Solução de Modelos Descritos por Equações Diferenciais José Paulo Mota Requimte/CQFB, Departamento de Química, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa, 2829-516 Caparica, Portugal e-mail: [email protected] Conteúdo 1 Classicação dos modelos processuais em Engenharia Química 1.1 Relativamente à dependência temporal das variáveis: 1.2 Relativamente ao número de variáveis independentes ou coordenadas: 1.2.1 Classicação e caracterização das PDE's 2 . . . . . . . . . . . . 2 . . . 2 . . . . . . . . . . . . . . . 2 2 Métodos numéricos para resolução de PDE's 3 2.1 Método das diferenças nitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 2.2 Método dos volumes nitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 2.3 Método dos resíduos ponderados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 2.3.1 Método de colocação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 2.3.2 Método de sub-domínio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 2.3.3 Método de mínimos quadrados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 2.3.4 Método dos momentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 2.3.5 Método de Galerkin . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 2.3.6 Método de colocação ortogonal 22 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 Solução de sistemas mistos de equações diferenciais ordinárias e algébricas 26 1 1 Classicação dos modelos processuais em Engenharia Química 1.1 Relativamente à dependência temporal das variáveis: • Modelos estacionários ; se nenhuma das variáveis dependentes do modelo varia com o tempo. Neste caso, modelo é composto por um sistema de equações algébricas, que podem ser lineares, não lineares, ou mistas. • Modelos instacionários (ou de estado transiente) ; se uma ou mais variáveis dependentes do modelo variam com o tempo. Este tipo de modelo é constituído por um sistema de equações diferenciais ordinárias (ODE's)lineares, não lineares, ou mistasque pode ser complementado por um conjunto de equações algébricas. 1.2 Relativamente ao número de variáveis independentes ou coordenadas: • Modelos de parâmetros agregados ; se as variáveis do modelo são constantes ou se só dependem da coordenada temporal. Neste caso, o modelo é descrito por um sistema de equações algébricas, por um sistema de equações diferenciais ordinárias (ODE's), ou por um sistema misto. • Modelos com parâmetros distribuídos ; se as equações envolvem uma ou mais variáveis independentes ou coordenadas (normalmente espaciais) para além da coordenada temporal. Um modelo deste tipo é regido por um sistema de equações diferenciais às derivadas parciais (PDE's). 1.2.1 Classicação e caracterização das PDE's A forma genérica de uma PDE linear de segunda ordem pode ser escrita da seguinte forma: P ∂ 2z ∂ 2z ∂ 2z + Q + R = S. ∂x2 ∂x∂y ∂y 2 Na eq. (1), a variável dependente é coordenadas) são x e y; z = z(x, y); os coecientes 2 P, Q e R (1) as variáveis independentes (ou só podem depender de x e y, enquanto que S pode depender de x, y , z , ∂z/∂x e ∂z/∂y . A PDE pode ser classicada de acordo com o sinal do seu determinante, ∆ = Q2 − 4 P R. A PDE é elíptica se ∆ < 0; parabólica se ∆ = 0; (2) e hiperbólica se ∆ > 0. Seguem-se alguns exemplos típicos de diferentes tipos de PDE's que podem ocorrer em problemas de Engenharia Química. Segunda lei de Fick: em que C(t, x) ∂C ∂ 2C =D 2, ∂t ∂x (3) é a concentração de um soluto (no instante sua difusividade molecular; esta PDE é parabólica porque t e posição x) P = D, Q = 0 e e D é a R = 0. Lei de Newton para movimento ondulatório: ∂ 2u ∂ 2u = ρ , ∂t2 ∂x2 em que u(t, x) é a velocidade do uído (no instante densidade; esta PDE é hiperbólica porque (4) t P = 1, Q = 0 e posição e x) e ρ é a sua R = −ρ. Equação de Laplace para condução de calor: ∂ 2T ∂ 2T + = 0, ∂x2 ∂y 2 em que T (x, y) (5) é um campo bidimensional de temperatura (x e nadas cartesianas); esta PDE é elíptica porque P = 1, Q = 0 e y são duas coorde- R = 1. 2 Métodos numéricos para resolução de PDE's Os métodos apresentados em seguida serão ilustrados com a resolução numérica do problema estacionário de difusão e reacção química de primeira ordem numa partícula de catalisador com forma de placa plana; a geometria do sistema está ilustrada na Fig. 1. O balanço material diferencial ao reagente, em estado estacionário, origina De d2 C − kC = 0, dr2 3 (6) em que C(r) é a concentração do reagente ao longo da placa de catalisador, vidade efectiva do reagente na partícula de catalisador, e k De a difusi- a constante cinética (kC é a velocidade de reacção por unidade de volume do catalisador). O domínio do problema é {r : 0 ≤ r ≤ R}; r = 0 corresponde ao centro da placa e r=R corresponde à superfície externa da placa que está em contacto com o uído externo; a concentração do reagente no seio do uído externo é C0 . A eq. (6) é uma PDE de segunda ordem, estando por isso sujeita a duas condições fronteira, cada uma delas aplicável num dos extremo do domínio. As duas condições fronteira são as seguintes: dC =0 dr C = C0 para r = 0; (7) para r = R. (8) A primeira condição é uma condição de simetria, porque C(−r) = C(r), que impõe a ausência de uxo material no centro da placa de catalisador (como o reagente se desloca por difusão, o seu uxo é J = −D∂C/∂r); a segunda condição corresponde a uma situação de uxo convectivo elevado junto à superfície da partícula de catalisador, o que faz com que a concentração do reagente nesse ponto seja sempre igual à concentração C0 no seio do uído em torno da partícula. Por uma questão de conveniência, procede-se à adimensionalização da equação. Para Figura 1: Difusão e reacção química numa placa plana de catalisador. 4 isso, introduz-se as seguintes variáveis adimensionais: y = C/C0 ; A variável y x = r/R. passa a ser a variável dependente adimensional e x passa a ser a variável independente (ou coordenada) adimensional; o domínio do problema passa a ser {x : 0 ≤ x ≤ 1}. Fazendo estas substituições no balanço diferencial e nas condições fronteira obtém-se d2 y − ϕ2 y = 0, dx2 dy =0 dx y=1 Na eq. (9), o parâmetro ϕ = (kR2 /De )1/2 (9) para x = 0; (10) para x = 1. (11) é denominado módulo de Thiele ; este parâmetro mede a razão entre a velocidade da reacção e o uxo difusional. (k ≫ De /R2 ), Quando ϕ é grande a conversão do reagente é controlada pelo uxo difusional do reagente junto à parede do catalisador; quando ϕ é pequeno (k ≪ De /R2 ), a conversão do reagente é controlada pela cinética da reacção química. A quantidade que nos interessa é a velocidade aparente, ou efectiva, da reacção: (kC)eff = ∫ 1 1 ∫ k ∫R kC dV = C(r) dr = kC0 y(x) dx, V V R 0 0 O integral adimensional, ∫ (12) 1 η= y(x) dx, (13) 0 é denominado factor de eciência ; introduzindo este factor na expressão da velocidade aparente da reacção obtém-se (kC)eff = kC0 · η ou η= (kC)eff . kC0 Convém lembrar que existe uma expressão alternativa para o cálculo de (14) η ; Da denição deste parâmetro e da eq. (9) obtém-se ∫ 1 η = 0 ( ) 1 ∫1 2 1 ∫ 1 d2 y 1 ∫ x=1 dy y(x) dx = 2 ϕ y(x) dx = 2 dx = 2 d ϕ 0 ϕ 0 dx2 ϕ x=0 dx [ 1 dy = ϕ2 dx ]x=1 x=0 1 = 2 ϕ ( dy dx ) . (15) x=1 5 A solução analítica da eq. (9), sujeita às condições fronteira das eqs. (10) e (11), é y(x) = cosh(ϕx) , cosh(ϕ) (16) o que permite calcular o factor de eciência: ∫ 1 η= 0 1 y(x) dx = 2 ϕ ( dy dx ) = x=1 tanh(ϕ) . ϕ (17) 2.1 Método das diferenças nitas Este método consiste na substituição das variáveis dependentes, que são contínuas, por variáveis discretas; em vez de se determinar uma solução contínua em todo o domínio do problema, determina-se uma solução discreta, que consiste nos valores das variáveis dependentes em determinados pontos do domínio. Considere-se a expansão em série de Taylor de uma função ponto y(x + ∆x) em torno do x: y(x + ∆x) = y(x) + A notação O(∆x3 ) dy(x) 1 d2 y(x) ∆x + (∆x)2 + O(∆x3 ). dx 2 dx2 (18) signica que a série contínua indenidamente, mas que a soma dos termos não explicitados é proporcionl a de AM I, o termo correcto é (∆x)3 [para ser mais preciso, e se se lembrarem (1/6)(∆x)3 (d3 y/dx3 )x=ξ ; ξ é desconhecido, mas sabe-se que ξ ∈ (x, x + ∆x)]. Se os termos de ordem 2 e superior forem ignorados, obtém-se dy(x) y(x + ∆x) − y(x) y(x + ∆x) − y(x) = + O(∆x) ≈ . dx ∆x ∆x De forma semelhante, a expansão da função y(x − ∆x) = y(x) − y(x − ∆x) em torno de x (19) origina 1 d2 y(x) dy(x) ∆x + (∆x)2 + O(∆x3 ). 2 dx 2 dx (20) Desta formula, obtém-se a seguinte aproximação: y(x) − y(x − ∆x) y(x) − y(x − ∆x) dy(x) = + O(∆x) ≈ . dx ∆x ∆x (21) Subtraindo as eqs. (18) e (20) obtém-se uma aproximação alternativa da primeira derivada: y(x + ∆x) − y(x − ∆x) y(x + ∆x) − y(x − ∆x) dy(x) = + O(∆x2 ) ≈ . dx 2∆x 2∆x 6 (22) Esta aproximação é mais precisa do que as aproximações expressas nas eqs. (19) e (21), porque na eq. (22) o erro da aproximação é proporcional a eqs. (19) e (21) ele é proporcional a (∆x)2 enquanto que nas ∆x. Para obter uma aproximação da segunda derivada, adicionam-se as eqs. (19) e (21) e desprezam-se os termos de ordem superior a 2. A expressão assim obtida é d2 y(x) y(x − ∆x) − 2y(x) + y(x + ∆x) = + O(∆x2 ). 2 dx (∆x)2 Na prática divide-se o domínio do problema, {x : xL ≤ x ≤ xU } (23) , em N intervalos uniformes, sendo o comprimento de cada um deles dado por ∆x = xU − xL . N (24) Indexam-se os pontos em função do valor da coordenada como sendo o ponto com coordenada xL + i(∆x) x; isto é, dene-se o ponto e chama-se a esse ponto xi ; i o conjunto de pontos assim obtido é xi = xL + i(∆x) Desta forma, para i = 0, 1, 2, . . . , N. (25) x0 = xL , xN = xU , xi+1 = xL + (i + 1)∆x, xi−1 = xL + (i − 1)∆x, A variável dependente y correspondente ao ponto xi denota-se yi , Recorrendo às formulas anteriores, pode substituir-se, em cada ponto isto é, xi , etc. y(xi ) = yi . as derivadas de primeira e segunda ordem pelas seguintes aproximações: ( dy dx ) ≈ i yi+1 − yi ∆x ( d2 y dx2 ≈ ) ≈ i yi − yi−1 ∆x ou ou ≈ yi+1 − yi−1 ; 2∆x yi−1 − 2yi + yi+1 . (∆x)2 (26) (27) Com estas substituições, transforma-se a equação diferencial original num sistema de N equações algébricas. Tem que se ter, no entanto, atenção com o tratamento das condições fronteira. Exempliquemos o método com a sua aplicação à resolução numérica do problema de difusão e reacção química na pellet de catalisador. O domínio do problema é x ≤ 1}; portanto xL = 0 e x U = 1. xi = i(∆x) {x : 0 ≤ O conjunto de pontos de discretização é para i = 0, 1, 2, . . . , N ; 7 ∆x = 1/N. (28) −2 (∆x)2 + ϕ2 1 (∆x)2 2 (∆x)2 −2 + (∆x)2 1 (∆x)2 1 (∆x)2 −2 + (∆x)2 ϕ2 1 (∆x)2 ϕ2 ... ... ... + ϕ2 −2 (∆x)2 1 (∆x)2 1 (∆x)2 y0 y1 y2 . . . yN −1 = . .. 0 yN 1 0 0 0 1 Figura 2: Discretização do modelo de difusão e reacção química por diferenças nitas centradas de 2 Desta forma, a ordem. x0 = 0, x1 = ∆x, x1 = 2∆x, correspondente ao ponto xi é y(xi ) = yi . xN = 1. ..., A variável dependente y(x) A substituição da segunda derivada na eq. (9) pela diferença nita correspondente origina a seguinte equação algébrica linear: yi−1 − 2yi + yi+1 − ϕ2 yi = 0, (∆x)2 i = 1, 2, . . . , N − 1. Esta equação não é válida para os pontos fronteira. fronteira é y N = 1. Para o ponto Por outro lado, aplicando a eq. (29) no ponto x0 xN = 1 (29) a condição obtém-se y−1 − 2y0 + y1 − ϕ2 y0 = 0. (∆x)2 Esta expressão contém y−1 ≡ y(x−1 ) que não pertence ao domínio do problema. entanto, aproximando a condição fronteira no ponto a ordem (para ser consistente com a aproximação à 2 y1 − y−1 =0 2∆x o que permite eliminar y−1 → x0 (30) No a por uma diferença nita de 2 derivada usada na eq. (29)) obtém-se y−1 = y1 , (31) da eq. (30) obtendo-se 2(y1 − y0 ) − ϕ2 y0 = 0. (∆x)2 (32) Resumindo: aproximando as derivadas parciais por diferenças nitas, a PDE e respectivas condições fronteira são substituídas por um sistema de equações algébricas; no caso presente as equações são lineares, mas nem sempre é o caso. O sistema de equações está indicado na Fig. 2. O factor de eciência pode ser calculado de duas formas. Suponha-se que se calcula através do integral dado na eq. (13). Este integral tem que necessariamente ser aproximado por uma fórmula de quadratura. Por exemplo, se se utilizar a regra dos trapézios obtém-se ( ) YN y0 η= + y1 + . . . + yN −1 + ∆x + O(∆x2 ). 2 2 8 (33) Em alternativa pode discretizar-se a eq. (15) usando uma diferença nita consistente a a solução numérica de 2 ordem: 1 yN +1 − yN −1 + (∆x2 ). ϕ2 2∆x η= Mas esta expressão contém yN +1 aplicando a PDE no ponto xN (34) que não pertence ao domínio do problema. No entanto, obtém-se yN −1 − 2yN + yN +1 − ϕ2 yN = 0 (∆x)2 Finalmente, η= → yN +1 = (∆x)2 ϕ2 yN + 2yN − yN −1 . (35) 1 yN − yN −1 ∆x + yN . ϕ2 ∆x 2 O modelo pode ser facilmente implementado em matlab, GAMS, ampl, ou até em Excel. Eu prero a linguagem de programação matemática ampl que eu considero ser mais intuitiva. O modelo (36) ampl que é equivalente ao GAMS mas está listado na Fig. 3. Para correr o programa abre-se uma consola Windows executando uma consola com um prompt sw:; nesta consola arranqua-se o sw.exe; este cria ampl escrevendo ampl; o prompt anterior é substituído por ampl:. Agora inclui-se o modelo em ampl; para isso escreve-se include eta.ampl; [ENTER] No modelo ainda não foram atribuídos valores aos parâmetros se pretende resolver o problema para ϕ = 10 [ENTER] Para resolver o problema, basta agora escrever solve; O ampl [ENTER] responde com a seguinte informação: Presolve eliminates 1 constraint and 1 variable. Substitution eliminates 2 variables. Adjusted problem: 10 variables, all linear 10 constraints, all linear; 28 nonzeros 0 objectives. 9 e N; suponha-se que com 10 pontos de discretização; para isso escreve-se let phi := 10.0; let N := 10; phi option substout 1 ; option show_stats 1 ; option solver "lpsolve" ; param N integer > 1 ; param dx = 1/N ; param phi >= 0 ; set PTS = param x { param w { param eta 0..N ordered ; i in PTS } = dx * i ; i in PTS } = cosh( phi * x[i] ) / cosh( phi ) ; = tanh( phi ) / phi ; var y { PTS } ; s.t. LinSys { i in PTS } : ( if i = 0 then 2*(y[1] - y[0])/dx^2 - phi^2 * y[0] else if i < N then (y[i-1] - 2*y[i] + y[i+1])/dx^2 - phi^2 * y[i] else y[N] - 1 ) = 0 ; var eta1 = dx * ( sum { i in PTS } y[i] - (y[0] + y[N])/2 ) ; var eta2 = (y[N] - y[N-1])/dx / phi^2 + dx * y[N] / 2 ; Figura 3: modelo ampl para a resolução por diferenças nitas do problema de difusão e reacção química numa pellet de catalisador; supõe-se que o modelo ca gravado num cheiro chamado eta.ampl. LP_SOLVE 4.0.1.0: optimal, objective 0 10 simplex iterations Para comparar a solução numérica com a solução analítica pode escrever-se: display x, w, y; [ENTER] o que faz a listagem dos valores de analítico de η xi , wi (solução analítica) e com a solução numérica, escreve-se display eta, eta1, eta2; [ENTER] obtendo-se eta = 0.1 eta1 = 0.111803 10 yi . Para comparar os valor eta2 = 0.111803 Para calcular η para ϕ = 100 com N = 10, pode escrever-se o seguinte: let phi := 100.0; solve; display eta, eta1, eta2; [ENTER] (Nota: = N já era igual a 10 da simulação anterior.) A nova solução seria: eta2 = 0.0509902. eta = 0.01, eta1 Neste caso o erro é apreciável. Para melhorar a solução é necessário aumentar o número de pontos de discretização, e.g., let N := 50; solve; display eta, eta1, eta2; eta = 0.01, eta1 = eta2 = 0.0141421; o que origina: [ENTER] melhorou bastante. Para let N := 200; solve; display eta, eta1, eta2; obtém-se eta = 0.01, eta1 = eta2 N = 200: [ENTER] = 0.0103078. 2.2 Método dos volumes nitos Este método á parecido com o método das diferenças nitas, mas é particularmente aplicável às equações gerais de conservação (matéria, energia, ou quantidade de movimento), que podem ser escritas na seguinte forma genérica: ∂ (ρϕ) + ∇ · (ρuϕ) = ∇ · (Γ∇ϕ) + S, ∂t em que ρ é a densidade do uido, ϕ (37) é a variável dependente a ser conservada (massa total, quantidade de um componente, energia total, quantidade de movimento), coeciente de difusão, positivo se gerar ϕ u = (u, v, w) é o vector velocidade, e e negativo se consumir S Γ é um é um termo fonte; S é ϕ. Por exemplo, a equação de conservação aplicada a um reagente A sujeito a uma reacção de primeira ordem para escoamento unidimensional num tubo é ( ∂ ∂ ∂ ∂wA (ρwA ) + (ρuwA ) = ρDA ∂t ∂x ∂x ∂x em que wA é a fracção mássica de A, é a difusividade molecular, e substituir-se ρwA k u ) − kρwA , á a velocidade do uido ao longo do tubo, DA é a constante cinética da reacção. Em alternativa pode pela concentração mássica (ou molar), CA . O método dos volumes nitos consiste em dividir o domínio em i = 1, 2, . . . , N (38) (que podem ser todos iguais ou não): 11 N volumes de controlo, e integrar a equação de conservação ao longo de cada volume de controlo. Por exemplo, a integração de ( ) ∂ϕ ∂ ∂ ∂ϕ + (uϕ) = Γ + S(x, ϕ), ∂t ∂x ∂x ∂x origina ∫ (39) ∫ xi+1/2 xi+1/2 ∂ϕ dx + Ji+1/2 − Ji−1/2 = S(x, ϕ) dx, xi−1/2 ∂t xi−1/2 em que J = uϕ − Γ(∂ϕ/∂x) é o uxo de transporte de ϕ. Supondo que ϕ(x) ≈ ϕi (40) em todo o volume de controlo, a equação anterior pode ser simplicada originando dϕi Ji+1/2 − Ji−1/2 + = S(xi , ϕi ). dt ∆xi ϕ nas fronteiras do volume de controlo podem ser discretizados Os uxos de transporte de através de diferenças nitas: ( Ji−1/2 = ∂ϕ uϕ − Γ ∂x ( Ji+1/2 = (41) ∂ϕ uϕ − Γ ∂x ) ≈ ui−1/2 ϕi−1 + ϕi ϕi − ϕi−1 −Γ , 2 xi − xi−1 (42) ≈ ui+1/2 ϕi + ϕi+1 ϕi+1 − ϕi −Γ . 2 xi+1 − xi (43) i−1/2 ) i+1/2 (44) Introduzindo estas expressões na eq. (41) origina uma equação diferencial ordinária para cada volume de controlo. Aparentemente, o método dos volumes nitos é muito parecido com o método das diferenças nitas. O método dos volumes de nitos tem a vantagem de conservar globalmente a quantidade ϕ. Somando as equações para todos os volumes de controlo, obtém-se: N ∑ ∆xi i=1 em que J1/2 = JxL N ∑ dϕi + (JN +1/2 − J1/2 ) = ∆xi S(xi , ϕi ), dt i=1 é o uxo na fronteira inferior do domínio e JN +1/2 = JxU (45) é o uxo na fronteira superior do domínio. Esta equação é equivalente à discretização da equação de conservação global: ( d ∫ xU ∂ϕ ϕ dx + uϕ − Γ dt xL ∂x ) xU ( ∂ϕ − uϕ − Γ ∂x 12 ) ∫ xU = xL S(x, ϕ) dx. xL (46) Uma outra vantagem do método é a facilidade com que se aplicam métodos especícos de discretização dos termos convectivos, (uϕ)i−1/2 (uϕ)i+1/2 , e nas faces dos volumes de controlo. Para dar um pequeno exemplo das potencialidades do método, considere-se a resolução numérica da equação estacionária de convecção-difusão da concentração de um soluto: dc d2 c − D 2 = 0, dz dz v em que c(z) c|z=0 = C0 , c|z=L = C1 , (47) é o perl de concentração ao longo de uma coordenada espacial velocidade do uído e D z, v é a é o coeciente de difusão. Convém adimensionalizar a equação; para isso introduz-se as seguintes adimensionalizações: x = z/L, y = (c − C1 )/(C0 − C1 ). (48) A modelo adimensional é dy 1 d2 y − = 0, dx Pe dx2 em que Pe = vL/D y|x=0 = 1, é o número de Péclet: quando y|x=1 = 0, Pe (49) é grande, o transporte do soluto é essencialmente convectivo, podendo-se desprezar o efeito de dispersão devido à difusão do soluto; quando Pe é pequeno o transporte do soluto é tem uma componente difusiva não negligenciável. A eq. (49) tem uma solução analítica simples: y(x) = exp(Pe) − exp(Pe · x) . exp(Pe) − 1 (50) A resolução da eq. (49) por diferenças nitas centradas ( dy dx ) xi yi+1 − yi−1 , = 2∆x ( d2 y dx2 ) = xi yi−1 − 2yi + yi+1 , (∆x)2 origina o seguinte sistema de equações lineares: y0 = 1, yi+1 − yi−1 yi−1 − 2yi + yi+1 − = 0 (i = 1, . . . , N − 1), 2∆x (∆x)2 Pe A Fig. 4 lista o programa para Pe = 100 yN = 1. ampl para resolver este sistema de equações. for resolvido com N = 20 (51) Se o problema obtêm-se os resultados reproduzidos na Fig. 5. Como se pode observar, a solução numérica é oscilante na frente de concentração. 13 option substout 1 ; option show_stats 1 ; option solver "/amplcml/lpsolve" ; param N integer > 0 ; param dx = 1/N ; param Pe >= 0 ; set PTS = 0..N ordered ; param x { i in PTS } = dx * i ; param ya { i in PTS } = ( exp(Pe) - exp(Pe*x[i]) ) / ( exp(Pe) - 1 ) ; var y { PTS } ; s.t. LinSys { i in PTS } : ( if i = 0 then y[0] - 1 else if i < N then (y[i+1] - y[i-1])/(2*dx) - (y[i-1] - 2*y[i] + y[i+1])/(Pe*dx^2) else y[N] ) = 0 ; Figura 4: modelo ampl para a resolução do problema de convecção-difusão por diferenças a nitas centradas de 2 ordem. 1.6 1.4 1.2 1 0.8 0.6 0.4 0.2 0 0.6 0.65 0.7 0.75 0.8 0.85 0.9 0.95 Figura 5: linha = Eq. (50), simbolos a cheio = solução da Eq. (51) para a ocos = solução com diferença nita de 1 ordem e 14 N = 20. 1 N = 20; simbolos dy/dx. O problema reside na discretização do termo convectivo, Uma forma de elimi- a nar a oscilação na solução numérica é substituir a diferença nita centrada de 2 ordem pela diferença nita de primeira ordem desviada à esquerda: ( dy dx ) = xi yi − yi−1 . ∆x a Resolvendo o problema com esta diferença nita de 1 (52) ordem obtém-se a solução represen- tada pelos circulos ocos; a solução numérica deixou de ser oscilatória mas é mais dispersiva do que a solução analítica. Vejamos porquê: ( dy dx ) = i yi − yi−1 yi+1 − yi−1 ∆x yi−1 − 2yi + yi+1 + O(∆x) = − . ∆x 2∆x 2 (∆x)2 O primeiro termo na segunda igualdade é discretização de centrada de 2 a dy/dx com uma diferença nita ordem e o segundo termo é a discretização de nita centrada de 2 a (53) ordem. Consequentemente, discretizar d2 y/dx2 dy/dx com uma diferença com a diferença nita da Eq. (53) é equivalente a resolver a PDE ( dy ∆x 1 − + dx 2 Pe ) d2 y = 0, dx2 com diferenças nitas centradas de 2 a y|x=0 = 1, y|x=1 = 0, (54) ordem, ou seja, a resolver o problema com um coeciente de difusão aparente D′ = D + vL ∆x. 2 (55) Isto explica porque é que a solução numérica é mais difusiva do que a solução analítica. Considermos agora a formulação de volumes nitos. controlo genérico, e.g., o volume i, A integração num volume de origina: ( Ji+1/2 − Ji−1/2 = 0, Ji+1/2 1 dy = y− Pe dx ) . (56) i+1/2 Já vimos que o termo dispersivo é pacíco; portanto podemos discretizá-lo com uma diferença nita centrada: ( 1 dy Pe dx ) i−1/2 Os termos complicados são mações ( 1 yi − yi−1 = , Pe ∆x yi−1/2 = (yi−1 + yi )/2 e yi−1/2 e yi+1/2 . 1 dy Pe dx = i+1/2 1 yi+1 − yi . Pe ∆x (57) Já vimos que não podemos usar as aproxi- yi+1/2 = (yi + yi+1 )/2 15 ) porque elas dão origem a expressão a idênticas às diferenças nitas centradas de 2 descentrada de 1 a ordem. A utilização de diferenças nitas ordem é equivalente a considerar yi−1/2 = yi−1 yi+1/2 = yi . e (58) Isto faz sentido para transporte fortemente convectivo porque nestas condições o valor da variável numa face do volume de controlo é bem aproximado pelo valor da variável no seio do volume de controlo que se encontra a montante. No entanto, já vimos que esta abordagem introduz dispersão numérica excessiva. Para resolver o problema temos que utilizar métodos mais complicados. Uma hipótese é utilizar uma interpolação descentrada de ordem mais elevada. Por exemplo, para determinar yi+1/2 usa-se o polinómio que interpola é yi+1/2 = Para determinar yi−1/2 yi−1/2 = yi−1 , yi e yi+1 . A fórmula assim obtida 3yi+1 + 6yi − yi−1 yi + yi+1 yi−1 − 6yi + yi+1 = − . 8 2 8 usa-se o polinómio que interpola yi−2 , yi−1 e yi . A fórmula é 3yi + 6yi−1 − yi−2 yi−1 + yi yi−2 − 6yi−1 + yi = − . 8 2 8 Este esquema de discretização é conhecido como o esquema a a uma discretização desviada a montante de 3 (59) (60) Quick ; o método corresponde ordem do termo dy/dx. Outra alternativa é utilizar-se um método de discretização não linear; estes métodos são denominados limitadores de uxo. Por exemplo, o esquema harmónico de van Leer é { yi−1/2 } (yi−1 − yi−2 )(yi − yi−1 ) , = yi−1 + max 0, yi − yi−2 { yi+1/2 (61) } (yi − yi−1 )(yi+1 − yi ) . = yi + max 0, yi+1 − yi−1 (62) 2.3 Método dos resíduos ponderados Considere-se o problema de difusão e reacção química numa pellet de catalisador, regido pelas eqs. (9)(11), re-escrito na seguinte forma compacta: L(y) ≡ 2 ∂ y − ϕ2 y = 0, 2 ∂x ∂y(0) = 0. ∂x M (y) ≡ y(1) − 1 (63) A ideia principal do método de resíduos ponderados é a construção de uma solução aproximada ỹ que satisfaça a eq. (63) segundo um determinado critério de minimização do 16 erro de aproximação. Porque a solução ỹ é aproximada, em geral ela não satisfaz a PDE nem as condições fronteira, isto é, L(ỹ) = R ̸= 0 Nesta equação, R e Rb M (ỹ) = Rb ̸= 0. e são os resíduos da aproximação. Se (64) ỹ a que a equação diferencial seja satisfeita exactamente (isto é, chama-se método de fronteira ; se ỹ for construída de forma R = 0) então o método for construída de forma a que as condições fronteira sejam satisfeitas exactamente, então o método chama-se método interior ; nalmente, se nem a equação diferencial nem as condições fronteira forem satisfeitas exactamente, o método diz-se misto. O método dos resíduos ponderados requer dois tipos de funções: uma é denominada função de aproximação ; a outra é denominada função de ponderação. mação é usada para construir a solução numérica ỹ ; A função de aproxi- a outra função é utilizada como base de critério para minimizar o resíduo da solução aproximada (um resíduo pequeno implica que a solução numérica aproxima a solução real com um erro pequeno). Para minimizar o resíduo, que normalmente é uma função da variável independente x, é necessário converter R num escalar para que se possa proceder a uma optimização do valor do resíduo. Isto faz-se através de uma forma de ponderação média do resíduo em todo o domínio do problema, o que no caso presente equivale a um produto interno de funções. Este último pode ser visto como uma medida de distância média entre duas funções num determinado domínio da variável independente; no caso do método dos resíduos ponderados, a distância média medida é calculada entre a função residual e as funções de ponderação. Consideremos o método interior. A aproximação numérica da PDE pode ser escrita como uma expansão polinomial, por exemplo, ỹ = y0 + n ∑ ai ϕi (x). (65) i=1 em que y0 e as funções de aproximação rem as condições fronteira, isto é, ϕi (x) têm que ser escolhidas por forma a satisfaze- M (ỹ) = 0. Os n coecientes ai são desconhecidos e são determinados pelo método dos resíduos ponderados forçando a solução satisfazer o melhor possível a PDE. 17 ỹ(x; a1 , . . . , an ) a Substituindo ỹ na PDE obtém-se a equação residual: [ R(x) = L(ỹ) = L n ∑ ] ai ϕi (x) . (66) i=1 Dado que o resíduo é geralmente uma função de x, é necessário minimizá-lo em todo o domínio de interesse. No método dos resíduos ponderados utiliza-se o seguinte integral como medida média do resíduo: ∫ V onde V é o domínio de interesse e de um conjunto (k ponderação. R(x)wk (x) dx, (67) wk (x) é uma k -gésima função de ponderação seleccionada = 1, 2, . . . , n) de funções independentes, denominadas funções de Este integral denomina-se produto interno das funções no domínio V e é normalmente escrito na seguinte forma compacta: (R, wk )V . Dado que a solução numérica tem n (68) coecientes desconhecidos ai , para determinar or seus valores força-se a que o produto interno do resíduo com as primeiras de ponderação seja igual a zero. Isto origina n n funções equações algébricas, normalmente não lineares, (R, wk )V = 0 para k = 1, 2, . . . , n, que podem ser resolvidas para obter os valores dos n (69) coecientes ai . Retomemos o exemplo do problema de difusão e reacção química. É evidente que é mais fácil escrever uma função de aproximação que satisfaça as condições fronteira do que uma que satisfaça a PDE em todo o domínio do problema. Por exemplo, suponha-se que se opta por escrever a função de aproximação como a soma de a solução é simétrica, isto é, potências pares de x=1 x. y(−x) = y(x), n polinómios. Dado que os polinómios seleccionados têm que envolver Para além disso, a soma dos polinómios tem que ser igual a 1 para e a primeira derivada tem que ser nula para de aproximação será ỹ(x) = 1 + n ∑ x = 0. É fácil concluir que a função ai (1 − x2i ), (70) i=1 porque ỹ(1) = 1 e (dỹ/dx)x=0 = 0. O resíduo da aproximação é R(x) = L(ỹ) = 18 d2 ỹ − ϕ2 ỹ. dx2 (71) Conhecendo-se os valores de ∫ ai pode calcular-se o factor de eciência: 1 η̃ = ỹ(x) dx = 1 + 0 1 = ϕ2 ( dy dx ) x=1 n ∑ ( ai i=1 1 1− 2i + 1 ) (72) n 2 ∑ =− 2 ai i. ϕ i=1 (73) Nos exemplos desenvolvidos em seguida vai-se considerar a aproximação mais simples, isto é, a aproximação para n = 1: ỹ(x) = 1 + a1 (1 − x2 ), η̃ = 1 + 2a1 2a1 =− 2. 3 ϕ (74) O resíduo para esta aproximação é R(x) = −2a1 − ϕ2 [1 + a1 (1 − x2 )]. Para efeitos de cálculo, o módulo de Thiele vai ser xado a para estas condições é ϕ = 1; (75) o factor de eciência η = tanh(1)/1 = 0.7616. A escolha do tipo de funções teste origina diferentes variações do método dos resíduos ponderados: 1. Método de colocação; 2. Método de sub-domínio; 3. Método de mínimos quadrados; 4. Método de momentos; 5. Método de Galerkin; 6. Método de colocação ortogonal. 2.3.1 Método de colocação Neste método a função de teste é um delta de Dirac em n pontos interiores (chamados pontos de colocação) do domínio de interesse: wk = δ(x − xk ). (76) Uma das propriedades da função delta de Dirac é a seguinte: ∫ xk +b xk −a f (x)δ(x − xk ) dx = f (xk ) (a > 0, b > 0). 19 (77) Se os n, n pontos interiores forem raízes de um polinómio ortogonal de Jacobi de ordem então o método de colocação diz-se ser de colocação ortogonal. Aplicando a eq. (77) em (69), obtém-se R(xk ) = 0 k = 1, 2, . . . , n, para (78) ou seja: força-se o resíduo a ser nulo nos pontos interiores de colocação Por exemplo, suponha-se que se escolhe problema de difusão-reacção; x1 = 0.5 x1 , . . . , x n . como ponto de colocação para o x1 = 0.5 corresponde ao ponto localizado a meio do domínio. Anulando o resíduo neste ponto obtém-se R(x1 ) = −2a1 − ϕ2 [1 + a1 (1 − x21 )] = 0 → a1 = − ϕ2 = −0.3636. 2 + ϕ2 (1 − x21 ) (79) A estimativa do factor de eciência é 2a1 = 0.7576 3 2a1 = − 2 = 0.7273. ϕ η̃ = 1 + (80) (81) Estes valores indicam que a solução obtida pelo método de colocação concorda razoavelmente bem com a solução analítica. 2.3.2 Método de sub-domínio Neste caso o domínio é dividido em lhidas são wk = n sub-domínios Vi e as funções de ponderação esco- 1, no interior do sub-domínio Vk 0, no exterior do sub-domínio Vk . (82) Ou seja, anula-se o integral do resíduo sobre cada um dos sub-domínios. Para n=1 o sub-domínio coincide com o domínio completo do problema. Logo, ∫ (R, w1 )V = ∫ 1 0 R(x)w1 dx = 0 1 {−2a1 − ϕ2 [1 + a1 (1 − x21 )]}(1) dx (83) Forçando o produto interno a ser nulo obtém-se → (R, w1 )V = 0 3 a1 = − , 8 (84) o que permite o cálculo do factor de eciência: 2a1 = 0.75 3 2a1 = − 2 = 0.75. ϕ η̃ = 1 + 20 (85) (86) Estes valores indicam que a solução obtida pelo método do sub-domínio também concorda razoavelmente bem com a solução analítica. 2.3.3 Método de mínimos quadrados Neste método a função de ponderação é wk = ∂R . ∂ak (87) Com esta denição, o integral que dene o resíduo pode ser escrito da seguinte forma: ∫ V ∂R 1 ∂ ∫ R R2 dx. dx = ∂ak 2 ∂ak V A equação anterior mostra que os coecientes de ak (88) são determinados através da minimização (R, R). No caso do problema em estudo, (R, w1 )V = 1 ∂ ∫1 {−2a1 − ϕ2 [1 + a1 (1 − x21 )]}2 dx = 0. 2 ∂a1 0 Integrando esta equação para ϕ=1 e depois diferenciando em ordem a ( (R, w1 )V = ) 1 216 16 a1 + =0 2 15 3 → a1 = − a1 , (89) obtém-se 10 . 27 (90) As estimativas do factor de eciência são 2a1 = 0.7531 3 2a1 = − 2 = 0.7407. ϕ η̃ = 1 + (91) (92) Novamente, estes valores comparam bem com a solução analítica. 2.3.4 Método dos momentos Neste método as funções de ponderação são wk = xk−1 para k = 1, 2, . . . , n. Portanto, anulam-se os seguintes produtos internos para calcular os coecientes (R, 1)V = 0, (R, x)V = 0, , (R, x2 )V = 0, . . . , (R, xn−1 )V = 0. Como temos estado a considerar soluções para n = 1, observa-se que para (93) ai : (94) n=1 o método dos momentos é idêntico ao método dosub-domínio, porque o produto interno a anular é simplesmente (R, 1)V = 0. 21 (95) 2.3.5 Método de Galerkin Neste método as funções de ponderação são escolhidas da mesma família das funções de aproximação: wk = ϕk (x). (96) Portanto, no método de Galerkin anulam-se os seguintes produtos internos: (R, ϕ1 )V = 0, (R, ϕ2 )V = 0, , (R, ϕ2 )V = 0, . . . , (R, ϕ2 )V = 0. A solução do problema de difusão/reacção pelo Método de Galerkin com (97) n = 1 equivale a anular o seguinte produto interno: w1 (x) = 1 − x2 (R, w1 )V = 0, ∫ (R, w1 )V = 1 0 {−2a1 − ϕ2 [1 + a1 (1 − x21 )]}(1 − x2 ) dx = 0 2 8 (R, w1 )V = − (1 + 2a1 ) − a1 = 0. 3 15 Resolvendo em ordem a a1 (98) (99) (100) obtém-se 10 a1 = − 28 η̃ → 2a1 = 0.7619 = 1+ 3 . 2a1 = − 2 = 0.7143 ϕ (101) Este resultado parece mostrar que o método de Galerkin é o método mais preciso para o problema em análise. 2.3.6 Método de colocação ortogonal Apesar do método de Galerkin ser o mais preciso na resolução do problema de difusão/reacção com n = 1, quando se aumenta o número de funções de aproximação (n > 1) observa-se que o método de Galerkin apresenta muito mais diculdades analíticas do que o método de colocação. De facto, com excepção do método de colocação, todos os outros métodos de resíduos ponderados requerem uma integração da forma ∫ R(x)w(x) dx, (102) V que pode exigir a integração numérica se a integração analítica for impossível ou difícil de determinar. 22 A precisão do método de colocação pode ser melhorada se os pontos de colocação forem judiciosamente escolhidos. No caso do problema de difusão/reacção, observemos o integral que dene a variável macroscópica que nos interessa: ∫ ( 1 y(x) dx, η= 0 dy dx ) = 0, y(1) = 1. (103) x=0 Suponha-se que se utiliza uma fórmula de quadratura para calcular este integral numericamente; uma fórmula de quadratura não é mais do que a média ponderada dos valores da função a integrar em determinados pontos do intervalo de integração. No caso presente, podemos escrever a quadratura da seguinte forma: ∫ η= 0 1 y(x) dx ≈ m ∑ αk y(xk ) + αm+1 y(1); 0 ≤ x1 < x2 < . . . < xm < 1. (104) k=1 Quantos mais pontos foram incluídos na fórmula mais precisa ela será. É por este motivo que incluí o ponto x=1 no conjunto de pontos de quadratura; para x=1 conhece-se o valor analítico da solução, por isso é um ponto extra que se obtém de borla: seria um desperdício não o incluir. O problema que se coloca agora é: quais deverão ser os valores dos coecientes dos pontos de quadratura xk αk e para que a fórmula seja o mais precisa possível. Considere-se a fórmula de quadratura mais simples, com um único ponto interno de quadratura: η = α1 y(x1 ) + α2 y(1). Esta fórmula de quadratura tem 3 incógnitas: equações para as determinar. y(x) = 1, α1 , α2 e (105) x1 ; são, portanto, necessárias três Se a solução fosse constante em todo o domínio, isto é, a aplicação da fórmula de quadratura originaria: η = (α1 )(1) + (α2 )(1) = 1 → α1 + α2 = 1. (106) Já temos a primeira equação. Suponha-se aqora que o perl de concentração é um polinómio de segundo grau: y(x) = 1 + a1 (1 − x2 ). Se a fórmula de quadratura for válida para necessariamente válida para y(x) = 1 y(x) = 1 + a1 (1 − x2 ) (107) e y(x) = 1 − x2 por ser uma combinação linear dos polinómios anteriores. Por uma questão de simplicidade usar-se-á então 23 então ela será y(x) = 1 − x2 . Aplicando a fórmula de quadratura ao integral obtém-se ∫ 1 0 y(x) dx = 2/3 = (α1 )(1 − x21 ) + α2 (1 − 12 ) (108) 2/3 = (α1 )(1 − x21 ) (109) Já temos a segunda equação. Para obter a terceira equação considere-se for válida para y(x) = 1, y(x) = 1 − x2 polinómio do tipo e y(x) = 1 − x4 ; y(x) = 1 − x4 , então ela será válida para qualquer y(x) = 1 + a1 (1 − x2 ) + a2 (1 − x4 ). ∫ 1 0 se a fórmula de quadratura Para y(x) = 1 − x4 , obtém-se y(x) dx = 4/5 = (α1 )(1 − x41 ) + (α2 )(1 − 14 ) (110) 4/5 = (α1 )(1 − x41 ) (111) Agora já temos o conjunto de equações necessárias para a determinação de α1 , α2 e x1 : α1 + α2 = 1 (112) (1 − x21 )α1 = 2/3 (113) (1 − x41 )α1 = 4/5 (114) A solução deste sistema de equações é: x1 = 0.44721, α1 = 0.83333, α2 = 0.16667. (115) Voltemos, agora, a resolver o problema de difusão/reacção pelo método de colocação com n=1 e x1 = 0.44721 em vez de x1 = 0.5. R(x1 ) = −2a1 − ϕ2 [1 + a1 (1 − x21 )] = 0 Magia da magias, −0.35714 = −10/28 → Anulando o resíduo neste ponto obtém-se a1 = − ϕ2 = −0.35714. 2 + ϕ2 (1 − x21 ) (116) que é precisamente o valor obtido pelo método de Galerkin!!! (Conseguem perceber porquê?) Conseguimos melhorar a precisão do método de colocação ortogonal através da escolha judiciosa do ponto de colocação. O ponto x1 = 0.44721 funcionou bem porque ele é um zero de um polinómio de Jacobi especíco que está relacionado com o problema em questão. O polinómio de Jacobi de grau N tem um seguinte representação em série de potências: (α,β) JN (x) = N ∑ (−1)N −i γN,i xi , i=0 24 (117) com γN,0 = 1. Os coecientes γN,i são constantes e α e β caracterizam o tipo de polinómio. Os polinómios de Jacobi pertencem a uma classe de polinómios ortogonais porque satisfazem a seguinte condição de ortogonalidade no domínio ∫ 1 0 para (α,β) [xβ (1 − x)α ]Jj j = 0, 1, 2, . . . , (N − 1), (α,β) (x)JN (x) dx = 0 Pode demonstrar-se que o polinómio x ∈ [a, b], (118) isto é, todos os polinómios de Jacobi são ortogonais a todos os outros exceptuando a eles próprios (isto é, quando eles localizados no intervalo [0, 1]: [0, 1]. (α,β) JN j = N ). (x) tem exactamente N zeros distintos todos Se o domínio do sistema PDE a resolver, por exemplo for convertido no domínio [0, 1] através da mudança de variável x′ = (x − a)/(b − a), então pode demonstrar-se que os zeros do polinómio (119) (α,β) JN (x) são excelentes pontos de colocaçãoo para resolução da PDE pelo métodos dos resíduos ponderados. Em apêndice lista-se vários tipos de polinómios ortogonais. Para ver como surge o ponto x1 = 0.44721, note-se primeiro que os polinómios de Jacobi são séries de polinómios com potências impares e potências pares de x. No en- tanto, no problema que temos usado como exemplo, a função de aproximação é a soma de polinómios com potências pares de x. Para poder utilizar-se uma função de aproxima- ção envolvendo polinómios com potências impares e pares de substituição de variável: z = x2 . x pode fazer-se a seguinte Obtém-se: ( √ dy dz dy dy = =2 z , dx dx dz dz d2 y dz d dy = 2 dx dx dz dx ) = 4z d2 y dy +2 . 2 dz dz (120) Aplicando estas transformações nas eqs. (9)(11), obtém-se 4z d2 y dy + 2 − ϕ2 y = 0, 2 dz dz y=1 A condição fronteira variável, z = x2 , (dy/dx)x=0 = 0 x = 1. para (121) (122) é automaticamente satisfeita pela transformação de pelo não necessita de ser incluída. O factor de eciência é ∫ η= ∫ 1 y(x) dx = 2 0 0 25 1 y(z)z 1/2 dz. (123) Comparando este integral com a condição de ortogonalidade, dada pela eq. (118), concluise que factor de ponderação comum a ambos os integrais é obtido para α=0 e β = 1/2. Se utilizarmos um ponto interior de colocação, o integral é dado por uma fórmula de quadratura idêntica à da eq. (104): ∫ 1 η=2 0 y(z)z 1/2 dz ≈ 2 m ∑ 1/2 0 ≤ z1 < z2 < . . . < zm < 1. zk αk y(zk ) + 11/2 αm+1 y(1); k=1 (124) Um quadratura que inclui um dos pontos da fronteira do domínio de integração, denomina-se quadratura de Radau (ver apêndice E.6); os pontos óptimos de quadratura são os zeros do polinómio de Jacobi ( JN α, β + 1)(x) (ver tabela 12.2 no apêndice). No caso presente, estamos interessados no zero do polinômio em Tabelas desses polinómios, obtém-se ( J1 0, 3/2)(x). z1 = 0.2, α1 = 0.83333 e Procurando α2 = 0.16667. √ z = x2 , o ponto de colocação equivalente na coordenada x será x1 = Como (z) = 0.44721; este ponto é idêntico ao que tinhamos obtido anteriormente. 3 Solução de sistemas mistos de equações diferenciais ordinárias e algébricas Um sistema misto de equações diferenciais ordinárias e algébricas pode ser escrito na seguinte forma genérica: F(x, y, y′ , t) = 0 (125) G(x, y, t) = 0, em que y = (y1 , . . . , yn ) densada para dy/dt, e (126) é um conjunto de variáveis diferenciais, x = (x1 , . . . , xm ) sistema diferencial necessita de n é um conjunto de m é uma notação con- variáveis algébricas. Este equações iniciais: H(x0 , y0 , y0′ ) = 0 para t = 0. Em muitos casos o sistema é puramente diferencial, isto é, F(y, y′ , t) = 0 y′ (127) m = 0, pode ser reescrita numa forma explicita em ordem a y′ (t) = f (t, y(t)), 26 y(0) = y0 . e para além disso y′ : (128) Certamente devem ter aprendido métodos de Runge-Kutta explícitos para a resolução da Eq. (128). Por exemplo, o método de Runge-Kutta-Gill corresponde ao seguinte esquema de integração, em que conhecido o valor de y para o instante tn , isto é se pretende avançar a solução para o instante de tempo yn = y(tn ), tn+1 = tn + h. 1 1 yn+1 = yn + (k1 + k4 ) + ( bk2 + dk3 ), 6 3 (129) em que k1 = h f (tn , yn ) ) ( h 1 k2 = h f tn + , yn + k1 2 2 ( ) h k3 = h f tn + , yn + ak1 + bk2 2 k4 = h f (tn + h, yn + ck2 + dk3 ) √ com a= (130) (131) (132) (133) √ √ √ 2−1 2 2 2− 2 ,b = ,c = − ,d = 1 + . 2 2 2 2 (134) Os métodos explícitos não são frequentemente utilizados na integração de modelos diferenciais em Engenharia Química porque os métodos explícitos não são incondicionalmente estáveis. Por esta razão, vou-me concentrar na resolução do sistema DAE dado na Eq. (125). O método mais simples é o método implícito de Euler. Este método decorre directamente da aproximação de dy/dt em série de Taylor dada na Eq. (20) e que se reproduz em seguida: y(x − ∆x) = y(x) − dy(x) ∆x + O(∆x2 ). dx (135) Desta expressão decorre imediatamente que ′ = yn+1 Portanto, para determinar xn+1 e yn+1 − yn + O(h). h yn+1 em tn+1 = tn + h, (136) conhecidos xn e yn , resolve-se o sistema algébrico ) ( yn+1 − yn F xn+1 , yn+1 , , tn+1 = 0 h G(xn+1 , yn+1 , tn+1 ) = 0. 27 (137) (138) Este método é incondicionalmente estável, mas exige a resolução de um sistema de equações algébricas que em muitos casos são não lineares. A desvantagem do método é ser um método de 1 a ordem. a Um método de 2 ordem estável, muito utilizado, é o método dos trapézios também conhecido por método de Crank-Nicholson. Das várias diferenças nitas apresentadas anteriormente, é fácil deduzir a seguinte fórmula: ( ′ yn+1/2 = dy dt ) = tn+1/2 yn+1 − yn + O(h2 ). h (139) Esta equação é idêntica à eq. (136) mas há uma diferença fundamental: aproxima dy/dt para tn+1 = tn + h; a eq. (139) aproxima a Por isso é que a eq. (136) é uma aproximação de 1 a uma aproximação de 2 expressões para xn+1/2 xn+1/2 = e dy/dt para tn+1/2 = tn + h/2. ordem, enquanto que a eq. (139) é ordem. Para resolver o sistema (125) em yn+1/2 . a eq. (136) tn+1/2 é necessário ter É fácil deduzir que as seguintes fórmulas: xn + xn+1 + O(h2 ), 2 yn+1/2 = yn + yn+1 + O(h2 ). 2 a Estas fórmulas são consistentes com a aproximação de 2 mindo, para se calcular a solução no instante de tempo (140) ordem dada na eq. (139). Resu- tn+1 usando o método de Crank- Nicholson resolve-se o seguinte sistema de equações algébricas: ) ( xn + xn+1 yn + yn+1 yn+1 − yn , , , tn+1/2 = 0 F 2 2 h ( ) xn + xn+1 yn + yn+1 G , , tn+1/2 = 0. 2 2 (141) (142) Actualmente, os métodos de integração mais usados são os métodos implícitos de ordem variável e passo variável baseados nas fórmulas BDF de diferenciação de Gear. Sucintamente, ′ yn+1 é aproximado pela diferenciação do polinómio que interpola valores da solução nos interpola yn+1 e yn k yn+1 e os passos de integração anteriores. Por exemplo, o polinómio que é p1 (t) = yn + yn+1 − yn (t − tn ). h (143) A diferenciação dá directamente a fórmula implícita de Euler: ′ = yn+1 yn+1 − yn . h (144) Portanto a fórmula BDF de primeira ordem é equivalente ao método implícito de Euler. 28 a Para deduzir uma fórmula de 2 yn e yn−1 . ordem, determina-se o polinómio que interpola yn+1 , O resultado é p2 (t) = yn + yn−1 − 2yn + yn+1 yn+1 − yn (t − tn ) + (t − tn )(t − tn+1 ) h 2h2 Diferenciando este polinómio em ′ = yn+1 tn+1 (145) obtém-se yn+1 − yn yn−1 − 2yn + yn+1 + . h 2h (146) Em qualquer caso, o sistema algébrico que é necessário resolver para calcular a solução no instante tn+1 é do tipo F(xn+1 , yn+1 , αyn+1 + w, tn+1 ) = 0 G(xn+1 , yn+1 , tn+1 ) = 0, em que α e w são constantes que variam de passo para passo. 29 (147) (148)