relação familiar imagética estava invertida, e a irmã estava ocupando um lugar de destaque, pode-se inferir que Jaqueline estava idealizando a irmã no presente, como idealizou no passado, pois os sistemas familiares possuem uma realidade tridimensional, na qual o passado pode manifestar-se no presente e desenvolver-se no futuro (Bowen, 1991). Na imagem de anjo da guarda, a idealização da irmã também designa a esta o papel de filha parental, aquela que tem as responsabilidades provedoras e cuidadoras da família (Minuchin, 1990), com isso Jaqueline precisava pagar um preço alto para manter esta condição desequilibrada. Ao visualizar a imagem de sua família no Jogo de Areia, Jaqueline declarou em tom de súplica: “nada de ruim pode acontecer à Mana, ela merece tudo de bom, comigo é diferente, o que acontece para mim é tudo de ruim”. Schwartz (2004) afirmou que o mesmo processo vivenciado no sistema familiar também se reproduz em nível intrapsíquico, a mente é como qualquer outro sistema, fazendo com que as partes assumam papéis extremos, polarizados e enrijecidos. Talvez por isso, Jaqueline se representou como uma mocinha dócil, aparentemente frágil e delicada, suscitando que precisa de proteção, e assim se colocando no outro extremo da relação. No entanto, em nível simbólico, Chevalier e Gheerbrant (2007) referiram que os anjos representam criaturas próximas de Deus desempenhando funções de mensageiros, guardiões, executores de leis e, também, protetores dos eleitos, abrindo os caminhos para que estes realizem seus feitos. Para realizar seus feitos ou manter-se no papel que lhe cabia até hoje, Jaqueline precisava da proteção de um anjo, uma mantenedora financeira, espiritual e emocional. Neste 10 contexto, pode-se inferir que a irmã de Jaqueline não poderia participar da terapia para não desequilibrar seu sistema interno da família interiorizada. Ela própria correria o risco de perder sua função de doente-protegida, caso identificasse na irmã atributos não tão nobres e santificadores, tal qual a surpreendente imagem da sombra (ocasionada pela luz do ambiente na hora da fotografia), que paira sobre ela e a mãe junto à imagem do anjo protetor. Para Jung (1999) o conceito de sombra representa os aspectos sombrios não reconhecidos pelo ego, tais como características positivas ou negativas, que a pessoa projeta sobre os outros, pensando que são os responsáveis pelas suas dificuldades. Embora Jaqueline não tenha conscientemente feito conexão com estes aspectos ou partes polarizadas da irmã, o Jogo de Areia como recurso terapêutico nos remeteu a este conceito e possibilitou que o conteúdo latente se manifestasse na imagem. A aparente fragilidade da mocinha dócil teria que ceder espaço para outras partes até então não reconhecidas ou relacionadas no processo terapêutico. E assim como na infância ela precisou representar o papel que lhe cabia, na imagem do Jogo de Areia ela tampona a sua verdadeira imagem familiar de criança ferida, impedida de assumir sua autenticidade, formando uma casca sobre a pele. Silva e colegas (2006) demonstraram que os pacientes com psoríase têm a tendência de usar estratégias específicas de enfrentamento de estresse, como fuga esquiva e autocontrole elevado, não manifestando suas emoções. Afirmam ainda, que a pele tem uma relação muito estreita com a figura materna, pois remete àquele primeiro contato inicial logo depois do nascimento, quando se inicia o desenvolvimento do bebê. A imagem da mãe representada por uma criança dançando, alegre e despreocupada poderia explicar os sintomas que Jaqueline desenvolveu ainda na infância. Ao colocar a miniatura da mãe ela diz: “ela faz o que ela quer, não tem preocupação com os outros”. A figura materna é de certo modo universal, afirma Jung (2007), com atributos de cuidado, sustento, bondade, elevação espiritual além da razão, o que proporciona as condições de crescimento físico e psicológico dos filhos, entre vários outros citados pelo autor. Se para Jaqueline a mãe era percebida como uma criança, nada do que ela falava ou fazia poderia ser levado a sério, então, ela também não poderia oferecer o afeto que Jaqueline esperava receber como qualquer filha espera de sua mãe. Este é, sem dúvida, um dos traumas mais graves que uma menina poderia sofrer, prejudicando seu desenvolvimento saudável e processo de diferenciação (Bowen, 1991), 11 atrofiando seu aspecto feminino, marcando-a na pele com o legado materno de alienação e rechaço (Andolfi et al, 1989 a; Haley, 1980; Jung, 2007). No espaço protegido do Jogo de Areia, Jaqueline poderia se deparar com a imagem infantil da mãe, que, possivelmente, também estaria infantilizando seu potencial de desenvolvimento. Ao diferenciar-se destes aspectos, os danos poderiam ser reparados reconstituindo a unidade intrapsíquica mãe-filha, ativando sua capacidade natural e liberandoa para ser autônoma na construção da sua vida (Weinrib, 1993). Jaqueline permaneceu em terapia por mais 04 meses a partir da realização do Jogo de Areia. Não foi possível retomar esta imagem para análise posterior, porém, algumas mudanças mostraram seu efeito. Ela pediu para parar o tratamento, pois desejava utilizar o dinheiro da terapia para fazer um curso que a ajudaria a procurar um emprego melhor. Também solicitou a parada da medicação e passou a fazer atividade física regularmente. Na última sessão para encerramento do tratamento, Jaqueline estava alegre e disposta, não sentiu falta da medicação e estava começando a se relacionar com um rapaz que conhecera numa festa. Luciano e a morte Luciano tinha 31 anos, era estudante de um curso superior e trabalhava como técnico da sua área profissional. De classe social média, morava com a mãe viúva há 05 anos na cidade de Porto Alegre. Seu irmão mais velho era casado e morava em residência própria. Luciano namorava Salete há 02 anos, eles pensavam em se casar, mas o relacionamento deles era muito conturbado por brigas constantes influenciadas pela mãe de Luciano. Segundo ele, a mãe havia acabado com seus outros relacionamentos e ele não queria que ela acabasse com este. Por este motivo, procurou ajuda para entender o que acontecia com ele para se deixar influenciar tanto pela mãe. Luciano tinha um temperamento aparentemente tranquilo, mas referiu que tem explosões constantes com a mãe e o irmão, com respostas agressivas a qualquer pergunta que estes lhe faziam. Ele referiu que ela interferia na forma como ele conduzia sua vida e controlava suas ações através do dinheiro. Apesar do salário que recebia no seu estágio, Luciano nunca conseguiu ser independente financeiramente. Até quando o pai estava vivo há 05 anos, ele não se preocupava em ser dependente, mas após sua morte, a mãe e o irmão passaram a controlá-lo e cobrar dele a atitude que eles julgavam correto, o que tirava a espontaneidade de Luciano. 12 Na infância referiu que a mãe fazia tudo por ele, mas não referia afetuosidade da parte dela. Seu pai sim, era afetuoso e o defendia da mãe. Para ele, o irmão era o filho preferido da mãe, que conseguiu realizar seu desejo de ser aviador. Luciano se incomodava com o que sentia pela mãe quando ela o estava cobrando, ele não entendia o que acontecia para ele ficar tão paralisado e não conseguia falar objetivamente com ela. Ele sentia que a mãe só o aceitaria se ele fosse o homem que ela imagina, para isso teria que fazer exatamente como ela dizia. Após alguns meses de tratamento, foram feitos dois convites para a mãe participar da terapia, mas Luciano nunca aceitou que ela viesse, ele achava que não adiantaria falar sobre isto com ela, pois ele teria que aprender a reagir por si mesmo. No instante terapêutico ideal, foi proposto o Jogo de Areia com a seguinte pergunta: “Como você se sente quando paralisa diante da sua mãe?” Luciano aceitou de imediato realizar a imagem, antes mesmo de pegar a figura ele refere que vê a mãe como uma figura “do mal”. A imagem da morte escolhida para representá-la, tem os braços para cima, como se estivesse em posição de luta ou ataque. Ele referiu que ela o sufocava com as cobranças e o impedia de crescer, afirmando: “eu nunca fui o suficiente para ela”. Ele sentia medo diante dela e achava que este medo bloqueava sua ação na vida. Na mitologia, o tema da mãe sempre esteve associado às deusas da fertilidade devido à sua ligação com o mar e a terra: Gaia, Réia, Hera, Deméter entre os gregos, Ísis entre os egípcios, Kali entre os hindus, para citar algumas. Há, contudo, uma ambivalência neste 13 símbolo ligada à vida e à morte, pois aquela que dá a vida e o alimento, também pode sufocar até à morte (Chevalier & Gheerbrant, 2007). A imagem de mãe para Luciano estava polarizada no aspecto negativo, destrutivo e mortal. Pode-se inferir que o momento requer uma transformação psicológica, mas também prática e concreta, na relação com ela e na vida pessoal, rompendo com o padrão estabelecido de dominação. Afinal, “todas as iniciações atravessam uma fase de morte, antes de abrir o acesso a uma vida nova” (Chevalier & Gheerbrant, 2007, p. 621). Apesar de este estudo referir-se às relações da consciência, alguns aspectos do inconsciente se impõem devido o Jogo de Areia ser um recurso terapêutico não verbal propiciando um espaço livre e protegido para a expressão e exteriorização dos impulsos internos agressivos, refere Weinrib (1993). Schwartz (2004) postulou que as partes, ou figuras internas, são forçadas a se polarizarem em papéis extremos por estarem rigidamente congeladas no tempo ou por estarem defendendo partes mais frágeis, que sofreram traumas repetidamente na infância. O mesmo autor afirma que quando uma criança foi submetida a agressões verbais ou não verbais de que ela teria pouco ou nenhum valor, suas partes em formação ficarão desesperadas por redenção aos olhos desta pessoa que dirigiu estas mensagens. Luciano vivenciou esta experiência com sua mãe, reconhecendo que nunca conseguiu satisfazê-la como o irmão conseguiu, sendo este o preferido dela, conforme referiu. Segundo Winnicott (1993), o processo gradual de dependência para independência, com maior liberdade de pensamento e ação, requer um esforço sadio do jovem em uma série bem graduada de atitudes que promovam o afastamento, no sentido de organizar o crescimento gradual para os diversos aspectos exigidos, porém conservando o vínculo inconsciente com as figuras parentais. Luciano não tinha atingido a independência de sua família até a morte do pai e estava submetido à mãe, que dificultava seu crescimento, segundo ele, quando ela fazia tudo por ele na infância, mas não demonstrava afetuosidade nas suas ações. Haley (1980) afirmou que algumas mães podem exagerar a importância de criar os filhos, encorajando-os a ter problemas, o que os tornaria aprisionados à sua devoção e atenção. Luciano sentia medo diante dela nas discussões mais simples ou mesmo quando era cobrado por suas atitudes profissionais e acadêmicas. Este medo ficava explícito nos autoboicotes seguidos, que se infringia com o fracasso para conseguir um emprego ou nas reprovações na faculdade. 14 Para enfrentar e contra-atacar a mãe-morte, ele se vê como uma fera que avançava sobre ela com raiva e palavras agressivas, tentando sobreviver àquela que, aos poucos, roubou sua autoestima. Pode-se inferir que Luciano estava preso numa armadilha funcional, que o mantinha, ao mesmo tempo, autor e vítima dessa relação com a mãe (Andolfi et al, 1989 a). No momento em que ele liberava aspectos ferinos no contra-ataque à mãe-morte, ele se sentia como um ser superior, ancião e sábio, que “sabe agir contra o mal”, tinha poderes superiores e sabia se defender. Ao vislumbrar a imagem do enfretamento Luciano referiu: “meu pai acreditava que eu poderia vencer por mim mesmo”! O pai estava na cena, ao lado de Luciano, através do aspecto superior e sábio, que ele também reconheceu nele através da imagem. Esta ambivalência pode representar a interiorização das duas figuras parentais, como forças opostas, que o tornam paralisado, ele nunca conseguiu reagir às cobranças da mãe porque o pai intervinha por ele, defendendo-o, agora que o pai está morto, Luciano precisará identificar em si mesmo a força para reagir à paralisação e encontrar a legitimidade de suas ações, diferenciando-se deles (Bowen, 1991; Schwartz, 2004). Conforme Jung (1999) referiu o indivíduo precisa encontrar a integração entre o processo interior e subjetivo e o processo objetivo de relação com as pessoas, um não pode existir sem o outro. Nas sessões seguintes, Luciano seguiu promovendo mudanças em sua postura na relação com sua mãe. Ele referiu que já estava conseguindo conversar e expor sua opinião sem se alterar com ela. A imagem referida foi retomada após algumas sessões e Luciano referiu que ainda sentia como se a mãe fosse “do mal”, mas agora podia enfrenta-la. A presença de Salete nas sessões mostrou que ele estava repetindo com ela o mesmo padrão que mantinha na relação com a mãe. Com isso, foi possível trabalhar a relação do casal nas dificuldades que Luciano estava reproduzindo, numa verdadeira terapia de casal preventiva. CONSIDERAÇÕES FINAIS O Jogo de Areia como recurso terapêutico mostrou-se eficiente na psicoterapia de adultos, possibilitando uma ampliação sobre o entendimento do indivíduo e suas relações familiares, para além da inclusão do membro familiar ausente. Com esta técnica foi possível reconhecer sentimentos, desejos, paralisações e padrões rígidos que pela consciência, através da palavra, não teria dado conta de identificar, ou mesmo, os teria escondido. 15 As imagens são concretas e visíveis, mas não literais, pode-se ver a realidade psíquica através de suas metáforas, que permitiram a elaboração de algo a mais do que o pensamento racional. A cena criada a partir das emoções e sentimentos agiu como uma lente de aumento, por onde se pode ver a realidade. A partir da inclusão imagética, a relação sistêmica se fez presente no instante terapêutico e o acesso ao mundo interno possibilitou aos participantes a identificação de suas dificuldades no relacionamento com seus familiares. E, sobretudo, a reelaboração de sentimentos e energias bloqueadas. O processo de diferenciação tardio foi recorrente nos três casos, o que é relevante e pode nos dar uma pista para novos estudos e pesquisas sobre esta condição psicológica. Seria esta uma característica presente nos pacientes resistentes a trazer um familiar significativo para participar da terapia? Contudo, esta condição reflete a imaturidade de alguns adultos na atualidade, que ainda permanecem enredados à família, dependentes emocionais e financeiramente. Na minha prática clínica, a utilização do Jogo de Areia no processo terapêutico com adultos tem se mostrado importante recurso para auxiliá-los a diferenciarem-se, liberando-os para viver de forma autêntica, capazes de se relacionar com seus mundos externo e interno. Com este estudo, trago um pouco da minha trajetória como terapeuta, realizando a integração da Psicologia Analítica e Sistêmica para compreensão integral do ser. REFERÊNCIAS Andolfi, M.; Angelo, C.; Menghi, P.; Corigliano, A.M.N. (1989a) Por trás da máscara familiar. Porto Alegre: Artes Médicas. Andolfi, M. Angelo, C. (1989b) Tempo e mito em psicoterapia familiar. Porto Alegre: Artmed. Aylmer. R.C. (1995) O lançamento do jovem adulto solteiro in Carter B; McGoldrick (1995) As mudanças no ciclo de vida familiar: uma estrutura para a família. 2ª edição. Porto Alegre: Artes Médicas. Ammann, Ruth. A Terapia do Jogo de Areia: imagens que curam a alma e desenvolvimento da personalidade. 2.ed. São Paulo: Paulus, 2002. Bauer, M. W.; Gaskell, G. (org.) (2002) Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis: Vozes. Boscolo, L.; Bertrando, P. (2012) Terapia Sistêmica Individual: manual prático na clínica. Tradução: Silvana Garavello. Belo Horizonte: Artesã. Bowen, M. (1991). De la familia al individuo: la diferenciación del sí mismo en el sistema familiar. Buenos Aires: Paidós. 16 Chevalier,J.;Gheerbrant, A.(2007) Dicionário de símbolos. 21º ed. Rio de Janeiro: José Olympio. Haley, J. (1980) Terapias no Convencional: las técnicas psiquiátricas de Milton H. Erickson. Buenos Aires: Amorrortu Editores. Hillman, J. (2010) Re-vendo a Psicologia. Tradução Gustavo Barcellos. Petrópolis, RJ: Vozes. Jung, C.G. (1986) Memórias, Sonhos e Reflexões. 8ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Jung, C. G. (1999) Ab-reação, análise dos sonhos, transferência. 4ª ed. Petrópolis: Vozes. Jung, C.G. (2000) A natureza da psique. 5ª ed. Petrópolis: Vozes. Jung, C.G. (2007) Os arquétipos e o inconsciente coletivo. 5ª ed. Petrópolis: Vozes. Laing, R.D. (1969) A política da família e outros ensaios. São Paulo: Martins Fontes. Levy, E.G. (2011) Tornar-se quem se é: a constelação do Self no jogo de areia. Porto Alegre: Armazém Digital. Disponível em <http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S167851772008000200005&lng=pt&nrm=iso>. Acessado em dez. 2012. Minuchin, S. (1990) Famílias: funcionamento e tratamento. Porto Alegre: Artes Médicas. Minuchin, S.; Fishman H.C. (2003) Técnicas de Terapia Familiar. Porto Alegre: Artmed. Schwartz, R.C. (2004) Terapia dos sistemas familiares internos. São Paulo: Roca. Silva, J.D.T., Muller, M. C.; Bonamigo, R.R. (2006). Estratégias de coping e níveis de estresse em pacientes portadores de psoríase. Anais Brasileiros de Dermatologia, 81(2), 143149. Disponível em http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S036505962006000200005&lng=en&tlng=pt.http://dx.doi.org/1 0.1590/S0365-05962006000200005. Acessado em dez. 2012. Simon, F.B.; Weber, G. (1989) Terapia Individual Sistêmica: Sistemas Familiares. Buenos Aires: (1989). Stake, R.E. (1994) Case Studies. In: N. Denzin & Y. Lincoln (Orgs) Handbook of Qualitative Research (pp.236-247). London: Sage. Thompson, J.B. (1999) Ideologia e Cultura Moderna: teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa. 3ed, Petrópolis: Vozes. Weinrib, E.L. (1993) Imagens do self: o Processo Terapêutico na Caixa-de-areia. São Paulo: Summus. Winnicott, D.W. (1993) A família e o desenvolvimento individual. São Paulo: Martins Fontes.