Princípios de Interpretação da Bíblia Marcio S. da Rocha

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Princípios de
Interpretação da Bíblia
Como Ler e Entender a Bíblia Sagrada
Marcio S. da Rocha
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Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
MARCIO SOARES DA ROCHA
PRINCÍPIOS DE
INTERPRETAÇÃO DA
BÍBLIA
Como ler e entender a Bíblia Sagrada
[1ª Edição – do Autor]
Fortaleza
Marcio S. da Rocha
2010
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Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
Opiniões
"Entender a comunicação de Deus nas Escrituras é encontrar as pérolas da Vida.
Para isto precisamos discernir o que os narradores escreveram que Deus não
disse, e o que muitos leitores entendem des-focados da Vontade de Deus para
desfrutarmos a Vida abundante. O trabalho do Marcio é fruto desse esforço, de
quem busca com humildade discernir as pérolas preciosas do conteúdo das
Escrituras Sagradas, a fim de que todas as pessoas tenham a chance de responder
ao chamado de Deus para suas vidas. Ouvir a Deus não depende do que lemos
ou ouvimos, depende da sensibilidade do coração de quem observa e escuta".
Carlos Queiroz, escritor, pastor, Diretor Executivo da
ONG Diaconia, articulista da revista Cristianismo Hoje.
‚Marcio, parabéns pelo bonito trabalho. Com certeza será muito útil!‛
Gulherme Kerr Neto, pastor da Harbour Church – Fort
Lauderdale-Flórida-USA; cantor e compositor.
‚Marcio é fruto de uma família cristã. Uma família que além de ser
comprometida com a Palavra de Deus, é essencialmente musical. Todos tocam
com maestria algum instrumento. Surpreendeu-me, portanto, muito
positivamente, constatar que além de músico, o Marcio se apresenta também
como escritor cristão.
O Marcio está apenas iniciando a carreira de escritor, mas já se mostra um
escritor experiente.
O seu texto é conciso, claro, didático e muito esclarecedor.
Se por um lado é muito útil para aqueles que ainda não têm experiência em
hermenêutica, por outro lado, para os mais experientes, também é de muita
ajuda, pois apresenta uma metodologia que pode ser aplicada com muita
segurança no estudo e interpretação da Bíblia.
Tendo em vista a sólida formação evangélica do Marcio, é importante ressaltar
que, mesmo ele pretendendo elaborar um estudo metodológico, a doutrina da
salvação é apresentada de uma maneira insofismável e os dogmas evangélicos
são defendidos com muita clareza.
Recomendo, não apenas a leitura, mas principalmente, a aplicação deste
excelente livro no estudo da Palavra de Deus.‛
Ednilton Gomes de Soárez, Presbítero da Igreja
Presbiteriana Nova Jerusalém, empresário e
Presidente do Conselho Deliberativo do Instituto
Haggai Brasil.
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Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
"Em Princípios de Interpretação da Bíblia: como ler e entender a Bíblia Sagrada, Márcio
Rocha traz a contribuição dos elementos fundamentais para uma melhor
compreensão das Sagradas Escrituras. O autor consegue ser simples sem ser
simplista ao analisar os princípios gramaticais, históricos e teológicos da
Hermenêutica Bíblica. Portanto, o diferencial desta obra é a linguagem acessível
a qualquer pessoa que queira ler e estudar sempre a Bíblia para ser sábio, crer
melhor para ser salvo e praticar mais para ser santo. Boa leitura a todos!"
Hamilton Perninck Vieira, Bacharel em Teologia,
Licenciatura Plena em Pedagogia e Especialização em
Formação de Formadores. Professor do Seminário
Teológico Batista do Ceará na área de Bíblia e Estudos
Hermenêuticos.
"Ao longo dos séculos a Bíblia vem sendo instrumento de manipulação,
equívocos e blasfêmia. Poucos são os que realmente conseguem usufruir
plenamente do oceano de bênçãos das Escrituras. Em Princípios de Interpretação da
Bíblia, Márcio Rocha dá um caminho de fácil acesso para uma leitura
verdadeiramente edificante do texto bíblico, que reune pesquisa e inspiração com
base no discernimento, na fé e no espírito inquisitivo. Parabéns, Márcio!"
Jo Cestari, escritora, professora universitária e docente
internacional do Instituto Haggai.
‚Os diversos princípios aqui apresentados podem funcionar como importantes
‘lanternas’ que ajudarão a iluminar o caminho da leitura da Bíblia, em meio a
nossa natural escuridão espiritual, que deve ter no estilo de vida daquele que é
‚a Luz‛, o próprio Jesus, a sua maior fonte de referência, inspiração e revelação.‛
Augusto Guedes, pastor, compositor, escritor,
empresário, articulista da revista eletrônica
Cristianismo Criativo
(www.cristianismocriativo.com.br)
“É com muita alegria que escrevo sobre este livro. O ‘e-book’ é a onda do futuro
em comunicação e ensino cristão. Esta obra vai ajudar a família da fé, do novo
convertido até o líder veterano, a entender melhor a Palavra. Aprendi muito de
você quando era aluno meu na cadeira de Implantação de Igrejas, e agora posso
ser abençoado com este livro... com certeza vou introduzir outros alunos ao livro,
para que eles possam iluminar os grupos deles com este recurso valioso. Que
Deus lhe abençoe e que muitos leitores ponham em prática os dados espirituais
nesta obra.‛
Robert Hefner, Missionário da International Mission
Board, Richmond, Va., professor de Missiologia no
Seminário Teológico Batista do Ceará, e Coordenador
do Movimento Igreja No Meu Lar/TCP Grupo Feliz.
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Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
‚Esta obra atenua a necessidade da Igreja de Jesus no Brasil de um bom
discipulado. Todos nós conhecemos as aberrações advindas de um Cristianismo
sem conhecimento bíblico, mas também sabemos do que a Igreja é capaz de ser e
fazer quando conhece as Escrituras. Por isto, é com grande alegria que celebro o
trabalho do meu amigo Marcio Rocha em nossa língua. De forma simples e
objetiva, mas nem por isto superficial, Macio Rocha apresenta os Princípios de
Interpretação da Bíblia que certamente ajudarão o povo de Deus a fazer discípulos
em todas as nações‛
Herbert Nogueira, Presidente da Convenção das
Igrejas Batistas Independentes para o Nordeste
(CIBINE) e Pastor da Igreja Batista da Graça em
Fortaleza.
‚Para extrairmos o mais puro ouro da palavra de DEUS, precisamos dos
preciosos conceitos deste pequeno, mas preciso livro.‛
Franzé Fontenelle, empresário.
‚A leitura de seu e-book me rendeu momentos de rara emoção. A forma sintética
e objetiva de abordar um assunto sinônimo de complexidade atrai a leitura dos
iniciantes no tema e contribui para o aprendizado daqueles que já conhecem algo
da matéria. Parabéns pelo linguajar acessível e pela fácil leitura. Creio que sua
obra será de grande valia para grupos de estudo bíblico e grupos de crescimento
das igrejas cristãs.‛
Marcelo Cavalcante, Engenheiro Civil e empresário.
‚O livro Princípios de Interpretação da Bíblia do irmão Marcio Rocha, consegue de
forma sucinta apresentar conceitos profundos sobre a interpretação da Bíblia; foi
e tem sido de grande valia para o fortalecimento da minha compreensão sobre a
palavra de Deus. O Autor nos leva à percepção de detalhes no contexto bíblico e
favorece o crescimento, tanto do neófito, quanto daquele já fortalecido na fé.
Recomendo-o fortemente.‛
Ernesto Ferreira Nobre Júnior, Engenheiro e professor
universitário
‚O irmão Márcio estava iluminado pelo Espírito Santo ao resolver escrever esse
e-book, pois isso vai ajudar a muitos cristãos. A Bíblia é maravilhosa, mas
algumas passagens são bastante complexas para ser entendidas sem uma ajuda
na sua interpretação. O livro dá os passos a serem seguidos para uma leitura
interpretativa mais fácil. Acredito que isso servirá para facilitar a evangelização
de muitas pessoas.‛
Rejane Magalhães, médica endocrinologista.
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Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
‚Um livro oportuno que aborda os elementos fundamentais para o estudo das
Escrituras, feito com o carinho e a mente arguta de Marcio Rocha. No mais, ao ler
a Bíblia, creia que Deus lhe falará por ela e que Jesus, o Verbo, é a chave
Hermenêutica para sua compreensão, visto que examinamos as Escrituras por
julgarmos ter nelas a vida eterna e são elas mesmas que testificam do Verbo.‛
Edmundo Rocha, Dentista, líder de uma das igrejas
nos lares da Comunidade de Discípulos em Fortaleza,
um convidado para ser discípulo ainda impactado e
fascinado pelo autor do convite.
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Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
© 2010 Marcio da Rocha
Este e-book pode ser distribuído gratuitamente; porém não pode ser
comercializado sem a expressa autorização do autor.
Rocha, Marcio S.
Princípios de Interpretação da Bíblia:
como ler e entender a Bíblia Sagrada / Marcio S.
da Rocha. 1ª Edição. Fortaleza, 2010
E-Book
1. Bíblia. Interpretação.
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Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
‚Se o próprio Deus não abrir e explicar as Escrituras
Sagradas, ninguém poderá entendê-la; ela permanecerá um
livro fechado, envelopado na escuridão‛
Martinho Lutero
‚Aquele que quer crescer na Graça, precisa ser inquisitivo.‛
Matthew Henry
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Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
Sumário
Prefácio.......9
Introdução.......10
Princípio # 1. Iluminação do Espírito Santo....... 12
Princípio # 2. Unidade – Ausência de Contradição.......14
Princípio # 3. Autoridade Divina....... 17
Princípio # 4. Consideração do Estilo Literário e Gramatical....... 19
Princípio # 5. Consideração do Contexto.......21
Princípio # 6. Precedência das Passagens Claras.......24
Princípio # 7. Revelação Cumulativa ou Progressiva.......26
Princípio # 8. Precedência do Sentido Literal.......28
Princípio # 9. Precedência das Passagens Didáticas.......31
Princípio # 10. Significado Pela Primeira Menção.......33
Acerca das Diversas Versões da Bíblia.......34
Questionário de Ajuda Para Aplicação dos Princípios.......36
Conclusão.......38
Apêndice - Significados das Parábolas de Jesus.......39
Referências Bibliográficas.......45
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Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
Prefácio
‚O senhor entende o que está lendo?‛ Ele respondeu: ‘Como
posso entender se alguém não me explicar?’‛ (Atos 8.3031).
A
interpretação adequada da Bíblia é muito importante para todo aquele
que já é ou quer ser seguidor de Jesus Cristo. Entretanto, muitos
desconhecem ou desprezam os princípios desta ciência e deixam de
entender as maravilhosas verdades bíblicas, ou pior: obtém entendimentos
particulares que têm conduzido alguns a até formularem doutrinas estranhas ao
Cristianismo. Como toda literatura antiga, a Bíblia tem suas próprias
peculiaridades que precisam ser respeitadas por quem a lê e interpreta, do
contrário, não entenderá; ou entenderá erradamente a sua mensagem.
Interpretar uma literatura, no conceito clássico, significa descobrir e
entender o sentido original do seu texto, aquele que o autor quis comunicar ao escrevê-la.
Quem lê a Bíblia também precisa ter em mente esse objetivo: descobrir o mais
fielmente possível o sentido do que os escritores dos seus livros comunicaram ao
escrever e ainda mais – o que o autor (Deus) nos comunicou por meio de seus
servos, nos livros sagrados.
A presente obra não se constitui num tratado exaustivo sobre
interpretação bíblica. Ele enfoca de modo sintético, os princípios mais
importantes que devem nortear a interpretação adequada do ‚Livro dos livros‛.
Princípios que têm sido percebidos e ensinados por cristãos notáveis desde a
igreja primitiva até hoje. Esperamos contribuir para a saúde da vida espiritual do
leitor da Bíblia, ajudando-o a ler e entender a Palavra de Deus. Para aqueles que
quiserem se aprofundar no tema, a Bibliografia aqui indicada será bastante útil.
Enfim, objetivamos com a presente obra contribuir para que pessoas
comuns, não estudiosas de Teologia Acadêmica, compreendam a Bíblia Sagrada.
Esperamos ajudar a minimizar as diferenças de interpretações que existem hoje
em dia entre diferentes correntes do Cristianismo, apresentando aqui, de modo
simples, os princípios que devem reger a interpretação bíblica, segundo a
metodologia ortodoxa (histórica e clássica). Esperamos também estar
contribuindo para o ensino correto da Hermenêutica Bíblica. Aos professores e
facilitadores que porventura venham a utilizar esta obra como texto-base,
sugerimos que enriqueçam os poucos exemplos aqui dados, conforme o tempo
que disponham em seus estudos e aulas, e conforme as necessidades e interesses
dos seus alunos. Que o Senhor os ilumine.
Marcio S. da Rocha
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Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
Introdução
A
ntes de começar a apresentar as principais diretrizes (princípios) que
regem a Hermenêutica Bíblica Clássica, convêm destacar que, apesar de
Clemente de Alexandria (150 – 215 d.C.) e Orígenes (185 – 254 d.C.)
terem dado contribuições significantes para a arte-ciência da Hermenêutica
Bíblica, o primeiro cristão a sistematizar notavelmente esta disciplina,
transformando-a num conhecimento teológico-científico foi Agostinho (304 – 430
d.C.). Em seu livro Sobre a Doutrina Cristã, ele estabeleceu diversas regras para
interpretação e exposição das Escrituras, algumas das quais estão em uso até
hoje. Segundo VIRKLER (1987)1, seus princípios mais importantes eram:
1. O intérprete deve possuir fé cristã autêntica;
2. Deve-se ter em alta conta o significado literal e histórico das Escrituras;
3. As Escrituras possuem mais que um significado e, portanto, o método
alegórico é adequado;
4. Há significado nos números bíblicos;
5. O Antigo Testamento é documento Cristão, porque Cristo está retratado
nele do princípio ao fim;
6. Compete ao intérprete entender o que o autor pretendia dizer, e não
introduzir no texto o significado que ele, o intérprete, quer lhe dar;
7. O intérprete deve consultar o credo ortodoxo;
8. Um verso deve ser estudado em seu contexto, e não isolado dos versos
que os cercam;
9. Se o significado de um texto é obscuro, nada na passagem pode
constituir-se matéria de fé ortodoxa;
10. O Espírito Santo não toma o lugar do aprendizado necessário para se
entender as Escrituras. O intérprete deve conhecer Hebraico, Grego,
Geografia Bíblica e outros assuntos;
11. A passagem obscura deve dar preferência à passagem clara;
12. O intérprete deve levar em consideração que a revelação é progressiva.
Apesar de sua brilhante contribuição no campo da Hermenêutica Bíblica,
paradoxalmente, Agostinho cometeu um erro quando interpretava as Escrituras.
Seu erro foi considerar que toda passagem da Bíblia possuía um sentido
alegórico, além do sentido literal, e colocar excessiva força nesse sentido
1
VIRKLER, Henry A. Hermenêutica: Princípios e processos de interpretação bíblica. Miami: Editora
Vida, 1987.
11
Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
alegórico, em detrimento do sentido literal. Aplicava o seu princípio de número 3
de forma generalizada, e assim entrava em contradição com o seu princípio de
número 2. É certo que há muitas passagens na Bíblia – no Velho Testamento –
que foram alegorizadas por autores do Novo Testamento, mas isto não significa
que todas as passagens bíblicas podem ser alegorizadas, como ele afirmava. Na
teoria, Agostinho foi brilhante; na prática, porém, ele desprezou vários dos
princípios que ele próprio sistematizou e suas interpretações deixaram muito a
desejar. Consequentemente, este e os princípios de números 4 e 7 de Agostinho
(mencionados neste capítulo) foram sendo reformulados ao longo do tempo
pelos teólogos, pois com a redação de Agostinho conduziam o intérprete da
Bíblia a um entendimento bitolado, ao invés de permitir o real entendimento da
intenção do escritor bíblico. Por exemplo, no tocante ao princípio 4, nem todos os
números que aparecem nas Escrituras são simbólicos. Os números simbólicos são
especificamente os números constantes nos livros proféticos, ou aqueles inseridos
em passagens cujas linguagens estão em sentido figurado. Os demais devem ser
preferencialmente entendidos literalmente. Com relação ao princípio 7, hoje em
dia se diz que o intérprete deve sempre considerar as diretrizes do Credo dos
Apóstolos.
Assim, os princípios de Agostinho são até hoje utilizados, apesar de que
alguns, embora mantendo sua essência, tiveram seus enunciados modificados
para dar-lhes maior clareza. Outros princípios foram sistematizados com o
passar do tempo por vários eruditos cristãos, culminando num legado que hoje
nos propicia uma boa contribuição para o entendimento adequado da Bíblia.
Nos capítulos seguintes, apresentamos os modernos princípios de
interpretação da Bíblia. Para alguns princípios, são indicadas passagens bíblicas,
e são dados alguns exemplos de interpretação, com a aplicação daquele princípio
em estudo.
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Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
Princípio # 1
Iluminação do Espírito Santo
A
Bíblia é uma coleção de livros que, ao mesmo tempo, são humanos e
divinos. Portanto, a Bíblia não é um livro comum! Seus livros foram
escritos por homens, porém esses escritores escreveram o que Deus
mandou; foram movidos (inspirados) pelo Espírito Santo. Assim nos diz II Pedro
1:21:
‚Porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana;
entretanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito
Santo‛.
Devido à sua inspiração divina, a Bíblia só pode ser compreendida
plenamente com o auxílio do Espírito Santo. Veja o que o Apóstolo Paulo
escreveu em 1 Coríntios 2.14: ‚Ora, o homem natural não aceita as coisas do
Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se
discernem espiritualmente‛. Isto não significa que qualquer pessoa que aplique
adequadamente os princípios clássicos de interpretação textual e que tenha
informações básicas sobre o contexto histórico das épocas bíblicas não consiga
entender a Bíblia. Até mesmo um cético pode entendê-la. Aliás, ela foi feita para
comunicar verdades a todos os homens, tanto os que crêem quanto os incrédulos.
Porém, sem a presença do Espírito Santo, ninguém a aceitará como verdade, pois
é o Espírito Santo quem convence o ser humano de que a Bíblia é a Palavra de
Deus. Isso é o que se chama de Compreensão Plena das Escrituras: entendimento,
aceitação e aplicação prática.
O homem, em seu estado natural, é um rebelde contra o Criador e luta
contra Deus e sua verdade (ver Gênesis 6:5-6; João 3:19; Romanos 3:23; Efésios
2:3). O ‚homem natural‛ é criatura e não filho de Deus, no sentido de que não
desenvolve um relacionamento pessoal com Deus, em submissão e amor.
Quando alguém desiste dessa rebeldia e se rende ao Eterno Deus, recebendo em
seu coração o seu Filho Jesus, como está escrito em João 1.12: ‚Mas, a todos os
que o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber os que
crêem no seu nome.‛, Deus altera o estado inicial dessa pessoa, que deixa de ser
uma criatura rebelde contra o criador e se torna seu filho. Então, o Espírito Santo
vem ajudá-lo a compreender e praticar a verdade. Jesus afirmou que os seus
seguidores seriam guiados pelo Espírito Santo à toda verdade (João 16.13).
Assim, qualquer pessoa (convertida ou não) pode entender a Bíblia, desde
que conheça os princípios da Hermenêutica Bíblica; no entanto, somente os que
‚nasceram de novo‛, receberam a Jesus como seu Senhor e Salvador, podem
compreendê-la em sua plenitude, aceitá-la e aplicá-la na vida prática. Os não
13
Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
convertidos são perfeitamente capazes de entender a Bíblia, mas não
concordarão plenamente com ela. Estes aceitarão apenas os princípios e
ensinamentos que lhes forem convenientes, à luz do Humanismo (filosofia que
considera o ser humano como o centro do universo) ou de suas convicções
religiosas/espirituais prévias.
Perguntas para reflexão e aprofundamento (sobre o Princípio # 1):
 O que significa a Compreensão Plena Das Escrituras?
 Paulo diz que existem ‚homens naturais‛ (I Cor. 2.14) e ‚homens
espirituais‛ (I Cor. 2.15). Diz também que o ‚homem natural‛ não
consegue aceitar nem entender as coisas do Espírito de Deus. Por que ele
não entende?
 Costuma-se dizer popularmente que ‚todos são filhos de Deus‛. O que a
Bíblia diz sobre isto? (ver Evangelho de João 1.10-13). A Bíblia concorda
que todos sejam filhos de Deus, ou há uma condição para que uma pessoa
se torne filho de Deus, passando de homem natural para homem
espiritual?
 Uma pessoa inteligente, que conheça e saiba aplicar os princípios de
interpretação bíblica, mas não crê em Deus, pode entender a mensagem da
Bíblia?
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Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
Princípio # 2
Unidade – Ausência de Contradição
U
ma vez que Deus é o autor dos livros sagrados, e visto que cerca de
quarenta escritores os escreveram (em épocas diferentes) por inspiração
divina, a Bíblia toda contém uma unidade em sua mensagem. O
conteúdo de nenhum dos sessenta e seis livros canônicos (inspirados por Deus)
contradiz o de outro livro da Bíblia, nem o seu próprio, pois Deus não se contradiz.
O que muitos apontam como ‚contradições bíblicas‛ são, na verdade,
erros de interpretação, intencionais ou não intencionais. Além disso, oponentes
da Bíblia e da Fé Cristã apontam como contraditórios alguns relatos feitos pelos
diferentes autores dos Evangelhos que contém aspectos diferentes em suas
narrações de um mesmo evento. Na verdade, o que acontece é que certos eventos
narrados nos Evangelhos se complementam quando juntamos os diferentes
relatos – eles não se contradizem, mas, se integram. Deve-se, também, procurar
entender adequadamente os diferentes sistemas de datas e medidas usados pelos
diferentes autores, para não pensar que há contradições.
Costuma-se pensar que Tiago, no capítulo 2 de sua carta, combate Paulo,
a respeito da justificação (salvação), porém, na verdade, os dois se
complementam. Paulo diz que a justificação é somente pela fé (Romanos 4.13;
5.1; 10.4, 9,10; Gálatas 2.16, 21; Efésios 2.8-9). Tiago complementa que esta fé que
justifica e salva nunca é apenas teórica; deve ser refletida no comportamento
cotidiano, ou seja, nas ações daquele que crê. Tiago jamais diz que as obras
justificam (salvam) por si mesmas, mas diz que a fé que justifica é sempre
acompanhada de uma transformação de vida (Tiago 2.14-26). Paulo também
exorta, em várias de suas cartas, os cristãos a praticarem boas obras como fruto
de sua fé. Tiago e Paulo se complementam, e não se contradizem.
É importante enfatizar aqui que esta unidade perfeita e impressionante
de pensamento somente se encontra nos sessenta e seis livros consensualmente
canônicos, isto é, aqueles que tanto os católicos quanto os protestantes aceitam
como inspirados por Deus. Quando se comparam os ensinamentos dos livros
canônicos com os chamados ‚Deuterocanônicos2.‛, diversas contradições ficam
evidentes.
O Concílio Católico-Romano de Trento (1546), ocorrido logo depois da
Reforma Protestante (1517), atribuiu canonicidade a mais sete livros, incluindo-os
no Antigo Testamento, além de pequenos trechos dos livros de Ester e Daniel.
2
Deuterocanônico é uma palavra de origem grega, que significa “segundo Cânon”, ou seja, que foi
adicionado posteriormente ao Cânon já existente.
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Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
Esses livros e trechos eram usados antes de Cristo pelos judeus de língua grega, e
alguns estudiosos afirmam (sem provas conclusivas) que eles integravam a
Septuaginta – a versão grega do Antigo Testamento Hebraico, feita em
Alexandria-Egito.
Desde o início da Idade Média até o Concílio de Trento, os
deuterocanônicos integravam as Bíblias, mas sua canonicidade era controversa.
Muitos cristãos os consideravam apenas como importantes pelo seu valor
histórico e cultural. O fato é que eles não entraram no cânon das Escrituras
Sagradas Judaicas (o Antigo Testamento), definido no ano 90 d.C, no Concílio
Judaico de Jamnia. É significante que os judeus – guardiões das palavras
sagradas do Antigo Testamento – não consideraram esses livros e trechos como
sendo inspirados por Deus. Para eles, esses livros e trechos não são
‚deuterocanônicos‛, mas apenas históricos.
Os que defendem a canonicidade dos deuterocanônicos com base em que
eles integravam a Septuaginta, não foram capazes de apresentar um só
manuscrito que os contenha todos. Esses livros aparecem em códices (coleções de
manuscritos) gregos datados a partir do Século IV, e mesmo assim, os sete livros
canonizados em 1546 pela Igreja Católica-Romana nunca foram encontrados
todos em um só códice. Nenhum códice contém a lista completa de todos os sete
livros acrescentados em 1546. Isto é mais uma indicação de que esses livros
nunca foram considerados canônicos pela igreja cristã primitiva. São livros
preservados pelos judeus e pela igreja por seu valor histórico, mas não foram
inspirados por Deus. Nesses livros (‚deuterocanônicos‛) existem ensinamentos
claramente contrários aos dos demais livros canônicos (tais como Purgatório, Reza
pelos mortos, Pagamento de pecados por meio de dar esmolas etc.) e isso causa confusão
na mente dos leitores da Bíblia Católica. Nos livros inspirados – sagrados
(canônicos), entretanto, não há contradição e este é um dos mais importantes
princípios de interpretação bíblica.
Perguntas para reflexão e aprofundamento (sobre o Princípio # 2):
 Foram os protestantes que excluíram do Velho Testamento da Bíblia (As
Escrituras Hebraicas) os sete livros Deuterocanônicos, ou foram os
Católicos Romanos que os incluíram?
 O livro de Gálatas, cap. 2 verso16 diz:
‚Sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da
lei, mas sim, pela fé em Cristo Jesus, nós temos também crido em
Cristo Jesus para que fôssemos justificados pela fé em Cristo, e
não por obras da lei; pois por obras da lei ninguém será
justificado.‛ (Bíblia Almeida Revista e Atualizada)
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Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
O livro de Efésios, no cap. 2, versos 8-9, diz:
‚Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de
vós; é dom de Deus; não de obras para que ninguém se glorie.‛
(Bíblia Almeida Revista e Atualizada)
O livro de Hebreus, cap. 9, versos 11 e 12 diz:
‚Porém, já veio Cristo, Sumo Sacerdote dos bens vindouros. E
através de um tabernáculo mais excelente e mais perfeito, não
construído por mãos humanas (isto é, não deste mundo), sem
levar consigo o sangue de carneiros ou novilhos, mas com seu
próprio sangue, entrou de uma vez por todas no santuário,
adquirindo-nos uma redenção eterna. (Bíblia Ave Maria)
Também o livro de Hebreus, cap. 9, verso 22, diz:
‚E quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue;
e sem derramamento de sangue não há perdão.‛ (Bíblia Almeida
Revista e Atualizada)
O livro de Tobias, cap 4, verso11, diz:
‚Porque a esmola livra do pecado e da morte, e preserva a alma
de cair nas trevas.‛ (Bíblia Ave Maria)
Não está o verso de Tobias 4.11 em clara contradição com os quatro versos
anteriores de Gálatas, Efésios e Hebreus? Se sim, como explicar isto?
 Tobias 12.12-15 diz:
‚Quando tu oravas com lágrimas e enterravas os mortos, quando
deixavas a tua refeição e ias ocultar os mortos em tua casa
durante o dia, para sepultá-los quando viesse a noite, eu
apresentava as tuas orações ao Senhor. Mas porque eras
agradável ao Senhor, foi preciso que a tentação te provasse.
Agora o Senhor enviou-me para curar-te e livrar do demônio
Sara, mulher de teu filho. Eu sou o anjo Rafael, um dos sete que
assistimos na presença do Senhor. (Bíblia Ave Maria)
I Timóteo 2.5 diz:
‚Porque há um só Deus e há um só mediador entre Deus e os
homens: Jesus Cristo, homem.‛ (Bíblia Ave Maria)
Em Tobias 12.12-15 está escrito que um anjo fazia mediação entre um
homem e Deus (apresentando suas orações). Já em I Timóteo 2.5 está
categoricamente afirmado que só há um único mediador entre Deus e os
homens: Jesus Cristo. As duas passagens entram em choque direto. Como
explicar isto?
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Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
Princípio # 3
Autoridade Divina
O
s originais da Bíblia foram escritos (em Hebraico, Aramaico 3 e Grego) por
profetas e por apóstolos (2 Timóteo 3:16; 2 Pedro 1.19-21). Esses homens
registraram fielmente o que Deus queria nos comunicar. Hoje nós não
dispomos mais dos autógrafos (os originais escritos pelas próprias mãos dos
escritores), mas dispomos de milhares de manuscritos (aproximadamente vinte e
quatro mil, no caso do Novo Testamento), encontrados pelos arqueólogos, ao
longo dos séculos. O manuscrito mais antigo do Novo Testamento (P52), à nossa
disposição hoje, data de aproximadamente 120 d.C., portanto, cerca de apenas
cinquenta anos depois do original deste livro ter sido escrito! Nenhum livro
antigo possui uma atestação arqueológica tão próxima à do seu original. A
literatura antiga que mais se aproxima do Novo Testamento, em termos de
atestação manuscrita disponível é a Ilíada de Homero, com aproximadamente 500
manuscritos existentes na atualidade e diferença de mais de quinhentos anos
entre o original e a cópia mais antiga. Veja a diferença entre o primeiro e o
segundo colocado: 450 anos e 23.500 manuscritos!
Os manuscritos Gregos do Novo Testamento (hoje, em número de
aproximadamente 5.700) apresentam leituras variantes porque as cópias das
Escrituras até o século XV eram feitas à mão. Entretanto, vários eruditos já
constataram que os ensinamentos centrais do Cristianismo foram transmitidos
até hoje com fidelidade; as leituras variantes só ocorreram em frases e versos que
tratam de assuntos periféricos da Fé Cristã. Além disso, um grupo de eruditos
acadêmicos de renomadas universidades (chamados de Críticos Textuais) se
dedica à restauração dos originais da Bíblia a partir dos manuscritos disponíveis.
A Bíblia, para os cristãos, é a autoridade suprema quanto às verdades
espirituais e quanto à essência do ser humano. Ela está acima da Filosofia e da
Psicologia, pois estas são expressões do pensamento humano, enquanto a Bíblia é
a expressão do pensamento de Deus. Ela também está acima da tradição religiosa
(judaica, cristã ou de outra religião) e, sempre que houver uma contradição entre
uma tradição religiosa e o ensino bíblico, este deve prevalecer, pois afinal, é a
palavra de Deus contra a dos homens. Somente a Bíblia foi inspirada. A tradição
não. Jesus disse que os fariseus transgrediam e invalidavam a palavra de Deus
por causa das tradições deles (Mateus 15:3, 6). Por semelhança, qualquer religião
3
Todos os livros do Velho Testamento foram escritos originalmente por profetas judeus, em Hebraico.
Apenas um pequeno trecho do Livro de Esdras foi escrito em Aramaico. Todos os livros do Novo
Testamento foram escritos originalmente em Grego. Alguns eruditos afirmam que Mateus pode ter sido
escrito em Aramaico, porém nenhum manuscrito antigo desse livro em Aramaico foi descoberto até hoje.
18
Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
ou instituição que coloca suas tradições acima da Bíblia está incorrendo no
mesmo erro dos fariseus, tão combatidos por Jesus.
Perguntas para reflexão e aprofundamento (Sobre o Princípio # 3):
 Apesar de se saber que os textos dos manuscritos do Novo Testamento
sofreram alterações ao longo do tempo, é possível confiar no texto
moderno da Bíblia como sendo fiel aos originais?
 Qual é a fonte essencial dos ensinamento do Cristianismo, a Bíblia ou a
igreja? Em outras palavras, onde podemos encontrar, de forma mais pura,
os ensinamentos de Cristo e dos seus apóstolos: na Bíblia ou nos
ensinamentos verbais, livros e catecismos de uma instituição eclesiástica
particular?
 Leia esta frase: ‚Se a igreja deixar de existir como instituição, o Cristianismo
não se extingue, pois permanecerá no coração daqueles que crêem em Cristo;
porém, se a Bíblia for extinta, em poucas gerações, o Cristianismo será
completamente esquecido.‛ Você concorda ou discorda com ela? Justifique.
 Todo grupo ou instituição religiosa desenvolve suas próprias tradições ao
longo do tempo. Essas tradições podem prevalecer contra o texto Bíblico?
Em outras palavras, se os líderes e adeptos de uma instituição religiosa
praticam algo contrário ao que a Bíblia claramente ensina, o cristão deve
desprezar o ensino bíblico ou abandonar a prática daquela religião?
 Qual é a diferença essencial entre as afirmações da Bíblia e as da Filosofia
e da Psicologia?
19
Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
Princípio # 4
Consideração do Estilo Literário e Gramatical
C
ada livro da Bíblia possui seu estilo literário peculiar, que deve ser
considerado para a sua adequada interpretação. Aliás, até mesmo dentro
de cada livro pode haver mais de um estilo literário. A Bíblia contém
narrativas, mandamentos, leis, poesias, profecias, parábolas, provérbios e
reflexões etc. Não se deve interpretar história como se fosse poesia e nem
parábola como se fosse história. Aliás, esse é um princípio comum a qualquer
outra literatura, não se aplicando apenas à Bíblia Sagrada.
Além do estilo gramatical, a etimologia e a semântica das palavras
constantes no texto bíblico não podem ser desprezadas em sua interpretação. As
construções gramaticais usadas na Bíblia indicam um sentido próprio que deve
nortear a interpretação. Um verbo não é um substantivo; um substantivo não é
um advérbio e assim por diante.
A Bíblia é um conjunto de livros. Como literatura, o seu objetivo é
comunicar e não confundir. Afora algumas dificuldades relacionadas ao contexto
histórico-cultural ou às traduções, não há sentido oculto ou misterioso nas letras
e palavras da Bíblia. Ela não é nem contém um código secreto que apenas os
‚iniciados‛ na religião ou nos mistérios antigos podem compreender. Não há
‚mistérios nas entrelinhas‛. Quem procura interpretar a Bíblia lendo as entrelinhas,
deixa de ler as linhas.
Como literatura, as Escrituras Sagradas podem ser compreendidas por
qualquer pessoa que a leia, desde que conheça os seus princípios hermenêuticos.
Então, sempre que alguma pessoa ou instituição religiosa afirmar que possui
exclusividade quanto à correta interpretação da Bíblia, que ninguém consegue
compreender a Bíblia por si, essa não está bem intencionada. A Bíblia foi
produzida por Deus, por meio de homens, para nos comunicar (revelar) quem
Ele é e como Ele nos vê. Portanto, não faz sentido que Ele (Deus), querendo
comunicar, escondeu, deixando os ‚segredos‛ para determinado e exclusivo
grupo religioso. Ao contrário, geralmente a linguagem da Bíblia é simples e
direta, e o estilo literário, bem como as regras gramaticais devem ser
considerados, como em qualquer outra literatura. Não há intérprete oficial da
Bíblia, a não ser o autor – Deus, por meio do Espírito Santo, dado a todo aquele
que o pede (‚Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos,
quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?‛,
Mateus 7.11).
20
Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
Perguntas para reflexão e aprofundamento (Sobre o Princípio # 4):
 Veja a seguinte passagem bíblica:
‚Como és formosa, amada minha, eis que és formosa! Os teus olhos são
como pombas por detrás do teu véu; o teu cabelo é como o rebanho de
cabras que descem pelas colinas de Gileade. Os teus dentes são como o
rebanho das ovelhas tosquiadas, que sobem do lavadouro, e das quais cada
uma tem gêmeos, e nenhuma delas é desfilhada. Os teus lábios são como um
fio de escarlate, e a tua boca e formosa; as tuas faces são como as metades de
uma romã por detrás do teu véu. O teu pescoço é como a torre de Davi,
edificada para sala de armas; no qual pendem mil broquéis, todos escudos
de guerreiros valentes. Os teus seios são como dois filhos gêmeos da gazela,
que se apascentam entre os lírios. Antes que refresque o dia e fujam as
sombras, irei ao monte da mirra e ao outeiro do incenso. Tu és toda formosa,
amada minha, e em ti não há mancha.‛
Qual o estilo literário da passagem acima?
( ) Narrativa histórica
( ) Poesia
( ) Mandamento
( ) Profecia
( ) Carta
 Há alguma dificuldade em perceber que o texto faz comparações
metafóricas?
 O que significa ‚Não há sentido oculto ou misterioso nas letras e palavras
da Bíblia‛?
21
Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
Princípio # 5
Consideração do Contexto
‚Um texto fora do contexto é um pretexto‛ (provérbio popular)
E
ste princípio pode ser classificado como o mais importante da
Hermenêutica Bíblica e também da Hermenêutica Geral. A maioria dos
erros de interpretação da Bíblia ocorre por falta de consideração da
passagem ou do livro onde estão a palavra ou o verso que se está interpretando.
Ler apenas um parágrafo, um verso, ou uma palavra isoladamente do seu
capítulo, ou do conjunto de capítulos que tratam daquele tema, ou do próprio
livro, pode induzir o leitor a uma conclusão que jamais o escritor intencionou.
Outros erros se dão por causa do desconhecimento de fatos históricos
relacionados à época dos escritores bíblicos.
Contexto Literário
As palavras não possuem um único sentido e o sentido de uma palavra
Bíblica deve ser percebido na frase, no parágrafo e no capítulo onde ela se situa e,
não isoladamente. Citando um exemplo não bíblico da língua portuguesa, a
palavra ‚manga‛ tem um sentido em ‚rasgou a manga de sua camisa quando a
enganchou na fechadura da porta‛ e outro totalmente diferente em ‚saboreou uma
manga‛.
De forma análoga, o sentido de uma palavra usada na Bíblia pode ser
diferente em passagens diferentes, só sendo percebido claramente pelo seu
contexto. Por exemplo, a palavra ‚irmão‛ é utilizada na Bíblia tanto no sentido
literal de irmão de sangue (Mateus 12:46-47 e 13:55-56), bem como no sentido
mais amplo de parente (Gênesis 13:8), de irmão de fé (Mateus 12:50), ou de
compatriota (Êxodo 2:11). No entanto, o contexto onde ela aparece deixará claro
qual é o sentido intencionado pelo escritor. Também a palavra salvação é muitas
vezes usada no sentido da conversão, que se dá pelo reconhecimento e
arrependimento dos pecados e pela aceitação do perdão de Deus, para que uma
pessoa seja aceita no Reino de Deus e passe a ter o direito de viver eternamente
em comunhão com ele (ex. Lucas 1:77; 19:9; Atos 4:12); porém, às vezes, ela é
usada na Bíblia no sentido de restauração do corpo humano (físico) dos crentes ao
estado original da criação, que acontecerá quando Jesus Cristo retornar a terra e
ressuscitar os mortos (este é o sentido em 1 Pedro 1:5; 2:2).
Além disto, algumas palavras na Bíblia podem ter significado bastante
diferente daquele usado na época atual, portanto, o dicionário não deve ser a
única fonte de consulta para quem quer compreendê-la. O verbo batizar, por
22
Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
exemplo, nos dias de hoje, pode significar dar nome a algo ou a alguém. Na
Bíblia, batizar nunca significa isto. O intérprete da Bíblia deve ter como fonte de
consulta um dicionário bíblico e/ou um léxico bíblico, e não um dicionário
comum. Um léxico é um dicionário bilíngüe entre uma língua original da Bíblia e
a língua pátria, que indica todos os possíveis sentidos de uma palavra da Bíblia,
considerando o adequado contexto histórico-cultural e literário dos tempos
bíblicos.
O contexto imediato de uma frase ou verso são as frases ou versos
imediatamente anteriores e posteriores a ele. O contexto amplo pode ser
entendido como os capítulos ou o livro no qual a passagem ou verso estão
inseridos, ou até outras passagens em outros livros bíblicos nos quais o mesmo
assunto / tema é enfocado.
Um dos versos mais mal interpretados da Bíblia é Filipenses 4:13 (‚Tudo
posso naquele que me fortalece‛). A frase, isolada de seu contexto, têm levado
muitos a pensar que o escritor transmitiu a idéia de que uma pessoa, com a força
de Deus, se torna quase onipotente. O seu contexto imediato, entretanto,
evidencia que o significado do verso é outro. O Apóstolo Paulo escreveu a frase
dentro de um contexto no qual disse que conseguia suportar todo tipo de
sofrimento pelo qual ele passou por pregar o Evangelho (castigos físicos e
torturas, prisões, naufrágio, perseguição etc.) com a força que lhe era dada pelo
próprio Senhor Jesus. Outro exemplo de texto fora do contexto: a frase contida no
Salmo 14:1 (‚Não há Deus.‛), se isolada de seu contexto imediato (no caso, a
oração anterior do mesmo verso), pode induzir a se dizer absurdamente que a
Bíblia ensina que não existe Deus. Um versículo bíblico deve ser interpretado à
luz de seu parágrafo, capítulo, livro e até da Bíblia toda, pois ela, como já foi
visto, possui uma unidade harmônica (Princípio # 2).
Consideração da Biografia do Autor
Conhecer algo sobre a biografia do autor ajuda a entender a sua
mensagem com maior clareza. Deve-se perguntar: Quem escreveu? Para quem
foi escrito? Para que ou por que foi escrito? Quando foi escrito? Onde foi escrito?
Nem sempre é possível extrair todas as respostas a essas questões apenas
do texto Bíblico. O bom intérprete da Bíblia deve recorrer a pesquisas biográficas
dos escritores bíblicos, realizadas por eruditos teólogos e historiadores. Bíblias
com comentários em notas de rodapé também são bastante úteis neste aspecto.
O leitor deve, entretanto, saber fazer diferença entre o texto sagrado e o
comentário. Não se deve ‚sacramentar‛ notas de rodapé de Bíblias,
principalmente aquelas cujas edições são comprometidas com posições
doutrinárias particulares de certas instituições e denominações religiosas. Notas
de rodapés não são inspiradas por Deus; apenas o texto bíblico é sagrado. Ao ler
comentários e notas de rodapés de edições de Bíblias, principalmente quando se
23
Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
trata de temas polêmicos, deve-se procurar ler mais de um comentarista/editor e
só depois formar a sua própria opinião, dando sempre preferência ao que diz o
texto em si.
Contexto Histórico-Cultural
Do mesmo modo que conhecer a biografia do autor ajuda a entender a
sua mensagem, saber alguns detalhes do panorama histórico e geográfico que
envolvia o autor e o livro amplia a sua compreensão. Conhecer aspectos culturais
(moradia, costumes, vestimentas), tecnológicos (ferramentas, armas e outros
equipamentos), econômicos (moedas e medidas), sociais e geográficos, farão o
leitor perceber de forma mais vívida e clara o conteúdo da mensagem bíblica. Os
leitores da Bíblia devem recorrer a pesquisas histórico-culturais dos tempos e
povos bíblicos, realizadas por teólogos e historiadores, bem como a mapas e atlas
antigos. Um livro muito bom é o ‚Manual dos Tempos e Costumes Bíblicos‛, de
William Colleman. Há diversas boas edições de atlas bíblicos, e muitas edições
de Bíblias trazem mapas ao final.
Perguntas para reflexão e aprofundamento (Sobre o Princípio # 5):
 O que significa ‚considerar o contexto‛, na interpretação dos livros
sagrados?
 O que é o contexto imediato?
 O que é o contexto amplo?
 O dicionário comum é adequado para explicar o significado das palavras
bíblicas? Por que?
 Qual a correlação entre este princípio e o da Unidade (princípio # 2)?
 O que você sabe sobre a biografia de Paulo, o apóstolo? Pesquise e escreva.
 O que você sabe sobre a biografia dos quatro autores dos Evangelhos
bíblicos? Pesquise e escreva.
 No que estes fatos biográficos ajudam para o entendimento dos livros
escritos por esses escritores?
 O que você sabe sobre o Império Romano nos tempos de Jesus?
 O que você sabe sobre as línguas faladas em Israel, nos tempos de Jesus?
 O que você sabe sobre as moradias (casas) das pessoas em Israel, nos
tempos de Jesus?
 O que você sabe sobre as roupas usadas nas épocas bíblicas, na Palestina?
 No que essas informações ajudam, com relação ao entendimento dos
livros do Novo Testamento?
24
Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
Princípio # 6
Precedência das Passagens Claras - A Bíblia explica a
Bíblia
certo que na Bíblia há passagens mais difíceis de entender, e outras mais
fáceis. Por isso Agostinho dizia que não se deve construir ou elaborar
doutrinas com base em passagens obscuras da Bíblia. Ele disse: ‚A
passagem obscura deve dar preferência à passagem clara‛. Em outras palavras,
os textos obscuros e difíceis de interpretar devem ser interpretados à luz dos que
são mais fáceis de ser interpretados. É preciso ter muito cuidado com
interpretações de certas passagens da Bíblia que são mais difíceis de entender.
Algumas expressões idiomáticas próprias do Hebraico e do Aramaico antigos,
bem como do Grego Koiné, línguas nas quais a Bíblia foi escrita, não fazem
sentido nem no Hebraico nem no Grego modernos. O longo tempo decorrido
entre a época em que os manuscritos originais foram escritos e os dias de hoje,
fez com que algumas expressões se tornassem difíceis de compreender na
atualidade.
É
Lutero dizia: ‚O texto bíblico interpreta a si próprio‛. Para Lutero, o
entendimento da Bíblia não requer a necessidade de outro material bibliográfico
de ajuda, externo a ela, para seu entendimento, uma vez que vários textos e
autores bíblicos se complementam e se explicam. Esta frase de Lutero exprime
este princípio de interpretação aqui enfocado. O princípio significa que, ao ler
uma determinada passagem da Bíblia, quando o leitor não a entender, deve
primeiramente aquietar o coração, e procurar na própria Bíblia (em outro livro
do mesmo, ou de outro escritor bíblico) outras passagens mais fáceis que tratem
do mesmo assunto. Essas outras passagens4 irão clarear o entendimento do leitor.
A Bíblia explica a Bíblia. A idéia aqui é que se algum texto bíblico enfoca um
assunto ou doutrina de forma não muito clara, deve-se procurar saber se existem
outras passagens na Bíblia que tratem o mesmo assunto de forma mais clara e/ou
definitiva. Se existirem, o entendimento do cristão (sua doutrina) acerca desse
assunto deve ser definido com base nas passagens claras. Por outro lado, se não
existirem outras passagens que expliquem melhor o texto que está sendo lido, o
leitor deve aceitar que aquela passagem permanecerá um mistério – até Jesus
retornar à terra.
4
Outras passagens que tratam do mesmo assunto são encontradas facilmente na Bíblia por meio das
concordâncias bíblicas. Algumas edições de Bíblias trazem concordâncias incluídas. Elas também podem
ser adquiridas em separado. O conjunto de passagens da Bíblia que tratam sobre um mesmo assunto
formam o que se chama de “contexto amplo” das Escrituras.
25
Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
Três exemplos de passagens difíceis, sobre as quais não se deve definir nenhuma
doutrina cristã:
‚De outra maneira, que farão os que se batizam pelos mortos? Se
absolutamente os mortos não ressuscitam, por que então se batizam por
eles?‛ (1 Co. 15.29. ARA)
‚Naqueles dias estavam os nefilins na terra, e também depois, quando os
filhos de Deus conheceram as filhas dos homens, as quais lhes deram filhos.
Esses nefilins eram os valentes, os homens de renome, que houve na
antigüidade.‛ (Gen 6.4. ARA)
‚Poderás tirar com anzol o leviatã, ou apertar-lhe a língua com uma corda?
Poderás meter-lhe uma corda de junco no nariz, ou com um gancho furar a
sua queixada? Porventura te fará muitas súplicas, ou brandamente te falará?
Fará ele aliança contigo, ou o tomarás tu por servo para sempre? Brincarás
com ele, como se fora um pássaro, ou o prenderás para tuas meninas? Farão
os sócios de pesca tráfico dele, ou o dividirão entre os negociantes? Poderás
encher-lhe a pele de arpões, ou a cabeça de fisgas? Põe a tua mão sobre ele;
lembra-te da peleja; nunca mais o farás! Eis que é vã a esperança de apanhálo; pois não será um homem derrubado só ao vê-lo?‛ (Jó 41.1-9)
Existem muitas passagens claras na Bíblia sobre o batismo cristão,
portanto, não se deve concluir que exista ou se deva praticar batismo pelos
mortos. No segundo exemplo, embora já se saiba que nefilins eram homens com
estatura exagerada (gigantes, com cerca de três metros de altura ou mais), não se
sabe exatamente o que o texto quer dizer com ‚Os filhos de Deus conheceram as
filhas dos homens‛, e não se deve igualmente estabelecer doutrina sobre essa
passagem. Na terceira passagem, o leviatã era um animal grande e feroz, existente
à época de Jó (aproximadamente três mil anos antes de Cristo) que deve ter sido
extinto.
Perguntas para reflexão e aprofundamento (Sobre o Princípio # 6):
 Todas as passagens bíblicas são fáceis de entender?
 Quando há um texto fácil e um texto difícil de entender, ambos tratando
do mesmo assunto, qual deve ser a nossa postura quanto à interpretação
desses textos?
 Quando um texto difícil não tiver outros textos paralelos que o expliquem,
o que se deve fazer?
26
Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
Princípio # 7
Revelação Cumulativa ou Progressiva
N
a Bíblia, as verdades reveladas no Velho Testamento são esclarecidas
e/ou ampliadas no Novo Testamento. A Nova revelação nos ajuda a
entender a revelação anterior.
Como exemplo, citamos o sacerdócio. No Velho Testamento, foram
instituídos sacerdotes para fazerem intermediação e intercessão entre Deus e o
povo ‚comum‛. No Velho Testamento, somente os sacerdotes falavam
diretamente com Deus e somente eles o ouviam. No Novo Testamento, Pedro diz
que todos os cristãos são sacerdotes (1 Pedro 2:9); em outras palavras, o Novo
Testamento amplia o conceito de sacerdócio e o transforma. Pedro ensina que
entre os cristãos não há mais sacerdotes especiais ou exclusivos. Não há mais
privilegiados que intercedam pelos outros diante de Deus. Não há mais diferença
entre sacerdotes e povo ‚comum‛ perante Deus. Nenhum ser humano pode mais
fazer algo para perdoar os pecados de outro ser humano, mas agora cada um
pode pedir perdão diretamente a Deus. Todo cristão pode falar diretamente com
Deus, em nome de Jesus. O Novo Testamento ampliou a verdade já exposta no
Antigo Testamento, no caso, o sacerdócio.
Outro exemplo deste princípio são os ‚tipos‛ ou ‚prefigurações‛ de
Cristo no Antigo Testamento. Moisés, por exemplo, apesar de ter sido um
personagem histórico real, foi um ‚tipo‛ de Cristo. Ele anunciava o caráter de
Cristo em sua própria personalidade e história. Moisés era manso e humilde;
Cristo também; Moisés libertou o povo de Deus da escravidão no Egito; Cristo
liberta os que crêem nele da escravidão ao pecado; Moisés falava com Deus,
intercedendo pelo povo Hebreu; Cristo fala com Deus-Pai, intercedendo pelos
seus discípulos; Moisés guiou o povo Hebreu à terra prometida; Jesus guia os
que nele crêem ao Reino do céu. Cristo já estava sendo parcialmente revelado em
Moisés e em outros personagens bíblicos. Depois ele próprio se revelou,
completando a revelação.
Os sacrifícios expiatórios são outro típico exemplo da revelação
progressiva. No Antigo Testamento (antes de Cristo), para que os pecados das
pessoas fossem perdoados, tinha que haver o derramamento de sangue inocente,
de um animal manso, sem nenhuma mancha, perfeito. Este animal era morto no
lugar do pecador; por isso era chamado de animal ‚expiatório‛. Esta verdade não
foi anulada no Novo Testamento; ao contrário, ela se tornou evidente. João
Batista disse que Cristo é ‚O cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo‛
(João 1.29). Hebreus 9.26 diz, a respeito de Jesus Cristo, que ‚Uma vez por todas
se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo.‛ Assim, este
27
Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
ensino (expiação) se tornou mais claro no Novo Testamento. Ao invés de animais
sacrificados, Jesus Cristo foi sacrificado para pagar pelos pecados de todos os que
nele crêem. Ao invés de sacrificar animais repetidamente, o sacrifício de Cristo
foi definitivo, como está escrito em Hebreus:
‚Da mesma forma, como o homem está destinado a morrer uma só vez e
depois disso enfrentar o juízo, assim também Cristo foi oferecido em
sacrifício uma única vez, para tirar os pecados de muitos; e aparecerá
segunda vez, não para tirar o pecado, mas para trazer salvação aos que o
aguardam.‛ (Hebreus 9.27-28. NVI)
Perguntas para reflexão e aprofundamento (Sobre o Princípio # 7):
 O Novo Testamento anulou o Velho Testamento ou o esclareceu e
ampliou?
 O sacerdócio era uma prática do Antigo Testamento, que foi ampliada no
Novo Testamento. O que aconteceu com o sacerdócio, depois que Cristo
veio?
 Como a revelação progrediu com relação aos sacrifícios para expiação
pelos pecados? E como era isto antes de Cristo?
 Os cristãos devem observar e imitar os ensinos e as práticas constantes no
Novo Testamento ou tentar reproduzir o modelo religioso judeu constante
no Velho Testamento? Justifique sua resposta.
28
Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
Princípio # 8
Precedência do Sentido Literal
O
sentido literal dos textos bíblicos deve ser preferido ao sentido figurado,
a menos que na passagem esteja claro que o autor está usando uma
figura de linguagem (metáfora, hipérbole, eufemismo, etc.). O
significado do texto, na maioria das vezes, é exatamente o que as palavras, frases
e o estilo literário estão indicando. Por mais que seja difícil de aceitar, o intérprete
deve priorizar o sentido literal das passagens Bíblicas.
Não se deve alegorizar as narrativas históricas das Escrituras
(principalmente do Novo Testamento), ou seja, atribuir a elas um significado
além do que o próprio texto está transmitindo. As alegorias existentes na Bíblia
são aquelas já explicadas no Novo Testamento acerca de eventos do Antigo
Testamento. Não se deve criar outras.
Muitos que já ‚enxergaram‛ alegorias na criação ou nos milagres narrados
na Bíblia, assim agiram por não crer que ela narra feitos sobrenaturais como
eventos históricos (reais), e não como mitos. Quando certas pessoas lêem, por
exemplo, que Jesus e Pedro andaram sobre as águas do Mar da Galiléia, elas
dizem que as águas do mar nesse episódio não se tratam de H 2O (significado
claro do texto), mas que ‚são as dificuldades da vida que temos de atravessar‛
(significado oculto – alegórico). Os textos dos Evangelhos que narram o episódio
simplesmente não nos dão esta alternativa de interpretação. Afirmam claramente
que de fato Jesus e Pedro andaram sobre as águas do Mar da Galiléia e essas
eram literalmente água (H2O). Os eventos históricos registrados nos quatro
Evangelhos bíblicos têm o propósito de demonstrar a divindade de Cristo;
alegorizá-los, portanto, é o mesmo que deixar de crer que Cristo é Deus. Se
alguém alegoriza as narrativas neo-testamentárias, não está interpretando a
Bíblia, mas, está impondo a ela um significado estranho à sua mensagem.
Isto não significa que não se possam tirar lições (morais, práticas ou
teológicas) a partir das narrativas bíblicas, porém, o que não se deve fazer é
‚achar‛ que o que está narrado literalmente não é o que o autor quis dizer.
‚Deixe a Bíblia falar por si‛. É uma frase que traduz o princípio aqui
abordado. Ao invés de predefinir sua própria opinião e ‚forçar a barra‛ para
fazer com que a Bíblia concorde com ela, o leitor sincero deve ouvir o que a
própria Bíblia diz, mesmo que, em sua opinião, não concorde com ela. A
mensagem da Bíblia não é difícil de entender, mas é difícil de aceitar, por que nós
somos pecadores por natureza, e temos pouca fé. Temos a tendência de achar que
certos ensinamentos não podem ser interpretados literalmente por que os
consideramos impossíveis de explicar cientificamente ou de pô-los em prática.
29
Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
Como explicar os milagres de Jesus? Como podemos amar o inimigo e orar por
quem nos persegue? A resposta foi dada por Jesus quando foi perguntado sobre
o significado de: ‚É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do
que um rico entrar no reino dos céus.‛ Ele disse: ‚Para os homens é impossível,
mas não para Deus; porque para Deus tudo é possível‛.
Uma palavra a mais merece ser dada acerca da precedência do sentido
literal. É que este deve ser desconsiderado quando conduzir a uma conclusão
absurda. Alguns versos do Velho Testamento dizem, por exemplo, que ‚Deus se
arrependeu‛5. Nesses casos o leitor pode perceber que aí há uma linguagem não
literal, pois Deus é perfeito; não erra; portanto, não se arrepende, uma vez que se
arrepender significa reconhecer um erro e não querer mais praticá-lo. Isso seria
um absurdo teológico, uma contradição com a própria definição da pessoa de
Deus. Quando a Bíblia diz que Deus se arrependeu, geralmente significa que
Deus mudou seu procedimento com relação ao homem, em dada situação.
Outros exemplos de sentido figurado claro são as passagens onde Jesus se
comparou a coisas e elementos da natureza. Ele disse que era ‚a porta‛, ‚o
caminho‛ etc. Não dá para pensar que ele se transformava em porta nem em
caminho. Quando Jesus, na ceia, tomando o pão, disse – ‚Este é o meu corpo.‛ Ele
(Jesus) e o pão eram coisas distintas. O pão não se transformou literalmente no
corpo de Cristo em carne e osso (e sangue); isso não faz o menor sentido. Se
admitirmos que esse fenômeno aconteceu literalmente, os discípulos estariam ali
praticando canibalismo, comendo carne humana. E pior, o próprio Jesus comeu
sua própria carne? Portanto, se o sentido literal conduz a um absurdo
(principalmente teológico), resta-nos interpretar o verso ou passagem de forma
metafórica, observando o sentido figurado e prestando mais atenção no
ensinamento que está sendo transmitido por meio daquela figura de linguagem.
Perguntas para reflexão e aprofundamento (Sobre o Princípio # 8):
 O que significa ‚Deixe a Bíblia falar por si‛?
 Por que muitas pessoas tendem a alegorizar certas passagens da Bíblia?
 Qual a diretriz a ser seguida para que deixemos adequadamente de
considerar um texto bíblico literalmente e passemos a prestar mais atenção
ao seu sentido figurado?
 Na hora em que Cristo estava jantando com seus discípulos, na chamada
‚última ceia‛, ele disse ‚isto é o meu corpo‛. Esta afirmação é literal ou
figurada? Jesus, naquele momento, transformou literalmente o pão em seu
5
Deus se arrependeu. Esta expressão aparece em Gênesis. 6.6; Êxodo. 32.14; I Samuel 15.35; 24.16;
I Crônicas 21.15; Jeremias 26.19; Amós 7.3, 6; e Jonas 3.10.
30
Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
corpo ou utilizou o pão como figura? Se você acha que esta passagem é
literal, como você explica que ele próprio comeu o pão? Estaria ele ali
dando mordidas e engolindo o seu próprio corpo, e os discípulos
também?
31
Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
Princípio # 9
Precedência das Passagens Didáticas
A
s passagens didáticas da Bíblia definem as doutrinas cristãs. As narrativas
históricas devem ser vistas apenas como ilustrações positivas ou
negativas das doutrinas estabelecidas nas passagens didáticas. O que
chamamos de passagens didáticas são principalmente os mandamentos, as
recomendações e os ensinamentos diretos. Quando o rei Saul foi consultar uma
médium em Endor, ele sabia que Deus já havia claramente proibido essa prática
em Deuteronômio 18.9-13, e em outras passagens:
‚Quando entrares na terra que o Senhor teu Deus te dá, não aprenderás a fazer
conforme as abominações daqueles povos. Não se achará no meio de ti quem faça
passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador,
nem agoureiro, nem feiticeiro, nem encantador, nem quem consulte um espírito
adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos; pois todo aquele que faz
estas coisas é abominável ao Senhor, e é por causa destas abominações que o
Senhor teu Deus os lança fora de diante de ti. Perfeito serás para com o Senhor teu
Deus.‛
Saul conhecia este mandamento claro das Escrituras, e mesmo assim o
desobedeceu.
Este episódio na vida de Saul, portanto, não pode estabelecer nada em
termos de doutrina cristã; apenas evidencia o quanto Saul era desobediente a
Deus. Nenhum detalhe desta narrativa pode ser usado para definir doutrina
cristã positivamente. Os espíritas cometem este erro de tentar justificar a
mediunidade a partir desta narrativa. Não se deve consultar os mortos porque
isto ofende a Deus, sendo claramente ensinado nos textos didáticos,
principalmente em Deuteronômio 18.
É importante ressaltar, entretanto, que dentro das narrativas, muitas vezes,
constam transcrições de palavras diretas de Deus, ou de profetas ou de apóstolos
que falaram em seu nome (‚Assim diz o Senhor...‛). Neste caso, essas palavras
passam a ser diretas; são didáticas e são válidas como argumentação para
estabelecimento de doutrinas.
É também importante destacar que, enquanto as passagens narrativas que
evidenciam comportamentos negativos não devem nos servir de exemplo de
prática nem de doutrina, aquelas narrativas que demonstram comportamentos
positivos podem ser consideradas como padrão de comportamento para os
cristãos de hoje e de todas as épocas. Um exemplo disto é o dia-a-dia da igreja
primitiva do primeiro século, conforme narrado em Atos e nos demais livros do
Novo Testamento. O que eles faziam deve ser exemplo para os cristãos. Suas
32
Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
vidas simples, seu sentimento de comunidade, suas reuniões participativas nos
lares, a ausência de hierarquia entre eles, tudo isso compõe o que se chama
propriamente de ‚tradições apostólicas‛, e, embora não sejam passagens
didáticas, são exemplos que ensinam, e que devem ser seguidos, como prática de
vida – saudável e aprovada por Deus.
Perguntas para reflexão e aprofundamento (Sobre o Princípio # 9):
 A maior parte do texto bíblico se constitui de narrativas históricas. Nelas
há bons e maus exemplos. Os maus exemplos podem servir de base para a
formulação de uma doutrina bíblica?
 Cite exemplos de passagens didáticas.
 Quando aparece nas narrativas canônicas a expressão ‚Assim diz o
Senhor‛, seguida de um ensinamento ou mandamento, ela passa a ser
didática ou não? Por que?
33
Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
Princípio # 10
Significado Pela Primeira Menção
O
bservar o sentido de uma palavra na primeira vez que esta é mencionada
na Bíblia pode ajudar a compreender o seu sentido. A palavra ‚dízimo‛,
por exemplo, aparece pela primeira vez em Gênesis 14.20 e 28.22.
Percebe-se ali, que dizimar é essencialmente entregar a Deus de livre e
espontânea vontade, como um ato de adoração, a décima parte da produção ou
da renda. Este é o significado original, extraído da primeira menção. Além disso,
dizimar para o Criador era um costume de povos antigos, mesmo dos não
judeus. Abraão trouxe este costume de sua civilização de origem, os Caldeus. O
dízimo foi transformado depois em um tributo, cujo propósito era a manutenção
do templo de Jerusalém e dos sacerdotes judeus. A maioria das pessoas hoje em
dia desconhece o significado de dízimo como ato de adoração pessoal e o entende
como um ‚tributo espiritual‛ exatamente porque desconhecem o seu sentido
original, dado pela primeira menção.
34
Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
Acerca das Diversas Versões da Bíblia
O
s originais da Bíblia foram inspirados por Deus; não as versões
(traduções e revisões). Existem muitas pessoas que ‚fecham questão‛ em
torno de uma versão como se ela fosse a única inspirada por Deus, em
uma determinada língua. A versão King James, na língua inglesa, é considerada
por muitos como sendo a ‚versão inglesa inspirada‛ enquanto que outras
versões da Bíblia, em inglês, não são assim consideradas. O mesmo ocorre com a
versão Almeida Revista e Corrigida para algumas denominações evangélicas
brasileiras e a versão de Matos Soares 6, uma das versões adotadas como
‚oficiais‛ pela Igreja Católica Romana, no Brasil.
As diversas versões trazem suas contribuições à adequada compreensão
da mensagem divina. No entanto, existem traduções melhores e piores. As
traduções feitas a partir dos manuscritos nas línguas originais são sempre
melhores do que aquelas feitas a partir de versões em outras línguas não
originais. As traduções feitas por comitês mistos ou por editoras tendem a ser
mais imparciais, enquanto que as chamadas traduções ‚oficiais‛ (editadas por
igrejas) são influenciadas por crenças (doutrinas) particulares que essas
instituições adotaram e induzem o leitor a pensar como elas7.
Existem versões mais literais em Português (ex. Almeida ARA) e outras
que procuram mais transmitir o sentido do texto (ex. NTLH e NVI),
considerando e usando, no entanto, expressões e palavras próprias do Português
coloquial do Brasil. Ambas são importantes e boas para a compreensão das
Escrituras. Há também versões que são parafraseadas, que se afastam mais do
texto bíblico literal original (ex. Bíblia Viva). Há algumas versões que
incorporaram os entendimentos da Crítica Textual 8 acadêmica (Almeida ARA,
NVI, NTLH), traduzindo os textos prioritariamente a partir dos manuscritos
mais antigos (manuscritos do chamado Texto Alexandrino). Há outras que
traduzem os textos bíblicos baseando-se principalmente nos manuscritos mais
recentes (denominados Bizantinos), transmitidos pela igreja Católica Ortodoxa
desde a Idade Média (ex. em Português, a versão Almeida Revista e Corrigida).
Não quero aqui indicar uma versão particular, mas sugerir ao leitor que,
caso não possa possuir mais de uma edição da Bíblia, escolha uma versão que
procura transmitir mais o sentido do texto (ex. NTLH e NVI) e facilitam o seu
6
A tradução de Matos Soares não foi feita a partir dos manuscritos originais (em Hebraico, Grego e
Aramaico), mas a partir da Vulgata Latina, a Bíblia em Latim, editada por Jerônimo e concluída em 405
d.C.
7
A Bíblia de Jerusalém, por exemplo, uma edição católica, traduz , em 1º Coríntios 13, a palavra grega
ágape como “caridade” ao invés de “amor”. Isto induz o leitor a supervalorizar as boas obras, como ensina
a Igreja Católica Romana.
8
Crítica Textual. Ciência e arte que visa estabelecer os originais de textos antigos, a partir de seus
manuscritos, com o auxílio da arqueologia, da História, da Paleografia e da Lingüística.
35
Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
entendimento para o homem moderno. Caso tenha condições de adquirir outras
versões da Bíblia, e já tenha um bom conhecimento bíblico, sugiro adquirir
também as versões com traduções literais, como o Novo Testamento Interlinear
Grego-Português (editado pela Sociedade Bíblica do Brasil). Bom seria se todo
leitor da Bíblia tivesse mais de uma versão em sua língua pátria. Recomendo
também que o leitor iniciante evite as versões parafraseadas, pela razão já
evidenciada anteriormente. Todavia, o maior cuidado deve ser o de evitar o texto
‚bíblico‛ editado por certas seitas, tais como as Testemunhas de Jeová e outras.
Tais textos foram intencionalmente adulterados e levarão o leitor a conclusões
heréticas.
36
Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
Questionário de Ajuda Para Aplicação dos Princípios
Hermenêuticos
A
s perguntas a seguir estão correlacionadas aos princípios tratados nesta
obra. Se respondidas com sinceridade, com o máximo de imparcialidade,
e com a busca de informações confiáveis sobre o respectivo contexto
histórico, ajudarão o leitor a compreender mais adequadamente os textos
bíblicos. É importante acrescentar que nem sempre será necessário procurar
responder a todas as quinze questões para se chegar ao adequado entendimento
de uma passagem. Às vezes, o leitor consegue entender uma passagem logo com
o auxílio das primeiras perguntas.
Ao ler uma passagem bíblica, o intérprete pode fazer para si as seguintes
perguntas:
1) Há algo no contexto imediato (versos anteriores e posteriores) ou no
capítulo, que afeta o meu entendimento prévio do verso ou passagem
sob análise?
2) É possível identificar o estilo literário da passagem / verso? O estilo
literário está indicando que a passagem pode estar em sentido
figurado?
3) O que o sentido literal está dizendo? Está conduzindo a uma conclusão
absurda9? Na passagem ou verso, o sentido figurado é o único que faz
sentido?
4) Quais as palavras-chave do verso ou passagem? Uma vez que se sabe
que há mais de um significado para uma palavra bíblica, qual deles é o
mais harmônico com o contexto em pauta?
5) O que as funções gramaticais (verbos, pronomes, conjunções) das
palavras usadas no verso ou passagem estão indicando?
6) Quem foi o escritor do livro? É possível saber algo sobre ele?
7) Este autor escreveu algo mais sobre o assunto, no mesmo livro ou em
algum outro livro da Bíblia? O que ele disse, em outra passagem, sobre
o mesmo assunto?
9
Uma conclusão absurda seria, por exemplo, chegar a uma clara contradição com as grandes verdades
bíblicas, tais como “Deus é bom”, ou “Jesus é Deus”, “Deus é espírito” ou “Deus é eterno”. Não
significa, entretanto, que um texto bíblico não possa contradizer claramente certos dogmas particulares de
certas facções do Cristianismo, ou leis naturais. Há certos dogmas e pensamentos adotados por algumas
igrejas que não se sustentam à luz de uma interpretação adequada. Conclusões contrárias a dogmas de
igrejas, se estes não se fundamentam na Bíblia, não são conclusões teológicas absurdas.
37
Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
8) Se a passagem consiste num diálogo ou numa pregação, quem está
falando? E para quem ele ou ela está falando?
9) Qual é o propósito geral do livro? Meu entendimento sobre a passagem
ou verso está em harmonia com o propósito geral do livro?
10) A Bíblia trata desse mesmo assunto de forma mais clara ou definitiva
em outros livros do mesmo ou de outros escritores10? Se sim, o que
essas passagens estão a dizer sobre o assunto? Há algum mandamento
relacionado ao assunto do qual trata o verso ou passagem sob análise?
11) Se a passagem é do Velho Testamento, e considerando que, ao longo da
Bíblia, a revelação foi progressiva, alguns temas tiveram seus
significados ampliados, melhor esclarecidos ou até alterados pelos
escritos do Novo Testamento. Será que isto se aplica à passagem em
pauta?
12) Como as versões NVI e NTLH (que utilizam equivalência dinâmica11)
traduzem o mesmo verso ou passagem? Há, nessas, ou em outras
versões, algo que esclareça o texto ou lhe ajude a compreendê-lo?
13) Estou usando uma versão da Bíblia que é traduzida a partir das línguas
originais e dos manuscritos mais antigos?
14) Se outras versões diferem daquela que eu usei primeiro, quais delas
usam as línguas originais para traduzir? Como as edições mais neutras
(editadas por editoras que não sejam de igrejas ou denominações)
traduzem o verso ou a passagem?
15) O que os grandes teólogos, de várias correntes, escreveram, ao
comentar o verso ou a passagem em pauta 12? As minhas conclusões
combinam com a da maioria deles (ou alguns deles)?
10
Para responder a esta questão, procurar auxílio em Concordâncias Bíblicas.
Equivalência dinâmica é o tipo de tradução que procura traduzir o sentido da língua original, adotando,
no entanto, expressões próprias da língua receptora.
12
Para não ser parcial, é preciso ler opiniões de pelo menos três autores, de correntes ou igrejas diferentes.
11
38
Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
Conclusão
E
ste livro aborda os princípios mais importantes da Hermenêutica Bíblica,
sendo, portanto, um guia introdutório a esta ciência. Há outros bons
tratados, principalmente os indicados nas referências bibliográficas desta
obra, que merecem ser consultados pelo leitor que queira se aprofundar no
assunto. Entretanto, é preciso que se enfatize que nem este, nem qualquer outro
livro sobre interpretação bíblica substitui a leitura da própria Bíblia, como fonte
do conhecimento e compreensão das verdades divinas. A pessoa que quer
sinceramente entender a Bíblia precisa lê-la per si. É necessário ler os sessenta e
seis livros sagrados, para entendê-la. Somente quem os ler pessoalmente, com fé
e com a mente aberta, perceberá a unidade e a inspiração dos livros da Bíblia.
Para aquele que nunca leu a Bíblia e pretende fazê-lo doravante, dou
aqui uma sugestão: comece pelo Evangelho de João; depois leia Gálatas e Efésios;
depois o Evangelho de Lucas; depois leia os demais evangelhos; em seguida leia
as demais cartas dos apóstolos; depois o Velho Testamento; e por último,
Apocalipse.
Estou convicto de que ler a Bíblia, com os princípios de hermenêutica em
mente, e com a ajuda do Espírito Santo, fará com que o leitor possa compreendêla corretamente e plenamente.
Espero, enfim, ter contribuído não somente para despertar o leitor e
incentivá-lo para a leitura devocional e diária da Bíblia (o que venho fazendo há
alguns anos), mas também para bem entender as Escrituras e poder praticar seus
ensinamentos e assim viver para a glória de Deus, para o próprio bem, e para o
bem da humanidade e do planeta.
39
Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
Apêndice - Significados das Parábolas de Jesus
Parábola
1.
A
candeia
debaixo da vasilha
2. O construtor
prudente
e
o
insensato
3. O remendo de
pano novo em
roupa velha
4. O vinho novo
em odres velhos
5. O semeador e
os solos
6. O Trigo e o Joio
/ As ervas
daninhas
13
Referências
Mateus
5.14-15
Marcos
4.21-22
7.24-27
9.16
9.17
13.3-8
13.2430;
2.21
2.22
4.3-8;
14-20
Lucas
Significado / Mensagem Central
8.16;
11:33
A vida íntegra e o bom testemunho do cristão
devem ser exemplos para a humanidade,
portanto, devem ser visíveis, e não
escondidos.
6.47-49
Crer e praticar os ensinamentos de Cristo é o
que torna a vida de uma pessoa firme, forte e
(eternamente) duradoura, além de preparada
para toda adversidade.
5.36
Jesus Cristo pactuou uma nova aliança entre
Deus e os homens, e não se deve tentar viver
esta nova aliança com as práticas (formas) e os
ritos da velha aliança – o Antigo Testamento.
5.37-38
A mensagem de Jesus é o vinho novo – uma
nova forma de se relacionar com Deus. A
religião judaica do Antigo Testamento (antiga
aliança), com seus sacrifícios de animais,
rituais e regras, seu edifício-templo, e seu
sacerdócio humano restrito, é o odre13 velho –
que não deve reger a nova vida em Cristo. O
sacrifício de Cristo foi suficiente – valeu para
sempre; Deus não se agrada de rituais, mas
sim da intenção do homem; o templo de Deus
hoje é o corpo de cada cristão – onde ele
habita; todo cristão é um sacerdote, que
ministra diretamente diante de Deus, sem
restrição nem mediadores. Tentar viver o
Cristianismo com as práticas do Antigo
Testamento é prejudicial.
8.5-8;
11-15
Muitas pessoas ouvem a mensagem do
Evangelho de Jesus Cristo – a semente – e se
agradam dela, porém, poucos se tornam
verdadeiramente seguidores de Jesus Cristo.
4.30-32
Odre. Vasilha de couro usada para transportar vinho.
No mundo, só Deus sabe quem são os seus
filhos (o trigo) e os que são filhos do maligno
(o joio). Contudo, no fim da história, os anjos
de Deus retirarão os filhos do maligno do
meio do povo de Deus e eles (os ímpios) serão
lançados no inferno.
40
Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
Referências
Parábola
7. O grão
mostarda
Mateus
de
8. O fermento
13.3132
13.33
Marcos
4.30-31
Significado / Mensagem Central
Lucas
13.18-19
Assim como uma grande árvore nasce a partir
de uma pequena semente, o Reino de Deus
nasce no coração de um homem por um ato
muito simples – a fé em Cristo e em sua
palavra – que é a semente.
13.20-21
Assim como o fermento se alastra pela massa,
o Reino do Céu se alastra na vida de quem
recebe o Senhor Jesus, por meio da ação do
Espírito Santo.
9.
O
tesouro
escondido
13.44
Pertencer ao Reino de Cristo vale mais do que
toda a riqueza material que alguém possa
acumular na vida.
10. A pérola de
grande valor
13.4546
Idem.
13.4750
Semelhante ao da parábola do joio. No fim da
história, os anjos de Deus separarão os ímpios
(os ‚sem Deus‛) dos fiéis. Os ímpios serão
lançados no inferno.
13.52
Quando um antigo copista da lei judaica
(escriba) compreendia a mensagem de Jesus
Cristo (do Reino do Céu), ele passava a
distinguir quais são as coisas da Velha Aliança
e as da Nova Aliança.
18.1214
Cada um dos eleitos de Deus é especialmente
importante para Ele. Quando um filho de
Deus peca e se afasta do ‚rebanho‛, Deus vai
buscá-lo com amor, e o traz de volta ao seu
reino. Essa mesma atitude deve ser a dos
cristãos, com relação aos pecadores. Os
fariseus, ao invés disso, recriminavam os
pecadores.
11. A rede
12. O dono de
uma casa
13.
A
perdida
14.
O
impiedoso
ovelha
servo
15. Os
trabalhadores na
vinha
18.2334
20.1-16
15.4-7
Assim como Deus foi misericordioso conosco
e perdoou completamente os nossos pecados,
devemos ser misericordiosos e perdoar
completamente aqueles que nos ofenderam.
Deus é soberano e a sua justiça é diferente da
justiça humana. A vida eterna será dada por
Deus tanto àqueles que receberem a Jesus
Cristo em pouca idade e trabalharem para o
seu reino mais tempo na terra, quanto aos que
o receberem no fim da vida terrena.
41
Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
Parábola
16. Os dois filhos
17. Os lavradores
maus
18. O banquete de
casamento
19. A figueira
20. O servo fiel e
sensato
Mateus
Referências
Marcos
Lucas
Significado / Mensagem Central
21.2832
Uma pessoa que apenas sabe qual é a vontade
de Deus ou concorda intelectualmente com
ela, mas não a obedece nem a pratica, não
agrada a Deus.
21.3344
Deus escolheu os descendentes de Abraão
para que cuidassem do seu reino na terra. Os
judeus deveriam abençoar todas as etnias da
terra, ao tornar o Deus único conhecido aos
homens. Todavia, esses foram infiéis e
rebeldes a Deus e não cumpriram a sua
missão. Deus enviou vários profetas ao longo
da história para adverti-los, mas, os judeus
(principalmente os religiosos) os rejeitaram e
mataram. Deus resolveu enviar-lhes seu
próprio filho (Jesus Cristo) e eles também o
rejeitaram e mataram. Deus, então, resolveu
castigá-los severamente e entregar a
administração de seu reino na terra aos
gentios (não judeus).
12.1-11
20.9-18
22.2-14
O banquete de casamento é uma figura da
celebração da vitória final de Deus sobre o
mundo e sobre a humanidade; o cumprimento
do eterno propósito de Deus – a união entre
Cristo e os que são da igreja – sua noiva. Deus
chamou inicialmente os judeus para unirem-se
ao seu filho – Jesus Cristo – e participarem
dessa festa. Contudo, esses se envolveram em
assuntos terrenos e desprezaram o Reino do
Céu. Deus, então, chamou vários gentios para
a celebração de sua vitória. Satanás estará
nessa festa, mas como sua intenção não será a
de celebrar a vitória de Jesus, será lançado no
inferno, juntamente com os seus anjos
rebeldes (demônios), e com os homens e
mulheres que rejeitarem o Reino de Deus,
quer sejam judeus ou não.
24.3235
Quando Jesus estiver perto de retornar à terra,
os sinais que ele descreveu acontecerão.
Assim, os seus discípulos poderão perceber
que sua segunda vinda está próxima.
24.4551
13.2829
21.29-31
12.42-48
Aqueles que nunca desanimam da fé por
causa do longo tempo de espera até a volta de
Jesus Cristo, são por ele considerados servos
fiéis. Esses não somente cuidam de si mesmos,
como também cuidam dos outros irmãos.
42
Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
Parábola
21. As dez virgens
22. Os
(minas)
talentos
Mateus
Referências
Marcos
Lucas
Significado / Mensagem Central
25.1-13
No primeiro século, na Judéia, durante um
casamento, a noiva era acompanhada por um
cortejo de amigas (damas-de-honra) até se
encontrarem com o cortejo do noivo em certo
lugar, para dali irem juntos à casa do pai do
noivo, onde haveria as bodas (festa de
casamento). Na parábola, a noiva seria
acompanhada por um cortejo de 10 virgens.
As cinco virgens tolas significam pessoas que
atenderam o convite para pertencerem ao
Reino de Deus, porém esmoreceram na fé,
com o passar do tempo, por causa da demora
do noivo, que só chegou à meia-noite (horário
tardio para uma festa de casamento). As
virgens sábias representam as pessoas que
atenderam ao contive para as ‚bodas do
Cordeiro‛, e nunca esmoreceram, estando
sempre preparadas e confiantes que o noivo
(Jesus Cristo) chegaria.
25.1430
Deus distribuiu habilidades/capacidades a
cada um de seus filhos, e espera que sejam
usadas em prol do seu Reino. Aqueles que
aplicarem
bem
suas
habilidades
e
conseguirem resultados para o reino de Deus
(crescimento espiritual e/ou novos discípulos)
serão recompensados. Por outro lado, os que
não produzirem nada para Deus, por
desinteresse ou falta de fé, serão punidos
severamente.
19.12-27
23. A semente em
crescimento
4.26-29
24. Os
vigilantes
13.3537
A mensagem do evangelho (a semente) tem,
em si mesma, o poder de transformar vidas.
12.35-40
Os filhos de Deus devem estar sempre
preparados para a volta de Jesus.
25. O credor
perdoador
7.41-43
Aqueles que se reconhecem como grandes
pecadores são muito mais gratos a Deus pelo
perdão de seus pecados do que aqueles que
acham que pecam pouco ou não se
consideram pecadores.
26. O bom
samaritano
10.30-37
Quem ajuda ao que está necessitado se torna
seu próximo.
27. O amigo
necessitado
11.5-8
28. O rico
insensato
servos
12.16-21
Deus quer que sejamos insistentes na oração.
Quem se apega às riquezas deste mundo é
insensato, pois a vida terrena é muito pequena
em relação à vida eterna.
43
Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
Parábola
Mateus
Referências
Marcos
Lucas
Significado / Mensagem Central
29. A figueira
infrutífera
13.6-9
Geralmente a figueira é um símbolo de Israel.
Assim, Jesus afirmou que Israel não tem mais
frutificado para o Reino de Deus.
30. O lugar menos
importante no
banquete
14.7-11
‚Todo o que se exalta será humilhado e o que
se humilha será exaltado.‛ (Lc. 14.11)
14.16-24
Semelhante à Parábola do Banquete de
Casamento. Deus chamou inicialmente os
judeus para unirem-se ao seu filho – Jesus
Cristo – e participarem de sua ‚ceia‛ de
vitória, no final da história. Contudo, esses se
envolveram
em
assuntos
terrenos
e
desprezaram o Reino do Céu. Deus, então,
chamou vários gentios para celebrarem com
ele.
15.8-10
Deus tem mais prazer no pecador arrependido
do que naquele que se acha santo - justo.
15.11-32
Olhando para o filho pródigo, podemos
perceber na parábola que Deus tem mais
prazer no pecador arrependido do que
naquele que se acha santo - justo. Por outro
lado, olhando para o filho que estava sempre
com o pai, aprende-se que aqueles que estão
na presença de Deus devem gozá-la
plenamente como filhos, e não apenas como
empregados. Só assim, não sentirão inveja das
festas que o Pai dá pelos que chegam ao seu
Reino.
16.1-8
O fim da administração (a demissão) significa
o fim da vida na terra. O administrador
astuto, ao perceber que seria demitido, tratou
de preparar sua vida futura com diligência e
inteligência,
apesar
de
agir
com
desonestidade.
Os
seres
humanos,
principalmente os filhos de Deus devem
investir na eternidade, enquanto estão aqui na
terra, pois a vida humana é curta e não é
eterna.
31.
O
banquete
grande
32. A moeda
(dracma) perdida
33.
O
filho
perdido (pródigo)
34. O
administrador
astuto
44
Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
Parábola
Mateus
Referências
Marcos
Lucas
Significado / Mensagem Central
Vários ensinamentos foram passados por
Jesus Cristo por meio desta parábola:

35. O
Lázaro
rico
e
16.19
A grande dificuldade dos ricos
entrarem no Reino do Céu;
 A impossibilidade de alteração do
estado após a morte – quem morreu
sem crer vai para o Hades14 e somente
sairá de lá para ir para o inferno; por
outro lado, quem foi salvo vai
diretamente para o paraíso (‚Seio de
Abraão‛) e não sairá mais de lá;
 A Bíblia (‚Moisés e os profetas‛) é
suficiente para que alguém creia em
Deus para salvação.
A realização da obra do Senhor pelo cristão
nada mais é do que cumprimento do dever. O
Senhor não deve nada (nem mesmo elogios) a
quem faz o que ele mandou.
36. O senhor e
seu servo
17.7
37. A viúva
persistente
18.2
Deus quer que sejamos insistentes na oração.
18.10
Não se deve pensar que alguma prática ou
instituição religiosa possa produzir a salvação.
Esta só será dada aos que humildemente se
reconhecerem pecadores perante Deus –
diretamente – e o buscarem.
38. O fariseu e o
publicano
14
Hades. Mundo dos mortos. Lugar para onde aqueles que não creram em vida vão, e ficam em tormentos
semelhantes aos do inferno, aguardando até o dia do juízo final, quando finalmente irão para o inferno.
45
Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
Referências Bibliograficas
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CPAD, 1987. 116 p.
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2003. 2424 p.
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1991. 360 p.
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12. http://bible.crosswalk.com. Website. Acessado em setembro/2008.
13. http://www.hermeneutica.com.br/principios/index.html.
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Princípios
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15. http://www.vivos.com.br/89.htm.
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Princípios de Interpretação da Bíblia – Marcio S. da Rocha
Marcio Rocha é líder de uma das igrejas nos lares que integram a Comunidade de
Discípulos, em Fortaleza-CE (www.comunidadedediscipulos.com.br); cursa
Bacharelado em Teologia no Seminário Teológico Batista do Ceará e Mestrado
em Teologia pela Trinity Graduate School of Apologetics and Theology (KeralaÍndia); é compositor e cantor de músicas cristãs; é graduado em Liderança Cristã
pelo Instituto Haggai (Havaí - USA); é Engenheiro Civil pela UNIFOR desde
1992; é Mestre em Ciências (área - Gestão Pública) pela Universidade
Internacional de Lisboa (Portugal) desde 2001.
Entre em contato com o autor: [email protected]
Blogs:
Igreja Orgânica: http://igrejaorganica.blogspot.com
Pensamento Cristão Essencial: http://doutrinasessenciais.wordpress.com
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