Metodologia do Ensino de Geografia

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
Relatório de estágio para a disciplina: EDM0421 – Metodologia do
Ensino de Geografia I
Aluno: Bruno Candido dos Santos
NºUSP: 7621430
Licenciatura em Geografia
Disciplina: EDM0421 – Metodologia do Ensino de Geografia I
Docente: Prof. Dr. José Eustáquio de Sene
São Paulo
Junho/2015.
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SUMÁRIO
1. Introdução........................................................................................... 3
1.1 Aspectos gerais do estabelecimento escolar.................................................4
1.2 Caracterização do entorno...............................................................................6
2. Metodologia......................................................................................... 8
3. Objetivos do estágio........................................................................... 9
4. Reflexões...........................................................................................10
5. Plano de regência.............................................................................19
6. Considerações finais........................................................................ 20
7. Referências bibliográficas...............................................................21
Apêndice A............................................................................................22
Apêndice B............................................................................................23
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1. Introdução
Este relatório apresentará algumas observações acerca do estágio realizado
para a disciplina de Metodologia do Ensino de Geografia. No período de
observações pudemos visualizar algumas dinâmicas relativas ao ambiente estudantil
no que tange às aulas, ao cotidiano escolar, entre outras.
Nossa atividade como educador do cursinho fora de extrema valia para que
pudéssemos compreender alguns aspectos e elementos acerca da atividade
docente, além da nossa experiência enquanto elaborador do material didático para o
cursinho.
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1.1 Aspectos gerais do estabelecimento escolar
O estágio fora realizado no cursinho popular Mafalda – unidade Leste SP,
localizado na Rua José Fernandes Torres, nº 12, Tatuapé, São Paulo-SP. Fundado
em 2011, a unidade Leste funciona hoje no campus da Universidade Cidade de São
Paulo (UNICID), mediante uma parceria entre a referida universidade e o cursinho.
O cursinho conta com três unidades localizadas na Região Metropolitana de
São Paulo, sendo duas na capital paulista e uma em Ferraz de Vasconcelos.
A unidade principal (onde estagiamos) conta com quatro cursos: préuniversitário; ENEM 18+ (ou Educação de Jovens e Adultos - EJA); idiomas (Inglês,
francês e espanhol); e um curso de Português Brasileiro para refugiados, iniciado
em 2014.
São mais de 150 educadores distribuídos pelas três unidades, que ministram
as aulas aos sábados. Cada educador tem uma carga horária média de três horas, a
cada quinze dias. Todos são voluntários.
São mais de seiscentos alunos, considerando todos os cursos mencionados
anteriormente. Este número varia constantemente, pois quando há a recontagem de
vagas ao longo do ano, novos processos seletivos são abertos, assim como novos
períodos para inscrições.
As aulas são ministradas aos sábados. São oito aulas diárias, com dois
intervalos a cada duas aulas, além de um horário para almoço após as quatro
primeiras aulas. Há também os plantões, bem como as aulas especiais, que são
ministradas após todas as aulas do dia. Trata-se da “nona aula” do dia.
O cursinho pode utilizar apenas o bloco em que estamos alocados. A
utilização de laboratórios e outros espaços da universidade é feita mediante um
agendamento prévio a ser efetuado pelo educador.
As aulas especiais têm a premissa de serem interdisciplinares, versando
sobre temas debatidos ao decorrer do cotidiano dos alunos e da sociedade. Há
também um projeto de tutoria: os professores são tutores e podem prestar tutoria
aos alunos inscritos. Este projeto visa auxiliar os alunos para além dos conteúdos
dos vestibulares, ou seja, trata-se de um acompanhamento especial para auxiliá-los
em temas como carreiras, escolhas profissionais, universidades em que pretendem
estudar, entre outros.
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No que tange aos recursos materiais, o cursinho conta com seis datashows.
Os educadores instalam seus próprios computadores para a utilização do
equipamento.
Não há a cobrança de mensalidade. Há o pagamento de uma taxa de
matrícula. Os alunos adquirem uma camiseta do cursinho, com a finalidade de
facilitar a identificação destes no acesso à universidade. As apostilas foram escritas
pelos próprios educadores, e são adquiridas pelos alunos à parte.
O projeto político pedagógico (PPP) está em processo de debate. As reuniões
são semanais e ocorrem ao final do expediente do cursinho. São duas
coordenadoras gerais, além da coordenação dos cursos de idiomas e do ENEM 18+.
No que tange ao pré-universitário, cada disciplina conta com dois
coordenadores, que são responsáveis pelo diálogo entre os educadores de cada
área, bem como pela montagem da grade de aulas, da confecção das apostilas e da
definição das “frentes”: são as áreas que cada educador trabalhará conforme a
semana, seja ela “A” ou “B”.
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1.2 Caracterização do entorno
O cursinho está localizado no bairro do Carrão, no distrito homônimo,
pertencente à sub-prefeitura Aricanduva-Formosa-Carrão.
Figuras 1 e 2: retratos do bairro Carrão
Figuras 1 e 2: à esquerda, residências na rua Doutor Miguel Vieira Ferreira. Já na imagem à direita,
estabelecimentos comerciais na rua Antônio de Barros. Elaboração: Bruno Candido. Junho/2015.
Há de se destacar que o bairro do Carrão está ao lado do bairro do Tatuapé,
portanto está próximo a várias infraestruturas públicas como hospitais, delegacias,
escolas, creches, entre outros.
Figuras 3 e 4: Estabelecimentos públicos no bairro do Carrão
Figuras 3 e 4: à esquerda, Centro de Educação Infantil Carrão, pertencente à Prefeitura de São
Paulo. Já na imagem à direita, Agência Tatuapé da Companhia de Tecnologia de Saneamento
Ambiental (CETESB). Elaboração: Bruno Candido. Junho/2015.
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O que se destaca no entorno próximo é a presença do campus da
Universidade Cidade de São Paulo (UNICID), que possui prédios nas ruas Cesário
Galero, José Fernandes Torres, Melo Peixoto e Honório Maia.
Figura 5: Localização do cursinho e de estruturas de transporte no bairro
Carrão
Elaboração: Bruno Candido. Junho/2015.
Como pode ser observado na figura acima, o estabelecimento em que está
alocado o cursinho se localiza a menos de 500 metros da estação Carrão do Metrô.
Trata-se de um bairro eminentemente residencial, embora contenha uma
quantidade razoável de estabelecimentos comerciais como lojas de roupas,
restaurantes, lanchonetes, academias, mercearias, farmácias, entre outros.
A proximidade com as avenidas Radial Leste e Celso Garcia faz com que o
bairro esteja bem localizado considerando a mobilidade urbana. Ou seja, para os
moradores e trabalhadores do bairro, a macroacessibilidade é relativamente boa,
pois as duas avenidas contém diversas linhas de ônibus municipais e
intermunicipais, além da estação Carrão da linha 3-vermelha do Metrô, além de
estar a 1300 metros da estação Tatuapé, que contempla a linha 3-vermelha do
Metrô, assim como as linhas 11-Coral e 12-Safira da Companhia Paulista de Trens
Metropolitanos (CPTM). Mais adiante discutiremos esta localização central do bairro
no contexto da capital paulista.
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2. Metodologia
Para a elaboração deste relatório utilizamos de um levantamento bibliográfico
de artigos e livros que versam sobre a temática abordada. Realizamos entrevistas e
coletamos relatos orais que subsidiarão nossas reflexões para este trabalho, além
da coleta de dados sobre o estabelecimento em que estagiamos.
Acompanhamos os professores que entrevistamos em parte de nossa carga
horária de estágio nas turmas do pré-universitário. Esta “itinerância” fora de extrema
valia para que pudéssemos observar distintas facetas da atividade docente, e a
forma como os educadores lidam com suas respectivas turmas, cada qual
ministrando seus respectivos conteúdos.
Gostaríamos, de antemão, de aqui explicitar nossos sinceros e indubitáveis
agradecimentos à todos os entrevistados. São amigos, colegas, que contribuíram de
forma magistral para a elaboração deste trabalho. A experiência fora de extrema
valia para que pudéssemos refletir acerca da educação nacional no contexto atual,
considerando nossa escala de análise. Gostaríamos também de agradecer à
coordenação do Cursinho Popular Mafalda, por possibilitar a realização de nosso
estágio.
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3. Objetivos do estágio
Este trabalho objetivou compreender a dinâmica do cursinho popular em que
estagiamos, considerando as aulas de Geografia e como os colegas de área
ministram suas aulas. Consideramos em nossas análises a questão da localização
do cursinho, tendo em vista a proximidade com a estação Carrão do Metrô, e as
localidades de onde vêm os alunos.
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4. Reflexões
De onde vêm nossos alunos?
Trazemos para este debate uma pergunta feita em entrevista com o
pesquisador em Educação Bernard Charlot, francês que atualmente é professor na
Universidade Federal de Sergipe (UFS):
"Você foi um dos primeiros autores no campo da educação a chamar a
atenção para a relação que os sujeitos, em particular os estudantes
mais pobres, estabelecem com o saber, com aquilo que é ensinado na
escola. Você acha que esse tema ainda precisa ser mais bem
compreendido? Quais novas perguntas essa temática enseja?
Vou tentar responder da forma mais simples possível. Só aprende quem
estuda, quem tem uma atividade intelectual. Mas só faço um esforço
intelectual se a atividade tem sentido para mim e me traz uma forma de
prazer. Portanto, a questão da atividade, do sentido e do prazer é central. Ir
à escola, estudar (ou recusar-se a estudar), aprender e compreender, seja
na escola seja em outros lugares: qual sentido isso tem para os jovens, em
particular nos meios populares? Em outras palavras: qual a relação dos
alunos com a escola e com o saber?
(...) Por isso, insisto muito sobre a heterogeneidade das formas de
aprender. Há coisas que só se pode aprender na escola e, portanto, não se
deve menosprezar esta instituição. Mas também se aprendem muitas coisas
importantes fora da escola.
(...) Na pesquisa em educação, devemos considerar o aluno como ser
humano indissociavelmente social e singular – e talvez essa seja a
especificidade da disciplina Educação." (REGO, 2010, pp. 151-152)
Charlot atenta para os educandos de áreas mais carentes, que de certo modo
alude ar boa parte do público com o qual lidamos no cursinho em que estagiamos.
São alunos majoritariamente de escolas públicas, especialmente das ETECs
(Escolas Técnicas Estaduais), que são “dotadas” de um imaginário que propagou a
ideia de que são “de melhor qualidade no ensino e maior exigência”.
Os alunos são provenientes de áreas periféricas da Região Metropolitana de
São Paulo, e, considerando a unidade que analisamos, são oriundos de bairros
paulistanos periféricos como Itaquera, Guaianases, São Mateus, Cidade Tiradentes,
Itaim Paulista, São Miguel, entre outros.
Em um excerto preciso, GUSDORF atenta para o estágio em que os
adolescentes se encontram, e a relação de seus anseios e virtudes com o ambiente
escolar:
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“Pouco a pouco, o espírito crítico se insinua e o adolescente ganha uma certa
distância. Exerce a autonomia de seu julgamento. Daí para frente, essa
personalidade em formação compara-se com a personalidade do professor.
No ensino secundário dá-se a primeira tomada de consciência da cultura. O
aluno não se detém mais apenas nos automatismos da atenção e da
memória. Esforça-se para despertar a inteligência e apurar a sensibilidade. O
que agora está em questão não é somente a matéria dos programas. O
interesse leva-o mais adiante, pois já se esboça a curiosidade, a busca
inquieta de si mesmo e da humanidade. O professor, por poucos sinais de
vida que dê diante da classe, é testemunha desse processo, participa nesse
debate. Muito lhe é pedido e, sem dúvida, mais do que pode dar, mas ele não
pode recusar a cumplicidade de um diálogo particular, com insinuações, com
palavras encobertas com esse ou aquele aluno. Não pode, se for consciente
de sua responsabilidade, se furtar a certas interrogações ou provocações que
são, ao mesmo tempo, pedidos de ajuda. Um ensino universal, transmitido
com imparcialidade, não é mais suficiente. Guardando suas distâncias, o
professor deve estar atento, pois sua tarefa será, freqüentemente, frente a
inquietações e tormentos que muitas vezes pode ter suscitado sem o saber,
a de justificar a existência humana.” (GUSDORF, 1987, p. 36. Grifos nossos.)
Lidamos com esta faixa etária no pré-universitário. São jovens na faixa etária
de 17 a 19 anos, em média, que se deparam neste momento de suas vidas com
dilemas como carreira, profissão, formação universitária, e lidam com debates que
os vestibulares de forma geral exige, como temas atinentes à política nacional e
internacional, sociedade, cultura, entre outros.
As demandas por parte deles são diversas e notamos que eles estão na
busca incessante pela compreensão de si mesmos em relação com o local em que
vivem. Possuem anseios, vontades, sonhos, virtudes, se deparam com dificuldades,
não hesitam em nos relatá-las, ainda que tenham, em diversos casos, como
pudemos verificar em aulas que acompanhamos e ministramos desde 2013, certo
receio em suscitar questionamentos e tirar dúvidas a respeito dos conteúdos
transmitidos. E em algumas situações os alunos demonstram certo “estranhamento”
quando são chamados a interagir durante as aulas. Devemos destacar, entretanto,
que quando participam, demonstram interesse por certo conjunto de ideias e
reflexões, e protagonizam o processo de aprendizagem de forma construtiva.
Refletimos, aqui, sobre o papel da escola no contexto da sociedade em que
esta se encontra inserida. A escola não pode estar em uma redoma que a isole do
restante do mundo, pois, retomando o que já dissemos neste trabalho, o ambiente
escolar pode auxiliar na formação da cidadania do aluno, indo para além da
transmissão expressa do conteúdo escolar. É o que PENIN (2014, p. 41) coloca da
seguinte forma:
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“Na busca de uma sociedade mais solidária, a escola tem um importante
papel cultural a cumprir, tanto no espaço local, sanando ou evitando
problemas pontuais, quanto no sentido educativo, de formação dos alunos,
proporcionando vivências desejáveis de serem desenvolvidas na vida
urbana.” (PENIN 2014, p. 41)
Entendemos que a escola deva ser, na medida do possível, um espaço de
reflexão e de construção de ideias e perspectivas, de modo que alunos, professores,
familiares, entre outros, possam participar ativamente deste processo, que está em
constante transformação.
As aulas de Geografia
No cursinho temos vinte e oito sábados para as aulas regulares, além de
outros finais de semana para atividades extracurriculares. Cada aula contém
cinquenta minutos de duração.
Cada educador é responsável por ministrar aulas em duas turmas. São duas
aulas a cada duas semanas – semanas “A” e “B”. As aulas são intercaladas, ou seja,
o educador não dá duas aulas sequencialmente. Essas semanas são chamadas de
“frentes”.
No tocante à Geografia, as duas frentes representam os conteúdos de
Geografia Geral (semana “A”) e Geografia do Brasil (semana “B”). As quatorze aulas
de cada frente buscam dialogar entre si, de modo que grande parte do curso contém
as aulas compassadas entre si. Por exemplo:
Quadro 1 – distribuição dos conteúdos das quatro primeiras aulas de
Geografia no cursinho popular mafalda
Aula
Geografia Geral
Geografia do Brasil
1
Introdução e Cartografia
Introdução e Regiões do Brasil
2
Geomorfologia
Geomorfologia do Brasil
3
Climatobotânica I
Climatobotânica do Brasil I
4
Climatobotânica II
Climatobotânica do Brasil II
Elaboração própria.
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Em um determinado momento do curso optamos por enfatizar determinadas
temáticas em uma certa frente. Por exemplo, os temas atinentes à Geografia Agrária
são contemplados em uma aula em Geografia Geral, ao passo que em Geografia do
Brasil há duas aulas para o tema.
Os alunos têm uma aula de Geografia por semana. E esta é uma grande
problemática, já que os conteúdos de Geografia do Brasil, por exemplo, são
abordados a cada duas semanas. E, quando há algum feriado, o intervalo entre as
aulas pode aumentar para três semanas, o que em muitos casos faz com que os
educandos tenham o conteúdo adquirido “perdido”, o que pode prejudicar a
construção de um debate contínuo.
Devemos destacar, contudo, que os educadores buscam elaborar esta
conexão entre as frentes e os temas, retomando ao longo das curtas aulas algumas
ideias de aulas interiores. Há no meio do ano, após as sete primeiras aulas de cada
frente, uma aula de revisão por frente, com o intuito de preparar os alunos para o
simulado.
Observamos e conversamos com dois educadores de Geografia do cursinho,
cada um de uma frente. Perguntada sobre quais as perspectivas e possibilidades
dos educadores para a aprendizagem dos alunos mediante a formação social de
cada um destes, a educadora G. (frente “A”) traz as seguintes ideias:
“Devido à Geografia estudar as relações homem-espaço-natureza, o
conteúdo didático ensinado nesta disciplina está presente em todos os
lugares, o que facilita usar questões cotidianas e experiências sociais e
culturais como exemplos em aula. Isso possibilita que o conteúdo ensinado
possa ir além do aprender para realizar as provas dos processos seletivos,
mas que, aliado a esse objetivo principal, também possa servir como
instrumento para que os alunos compreendam melhor o espaço político e
socioeconômico em que estão inseridos.” (Educadora G., Geografia)
A educadora traz a ideia de que o conteúdo geográfico dialoga com o
cotidiano dos alunos, o que possibilita a expansão e a realização de debates sobre
os temas de algumas aulas.
Já o educador P. (frente “B”), faz alusão à importância central que a formação
social dos alunos tem para a construção das ideias e o debate destas:
“A formação social dos alunos é essencial para a realização dos princípios
implicados na educação como um todo. Sem (compreender a) formação
social dos alunos o processo de aprendizagem não adquire completude,
visto que inviabiliza a manifestação de toda a potencialidade decorrente do
aprendizado formal.” (Educador P., Geografia, edições nossas.)
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Portanto, entendemos que, tanto nas aulas dos colegas quanto em nossas
aulas, a participação dos alunos é de extrema valia para a construção dos debates,
e, a formação social destes, ou seja, toda a vivência e o conhecimento que estes
contém e compartilham, faz com que os temas dialoguem, na medida do possível,
entre si e com as ideias dos alunos.
A produção do material didático – as apostilas de Geografia
As apostilas de Geografia contém um capítulo para cada aula. Ao final de
cada capítulo há uma coletânea de dez exercícios de vestibulares, sendo um deles
dissertativo. Os alunos em sua maioria objetivam realizar a prova do Exame
Nacional do Ensino Médio (ENEM), que contém perguntas de múltipla escolha.
Portanto eles demandam que os educadores resolvam os exercícios esmiuçando os
conteúdos presentes em cada um, assim como mostrar algumas técnicas de
resolução.
Por limitações técnicas, as apostilas podem conter até dez páginas por
capítulo. Os alunos adquirem duas ao longo do ano, sendo que a primeira contém as
oito primeiras aulas de cada disciplina e de cada frente, e a segunda contém o
restante dos capítulos.
Os educadores não tem necessariamente uma “obrigação” em cumprir com o
conteúdo programático das apostilas. Há a liberdade para trazer conteúdos para
além das páginas, ou seja, elaborar aulas com outros recursos, como vídeos,
áudios, entre outros.
As apostilas foram elaboradas pelos próprios educadores. A ideia, durante o
processo de elaboração, fora a de efetuar o diálogo entre as duas frentes, de modo
que não ocorresse a repetição de conteúdos e conceitos. Buscamos elaborar
capítulos que trouxessem o conteúdo geográfico escolar em consonância com o que
é cobrado pelos vestibulares.
Portanto, apesar das inúmeras tentativas de romper com uma perspectiva
conteudista, as apostilas de Geografia ainda contém uma grande quantidade de
conteúdos, ainda que em um número reduzido de páginas, o que é uma herança dos
primórdios da Geografia escolar, conforme ilustra CAPEL (1974, p. 91) a seguir:
“(...) La enseñanza se referia a ‘la figura de laTierra y sus movimientos, lós
principios elementares de la geografia, los puntos cardinales, los sistemas
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de montañas, el curso de los ríos, etc., así como los ramos de la industria
de cada país y el mecanismo de su administración. Las nociones referentes
a la constitución de la Tierra, meteorologia o distribución de lãs plantas se
estudiaban en los cursos de ciências naturales o física.” CAPEL (1974, p.
91)
Notamos que, em grande medida, data da segunda metade do século XIX o
paradigma da Geografia descritiva, e isso se reflete até hoje nos livros didáticos. Por
exemplo, a apostila que produzimos contém três capítulos que abarcam o que
chamamos de “Regionalização do espaço mundial”: são contemplados aspectos
físicos, humanos e políticos, com um viés eminentemente descritivo, sobre porções
do território mundial (África, Américas Central e do Norte, Ásia, Europa, “Oriente
Médio” e Oceania).
Metrô Carrão: uma localização central para a zona Leste de São Paulo
A estação Carrão da linha 3-vermelha do Metrô está localizada no bairro
homônimo. Contém dois terminais anexos (lado Norte e lado Sul), que contém
somados quatro plataformas que agrupam cerca de 30 linhas municipais e
intermunicipais (ver apêndice A).
Figura 6: Terminal urbano do Metrô Carrão – lado Norte
Elaboração: Bruno Candido. Junho/2015
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Há duas saídas da estação: uma voltada para a rua Melo Freire (Radial
Leste) e outra para a rua Melo Peixoto.
Figura 7: Terminal urbano do Metrô Carrão – lado Sul
Elaboração: Bruno Candido. Junho/2015
O terminal do lado norte comporta as linhas metropolitanas geridas pela
EMTU, que contém a avenida Celso Garcia em seus percursos. Já o terminal do
lado sul contém as linhas com destino a alguns bairros da zona leste como
Sapopemba, São Mateus, Itaquera e Cidade Tiradentes.
Em nossas observações pudemos notar que as linhas de ônibus possuem
uma demanda diária expressiva, especialmente as municipais. Nos horários de pico
há a formação de filas em várias plataformas, e a movimentação aos finais de
semana também é intensa.
As linhas troncais, ou seja, aquelas que transportam os passageiros para os
terminais centrais da capital (Terminal Bandeira, Terminal Parque Dom Pedro II,
Terminal Princesa Isabel), contém pontos de parada tanto na avenida Celso Garcia
quanto na Radial Leste, e são os responsáveis pelo transporte de alta demanda,
considerando o modal sobre pneus.
Grande parte das linhas municipais oriundas da zona leste que se destinam
ao centro de São Paulo contém como ponto final o terminal Parque Dom Pedro II.
São mais de 55 linhas, sendo que a maioria delas se destinam para bairros nos
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distritos de Cidade Tiradentes, Itaquera, Penha, Sapopemba, São Mateus e São
Miguel. Destacaremos duas linhas troncais nesta análise.
A linha 4310-10 - Terminal Parque Dom Pedro II – Estação de Transferência
Itaquera é operada apenas por ônibus superarticulados.
Figura 8: Veículo superarticulado operando na linha 4310-10
Disponível em: <http://cdn.onibusbrasil.com/i/2013/11/20/p/5ebe0a1e19c9bbe171a2370
720a0af0d.jpg>. Acesso em: 26/06/2015.
Esta linha funciona como alternativa ao trecho leste da linha 3-vermelha, que
é atualmente caracterizada por problemas operacionais de superlotação e falhas nas
composições e vias férreas. Estes ônibus transportam grandes quantidades de
passageiros, e em algumas situações realiza o mesmo percurso do metrô com maior
rapidez.
A 4310-10 liga o centro da cidade a uma centralidade na zona leste - Itaquera
- que contém cerca de trinta linhas operadas pelas empresas que realizam o serviço
entre os bairros – são as antigas cooperativas, que substituíram as peruas a partir
de 2004 e são responsáveis pela capilaridade do transporte coletivo na periferia da
capital.
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A linha 4313-10 – Terminal Parque Dom Pedro II – Terminal Cidade
Tiradentes efetua uma ligação entre o centro da cidade e o distrito de Cidade
Tiradentes, na periferia da zona leste. Tanto a 4310-10 quanto a 4313-10 utilizam a
Radial Leste em seus percursos.
Esta linha contém uma alternativa que é a 4210-10 – Terminal Parque Dom
Pedro II – Terminal Cidade Tiradentes, que faz o percurso pela avenida Celso
Garcia, com maior quantidade de paradas.
Em outras observações da cidade, notamos que grande parte das estações
da linha 3-vermelha contém terminais de ônibus anexos a estas. Isso demonstra a
importância do eixo ferroviário na ligação entre a zona leste e o centro. São
terminais de várias dimensões e com quantidades distintas de linhas.
Pudemos notar, entretanto, que os terminais localizados ao norte da ferrovia
contém maior quantidade de linhas em comparação aos terminais ao sul, o que
indica a importância deste sistema de transporte que atende aos bairros para as
regiões da Penha e São Miguel, por exemplo.
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5. Plano de regência
Ministramos uma aula nas duas turmas no dia 29 de maio de 2015. O tema
central, conforme o programa da disciplina e da frente de Geografia do Brasil
debateu os “recursos energéticos” no território brasileiro.
A apostila traz um enfoque essencialmente empírico, com mapas que ilustram
em quais porções do território nacional podem ser encontrados recursos minerais
como ferro, manganês, petróleo, entre outros. É debatida a questão da produção e
do refino de petróleo, alertando para a questão do pré-sal, ainda que de forma
tangenciada.
Os textos também buscam contemplar alguns detalhes acerca de locais no
país em que um ou vários processos extrativos se destacam, como o Quadrilátero
Ferrífero em Minas Gerais; a Serra dos Carajás no Pará; o Maciço do Urucum no
Mato Grosso do Sul, entre outros.
Entretanto, optamos por trazer um debate mais amplo e contemporâneo.
Formamos uma “roda de conversa” e discutimos um roteiro de hipóteses (ver
apêndice B), que continha afirmações que poderiam ser reafirmadas, contestadas ou
relativizadas.
Utilizamos alguns mapas oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) que versavam sobre temas como logística e distribuição de
recursos energéticos e minerais; integração do sistema elétrico; usinas geradoras de
energia elétrica, entre outros atinentes à temática abordada.
Reproduzimos um trecho do documentário “A Batalha de Belo Monte”,
produzido pelo jornal paulista Folha de São Paulo 1, que traz alguns aspectos acerca
da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, em Altamira (PA),
como o canteiro de obras, o cotidiano no município de Altamira, bem como a
remoção dos agrupamentos indígenas e ribeirinhos residentes às margens do Xingu.
A aula fora bastante produtiva, ainda que com apenas cinquenta minutos de
duração. Os alunos participaram das discussões atentando para questões
demográficas, urbanas, cotidianas, sociais, econômicas e ambientais, que
contribuíram para enriquecer o debate e o aprendizado. Ao “fugir” do “molde
clássico” de aulas, os educandos atentaram para o fato de a aula ser mais produtiva
e o aprendizado mais interativo.
1
Este documentário está disponibilizado na íntegra de forma gratuita na web. Sobre isso, ver:
<http://www.youtube.com/watch?v=CUqGWNYzSIQ>. Acesso em: 26/06/2015.
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6. Considerações finais
Dar aula de Geografia é uma missão considerável. Contemplar uma boa
quantidade de conteúdos com qualidade nas abordagens e explanações é um
desafio, que cada tema traz com suas respectivas peculiaridades.
Pudemos observar que os professores se dedicam desde a composição das
apostilas até a montagem das aulas. Lecionamos duas aulas em conjunto, o que fez
com que os educadores retomassem conteúdos das duas frentes. Fora uma
experiência enriquecedora sobretudo para os educadores, que puderam elencar
variadas ideias em conjunto, o que proporcionou diversos debates com as turmas.
O conteúdo escolar de Geografia, especialmente no cursinho, pouco diverge
da lógica descritiva e expositiva. Em inúmeros momentos das aulas, seja nos temas
concernentes à Geografia Física, seja nos temas atrelados à Humana, a descrição e
exposição conceitual é exaustiva, e, considerando o nosso alunado, muitos
infelizmente não têm “disposição” para acompanhar as aulas.
É importante ressaltar que todos os educandos, independentemente das
preferências pelas disciplinas, são atenciosos com os educadores e buscam ser
atentos ao máximo às explanações.
Portanto,
lidamos
com
diversas
situações
que
enriquecem
nossas
experiências ao lecionar, e que nos fazem pensar em metodologias do ensino de
Geografia, numa perspectiva mais ampla que vai para além do ensinar e do
aprender, ou seja, vai ao âmbito do pensar.
21
7. Referências bibliográficas
CAPEL, H. La institucionalización universitaria de la Geografia alemana: um
modelo para Europa. In: Filosofía y ciencia en la Geografía contemporánea.
Barcelona: Barcanova, 1974, pp. 83-107.
GUSDORF, G. A função docente. In: Professor para quê? Para uma pedagogia da
pedagogia. São Paulo: Martins Fontes, 1987, pp. 27-57.
PENIN, S. T. de S. Didática e cultura: o ensino comprometido com o social e a
comtemporaneidade. In: Ensinar a ensinar: didática para a escola fundamental e
média. Amelia Domingues de Castro e Anna Maria Pessoa de Carvalho (orgs.). São
Paulo: Cengage Learning, 2014, p. 33 – 51.
REGO, T. C. Desafios da educação na contemporaneidade: reflexões de um
pesquisador - Entrevista com Bernard Charlot. Entrevista concedida a Teresa
Cristina Rego e Lucia Emilia Nuevo Barreto Bruno. In: Educação e Pesquisa, São
Paulo, v. 36, n. especial, p. 147-161, 2010.
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Apêndice A
Quadro 1: relação de linhas municipais com origem nos terminais da estação
Carrão da linha 3-vermelha do Metrô
Linha
Destino
2501-10
Ermelino Matarazzo
3729-10
Shopping Aricanduva
3761-10
Terceira Divisão
3773-10
Residencial Santa Bárbara
3778-10
Jardim Santa Terezinha
407E-10
Jardim Santo André
407G-10
Jardim Nova Vitória
407K-10
Terminal São Mateus
407W-10
Jardim Quarto Centenário
4735-10
Jardim Vera Cruz
507T-10
Terminal Sapopemba
573T-10
Terminal Sapopemba / Teotônio Vilela
573T-31
Terminal Sapopemba / Teotônio Vilela
Fonte dos dados: São Paulo Transporte (SPTrans). Elaboração própria.
Quadro 2: relação de linhas intermunicipais com origem nos terminais da
estação Carrão da linha 3-vermelha do Metrô
Linha
Destino
093
Guarulhos – Praça Santos Dumont
242
Itaquaquecetuba – Jardim Pinheirinho
242BI1
Itaquaquecetuba – Pequeno Coração
252
Guarulhos – Jardim Cumbica
573
Guarulhos – Parque Continental
574
Guarulhos – Jardim Cumbica
584
Guarulhos – Parque Primavera
Fonte dos dados: Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU). Elaboração própria.
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Apêndice B
Roteiro de Hipóteses utilizado em uma de nossas aulas
Este roteiro conterá algumas hipóteses e dúvidas a respeito do que trataremos nesta
aula. Embora saibamos que este não contemplará todos os questionamentos, é
importante ressaltar seu papel enquanto fio condutor de nosso debate. Bons
estudos!
1. Os
recursos
minerais
têm
relação
com
aspectos
geológicos
e
geomorfológicos do planeta Terra.
2. A localização de um recurso mineral condiciona a instalação de uma infraestrutura de distribuição.
3. O Brasil é um país com grandes reservas de recursos minerais.
4. O petróleo no Brasil só é encontrado em alto mar pois as áreas de
sedimentação são relativamente jovens.
5. A hidrografia brasileira explica o grande uso da hidroeletricidade no país.
6. A matriz energética brasileira carece de maior diversificação.
7. O Brasil não agrega valor ao petróleo extraído em alto mar.
8. O Brasil não agrega valor ao minério de ferro extraído especialmente em
Carajás (PA).
9. O carvão mineral brasileiro é de baixo poder calorífico (baixa combustão).
10. A usina de Belo Monte, no rio Xingu, é responsável pelo desenvolvimento
econômico da região (neste caso, Altamira, município paraense).
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