Benedita M. Santos, Antonio Gómez-Ortiz, Ferran Salvador

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VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física
II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física
Universidade de Coimbra, Maio de 2010
Comportamento nival na Serra Nevada através de imagens Landsat 7
(período 2007 - 08).
Benedita MILHEIRO SANTOS, Antonio GÓMEZ-ORTIZ,
Ferran SALVADOR-FRANCH, Montserrat SALVÀ-CATARINEU
Servei de Gestió i Evolució del Paisatge, Univesitat de Barcelona
Contacto: [email protected]
Introdução e Objectivos
Durante a Pequena Idade do Gelo o Corral da Veleta situado acima dos 3100m na
Serra Nevada, albergou um foco glaciar que subsistiu até à primeira metade do século
XX. Deste, só existem restos de um corpo gelado em profundidade em processo de
degradação e totalmente enterrado sob sedimentos provenientes das paredes do
Corral (Gómez Ortiz et al., 1999 y Gómez Ortiz, 2004).
Em estudos anteriores comprovou-se que as massas geladas do Corral da Veleta,
revelam dinamismo. Este encontra-se subordinado a factores como a inclinação do
substrato sobre o qual assentam as massas geladas e a radiação que penetra no solo,
estando esta por sua vez, dependente da cobertura nival existente no momento
(Sanjosé et al, 2007). A dinâmica
dados obtidos em campo, sobretudo a nível térmico. Recentemente este seguimento
tem vindo a ser abordado a partir da análise de imagens Landsat 7, tanto a nível
térmico como nivológico.
No presente trabalho mostram-se os resultados preliminares de um ano de estudo
desde o verão de 2007 até ao verão de 2008, para o qual foram aplicadas um conjunto
de técnicas associadas à Detecção Remota e aos Sistemas de Informação Geográfica
(SIG). São analisadas 14 imagens para o correspondente período. A estas imagens
foram aplicadas diferentes metodologias. Às bandas 2, 3, 4 e 5 foram aplicados índices
de neve para estimar a superfície de neve, e para a banda 6 (térmica) foram aplicados
algoritmos para o cálculo da temperatura de superfície (LST – Land Surface
Temperature), tanto da neve como do solo.
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Tema 2 - Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física:
aplicações emergentes
Fig. 1 - Vista do Corral del Veleta desde o Albergue Universitário. (Agosto 2008)
Área de Estudo
A Serra Nevada situa-se no Sudeste da Península Ibérica a 370 N e 30 W. Alberga
algumas das altitudes mais elevadas da península: Mulhacén: 3.482 m, Picacho del
Veleta: 3.398 m, Alcazaba: 3.366 m, Picón de Jeres: 3.094 m, Cerro del Caballo: 3.013
m e Cerro de Trevélez: 2.878 m (Fig. 2). A área acima dos 2.000 m que aloja as
principais formas de relevo glaciares herdadas da LIA estima-se em 561 Km2.
Geologicamente a serra é composta por dois tipos principais de rochas: rochas
carbonatadas na base (calcários e dolomitas de Alpujárride) e rochas metamórficas nas
áreas cimeiras (micaxistos, xistos do Nevado-Filábride).
A geomorfologia glaciar e periglaciar que compõe a Serra Nevada é a manifestação
mais importante da presença da neve e do gelo na serra durante o Quaternário,
sobretudo nas partes mais cimeiras. O seu relevo é marcado por formas imponentes
como circos glaciares, vales em forma de U, cristas rochosas, diferentes tipos de
moreias, em concreto a partir dos 2.500 m o relevo torna-se vigoroso e semelhante à
morfologia alpina.
Climaticamente, a serra apresenta um clima de alta montanha mediterrânea árida.
Dados a 2.510 m revelam uma temperatura média anual de - 4.40 C e precipitação
anual - 775.7 mm.
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Fig. 2 – Altitudes máximas da Serra Nevada e situação geográfica das massas geladas no
interior do Corral da Veleta Fonte: Modelo Digital do Terreno, resolução espacial: 5 m. Junta
de Andaluzia
Metodologia
A) Cobertura Nival:
1. Cálculo do NDSI (Normalized-Difference Snow Index):
(Tm2 – Tm5) / (Tm2 + Tm5)
Reclassificação de áreas com
reflectancias superiores a .04
2. Cálculo do coeficiente R35: (Tm3 / Tm5)
(Rott, 1994)
Reclassificação de áreas com
reflectancias superiores a 1.3
3. Cálculo do coeficiente R45: (Tm4 / Tm5)
(Hall et al, 1987)
Reclassificação de áreas com
reflectancias superiores a 3
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Tema 2 - Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física:
aplicações emergentes
Fig. 3 e 4 – Sobreposição das áreas de neve obtidas a partir do cálculo do NDSI, R35 e R45.
A figura 3 e 4 mostram os limites das áreas de neve obtidas após a aplicação dos
dois coeficientes (R35 e R45) e do índice (NDSI). Em ambas figuras é usada como base
de análise uma imagem em cores reais que resultou da composição entre as bandas 1,
8 e 3 do satélite Landsat 7. Esta imagem é referente ao dia 5 de Maio de 2008, tem 15
metros de resolução espacial e permite confrontar os 3 métodos usados no cálculo da
área de neve com a realidade, e assim apurar o método mais adequado.
Na figura 3 é feita uma comparação entre os 3 resultados, podendo-se verificar que
o R35 é o coeficiente que mais se afasta da realidade, pois a área de neve resultante
inclui numerosos pixéis que não se encontram cobertos de neve. Como consequência
este coeficiente foi posto de parte, tendo-se prosseguido a análise com recurso ao
NDSI e ao R45.
Na figura 4 é feita uma pequena aproximação à área central da figura 3, para
melhor visualização e comparação dos limites definidos pelo NDSI e do R45. Neste caso
verifica-se que os limites são mais coincidentes entre si, apresentando, no entanto,
algum distanciamento em determinadas áreas. Evidência desse distanciamento é
indicada pelos círculos vermelhos, onde se pode observar que certas áreas que o R45
exclui, são incluídas pelo NDSI. Através da imagem compósita podemos confirmar que
estas áreas contém restos de neve embora a sua espessura seja já bastante reduzida
nesta altura ano, fazendo com que os valores de reflectancia sejam baixos e deste
modo não são abrangidos pelo umbral do R45. Porém estes pixéis são absorvidos pelos
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limites do NDSI, tendo sido este o método que se considerou mais adequado para
análise da cobertura nival na Serra Nevada.
Resultados da aplicação do NDSI
Das 14 imagens Landsat 71 seleccionadas para o período de estudo, quatro
apresentavam nebulosidade, sobretudo na parte mais oriental da serra. No entanto,
foi possível obter para estes dias uma cobertura nival parcial. No quadro síntese que se
apresenta na figura 5, podemos analisar a evolução da cobertura nival na Serra Nevada
ao longo do período 2007-08, calculada a partir do índice NDSI.
Como era de esperar, os meses de Inverno são os que apresentam o manto nival
mais extenso. No entanto, podemos observar que a presença da neve nem sempre é
constante ao longo do ano, principalmente nos meses do Outono e Primavera,
correspondendo respectivamente, ao momento das primeiras caídas de neve e
posteriormente à fusão da mesma. Um episódio deste tipo ocorreu no final de
Outubro onde se pode verificar a existência de um manto de neve bastante extenso
(cerca de 228 km2 acima dos 2000 m de altitude), mas cuja duração foi relativamente
curta, tendo fundido quase na sua totalidade durante as duas semanas subsequentes.
No mapa correspondente ao mês de Novembro, pode-se observar que somente os
cumes acima dos 3000 m de altitude conservam restos das primeiras neves reduzidas a
uma área de cerca de 14 km2.
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Lista de referência das 14 imagens Landsat 7 usadas: 19.08.2007 - LE72000342007231EDC00;
06.10.2007 - LE72000342007279ASN00; 22.10.2007 - LE72000342007295ASN00; 07.11.2007 LE72000342007311ASN00; 26.01.2008 - LE72000342008026ASN00; 27.02.2008 LE72000342008058ASN00; 30.03.2008 - LE72000342008090ASN00; 01.05.2008 LE72000342008122ASN00; 17.05.2008 - LE72000342008138ASN00; 02.06.2008 LE72000342008154ASN00; 18.06.2008 - LE72000342008170ASN00; 04.07.2008 LE72000342008186ASN00; 05.08.2008 - LE72000342008218ASN00; 21.08.2008 LE72000342008234ASN00.
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Tema 2 - Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física:
aplicações emergentes
Fig. 5 – Quadro síntese da evolução da cobertura nival na Serra Nevada durante o período
2007-08.
Dado não haver disponibilidade de uma imagem para o mês de Dezembro, não se
tem a certeza do momento da primeira neve que permaneceu no solo de forma
constante até ao começo da fusão primaveril. Deste modo só temos constância da
permanência da mesma a partir de Janeiro. Fevereiro foi o mês que registou a máxima
superfície ocupada pelo manto nival (229 km2). Tendo começado a fundir a partir de
Março até meados de Junho, altura em a neve já só se encontrava acima dos 3000 m.
Desta data até Agosto só foi possível encontrar resquícios de neve alojados em
determinados recantos da serra virados a norte, protegidos da radiação solar, como se
pode se ver nas figuras 6 e 7.
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Fig. 6 – Área de neve calculada a partir do NDSI para os dias 4 Julho e 5 Agosto de 2008.
Fig. 7 - Interior do Corral da Veleta em Agosto de 2008. Fonte: Gómez Ortiz
B) Temperaturas de Superfície (LST):
1. Conversão dos Digital Numbers em radiâncias:
(Lλ = (( LMax - LMin) / (QCALMax -QCALMin)) . (QCAL - QCALMin) + LMin
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Tema 2 - Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física:
aplicações emergentes
2. Cálculo das temperaturas de brilho:
Ts = K2 / (ln (K1 / Lλ +1))
3. Cálculo das temperaturas de superfície (LST) segundo o algoritmo monocanal de
Qin, Karnieli e Berliner (citado em Jimenez-Muñoz, 2005):
Ts = 1/C6 (a6 (1 - C6 - D6) + (b6 (1 - C6 - D6) + C6 + D6) T6 - D6* Ta)
A segunda parte deste trabalho consiste no cálculo das temperaturas de superfície
da área de estudo. Para esse efeito foram aplicados diferentes algoritmos às 14
imagens de satélite.
Neste momento é importante mencionar o efeito atenuador que a atmosfera
exerce sobre a radiação que chega aos sensores térmicos transportados pelo satélite.
De todos os elementos químicos que compõem a atmosfera, o vapor de água, que
frequentemente designamos por humidade do ar, é o elemento que mais influencia o
sinal térmico procedente da superfície terrestre. O vapor de água tende a absorver
parte deste sinal, o que significa que os valores registados pelos sensores são
inferiores ao que realmente se deveriam verificar. Por este motivo foi aplicado um
último algoritmo de modo a poder corrigir este efeito.
Inicialmente foram convertidos os Digital Numbers (Fig. 8) em radiâncias através do
algoritmo que se apresenta no ponto número 1. Este algoritmo bem como a definição
dos respectivos parâmetros que o compõem está disponível no handbook da Landsat 7
(citado na bibliografia).
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Fig. 8 – Digital Numbers da banda 6 para o dia 01.05.2008
Em segundo lugar foram calculadas as temperaturas de brilho ou como
habitualmente são designadas temperaturas de superfície (sem correcção
atmosférica). É usado o algoritmo exposto no ponto número 2, que também se
encontra disponível na mesma publicação electrónica da Landsat 7. Neste caso os
resultados obtidos encontram-se influenciados pelo efeito atenuador da atmosfera.
Efeito esse, é corrigido através do algoritmo descrito no ponto número 3, tendo
sido aplicado às temperaturas de brilho calculadas previamente o algoritmo
monocanal de Qin, Karnieli y Berliner, cujos parâmetros necessários à sua aplicação
são citados em Jiménez-Muñoz (2005). Este algoritmo tem em conta a emissividade
das superfícies terrestres bem como a transmissividade atmosférica, permitindo deste
modo remover / reduzir os efeitos atmosféricos na região do térmico.
A aplicação dos algoritmos aqui apresentados permitiu ter conhecimento das LST do
solo durante o período de verão mas também do manto nival durante os meses de
Inverno (Fig. 9).
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Tema 2 - Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física:
aplicações emergentes
Fig. 9 - Temperaturas de superfície (corrigidas atmosfericamente) para o dia 01.05.2008
Resultados dos cálculos das temperaturas de superfície
Após aplicação dos algoritmos descritos anteriormente, foram obtidos 14 mapas
com as temperaturas de superfície (LST) para toda a Serra Nevada, correspondentes a
cada um dos dias estudados para o período 2007-08. A cada imagem de satélite, foi
sobreposta alguma informação vectorial de carácter temático como, rios e lagos,
curvas de nível e pontos cotados, que funcionam como referências geográficas para
melhor localizar a área de estudo.
Dado que o principal interesse é conhecer o modo como as temperaturas
superficiais influenciam o comportamento das massas geladas existentes no Corral da
Veleta, foi realizada uma aproximação à área de estudo, em concreto ao Corral da
Veleta.
A titulo de exemplo, foram seleccionados os 2 dias mais representativos do ano, o
dia 27 de Fevereiro de 2008 por ser o dia que representa as LST mais frias, e o dia 21
Agosto de 2008 por incluir as LST mais elevadas durante o período de estudo (Fig. 10).
As temperaturas de superfície encontradas através da banda térmica do Landsat 7
foram comparadas com temperaturas do interior do solo a 5 cm de profundidade.
Estas últimas temperaturas são obtidas em campo através de sondeios térmicos tipo
UTL-1 inseridos no interior do solo. Dito sondeio térmico encontra-se a 3150 m no seio
do Corral da Veleta, sob uma camada de sedimentos que cobre as massas geladas
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subjacentes. Deste modo, foi feito um cálculo médio das LST para os 4 pixéis (1.4 ha)
envolventes a este sondeio térmico, e posteriormente ambas foram comparadas. Com
dita comparação não se pretende a validação das LST, somente se procura analisar os
ritmos e tendências de ambas temperaturas referentes a distintos ambientes (ver
discussão dos resultados).
Fig. 10 - Temperaturas de superfície para o Corral da Veleta para os dias 27.2.2008 e
21.08.2008
O 27 de Fevereiro de 2008 foi o dia que apresentou as LST mais baixas para os dias
estudados. A média das temperaturas para os 4 pixéis envolventes ao sondeio térmico
(sinalizados com um quadrado vermelho) foi de -6.50 C, tendo alguns destes pixéis
alcançado os -8.90 C.
Na imagem de Fevereiro pode-se observar que a vertente do corral virada a NW, é a
que exibe os valores mais baixos de temperatura. Dado a sua orientação e o
posicionamento das paredes quase verticais do corral situadas a sul, esta área
encontra-se abrigada da radiação solar directa durante grande parte do dia.
O dia com as LST mais quentes coincide com o 21 de Agosto 2008, que para os
mesmos pixéis, apresenta uma temperatura media de 300 C. No entanto, as superfícies
orientadas a Sul podem chegar a alcançar temperaturas superficiais superiores a 40 0 C.
Do mesmo modo que no caso anterior, a vertente virada a NW pela a sua situação
de abrigo, é a que apresenta as temperaturas mais baixas. Este efeito de abrigo
proporciona às massas geladas uma maior protecção durante o verão, ainda que nesta
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Tema 2 - Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física:
aplicações emergentes
altura do ano o sol alcance maior altura no céu e a ausência de neve em grande parte
do solo sejam factores determinantes ao seu dinamismo.
Fig. 11 – Amplitudes térmicas máximas alcançadas no Corral da Veleta no período 2007-08.
Na figura 11 são apresentadas as amplitudes térmicas máximas para o período
2007-08, como resultado da diferença entre a imagem de Agosto e a imagem de
Fevereiro.
O ponto correspondente ao sondeio térmico sobre as massas geladas apresenta
uma variação térmica anual média das LST de cerca de 36.50 C.
Porém, pode-se observar que os lugares virados a sul e sudeste são os que
manifestam maiores diferenças nas temperaturas de superfície registadas, chegando a
alcançar variações na ordem dos 400 C entre o mês mais frio e o mais quente.
Interessante mencionar que os corpos de água são os que apresentam a variação
térmica anual mais baixa, cerca de 200 C, como se pode observar pelos valores
apresentados no lago que se encontra no canto inferior esquerdo da imagem. Isto
deve-se à natureza e comportamento térmico da água.
Discussão dos Resultados
Com o gráfico apresentado na figura 12 pretende-se esboçar uma comparação
entre as LST obtidas através das imagens de satélite e as temperaturas obtidas no
interior do sondeio térmico que se situa sobre as massas geladas. Como já foi
mencionado, as temperaturas usadas são as referentes aos 5 cm de profundidade, ou
seja, as mais próximas da superfície.
Importante recordar que com este gráfico pretende-se somente fazer uma
comparação entre estes dois tipos de dados e não uma validação das LST através das
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temperaturas do interior do solo. Apesar de ambos os dados se referirem a
temperaturas, trata-se de dois tipos de temperatura distintos e com comportamentos
e ritmos diferenciados. O objectivo desta comparação é somente o de poder observar
as tendências apresentadas por ambas as curvas de temperatura. Assim, analisando
este gráfico podemos verificar que:
- a resposta das LST às mudanças de temperatura do ar é muito mais rápida que a
resposta referente ao interior do solo. Os valores de ambas temperaturas seguem
ritmos diferenciados. Ainda que se trate do mesmo tipo de material rochoso, as
diferentes exposições destes dois ambientes (superfície e interior do solo) podem
explicar os diferentes ritmos;
- o interior do solo começa a manifestar valores negativos antes da presença da
neve no solo. O efeito de sombra provocado pela parede do Corral da Veleta a sul
poderá ser o fundamento deste acontecimento;
- uma vez que a neve cobre o solo, os valores térmicos negativos afectam também
a superfície, permanecendo assim até ao momento do degelo, altura em que o solo
começa a receber radiação solar directa novamente;
- durante os meses em que existe neve no solo, esta actua como um regulador
térmico, estabilizando as temperaturas no interior do solo. Estas apresentam
amplitudes no entorno dos 50 C, enquanto que à superfície, a cobertura nival
manifesta uma variação térmica que pode alcançar os 100 C para os mesmos meses;
- a partir de Março/Maio as curvas de ambas temperaturas tendem a afastar-se,
embora sigam a mesma tendência. Este fenómeno pode explicar-se pelo lento
desaparecimento da neve no solo. Deste modo, a temperatura superficial começa a
incrementar-se rapidamente enquanto que a propagação da onda térmica no interior
do solo é mais demorada, mantendo-se perto dos 00 C até meados de Junho.
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aplicações emergentes
Fig. 12 – Comparação das LST com as temperaturas do interior do solo (-5 cm) para o
período estudado.
Conclusões
As temperaturas de superfície podem ser consideradas como um interface entre a
temperatura do ar e a do solo, pois as 3 curvas sobrepostas apresentaram semelhantes
tendências mas ritmos diferenciados, principalmente com a presença de neve no solo.
Por este motivo resulta bastante interessante conhecer a resposta térmica da
superfície do solo bem como no seu interior, ante o efeito regulador do manto nival ou
ausência do mesmo. No caso do Corral da Veleta, os registos térmicos obtidos na
camada activa do solo vem a indicar que depois do desaparecimento da neve no solo,
a propagação da radiação solar no seu interior ocorre com relativa rapidez, afectando
o topo das massas geladas e acelerando a sua degradação.
Os dados de LST obtidos para os meses de Julho e Agosto, revelaram-se bastante
elevados numa primeira observação. A diferença entre estes valores e os registados a
5 cm de profundidade pode alcançar os 15-170 C. Uma diferença tão acentuada poderá
estar relacionada com a dimensão da superfície analisada, quer dizer, 4 pixéis para a
imagem de satélite (1.4 ha) e menos de 113 cm2 para os sensores térmicos usados em
campo.
No entanto, factores como a capacidade de absorção de energia dos materiais e
exposição destes à radiação solar directa, bem como a obliquidade da mesma, podem
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contribuir significativamente para explicar valores de temperatura tão distantes. Além
do mais, os valores encontrados tanto para o interior do solo como para as imagens de
satélite são referentes às 11h45 da manha (hora local) hora de passagem do satélite a
esta latitude. A esta hora da manha o ângulo entre o sol e a superfície da terra é
bastante elevado e as superfícies rochosas dentro do corral (xistos e micaxistos de
tonalidade bastante escura) levam já cerca de duas horas expostas a radiação solar
directa.
Por ultimo, cabe destacar que o tratamento digital das imagens de satélite continua
a ser um tema complexo, mas as respectivas metodologias são cada vez mais
acessíveis, resultando numa informação mais detalhada e de melhor qualidade que no
passado.
Com este primeiro ensaio obtiveram-se resultados bastante interessantes para o
estudo da evolução da cobertura nival na Serra Nevada. Com os dados obtidos foi
possível estabelecer de forma aproximada a data da primeira neve permanente no
solo a partir dos 2500 m de altitude e a sua duração até ao degelo. Esta informação
resulta bastante útil na hora de avaliar o processo de degradação das massas geladas
existentes no interior do Corral da Veleta. Uma vez, terminada a fase de selecção dos
índices de neve a empregar para o cálculo da área de neve, bem como depois de
realizadas as correcções atmosféricas e topográficas necessárias, pretende-se alargar o
estudo até aos anos 84, altura em que o satélite Landsat 4 e 5 começou a enviar as
primeiras imagens.
No futuro, a inclusão de imagens de outros satélites como MODIS também é
plausível, deste modo pretende-se conseguir uma base de dados com uma boa
resolução espacial e temporal. Um estudo baseado em mais de 20 anos de imagens
poderá ajudar a encontrar um padrão evolutivo da cobertura nival bem como das
temperaturas de superfície (LST).
Agradecimentos
A investigação em curso é realizada ao amparo dos projectos 018/2007 do OAPNMMA e do CSO2009-0691 do MCI, todos eles desenvolvidos através do Grup de
Recerca Paisatge i paleoambients de la muntanya mediterrània/ (2009GRS868,
Generalitat de Catalunya).
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http://www.gsfc.nasa.gov/IAS/handbook_toc.html
16
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