O Modelo de Gestão dos 8R´s e algumas correlações que o validam: versão ampliada1 Resumo O Modelo de Gestão dos 8R´s, objeto de aprofundamento neste artigo, foi fundamentado nas Teorias do Conhecimento e de Ciência, termos epistemológicos; na Teoria Geral dos Sistemas (TGS), em termos conceituais; e nos conceitos de Entropia, Modelagem e Modelos. Este modelo de gestão busca aportar novas variáveis e dimensões que merecem destaque na dinâmica da gestão organizacional da modernidade. Esta denominação aproveita a evidência simbólica e mnemônica de oito palavras que ilustram dimensões adicionais como objeto da gestão. O artigo busca evidenciar algumas correlações que validam e Modelo, concluindo que o mesmo pode ser estendido a vários tipos de organizações, já que representa uma abordagem sistêmica, mais holística e consistente com os desafios da modernidade. Introdução Tangenciando questões epistemológicas mais delicadas sobre a Teoria do Conhecimento, pode-se considerar um “Modelo” como algo intermediário, uma representação (mais, ou menos, simplificada) de um fenômeno ou de uma dada realidade, geralmente complexa. Além de ser algo reducionista pode disseminar o conceito de forma imprecisa, razão pela qual merece algumas reservas, mesmo sendo intrínseco à natureza intelectual. Melhor ser visto como um mapa e não como o território em si, a despeito de sua validade na geração e comunicação do conhecimento. Nesse sentido caminharemos neste artigo. Segundo a Stanford Encyclopedia of Philosophy (2009), há uma distinção entre “modelo” e “modelagem”. Historicamente a palavra “modelo” passou a ter estes dois usos diferentes. Em latim, modellus era um dispositivo de medição, por exemplo, para medir a água ou o leite. Pelos caprichos linguísticos, a palavra gerou três palavras diferentes em inglês: “molde”, “módulo”, “modelo”. No final do Século 17, a palavra “modelo” passou a significar, também, um objeto que mostra a forma, não de objetos do mundo real, mas de construções matemáticas. Neste contexto histórico-temporal, aparecem pela primeira vez os modelos da “teoria do modelo”, como versões abstratas deste tipo de modelo, com “teorias” no lugar de “equações”. Assim, pôde-se contar com a representação da forma de objetos do mundo real através de uma teoria, além de apenas uma cópia ou projeto físico. Neste sentido, “modelagem” seria a construção de tal teoria. Modelar um fenômeno é construir uma teoria formal que o descreve e explica. Neste sentido, você modela um sistema ou estrutura que você pretende construir, fazendo uma descrição do mesmo. Estes são sentidos muito diferentes de "modelo" daqueles da teoria de modelo: o "modelo" do fenômeno ou o sistema Nos complace informarle que su artículo titulado: “O Modelo de Gestão dos 8R´s e Algumas Correlações que o Validam”, se encuentra entre el mejor 25%-30% de los artículos presentados en CICIC 2015, de acuerdo a la evaluación cuantitativa de los revisores que recomendaron su aceptación para ser presentado en dicho evento. En consecuencia, éste ha sido seleccionado para ser incluido en la Revista Iberoamericana de Sistemas, Cibernética e Informática: RISCI. 1 não é uma estrutura, mas uma teoria, muitas vezes em uma linguagem formal (Stanford Encyclopedia of Philosophy, 2009, p. 12, tradução nossa). Para esta mesma fonte, a questão central da ciência cognitiva é como representamos fatos ou possibilidades. Se alguém formaliza estas representações mentais, estas passam a ser algo como "modelos de fenômenos”. Mas é uma séria hipótese que, de fato, nossas representações mentais têm muito em comum com o simples conjunto de estruturas teóricas, de modo que elas são "modelos" no sentido do modelo teórico, também. Para Suppes, Pavel e Falmagne (1994, p. 518): “a representação de alguma coisa é uma imagem, modelo, reprodução desta coisa. Referências de representações são familiares e frequentes em expressões comuns e científicos”. Para esses autores, a representação normalmente melhora a nossa compreensão do objeto representado (a exemplo de uma planta arquitetônica que favorece a compreensão de uma determinada construção), sendo o uso de modelos na ciência muito frequente, ao fornecer múltiplos exemplos de representações. No sentido formal, “a representação também tem sido associada intimamente com a redução do desconhecido para o conhecido” (SUPPES; PAVEL; FALMAGNE, 1994, p. 518, tradução nossa)2. [...] a representação é normalmente definida no sentido restrito como uma descrição de uma estrutura empírica em uma linguagem científica conveniente. Este entendimento de representação está intimamente relacionado com o conceito de um modelo (SUPPES; PAVEL; FALMAGNE, 1994, p.519, tradução nossa). Por sua vez, Dye (2005) considera modelo como uma representação simplificada de algum aspecto do mundo real. Modelo pode ser uma representação física real - um protótipo ou maquete, ou pode ser um diagrama – um mapa ou o fluxograma, por exemplo. São milhares os tipos de modelos, geralmente instrumentos visuais utilizados em várias áreas e funções como análise, gestão, comunicação. Fluxogramas, tabelas, figuras, gráficos, equações, esquemas, mapas conceituais são exemplos de modelos, usados como recursos cognitivos de uso generalizado na representação e descrição de uma dada situação ou contexto, na busca do entendimento dos conceitos utilizados na geração e difusão do conhecimento. Um simples gráfico de y contra x é um modelo que nos ajuda a entender a relação entre duas variáveis (CAMPOS, 2009). A utilização de modelos em nosso dia a dia dáse mesmo sem a percepção de que os estamos usando. Modelos são concepções mentais utilizados para permitir o entendimento de situações complexas [...] São utilizados em análise e síntese para melhorar as condições de planejamento e reduzir as incertezas no processo de tomada de decisões [...] Um modelo é uma replica ou representação de uma ideia, um objeto ou de um sistema. Um modelo descreve, aproximadamente, como um sistema se comporta. (CAMPOS, 2009, p. 129, grifos nossos). Vários são os autores que aprofundam os conceitos de representação e aprendizagem, alguns dos quais enfatizam o enfoque da psicologia cognitiva, e em especial o processamento de símbolos, como o mais importante caminho de pensar a respeito das habilidades cognitivas de organismos, especialmente os humanos. Com base no exposto, cabe-nos destacar que um modelo que tenta reproduzir uma dada realidade é apenas uma 2 Uma visão sistêmica da abordagem desses autores pode ser vista em Almeida Neto, 2013, p.123. representação mental da mesma, apesar de ajudar na sua compressão e gestão. Diante de tais considerações e em se considerando os diversos prós e contras de tal abordagem, evidenciaremos um modelo que nos parece mais sistêmico e coerente para com os desafios da gestão moderna. Modelo de Gestão dos 8R´s O Modelo de Gestão dos 8R´s busca aportar novas variáveis e dimensões que merecem destaque na dinâmica da gestão organizacional da modernidade. Esta denominação aproveita a evidência simbólica e mnemônica de oito palavras que ilustram dimensões adicionais como objeto da gestão, estando plenamente aderente ao modelo subjacente do PDCA3, enquanto metodologia de gestão. Busca-se demonstrar, ainda, a convergência dos 8R´s com o Modelo de Excelência em Gestão – MEG, dos diversos Prêmios de Excelência em Gestão, operando similarmente em diferentes países, além de uma possível aderência metafórica com o Modelo do Cérebro Trino4. Na sua tese Almeida Neto (2013) complementa esse modelo com mais três proposições: o “PDCA para a Gestão da Rede Federal de Educação Profissional Científica e Tecnológica (RFEPCT)”; um “Balanced Score Card (BSC) segundo os 8R’s para a RFEPCT” e o “Modelo Sistêmico de Avaliação da Gestão (MSAG)”, que serão objeto de outros artigos. Tal percurso metodológico visa enriquecer o processo de tomada de decisões e introduzir melhorias no bojo da gestão. O exercício de modelagens de gestão proposto, devidamente alicerçado epistemológica e conceitualmente, ressalta a íntima relação entre os conceitos de gestão e produção. A “Produção” implica na utilização de “Recursos” (Entradas), transformando-os, via “Trabalho” (variação de energia), em “Produtos”, bens ou serviços, tangíveis e/ou intangíveis (Saídas ou Resultados). “Gestão” caracteriza-se como ato de planejar, organizar, dirigir, controlar, sistematizar, enfim, a produção, visando a melhor equação/relação entre o uso dos “Recursos” e a ampliação/aumento dos “Resultados”, levando em conta as diferentes necessidades implícitas das diversas partes partícipes do processo de produção, as assim denominadas “partes interessadas”, os stakeholders. (ALMEIDA NETO, 2013, p. 406). A gestão e a produção estruturaram diferentes cenários ou formas de organizações produtivas no decorrer do tempo, necessariamente mutantes e adaptativas para sobreviverem e desenvolverem-se, realimentando-se e modificando-se mutuamente. Forma-se, portanto, um ciclo dinâmico, produtivo, que endogenamente se “autoalimenta”, localizando-se este ciclo de produção/consumo-organização-gestão em um contexto 3 O denominado ciclo PDCA é um método científico de gestão, sintetizado nas palavras em inglês Plan, Do, Check, Action (planejar, fazer, avaliar, agir). Assim, corresponde à operação das atividades administrativas de Planejamento, Execução (Desempenho), Checagem (Verificação/Avaliação) e Ação Corretiva (Aprendizado), girando-as sempre para obter melhoria contínua e incessante agregação de valor aos processos produtivos e, consequentemente, aos seus produtos. Este modelo foi elaborado por Walter Shewart na década de 1920 e difundido por Willian Edward Deming, a partir dos anos 50. (CAMPOS, 2004). 4 Teoria do cérebro trino foi elaborada em 1970 pelo neurocientista Paul MacLean, apresentada em 1990 no seu livro “The Triune Brain in evolution: Role in paleocerebral functions”, discute o fato de que nós, humanos/primatas, temos o cérebro dividido em três unidades funcionais diferentes – Reptiliano, Límbico e Córtex. Cada uma dessas unidades representa um extrato evolutivo do sistema nervoso dos vertebrados. universal e intrinsecamente entrópico. Daí a necessidade de se enfocar a qualidade dessa “Transformação” dos insumos em bens, que caracteriza, de fato, o que se entende como “Produção”, evocando um necessário entendimento do fenômeno entrópico no seio da gestão. Na perspectiva dos 8R´s: Recursos são transformados em Resultados, segundo um dado Rendimento, visando gerar Resultados ou produtos (bens e serviços, P/S) para atender a um determinado tipo de necessidade de clientes/usuários demandantes destas necessidades. Para sobreviver no ambiente entrópico gerador de contínuas mudanças e desafios – que é a sociedade contemporânea –, as organizações precisam se reinventar dinâmica e continuamente. Figura 1: Uma Visão Sistêmica da Produção e o Modelo das oito Dimensões da Gestão (8R’s) Fonte: Almeida Neto, 2013, p. 410 Sob a ótica da gestão da informação, as Organizações podem ser entendidas como uma Rede5 de Aprendizado, teias multifuncionais interligadas que integram dados e informações, gerando melhorias e inovações que a tornem mais aptas à sobrevivência no longo prazo, mais competitivas no ambiente entrópico. A visão da organização como rede também se aplica à uma rede de Relacionamentos, em que é fundamental a gestão dos interesses (às vezes antagônicos) de cada parte ou “ator” organizacional, os assim denominados stakeholders: os cidadãos usuários ou clientes dos produtos, os controladores 5 Este é um enfoque com grande ascensão nos estudos organizacionais atuais. A título de exemplo, Stoker (2006) trata de um modelo de Governança em Rede (Networked Governance - NG), como uma coleção de decisões caracterizadas pela tendência de um espectro muito grande de participantes vistos como legítimos membros do processo de decisões, em um contexto complexo e incerto. da organização (acionistas, governantes, executivos), os colaboradores (funcionários, servidores ou empregados e terceirizados que constituem a força de trabalho) e seus respectivos sindicatos, os fornecedores dos diversos recursos ou insumos, a sociedade (incluindo a comunidade do entorno e o mercado empregador), os órgão governamentais (administradores, reguladores, fiscalizadores etc.), e ainda a mídia que costuma operar como “fiscalizador” da e para a opinião pública. Todos estes entes, atores com interesses no ambiente organizacional produtivo, têm demandas típicas e autênticas no seio da gestão e dela precisam de respostas ou “produtos” específicos a serem supridos e, portanto, gerenciados. Tanto os processos de produção quanto a gestão são feitos por pessoas, com pessoas e para pessoas. Assim, necessariamente, um processo de gestão exige intensos relacionamentos horizontais e verticais entre o gestor e os stakeholders envolvidos nesta organização. Portanto, esta teia de relacionamento é um elemento fundamental em um processo de gestão, sendo irrigada por informação através da interação entre as partes. Gerir e intensificar essa variável torna-se indispensável a uma gestão moderna das Organizações. A visão desta fruição de relações e informações entre os diversos agentes envolvidos no processo produtivo reforça a ótica da organização enquanto Rede. Toda organização entendida como uma rede produtiva, uma teia de interações múltiplas, contínuas que leva a consequências, a decisões, a rumos, a direcionamentos que resultam em produtos e serviços para atender algum usuário. Ao saber que todo usuário ou cliente de um processo produtivo é ente “carente”, demandante, as organizações vão sistematizar a produção de bens e serviços, ou seja, o Resultado deste processo produtivo, para atender as supostas necessidades, objetivas e subjetivas, deste sujeito carente que, em suma, deveria ser a razão de ser toda organização produtiva. O grau de satisfação desse cliente configura-se como o “Benefício” obtido, que retorna como retroalimentação ao processo produtivo, significando a medida da Eficácia da produção. Este foco finalístico nos clientes e usuários dos produtos e serviços, públicos e privados, deve reger toda prática de gestão, sincronizada e sintonizada com as demandas sociais, econômicas, políticas, tecnológicas e ambientais das comunidades onde estão inseridas e do mercado empregador. Ademais, este “cliente”, ao menos teoricamente, tem o poder da escolha, tanto na seleção dos governantes, numa democracia, quanto do fornecedor, numa economia aberta e competitiva. Na perspectiva sistêmica apresentada, os resultados ou produtos são efeitos ou saídas de um processo de transformação de algumas entradas ou Recursos: tanto os de caráter natural, físicos, quanto os mais abstratos. Eles são múltiplas matérias-primas, o meio ambiente, o capital, o trabalho das pessoas e das máquinas, a informação, o conhecimento, a tecnologia, a energia etc. O grau de satisfação dos stakeholderes é uma medida ou informação significativa e deve ser entendida, também, como uma entrada, objeto do feedback ou retroalimentação na perspectiva produtiva sistêmica, como um todo. Esses recursos entram neste processo produtivo e são transformados em resultados, bens e serviços para suprir necessidades. A qualidade desta transformação caracteriza o Rendimento desse processo produtivo. Merece, também, um foco especial, carecendo ser bem administrada, uma vez que essa variável está associada aos “Custos” do processo produtivo. Sua medida revela a Eficiência do sistema produtivo. Das Leis da Termodinâmica sabe-se que qualquer máquina, seja mecânica, térmica ou elétrica, tem como rendimento a relação Saída/Entrada, e é evidente que, fora da idealidade, do ponto de vista energético todo rendimento é menor que 1, haja vista a ação da entropia. Do ponto de vista econômico, o desejo é exatamente o contrário, ou seja, que haja geração de “riqueza” ou agregação de valor6: deseja-se que o “valor” de saída seja maior que o “valor” de entrada. Essa relação, em termos produtivos, mede a produtividade deste processo produtivo ou organizacional, que deveria ser sempre maior que 1, ou seja o “valor” dos benefícios, superando os “valor” dos custos. Assim produzir, em termos teóricos, seria a busca contínua e sempre otimizada da “agregação de valor”. Essa capacidade de agregar valor, tanto no processo produtivo em si, quanto nas organizações como um todo, é medida como “produtividade”. Como os recursos (associados aos custos) são cada vez mais escassos e os resultados esperados (associados aos benefícios) cada vez maiores, todo governante, empresário ou gestor vive sobre uma pressão da máxima, quase um mantra: “Fazer mais, com menos”. Esta busca pela produtividade, em função da racionalidade do processo produtivo, preme a todos (tal qual uma “Espada de Dâmocles”). Inegavelmente ela vem sendo obtida no decorrer da história ou pela exacerbação da “mais valia” ou pela via da tecnologia, conhecimento aplicado, que inova e cria formas mais racionais e até inéditas de produção. Dentre as tecnologias, pode-se considerar a gestão organizacional uma delas. Do ponto de vista organizacional, de uma estrutura de trabalho produtivo e numa abordagem na gestão da produção, é fundamental considerar a qualidade da transformação. Esta deve ser uma variável significativa no contexto produtivo e pode ser entendida como o “Rendimento” (não no sentido econômico, mas, sim, no sentido físico do termo) de qualquer máquina de transformação de energia. O “Rendimento” da transformação é diretamente proporcional à qualidade da produção e, portanto, inversamente proporcional à entropia (ALMEIDA NETO, 2013, p.151). Nesta mesma direção, continua o autor enfatizando que nem toda energia que entra no sistema produtivo é transformada em energia útil, que gera trabalho, em função do fato de que, por existir num dado ambiente entrópico, simbolicamente é necessário pagar um “pedágio”. Ademais, não se pode ignorar que todo processo de transformação deixa também no meio ambiente “Resíduos”, de múltiplas ordens, que não podem ser ignorados. A geração de resíduo é um fenômeno físico geralmente prejudicial a uma ou outra forma de vida, e direta ou indiretamente à vida humana. Um processo produtivo energeticamente perdulário (mais “entrópico”) terá menos rendimento na transformação, gerando em 6 A despeito da existência da complexa da “Teoria do Valor”, com todas suas variantes e correntes ideológicas diversas, na economia, filosofia e outras ciências sociais, consideramos aqui o “valor” de forma simplista, para efeito didático, sendo tomado como uma medida da qualidade ou importância (tanto do ponto de vista econômico, como social, cultural, ambiental), atribuída pelo usuário final, com poder de escolha, de um determinado produto. No contexto aqui abordado, está associado ao grau de satisfação para com determinado produto ou serviço e leva em conta a subjetividade do(s) sujeito(s) avaliador(es), podendo ser pessoas físicas ou jurídicas. decorrência mais resíduos. Neste sentido, justifica-se, um cuidado na evidência e tratamento desta questão nos campos econômico e administrativo (ALMEIDA NETO, 2013, p.151). Tais considerações são basilares na criação do “Modelo de Gestão dos 8R´s” proposto pelo autor (ALMEIDA NETO, 2013, p.409), em que a gestão dos “Resíduos” e a “Responsabilidade Social”, incluindo seus aspectos ambiental, cultural e econômico, devam ser sistemática e estruturalmente gerenciados pelas organizações produtivas, na direção de um futuro sustentável7. Associada à variável Rendimento está o grau de eficiência da transformação (por estamos em um mundo entrópico, mais apropriado seria o grau de ineficiência). Assim, vincula-se também à produção (transformação), a geração de Resíduos, perdas, elementos poluentes que prejudicam o meio ambiente e comprometem a sustentabilidade das novas gerações. Esses resíduos, perdas e poluentes, de alguma forma, acabam sendo uma espécie de subprodutos indesejáveis de todo o processo produtivo, que exigem sua gestão. Daí o entendimento de que todo o processo de gestão envolve a Responsabilidade. Todo processo produtivo está inserido em um contexto natural, cultural, político, econômico, social e tecnológico, e é necessária a introdução da Responsabilidade Social, incorporando todas as dimensões citadas, em qualquer processo produtivo, devendo ser objeto da gestão cuidar, exercer esta responsabilidade social múltipla (ALMEIDA NETO, 2013, p.413 e 414). Como vivemos num ambiente múltiplo, mutante e competitivo, a gestão está sob uma forte pressão temporal, não podendo dissociar-se deste compasso que exige dela decisões rápidas, ajustes contínuos tanto no seu processo estratégico quanto no de rotina. Então, a Rapidez é uma variável que precisa ser administrada continuamente. No mundo das organizações produtivas, as do primeiro, segundo e terceiro setores8, a variável tempo foi, é e sempre será fundamental. O setor público, tradicionalmente, privilegia a variável “espaço” (área de trabalho como um dos símbolos de poder) e, geralmente, considera a variável “tempo” na perspectiva eleitoral e não no atendimento efetivo às necessidades e demandas dos cidadãos e contribuintes. Já o segundo setor, é altamente dependente do tempo, da rapidez como elemento de competitividade e sobrevivência. Fazer, bem feito e rapidamente, antes que um concorrente o faça! Nesse mundo que se metamorfoseia turbinado pela Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), consumista, virtual e multirreferencial – um mundo mais que líquido, “gasoso” (BAUMANN, 2001) –, a rapidez fez-se imprescindível. Ademais, as novas (mas, nem por isso, melhores) exigências da sociedade pressionam as Organizações produtivas como novas demandas, que deveriam redundar em distintos serviços como respostas ao diferente contexto. Novos conhecimentos, tecnologias, valores, hábitos, produtos, serviços e demandas, sociais, políticas, econômicas e ambientais, exigem novos cursos, ou atualização dos existentes de forma célere. Tal vetor pode ir de encontro à forma costumeira e, às vezes, um 7 Como exemplo desta linha epistemológica evidencia-se, atualmente, a Logística Reversa como um importante vetor agregador de valor a esse raciocínio político e metodológico, ao somar inovações pragmáticas e soluções tecnológicas que mitiguem os impactos produtivos numa dada localidade, região, país e planeta. Faz-se, assim, imprescindível a importância desse tema na sociedade atual e na gestão das organizações e do meio ambiente. 8 Tradicional e respectivamente considerados as organizações públicas, as de mercado e as do terceiro setor. tanto inercial e reativa, das instituições públicas e privadas educacionais. A velocidade de ação, reação ou inovação precisa ser acompanhada e monitorada pela gestão nestes tempos de “pós-modernidade”. Ressalta-se, ainda, que a variável Rapidez está associada à administração do tempo, enquanto recurso raro, imaterial, fluídico, fundamental aos gestores da atualidade. Tal dificuldade em muito perpassa a inexistência de uma gerência da rotina devidamente sistematizada e otimizada, que é significativamente diferente de apenas “burocratizada”. Algumas correlações com o Modelo de Gestão dos “8R´s” Visando corporificar ainda mais esse Modelo buscou-se associar cada um dos “R´s” a determinados tipos de gestão em curso nas organizações, caracterizando, de fato, um Modelo de Governança Corporativa, mais amplo. Modelo de Gestão dos “R” Associações mais evidentes (mas não exclusivas) (R1) RESULTADOS Gestão: da Qualidade; Estratégica; da Rotina; Financeira... (R2) RECURSOS Gestão: dos Custos; do Espaço; da Logística... (R3) RENDIMENTO Gestão: de Processo; da Tecnologia; da Inovação... (R4) RELACIONAMENTO Gestão: de Pessoas; do Relacionamento com Stakeholders... (R5) REDE Gestão: do Conhecimento; do Aprendizado; do Capital Intelec ... (R6) RESÍDUO Gestão: Ambiental; das Perdas / Entropia; Logística Reversa... (R7) RESPONSABILIDADE Gestão: Social; Cultural; Econômica... (R8) RAPIDEZ Gestão: do Tempo; de Oportunidades; das Decisões... Ressalte-se que a correlação acima segue uma perspectiva da Teoria Geral de Sistemas, em que cada parte de um todo é função das demais. Assim, o Modelo explicita relações matriciais em que a gestão de cada “R” é interdependente com os demais: se cruzam, perpassam-se, interpenetram-se, interagindo mutuamente entre si9. R1 = f (R2 + R3 + R4 + R5 + R6 + R7 + R8) R2 = f (R1 + R3 + R4 + R5 + R6 + R7 + R8) R3 = f (R1 + R2 + R4 + R5 + R6 + R7 + R8) R4 = f (R1 + R2 + R3 + R5 + R6 + R7 + R8) R5 = f (R1 + R2 + R3 + R4 + R6 + R7 + R8) R6 = f (R1 + R2 + R3 + R4 + R5 + R7 + R8) R7 = f (R1 + R2 + R3 + R4 + R5 + R6 + R8) R8 = f (R1 + R2 + R3 + R4 + R5 + R6 + R7) As palavras “organismo” e “organização” têm a mesma raiz etimológica, não por acaso. Derivam-se da palavra “órgão”, do grego Organon, instrumento ou utensílio. No Dicionário Houaiss são até tidas como sinônimos. ORGANIZAÇÃO10 vem do Latim medieval ORGANIZARE, de ORGANUM, “instrumento musical, implemento, órgão do corpo”, literalmente “aquele que funciona”, relacionado a ERGON, “trabalho”. Dentre as várias metáforas evidenciadas por Morgan (1998) destaca-se aqui aquela que busca compreender o fenômeno organizacional, também, como “organismo”. Nesta perspectiva, evidenciamos a Teoria do Cérebro Trino, segundo MacLean (1970, apud GUYTON; HALL, 2008), em que cada uma das unidades cerebrais representa um extrato 9 Vide Bertalanffy, 2006, p.84, citado por Almeida Neto, 2013, p. 135. Disponível em: < http://origemdapalavra.com.br/site/pergunta/trabalho-19/>. Acessado em 15/12/2014. 10 evolutivo do sistema nervoso dos vertebrados. Segundo essa teoria, o cérebro humano/primata seria composto pelos: Cérebro Reptiliano: cérebro basal, ou ainda, como o chamou MacLean, “R-complex”, é formado apenas pela medula espinhal e pelas porções basais do prosencéfalo. Esse primeiro nível de organização cerebral é capaz apenas de promover reflexos simples, o que ocorre em répteis, por isso o nome; Cérebro dos Mamíferos Inferiores: ou cérebro emocional, é o segundo nível funcional do sistema nervoso e, além dos componentes do cérebro reptiliano, conta com os núcleos da base do telencéfalo; pelo Diencéfalo (Tálamo, Hipotálamo e Epitálamo); pelo Giro do Cíngulo; e pelo hipocampo e parahipocampo. Esses últimos componentes são integrantes do Sistema Límbico, que é responsável por controlar o comportamento emocional dos indivíduos, daí o nome de Cérebro Emocional. Esse nível de organização corresponde ao cérebro da maioria dos mamíferos; Cérebro Racional: Conhecido também como neocórtex, é composto pelo córtex telencefálico. Esse por sua vez é dividido em lobos, sendo esses: Frontal; Parietal; Temporal; Occipital; Insular. É o que diferencia o homem/primata dos demais animais. Segundo Paul MacLean é apenas pela presença do neocórtex que o homem consegue desenvolver o pensamento abstrato e tem capacidade de gerar invenções. Modelo de Gestão dos “R” Associações mais evidentes segundo o Modelo do Cérebro Trino Cérebro Límbico Cérebro Racional (R3) RENDIMENTO X X (R4) RELACIONAMENTO X Cérebro Reptiliano (R1) RESULTADOS X (R2) RECURSOS X (R5) REDE X (R6) RESÍDUO X (R7) RESPONSABILIDADE X (R8) RAPIDEZ X X Dentro de uma visão evolutiva, nos parece adequado correlacionar cada R a determinados atributos cerebrais, evidenciado que esse R´s são considerados na gestão segundo uma determinada maturidade gerencial. À medida que a gestão vai incorporando novas funções e possibilidades, novos R´s vão naturalmente se incorporando ao escopo da gestão / administração organizacional. Como demonstrado em Almeida Neto (2013, p. 416), buscou-se ainda mais consistência conceitual para o Modelo dos 8R´s, entendendo-se que ele deva estar consonante com alguns dos conceitos e técnicas fundamentais da atividade administrativa, dentre elas o Total Quality Control (TQC), o Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ) da NBR ISO 9001:2008, o MEG (todas operando segundo o substrato metodológico do PDCA ou PDCL), além do BSC, básicos para o dia-a-dia dos gestores modernos. Assim, evidencia-se a seguir mais uma plena correlação com o Modelo de Excelência em Gestão Pública (MEGP), explicitada num duplo PDCA11. Figura 2: Correlação entre as Oito Dimensões da Gestão (8R’s) e os Critérios de Excelência dos MEG/MEGP, na configuração do PDCL Fonte: Almeida Neto, 2013, p. 419 Conclusões Pelo exposto, nos parece que o Modelo de Gestão dos 8R´s enquanto exercício de modelagem, inicialmente direcionada à RFEPCT, está, metodológica e conceitualmente, devidamente consistente, podendo ser customizado para diferentes Organizações, segundo uma perspectiva proativa e moderna. Além de estar aderentes à teoria evidenciada na tese (ALMEIDA NETO, 2013), busca sistematizar a experiência prática de mais de 30 anos do autor neste ramo profissional. O Modelo dos 8R´s evidencia, assim, relações consequentes e possíveis causalidades entre variáveis interdependentes, presentes nos diferentes contextos organizacionais. A despeito do seu caráter naturalmente reducionista, intenta ampliar o foco e enriquecer a prática da gestão, favorecendo uma visão sistêmica que facilite a implantação de melhorias na ação cotidiana das suas operações e estratégias. É importante considerar que a matéria-prima básica para um gestor é a informação, a informação objetiva, de um lado, e a percepção, a perspectiva cognitiva sob a qual o gestor opera no mundo real, gerando conhecimento sobre ele. Evidentemente é necessário 11 Na Figura 2 está explicitada uma conexão com o MSAG, outro modelo proposto, enquanto sistema para Avaliação da Gestão, segundo Almeida Neto, 2013, p. 433. “escanear a realidade” de forma especial, segundo um faro perceptivo, um impulso intuitivo, que nem todos têm, para perceber o contexto, as mudanças, as alterações e, principalmente, como introduzir melhorias e inovações. Uma organização inspirada na gestão moderna perpassa pela sistematização das atividades de rotina e das estratégicas, além da gestão das diversas funções administrativas, organizacionais. Aliado aos argumentos acima expostos, o contexto de atual degradação ambiental, social e cultural ratifica a oportunidade de evidenciarmos a gestão destas oito dimensões complementares, os “8R’s”, sob uma perspectiva necessariamente sistêmica, holística, com a finalidade de favorecer a criação de produtos e serviços de qualidade e sustentáveis, que garantam a satisfação de necessidades dos seres vivos, a vida no longo prazo, a sobrevivência da espécie humana, dos animais, dos vegetais e dos minerais neste planeta entrópico habitado por toda uma multiplicidade de Vidas, misteriosamente “neguentrópicas”... Referências ALMEIDA NETO, A. C. Modelagens sobre gestão organizacional em uma perspectiva multidisciplinar e sistêmica: proposições para a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica – RFEPCT. Tese (Doutorado Multi-institucional e Multidisciplinar em Difusão do Conhecimento) – Programa de Pós-Graduação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2013. CDD: 620.00113 BAUMAN, Z. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. BERTALANFFY, L. von. Teoria Geral dos Sistemas. Ed. Vozes. 1968. 2ª edição revista, 2006. CAMPOS, V. F. Gerenciamento da Rotina do Dia-a-Dia. 8 ed. Nova Lima: INDG Tecnologia e Serviços LTDA, 2004. 266 p. CAMPOS, V. F. TQC – Controle da Qualidade Total (no estilo japonês). 8 ed. Nova Lima – MG: INDG Tecnologia e Serviços Ltda, 2004. CAMPOS, Vicente Falconi. O Verdadeiro Poder - Práticas de Gestão que Conduzem a Resultados Revolucionários. INDG, 2009. DYE, Thomas R. Models of politcs; some help in thinking about public policy. In: Unserstandig public policy. L.1. ed. 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