Ingestão de gordura e doença cardiovascular O papel da ingestão de gordura no risco cardiovascular é actualmente tema de importante debate e controvérsia. De facto, depois de nos termos apercebido de que havia uma relação entre a ingestão de gordura e a ocorrência da doença cardiovascular, passámos por uma fase de restrição total no consumo de gorduras de forma global, que não produziu os efeitos esperados. Ao mesmo tempo, foram sendo conhecidos aspectos fisiopatológicos importantíssimos, quer quanto ao papel específico dos diferentes lipideos e da sua distribuição relativa na inflamação e na trombose – pontos fulcrais da doença aterosclerótica, bem como na ocorrência de disritmias cardíacas e, eventualmente, da electrogénese do sistema nervoso central. Estes aspectos levam a atitudes novas, que importa conhecer e distinguir entre as aparentemente provadas e as que estão em estudo. Os temas em debate nesta mesa-redonda vão permitir fundamentar melhor as nossas atitudes de intervenção, no dia-a-dia, na prática clínica e na comunidade. O caminho a percorrer é ainda longo, quer quanto ao conhecimento das atitudes correctas a tomar, quer quanto à sua implementação. O espectro clínico da doença vascular aterosclerótica é vasto: o que é verdade para a prevenção da doença cardiovascular, será aplicável à doença cerebrovascular? E à renal, mesentérica, vascular dos membros? A investigação tem sido intensa no que se refere à doença cardiovascular e desponta quanto à cerebrovascular, mas há campos que são completamente desconhecidos. Fátima Ceia Directora do Serviço de Medicina III do Hospital de S. Francisco Xaver, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, Prof.ª Associada com Agregação, Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, Regente de Terapêutica Geral. “São muitos os factores em jogo: não só o tipo de lipideos, mas também o tipo de alimentos em que os consumimos, a sua confecção, a proporção de lipideos/hidratos de carbono/proteínas, o facto de existirem naturalmente nos alimentos e de serem adicionados e o processo de adição.” Revista Factores de Risco, Nº16 JAN-MAR 2010 Pág.54-55 54 Recebido para publicação: Dezembro de 2009 Aceite para publicação: Dezembro de 2009 54-55 Revista Factores de Risco, Nº16 JAN-MAR 2010 Pág.5 São muitos os factores em jogo: não só o tipo de lípideos, mas também o tipo de alimentos em que os consumimos, a sua confecção, a proporção de lipideos/hidratos de carbono/proteínas, o facto de existirem naturalmente nos alimentos e de serem adicionados e o processo de adição. Temos também a considerar os aspectos genéticos e as diferenças relacionadas com o género feminino versus masculino, com a idade e o exercício físico. Nesta mesa-redonda serão apresentados e sujeitos a discussão fundamentos para melhorar os nossos conhecimentos e actuação, nas duas exposições: “Estrutura bioquímica e metabolismo das diferentes gorduras” e “O papel das gorduras saturadas e insaturadas na doença cardiovascular”. Fátima Ceia Referências bibliográficas Van Horn L, McCoin M, Kris-Etherton PM, Burke F, Carson JA, Champagne CM, Karmally W, Sikand G. The evidence for dietary prevention and treatment of cardiovascular disease. J Am Diet Assoc. 2008; 108: 287-331. Lands B. A critique of paradoxes in current advice on dietary lipids. Prog Lipid Res. 2008; 47: 77-106. 55