Metodologias: Sociologia Histórica - epistemologia, métodos e exemplos (Programa preliminar) Prof. Karl Monsma, 2016/1 PPG-Sociologia/UFRGS A Sociologia Histórica, embora bem estabelecida internacionalmente, não é tão comum no Brasil. Estudos históricos, e a tentativa de especificar historicamente a natureza da modernidade, foram centrais aos autores clássicos da Sociologia. Alguns dos fundadores da sociologia acadêmica brasileira, especialmente Florestan Fernandes e a “Escola Paulista”, também focalizavam a mudança histórica de maneira central, e alguns sociólogos brasileiros atuais trabalham com materiais históricos, notavelmente José Murilo de Carvalho e José de Souza Martins. Entretanto, a área ainda é pouco estabelecida no Brasil, e muitos sociólogos parecem não entender a importância da pesquisa histórica para o desenvolvimento da teoria social. Esta disciplina focaliza a nova sociologia histórica, que surgiu a partir dos anos 60 e 70 do século passado, principalmente nos EUA, mas inclui também importantes influencias europeias, especialmente de Norbert Elias. Uma das características centrais dessa nova sociologia histórica é a rejeição de qualquer linearidade ou esquema de etapas universais do desenvolvimento social. Junto com isso há uma forte tendência de rejeitar análises que identificam um aspecto da realidade social – tal como as relações sociais de produção ou valores fundamentais – que necessariamente predomina sobre outros aspectos e funciona como “motor” da história, em vez disso focalizando os desdobramentos das interações complexas e contingentes de processos sociais distintos. Boa parte da sociologia histórica tem focalizado as causas e as consequências de grandes processos de mudança que só podem ser pesquisados com materiais históricos, tais como o desenvolvimento do capitalismo e do estado-nação, colonialismo e pós-colonialismo, transições demográficas e grandes migrações, mudanças culturais. Mas a sociologia histórica também pode focalizar os processos de reprodução envolvidos na continuidade social, e processos, sequências, e combinações de eventos em contextos mais localizados. Hoje a sociologia histórica aborda quase todos os temas da sociologia, tais como gênero, família, racismo, relações de trabalho, organizações, ideologia, cultura, e religião. O que os diversos sociólogos que se auto-denominam históricos tem de comum é uma abordagem em que relações e estruturas sociais são tratados como resultados de combinações contingentes de processos e eventos. Isso os distingue tanto dos sociólogos que tentam identificar etapas universais de desenvolvimento social como daqueles que procuram compreender arranjos sociais específicos pelas suas relações com outros componentes de sistemas sociais. O primeiro módulo da disciplina aborda questões epistemológicas e metodológicas. O segundo módulo focaliza algumas obras exemplares. Avaliação Cada aluno é responsável por fazer todas as leituras e participar nas aulas. Além disso, deve elaborar breves apresentações de algumas leituras. O trabalho final consistirá ou de uma discussão das leituras da disciplina, ou uma comparação dessas leituras com uma obra da sociologia histórica brasileira. BIBLIOGRAFIA Módulo I ADAMS, Julia; CLEMENS, Elisabeth S.; ORLOFF, Ann Shola. Introduction: social theory, modernity, and the three waves of historical sociology. In: ADAMS, J.; CLEMENS, E. S.; ORLOFF, A. S. (org.) Remaking modernity: politics, history and sociology. Durham, NC: Duke University Press, 2005. ELIAS, Norbert. Introdução: sociologia e história. In: A sociedade de corte: investigação sobre a sociologia da realeza e da aristocracia de corte. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001 [orig. 1969]. ELIAS, Norbert. Sobre o tempo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998 [orig. 1984]. HIRSCHMAN, Daniel; REED, Isaac Ariail. Formation stories and causality in Sociology. Sociological Theory, v. 32, n. 4, 259–282, 2014. MONSMA, Karl. A nova sociologia histórica: contextos, trajetórias, eventos e complexidade na análise da mudança social. SKOCPOL, Theda. A imaginação histórica da sociologia. Estudos de Sociologia (Araraquara), v. 9, n. 16, 7-29, 2004. SEWELL, William H. Jr. Logics of history: social theory and social transformation. Chicago: University of Chicago Press, 2005. STEINMETZ, George. Critical realism and historical sociology. A review article. Comparative Studies in Society and History, v. 40, n. 1, 170-186, 1998 Módulo II DEMETRIOU, Chares. Processual comparative sociology: building on the approach of Charles Tilly. Sociological Theory, v. 30, n. 1, 51–65, 2012. ELIAS, Norbert. Os alemães: a luta pelo poder e a evolução do habitus nos séculos XIX e XX. Rio de Janeiro: Editora Jorge Zahar, 1997. KNÖBL, Wolfgang. La contingencia de la independencia y de la revolución: perspectivas teóricas y comparadas sobre América Latina. América Latina Hoy (Salamanca), v. 57, p. 15-49, abril 2011. MOORE, Barrington Jr. Injustiça: As bases sociais da obediência e da revolta. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987. TILLY, Charles. Coerção, capital e Estados europeus, 990-1992, trad. Geraldo Gerson de Souza. São Paulo: EdUSP, 1996 [orig. 1992].